Jardim de Santa Bárbara

FAUP | TEORIA 3 | 2012 | ANDRÉ CARDOSO

ESTUDO DE ESPAÇO PÚBLICO

JARDIM DE SANTA BÁRBARA -BRAGA

JARDIM DE SANTA BÁRBARA, BRAGA | TEORIA 3

JARDIM DE SANTA BÁRBARA, BRAGA | TEORIA 3

Mas o que é o espaço público? É difícil. Mas é tão fácil enumerar coisas que são espaços públicos: ruas, praças, jardins, parques, praias...

-Teresa Fonseca

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Introdução O presente trabalho é o resultado da investigação anual que foi produzida no âmbito da disciplina de Teoria 3. O programa incidia sobre a análise da forma urbana: o edificado e o ESPAÇO PÚBLICO. O Jardim de Santa Bárbara, em Braga, foi escolhido para integrar esta análise. Procuraram-se isolar os princípios essenciais que atribuem ao espaço a propriedade de Público. Como ponto de partida para o estudo foram formuladas interrogações acerca de quando, como e o porquê deste espaço apresentarse na actual forma. Em seguida foram elaboradas hipóteses de resposta.

Num primeiro momento contextualiza-se o caso de estudo geográfica e historicamente como o objectivo de perceber qual a razão das formas, ou o que conduziu à configuração actual.

Foram também analisadas as formas construídas que integram a configuração do espaço — as Arquitecturas.

Foi

elaborado

um

levantamento

funcional esquemático no sentido de conhecer as tipologias arquitectónicas presentes e predominantes.

Na sequência do estudo da medida do espaço é incluída para análise a Piazza del Campidoglio, com a qual se estabelecem algumas relações.

Uma vez que se trata de um jardim tornou-se imprescindível analisar a sua forma paisagística no que diz respeito ao arranjo e às espécies vegetais que o compoem. Para além da vegetação consideraramse todos os outros elementos arquitectónicos que participam

do espaço, incluídos na categoria

de Arte e Mobiliário Urbanos. O tema da Ruína é também mencionado e estabelece-se a ponte com a abordagem de Fernando Távora no arranjo da Quinta da Conceição. Este exercício permitiu abrir novas perspectivas na relação do projecto com a pré-existência, o que poderá servir como linha orientadora de uma possivel intervenção no espaço.

Como último tópico faz-se referência ao uso real que o jardim tem actualmente, o que justificará, em última instância, a sua designação de espaço público.

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Contexto Físico

Razão das formas

O contexto. Num edifício o contexto é o espaço

A forma não se preserva do tempo, o tempo

livre à sua volta; no espaço público, os edifícios

não anula nem destitui a forma: na forma está o

envolventes.

tempo, tudo o que ocorre à forma é forma.

-Teresa Fonseca

-La Danza y la Procesión, Josep Quetglas

O Jardim de Santa Bárbara é um jardim municipal e

A forma do espaço urbano do centro histórico de

localiza-se na freguesia da Sé, no centro histórico de

Braga é profundamente marcado por dois períodos

Braga, no que na Idade Média corresponderia à área

distintos: o romano e o medieval. Ambos se

amuralhada da cidade.

sobrepuseram parcialmente e deixaram marcas ainda

Encontra-se no quadrante nordeste ocupando a

hoje visíveis no território.

parte nascente do quarteirão actualmente formado

Na ocupação romana a cidade, chamada Bracara

pela Rua Eça de Queiróz a norte, a Rua Dr. Justino

Augusta, tinha como centro o fórum, localizado onde

da Cruz a nascente, a Rua do Souto a sul e a Rua

hoje é o largo Paulo Osório, no alto da Cividade e

da Misericórdia a poente. Tem uma forte ligação com

próximo das termas e do anfiteatro. Apesar do

outra praça a nascente, a Praça Doutor José Ferreira

passar do tempo e das sucessivas invasões de povos

Salgado. A ponte abre-se para a Ala do Paço.

posteriores, foram conservados vários vestígios

Dista cerca de 62 metros da Rua do Souto, a sul -

romanos que ainda hoje podem ser percebidos na

o principal eixo da cidade que estabelecia a ligação

malha da cidade (marcas da muralha) e no edificado

longitudinal entre as duas portas da muralha: Porta

(ruínas de edifícios como a Casa das Carvalheiras, a

do Souto a nascente e Porta Nova a poente.

Fonte do Ídolo, entre muitos outros).

A norte encontra-se o Campo da Vinha, a cerca de

No

45 metros.

supostamente existiria um anterior templo romano,

Para perceber qual a razão da sua configuração actual vai-se proceder a um breve apanhado histórico que refere as principais mudanças urbanísticas que afectaram directamente este espaço.

período

medieval

a

Sé,

construída

onde

no limite norte da antiga muralha romana, assume uma condição centralizadora na cidade. Constrói-se uma muralha a todo o seu perímetro com várias portas e postigos que permitiam estabelecer contacto com

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Figura 1 - Vista aérea da cidade de Braga e localização da área medieval a partir do séc. XIV Figura 2 - Implantação do Jardim à escala 1:10 000

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o exterior. Esta estrutura não foi imediatamente

progressivamente o terreno a norte, no interior

construída na sua forma final mas acabou por ser

deste quarteirão. As portas que comunicavam com

aumentada conforme as necessicades. A marca

o Campo da Vinha tornaram este contacto dinâmico

física desta muralha é perfeitamente perceptível

e potenciaram a transformação urbanística deste

actualmente, conforme apresentado na imagem da

sector.

página anterior, à qual foram sendo adossaradas

No século XIX Fancisque Goullard redesenha com

várias construções.

elevado rigor a cidade de Braga (1883-84) e neste

A figura 1 apresenta um pormenor do mapa Bracara

documento

Augusta, de 1594 - a primeira representação que se

realinhamentos de alguns existentes, como a Avenida

conhece. São já aqui visíveis as profundas alterações

da Liberdade, ruas do Raio e 31 de Janeiro. Na figura

urbanísticas levadas a cabo por D. Diogo de Sousa,

3 aparece realçado o plano da abertura de uma rua a

especialmente no que toca à abertura de campos

nascente do actual jardim que permitiria ligar a Rua

públicos na zona extra-muros da cidade. Para efeitos

do Souto ao limite

de análise a imagem enquadra apenas o complexo

sudeste

do antigo Paço Arquiepiscopal que se localizava no

da Vinha e à Rua dos

quadrante nordeste da cidade medieval. O edifício

Capelistas. Na figura

destinado à residência dos arcebispos de Braga terá

4 apresenta-se uma

começado a ser construído nos inícios do século

fotografia aérea que

XIV, muito embora tenha sido alvo de inúmeras

data do período de

intervenções

1938-48 e mostra a

construtivas

e

arquitectónicas,

as

definem-se

do

rua

complexo, como alterações na sua estrutura. Os

Cruz já aberta.

restos sobreviventes podem ser agrupados em três

No final dos anos 40

fases e áreas distintas (alas). Assim, podemos definir a parte norte, com as estruturas góticas, a parte sul, construída nos séculos XV a XVIII e na zona poente, a construção barroca, também denominada de Paço de D. José de Bragança.

eixos

viários

e

Campo

quais terão ditado não só o alargamento deste

Dr.

novos

Justino

da

do século XX abre-se a Rua Eça de Queiróz, a p rox i m a d a m e n te paralela Souto

à

Rua

do

que

ligaria

Dr.

Justino

A figura 2 mostra a mesma área agora representada

a

no mapa de 1755 - Braga Primaz, atribuído ao

Cruz com a Rua da

arquitecto André Soares.

Misericórdia e a Praça

Será só a partir do século XIV, quando ocorre o

do Município. Para a

alargamento da muralha para norte, que esta zona

sua abertura teve de se

passará a integrar o núcleo urbano amuralhado,

desmantelar a capela

permanecendo, mesmo assim, como uma área pouco

de Santo António da

construída, de acordo com a representada no Mapa

Praça, um pequeno templo que se situava adjacente

de 1594. De facto, a zona norte extra-muros só

ao edifício do antigo Paço de D. José de Bragança.

registará algum desenvolvimento a partir da abertura

Este edifício acabou por nunca mais ser construído

do Campo da Vinha, por ordem de D. Diogo de Sousa,

e as peças deixadas ao abandono acabaram por se

no século XVI. A perda da importância do poder

perder.

Episcopal na cidade fez com que se abandonasse

Ficou assim definido o limite do jardim.

Rua

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Figura 1 - Mapa de Braun, 1594 Figura 2 - Braga Primaz, 1755 Figura 3 - Mapa de Fancisque Goullard, 1883-84 Figura 4 - Fotografia aérea do período de 1938-48 (a laranja a Rua Dr. Justino Cruz)

A história do lugar é determinante na configuração final de uma forma arquitectónica. O tempo dos lugares como sobreposição vertical de temporalidades.

-Prof. Teresa Fonseca

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Medida

A nascente, como já mencionado, está o Centro

O Jardim tem uma forma trapezoidal de quatro lados.

Comercial de Santa Bárbara, que comunica com a

O lado nascente mede 42.7 metros, o norte 57.8, o

Rua dos Capelistas a norte, a poente com a Rua Dr.

poente 47.3 e o sul 49.8.

Justino da Cruz e que se abre para o Largo Doutor

Não é um espaço completamente plano, tem um ligeiro desnível de 50 cm de nascente para poente.

A Rua Eça de Queiróz também desce no sentido de poente pelo que a comunicação com o jardim se faz por umas escadas que resolvem uma diferença de nível de aproximadamente metro e meio.

A poente, 2 metros abaixo da cota do Jardim está

José Ferreira Salgado. É um grande complexo que se desenvolve em vários pisos, estando o pisos térreo e subterrâneo ocupados com lojas comerciais e os elevados na sua maioria com escritórios e clínicas de pequena dimensão.

No canto sudeste do Jardim encontra-se um dos cafés mais emblemáticos da cidade — o Lusitana.

jardim privado do Paço, havendo apenas entre eles

A sul, nas antigas instalações Paço Episcopal,

um robusto mas baixo muro de suporte de terra, que

encontram-se actualmente a Biblioteca e o Arquivo

não causa qualquer obstáculo visual entre os dois

Municipais, que ocupam as alas poente e central. Na

espaços.

ala nascente funciona a Reitoria da Universidade do Minho desde que esta foi fundada, em 1973.

Edifícios configuradores do espaço

A figura 1 mostra uma fotografia aérea com a

O centro da cidade de Braga tem uma forte tradição

localização dos principais edifícios monumentais

de comércio ao ar livre. É dos raros casos de centros

na envolvente próxima do jardim. Nota-se aqui, de

urbanos que presencia um fenómeno de gentrificação,

forma mais coerente, a relação da praça ajardinada

consequência

com outras praças públicas

da dinânima incrementada

como a Praça do Município,

pelo comércio e a qualidade

o Largo do Paço ou mesmo

dos

o Rossio da Sé.

muito

em

espaços

públicos,

como é o caso do Jardim

Através

de Santa Bárbara. Aqui não

percebemos que este espaço

há excepção à regra, toda a

não é totalmente desenhado

envolvente do Jardim tem

por

um

elementos

ambiente

de

grande

da

edificado.

análise

Outros

arquitectónicos

actividade comercial.

contribuem

A norte, no piso térreo da Rua

configuração

Eça de Queirós, praticamente

Falta

todos os edifícios têm lojas

importância da barreira de

comerciais. No piso térreo

árvores nos limites norte

podemos encontrar lojas de

e nascente, assim como o

roupa, uma óptica, cafés e

muro imediatamente a sul

lanchonetes,

uma

frutaria

por

para e

isso

a

sua

desenho. referir

a

que separa o jardim da área

e até mesmo uma loja de materiais de Belas Artes.

de logradouro no interior do quarteirão. Visualmente

Os restantes pisos superiores são na sua maioria

o limite poente passa a ser o edifício medieval do

residenciais.

Paço que passa a ser uma espécie de pano de fundo.

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Figura 1 - Esquisso da Rua Eça de Queiróz Figura 2 - Formas excepcionais da envolvente

6

2

b

4

1

c

5 a

3

1 - Biblioteca Municipal; 2 - Reitoria da Universidade do Minho; 3 - Câmara Municipal; 4 - Igreja da Misericórdia; 5 - Sé Catedral; 6 - Capela dos Coimbras; a - Praça do Município; b - Largo do Paço; c - Rossio da Sé

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Tipo de jardim e espécies vegetais O jardim é natureza organizada pelo e para o homem. - Arte e paisagem, Roberto Burle Marx

O Jardim de Santa Bárbara tem um arranjo bastante formal.

Segue alguns princípios da composição

clássica do chamado jardim à francesa. Este é considerado o mais rígido de todos os estilos e apresenta

formas

geométricas

e

perfeitamente

simétricas. Um dos jardins mais importantes deste modelo é o do palácio de Versalhes. Criado no século XVII, durante o reinado de Luís XIV, o estilo demonstra o domínio do homem sobre a natureza e valoriza a grandiosidade das contruções.

A composição do jardim é definida pelos eixos geométricos que determinam os espaços percorríveis.

Estes “corredores” são limitados por pequenos arbustos compactos, verdes e perfeitamente topiados (podados). Pontualmente também se encontram aqui outras espécies de arbusto, de maior dimensão, que marcam os vértices da forma de cada canteiro e reforçam o seu sentido compositivo conjunto.

O muro a sul está coberto de heras e rosastrepadeiras.

Em

relação

às

espécies

herbáceas

podemos

encontrar no jardim roseiras, azaléias, amoresperfeitos, lavanda, tagetes, cenerárias, camélias, dálias, bem-me-queres entre outras. São dispostas em

canteiros

bem

delimitados

que

desenham

padrões geométricos. Todo este conjunto de flores é ricamente colorido e liberta agradáveis fragâncias, o que torna o jardim atractivo e bastante aprazível, em especial na Primavera.

Na separação para a Rua Eça de Queiróz foram colocadas árvores de grande dimensão - choupos brancos. Estas árvores, de folha caduca, para além de servirem de barreira visual de quem está no jardim para as construções modernas, também dão protecção do sol de sul à rua e ao comércio.

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Figura 1 e 2 - Variedade de espécies herbáceas multicolores Figura 3 - As pequenas sebes em topiaria do desenho geométrico Figura 4 - Vista aérea do desenho geométrico do jardim

A garden is a complex of aesthetic and plastic intentions; and the plant is, to a landscape artist, not only a plant - rare, unusual, ordinary or doomed to disappearance - but it is also a color, a shape, a volume or an arabesque in itself — A garden Style in Brazil to Meet Contemporary Needs, Roberto Burle Marx

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O Desenho

nordeste onde existe tem uma pequena estátua que

Após uma análise breve das características formais

é analisada mais à frente no trabalho.

desta

possível

O desenho do pavimento tem uma grande importância

estabelecer algumas relações com outra praça - a

praça

ajardinada

mostrou-se

na relação que estabelece com a forma trapezoidal

Piazza del Campidoglio. Esta praça foi a primeira

do espaço - o elaborado desenho oval da Piazza e a

das grandes praças de Roma a serem projectadas

composição geométrica do Jardim - na medida em

na época moderna. É um projecto de Miguel Ângelo

que contribuem para “regularizar” a forma.

e foi construída em 1568. Apesar da sua distância

Ao fundo da Piazza está o Palácio Senatorio, edifício

temporal, ambas partilham certas características.

de dois pisos sobre um grande embasamento, unidos

Assim como o Jardim de Santa Bárbara a Piazza tem

por pilastras colossais, usadas em todo o parímetro

uma forma trapezoidal e um elemento central - neste

da praça, repetidas nos edifícios laterais, o que

caso a estátua de Marcus Aurelius, no caso do Jardim

confere unidade a todo o complexo. Os 3 edifícios

a Fonte e Estátua de Santa Bárbara. Ambos os

são coroados por uma balaustrada com estátuas.

elementos são enquadrados no centro do conjunto,

No Jardim de Santa Bárbara o pano de fundo, como

orientados segundo o eixo maior que corresponde

já referido, é a Ala Poente do Paço. Este edifício

ao acesso principal da praça.

com dois pisos é todo construído em granito, com

Na Piazza del Campidoglio acede-se por uma

grandes aparelhos de pedra e é coroado com ameias.

escadaria e no topo encontram-se duas grandes

Na frente da escadaria do Palácio Senatorio há uma

estátuas de mármore (dos Dioserni), escultural da

grande fonte que torna o espaço mais agradável. Em

época imperial, que adornam a balaustrada. No

Santa Bárbara a fundem-se os elementos e a Fonte é

Jardim a entrada não é tão dramática e complexa, pelo

encimada pela Estátua.

contrário, uma vez que que existem múltiplos acessos apenas se pode hierarquizar a sua importância pela largura e posição que ocupam. A única comparação possível com o Campidoglio será o acesso no canto

A Piazza deve o seu nome ao edifício principal, o Palácio, em função da qual é desenhada. O Jardim, pelo contrário, deve o seu nome à estátua de Santa Bárbara

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Figuras 1 e 2 - Jardim de Santa Bárbara e Piazza del Campidoglio em Roma à mesma escala Figura 3 - Perspectiva do Jardim Figura 4 - Perspectiva da Piazza Figuras

5

e

6-

Desenho

da

envolvente próxima, esc. 1:20 000

STA MARIA IN ARACOELI

PALAZZO DEI MUSEI

PALAZZO DEI SENATORI

PALAZZO DEI CONSERVATORI

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Arte urbana O chafariz de Santa Bárbara

A Ruína Os antigos arcos ogivais da ala demolida a nordeste

É um chafariz de composição Barroca, central, com

do antigo Paço são dos elementos mais presentes no

quatro lances de escadas ascendentes. Possui uma

espaço, apesar de se encontrarem no jardim privado

taça encimada pela imagem de Santa Bárbara e

da actual Biblioteca Municipal. A presença da ruína

quatro bicas carrancas que lançam água num tanque

e o seu potencial cénico sugeriu estabelecer um

octogonal.

possível contraponto com a obra de Fernando Távora

Este chafariz pertenceu ao Convento dos Remédios.

na Quinta da Conceição.

Foi o mais antigo convento de freiras existente em Braga, fundado em 1547, no Largo de Carlos Amarante. Foi sendo ampliado até ao século XVIII, início do qual, durante uma das intervenções de ampliação, se instalou nos seus jardins este chafariz.

Após 200 anos, à data da demolição deste convento, foi levado para o Parque da Ponte.

Em meados do século XX foi novamente transferido, desta vez para o local actual - o jardim ao qual deu o nome.

O busto do Dr. José Ferreira Salgado Há uns anos, na comemoração do 10 de Junho, Dia

Quando passeamos pelos jardins da Quinta da Conceição sentimos um equilfbrio tenso entre fracturas, artefactos e uma Natureza densa que nos acalma - Eduardo Souto de Moura

de Camões, a Câmara de Braga resolveu homenagear o Dr. José Ferreira Salgado, atribuindo o seu nome ao novo largo que está a nascente do jardim de Santa Bárbara e colocando o seu busto no sítio anteriormente ocupado por uma lápide (de um importante jardineiro chamado Cardoso).

O parque da Quinta da Conceição encontra-se repleto de peças que se encontram distribuídas pelo parque pontuando percursos.

Além

dos

equipamentos

localizados

no

parque, como as piscinas e o pavilhão de Ténis, Távora manipula a localização das ruínas que

Mobiliário

restavam do convento para desenhar situações,

Bancos

enquadramentos e ambientes. Metodologicamente

Existem 16 bancos de granito como o apresentado

afasta-se do perigo de uma reabilitação arbitrária,

na figura, localizados no percurso periférico e na

preferindo procurar o significado da intervenção

mediatriz dos eixos maior e menor.

na história do local e na memória.

Esta idéia enriquece a análise que está a ser

Candeeiros Os lanternins do Jardim encontram-se colocados em cada um dos canteiros circulares. São elementos altos - aproximadamente 3 metros - e foram executados em ferro retorcido, numa espécie de hélice dupla.

elaborada no sentido que sugere uma forma de abordagem numa intervenção hipotética no espaço público.

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Influências A presença de um jardim como o de Santa Bárbara acaba por de certa forma influenciar algumas opções arquitectónicas nas construções envolventes. Neste caso concreto, podemos perceber a existência de motivos que remetem para o domínio vegetal no que toca à decoração dos edifícios. Parece que há a vontade de trazer um pouco do jardim para casa.

Apesar de isto não ser uma particularidade única deste local a verdade é que enriquece o espaço compreendido habitação-jardim, especialmente no que podemos notar na Rua de Eça de Queiróz.

São várias as construções modernas que apresentam motivos florais, sejam eles em aplicações nas fachadas (figura 1), o desenho da guarda das varandas (figura 3) ou um painel trabalhado na entrada principal de um edifício.

A existência de canteiros floridos nas varandas e nos terraços para além de servirem para usufruto privado também animam o ambiente da rua e contribuem em muito para a qualificação do espaço púplico.

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Figura 1 - Gaveto da Rua Eça de Queirós com a Dr. Justino Cruz Figura 2 - Casa Nº104 vista da rua Eça de Queirós para a varanda e terraço com canteiros de flores Figura 3 - Varanda do Nº72 em ferro retorcido Figura 4 - Motivo floral na entrada do Nº68

JARDIM DE SANTA BÁRBARA, BRAGA | TEORIA 3

O Uso Como funciona o espaço com utentes reais?

Por todas as propriedades que foram aqui analisadas este jardim terá todas as condições para ser bastante utilizado e visitado. É por excelência um espaço de convívio familiar para fruição e lazer.

Um diálogos mais interessantes que presenciei numa das deslocações ao jardim passou-se quando duas crianças passeavam com os pais: “Eu vou fazer chichi nas relvas” - diz uma delas quando vê o jardim. “Mas isso não é um descampado!” Exclamam indignados os pais.

Um jardim de uma cidade é capaz de provocar este tipo de reacção pela imediata sugestão de ambiente natural. Claro que para uma criança a escala do jardim e a presença de inúmeras árvores e flores dá uma sensação de grande liberdade e automaticamente surge a vontade de experimentar e mexer em tudo.

Já para um adulto que percebe os códigos formais de um espaço destes a fruição é muito mais contida, sensorial mas não tão táctil.

Como já foi explorado, o comércio na rua Eça de Queiróz e no Centro Comercial Santa Bárbara desempenha um papel de grande importância na dinamização do espaço uma vez que possui a capacidade de atração das populações.

A esplanada do café Lusitana é um dos espaços mais concorridos pela proximidade ao Jardim. Devido à orientação o sol põe-se atrás do Paço Medieval e por isso os fins-de-tarde nesta esplanada tornam-se especialmente agradáveis.

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Duas pรกginas do caderno num fim da tarde na esplanada da pastelaria Lusitana.

JARDIM DE SANTA Bร RBARA, BRAGA | TEORIA 3

Esquisso do Nยบ104 da Rua de Eรงa de Queirรณz

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BIBLIOGRAFIA Choay Françoise - A Regra e o Modelo Koolhaas Rem - S M L XL Lamas José Manuel Ressano Garcia - Morfologia Urbana e Desenho da Cidade Le Corbusier - Towards an Architecture Marx Burle - A garden Style in Brazil to Meet Contemporary Needs Marx Burle - Arte e Paisagem Moneo Rafael - Inquietud teórica y estrategia proyectual Moneo Rafael - La danza y la procesión Quetglas Josep - Artículos de ocasión Siza Álvaro - Uma questão de medida Siza Álvaro - Imaginar a Evidência Siza Álvaro - 01 textos Zevi Bruno - Saber ver a Arquitectura

FACULDADE DE ARQUITECURA DA UNIVERSIDADE DO PORTO | TEORIA 3 | 2012 | DR. ARQ. TERESA FONSECA