Coluna CULTíssimo 11ª edição - Filme Nina

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LiteraLivre Vl. 2 - nº 11 – Set/Out. de 2018

Coluna CULTíssimo

Nina – Crime e Castigo com tempero brasileiro

Heitor Dhalia foi apresentado aos livros clássicos pelo seu avô e afirma que assim que leu “Crime e Castigo”,

Um dia, um roteirista brasileiro, estava de cama, ardendo em febre, quando teve a ideia de adaptar um livro clássico e fazer o seu primeiro filme, assim nasceu “Nina”, um grande cult brasileiro.

de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), nunca mais conseguiu se desprender do livro, nem de seus personagens. Mas ao pensar em criar um filme baseado em “Crime e Castigo”, ele não

pretendia

adaptação

do

fazer

uma

simples

ele

queria

livro,

“recriar” e “modernizar” o clássico dostoievskiano. E conseguiu. “Nina” (1994), é um filme que mescla vários gêneros distintos, não se

prendendo

“pitadas”

bem

ao

drama;

dosadas

de

temos horror,

suspense e comédia, sem perder o clima sufocante da história. A jovem Nina (Guta Stresser), aluga um quarto na casa de Dona Eulália (Myriam Muniz), uma mulher 2


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rabugenta

e

mesquinha,

que

sente

loucura vão tomando conta e sem

prazer na fragilidade emocional de sua

querer,

inquilina e quer exercer poder sobre ela.

cúmplices de seus delírios violentos.

Nina

Tudo isso com o toque psicológico,

e

Eulália

vivem

um

intenso

acabamos

filosófico

acontecer na família ou no trabalho,

Castigo”;

típico

pós-modernos,

referências sutis ao livro, só que com

mas que na mente perturbada de Nina

mais poesia e elementos surreais e

culminará num ato extremo.

contemporâneos.

problemas

O

sombrio

tornando

confronto psicológico, algo que poderia dos

e

nos

o

filme

cenário

do

de

“Crime

é

cheio

longa,

foi

e de

todo

criado com materiais adquiridos em demolições, para ilustrar a decadência e a passagem do tempo; o filme possui fotografia e direção de arte perfeitas, ambientando o submundo paulistano

com

becos

escuros,

viciados, prostitutas e ruas sujas, um ambiente sem

esperança. A trilha

sonora se mostra arrasadora, indo de O espectador acompanha de perto a decadência

física

e

mental

sensual, a angustiante.

da

personagem e a crueza da metrópole paulistana. Ela trabalha como garçonete (e odeia), sentindo-se livre somente nas festas eletrônicas que frequenta e em seu quarto, onde cria desenhos cheios de simbolismo e elementos que vão se transformando ilusões.

gradativamente

Conforme

ela

mergulha

em na

Guta Stresser(Nina), comumente

miséria e no vício, o desespero e a

vista em papéis humorísticos, constrói

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uma personagem firme, convincente,

original e totalmente fora dos padrões

com atuação impecável e Myriam Muniz

novelísticos

em seu último trabalho(ela faleceu no

nacionais,

ano do lançamento do filme), grande

possibilidades

nome do teatro e do cinema, entrega

cinematográficas brasileiras, com uma

uma Eulália perfeita, suas expressões

obra crua e ousada, que fez o diretor

indo

ser comparado a David Lynch.

de

cômicas

a

assustadoras,

da maioria dos filmes mostrando para

novas

as

obras

amparadas pelo tom de voz irritante. Além desta dupla incrível o longa é recheado vemos

de

participações

Selton

Mello,

especiais,

Lázaro

Ramos,

Nina

é

um

filme

imperdível,

complexo, delirante, mas, ao mesmo tempo,

de

composição

simples

e

Wagner Moura(numa cena memorável),

intimista, uma verdadeira obra de arte

Milhem

Matheus

que merece ser vista, apreciada e

Nachtergaele, Ailton Graça, Guilherme

analisada. Uma ótima oportunidade

Weber e Renata Sorrah, em aparições

de conhecer um lado mais artístico e

sorrateiras,

lírico do cinema brasileiro.

Cortaz(safado),

nunca

sombreando

a

personagem principal. Obrigada e até a próxima!!

Heitor Dhalia (também diretor do alucinante

“O

Cheiro

do

Ralo”),

conseguiu,

em

parceria

com

Marçal

Aquino

(roteirista),

criar

uma

obra 4


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Sinopse: Nina – 2004 – Brasil - Nina (Guta

Stresser)

sensibilidade fragilizada,

uma

agudíssima que

sobrevivência desumana.

é

procura numa

A

jovem e

de

mente

meios

de

metrópole

proprietária

do

apartamento onde mora, Dona Eulália (Myriam Muniz), uma velha mesquinha e exploradora,

parece

ter

prazer

em

esmagar a vontade da sua inquilina exaurida. Em meio aos desenhos que faz em toda a parte e vivendo a agitada cena eletrônica de São Paulo, Nina mergulha

nos

fantasmas

de

seu

inconsciente até acabar envolvida em um crime.

Para contato e/ou sugestões:

Direção: Heitor Dhalia

anarosenrot@yahoo.com.br

Gênero: Drama Classificação: 16 anos

https://www.facebook.com/cultissimoanarosenrot

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