Em busca de deus john piper

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Em Romanos 9.3, Paulo manifesta sua dor pela condição de perdição da maioria dos seus compatriotas judeus. Diz ele: "Eu mesmo desejaria ser anátema, separado de Cristo, por amor de meus irmãos, meus compatriotas, segundo a carne". Em Êxodo 32 o povo de Israel cometera idolatria. A ira de Deus ardeu contra eles. Moisés assumiu o lugar do mediador para proteger o povo. Ele orou: "O povo cometeu grande pecado, fazendo para si um deus de outro. Agora, pois, perdoa-lhe o pecado; ou, se não, risca-me, peço-te, do livro que escreveste" (Êx 32.31, 32). Primeiro, temos de entender que esses dois exemplos não nos apresentam o mesmo problema. A oração de Moisés não inclui necessariamente uma referência à condenação eterna, como a de Paulo. Não precisamos concluir que o "livro" a que ele se refere tem o mesmo significado eterno do "livro da vida" como, por exemplo, em Filipenses 4.3 e Apocalipse 13.8; 17.8; 20.15 e 21.27. George Bush argumenta que ser riscado do livro em Êxodo 32.32 eqüivale a ter a vida retirada enquanto outros continuam a viver. Não há nenhuma referência, nessas palavras, a algum livro secreto dos decretos divinos, nem a qualquer coisa que envolva a questão da salvação ou perdição eterna de Moisés. Ele simplesmente expressou a posição de preferir morrer a testemunhar a destruição do seu povo. A terminologia é, provavelmente, uma alusão ao costume de ter os nomes de uma comunidade arrolados em um registro e, sempre que alguém morria, seu nome era apagado e subtraído do total.5 O desejo que uma pessoa tem de morrer não se opõe necessariamente ao prazer cristão. Hebreus 11.26 diz que Moisés "achou que era melhor sofrer o desprezo por causa do Messias do que possuir todos os tesouros do Egito, É que ele tinha os olhos fixos na recompensa futura" (BLH). Não há motivo para pensar que Moisés parou de olhar para o prêmio que compensava tudo, quando se debateu com o pecado de Israel. Isso, é claro, não diminui o problema maior, que está em Romanos 9.3, Paulo disse: "Para o bem deles eu mesmo poderia desejar estar debaixo da maldição de Deus e separado de Cristo" (BLH). Isso parece ser a disposição de abandonar a busca da felicidade. Será que Paulo deixou de ser um cristão que busca o prazer, ao expressar esse tipo de amor pelos perdidos? Observe que ele diz: "Eu mesmo poderia desejar estar debaixo da maldição de Deus". A razão de traduzir o verbo como "eu poderia desejar..." e que o tempo imperfeito é usado no grego para atenuar a expressão e mostrar que ela não pode ser executada. Henry Alford diz: "O tempo imperfeito nessas expressões é apropriado e exato: [...] a ação não foi terminada, um obstáculo se interpôs".6 O obstáculo é a promessa imediatamente anterior de Romanos 8.38, 39: "Porque eu estou bem certo de que nem a morte,; nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separarnos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor". Paulo sabe que é impossível tomar o lugar dos seus compatriotas no inferno. O que ele diz é que gostaria de fazer isso! Este é o problema dos cristãos que buscam o prazer. Simplesmente temos de levar isso a sério. Paulo pondera a hipótese de um mundo em que algo assim fosse possível. Imagine um mundo em que um pecador não convertido e uma pessoa de fé pudessem estar diante do tribunal de Deus para serem julgados. E imagine que, estando disposto o santo, Deus invertesse a posição deles. Se o santo estivesse disposto, Deus retiraria dele sua graça salvadora, para torná-lo merecedor do inferno em descrença e rebelião, e daria ao descrente graça conversora, para que pusesse sua fé em Cristo e se tornasse apto para o céu. Em um mundo assim, o que o amor exigiria? Exigiria sacrifício pessoal total. E o princípio do prazer cristão deixaria de aplicar-se. Mas veja bem! Este mundo hipotético não existe! Deus não criou um mundo em que alguém pudesse ser condenado para sempre por um ato de amor. No mundo real que Deus fez, nunca nos é pedido que façamos uma escolha assim: Você está disposto a ser condenado em favor da salvação de outro? Pelo contrário, somos lembrados constantemente de que fazer o bem aos outros nos trará grande recompensa e que devemos buscar essa recompensa.

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