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(Salò novamente põe-se a gritar sílabas sem sentido até ser ouvido). Meds – Eu sabia, ainda estamos aqui, O segundo verso é idêntico, a cacofonia de estar onde estamos, E estamos separados, é o que faz prevalecer um efeito irônico em nosso discurso. Todos os dias os passos dos soldados se aproximam Eu ouço seus gritos engraçados, nada é tão engraçado quanto Um estranho morrendo, os sons guturais Junto da respiração funda, como se toda a sua vida Fosse vazar no instante seguinte, e no final a sorte que a maioria tem de estar certo. Nessa pequena cidade ridícula Onde se bombardeiam os hospitais para ajudar o inimigo, Sim, pois parece que esse é o ridículo senso deste tempo, Não há guerras que visem a sobrevivência, própria ou alheia, Estamos isolados em grandes colônias de amputados Paralíticos e doentes, incapazes de nos movermos A uma distância maior do que o entorno da circunferência de nossa queda, Retaliando com golpes contra a continuidade do tempo Ou a linearidade da representação, essa mesma piada, Retaliando contra o fato de sermos animais sobreviventes caçados um pelo outro Não mais para nos satisfazermos, Mas para aliviarmos no outro a condição de se assemelhar a nós Pesos de papel, inválidos, Historicamente irrelevantes, seres cujos nomes não tem o menor significado aos ouvidos alheios, cujas doenças não tem nome, cujos desejos não tem nome. Fomos esquecidos, Por nossa narrativa, nossa história, consistir em se ater apenas a funções: É um cão – lata. É um soldado – estupre. É uma mulher – sirva. É uma bicha – morra.


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