Revista Varal do Brasil - ed 34 - março de 2015

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Varal de Março - Edição especial Mulher

Teresa Carolina

tecido e em tela. Borrava e não tinha concentração. Seus quadros, coitada, nunca se soube que tivesse vendido algum. Sua mãe ainda investiu em violão, piano e pandeiro.

Por Gilda Brasileiro Teresa Carolina já nasceu com o nome composto e pomposo. Sua mãe que escolhera, e por isso a chamava de Rainha. Havia escutado de uma cliente no salão de beleza que trabalhava. Alguém estava falando que era o nome de uma rainha da Europa. Pensou consigo: O dia que tiver uma filha se chamará Teresa Carolina e será a Rainha do Brasil. Não fez por menos quando a menina nasceu. Era Rainha pra cá, Rainha pra lá. Tê, era assim que gostava de ser chamada, não ligava para o seu reinado, era fã mesmo da tal tecnologia, e quando o videocassete de muitas cabeças chegou à sua casa, quase enlouqueceu. Iria gravar todas as novelas possíveis. Bem verdade que as clientes de sua mãe já estavam consumindo os DVDs, mas mesmo assim ela não ligava, porque sabia que o próximo passo era aguardar aquele mini aparelho chegar em sua casa e os vizinhos correndo enlouquecidos para espiar o ultimo avanço tecnológico possível que aquela família apresentaria. Sempre fora assim, com o micro-ondas, com o telefone sem fio, com tudo que era novidade e dai ficavam meses comentando as novidades. A Rainha cresceu, estudou História, porque segundo a própria, era uma profissão que não tinha matemática. Para sua mãe, era uma forma de contextualizar a menina que estava sendo preparada para cargo tão importante. Mas Tê achava que a matéria era para homens ou loucos, e esse não era o seu caso. A menina virou mulher, e bem verdade que com tantos cremes, esmaltes e cabelos feitos, de manhã à noite, parecia uma princesa de contos de fadas. Digna da saga de ter uma bruxa perguntando diariamente ao espelho se existia alguém mais bela pelo bairro. Não existia. A família de três irmãos mal falavam com ela, uns diziam ser inveja da sua beleza, para outros, ninguém aguentava conviver com tanta chatice. A verdade é que Tê não tinha amigos. Vivia no seu mundo colorido e cor de rosa.

Também chegou a tentar dança e natação, foi pior ainda, a moça não tinha o menor jeito, foi o que disse a professora de sapateado, cliente da sua mãe. Inglês? Nem pensar. Seu pai entre um arroto e outro com a penúltima cerveja gelada na mão (porque a última é quando se morre...) disse: Que rainha, que nada! Esquece isso mulher.... Deixa essa menina ser o que quiser! A mãe deixou... Tê foi em um passeio com a turma da rua. A mãe ainda pensou consigo que Rainha não pode se misturar com o povo. Mas ela se misturou. Foi de repente que conheceu o pedreiro Marcos, simples, contido, sério e trabalhador. Mãos grossas de virar concreto, mas um coração de ouro. Tê não teve dúvidas, seus olhos brilharam ao ver aquele homem em pleno feriado, naquele Cruzeiro maravilhoso pago por seu pai em dez vezes, para ir de Santos à Búzios no Rio de Janeiro. Foi nessa viagem que ela viu o seu Rei, aquele que preencheria totalmente a sua vida sem graça. Trocaram beijos, juras de amor , telefone e e -mails. Seis meses depois casaram-se, escondido, a contragosto de sua mãe que passou a usar preto fechado, toda de luto, pelo golpe que levara da filha. Tanto investimento.... suspirava e maldizia sua vida, tanto investimento... Encontrei Tetê esses dias, linda... linda... Sem maquiagem, cabelos soltos, os olhos brilhando, vindo do ginecologista com a notícia que estava esperando o terceiro herdeiro.

(Segue)

Aliás fez curso de tricô, crochê, pintura em www.varaldobrasil.com

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