Sermão aos peixes que escaparam...

«Sermão aos peixes que escaparam (ao Sermão de Padre António Vieira)»

11.º E Projeto de PORTUGUÊS junho 2022

Raia-pintada

Atum-rabilho

Enguia-europeia

Moreia-pintada

Cavalo-marinho

Imagens retiradas de https://unsplash.com Design gráfico: Vera Rodrigues

01

o atum-rabilho

O autor da criação, Deus, no quinto dia da criação do mundo, encheu o mar com peixes de vários tamanhos e cores.

E, entre tantos peixes majestosos, como poderia eu, durante esta pregação, não louvar o atum-rabilho?! Deus, este Deus que é o nosso, criou tão bela espécie que as suas qualidades merecem ser louvadas. Quereis saber, irmãos peixes, o porquê de enaltecer tal espécie? Pois eu vo-lo direi. Não há espécie igual à do atum-rabilho. Ponde os olhos nele e segui o seu exemplo. O atum-rabilho, para além de percorrer águas com temperaturas sempre diferentes, demonstrando a sua capacidade de adaptação a diferentes situações, este santo peixe, de que Deus tanto cuidou no momento da sua criação, anda sempre com seus companheiros. Sabe o atum-rabilho que, para além da importância do espírito de companheirismo, nadar em cardume ajuda na procura de alimentos, o que lhe garante a sua sobrevivência. Também o profeta Daniel, um dos maiores exemplos de fé, tinha companheiros que não abandonava e com Ananias, Misael e Azarias mantinha uma amizade inabalável. Foi também a união e o trabalho de equipa que fizeram com que o povo de Israel, após a sua saída do Egito, trabalhasse dia e noite para poder sobreviver durante a travessia pelo imenso deserto até à Terra Prometida.

E, se neste mundo algum atum-rabilho existiu, foi Santo António, que sempre pregou a palavra de Deus, alimentando a união do seu auditório e fortificando a sua fé. Este Santo pregador manteve sempre o seu cardume unido em nome da palavra do Senhor porque assim diz a Bíblia «Que ninguém busque o seu próprio bem, mas o do próximo.» [Coríntios 10:24]. E porque é que não imitais vós, irmãos peixes, o vosso irmão atum-rabilho? Talvez porque o vosso pensamento esteja apenas ligado aos vossos próprios interesses, não vos importando com os outros nem com o bem comum. Se todos vós, irmãos peixes, abdicardes do vosso egocentrismo e partilhardes a palavra do Senhor, sereis recompensados com a graça de Deus, pois, como diz a voz do povo: «Quatro olhos veem mais que dois».

Filipa Trindade e Sara Daniel

02

a raia-pintada

A vós, raia-pintada, vos louvo pelas virtudes que o Autor da natureza vos deu. A vós deu Ele o vosso maravilhoso comprimento, que tanto medo coloca aos vossos predadores. Sois vós que vos reproduzis sexuadamente e que, injustamente, sois capturada pelos humanos. A vós deu Ele um corpo achatado e uma cabeça pintalgada, que demonstra a vossa majestosidade. Muito louvo também a vossa boca, que muito se assemelha ao bico de uma ave, e as vossas duas barbatanas, que proporcionam a maravilhosa capacidade de saltar para fora dos mares e vislumbrar o que há na parte superior do mundo. De grande destaque é também a vossa capacidade de vos esconderdes dos predadores apenas deitando-vos sobre a areia do fundo dos mares. Porém, de entre todas as esplêndidas capacidades que vos foram dadas, minha amiga, é a respeitável capacidade de não serdes dominada pela gula que mais louvo.

Já os homens são dominados pela gula, como citado no livro sagrado. Os egípcios, após serem salvos por Ele, põem Deus à prova nas regiões áridas.

Deus concede-lhes os seus desejos, mas de seguida, Ele lança uma doença terrível sobre os egípcios, causando assim a sua desgraça (Bíblia. Salmos 106:715). Vós, raia-pintada, não sois como os temidos homens que se entregam ao poder da gula; vós sois a mais bem comportada e que apenas comeis o que é necessário. Como já diziam os mais antigos: «A gula mata mais que a espada».

Minha irmã, dizei-me, vós tendes medo, não tendes?! Vós, que saltais para fugir dos predadores e encontrais local de agrado, sois, pois, tal e qual Santo António. Também ele, um dos mais majestosos seres humanos que surgiram, fugiu dos predadores que não o escutavam e deslocou-se para sítio de agrado onde pôde pregar aos seus ouvintes.

Duarte Cruz, Guilherme Baptista, Guilherme Quintino e Miguel Brito

03

a enguia-europeia

Meus caros irmãos peixes, hoje vos trago outro dos vossos familiares que deve ser louvado eternamente pela graça de Deus. Este tão honrado peixe é a Enguia-Europeia, portadora de grandes virtudes que deleitam qualquer um que o aviste. Para cumprir o seu ciclo de vida, a vossa irmã enfrenta corajosamente distâncias incalculáveis com inúmeros perigos e, durante este percurso tão cruel, perigoso e mortífero, mesmo sem avistar um pouco de manjar que a possa satisfazer, não desiste. Deus assim quer seus filhos. Ó peixes, muitos foram os que seguiram o exemplo de vossa muy devota irmã.

Entre eles, encontra-se Noé, que teve a honra de poder contemplar o nosso grande Senhor. Deus disse-lhe: «Constrói uma arca de madeiras resinosas» (Génesis: 6, 14).

Assim fez, Noé. Durante longos anos de trabalho árduo, manteve-se fiel a Deus, ignorando a opinião alheia ao seu redor que o ridicularizava e desta forma salvou-se do dilúvio.

Um também muito fiel a Deus, Isaías de seu nome, espalhou pelo vasto mundo a palavra do Santíssimo. Este devoto discípulo, quando foi visitar o Rei Ezequias, que se encontrava às portas da morte, disse: «SENHOR, lembra-te que tenho andado fielmente diante de ti» (Isaías: 38, 3). Consequentemente, a saúde do rei melhorou a olhos vistos e ele ficou eternamente grato pela ajuda que recebera.

Sabei, irmãos, que existe, contudo, uma espécie que ignora os ensinamentos do Senhor, o Homem. Esta espécie demonstra um esforço de tamanha pequenez que se torna tão invisível aos olhos do universo como uma semente num campo florido.

Contrariamente, o nosso grande Santo António mantém-se fiel a Deus. Queriam os dissimulados hereges cortar o fio da sua vida e arrepiar-lhe a espinha. Iria ele fugir da situação? Iria ele desistir dos seus princípios? Este tão ilustre pregador não mudou a sua doutrina, mas sim o seu público. Então, na praia, iniciou a sua pregação e, de imediato, surgiram à tona das águas variadíssimas espécies de seres escamosos que escutaram atentamente cada uma das suas palavras.

Irmãos peixes, muitos foram os louvores já apresentados para que os homens se inspirassem no vosso comportamento. Mas parece que não foram suficientes, pois continuam a pecar e a não seguir os ensinamentos de Deus! Mas o Senhor é fiel para com os seus e não os abandonará, mesmo com os seus erros.

Beatriz Esakia, Beatriz Paiva, Margarida Gil e Mariana Pereira

04

o cavalo-marinho

Falaremos hoje também do cavalo-marinho. Peixe tranquilo, já que prefere habitar em águas calmas por as suas pequenas barbatanas não conseguirem nadar contra correntes fortes e fiel aos seus.

O cavalo-marinho é uma espécie que, apesar do seu tamanho reduzido, carrega o título do mais fiel dos mares, já que, formando casais monogâmicos, uma vez que estes são formados, permanecem com o mesmo parceiro para toda a vida. Santo António, recusando o matrimónio, apresentou toda a sua fidelidade a Deus e aos seus mandamentos, pois nunca abandonou o Senhor e espalhou sempre a sua palavra.

No livro profético de Malaquias, é referido que Deus não aprova o divórcio.

«Porque Eu odeio o divórcio — diz o Senhor, o Deus de Israel — e que alguém cubra de injustiças as suas vestes — diz o Senhor do universo. Portanto, tende cuidado convosco e não cometais essa traição.» (Ml 2;16). E que fizeram os homens? Que fizeram eles após escutarem este simples pedido de Deus? Não atenderam! Não fizeram caso! Continuaram a casar-se por caprichos e não por amor. Continuaram a não cumprir a promessa que fizeram perante Deus no altar! Mas o cavalo-marinho ouviu e seguiu esta ordem de Deus. Ele é um animal fiel (tanto para com a palavra de Deus como para com a sua parceira).

Como diz o ditado popular «Quem trai uma vez trai duas». Por isso, perante um homem que cometeu adultério, que traiu a sua parceira, o que nos pode garantir que este não trairá também a Deus? Por isso, hoje, peço-vos, peixes, que sigam o exemplo do vosso irmão cavalo-marinho e não caiam nos mesmos erros em que os homens caíram.

Afonso Jesus, Dinis Gomes, Inês Vilela e Nicole Pires

05

a moreia-pintada

Antes de ir, sem me esquecer de vós, louvo agora as virtudes de um santíssimo peixe, a moreia-pintada. Quem haverá, penso eu, de ser capaz de não ficar admirado com as virtudes desta moreia, cuja pele é tão lisa e escorregadia e que, por não possuir escamas, deixa transparecer a sua pura e honesta alma? Quão bondoso foi nosso Deus quando decidiu criar tal peixe, humilde e gracioso, cujo tamanho é tão extenso como as suas qualidades! Com muita razão, Deus recompensou a moreia com uma visão apurada. No entanto, de forma honrada, assim a recusou e, com o passar das gerações deixou que esta dádiva de Deus se fosse perdendo. Agora, irmãos peixes, deveis querer saber o motivo de tal renúncia, certo? Pois bem, para além de honesta, a moreia também não se entrega a prazeres mundanos contrariamente aos de lá, os da terra. Lá dizia Timóteo: «Porque nada trouxemos para este mundo e manifesto é que nada podemos levar dele. Tendo, porém, sustento e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.» [1 Timóteo 6:7-8]. Ah, homens, se acreditásseis que essas escamas e essa amargura é um pecado enorme, talvez ouvísseis o que já vos foi pregado tantas vezes por Moisés: «Não furtareis, nem mentireis, nem usareis de falsidade cada um com o seu próximo» [Levítico 19:11]. Se alguma moreia-pintada houve na Terra, foi Santo António, o qual, tal como a moreia, não se escondeu debaixo de um manto de hipocrisia. Santo António sempre mostrou ser sincero e honesto e sempre revelou as suas intenções: conduzir os pecadores ao perdão de Deus. Para além disso, a moreia, tal como Santo António, não se deixava levar pelos pecados. No entanto, Santo António foi mais além, pois tinha também a virtude de orientar os outros pela corrente do bem.

Enfim, voz do povo, voz de Deus «Quem não quer ser aconselhado, não pode ser ajudado».

Ana Gonçalves, Andreia Miranda, Gonçalo Lobo e Irina Juvandes

Escola Secundária da Ramada 2021-2022