Revista Varal do Brasil - ed 33 - jan/fev 2015

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Varal do Brasil—janeiro de 2015

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ISSN 1664-5243

Literário, sem frescuras! Ano 6 - Janeiro/Fevereiro de 2015—Edição no. 33 www.varaldobrasil.com

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LITERÁRIO, SEM FRESCURAS Genebra, inverno de 2015 Edição no. 33 - Janeiro/Fevereiro 2015 Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras Sem frescuras www.varaldobrasil.com

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EXPEDIENTE

A revista VARAL DO BRASIL circula

Revista Literária VARAL DO BRASIL

no Brasil do Amazonas ao Rio Gran-

NO. 32- Genebra - CH - ISSN 1664-5243 Copyright : Cada autor detém o direito sobre o seu texto. Os direitos da revista pertencem a Jacqueline Aisenman. O VARAL DO BRASIL é promovido, organizado e realizado por Jacqueline Aisenman Site do VARAL: www.varaldobrasil.com Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com

de do Sul... Também leva seus autores através dos cinco continentes. Quer divulgação melhor? Venha fazer parte do

Textos: Vários Autores

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E-mail: varaldobrasil@gmail.com

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Blog do Varal: www.varaldobrasil.blogspot.com *Toda participação é gratuita

Revisão parcial de cada autor Revisão geral VARAL DO BRASIL

BLOG DO VARAL

Composição e diagramação: Jacqueline Aisenman

PARITICIPE DAS PRÓXIMAS EDIÇÕES: •

Até 25 de JANEIRO você pode enviar textos para nossa edição de março que trará o tema MULHER.

As inscrições podem ser encerradas antes se um número ideal de participantes for atingido.

Você pode contribuir com artigos, crônicas, contos, poemas, versos, enfim!, você pode escrever para nosso blog. Também pode enviar convites, divulgação de seus livros, pinturas, fotografias, desenhos, esculturas. Pode divulgar seus eventos, concursos e muito mais. No nosso blog, como em tudo no Varal, a cultura não tem frescuras! (www.varaldobrasil.blogspot.com) Toda contribuição é feita e divulgada de forma gratuita e deve ser enviada para o e-mail varaldobrasil@gmail.com

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AGENDA DO VARAL ∗

Estão abertas as inscrições para o III Prêmio Varal do Brasil de Literatura.

Até fim de janeiro estamos recebendo textos para o livro Varal Antológico 5.

Até 25 de janeiro estamos recebendo textos para a edição de março de nossa revista com o tema MULHER, MUITO MAIS DO QUE UM GÊNERO.

Inscrições para o Salão do Livro de Genebra estão abertas (para autografar e para enviar livros).

Está sempre aberto o espaço no blog do Varal para divulgação de seus textos, sua arte, seus convites e eventos culturais. Toda informação: varaldobrasil@gmail.com

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E nos despedimos de mais um ano! Um adeus a tudo o que vivemos em 2014 e que nos deixa a saudade e as lembranças.

Para o ano de 2015, estamos já nos movimentando, e muito!

Tivemos a segunda edição de nosso Prêmio Varal do Brasil de Literatura, premiando autores brasileiros e portugueses. E já abrimos as portas para a terceira edição do concurso!

Começam a chegar os livros que participarão conosco do 29o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra. Já vai se formando o quadro de autores que estarão autografando conosco. E isto só aumenta a nossa grande emoção, que atingirá seu máximo de 29 de abril a 3 de maio. Ainda mais que além de todos os autores inscritos, teremos conosco Cintia Moscovich, Marcelino Freire e Ronaldo Correia de Brito. Sim, nosso estande é especial e nós nos orgulhamos de trabalhar seriamente com a literatura!

Tivemos uma magnífica participação no 28o Salão Internacional do Livro e da Imprensa de Genebra, com a presença de muitos escritores vindos de muitos cantos, inclusive os renomados Alice Ruiz e Luiz Ruffato.

Fechando em fevereiro o livro Varal Antológico 5 ganhará vida pela primeira vez através dos ares de Genebra, sendo apresentado no Salão do Livro. Uma honra para nós termos estes autores escolhidos!

Tivemos a edição de duas antologias: Voando em Bando, produto do Grupo do Varal no Facebook, com nossos “exercícios” em equipe realizados quase que semanalmente. E o já tradicional e inovador Varal Antológico 4, com vários autores e uma capa maravilhosa da artista plástica Maria Lagranha.

Desejamos agradecer a todos os que estão sempre conosco, participando das atividades do Varal ou simplesmente acompanhando. Você é muito importante para nós!

E entramos de cabeça em mais um ano, com todas as expectativas e esperanças. 2015 que nos aguarde, estamos chegando com tudo, todas as forças e toda vontade! O ano de 2014 para nós do Varal do Brasil foi muito positivo.

Nossa revista ultrapassou as quarenta edições e tem alcançado cada vez mais lugares e pessoas, seguindo ao encontro dos leitores por e-mail, sites, blogs e redes sociais. O número de participantes, sempre significativo, mostra bem que o nosso “sem frescuras” ainda tem muito o que mostrar!

Assim, desejamos que 2015 seja um ano de muita paz, muitas alegrias e muito sucesso e que a literatura de nossa língua tão linda brilhe ainda mais no Brasil e no exterior. Feliz Ano Novo!

Jacqueline Aisenman Editora-Chefe Varal do Brasil

O Varal do Brasil foi assim cumprindo sua meta de divulgação da língua! www.varaldobrasil.com

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ANA ROSENROT

LEANDRO MARTINS DE JESUS

ANGELA DELGADO

LEONIA OLIVEIRA

ANGELICA VILLELA SANTOS

LUCIANE MARI DESCHAMPS

BENILDA CALDEIRA ROCHA

LUIZ CARLOS AMORIM

CARMEN LUCIA HUSSEIN

LUIZ MANOEL

CRISTINA CACOSSI

LY SABAS

DANIEL DE CULLA

MARCO DI SILVANI

DANIELLI RODRIGUES

MARCOS COSTA FILHO

DEBORA VILLELA PETRIN

MARIA DELBONI

EMANUEL MEDEIROS VIEIRA

MARIA JOSÉ VITAL JUSTINIANO

ESTHER ROGESSI

MARIA NILZA DE C. LEPRE

FATIMA SILVA

MARIA SOCORRO DE SOUSA

FELIPE CATTAPAN

MARILINA B. DE ALMEIDA LEÃO

FERNANDO SORRENTINO

MARILENE SAMPAIO

GAIÔ

MARILU F. QUEIRÓZ

GERMANO MACHADO

MARINA GENTILE

GILBERTO NOGUEIRA DE OLIVEIRA

MARIO REZENDE

HAZEL SÃO FRANCISCO

MARLY RONDAN

HEBE C. BOA-VIAGEM A. COSTA

MARTA CARVALHO

HELOISA CRESPO

NILZA AMARAL SOUZA

ISABEL C. S. VARGAS

OLIVEIRA CARUSO

IVANE LAURETE PEROTTI

RENATA CARONE SBORGIA

IZABEL MARUM

RITA DE OLIVEIRA MEDEIROS

JACQUELINE AISENMAN

RITA PEA

JEREMIAS FRANCIS TORRES

ROGÉRIO ARAÚJO (ROFA)

JOÃO FELINTO NETO

SILVANA BRUGNI

JOSÉ CARLOS PAIVA BRUNO

VÓ FIA

JOSÉ HILTON ROSA

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Geovanas, Jocileides e a burocracia Por Angela Delgado

Filha Casada, com problemas em seu telefone, colocou o meu no jornal em um anúncio à procura de uma babá. Foram quase 200 telefonemas em apenas dois dias, em que houve de tudo: chamadas a cobrar; ligações em que fui tratada por gatinha; minha linda, até uma candidata que falava francês! Esta assustou-me, fazendo-me suspeitar que fizesse parte de uma rede internacional de sequestradores. Não. Apenas trabalhara quatro anos na França, tomando conta de uma criança. Ah, bom. Mas temi que seu perfil de governanta dos tempos passados, têla-ia encarecido sobremaneira. Eu não podia me concentrar no computador ou fazer café, e muito menos tomá-lo. As Adrianas, Alines, Anízias, Catarinas, Geovanas, Jocileides, Josélias, Luísas, Marinas, Marias, Osanas, Roses, Selmas, não me deixaram sentir solidão. Apresentaram-se, prometeram voltar, mas não o fizeram, talvez amedrontadas pelos Três Mosqueteiros e pela Princesa, de brinde... Nesse ínterim, Filha Antropóloga passara no concurso para o Ministério da Educação e precisava apresentar seus títulos que se resumiam a um, já que ainda não havia concluído o Mestrado. Estando ela em outra cidade, coube-me telefonar para requerer a declaração atestando que ela trabalhara, durante dois anos, como professora da Fundação, o que lhe adicionaria oito pontos em seu resultado. Declaração para amanhã? Impossível. Terei que entregar mais de quinhentas. ............................................................... Mas, mãe, já a pedi há meses! Deve estar

pronta. Às oito da manhã, estaciono no estacionamento ainda vazio, que bom, só que declarações só eram entregues a partir das dez horas. Volto às dez. Em que mês sua filha fez o pedido? Vocês não arquivam por ordem alfabética? Não, pelo mês do pedido. Não tenho como falar com a Filha Requerente e preciso do papel para ontem. Por sorte, a funcionária, em menos de dez minutos, achara a declaração. Saí exultante. Restava apenas reconhecer firma, tirar xerox e enviá-la pelos Correios. No cartório, algum corretor, à espera de sua cliente que não chegava, trocou sua senha pela minha; ganhei mais alguns minutos em minha corrida contra o tempo. Que menina sortuda essa Filha Antropóloga. Mas aí Deus achou que já havia me concedido muito. A máquina de xerox não estava funcionando e o Sedex não poderia entregar o envelope no dia seguinte, pois era feriado. Ao lado, uma loja transportadora de cargas expressas o faria, porém mediante quantia tão exorbitante, que retruquei: Por esse preço, pego o avião e levo pessoalmente. Solução: Filha Antropóloga, via Fax, me passaria uma Procuração. Só não entendi por que para obter a declaração, não me fora requisitada a carteira de identidade, no entanto para entregá-la, além da carteira de identidade, era preciso uma procuração. E de curiosidade em curiosidade, finalizo com o fato de minha “maturidade” ter achado um ótimo meio de saber onde coloquei certos objetos. Por exemplo, um saquinho bem pequeno de plástico, que achei ter utilidade futura, foi guardado na letra “p” da pasta sanfonada de documentos, e me divirto comigo mesma, constatando a hilaridade da faixa etária. O que será que ainda vai parar nessa pasta? Celular e chaves na letra “c”, óculos no “o” ou “e” de eureca?!

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NO BOTEQUIM É ASSIM... Por Angelica Villela Santos Entramos...olhamos...sentamos. Vem o garçom...uma calabreza! Enquanto esperamos, conversamos. Pratos, talheres e copos na mesa. Nada de luxo, mas limpo, enfim no botequim é assim. Entram a mulata, o italiano, o português. Ô meu! Me dá o de sempre, hoje não vou pendurar. Ah, nêga! Io pago tuto per te...questa vez... Não enche, cara! Na tua macarronada eu não vou me enrolar. Será que tem briga? Ela não está a fim...Mas, nada disso. Enfim no botequim é assim. O que vai ser, ó portuga, já decidiu? Bacalhau com mulata...faz um bem... Sai pra lá, bigodudo! Que confiança! Onde já se viu? E nós aqui na mesa? Vem a calabresa ou não vem? Eu não disse que este lugar não prestava? Calma, amor, calma! Enfim no botequim é assim... Chega o conjunto do chorinho. Ah! Vai melhorar! A cerveja, o vinho, a caninha...e mais calabresa! A mulata se anima e pega o português pra dançar. Entram o bebum, o poeta fracassado, a meretriz que já é freguesa. A noite vai longe, mas ninguém percebe. Enfim no botequim é assim...

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O Sábio, o Discípulo e o Presente Por Benilda Caldeira Rocha V oltando ao computador na A ntevéspera do meu aniversário R ecebi já como meu presente, A Revista Varal do Brasil. L eitura fiz em suas páginas e D evo dizer-lhe que emocionada fiquei. O ras, porque não parar e confessar?! B RASIL querido, com seus “Varais Poéticos” R estauras a chama literária e o A mor pela leitura e I nalteces seus Escritores. S alve REVISTA VARAL Varonil, grande L egado para nosso BRASIL.

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Entre

Por Carmen Lúcia Hussein

Eis que a vida não é mais vã Nem triste Nem solitária Entre a natureza Os animais E os pássaros Entre o plantar E o regar uma planta Sob a sombra de uma árvore frondosa Entre a luz do Sol A beleza do amanhecer E do crepúsculo Eis que a vida não é mais vã.

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Quase tudo... Por Cristina Cacossi

senti o hálito do calor do sol estive sob a luz da lua vi o brilho das estrelas desfrutei da sutileza das estações inspirei o perfume das flores compreendi a linguagem do vento assimilei a melodia dos pássaros perscrutei o desenvolver da semente decorei meu poema favorito ouvi o choro da escuridão presenciei palavras de amor gravei o som das ondas compartilhei a dor domei a fúria entrei no mundo dos sonhos imprimi na retina, as cores alcancei a eficácia da oração assimilei a vertigem da agonia degustei o mel dos frutos puxei as rédeas da ansiedade percebi o sopro do carinho inundei a face de lágrimas despi-me da indiferença conectei o verbo amar

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FIESTA EN MI PUEBLO Por Daniel de Cullá Estoy en el balcón de esta mi casa, en la plaza Mayor del pueblo, de frente a la fachada del Ayuntamiento, cuyo tejado esta coronado por un gran reloj que no funciona. Estoy leyendo a Georges Rodenbach , en su “Bruges la Morte”, de cuyo libro Huysmans, Joris Karl Huysmans , que en su “Becalmed”, el protagonista busca un reposo espiritual en el campo, y no encuentra mas que paleteria y estupidez en un medio natural decadente , y Mallarme dijeron que era uno de los mas grandes logros del Movimiento Decadente: “a tale of doomed love and bizarre murder”, un cuento de condenado amor y asesinato extraño. También, he releído, y dejado en el suelo, a Georges Bataille, en su “Tears of Eros”, donde la violencia y lo sagrado en Gilles de Rais, Erzebet Bathory, el Marques de Sade, El Greco, Gustave Moreau, Andre Bretón, los practicantes del Voodoo, y la tortura china forman un coctel de sexo, drogas y muerte en grado tal que se hace dudoso lo que deba preferirse, hacer exclamar lo que dijo Joseph Jablonski : “ Dust on my Eyes is the Blood of Yr Hair”, el polvo en mis ojos es la sangre en tu pelo. Junto a ellos quedaba el último Varal leído, con postura de galas con pluma y brillante verso.

Pasa la procesión, pasa la virgen, cual candaliza de vela cangreja o cariafa, ave zancuda de America con un cariacu, cabrito de la Guyana, en sus brazos. El cura sirve cual cabo para facilitar la operación de arriar el foque, puntas muy largas y almidonadas del cuello de la camisa. Los que portan los palos derechos e izquierdos de las andas parecen especie de pilastras para sostener el arquitrabe, o cada una de las vigas sobre las que descansan los tablones que llevan los furos para las hormas en las casas de purga de los ingenios de azúcar. Se para la comitiva. Sueltas y cargadas, mujeres preñadas y sin preñar, bailan una jota castellana con flauta y tamboril, que a los viejos hace salírseles la baba, y a los jóvenes la risa, mirando mas las piernas que el bailoteo. También baila el tonto del pueblo, cual caricato, bajo o bufo de la opera cómica. El conjunto se me parece un carro de acémilas con carga para llenar el cañón del arma de fuego del cura, que embiste ahora, acomete, apuntando en el libro de cuentas de su iglesia lo que alguno debía, sintiendo pesadez de cabeza, de pecho, en plenitud de estómago agradecido, pensando que el ayuntamiento se había cargado de sin razón, de hijos, de deudas.

Pronto empezaran las fiestas patronales, esta vez dedicadas a la Virgen de la Zarzamora. Miro por encima del balcón de hierro y, en un esquina, veo unos niños jugando a cogerle el rabo a un perrillo rabilargo que da vueltas tras de el revirando su tronco, haciendo hélices en el aire, volviendo hacia uno y otro lado describiendo un arco en círculos.

Los porteadores descansaron los palos sobre unas horquillas de palo largo, sintiéndose como en un lugar cubierto de vegetación, y contemplando todas esas caras que los cuatro, por lo bajo, entonaron: “Mirad carialegres, carinegros; carianchos, cariacedos; caribobos, caricortos; caridolientes, carigordos; carihermosos; cariampollados, mofletudos”. Todo era una caricatura o retrato festivo en que se exageran las actuaciones de la vida diaria escondiendo especialmente las defectuosas

Un analfabetismo sacro e ilustrado galopante, que anima todo el cuerpo social y nazional, pasea la virgen en andas. A su paso, las casas me parecen hechas de carey, cierta tortuga y la materia de que esta formada. Las aceras, en su mayoría, están repletas de cagadas de golondrinas que anidan debajo de los aleros, en nidos hechos con cargadal, cantidad de tierra depositada en el fondo de los ríos, y colocados uno junto al otro como en juego de naipes.

Un perrito chiquito le hacía halagos a una niña, y en su lomo se veía la carimba, o marca que ponían cariñosamente los españoles a los esclavos del Perú con hierro candente, cariocando el árbol de America que destila un aceite que reemplaza a la manteca en Cayena y el sebo de las velas en Caribe, hombre cruel e inhumano.

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A VOZ NA PEÇA RADIOFÔNICA DE ARTAUD E SUA LINGUAGEM SUBVERSIVA MARGINAL Por Danielli Rodrigues (PG – UEL)1 RESUMO: A palavra tem um valor semântico inquestionável; porém, é na voz que há a exploração dos sons produzindo os sentidos. Sabe-se que no fim do século XIX e início do século XX houve uma decadência na representação somente do texto escrito, e a preocupação se torna alcançar o envolvimento público através das sonoridades; surgem diversos trabalhos como de Stanislavski, Brecht, Artaud e Grotowski. Para este estudo, tem -se a peça radiofônica A procura da fecalidade de Artaud, cuja proposta é de reconstrução do homem e do corpo, buscando o trabalho com a voz e, consequentemente, com a palavra a partir de uma linguagem subversiva marginal da experiêncialimite e literária do escritor. PALAVRAS-CHAVE: Artaud; linguagem subversiva marginal. ABSTRACT: ABSTRACT: The word has a semantic value unquestionable, but it is in the voice which there is the exploration of sounds by producing meanings. It is known that in the end of XIX century and in the beginning of XX century there was a decadence in the representation of only written text, and the concern becomes to achieve the public involvement through sonorities; Diverse works arise from researchers such as Stanislavski, Brecht, Artaud and Grotowski. For this study, it has the radiophonic play known as The Pursuit of Fecality by Artaud which purpose is the reconstruction of man and its body, bringing the voice work and consequently with the word from a marginal subversive language of the limit experience and literary of the writer. KEYWORDS: Artaud; marginal subversive language.

Os movimentos das vanguardas europeias no início do século XX contribuíram para que a leitura somente do texto não tivesse apenas a palavra escrita como sendo o essencial; buscou-se novos caminhos, a voz deixou de ser apenas para audição, declamação e começou a ter outras dimensões. A voz é um elemento vivo e dinâmico, além de uma compreensão auditiva, desperta ideias e sensações. A voz se faz presente tanto em uma dimensão física, na questão acústica, articulação dos sons ou na sua percepção; como também na dimensão psicológica, produzindo imagem a partir da acústica e articulação da criação dos movimentos dos sons. Stanisla-vski proporcionou uma libertação da criação, aumentando as possibilidades de encenação; as falas começaram a ser apresentadas de modo espontâneo, natural, orgânico. O método de ações físicas proposto por ele tinha por objetivo a junção das ações físicas e psíquicas através de uma interpretação próxima à realidade cotidiana, a voz como parte do corpo em sua ação. A corporeidade torna-se realizável na locução, entonação, pausas, enfim, nos elementos que estão presentes na voz do ator. Partindo da ideia da voz como ação e da formação da ação física, e dando continuidade a essas ideias, surgiram outros estudiosos como Brecht, Artaud e Grotowski. Dentre eles, é notável a importância de Artaud, dramaturgo francês, nascido em Marselha em 1896 e que, em 1948, morreu em Paris, ligado à vanguarda surrealista, reinventou a linguagem teatral, sendo considerado atualmente um renome dos artistas surrealistas. Sua linguagem radical trouxe polêmica e estranhamento ao público, tanto pela questão das novas técnicas de corporeidade como pelo conteúdo, ou por suas atitudes:

“A manifestação da insanidade, fator que coloca o personagem num lugar à parte, marginal, é o meio que permite penetrar numa esfera interdita aos normais, dando acesso a verdades esquecidas ou não reveladas” (Cecília de Lara)

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[...] Para Artaud, que viveu num século de guerra mundial, não era basicamente doente, mas destrutiva; e, por sua vez, precisava ser destruída. Artaud incessantemente soltava seus trovões em todas as direções possíveis contra tudo o que era convencional e tradicional, que negava a vida, que estava morto. Como os dadaístas e surrealistas com os quais se associou, Artaud, seguindo Nietzsche, exclui-se da sociedade num movimento duplo de rejeitar e ser rejeitado, marginalizar e ser marginalizado. Ele seria um marginal rebelde [...] (PORTER, 1990, p. 181). (Segue)

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Foi rejeitado pelo público, devido as suas provocações morais e comportamentos estranhos ao fazer uso do espaço, da vocalidade, tornando-se corporeidade; ao desligamento do texto à defesa da linguagem de expressão de verdades secretas, em rituais, com gestos criando significados na formação de discursos em suas peças. Somam-se a esses elementos os seus internamentos e tratamentos com choques. Artaud parece demonstrar uma escrita automática, à maneira dos surrealistas, em uma linguagem sintética e por vezes (in) consciente, como aponta Foucault (2009, p. 33), a loucura de forma geral pode tornar-se uma das formas da razão. Aquela integra-se nesta, constituindo seja uma de suas forças secretas, seja um dos momentos de sua manifestação, seja uma forma paradoxal na qual pode tomar consciência de si mesma. De todos os modos, a loucura só tem sentido e valor no próprio campo da razão (FOUCAULT, 2009, p. 33).

Para tanto, o conceito de loucura abordado e desenvolvido por Foucault, em seu livro História da Loucura, relata a historicidade do fenômeno da loucura desde o Renascimento até a modernidade, apresentando as diversas formas que a humanidade caracterizava e tratava da loucura ao longo dos séculos. Entretanto, é perceptível que com o aparecimento da Psiquiatria ocorreram mudanças significativas tanto nessa caracterização quanto no tratamento da loucura. Vale salientar que o louco não era digno de ter cidadania e pensamento, tampouco ter garantida a própria identidade e comportamento, assim surgiam e ressurgiam diversas manifestações da loucura, ora conscientes, ora inconscientes, tendo somente sentido e valor no campo da razão. Desse modo, originavam variadas personagens com as manifestações da loucura, dentre elas, Foucault destaca as atitudes e obras de Artaud. Na obra Para A cabar de V ez com o Juízo de Deus de Artaud, é possível identificar a sua ambição na essência de seu trabalho, seja como ator, feiticeiro, relator do retorno das terras dos tarahumaras ou ritualista. Nela, a peça Procura da Fecalidade, apresenta a reconstrução da linguagem, do homem e do próprio corpo:

au lieu de consentir à vivre mort. C’est que pour ne pas faire caca, il lui aurait fallu consentir à ne pas être, mais il n’a pas pu se résoudre à perdre l’être, c’est-à-dire à mourir vivant. (ARTAUD, 1947).

Nota-se que a reflexão sobre viver, morrer e ser partem das fezes. Loucura? Artaud é apontado pela sociedade como um louco, um desvio social. O autor propõe a destruição, a consciência da crueldade para a busca da liberdade, a desnaturalização das normas sociais e que a interação social não seja acometida apenas pela garantia da ordem:

[...] No entanto, a crítica de Nietzsche, todos os grandes valores investidos na partilha dos asilos e a grande procura que Artaud, após Nerval, efetuou implacavelmente em si mesmo, são suficientes testemunhos de que todas as outras formas de consciência de loucura ainda vivem no âmago de nossa cultura [...] (FOUCAULT, 2009, p. 171).

De acordo com Foucault, a experiência da loucura nasce e ameaça atenuar-se, implicando com a razão. Houve a criação de hospitais e clínicas, por conseguinte, o internamento dos considerados loucos pela sociedade. Mais tarde, com os estudos de Sigmund Freud, a loucura permaneceu como interdito da linguagem:

Là ou ça sent la merde ça sent l’être. L’homme aurait très bien pu ne pas chier, ne pas ouvrir la poche anale, mais il a choisi de chier comme il aurait choisi de vivre

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Na história ocidental, a experiência da loucura deslocou-se ao longo dessa escala. Para dizer a verdade, ela ocupou por muito tempo uma região indecisa, difícil de precisar, entre o interdito da ação e o da linguagem [...] segundo os registros do gesto e da palavra, o mundo da loucura até o final do Renascimento [...] (FOUCAULT, 2010, p. 215).

(Segue)

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A loucura como interdito da linguagem apresenta diversas representações, sejam em obras plásticas e/ou literárias. Dentro de seu desprendimento, a experiência desse autor, aqui tratada como experiência-limite, coloca-se em um movimento de continuidade ao retomar a atividade da experiência literária, esta retomada é uma experiência consumada em seu puro êxtase: [...] “Que importa quem fala?” Nessa indiferença se afirma o princípio ético, talvez o mais fundamental, da escrita contemporânea. O apagamento do autor tornou-se desde então, para a crítica, um tema cotidiano. Mas o essencial não é constatar uma vez mais seu desaparecimento; é preciso descobrir, como lugar vazio – ao mesmo tempo indiferente e obrigatório –, os locais onde sua função é exercida [...] (FOUCAULT, 2009, p. 264).

O exercício da experiência literária é tido por meio de seu silêncio, a sua escrita tem uma parte de si que não lhe pertence, pertence somente à escrita, à própria obra. A linguagem pertence ao próprio texto e não ao autor, há um apagamento, uma eliminação do “eu” autor, uma experiêncialimite. Afinal, tem-se a loucura propriamente dita e da performance de loucura que surgem nas obras de Artaud, isto é, há diversas manifestações do fenômeno da loucura imbuídas no escritor. Para Foucault, o conceito dessa eliminação e ausência seria uma experiência trágica da própria loucura que, por meio de uma experiência crítica, entra em uma transgressão. Então, nessa experiência trágica, não há questionamento relativo à razão propriamente dita; já a experiência crítica está pautada pela racionalidade. A experiência de Artaud envolve o limite da escrita, da linguagem. O escritor explora tal limite como uma ausência da obra. Em momentos de privação, é o mesmo que escreve e desenha, tudo é possibilidade de representação. Sua obra apresenta mudança da ordem social estabelecida de acordo com a sua ideia de liberdade. A proposta de revolução na linguagem, persistência da corporeidade, a vocalidade com a crueldade, a busca de novas técnicas, que vai de um sopro, significando a ausência, a um suspiro, significando o passado. Assim, faz uso da ausência de escrita, da perda, da falha de pensamento e da própria escrita com palavras ilegíveis, tudo conduzindo à corporeidade. Artaud apresenta uma experiência da linguagem como experiência-limite, sendo uma experiência através do espaço literário do teatro que

ocorre lado a lado com sua expressão na linguagem subversiva marginal. O tempo e espaço dessa linguagem criada por Artaud extrapolam a semântica das palavras e vão muito além da metafísica, a voz como corporeidade traz o interior e o exterior amalgamados no contato do sujeito com o mundo. A peça trata de uma construção estética com sentidos que permanecem pontos de tensão com códigos linguísticos baseados na própria ação dramática, tendo como proposta uma escrita processual performática e desconstrutivista, ainda com a valorização da voz, da imagem dialética negativa, do anacronismo exacerbado. Além disso, de acordo com Foucault, podemos considerar o conceito de ausência de obra, isto é, a retomada da experiência trágica da loucura sendo silenciada pela experiência crítica, consequentemente com um contraste da linguagem subversiva e marginal de Artaud, ausente e silenciosa, modificando a forma de escrever e até mesmo de compreender a estética, então “Antonin Artaud passa internado no asilo, ‘deportado na França’, como ele próprio se descreve, submetido ao poder da psiquiatria, em sua forma mais violenta: o eletrochoque que provoca o ‘coma’”(REY, 2002, p. 39) arraigado da própria experiência-limite da escrita e da experiência trágica da loucura. Para Blanchot, a experiência limite retira radicalmente o sujeito de si, visto que ele está em crise existencial até mesmo de sua própria experiência, há a perda do sujeito. Desse modo, para verificar a possibilidade da experiência da linguagem se fizeram necessários esses conceitos de Foucault e Blanchot. O autor possui obras escritas dentro e fora do internamento psiquiátrico com diversas experimentações de linguagem com a voz. De acordo com Aleixo (2002), ao se tratar de voz como corpo, tem-se um processo da ação de diversos campos orgânicos, seja pela afetividade, memória, sentidos, musculatura, como até pela ossatura, oportunizando uma complexidade e astúcia particulares na criação. O autor reflete sobre tais possibilidades vocais somadas à sua técnica durante o processo criativo. Sendo assim, na técnica vocal para o teatro é utilizada a vocalidade, momento em que há a aplicação dos recursos vocais baseados nos aspectos fisiológicos, culturais, nas técnicas e linguagens. Além disso, executa o código vocal, sendo o concentrador do conteúdo expresso e de toda a comunicação oral.

(Segue)

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Para tanto, é necessário que o autor conheça e domine as técnicas não só instrumentais, mas também a vocal e a criação; por isso, na preparação vocal, o ator deve adotar metodologias específicas tanto no físico como no vocal, com uma aplicação técnica adequada em seu conteúdo levando à potencialização dos recursos expressivos. Dessa forma, é preciso respeitar suas potencialidades psicofísicas para a obtenção de expressões corporais e produtividade da voz; visto que a voz, assim como o corpo, tem em sua dimensão orgânica grande potencialidade de representação no teatro, conforme a citação de Aleixo das diretrizes apontadas por Grotowski sobre o trabalho vocal do ator: [...] Para cada situação, e para a sua interpretação pela voz, pode -se tentar encontrar a ressonância apropriada. Isto se aplica ao treinamento, mas não ao preparo do papel. Os exercícios e o trabalho criativo não devem se misturar [...]. Meu princípio básico é o seguinte: não pense no instrumento vocal, não pense nas palavras, mas reaja - reaja com o corpo. O corpo é o primeiro vibrador, a primeira caixa de ressonância. (GROTOWSKI, 1971, p. 138 apud ALEIXO, 2002).

Aleixo (2002) cita também que o corpo, segundo a definição de Klaus Vianna, tem uma variedade de movimentos que são originados de impulsos interiores que se exteriorizam por meio do gesto, relacionando-se com o ritmo, espaço, emoções, sentimentos e intenções; o que justifica a comparação com ressonâncias, pois esses impulsos corporais geram as ações vocais (de entonação, de pausa, de ritmo e de gesto). Igualmente: Uma palavra não começa sendo uma palavra - é o produto final iniciado com um impulso, estimulado por atitude e comportamento, por sua vez ditados pela necessidade de expressão. Este processo acontece dentro do dramaturgo. É repetido dentro do ator. Ambos talvez estejam apenas conscientes das palavras. Mas tanto para autor, como depois para ator, a palavra é a pequena porção visível de um conjunto gigante de invisível (ALEIXO, 2002).

A procura da fecalidade, criada em 1948, foi proferida por Artaud e alguns amigos em uma rádio. Na referida obra encontram-se vários elementos sonoros, como a voz com a palavra, os gritos, os murmúrios, as pausas, os ruídos, a expres-

são vocal primitiva, linguagem vulgar e voz grave. Nessa peça há uma proposta de reconstrução do homem e do corpo. Artaud utiliza a voz como componente principal, mudando entonações juntamente com outros elementos por meio do som, do ruído e da palavra. Artaud, apesar de não seguir as concepções de Stanislavki, mantém o desejo intenso de alcançar o envolvimento com o público através dos sentidos. Para isto, ao utilizar as palavras, tanto as defendia como as destruía. O uso da voz é essencial à sensibilização do público, trabalhando a partir da voz possíveis criações de imagens. Embora ele não estabeleça técnicas de domínio do ator, é perceptível que o ator deve buscar a voz como processo de criação mesmo que, para isso, seja necessária a destruição da sintaxe, buscando não a linguagem articulada, mas a profundidade do pensamento: o reche modo to edire di za tau dari do padera coco (ARTAUD, 1947).

Há uma busca de exploração dos sons produzindo os sentidos, atingindo um ponto alto com relação aos significantes e não apenas com o significado. Para Artaud, não era uma pregação da extinção ou rejeição da palavra, mas um questionamento e reivindicação de livre criação, mais possibilidades para se trabalhar com a palavra, privilegiando a expressão das sonoridades no público. Segundo Gayotto (1997), cabe ao ator inventar a construção da voz para o personagem e, ao ouvir a criação da voz, o ouvinte é um ser afetado pela ação vocal construída pelos recursos vocais e forças vitais. Os recursos vocais abrangem os recursos primários da voz, como respiração, intensidade, frequência, ressonância, articulação; e os recursos resultantes, como as dinâmicas da voz compreendidas em projeção, volume, ritmo, velocidade, entonação, fluência, duração, pausas interpretativas e ênfase. Tais recursos, em sua combinação, demonstram as intenções vocais. Já as forças vitais, que Gayotto afirma serem empregadas por Nietzsche, permitem os vários planos da imaginação, estimulando as sensações. Artaud faz um uso de marcação invejável em suas partituras, aqui não será feita a análise dessas partituras com as marcações; porém, há uma breve apresentação delas com o intuito de demonstrar os recursos vocais e as forças vitais da ação vocal. No entanto, é necessário que ouça essa peça radiofônica para uma melhor compreensão dos apontamentos realizados. (Segue)

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Varal do Brasil—janeiro de 2015 s’est révoltée, et, bardée de fer, de sang, de feu, et d’ossements, avance, invectivant l’Invisible afin d’y finir le JUGEMENT DE DIEU (ARTAUD, 1947).

No início da peça, a velocidade das ênfases e do movimento da voz é lenta, a ação é prolongada com a tendência de frequência grave, buscando os sentidos: Là ou ça sent la merde ça sent l’être. L’homme aurait très bien pu ne pas chier, ne pas ouvrir la poche anale, mais il a choisi de chier comme il aurait choisi de vivre au lieu de consentir à vivre mort [...] LE CACA. (Ici rugissements) (ARTAUD, 1947).

A linguagem utilizada é marcante, o ouvinte é levado à reflexão de sua própria linguagem. Há vários elementos sonoros como a voz com a palavra, os gritos, os murmúrios, as pausas interpretativas, os ruídos, conforme também é possível verificar no primeiro exemplo citado. O autor, por vezes, utiliza uma cadência silabada com duração no alongamento, ora com velocidade rápida, intensidade forte e articulação com força, ora com velocidade lenta, intensidade fraca e articulação com abrandamento como em: o reche modo to edire di za tau dari do padera coco [...] LE CACA [...] Alors les bêtes l’ont mangé (ARTAUD, 1947).

Na peça, há uma proposta de reconstrução do homem e do corpo. Artaud utiliza a voz como componente principal, mudando entonações juntamente com outros elementos como sons, ruídos ou palavras. A voz desperta no ouvinte diversas ideias, como sensações. Há combinações de ideias, palavras e ruídos. A voz se torna corporeidade em um determinado ritmo que é mudado a partir do primeiro exemplo dado, usando uma expressão vocal primitiva. A voz do ator busca a eficácia, explorando as potencialidades do corpo para a criação, não apenas como representação, mas sim com vivacidade: [...] où dieu croyait l’avoir depuis longtemps clouée,

Artaud, com certeza, abandona as utilizações formais da palavra para dar espaço à linguagem de teatro nas vibrações e condições da voz, ritmos alucinados como sons martelando, buscando exaltar, paralisar, encantar, estagnar a sensibilidade. Tais vibrações e condições de voz não comuns se comunicam com a sensibilidade, a cena em seu espaço físico se completa com a sua linguagem concreta. A linguagem representa o todo da cena e toda possível manifestação expressiva pertinente. Tal representação se dá pela materialização física da voz, adquirindo em sua interpretação outros significados de acordo com o som e o movimento da voz e expressando uma ideia, enquanto corporeidade. Tais intensidades corporais dependem do ator. Na escuta dessas partituras vocais, a voz de frequência é grave, certamente a voz grave compõe a natureza própria do ator, o personagem traz fortemente o homem/masculino da peça. A articulação precisa, por vezes sobre articulada, com duração maior pelos alongamentos, com algumas cadências silabadas, algumas sílabas reforçadas e palavras enfatizadas no percurso da narrativa; as variações de intensidade são realizadas com facilidade, sendo que há uma diversidade de intensidades, nível mais fraco em suas primeiras ações, depois crescente, alcançando o forte e o muito forte com algumas intensidades suaves, no final um nível de intensidade forte. No percurso da peça, a intensidade e frequência de voz aumentam sob uma forma mista de voz cantada e falada, principalmente quando há desconstrução da sintaxe; a ressonância é mista, de cabeça, mediana e peito, muitas vezes, alta, com curvas melódicas variadas, alongadas, intensidade forte, articulação exagerada, às vezes, também um pouco de nasalidade. Artaud, em sua estética, utiliza um ideal destrutivo para a construção de significados, um descontrole da expressão que traz reflexão em torno do consciente e do subconsciente, lembrando-se das tendências do surrealismo. Essa peça versa sobre a transformação do homem e da sociedade, o teatro vai se criando, progredindo durante a peça. O ouvinte reflete a todo o momento a voz e o seu uso durante o teatro, a voz não é apenas uma mera audição, somente para a compreensão do público, mas sim para obter sensações e envolvimento dele: (Segue)

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Varal do Brasil—janeiro de 2015 Cela vient de ce que l’homme, un beau jour, a arrêté l’idée du monde. […] Et il a choisi l’infime dedans. Là où il n’y a qu’à presser le rat, la langue, l’anus ou le gland (ARTAUD, 1947).

Fica, como adendo, a reflexão da voz no envolvimento do público, de acordo com a produção de sons, tanto das palavras ou de outros recursos não verbais, em um espaço e tempo em que Artaud reúne a linguagem subversiva de sua experiência-limite e literária da linguagem na expressão corporal do teatro pelos personagens malditos com um viés marginal da sociedade, a fim de que possamos contribuir para uma conscientização humanizadora.

Sem dúvida, mesmo que as palavras tenham sentido semântico, é no significante, ou seja, a forma como foram exploradas as sonoridades, que se têm os sentidos em toda cena orgânica e sensibilização do público. É perceptível o quanto a voz envolve o público e permite sensações por meio das sonoridades produzidas durante a criação, tanto pelas palavras como por meio de sons não verbais. Artaud eleva a voz em relação à expressividade, à forma e a sonoridades enquanto sensibilização sonora do público ouvinte, com a exploração máxima da corporeidade para que haja vida no personagem, não somente a representação. Desse modo, a linguagem apresentada expressa um grande impacto, além da agressividade imposta, tendo como consequência no público o desconforto, que possibilita a promoção da mudança. Essa estética de desconforto não é gratuita, trata-se de um efeito proposital da recepção literária de sua obra que nos eleva ao caminho da reflexão consciente de nossa realidade marginal, marcando, assim, um processo de transformação do ser e do pensamento. Seja de forma implícita ou explicitamente, os personagens malditos de Artaud são mais do que autênticos, são produtos da sociedade, bem como a linguagem subversiva marginal advinda da expressão corporal no teatro

REFERÊNCIAS ALEIXO, Fernando. Corporeidade da V oz: aspectos do trabalho vocal do ator – Cadernos da Pós-Graduação IA / UNICAMP – Ano 6, Volume 6 – No. 1, 2002. Disponível em:< http://www.republicacenica.com.br/dowloads/textos/ corporeida dedavoz.pdf>. Acesso em: 15 set. 2013.

ARTAUD, Antonin. A procura da fecalidade. Para acabar de vez com o juízo de Deus. (Trad. Luiza Neto Jorge e Manuel João Gomes). Lisboa: Gallimard, 1975. p. 27- 33. ______. La recherche de la fécalité (performed by Roger Blin). Pour finir avec le jugement de dieu. Faixa 5. Radiodiffusion française: Paris, 1947. CD (4min34seg). In: ______. UBUWEB SOUND. Disponível em: http://www.ubu.com/sound/ artaud.html. Acesso: 15 set. 2013. BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Trad. Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. ______. A conversa infinita 2: a experiência limite. Trad. João Moura Jr. São Paulo: Escuta, 2007.

GAYOTTO, Lucia Helena. V oz-Partitura da ação. São Paulo: Summus, 1997. FOUCAULT, Michel. A História da Loucura: na Idade Clássica. São Paulo: Per spectiva, 2009. ______. In: ______. A Loucura, a Ausência da obra. Problematização do Sujeito: Psicologia, Psiquiatria e Psicanálise. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010. p. 210 – 219. ______. In: ______. O que é um Autor? Estética: Literatura e Pintura, Música e Cinema. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009. p. 264 – 298. POTER, Roy. De bobos a marginais. ______. Uma história social da loucura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p. 181-186. REY, Jean-Michel. O Nascimento da Poesia. A ntonin A rtaud. Tradução de Ruth Silviano Brandão. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

sendo intensa, agressiva, polêmica por vezes trazendo a calamidade do nosso próprio (in) consciente.

1- Mestranda em Letras pela Universidade Estadual de Londrina / Pesquisadora em Estudos Literários bolsista do CNPq. Especialista em Literatura Brasileira. E-mail: danielliokamura@yahoo.com.br

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CITAÇÕES Escrever causa um temporal de emoções que gotejam os pingos de amor que são fundamentais para a "limpeza" da alma.

Por Débora Villela Petrin

Débora Villela Petrin. Amigos são preciosos, possuem pincéis que colorem os pontinhos em brancos de nossos corações, com várias tonalidades, fazendo as nossas vidas se tornarem um verdadeiro arco-íris... Débora Villela Petrin.

Escrever o quanto amamos uma pessoa às vezes não expressa os nossos verdadeiros sentimentos, mas amar, e respeitar alguém que sempre nos ofereceu o melhor de si, é divino. Débora Villela Petrin

Somente a imagem de um sol, que é capaz de aquecer os corpos mais sedentos de ternura, poderiam tentar descrever o brilho existente em um sorriso infantil.

Uma pétala pode ser mais valiosa do que uma flor, ela possui a maciez de tocar o coração em sua totalidade.

Débora Villela Petrin.

Débora Villela Petrin.

Sonhar com o impossível pode nos trazer momentos de intensa purificação.

Quando nos satisfazemos com o que temos somos felizes em nossa plenitude de ser também o que somos.

Débora Villela Petrin.

Débora Villela Petrin.

Amar é uma constituição de laços, que nos entrelaçam a outros, em fitas coloridas, com milhares de nós, representando as inúmeras camadas de afeto...

O tempo nos foge, sempre nos fugiu, e nem sempre sabemos nos aproveitar dessa fuga. Débora Villela Petrin.

Débora Villela Petrin. Ah! O amor eterno e verdadeiro! Todos nós do planeta Terra e de outros, devemos sentilo ao menos uma vez... Ter essa experiência é como realmente flutuar em espaços jamais imaginados por nós.

Vivemos em um país no qual as pessoas se espelham em pobreza de alma para se sentirem grandiosas. Débora Villela Petrin.

Débora Villela Petrin. Tento trocar a lágrima pela caneta, ao menos esta tem cor. Triste é sim a espera, mas ainda bem que a temos para aguardar, pior seria se estivéssemos apenas "flutuando" sem o recheio saboroso de sonhar. Débora Villela Petrin.

Débora Villela Petrin. Sobrevivo com a Oraçao da fé… Alimentando minha sede da saudade, com gotas de amor. Débora Villela Petrin.

Que as labaredas acesas pelas palavras da paixão atravessem todos os horizontes, fazendo os corações se derreterem de amor, sem receios das cinzas se tornarem ilusões.

Sonhe. Tem durabilidade!

Débora Villela Petrin.

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DIVAÇÕES DE SÁBADO "ESPERAR QUE A VIDA LHE TRATE BEM PORQUE VOCÊ É UMA BOA PESSOA, É COMO ESPERAR QUE UM TIGRE NÃO O ATAQUE, PORQUE É VEGETARIANO." (Bruce Lee) PARA A MINHA FAMÍLIA

Por Emanuel Medeiros Vieira Importa mais o que não vemos do que o que enxergamos. E algo sempre faltará. Sem certezas - caindo na estrada - seguimos. Teorias, ideologias, brigas, encontros, separações. O tempo escoando. Tentamos um ritual de ordem - a rotina de cada dia. Escolher. Parece que já há mais escritores do que leitores. Que fazer? Um sentimento de incompletude percorre tudo - no fundo, não temos quaisquer certezas. (Parece filosofia de botequim. Quem sabe...) Os bons sofrem, é claro - perdoem a platitude. A vida não tem nada a ver com justiça ou injustiça. Vamos nos segurando em tábuas de salvação. Salvação? Fundamentalismos, maniqueísmos, dogmatismos, consumismos. E celebrações: para aguentarmos. A vida só - é claro - não basta (Tantos já o disseram.) Escreveu T. S. Eliot, em "Os Homens Ocos": "Assim expira o mundo Assim expira o mundo Assim expira o mundo Não com uma explosão, mas com um gemido". Consolo-me com Fernando Pessoa, em "O Livro do Desassossego": "Que me pesa que ninguém leia o que escrevo? Escrevo-me". Ainda dá tempo (para falar sobre livros eletrônicos)? Segundo Alberto Manguel, autor de "Uma História da Leitura": "Ler textos eletrônicos não é o mesmo para o cérebro, do que ler um texto impresso. Perdemos muito da nossa capacidade de interpretar o conteúdo de uma leitura virtual, realizar conexões e refletir obre o conteúdo porque ela não permite a concentração necessária". E o barco segue.

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Em preto e branco Por EstherRogessi Olhei a foto antiga em preto e branco mergulhei na profundidade do enredo da estória: família grande: três rapazes – homens feitos, duas moças e um adolescente. O senhor da casa, o pai, e dono das terras; senhor da escrava branca – a esposa, governanta do lar, moída, deprimida, anulada; seu ofício sem nunca tirar o avental: cozinhar, passar, lavar, cozer, limpar, bordar, tirar as botas do patrão, tirar a própria roupa, e, fazer, fazer, sem si satisfazer. Sempre olhando para baixo - submissão e omissão do seu eu -, na hora certa, sempre metódica: mesa posta, família alegre, saudável. Após as refeições, uma filha cantava, o mais novo tocava violino – orgulho do pai, o senhor. Até a chegada dele: o retratista. Contratado pelo senhor da casa, para registrar em fotos, o dia a dia da família. Foi justamente naquela foto, da qual a dona da casa não queria participar, e que diante da insistência do fotógrafo, de avental e mãos cheias de terra, pois cuidava do jardim atendeu ao apelo do visitante. Pronta à foto registro de sua presença: cabeça baixa, corpo de lado, e, de costas para o senhor da casa. Terminado o trabalho fotográfico, um grande jantar de despedida, com a mesa farta, e música. Amanhece o dia. A mesa, que cedo – marido e filhos trabalhavam no campo – estava posta, não tinha sido desfeita, após o jantar da noite passada. Perceberam então a ausência, e a importância do trabalho da escrava branca, que jamais voltou.

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EXPECTATIVAS DO TEMPO Por Fátima Silva

Acordo e vejo o sol entrando pela janela com um leve vento e o canto de pássaros. É o primeiro dia do ano, sinto na boca ainda o gosto de comidas e bebidas ingeridas antes e após a passagem do ano. Abro os braços me espreguiço tento guardar aquele momento o mais que o meu corpo pode suportar, então o celular toca, finjo não escutar. Tento me absorver somente no que estou fazendo não quero ouvir nenhum tipo de saudação naquele exato momento, ele é único e universal para mim. Vou em direção ao banheiro tentando não olhar o relógio e não pensar que é o primeiro dia do ano. Olho com atenção para água que jorra do chuveiro, o frio da cerâmica debaixo dos meus pés. Coloco a toalha em volta do corpo e sinto o tecido felpudo me aquecendo. Na cozinha ponho a cafeteira debaixo da chama azulada do fogão, abro a geladeira e sinto um cheiro adocicado de frutas misturadas com cheiros de comidas armazenadas em potes. Arrumo a mesa e ligo a TV. As primeiras notícias saltam na tela fazendo com que eu me posicione no tempo e no espaço. Então como numa fita cinematográfica escuto as músicas carnavalescas, depois vem a Páscoa, o dia das mães, as festas juninas, o dia dos pais, mesmo não tendo pai e muito menos mãe, o feriado de dia sete de setembro, em outubro tem o dia das crianças, dia de finados em novembro. Então chega dezembro cheio de enfeites, de sons de sinos e o ho ho ho do Papai Noel. Até que enfim depois de muitas lutas, muita canseira, muito trabalho e alguns problemas de saúde chega o dia 31, é final de ano. É tempo de fazermos planos, projetos deixar fluir aquela expectativa que tempos melhores virão. Desligo a TV e também o celular, visto meu surrado pijama e calço meus chinelos que trazem as marcas dos meus dedos. Novamente me deito afinal hoje é feriado não preciso está acordado tão cedo. Apanho um livro que não sei se por acaso ou por certeza tem na capa o título: ERAM OS DEUSES ASTRONAUTAS?

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CULTíssimo Por @n[ Ros_nrot

O que acontece quando juntamos um astro durão de filmes de ação, um ídolo que já foi eleito pela Revista People o homem mais sexy do mundo, um eclético comediante, um belo Cadillac, vestidos coloridos, sapatos de salto alto e muita, mais muita maquiagem?Um filme inesquecível! Com um título enorme “Para Wong Foo, Obrigado por Tudo! Julie Newmar (To Wong Foo, Thanks for Everything! Julie Newmar)” (O título vem de uma foto autografada por Julie Newmar vista pelo roteirista Douglas Carter Beane em um restaurante chinês localizado na Time Square, em Nova York, em meados dos anos 80) é uma comédia simples, deliciosa, leve, mas que dá muito o que falar, começando pela inusitada ideia de ver astros como Patrick Swayze vivendo a líder do grupo, “Vida Boheme” uma Drag Queen que vem de uma família rica (que não aceita sua escolha) e se comporta de maneira fina e recatada; Wesley Snipes (incrível com todos aqueles músculos apertados num vestido), transformado em “Noxeema Jackson” afro americana irritada e sem papas na língua e John Leguizamo mais engraçado do que nunca na pele da sensual e ingênua “Chi-Chi Rodriguez”; conta também com a participação muito especial de Julie Newmar (a primeira mulher gato); entre altos e baixos a jornada dessas “garotas” de Nova York até Los Angeles se tornará simplesmente épica. Mais que um Road Movie (filme de estrada) ou um filme de estereótipos, Para Wong Foo é um filme que fala sobre a amizade, aceitação, sobre os gêneros e suas oscilações, trata das questões raciais e dos direitos humanos de forma suave, cativa o expectador e nos leva a viajar com elas e a se identificar com os personagens da pequena cidade rural onde as três são obrigadas a ficar e pouco a pouco vão aprendendo e ensinando, vencendo os desafios e esbanjando otimismo; a pequena cidade

de Snydersville nunca mais será a mesma depois da passagem dessas Divas. Sem grandes pretensões, fácil de acompanhar, com uma trilha sonora gostosa de ouvir e figurinos coloridíssimos de tirar o fôlego (que foram queimados pelos atores no término da produção, uma pena), é um filme para assistir, rir muito com a família, aproveitando cada minuto e que com certeza ficará para sempre em sua mente; pegue a pipoca, retoque a maquiagem e “Boa Viagem”!!! (Segue)

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Para Wong Foo, Obrigada por Tudo! Julie Newmar (To Wong Foo, thanks for everything! Julie Newmar – U.S. A – (1995) – Dirigido por Beeban Kidron é uma comédia onde Wesley Snipes (Noxeema Jackson), Patrick Swayze (Vida Boheme) e John Leguizano (Chi-Chi Rodriguez) são três Drag Queens que após vencerem uma competição em Nova York se qualificam para a Drag Queen of America, que ocorrerá em Hollywood e se deixam convencer por Chi Chi Rodrigues a deixar de lado a ideia de viajar de avião para partir em uma aventura a bordo de um Cadillac conversível. Só que o estilo de vida deles pode ser bem aceito em grandes cidades como Nova York e Los Angeles, mas não é bem visto no interior dos Estados Unidos. Quando o carro do trio quebra na pequena cidade de Snydersville, eles precisam vencer a resistência inicial e conquistar a confiança dos habitantes locais. A situação piora ainda mais devido à presença do xerife Dollard (Chris Penn), que é bastante homofóbico e racista. Para contato e/ou sugestões é só mandar uma mensagem: anarosenrot@yahoo.com.br Curtam no facebook a página Cultíssimo- Ana Rosenrot https://www.facebook.com/ cultissimoanarosenrot

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Intersecção (Prelúdio e Fuga)

Por Felipe Cattapan

e u eu duas letras - dois fonemas uma sílaba e um símbolo: uma única palavra só não é - está... esperando uma outra na esperança de vir a ser o que entretanto ela já é: o pressentimento de um momento que pede um complemento, uma vírgula, uma rima, um prosseguimento que justifique o seu surgimento no nascimento de um procedimento em cujo desenvolvimento se desdobra um movimento onde o todo, em deslumbrado alumbramento, transforma cada fragmento em um único monumento: Intersecção O que há de uno em cada união. A celebração da comunhão - ao invés de expressão; a coesão da conciliação (Segue) www.varaldobrasil.com

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da ação com a reação em forma de contração: a redução à eterna repetição das espirais que perpetuam a comunicação. Entre o texto e o contexto interage o intertexto. Entre o fluxo e o refluxo, a influência e a confluência, floresce uma fluorescência em “flu” condensando a essência que confluindo reencontra permanência no ponto final de alguma reticência... ... nem chegada nem partida: partilha... a parte da ilha cuja quilha não se reparte cuja metade não parte com a ida da partida. a parte da arte que arde em um estandarte de alarde para que o instante se retarde à espera da verdade. a verdade como possibilidade de alguma estabilidade: uma ilha em forma de idade nas águas da vivacidade num oceano de instabilidade: (Segue)

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vendo

na

vivacidade

onde

de

ondas

mar

e

e

catam

viver

no

fôrma o

ás

no

e

e cais

do

mastro

ser ondulam

encantam do

da

astro

o

se

cantam

coisa

a

vir

sondas

ar a

o

caos forma

do

maestro

o estrato da estrutura das entranhas das estradas o espasmo inesgotável esgotado em toda gota de orgasmo que espreme o esperma pede mas não perde sobrevive à vida ama o âmago ata todos os amores moram no mesmo amor que rima e ruma à Roma no ramo da mesma romã mesclado no melado o meu mel alado mamado na mama da minha mãe o meu eu não é só meu Entre o fim e o começo reconheço no mesmo berço o recomeço de estar em vir a ser, a repetição de ser em permanecer.

(Segue)

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e eu é só uma palavra... convertida em repetição, o ímã de uma rima irmã que nascerá talvez amanhã... Ao final o que me resta não sou mais eu, mas minha aresta - um estilo que vem a ser o meu: uma intersecção de repetições sem meta jazendo como um eixo ou uma fresta entre o passado, o futuro e um esteta. Entre o nascimento e a morte jaz a hora que mora e se demora no alento do movimento entre o aqui e o agora. De manhã meu filho amanhece, de noite minha mãe anoitece; entre os dois... recomeço a minha prece, rejuvenesço um hoje que aqui se esvaece... e agora se estabelece em uma alegoria provisória: a epigênese da epifania na polifonia da memória...

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Fernando Sorrentino

É a sudoeste da planície de Buenos Aires que se situa a lagoa de Cubelli, familiarmente conhecida como “Laguna do Jacaré Bailarino”. Este nome popular é expressivo e interessante, mas – assim como o dr. Ludwig Boitus demonstrou – não corresponde à realidade. Em primeiro lugar, “lagoa” e “laguna” são acidentes geográficos distintos. Em segundo, se bem que o jacaré caimã – Caiman yacare (Daudin), da família Alligatoridae – seja próprio da América, acontece que essa la-

goa não é, efetivamente, o habitat de nenhuma espécie de jacaré. Suas águas são extremamente salo-

A lagoa de Cubelli

bras, e tanto sua fauna quanto a flora são típicas daquelas que se desenvolvem no mar, razão pela qual não se pode considerar anormal o fato de que essa lagoa conte com uma população de cerca de 130 crocodilos marinhos. O “crocodilo marinho” ou Crocodilus porosus (Schneider) é o maior de todos os répteis vivos. Pode chegar a 7 metros de comprimento e pesar mais de uma tonelada. O dr. Boitus afirma ter visto, nas costas da

[La albufera de Cubelli]

Malásia, vários exemplares que superavam os 9 metros e, com efeito, ele tirou fotografias e trouxe-as com o objetivo de provar a existência de animais desta magnitude. Como eles foram, no entanto, fotografados em águas marinhas e sem pontos externos de referência, tornou-se impossível determinar com precisão se os crocodilos em questão tinham realmente a dimensão que lhes atribui o dr. Boitus. (Segue)

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Seria um absurdo, naturalmente, duvi-

que essa gire até a morte. Seus dentes não

dar da palavra de um pesquisador tão criterio-

têm uma função mastigatória, são desenha-

so e com tão brilhante trajetória (apesar da

dos unicamente para aprisionar a vítima, que

linguagem um pouco barroca), mas o rigor

engolem inteira.

científico exige a validação dos fatos segundo

Se formos até as margens da lagoa de

métodos inflexíveis, que, nesse caso específi-

Cubelli e colocarmos em funcionamento um

co, não foram colocados em prática.

aparelho que toque música, de preferência a

Assim, acontece que os crocodilos da lagoa de Cubelli possuem exatamente todas as características taxonômicas dos que vivem nas águas perto da Índia, da China e da Malásia, razão pela qual, com toda a legitimidade, lhes caberia o taxativo nome de crocodi-

escolha recaindo sobre temas dançantes, adequados a um baile, em seguida veremos que – não digamos todos – quase todos os crocodilos sairão da água e, uma vez em terra, começarão a dançar ao compasso da melodia em questão.

los marinhos ou Crocodili porosi. Eles apre-

Por essas razões anatômicas e com-

sentam, entretanto, algumas diferenças, que

portamentais, esse sáurio recebeu o nome de

o dr. Boitus dividiu em características morfoló-

Crocodilus pusillus saltator (Boitus).

gicas e características etológicas.

Seus gostos são amplos e ecléticos, e

Entre as primeiras, a mais importante

não parecem distinguir entre músicas esteti-

(ou, melhor dizendo, a única) é o tamanho.

camente valiosas e outras de méritos escas-

Assim como o crocodilo marinho da Ásia al-

sos. Recebem com igual alegria e boa dispo-

cança os 7 metros de comprimento, a espécie

sição tanto as composições sinfônicas para

que encontramos na lagoa de Cubelli apenas

balé quanto os ritmos vulgares.

atinge, no melhor dos casos, os 2 metros,

Os crocodilos dançam de pé, apoiando

medindo-se do começo da bocarra até a pon-

-se apenas nas patas traseiras, de maneira

ta do rabo.

que, verticalmente, atingem uma estatura mé-

Com respeito a sua etologia, este tipo

dia de um 1,70 centímetros. Para não arrastar

de crocodilo, segundo Boitus, “tem uma que-

o rabo pelo chão, eles o elevam a um ângulo

da pelos movimentos musicalmente harmôni-

reto, colocando-o quase paralelo ao corpo.

cos” (ou, mais simplesmente, é um “bailarino”,

Enquanto isso, as extremidades dianteiras

como é chamado pela gente do povoado de

(que bem poderíamos chamar de mãos) se-

Cubelli). É sabido que os crocodilos, quando

guem o compasso com toda uma série de

estão em terra, são tão inofensivos quanto

gestos simpáticos, e seus dentes amarelados

um bando de pombas. Eles só podem caçar e

mostram um enorme sorriso de otimismo e

matar dentro da água, que é o seu elemento

satisfação.

vital. Apertando a presa entre as mandíbulas cheias de dentes e imprimindo a si mesmos

(Segue)

um rápido movimento de rotação, fazem com www.varaldobrasil.com

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A algumas pessoas do povoado não atrai absolutamente a ideia de dançar com os

mero capricho, jamais desejaram participar dos bailes promovidos pelo clube.

crocodilos, mas muitas outras não comparti-

As reuniões não costumam passar da

lham dessa rejeição e o certo é que, todos os

meia noite, porque, nessa hora, os crocodilos

sábados, ao entardecer, essas últimas se

começam a ficar cansados e talvez mesmo a

vestem com suas melhores roupas e vão pa-

se aborrecer. Além do mais, é a hora da fome

ra as margens da lagoa. Nelas, o clube social

e, posto que o acesso ao restaurante lhes é

e esportivo de Cubelli instalou tudo que é ne-

vedado, devem voltar para a água em busca

cessário para tornar inesquecíveis as reuni-

de comida.

ões. Os visitantes podem até mesmo jantar em um restaurante que se localiza a poucos

Quando chega o momento em que não resta mais nenhum crocodilo em terra firme,

metros da pista de dança. Os braços de um crocodilo são curtos e não alcançam o corpo do parceiro ou parceira. Os cavalheiros e as damas que dançam, segundo o caso, com o crocodilo fêmea ou macho que o escolheu, apoia cada uma de suas mãos em um dos ombros do outro. Para realizar essa operação, convém esticar os braços ao máximo e manter uma certa distância. Como os crocodilos têm um focinho muito pronunciado, a pessoa que dança com eles deve ter a precaução de jogar o corpo para trás, mantendo-se o mais longe possível (se bem que pouco se tem notícia de episó-

as damas e cavalheiros retornam ao vilarejo bastante cansados, e um pouco tristes, mas com a esperança de que, quem sabe no próximo baile, ou em outro dia qualquer, mesmo que distante, o rei ou a rainha dos crocodilos, ou talvez mesmo ambos, simultaneamente, abandonem por algumas horas a ilhota central e participem da festa. É com essa expectativa que cada cavalheiro, ainda que não o demonstre, guarda a ilusão de que será escolhido como parceiro de dança da rainha dos crocodilos. O mesmo acontece com as damas, que sonham ser o par do rei.

dios desagradáveis, tais como extirpação de nariz, esmagamento de globo ocular ou deca-

Tradução: Regina Drummond

pitação). E também não se deve esquecer de que, como entre os seus dentes podem ser encontrados restos de cadáveres, seu hálito

regina-drummond@uol.com.br regina-drummond@web.de

deixa muito a desejar. Entre os cubelianos corre uma lenda que diz que na pequena ilha situada no meio da lagoa moram o rei e a rainha dos crocodilos, de onde, segundo parece, eles jamais saíram. Comenta-se que esses exemplares já ultrapassaram os 2 séculos de vida e, talvez por causa da idade avançada, ou mesmo por

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F@L@NDO, DIZENDO E CONT@NDO EM P@RTES, @ VERD@DE J_r_mi[s fr[n]is torr_s

QUER

VERDADEIRAMENTE

FAZER

A

e governadores e não encontrar uma única porta fechada?

DIFERENÇA?!

Enfim, quer ser o bom? Não faz porque não quer é a coisa mais fácil do mundo!

Exemplo máximo para a população e para o mundo?

Quer ser diferente, fazer todos ri-

Quer conquistar uma multidão de fãs em todo

rem quando contar uma piada sem graça, im-

o planeta capazes de darem a vida para ve-

pressionar quando falar de seu partido políti-

rem você feliz, como acontece com esses inú-

co, do seu time do coração e de sua infân-

meros rapazes e moçoilas fanáticos?

cia?

Quer verdadeiramente fazer a difeQuer influenciar gerações, ter o no-

rença? Você consegue!

me indicado para o Prêmio Nobel, para a ABL ?(assim como foi o Paulo Coelho e José Sarney, este último com um único livro, indicado por uma plateia seleta: filhos e netos e genros! )

Quer causar boa impressão em tudo? Inspiração para todos, a ponto de desejarem lhe tocar para adquirirem uma dessas “parcelas” de benesses, que lhe coroou a vida?

Quer ser verdadeiramente respeitado, temido, reconhecido e elogiado?

ado, massageado e viver numa atmosfera de

Quer ser convidado para jantares na alta sociedade, principalmente

Em suma, quer ter seu ego acarici-

fora do

paz, sendo olhado como se fosse o salvador da pátria ou o condutor dos povos?

Brasil, Estados Unidos, Europa e Emirados Quer , Então? Eis então as duas

Árabes?

opções para atingir esse objetivo! É muito mais fácil do que você possa imaginar e nem sabe como! Quer ser um símbolo sexual, ser marco de destaque entre a justiça e a moral,

(Segue)

ser amigo de presidentes, primeiros ministros www.varaldobrasil.com

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Uma delas tem que ser de cara descartada,

Mas, no geral as coisas não funci-

uma vez que a maioria das pessoas que ad-

onam dessa maneira: enriqueceu! Então re-

quirem raciocínio, não podem mais serem JO-

juvenesceu e todo mundo será seu amigo!”

GADORES

famosos de futebol, fecharem

E as mulheres! Ah! As mulheres, nunca mais

contrato e ganharem dinheiro em quantidade,

o abandonarão! Haja paixão! Até o último

assim como as águas dos oceanos!

tostão!

A outra, num entanto, é perfeitamente plausível: bastante ganhar os DUZENTOS MILHÕES NA LOTERIA, que tudo em sua vida vai mudar pra melhor!!!

III PRÊMIO

Seus defeitos, nunca mais serão

VARAL DO BRASIL

percebidos! Seus dons (medíocres) serão enal-

DE LITERATURA

tecidos e multiplicados, nunca mais falarão mal de você!

Concorrem textos em:

Quanto mais aumentar seu patrimônio, mais o “amor” e o respeito que as pessoas tem por si, aumentarão concomitan-

Poesia

temente!

Contos Porém, tropeçou e perdeu... tudo

volta a ser como antes: dor de cabeça, críti-

Crônicas e

cas, desrespeito, injúria, falsidade, falsos ami-

Textos Infantis

gos, traições e os inevitáveis abandonos e preconceitos. Veja-se o recente caso do ex milionário e ainda rico, EIKE BATISTA, o qual chegou a fazer parte da revista dos milionários, acabou também sendo capa de uma outra revista americana, cuja chamada de capa

Leia o regulamento no site do Varal ou peça através de nosso e-mail:

era a seguinte: “How to lose two hundred billion dollars in a year!” Ou seja: “como perder du-

varaldobrasil@gmail.com

zentos bilhões de dólares em um ano!” Satirizando a desgraça alheia! Não que eu seja simpatizante, inclusive, desde a morte daque-

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le ciclista, etc...

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POSSO! SOU! VOU! VOO

gando o próprio ego na insaciável fome em satisfazer desejos (muitas vezes nem sabe) de mistério de viver e ser. E mágica, no lodo

Por Gaiô

dos assombros, a vida comprometida em flor de Lótus se abre... Quem somos?

Mundo... Pequeno vasto mundo. Nem

E a metamorfose avança desafiando o

lá, nem cá. No paradoxo do globalizado já

mistério do mundo em transformação e o

não há verão aqui, inverno acolá. Tudo junto

nosso entendimento. Como compreender os

conclama um tempo a se decifrar, entender,

ritos de passagem que se vive !? Bons ares

renovar posições se as há, reciclar revendo

e sufoco de tantos casulos, contradições, on-

conceitos de paz (os que aí estão caíram em

de os levarão? Como contribuir com a evolu-

rotinas de desesperar); união dos tempos vi-

ção de mentes vibrando pela roda de integra-

síveis (um outro que não se vê anda a cami-

ção? De que? Quem? Como? Por quê? So-

nho na percepção de quem vê). Cores, for-

nha-se com isso dançando, cantando a vida,

mas, tridimensional desfocado de vazios em

transcendendo o impossível ventre da poesia.

transformação...

Emoção dos sensíveis rumoreja: Po-

E as larvas, lagartas de todas as espécies divergem em busca de soluções na escuridão parva. Ruminam o bem , o mal, intrigante praga exasperada, devoradora de almas em criação, proliferação do imaginar saídas, ceifando jovens, crianças, bons homens construtores de sonhos... E germinam, desenvolvem ruídos e silêncios em tudo o que amam e desafinam em desafios.

bres e ricos, e os diferentes

se dando as

mãos. Silenciosamente...Utopia e des-ilusão. E os extremos de esquerda, direita, quem sabe a caminho de um uníssono, longe da linear confusão, vigilantes arabescos, arte em ondas conectando o humano em harmonia salvífica, a favor do HOMEM. Sonha-se com as cores para além da boa escuridão que habita e antevê em milagre a sonhada

As perigosas ousam, taturanas feias, as-

metamorfose. Epifânico despertar de almas

querosas, insinuantes mariposas que assus-

ansiosas de céu vibrando o devir ( esta é a

tam criancinhas... Gabrielas e Aninhas... As-

função da luz no que se É nas lutas da tercei-

sustam em promessas fantasmagóricas, de-

ra dimensão).

vaneios, grotescos pesadelos de tantas foE na energia da dor de renascer, faz as

mes, consumo, sabe-se lá de que.

pazes com ela, conhecendo-a na negritude E o Bicho em evolução desbrava à foice o coração, carcomendo cascas de um humano áspero, introvertido, medroso, contrário a si mesmo, ousando saídas, devorando egoísmos, vaidades, soberbas num consumo des-

do fazer nem sempre com sentido, em busca da nova cor, a que conclama mudanças. Devora o próprio ovo em apetite voraz, consumindo todas as dores amargadas em sucessivas evoluções...

cuidado, desnudado de ser, cortando, masti(Segue) www.varaldobrasil.com

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E não desiste até ir se acalmando caminhadas dia a dia, maturações exaustivas de bus-

PARTICIPE DAS ATIVIDADES DO VARAL!

cas às raízes de si mesmo...De onde vim? Qual minha herança e tradição? Perscruta o sagrado tão distante de atenção e comunhão. Coloca-se cuidadosa, enovelando em tramas fios enrolados em capa protetora de uma história em crisálida genética onde aos pou-

PRÊMIO VARAL DO BRASIL DE LITERATURA

REVISTA VARAL DO BRASIL

SALÃO INTERNACIONAL DO LIVRO E DA IMPRENSA DE GENEBRA - SUÍÇA

LIVRO VARAL ANTOLÓGICO

cos se dissolve e transfigura...Na reorganização de quem será, de que espírito se animará, que história trará, juntando sonhos e se fazendo criação constante em novo ser. Quem será? Eclode a borboleta, o ser desvestindo casulos sombrios de asas umedecidas, frágeis, sentidas e ao ar, novo sopro em amálgama de energia vital se apodera de auto percepção: POSSO! SOU! VOU! VOO! E o ciclo se reinicia em volutas sábias do comum, do simples, do natural, em mágicas de vir a ser daquilo que se É...Deixar ser...Ter Fé...Dar voz ao coração, irrrrrrrrrr....Voar novos futuros ovos, fecundados, semear, germi-

CINCO CONTINENTES!

nar. E renovados, ao abrigo do infinito é só acreditar, munidos de consciência, ver com novo olhar, perceber além do que vê, não se irritar, se indignar o necessário, dar voz aos sentimentos e atitudes coerentes e as que não o são, as quase, se permita errar, para algo maior como agente de transformação pelo melhor, pelo bem comum, pelo HOMEM. O horizonte em sua palidez ampliada se ilumina. E a tarde cora, de ternura se eterniza, em sublime desvelar do novo ano que se

A revista Varal do Brasil circula pelos cinco continentes! Através de e-mail, sites, blogs e redes sociais, nossa revista alcaça você onde você estiver! Com temas livres ou temas focados em assuntos ou palavras, expressando em verso e prosa a emoção de cada participante!

revela, e acolhe em quereres, acreditando:

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POSSO!SOU!VOU!VOO!

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Filosofia Integrativa

gativo, luta pelo fundamento. O que Tomás de Aquino expressa em linguagem atual: “O ultimo

Por Germano Machado I – FILOSOFIA INTEGRATIVA

fim de uma coisa é o que é determinado pelo seu autor ou o seu promotor. O primeiro autor e promotor do universo é uma inteligência. O último

Por que Filosofia Integrativa?

fim do universo deve portanto ser o bem da inteli-

Por que motivo a Filosofia integra?

gência, ou seja, a verdade. Por conseqüência, a

São perguntas pertinentes.

verdade deve ser o último fim do universo e o prin-

Profundam, aprofundam o ser/homem. Aquilo de Heidegger; “A questão não investiga

cipal objeto da tensão do sábio” (Suma Contra os

isso ou aquilo no ente, o que ele é cada vez, aqui

Gentios, 1, c. 1.).

ou ali, como é constituído, pelo que pode ser modi-

procurar seu destino.

ficado. Para que serve... Ela procura o fundo do ente enquanto ente. Procurar o fundo, isso é aprofundar. O que se põe em questão, entra assim numa referência com o fundo...” (Introdução à Metafísi-

Claro que haverá sempre o imponderável. O que não se pode pesar. Nem medir. O surpreendente, a surpresa, o inesperado, o inevitável fazem parte da destinação, ainda também e de modo tão misterio-

ca, I).

so. Participa o imprevisto do destino que integra

Integrar, por seu lado, integra no destino, inteira-se

determinismo e liberdade, o livre-arbítrio e os fatos

na destinação, ser, assim, destinado, ter/ser um

súbitos. No seu ineditismo, certos acontecimentos

destinatário, uma carta destinada. A carta enviada

estão marcados pelas opções inimaginadas. Faz o

precisa ter endereço. Carta sem endereço não chega, pois, a seu destino. Integra a filosofia porque, em si e por si, destina. Há muitíssimos hoje sem destino, ao léu da vida, do mundo, da História. Não

Homem a História, que o faz de igual modo. A Filosofia Integrativa exercita o homem no seu pensar, o homem nela se exercita, a fim de que o revista, seja revisitado pelo que é, íntegro e não

tem nada a ver, evidentemente, com “destino”, no

desintegrado. Como não meditar sobre tantas per-

sentido de fato que tem de acontecer, cego, obriga-

sonalidades, desgraçadamente moças ou envileci-

tório. Transcende a ideia de “moira”, o destino em

damente velhas, desintegradas? Como não querer

sua projeção grega ou do “maktub” dos árabes. Ser ou estar destinado é destinar-se, Estamos em uma civilização e uma cultura a se desintegrar, aquilo a que Spengler denominou de “A Decadência do

ver a desagregação generalizada? A Filosofia Integrativa se expõe para que não haja desintegração ou se lute (em sentido altamente superior) para evitá-la. A não-integração do homem com o Ser por

Ocidente” e a que Toynbee procurou um remédio

Si subsistente, o Espírito Total, com o Universo e

com a teoria do “Desafio x Resposta” (a todo desa-

com os outros homens faz desequilibrar o ser hu-

fio, deve corresponder uma resposta). As perspec-

mano. Integrando-se, pelo ser que se realiza na co-

tivas de ambos os pensadores estão voltadas para a integração do mundo, da história, do homem, apesar dos seus temperamentos pessoais ou divergências ideológicas e políticas. Nunca, porém, a Filo-

municação e intercomunicação com tudo e todas as coisas, o homem se encontra. Se refletirmos, entenderemos. Exerçamos, pois, os reflexos, sobremodo os da mente, da inteligência, do coração e,

sofia Integrativa cai no catastrofismo: pugna pela

assim, do físico (soma) e do espírito (psique).

esperança, ama com a vontade de ultrapassar o ne-

(Segue)

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Estamos em uma civilização e uma cultura a se

Real, aqui Racional.

desintegrar, aquilo a que Spengler denominou de

Nessa perspectiva, a Filosofia Integrativa visivel-

“A Decadência do Ocidente” e a que Toynbee pro-

mente é “eclética”, tendendo a uma “síntese”. De

curou um remédio com a teoria do “Desafio x Res-

resto – diremos com Hegel no Prefácio da Feno-

posta” (a todo desafio, deve corresponder uma res-

menologia do Espírito – Não é difícil ver que o

posta). As perspectivas de ambos os pensadores

nosso tempo é um tempo de nascimento e de tran-

estão voltadas para a integração do mundo, da his-

sição para um novo “período”. Tempo de nasci-

tória, do homem, apesar dos seus temperamentos

mento e de transição, os Séculos XX – XXI tor-

pessoais ou divergências ideológicas e políticas.

nam-se uma História à procura de integração hu-

Nunca, porém, a Filosofia Integrativa cai no catas-

mana, pessoal e política, social e de cultura medu-

trofismo: pugna pela esperança, ama com a vonta-

lar, uma história realmente universal. Estamos nu-

de de ultrapassar o negativo, luta pelo fundamento.

ma espécie de esquizofrenia social e haveremos de

O que Tomás de Aquino expressa em linguagem

marchar para uma equilibrização/harmonia trans-

atual: “O ultimo fim de uma coisa é o que é deter-

pessoal. Não poderemos, diante de uma filosofia

minado pelo seu autor ou o seu promotor. O pri-

que integra, uma Filosofia Integrativa, desconhe-

meiro autor e promotor do universo é uma inteli-

cer que... se faz uma Filosofia Social, é da Social

gência. O último fim do universo deve portanto ser

Filosofia Política, para superar a política dos sécu-

o bem da inteligência, ou seja, a verdade. Por con-

los XX/XXI, e entre 14 e 2014, horrorosa Política

seqüência, a verdade deve ser o último fim do uni-

do Século XX que gerou os totalitarismos de direi-

verso e o principal objeto da tensão do sá-

ta e esquerda, desfibrando bastante o conceito de-

bio” (Suma Contra os Gentios, 1, c. 1.).

mocrático de Político. Não se há de desligar, aqui, neste conjunto de homem e o homem; o ser e a

II – O PAPEL DA FILOSOFIA INTEGRATIVA

região; o homem localizado; a geografia e a história; a sociedade-meio-habitat e o homem como

Implicar inteligência (mais do que a razão, clarea-

fim, interrelacionado.

mento ou lucidez racional) e verdade como ‘fim’ do universo – e a verdade como principal objeto do sábio – eis o papel primário de toda a Filosofia Integrativa. Sua razão de ser é de se relacionar. Porque o mesmo sentir se acha em Hegel quando afiança: “Assim a Ideia na sua significação mais alta, Deus, é a única verdade verdadeira, o lugar em que o conceito livre não entra em contradição não resolvida com a sua objetividade, quer dizer, onde o conceito não é sob nenhum aspecto, prisioneiro na sua finitude”. (Carta a Duboc, in Extractus, Jacques d’Hondt, Edições 70). VERDADEIDEIA-DEUS: A verdade como fim da Filosofia Integrativa. Então, o sábio está com atenção ao

III – A VISÃO SOCIAL Uma Filosofia do Social interpreta, na macrovisão da Filosofia Integrativa, na procura de soluções, os fenômenos da sociedade no homem e do homem na sociedade, dele a perspectiva de valores gerais (uma axiologia, sugere Max Scheller), quer sejam éticos ou vitais. Não há dúvida de que a questão de se procurar ver a Filosofia concebida como uma crítica dos supostos e categorias do conhecimento ou como uma síntese por construção lógica de todo o saber científico, se relaciona dentro de uma Filosofia Integrativa e da Filosofia, pois que integra por si mesma. (Segue)

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Relaciona-se com o que? Com uma visão-theoria

mitos do capital, da raça superior, da classe divini-

do social (o todo social, o todo da sociedade huma-

zada, do Estado endeusado, absolutização de qual-

na) e, assim, autonomizando-se a Sociologia da

quer fator relativo.

Filosofia, chegará à ciência em função do homem

Ainda quando sempre deve ter-se à vista o limite

na sociedade, que Comte resolvera denominar de

que separa as conclusões da ciência, no sentido

Física Social, no que teve longa visão. Não estaria

estrito das conclusões filosóficas, o cultivador do

aí uma ideia, inconsciente talvez, de integrar a Fí-

integrativismo não pode formular objeção alguma

sica e a Ciência Social ou Sociologia? Como inte-

a uma Filosofia Social ou da Sociedade que racio-

grar ou sintetizar, para o futuro, de modo racional

cina (razoa) partindo dos fatos da experiência hu-

as ciências sociais e humanas e as ciências técnicas

mana. Não é à toa que, entre os melhores métodos

ou matemáticas, humanas umas e exatas outras,

filosóficos deste nosso tempo se encontra o realis-

como se diz? Eis uma preocupação profunda da

mo crítico. Integrar conduz à ação de unir entida-

Filosofia Integrativa, pois este fato tem prejudica-

des, na aparência separadas, em um todo coerente,

do a uns e outros, dentro e fora das Universidades.

que é algo distinto da soma das partes, como na fusão de diferentes tribos ou mesmo estados em uma Nação. Ou, melhor, assimilação completa de diferentes elementos culturais até o ponto de pro-

IV – SÍNTESE DO CONHECIMENTO CIENTÍ-

duzir uma cultura homogênea de traços mutua-

FICO

mente adaptados. Processo acomodatício e assimilativo, portanto de integração. A Filosofia Integra-

Refiro-me também a uma síntese do conhecimento

tiva há de mostrar que tudo e todas as coisas estão

científico, em que as ciências sociais, que nasce-

em um nível de união e jamais de unificação, que

ram na base da reflexão filosófica, se envolvem.

há entre seres e entes, objetos e coisas, certa iden-

Por outro lado, a fim de evitar cientificismo, os

tificabilidade, que não as descaracteriza.

problemas das ciências sociais, derivadas, de início na Filosofia, em uma reflexão filosófica de aparen-

V – NO CAMPO DAS CIÊNCIAS

te separação, não se podem resolver por métodos somente científicos, no sentido das ciências cha-

Que é, pois, Filosofia Integrativa? Seus traços ge-

madas quantitativas ou matemáticas. Integrar, as-

rais, se me fiz entender, mostram-se no que já ex-

sim, condiz com a socialidade do homem e sociali-

pus. Etimologicamente, complemento, composi-

za/torna plenamente social, o homem. Há de orien-

ção, em matemática mostra a soma do infinito nú-

tar-se toda integração pessoal/social e meso (meio)

mero de partes. Em Biologia, integração consiste

social humana para um tipo de sociedade/

no fenômeno em que organismos lesados (e, por

comunidade livre e aberta (democrática) ou em

vezes, divididos) novamente se completam para

direção ao totalitarismo, das visões sociopolíticas

constituir um todo orgânico. Em Sociologia, a in-

parcialistas e não integralistas do relacionamento

serção de entes sociais em totalidades de ordem

meio-homem? A escolha será feita e devemos cui-

superior das funções psíquicas

dar, com muito zelo e atenção, para que os Séculos

(Segue)

XX-XXI sejam o final da política totalitária nos

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Nos tipos integrados colaboram funções que nou-

das concepções filosóficas extremadas e anuláveis

tros casos estão separadas, principalmente o físico

em si mesmas, e por isso.

e o psíquico; predominam a harmonia do conjunto e a totalidade. O mesmo não acontece no desinte-

VII – QUALITATIVO E QUANTITATIVO

grado, onde a multiplicidade figura em primeiro lugar. As funções particulares tornam-se indepen-

Cada homem vê uma parte do “elefante”, como na

dentes até se dissociarem.

historieta da filosofia hindu – cada cego vê uma parte do elefante e pensa que a sua visualização é a

VI – INTEGRACIONISMO

que vale quando todas as formas de ver as partes diversas é que falam a verdade. Cada cego, não

Pode falar-se também em Integracionismo. Trata-

uma só parte e desconexa, mas todas as partes uni-

se de evitar (segundo Ferrater Mora) os escolhos e

das, conectas, conectadas. Todas as ciências – exa-

insuficiências em que caem normalmente dois tipos

tas ou técnicas chamadas, ou humanas e sociais

de pensamento: o que presta, se não exclusiva, par-

ditas, precisam ter algo de união, devem integrar-

ticular atenção ao sujeito humano, a existência a

se, inteirar-se. Hoje já se fala em Filosofia da Bio-

história humana; ou o que presta particular, se não

logia, Filosofia da Matemática e até Filosofia da

exclusiva atenção às realidades naturais dentre as

Filosofia. Olhar então o conceito das totalidades:

quais se encontram os sujeitos humanos. Esses dois

advém do universo (uni/verso). Se é uni-verso, o

tipos de pensamento se manifestaram em várias

uno, aqui, é a disciplina ou matéria isolada, mas

contraposições: consciência-realidade; pensamento

completando-se na versidade, na variedade e na

da realidade pensada ou investigada, e de um modo

multiplicidade das demais. O Uno, Deus, o Espíri-

geral (ainda que vago) sujeito-objeto. Seriam o per-

to, gera a versidade, a variedade, os outros, os de-

sonalismo-naturalismo;

antropologismo-

mais, a multiplicidade. O mesmo, ainda também,

fisicalismo; existencialismo essência; ou, ainda,

quanto a não separar a Filosofia da Matemática,

idealismo-realismo.

mas uni-las. Os grandes matemáticos foram gran-

Partem de realidades que desejam absolutas. Con-

des filósofos e os grandes filósofos, matemáticos.

sideremos conceitos expressos nos predicados ou

Até o Século XVII, vigorou este princípio e, no

pseudopredicados “o real” e “o ideal”, onde se tem

Século XX, vimos ainda Edmundo Husserl e Ber-

um objeto físico, se diz que é real e o “ideal” se

trand Russell, que filosofam e matematizam. Por

aponta no significado de uma proposição. O que o

que não há Educação? Porque não se aprende Filo-

integrativismo aspira fazer não é definir, absoluta-

sofia da Educação integrando-se as duas disciplinas

mente a entidade ou melhor predicado ou pseudo-

e para o ensino sobremodo. A Filosofia Integrativa

predicado através de predicados unilaterais, senão

conquanto veja a educação como importante, for-

situá-los dentro de um certo “contínuo”, uma certa

mula também o princípio da Auto-Educação, sem o

“linha”, oscilando entre os pólos da idealidade e da

qual somos profissionais, quando somos, mas ja-

realidade, da razão e da intuição, do concreto e do

mais seremos personalidades.

o

abstrato, como se separassem. Cada ponto da linha ininterrupta está cruzada por duas direções opostas,

(Segue)

o esquecimento de uma delas conduz a qualquer www.varaldobrasil.com

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VIII – FILOSOFIA UNIVÉRSICA

forças de produção, é estômago, economia, uma realidade material concreta. Têm razão Spengler,

É olhar, pois, o homem: unidade na variedade,

Freud, Nietszche e Marx. Não têm razão quando

multiplicidade que se unifica; é olhar o universo: a

excluem, se fazem excludentes. O homem, na Fi-

grande unidade na amplíssima variedade, a grande

losofia Integrativa, não é excludente: ou sentido

unidade cósmica que vai permeada pela grande

animal de instinto de luta ou sexista e sensual, ou

variedade. A Filosofia Integrativa é uni/vérsica:

fruto da infraestrutura econômica, mas, sim, é uma

cósmica e, por isso, os cosmos, externo-todo o

E outra coisa. Erraram esses filósofos quando fo-

universo, e o interno, no homem, integram-se e

ram exclusivistas, excludentes, quando excluíram

inteiram-se, unificam-se, compõem-se, sintetizam-

os diversos. A unidade absoluta da Ideia, vimos

se. Hoje, no III milênio, ao término de um período

Hegel dizer, só no Espírito, em Deus.

histórico, na beira de um acabar de ciclo civiliza-

Termino, citando o mesmo Heidegger do início:

tório e cultural, quando uma civilização está a fin-

“Esquecemos que, já na época da Filosofia grega,

dar-se, impõe-se uma Filosofia Integrativa: unir os

se manifesta um traço decisivo da Filosofia: é o

homens, dar base de unidade ao ser humano, ofe-

desenvolvimento das ciências em meio ao hori-

recer a inteiridade, uma filosofia que preencha a

zonte aberto pela Filosofia. O desenvolvimento

alma humana. Uma filosofia que integre o homem

das ciências é, ao mesmo tempo, sua independên-

consigo mesmo e com toda a realidade humana,

cia da Filosofia e a inauguração de sua autono-

terráquea e univérsica, cósmica, que está partindo

mia”.

rumo às estrelas.

IX – INTEGRAR-SE EM QUEM? EM QUÊ? Em que, ou melhor, em quem nos integraremos? Fundamentalmente, em Deus. Tudo foi creado por Ele e sem Ele nada poderia ser creado. Uma filosofia integrativa é religiosa? Sim. Não, porém, determinada ou imposta, antes o princípio total que há no gênero humano e desde sempre pelo Transcendente e pela Transcendência. A Filosofia Integrativa vê, pois, o conjunto, uma visão: uma theoria, mas tem um pr incípio fundamental: a ideia de Deus, em Deus pela razão e pela intuição. Os seres exigem o Ser. No homem, em estado natural, há a faceta religiosa e mística conatural ao ser/homem e daí advindo às outras facetas: o homem é luta e guerra, a se transformar, é sexual, sensualidade e energia sexualizante, é produto das www.varaldobrasil.com

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O que eu posso fazer para evitar o tráfico de animais silvestres? •

Não compre objetos e bijuterias com penas de animais. •

Conheça a Lei de Crimes Ambientais. •

Não compre animais silvestres.

Denuncie tráfico de animais silvestre à Linha Verde do Ibama •

Passe essa dica adiante.

h3p://www.wwf.org.br/

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LITERATURA & ARTE

LUIZ CARLOS AMORIM

DIZER POESIA Sempre gostei de ouvir alguém declamar um poema - alguém que saiba fazê-lo. Há muita diferença em ouvir alguém ler um poema e ouvir alguém declamar um poema. A leitura, pura e simples, quase sempre deprecia o poema, não lhe faz jus. Ao contrário, uma declamação bem feita, apropriada, valoriza o poema. Infelizmente, a arte da declamação é cada vez menos praticada. A arte de saber dizer um poema é cada vez mais restrita a uns poucos privilegiados e é uma coisa que não há onde aprender. Não existem cursos, é uma qualidade nata, que algumas pessoas têm. Temos muita necessidade de que existam pessoas que saibam dizer poemas, que saibam recriar a emoção e a sensibilidade que o poeta imprimiu em seus versos, arrancar todo o significado das palavras. Porque eles são muito poucos, nos dias atuais, em que tanto precisamos de um pouco de poesia em nossas vidas. Eles existem, mas são poucos. Tenho alguns amigos comunicadores que trabalharam no rádio, que sabem declamar poesia, pois já o fizeram em seus programas. Eles dão vida aos poemas de poetas consagrados e também dos novos, como nós. Declamar é um dom. Acho que quem tem esse dom é abençoado, por conseguir dar som e significado aos nossos versos, por conseguir fazê-los encontrar o caminho que os leva direto ao coração de quem ama a poesia. Por tudo isso, reputo de grande importância o concurso anual de declamação que existe em Jaraguá do Sul, cidade ao norte de Santa Catarina, pois ele faz com que pessoas que têm esse dom sejam reveladas e sua arte possa chegar até nós. O deste ano aconteceu no início do mês passado e os jaraguaenses ganharam, mais uma vez, o calor do som e da força da poesia. Há também outros eventos em que a declamação tem relevante importância, quando não se reduz apenas à leitura do poema: no saraus, que voltaram à voga em Santa Catarina, em São Paulo, no Paraná e outros estados. Também nas Feiras de Arte, embora nem todos sejam declamadores e nem sempre o resultado final seja bom. Mas aí vale a divulgação da poesia. Eu não sei um poema meu, sequer, de cor. Ainda bem, pois só leio um poema quando não tem outro jeito, acho que o fato de não saber declamar desvaloriza muito o que eu apresentar. Então reputo da maior importância o dom de saber declamar e invejo radialistas e poetas amigos meus, que dão vida aos nossos poemas e aos poemas deles. Agradeço alguns professores que, além de levar a nossa poesia até seus alunos, incentivam a prática da declamação. Meu tributo a eles. (Segue com outro texto)

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APROXIMAÇÃO AUTOR-LEITOR Há algumas semanas, li uma crônica a respeito da ausência de livros de escritores catarinenses nas livrarias de Santa Catarina, na coluna de um escritor catarinense. Achei muito a propósito a constatação do escritor e colunista, ao procurar, em grandes livrarias do centro da capital catarinense e no aeroporto, livros de escritores da terra e não encontrar. Eu tenho um livro meu, publicado pela Hemisfério Sul, na Catarinense e na Saraiva, mas sei que é muito difícil fazer com que nosso livro tenha alguma visibilidade nas nossas livrarias. Já procuraram meu livro, aqui na capital, e não encontraram. Os livros de autores da terra, a não ser os consagrados, ficam no estoque, bem guardados e muito pouco visíveis. Já no Rio Grande do Sul, para onde o colunista que abordou o assunto viajou, os escritores gaúchos são privilegiados, estão bem à mostra tanto nas livrarias como no aeroporto da capital, evidenciando a valorização que lhes é conferida. Não é à toa que a Feira do Livro de Porto Alegre é a mais tradicional do país e é esperada e amada por toda a população, é um evento que orgulha todo o povo daquele Estado. Mas não sei se a culpa da falta de visibilidade das obras de nossos escritores nas livrarias catarinenses é só das livrarias. Não estou querendo desculpar os livreiros por não deixar nossos livros à vista, mas a verdade é que o leitor catarinense não procura o autor catarinense, prefere os best sellers estrangeiros, e por isso as obras de nossos escritores acabam saindo de vista para dar lugar a livros que vendem. Quer dizer, é um círculo vicioso: se os livros de autores locais não são procurados, cedem lugar aos campeões de venda, que nem precisam ficar à mostra porque vendem de qualquer maneira, mas comércio é comércio e os produtos top de linha tem que estar à frente. E não é só o leitor que não dá muita importância aos seus escritores, não. Nem todo escritor faz o seu papel para mudar isso. Nós, escritores, precisamos ir às escolas para levar a nossa obra aos leitores em formação, conversar com eles, fazê-los saber que existimos. Fazemos muito pouco isso. Se cada escritor visitasse as escolas de sua cidade para mostrar o que está produzindo, para fazer saber que tem livro publicado, os novos leitores cresceriam sabendo que à volta dele há autores surgindo, com chance de ser um bom representante da literatura catarinense, mais adiante, se for lido. Porque escritor é aquele que é lido, não simplesmente aquele que escreve. As academias literárias também têm o seu papel na divulgação dos produtores de literatura da região e o reconhecimento daqueles que já se destacam é feito através de prêmios que são conferidos nos finais de ano. Público leitor, prestigie as feiras do livro. Conheçam, todos, a obra de escritores conterrâneos, contemporâneos, avaliem, discutam, critiquem. Escritores da terra, participem da feira do livro de sua região, estejam lá para oferecer a sua obra, para se tornarem conhecidos, para efetivarem a integração escritor/leitor. É assim que se chega ao leitor, aproveitando todas as oportunidades.

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – H3p://luizcarlosamorim.blogspot.com.br

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O Varal do Brasil estará no prestigiado Salão Internacional do Livro de Genebra de 29 de abril a 3 de maio de 2015 levando o seu livro, levando você para autografar! Estão abertas vagas para sessões de autógrafo e vagas para exposição de livros. Todas as vagas serão preenchidas mediante pagamento de participação cooperativa. As pessoas interessadas deverão escrever para o e-mail varaldobrasil@gmail.com solicitando mais informações. Você não precisa ser associado ou pertencer a nenhuma Associação ou Organização para participar conosco deste evento maior, o maior evento literário suíço e um dos melhores da Europa!

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FILOSOFIA DO AMOR Nazaré, Ba 10-03-1974 Por Gilberto Nogueira de Oliveira Escrevo aqui neste papel as minhas palavras tristes, Que talvez poucos leiam. Também não importa Se ninguém ler as minhas poucas palavras. Eles ficariam amargurados. Elas não falariam nunca sobre amor. O amor é um jogo no qual o homem Pensa que faz o que quer, E a mulher faz o que quer, mas Mesmo assim, deseja que seja assim. O amor é um jogo no qual o homem Pensa que ama quem quer, Enquanto a mulher ama quem quer. O amor é um jogo abstrato Onde o homem pensa que manda, E a mulher pensa que obedece. Onde o homem cansa, Cansando a mulher que descansa. O amor também é um jogo de caricias Onde quem sabe mais, recebe menos. A carícia é o principio da razão do amor. Aquele que não tem amor, Pede aos outros que não tenham. E, se não quer pedir, apenas deseja. Isto é um mal para o amor Isto é o amor pelo mal.

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ANO NOVO Por Hazel de São Francisco

Ano Novo chegou Pisando em largas poças Crianças de rua. Esmolando moedas Para o pão do dia seguinte Dia de Ano Novo. Na promiscuidade Partilham estripulias Até os cães vadios. Nas sobras do lixo Um cãozinho faminto Fareja ao relento. Uma ratazana Na penumbra do crepúsculo Atravessa a viela. Noite de sombra úmida Nuvens ainda visíveis Suspiros rosados. O Sol se levanta Preguiçoso no horizonte Feliz Ano Novo.

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AS PEDRAS DO MEU CAMINHO Retirei do meu caminho as pedras que encontrava. O caminho era tão longo, com subidas, muitas curvas e com retas infindáveis... As pedras bem pequeninas, nem sequer me atrapalhavam. No meu sonho de menina, muitas vezes as escolhia pra brincar de Três Marias. Algumas com os próprios pés, ali eu as empurrava. Outras com as minhas mãos para bem longe arremessava. Dependendo do tamanho, removia para os lados, deixando livre a passagem. As maiores, mais pesadas, do lugar não arredava. Eu apenas desviava, continuando o caminho, seguindo firme, com fé para a reta de chegada. Ainda hoje eu caminho. As pedras não me atrapalham... Por Heloisa Crespo

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O PRANTO SOLITÁRIO DA NATUREZA Por Isabel C. S. Vargas O planeta é o único lugar que os seres humanos têm para viver. É seu habitat, sua morada, dele extrai sua sobrevivência e permanência. Lógico seria pensar que por ser o seu habitante racional o cuidaria como a um tesouro. Ledo engano. Alguns podem fazê-lo, mas como o ser humano é o único capaz de matar e destruir sem que seja , unicamente para sua sobrevivência, ele o agride, insulta, degrada de forma inconsequente e leviana sem pensar no futuro da humanidade.

das durante décadas, houve mudança no clima da terra que sofremos consequências, as quais não temos sequer a noção de sua dimensão. Temos que considerar o extrativismo vegetal desenfreado, o extrativismo mineral, as jazidas esgotadas ao longo da história da humanidade. O uso indevido do solo com as grandes extensões de terra com a monocultura, sem obedecer aos ciclos de renovação da terra, o uso de agrotóxicos, os resíduos industriais das fábricas sendo jogados na natureza, nos rios, lagos, mares, o volume extenso de esgoto humano não tratado sendo jogado ao léu, infectando tudo à volta, inclusive os seres humanos.

O homem primitivo, dentro de suas limitações, não degradava o ambiente como os homens ditos evoluídos, pois só matava, desmatava, colhia em prol de sua sobrevivência e de sua família.

O que falar da matança desenfreada de animais causando a extinção de centenas de espécimes e outros tantos até hoje ainda sob ameaça embora a luta de organizações isoladas espalhadas pelo planeta tentando preservar a vida animal.

Os fatores primordiais que mudaram a ação do homem sobre o planeta são a ganância, o poder, a visão imediatista, a falta de consciência ecológica, a falta do conceito de sustentabilidade, só agora, recentemente desenvolvido.

Parece que quanto mais o homem evolui em conhecimento, mais necessidades cria para si, aumentando a onda de consumo sem preocupação com o que isso pode causar de danos ao planeta.

Realidades incontestáveis são a poluição dos rios e do ar, os desmatamentos clandestinos e irregulares, a falta de consciência da importância da Amazônia como pulmão do mundo, e por isso as constantes inundações e /ou secas. Como se não bastasse a ação humana inconsequente, embora o homem sob o aspecto científico, tecnológico tenha se desenvolvido como nunca dantes o fez há a própria natureza se ajustando, se adaptando ou reagindo. Observe-se que o efeito estufa é uma triste realidade. Em decorrência disto muitas catástrofes poderão ocorrer caso haja degelo da nos extremos norte e sul. Considere-se que ao longo dos tempos e agora, mais recentemente, por acomodação das placas tectônicas, ocorreram os tsunamis com morte em cinco continentes. Não há como prever essas reações naturais que não dependam da vontade do homem. Temos na crosta terrestre vulcões ainda ativos que voltaram a entrar em erupção. Pelas experiências atômicas realiza-

Quanto maior o consumo, maior o descarte de lixo. A falta de lugar para o lixo já causou muitas inundações. Ao mesmo tempo, quanto mais consome, menos o homem aproveita daquilo que ele utiliza de modo que muita coisa que seria aproveitável é jogada fora, passando um contingente grande de pessoas pobres a viver do lixo. Não podemos esquecer o quanto de inconsciência tem nas grandes cidades onde o homem joga em matas, rios, arroio, móveis, utensílios, pneus, latas, sacos, plásticos, metais. Claro que já há muitos locais que se organizaram de modo a reciclar o lixo e reaproveitá-lo, mas a proporção ainda não é suficiente Claro que em alguns segmentos houve avanço, como a não utilização da pele ou couro de animais para roupas, calçados, acessórios, mas ao mesmo tempo a indústria química aumentou e os seus resíduos são altamente prejudiciais ao ser humano e ao ambiente devendo haver prevenções constantes em lei a serem observadas pelos empresários para preservar a saúde de seus funcionários. (Segue)

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Para finalizar acredito que os homens devem, além de se mobilizarem intensamente para a preservação do planeta Terra para as próximas gerações deve ter em mente que não podemos prever cataclismos e a terra viveu ciclos o longo da história e nestes ciclos muitas espécies foram extintas, sendo estas muito mais fortes que o homem, se levarmos em conta seu tamanho como no caso dos dinossauros. A terra hoje chora com a leviandade das atitudes que a degradaram. Urge que o homem passe a ter outra atitude senão os próximos a desaparecerem poderá ser a espécie humana. Impossível? Só o tempo dirá.

UMA OPORTUNIDADE ÚNICA PARA SUA CARREIRA LITERÁRIA! VENHA PARTICIPAR! ENVIE SEUS LIVROS! AUTOR, GENEBRA ESPERA POR VOCÊ! varaldobrasil@gmail.com

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Se você não pode adotar, ajude! Sua ajuda pode ser dada de diferentes maneiras: financeiramente, para que seja comprada ração, para pagar veterinários, para a castração, para a limpeza e manutenção dos abrigos; em pessoa, ajudando a fazer os trabalhos que cada abrigo requer; divulgando, levando adiante a mensagem de apoio aos abrigos!

PRESTIGIE OS CIRCOS QUE TEM ARTISTAS, MAS NA# O TEM

Colabore para que os animais sejam tratados com humanidade!

ANIMAIS ESCRAVIZADOS! ANIMAIS EM CIRCO SA# O MALTRATADOS COM A DESCULPA DE RECEBER TREINAMENTO. TREINAMENTO PARA O SEU ENTRETENIMENTO! ACABE COM ISTO, NA# O VA+ A CIRCO COM ANIMAIS!

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DICAS DE PORTUGUÊS com Renata Carone Sborgia

...e a noite vem sim...silenciosamente,tocando aqueles corações que estào mais atentos para o cenário onde a Lua na espreita enamora uma estrela...onde o dia traz o Sol mirando com um raio corações. Livro: Trechos Tecidos com Palavras... Sentimentos...Afins...Sem Fim... Madras, Editora— Renata Carone Sborgia

correta!!! O correto é: adivinhar (DI) 3- Ela tem uma “expontânedade” que surpreende todos os amigos!!! ....e surpreende mais ainda a Língua Portuguesa com o erro da expressão!!!

1- O piloto “aterrisou” de forma bela o avião e semproblemas!!!

O correto é: espontâneo( s) O correto é: espontaneidade( CORRETO: NEI)

Parabéns!!! Porém, cuidado com a expressão que escrita de forma incorreta tem problemas!!! O correto é: aterrissar---com SS OBS.: A melhor grafia é “aterrissar”” , com dois “S”. A forma “aterrizar”, com “Z”, apesar de dicionarizada, não é recomendada por manuais e autores da norma culta. Tanto que os dicionários e o Vocabulário Brasileiro de Letras, quando registram o substantivo da família, só consideram “aterrissagem”, também com dois “S”.

2- Maria queria “advinhar” o que estava dentro da caixa!!! ...difícil , Maria, com a expressão in-

( errado: espontaNIE dade) Regra fácil: A forma correta de escrita da palavra é espontaneidade. A palavra espontaniedade está errada. Devemos utilizar o substantivo comum feminino espontaneidade sempre que quisermos referir alguma coisa ou alguém que é espontâneo, natural, simples. A palavra espontaneidade é formada a partir de derivação sufixal, ou seja, é acrescentado um sufixo a uma palavra já existente, alterando o sentido da mesma. Neste caso, temos a palavra espontâneo mais o sufixo –(i) dade. O sufixo – (i)dade é um sufixo nominal que se junta a um adjetivo para dar origem a um substantivo. Sugere a qualidade ou o estado de algo. Exemplos: espontaneidade, felicidade, velocidade, dignidade... (Segue)

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PARA VOCÊ PENSAR: ....no final fazemos o balanço: de tudo fica um pouco. Fica um pouco das palavras, do silêncio, das rugas no rosto, do aroma, do riso, do choro, da saudade, do amor que se foi...do toque na alma. Fechemos a cortina do dia com um pouquinho de algo que consegui nos tocar de alguma forma. E que esse pouco possa ser muito para o nosso coração. E assim possamos abrir a cada dia um outro dia...de pouco em pouco. . Livro: Trechos Tecidos com Palavras... Sentimentos...Afins...Sem Fim... Madras, Editora—Renata Carone Sborgia

VARAL ANTOLÓGICO 5 Últimas vagas para nossa antologia! Venha participar conosco! Informações: varaldobrasil@gmail.com

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SUBINDO LADEIRA ABAIXO Por Ivane Laurete Perotti

- fácil é um conceito que se instala na orla das árduas empreitadas -

" Tenho o privilégio de não saber quase tudo. E isso explica o resto." Manoel de Barros

As aparências tomam corpo e descem o monte das amoreiras. Cruel solicitude: dá e pede de volta. Entrega e cobra transporte. Finge, mais que tinge, a algibeira do consorte. Falam coisas banais, coisas da vida comum: o comum da vida. Cingem o topo dos tropeços, invadem a boca do mato, castigam o dono no ato, afinam o pé no estribo: alarido! Um gemido, dois faróis. Três fantasmas em lençóis. Galopa forte, vento norte! Volte a sorte corredia! Negue a morte, cante o silvo de um novo dia. Ludibria. Torce a ponta da mania. Justa e curta alforria, garganta aberta : quem diria? Diria! À luz de engenhocas salvam-se melros, fecham-se vias, reedita-se antiga agonia em laudas de geometria. Aulas de sonhar sobem a escola de barros, muitos barros para amassar a inteligência tardia. A quem amaria? Dona Noca, farinhenta, acorda cedo, frauda a calda da polenta. Mulher sofre, agourenta, na palma da paciência; em cheias do rio azul, águas levam a calma, os filhos não sustenta: aguenta! aguenta! morna paciência! Quem deixaria? Mãe robusta, Dona Augusta, mãe de todos os punhais. Cala a carne em boca seca, aquece a lenha , despeja a senha, dobra o rosto, fino torso, visceral. Cai a chuva no telhado, molha a lona do curral: rola e cola, além da go-

la, atravessa vendaval. Dona Augusta, mãe robusta! Falta juta ao cajado, palha e alho, coisas raras, falhas caras, cetro reto, artesanal. Berimbau: coroa de peito, longo e feito, meio sem jeito, arco musical. Alegria: benfeitoria depenada em noite clara de luau. Ai! Medo mau. Lobisomem , outro homem, animal, sentimental. Depois do enterro, a festa do batizado. Depois da festa, a forca ao condenado. De palavras sem tino, fica o ditado: "...come depressa, tartaruga de conversa... antes que a porca torça o (...). " /b/ e /d/ em arado de gancho, volta ao rancho, debrua o tanso, no remanso de água fria. Desvalia. Não se mede a inteligência pela tripa da sangria. Verde homem sem mestria, homem velho já dizia: preço bom não se mistura aos trocados da guria. Aprume o bico, Alarico! Primo rico, sem penico. A carga leva o manco, de tamanco, ao pátio das regalias. Figuram motes, dão folias, todos juntos: Ave-Maria. Repetia o Seu Joaquim: ai de mim! sai assim! Coisas santas não são tantas, valha-me longe, muito longe, coisa ruim. Serafim foi um Nonno: pernas à volta do rádio, escutava as notiça , em preguiça de sentado. A Nonna chamava a Nenna, com voz de acolchoado, enquanto fervia, lado a lado, uma vez, mais uma, o súbito chiado. Aloprado. Tira a noite no folgado. Escala o chão, sela a placa em cada mão, deita a alma remendada na travessa do colchão; fala a fala, rala, em língua de sabão, caramujo, ou marujo sabichão: obrigado! Obrigado, ao homem das frases lindas, novas, velhas, infindas, coisas de Barros, Manoel!

" Descobri que todos os caminhos levam à ignorância."

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Manoel de Barros

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PAÍS Por Izabel Marum

Minha vontade era ter 20 filhos Jogaria no mundo meu amor com todos eles Brilhantes, ouros, pérolas na montanha azul, com eles moraria. Minha vontade era ter controle Como as asas das águias e voar como Ícaro com todos para o céu... Brincar com as mangueiras Falar com as orquídeas Comer com meus 20 filhos as mangas e as uvas das parreiras. Quisera ter 20 filhos, jogá-los das nuvens... Caírem nos rios, mergulhando até o fundo de sua alma... E, saírem vencedores da morte. Quisera meus 20 filhos Serem a alma eterna dos homens Esperando serem humanos E, viajarem, quando o fogo Derrama seu calor no frio da noite. Quisera meus 20 filhos Não serem a mentira que acompanha os que não amam. Quisera ter 50 filhos Todos meus Para conseguir controlar Os movimentos da luta de meu país E todos meus 50 filhos herdarem A honestidade de meus futuros outros filhos. Quisera ter meus 100 filhos Para poder voar com eles, jogando pérolas, ouro, brilhantes Para meu povo Minha terra Minha alma... Meu país... Sem corrupção...

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O COMEDIANTE Por João Felinto Neto

Sou do tamanho que posso, Que não pode ser tão grande. Sou às vezes, num instante, Tão pequeno, tão remoto Que me sinto um gigante. Sou maior do que fui antes, Infinitamente escasso. Tão extremamente raro Quanto vasto e abundante. Sou gritante Quando calo. Sou silencioso e magro Quando gordo e falante. Sou um triste ocupante De um espaço ainda vago. Sou tão trágico Quando sou comediante.

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Oficina Agora lembrei que não estou num lugar, nem noutro, porque simplesmente sou o outro. Assim caminham meus personagens, parece-me terem medo dos finais... Ora quais, sejam boy, gerente, advogado ou analista. Métrica que despista, no topo ou final da lista. Amante ou quase diarista, poeta resista, persista... Lembrando Elis: meu mais que perfeito desfeito. Diz sendo a vida, passeio dum terço no leito... Perdido ou achado, sempre inacabado, pelo sucesso que mora ao lado. Oficina de melhoria: seja nosso dia a dia. Correria do devagar onde há pressa em caminhar, pois que o método faz o homem, assim como o sucesso oportunidade, ou vice-versa de verdade. Como verdadeira missa, rotinas não funcionam pela metade. Assim como o perdão está na piedade, a conquista vem pela tarde. Aquela do Sol tocando a Terra, onde ela chama cama, ele incompleta majestade... Pecado e santidade são nossos, remorsos são daqueles cuja alma não se atreve, vivem fazendo a conta que deve... Então leve, seja leve, corajoso inda que breve. Pois que o sonho sem passo, mora só no espaço. Penso aguerrida, mocidade atrevida, vejo nos olhos da minha querida. Tempo temos? Ou vivemos para estarmos aqui... Conversas francas de tranças, alianças para meu inédito confessionário, de malabarista a motorista, caminhos docentes, até de igrejas. Quase padre e freiras, cujas discentes vozes mudas madrugam. Já fui de bares boates que falam, jornais que amanhecem das noites que tecem. Teias das preces. Tendas agrestes, cosmopolitas luzes, Tietas vestes do encanto, boato do santo... Conto que canto, mundano pirilampo. Irrequietos copos e danças... Compassos boleros e tangos, mundanas mudanças. Caricaturas criaturas... Como beijo sendo conluio de línguas, sabores em desejo mútuo. Boemia duma entrega sem regra... Rápidos insanos, segundos que pregam corpos nas almas. Ciganos duma explosão em movimento. Sexo do que somos, fomos ou vamos... Nexo energia ferramenta. Por José Carlos Paiva Bruno

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Rio sujo pelo branco

Discriminação racial

Pele escura do sol Ouço o grito da fama

Sou moreno Sou negro

Rio que lava o suor do cansaço

Tenho sangue

Suor do trabalho moreno

Branco também tem

Moreno de cor, cor do amor Respeitando o cheiro da flor negra

Sou moreno Sou negro

O filho do seu ventre moreno

Sou escravo

Com amor seu trabalho deixou

Do seu amor

Cresceu sob o sol para branco e negro

Trabalho para o pão

O alimento para sua fome plantou

Sou moreno, preto também sou Sou fruto de um amor De um sorriso sou portador Sou sangue O negativo Serve ao negro também ao branco Sangue que salva Sangue único Salva filho, filha e patrão Sangue de doação Sangue brasileiro Salva também alemão Filho de homem tição Sou sangue de negro Cura doença de branco Cura doença de dama

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Venha participar conosco da edição de março da revista VARAL DO BRASIL! O tema: MULHER, MUITO MAIS DO QUE UM GÊNERO! Peça o formulário de inscrição através de nosso e-mail varaldobrasil@gmail.com Inscrições abertas até 25 de JANEIRO. Imagem: http://www.freegreatpicture.com/f

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LUPA CULTURAL Por Rogério Araújo (Rofa)

O escritor e os seus selfies

Roberts, Brad Pitt, Angelina Jolie, etc. Mas o que isso tem a ver com o que

Rogério Araújo (Rofa) *

pretende dizer essa coluna de hoje? Tudo! Simplesmente, o foco do objetivo de

Sensação no momento, as selfies tomam conta do cotidiano e dos momentos im-

uma selfie faz todo o sentido com os textos que um escritor produz, muitas vezes basea-

portantes para todas as pessoas. Segundo definição oficial, selfie é uma

do ou inspirado em fatos reais.

palavra em inglês, um neologismo com ori-

Se a selfie é um autorretrato, onde o

gem no termo self-portrait, que significa au-

“autor” é o ator principal e marca presença

torretrato, sendo uma das fotos mais tiradas

com outras pessoas num evento ou momen-

e compartilhadas na internet na atualidade.

to de encontro com amigos, anônimos ou

Normalmente, uma selfie é clicada pela própria pessoa que aparece na foto, com um celular que possui uma câmera frontal

mesmo

celebridade

e

o

fato

de

“compartilhar” com todos, via internet, o que aconteceu.

incorporada, com um smartphone, por exem-

Assim faz um escritor ao produzir um

plo. A particularidade de uma selfie é que ela

texto: envolve a si mesmo, como um selfie, e

é tirada com o objetivo de ser compartilhada

mostra através dele quem está com ele ou

em uma rede social como o popular Facebo-

junto em diversos e ímpares momentos. Um

ok. Uma selfie pode ser tirada com apenas

foco onde pretendo marcar o que aconteceu

uma pessoa, com um grupo de amigos ou

para os outros saibam e até reflitam a respei-

mesmo com celebridades.

to. Vamos supor que um escritor faça uma

A prática de tirar selfies ganhou popularidade a nível global, e algumas tiveram milhões de visualizações. Alguns exemplos desses são a selfie tirada por um grupo de jovens com o Papa Francisco e a selfie tirada nos Oscars, onde aparecem várias estrelas de Hollywood, como Meryl Streep, Julia

“selfie” via seu texto irá fazer conhecido um local lindo de uma paisagem paradisíaca. Pois bem, as pessoas irão visualizar e até “compartilhar”, contar para os outros, embora muitas vezes esta “imagem” esteja apenas em textos, fazendo com que a imaginação flua ainda mais para o leitor. (Segue)

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E, também, essa produção literária

rente e para bem melhor.

pode ser algo triste, fazendo com que quem

“O ego é dotado de um poder, de uma

lê possa examinar e analisar o quanto al-

força criativa, conquista tardia da humanida-

guém ou algo pode ter sido tão importante e

de, a que chamamos vontade”, disse sabia-

que, simplesmente, acabou ou morreu.

mente Carl Jung.

Parafraseando algo que li esses dias, Se Narciso tivesse um iPhone dourado e

Um forte abraço do Rofa!

o Instagram estivesse instalado, talvez ele achasse algo – além do espelho – bonito. Quem sabe, além de curtir suas próprias fotos e seguir algumas “blogueiras famosas”, Narciso também postasse junto com cada selfie uma frase de inspiração ou uma alfinetada para os recalcados e invejosos. Porque além de lindo, Narciso talvez fosse um guru também, assim como vários outros gurus de Instagram que infestam o aplicativo de fotografia mais famoso da face da terra com frases de autoajuda.

* Escritor, jornalista, autor do lançamento e livroduplo “O super-herói do Natal” e “Presentão do Natal”, para o público infanto-juvenil, ilustrado e colorido, de “Crônicas, poesias e contos que u te conto...” (Literarte), lançado na 23ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em 2014 e de “Mídia, bênção ou maldição?” (QuárIca Premium, 2011); colunista do “Jornal Sem Fronteiras”; parIcipações em diversas antologias no Brasil e exterior; vencedor de prêmios literários e culturais; membro de várias academias literárias brasileiras e mundiais. O que achou da coluna “Lupa Cultural” e deste texto? Contato: rofa.escritor@gmail.com

O que mais acontece hoje em dia pelas redes sociais é a exibição de “vidas perfeitas” que tendem a alimenta egos cada vez mais inflados, sem contar com busca para lá de desenfreada por popularidade. A concorrência cada vez mais acirrada faz dos inocentes selfies um ringue de batalha, onde cada pessoa dispute quem consegue mostrar que esteja com pessoas interessantes e quiçá famosas para que todo mundo saiba. E, as “selfies” pelas lentes ou pelas mãos do escritor podem valorizar, e muito, o que é necessário e não o que é momentâneo ou descartável. Se todos prestassem mais atenção na vida e no que vem pela frente e não apenas vivesse de forma automática, tudo seria difewww.varaldobrasil.com

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AMOR QUE AQUECE Noite fria de ventos uivantes! Na espera do calor Da alegria do meu amor Pequena gigante Que sabe aquecer Com seu olhar amoroso Amolecer, o coração inquietado Os ventos não uivam mais O frio se dissipa Sente-se apenas o calor! Afinal, o fogo que arde e aquece é amor! Por Leandro Martins de Jesus

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E sendo os dois, ser um só,

TRIGO

Aquele que se ceifa e se enfaixa E não se importa muito com as botas ou com as mãos

Por Leonia Oliveira

Com os riscos criados pelos cortes nas mãos Sem luvas e sem cuidados Eu sou o trigo

Eu sou o trigo e o ceifador

E canto uma canção selvagem.

Por isso sei a dor do trigo

Nasço aonde nasce o pão

E sei a fome do ceifador

Que se consome

A força que há na ceifeira

E eu não pedi

O lenço molhado de suor sob o chapéu.

Para que descobrissem meu sabor.

Eu sou o trigo e sou o forno

Nesta geração de trigais

E canto uma canção de amor

Nenhum sabe como meu sabor

Quando moído, massacrado e estendido,

Foi descoberto

Colocam-me a fazer a massa

Como e por quem.

A fazer a massa de fazer o pão.

Quem de fato provou o primeiro grão de trigo,

Sendo forno e sendo trigo Sofro da mesma canção.

De onde veio, se já estava aqui. (Segue)

Eu sou o trigo E canto uma canção selvagem Enquanto o vento passa pelos trigais, Uma canção assim de tristeza por ter sido domesticado E servir agora para ser o pão, a massa, a farinha e a rosca.

Eu sou o trigo e eu sou o ceifador Canto assim uma canção de posse, De foice, De escada, De martelo, De corda amarrando o feixe. Que pode o trigo contra o ceifador? Melhor ser o trigo e o ceifador

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E assim achamos bonito

Não haveria utilidade para o trigo.

Alimentar os que nos queimam e moem

Eu sou o trigo e eu sou o pão

E dilaceram nossa existência

E canto uma canção de inventário

Por conta de sua fome,

Narrando tudo à natureza.

De sua gula,

Narro minha história a mim mesmo

De suas receitas Aonde nos precisam e nos querem enfiar.

E súbito me surpreendo por conhecer minha genética

Eu sou o trigo e sou o forno

E os modelos do meu DNA,

E canto uma canção de amor

Por saber como alterá-los

E nem me lembro de onde vim

De forma a fazer com que o faminto

Que era livre e selvagem

Nunca mais encontre trigo e pão.

E fui domesticado como um cão.

Eu sou o trigo

Não sei quem fez isto

E se assim o fizer

E o forno não sabe quem lhe deu tal feitio de caverna agrária.

Que achem outro grão.

Por isso esta canção que cantamos é um fado

Não me é importante ser necessário, porque sou necessário.

De além-terra, além-planeta, além-galáxia,

Porque me elegeram a este grau

Pensamos que podemos ser de outra natureza,

E me relegam achando-se necessários para mim.

Criados em outra civilização,

Se me decodifico estão libertos a foice, o forno e a massa,

Que fomos imputados a este convívio Dos que precisam do trigo e do forno Para lhes fazer o pão.

Canto uma selvagem canção de amor:

E toda comitiva que transita ao redor da colheita à mesa. E o faminto não terá mais meu grão.

Eu sou o trigo e eu sou o pão Eu sou o trigo

E canto uma canção de inventário:

Eu sou o pão. Saciada a fome o faminto nem se recorda De haver ingerido trigo ou pão. O faminto não conhece a inteligência do trigo Muito menos as conversas entre o trigo, a foice e o forno. Imagina que não fosse a sua fome

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Que exagero! Morrer de ciúmes Morrer de paixão Morrer de amor Morrer de tanto rir Morrer de cansaço Morrer de ódio Morrer de inveja Morrer de vergonha Morrer de calor Morrer de frio Morrer de tédio Morrer de dor Morrer de estudar Morrer de saudade Morrer de sono Morrer de sede Morrer de fome Sempre achei morrer um exagero! Por Luciane Mari Deschamps

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Mundos alternados Por Luiz Manoel Acordo com a sensação de ter saltado no vazio para a semiobscuridade do quarto, onde outra cena reluta em sair. Um silencioso corte encerra o capítulo desta noite. Inconformado, desejo retornar ao espaço do qual fui abruptamente repelido. O juízo me diz que há pouco me cercava uma ilusão. Refuta meu espírito sonolento na insistência do existir em outros estádios. Tu os crês verdadeiros? Recrimina-me o juízo. Além deste não há prova. Acaso és tolo ou criança em confusão mental? Aquieto-me e guardo em silêncio a impressão de que minha alma gêmea espera meu adormecer para me levar por outros caminhos a novos destinos, em outras dimensões. Não é este mundo sentido no desperto o real da minha existência? Ou será este chão apenas um entrementes? O juízo vacila.

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FELIZ ANO NOVO Por Jacqueline Aisenman Desejar tudo o que há de melhor Desejar tudo... Desejar o melhor... Desejar... Esperar que seja o maior... Esperar que venha pleno... de amor... De alegrias... De caminhos... Mas principalmente e simplesmente agir... para que seja um ano de grandes, médios e pequenos feitos que tenham como efeito colateral a felicidade de muitos... Um ano de ação... de realização... Um ano de louvor à vida de graças à paz... Seja o ano que se inicia daqui a poucas horas um amontoado de dias abarrotados de esperanças que ganharam a luz da realidade!! Seja o ano que nos abre as portas daqui a pouco tempo um apinhado de minutos abundantes de amor... e o amor será o caminho que levará à realização de todos os outros sonhos!

Foto de Maria de FáIma Barreto Michels

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Era só um menino Por Ly Sabas Era só um menino, mas sabia como poucos entender o coração daquele velho. Quando saíam a caminhar, segura com firmeza a mão que anos antes apertava a dele. Agora era quem vigiava para que não se ferisse, quem levava para passear na praça, quem comprava pipoca para alimentar os pombos e espreitava o melhor horário para o banho de sol. E conversava. Ah, como conversava. Conhecia todos os assuntos capazes de iluminar os olhos cansados. Lembrava-se das aventuras contadas dos áureos tempos de mochileiro, das cidades escarafunchadas nas férias, dos amores de juventude. Conseguia faze-lo sorrir, rindo ele mesmo, das peripécias rememoradas com a graça perfeita de um contador de histórias. E cantava muito bem. Começava só cantarolando, depois lentamente movimentava os braços e dava início a um bailado suave sem tirar os pés do chão. Seguia assim até o velho começar a cantar. Aí marcava o ritmo com os pés e completava cada frase esquecida, sem deixar uma lacuna que prejudicasse o encanto da música. Em dias de céu escuro sentava o velho na cadeira de balanço da varanda, cobria-lhe as pernas com uma manta colorida tecida há anos pela avó, desencavava pilhas de long-plays da estante da sala, livros, revistas e ligava a antiga vitrola. Convidada com seu sorriso largo: “ Vamos viajar pela Itália?” Ficava horas trocando discos, cantarolando e passeando em companhia do avô por paisagens magníficas. E era matreiro. Reconhecia o cansaço pelo tom de voz e aí dizia bocejando: “Acho que preciso cochilar um pouco. Importa-se se eu deitar na rede? Prometo que não vou dormir toda a vida”. Como quem não quer nada ajeitava a manta até os ombros frágeis e colocava um disco mais suave. E lá da rede, com o rabo do olho, vigiava até ouvir o ressonar tranquilo, e só aí, levantava e ia tomar conta de sua vida, como dizia o irmão mais velho. Sabia delegar poderes. Nas horas passadas na escola contava com Jayme, um pequeno vira-lata marrom acobreado. Ensinara levar o chinelo, entregar o jornal, vigiar á porta do banheiro, impedir tropeços com latidos de alerta e incentivar a comer empurrando o prato com o focinho. Tudo isso com porte de mordomo canino. Psicólogo nato chegava sempre assobiando e ia logo perguntando feliz: “Quais as novidades de hoje? Quem ganhou o jogo? Que filme vai passar na sessão da tarde?” Depois de cada resposta esticava o assunto exercitando a memória enfraquecida com sabedoria infantil. Aproveitava para contar suas descobertas escolares, e as peripécias de seus heróis universais enquanto trocava de roupa, almoçava e se preparava para seu turno de cuidados. E era conselheiro espiritual. “Fica triste não, amanhã é outro dia e tudo pode estar diferente.” “Hoje vamos festejar o sol, agradecer por esta amoreira carregadinha e pedir perdão pela gula”. “Veja que céu tão lindo, só Deus mesmo para dar de presente um dia assim para um povo briguento e alguns velhos ranzinzas”. “Quando dizemos adeus à vida é como se viajássemos para a China; é longe, mas um dia nossos parentes vão nos visitar.” “Acho que somos como lagartas que viram borboletas. Vamos rezar para virarmos Anjos!”. Era só um menino, que se despediu com um simples “Até breve, vá com Deus” sem lágrimas ou desesperos desnecessários.

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Pára e espera e escuta a voz do tempo.

MÚSICA NO AR

Falar de amor não é dizer amor,

Por Marco Di Silvanni

dizer amor é dar amor, inteiro. Ah, se teus olhos vissem e soubessem,

Teu coração insiste em esquecer...

se ouvissem bem a voz dessa cantiga, Pára de ouvir a voz desses teus planos,

já escondida no canto do dia,

vive esse sonho, amor feito canção.

te esperando e dizendo: vem!

E deixa a voz dessa cantiga, doce, dizer o amor, música no ar.

Por que te fazes tão indiferente? Por que esperas como um toque brusco, que te desperte para conhecer aquilo que sempre esteve contigo? A vida vem, te toca, e surpreende, e um jeito amargo ainda te domina. Silêncio e sonho dizem mais que o tempo. Mais que esse medo de ver, frente a frente, A cor e o tom, a luz do dia, o amor. Olhos te veem, vozes, sim, te chamam, Mas o teu coração não tem resposta. E, ainda assim, alegre companheira, A meiga voz te segue sem saber que cada instante se faz mais bonito. A cor do dia é voz de esperança, luz do caminho, paz sem mais medida. E o teu amor não sente o gosto doce, Faz da delícia coisa passageira. Não, coração, teus lábios já não sentem mais esse instante, a doce ventura. Joga pra longe a régua e o compasso, Esquece de medir o amor, e vive. Se teu coração não ouve essa cantiga, vida fluindo livre, abre os olhos.

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O TREM DO TEMPO Por Marcos Costa Filho Do Ano Velho chegou o trem repleto de passageiros, todos tão esperançosos no amanhã, cuja viagem, tem início na estação chamada 1° de janeiro.

As passagens são renovadas e levam o carimbo da esperança, cada uma com timbre e nuança, das coisas por todos desejadas.

Esta prestes a iniciar a nova viagem. Há algazarra indicando uma felicidade, cada um rumo ao seu objetivo grandioso. Logo, o passado vai se tornando miragem, enquanto o trem, ainda a pouca velocidade, vai deixando para trás a estação Ano Novo!

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gordinha, com os cabelos loiros encaracolados, e que se tornou minha amiga, para depois desaparecer seguindo os rumos da vida de cada um. Ela começou a recitar, e os Por Maria Delboni versos que ela dizia com tanta emoção ficaram na minha memória, até hoje, depois de Uma interessante pesquisa seria a possibili- 50 anos: dade da memória permanecer com o mes“Após entonces minha gente mo potencial de retenção ao longo da vida. Foi assim que eu vi contá Com certeza conservar a capacidade de arPor que razão ficou roxa mazenar fatos e lembrar-se deles por todo tempo de vida é coisa rara. Até bem pouco A flor do maracujá. tempo se dizia de uma pessoa com falhas na memória, que ela estava louca, e até Maracujá já foi branco mesmo diziam que ela estava esclerosada, sem saber o que este termo em verdade sigEu posso inté les jurá nificava, isto porque a pessoa não sustentaMais branco do que a va uma linha de pensamento, saltava de um Coalhada, mais branco do que assunto para outro e se repetia muitas veo luá.” zes. Hoje sabe-se que isto não é loucura, e sim uma doença e que tem um nome: al- E o poema seguia nesta linguagem caipira e zheimer. Mas esta é uma perda brusca, radi- dizia que as flores se tornaram roxas pelo cal e até o momento um caminho sem vol- sangue derramado por Cristo, que havia ta. passado por um pé de maracujá. Ainda agoO que me chama atenção é a memória em ra quando me lembrei do poema me reporpessoas saudáveis, em como ela se processa tei àquela cena, e a senti tão viva, como se tivesse acontecido ontem, com as cores e a e se sustenta. emoção daquele momento. Outro episódio A minha memória antiga é fantástica, pictó- comprobatório aconteceu recentemente em rica e muitas vezes sensorial. Alguns episó- minha cidade Natal, Jacuy.Vivi em Jacuy dios muito interessantes podem ilustrar: até os cinco anos; perto da cidade existe lembro-me de estar em uma hora cívica na uma estância termal, hoje município, Tercidade de Passos, no grupo escolar Dr. mópolis. Meu pai hoje com 97 anos maniWenceslau Braz, e revejo como em uma fo- festou o desejo de visitar estas termas. Foto os alunos, em círculo, de pé, no pátio in- mos em um final de semana, meu pai, eu e terno da escola. Eu deveria ter 9 ou 10 meus dois irmãos com suas esposas. Quananos, pois a escola atendia apenas à apren- do entramos na cidade comentei com meu dizagem de 1º ao 4ºano do ensino, então pai sobre uma fazenda que existia naquela época, perguntei se ele se lembrava: era um chamado Primário. casarão branco com janelas azuis, ficava no Durante uma apresentação de poesias me alto no final da então nossa rua, se destacalembro de uma aluna que se apresentou, va por estar só, lá no alto; (Segue) chamava-se Abadia, era uma garota baixa,

ENTRE MEMORIAS

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mais em baixo ficava um bambuzal circundando uma ponte sobre o riacho que passava por ali. Meu pai disse que se lembrava de tudo isto e me disse o nome do dono da casa. À medida que entravamos na cidade minha ansiedade aumentava, queria certificar-me de minhas memórias. Chegamos à rua onde moramos, e meu pai confirmou ser realmente aquela a rua, sem erro, pois era a única que saía da praça e descia até o fim da cidade. Na primeira curva eu avistei o casarão, estava lá, branco e azul, e era como se eu estivesse vendo uma foto antiga gravada em minha memória. Meu irmão me perguntou como era possível eu me lembrar, e quando nos acercamos da rua lateral onde estava a ponte e o bambuzal tive que descer – era muita emoção, eu precisava andar naquele chão onde estava minha infância. Havia um restaurante nas imediações e resolvemos almoçar, de onde eu estava eu continuava vendo a casa e pela minha memória passavam flashes de situações que eu queria comprovar com meu pai e com o dono do restaurante que era morador antigo. Conversamos sobre este fato por muito tempo. O interessante nestas memórias é que eu não me lembrava de pormenores da casa onde eu havia morado, de seu tamanho, de sua cor, mas me lembrava do fogão de lenha e do quintal. Sempre que eu acessava minhas memórias eu via um quintal irregular, com verduras e um esguicho de água, e a foto desta água jorrando foi comprovada por meu pai. No interior tudo passa muito devagar, a sensação é de que realmente o tempo não havia passado e eu me via ali uma garotinha a contemplar minha vida, tentando juntar fatos para criar uma foto completa.

eu ter na memória aquelas lembranças me deixou assombrada. Existem em minha memória muitas outras lembranças mas nada tão relevante como estes fatos. Marcante, foi por outro lado, revelando outra face de minha memória, uma cena de amamentação de minha primeira filha. Eu a estava amamentando, quando meu marido me disse algo muito desagradável, era algo realmente desagradável, pois comecei a chorar e meu leite foi cortado de imediato, eu puxava com a mão e ele não saía. Mais tarde a situação se normalizou. Lembro-me desta cena, ela ficou gravada, porem não consigo lembrar das palavras de meu marido – será que por proteção? Estou certa de que existe um artifício no cérebro, que seleciona o que deve ser guardado, assim como a maneira como os fatos devem ser armazenados. É possível que tenhamos um selecionador de emoções, e vários compartimentos onde colocamos as memórias, de modo que aquelas que devem ser lembradas, são arquivadas e as outras são deletadas a partir do momento em que se tornam irrelevantes. Isto explicaria o fato de esquecermos de fatos desagradáveis, se não dos fatos - que esqueçamos dos detalhes, quando não conseguimos esquecer os fatos.

Sem esquecer que a memória de meu pai, também surpreendia pela lucidez, o fato de www.varaldobrasil.com

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POESIA PARA UMA CRIANÇA

Mimosa Tu és graciosa Além de dengosa Amo-te Quero te ver feliz Hoje e amanhã e para sempre Inocente criança Só nos dá esperança Que fica na lembrança Querida menina Anjinho de doçura Só pedes ternura Por Maria José Vital Justiniano Foto da autora

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Como uma Fênix Por Maria (Nilza) de C. Lepre

Estava muito revoltada. Pequei uma tesoura e comecei a picar o caderno de forma que ninguém pudesse desvendar o que se passava dentro de mim.

Fiquei trancada por um bom tempo, depois peguei todos os pedacinhos de meu A minha vida inteira gostei de me co- caderno e me dirigi até o fogão de lenha e municar através de símbolos. ali o queimei. Ao fazer isto parece que toda Quando ainda não sabia escrever, se raiva que sentia também se evaporou. alguma coisa ou alguém me feria, dirigiaDeste dia em diante passei a escrever me a uma lousa que tínhamos na parte de somente nos livros de recordações de mibaixo de nossa casa, e ali desenhava o que nhas amigas, no meu deixei de fazer confiestava me magoando. Terminado o desaba- dências tinha medo que alguém mais o lesfo, apagava tudo. Desta forma me sentia ali- se. viada. É como se tivesse feito uma faxina O tempo passou rapidamente. Casei em tudo que me feria, e me fazia sofrer. tive três filhos e havia me esquecido do O tempo passou me alfabetizei. Comecei a escrever em um caderno tudo de ruim e de bom que fosse marcante em minha vida. Não era um diário, era apenas um amigo que sempre estava a minha disposição para ouvir as minhas queixas ou compartilhar comigo as alegrias intensas. Quando já estava entrando na adolescência, um de meus irmãos descobriu este meu caderno e resolveu mostra-lo a minha mãe. Eu acabara de escrever nele que estava gostando de um de meus colegas de classe. Era a primeira vez que descobria que poderia gostar de um menino de forma diferente.

meu leal confidente, mas como a vida nem sempre é um mar de rosas, algumas situações desagradáveis foram surgindo, e, acabei voltando a me desabafar escrevendo tudo que me deixava sem o chão debaixo de meus pés. Sempre que estava atravessando algum problema era nele que procurava abrigo. Com o passar do tempo já havia enchido vários cadernos. Estes eu escondia com cuidado para que ninguém além de mim tivesse acesso a eles. Era assim que conseguia seguir em frente superando todos os obstáculos com maestria.

Os anos foram passando até que um O fato dos dois terem invadido a mi- dia o amor de minha vida partiu e acabei ficando sozinha. nha alma me deixou transtornada. Pela primeira vez experimentei o sentimento do Peguei os cadernos que haviam sido ódio. Tinha a sensação de estar desnuda na minha terapia, minha confidente, minha frente deles. A decepção era tão grande que melhor amiga, e reli um por um. Depois fui tive um acesso de choro tão profundo que até a lavanderia, peguei uma bacia de alumal conseguia respirar. Peguei o caderno mínio coloquei frente à porta de meu quarto que estava nas mãos de minha mãe e corri e queimei um a um todos eles. para meu quarto e ali me tranquei. (Segue) www.varaldobrasil.com

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Ninguém além de mim deveria saber o que carregavam em suas páginas. Depois de todos cremados, dei um imenso suspiro, pois, eu acabava de renascer daquelas cinzas como se fosse uma Fênix. Depois deste ato de coragem, me descobri escritora. Comecei a relatar fatos vividos, mas sem a paixão do momento. Tudo era colocado no papel depois de muita analise. Jamais imaginara que alguém pudesse gostar das coisas que eu escrevo, mas desde esse dia já publiquei vários livros. A vida nos da à oportunidade de analisar os fatos e tirar deles o maior proveito. Foi escrevendo tudo que vivi que passei a entender muitas coisas que no momento em que os gravava no papel me feriam e me faziam chorar, mas, agora me trazem sabedoria. Tudo que acontece de bom ou ruim é importante para o nosso crescimento interior. Precisamos dar uma pausa de vez em quando para fazer uma analise de nosso passado afim de que possamos aproveitar melhor o nosso futuro.

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Mistério Por Maria Socorro de Sousa

Prisma de Sol. Vida minha Proeza inconfundível. Reluz Meu vício. Sensação louca Ágil Mistério que me seduz Meu Sol. Explosão incontida Irradia Magia que me consome Oculta em vestígios delirantes Sutil Mistério. Ausência fatal Sol. Revela-se em Mistério Enfeitiça teus raios de luzes Por ti amor inviolável. Vedado Flama opaco coração despido Sol. Luz que me queima Ardente labirinto indecifrável Tonifica de amores sedentos Meus lábios selam a saudade

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CONCERTO EM LEMBRANÇAS Por Marilina Baccarat de Almeida Leão

As lembranças são como um concerto de uma grande orquestra sinfônica, em noite de gala no Municipal. Assistir a um concerto de gala, no municipal, nos leva até às alturas alcandoradas, mexendo com o mais profundo do nosso ser. Quando uma orquestra não segue o maestro, o músico se distrai, tudo vai meio que às cegas, pois, todos ficam sem nada saber o que fazer. Assim, são nossas lembranças, elas têm que seguir seu maestro, que é o nosso pensamento. Tudo, ali, no nosso pensar, fica gravado e escrito em uma partitura, dentro da nossa memória. Se as lembranças não estiverem conectadas com o nosso consciente, que seria o instrumento e o nosso pensamento sendo o maestro, tudo iria ficar às cegas, não iriamos ter as lembranças gravadas em nosso pensar. Mas, como elas seguem a pauta, olham para o maestro e fazem do jeito, que ele quer, tudo fica harmonioso. Na partitura da música, além de segui-la, o músico há de olhar para o maestro e entender a vontade dele. Se ele quiser florear a música ou, apenas, colori-la, os músicos têm que acompanhá-lo, do contrário não sairá nada com harmonia. O nosso pensamento é o maestro de nossas lembranças, queiramos ou não, é ele quem rege nossas lembranças. É por isso que temos todas elas em perfeita harmonia, podem passar anos, que lá estão elas nos fazendo lembrar de tudo o que passou. Quando as lembranças tristes surgem, é quando a orquestra desafina e o nosso pensamento fica aflito, querendo que entrem certo, que lembrem de alegrias! Há lembranças, que são teimosas e insis-

tem em sair da pauta, desafinam, vão para os caminhos tortuosos e, com isso, ficamos melancólicos. Mas, o maestro toma a frente, exige que o nosso pensar pegue a partitura da alegria e desafie as lembranças, que só querem mostrar as partes tristes, que já passaram. Há lembranças, que não lembramos mais que lá estão, mas, o maestro resolve reunir toda a orquestra de lembranças com os instrumentos do pensar e, com elas, tomar o lugar de uma grande sinfônica, em uma grande apresentação. É quando as boas lembranças, reunidas, formam os instrumentos de corda e a alegria será a solista. As lembranças tristes, também, vão compor a orquestra, mas, o maestro as coloca lá nos fundos, para tocar a percussão... Ah, se elas não se comportarem, vão ser excluídas da orquestra e nunca mais farão parte dela. Todas elas vão ficar ótimas... Algumas inverossímeis e até divertidas, em um concerto, que, ao chegar, ao final, será capaz de levar, às lágrimas, qualquer mortal.

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Varal do Brasil—janeiro de 2015

VARAL DO BRASIL Por Marilene Sampaio

Muito mais do que um espaço Um lugar de sonhos sonhados Ações e reações imaginárias como grito silencioso Que chama a existência o que existe de mais precioso: A vida Expressa em cada canto, ora longe, ora perto Molhando o chão do Brasil com água, com gotas que caem Como chuva de arte refletida nos detalhes das fotos, pinturas e designs Selando a essência do amor, vestida e exposta em manequins literários Estilos, categorias, conotações ornamentadas pela sensibilidade e criatividade do autor Rompendo fronteiras, em países diversos, abraçados por uma só língua: A arte do amor. Ser e sentir é diferente... de ser, senti r e escrever Há pessoas que escrevem com um olhar, com o jeito de escutar, outros com o modo de tocar, com a razão, com o ceticismo, com a fé... não importa! Dizer o que está dentro é mais importante do que omitir, mas há momentos na vida que é preciso calar e dizer o que é preciso de outro jeito. Até o silêncio pode ser desenhado quando expressa o que se sente O não dito pode ser escrito com papel, caneta, computador, uma tela e seu teclado se é feito com prazer e êxtase de coração. Há transparência nas entrelinhas de um diário, nos pensamentos, nos rabiscos e riscos cheios de escritos raros. Ainda que estejam em secreto em algum cômodo de uma casa no Brasil, ou fora do mesmo. Chegou o tempo de secar no Varal toda timidez, baixa estima, perfeccionismo e preocupação com o medo que prende as pessoas. Os sentimentos vestidos em forma de crônicas, poesias, prosas, revistas contam contos e histórias De todo tipo de escritores que conhecem profundamente os compartimentos de seus corações e tem a liberdade de expressarem com palavras ou uma única nota num espaço que lhe pertence no varal cheio de gente que pensa e faz diferente Transformando e abrindo portas para todos que querem estender seus lençóis de sonhos, pensamentos e amor no VARAL DO BRASIL.

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Poema ao ontem Sabe, ontem senti na brisa suave um vestígio de tristeza incontida, que se transformava serena e soprava a natureza terrena... Sabe, ontem ouvi vozes no sonho... senti que a lua solitária estava também melancólica, vazia da alegria almejada. Sabe, ontem fiz versos ao amanhã que surgirá risonho e feliz. Cantei toadas de fuga, tingi-me da cor dos olhos da noite. Sabe, ontem senti-me feliz e emudeci diante da magnitude das estrelas. Tentei em vão balbuciar palavras, mas o tempo me impediu de falar!

Por Marilu F Queiroz

Arte by Isac Goulart

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Esperança Por Marina Gentile Sou o recomeçar, sou janeiro, inicio do mês, As primeiras páginas de um caderno, novo livro, Sou aquele broto brotado em local inesperado, O que é negativo deve ser superado. Sou o recomeçar em todas as manhãs, Sou energia a quem está ao meu lado, Por isto mesmo, as palavras e gestos , Devem ser cuidadosamente lapidados. Cada um tem seu jeito de recomeçar, Cada um tem sua história, sua dor, E para cada sofrimento, lágrima caída, Existe a esperança, um mar de amor. Cada um tem seu jeito de recomeçar, E por maior que seja a dificuldade, Tem alguém, pelo menos alguém, Que lhe quer bem ... O amor está no universo, Nas pessoas do nosso convívio, Precisamos delas, é recíproco, Para elas que estamos vivos.

Fotografia de Gabriel Moreno www.varaldobrasil.com

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falar em Darwin? Tá precisando se instruir,

O SONHO DO JACARÉ

hein! - Ah, pesquei! Jacaré apaixonado, né? Por Mário Rezende

Onde já se viu isso? Se todos os seus sonhos se realizassem iria nascer um bicho meio esquisito. Onça com cara de jacaré. Ou seria um jacaré com cara de onça? Oncinha com

- Cadê Ela? - Sei não, acho que chegou a fera. - Como assim? - Se ela não apareceu até agora é porque está naquele período. Ela só voltará quando ele for embora. - Eu não acredito! Ela pode ficar assim tão indiferente? Afinal, ela é a maior amiga da gente! - Amiga é? Tá me cheirando a dor de cotovelo... Disfarça! Disfarça! Lá vem ela! Lá ri lá lá... – limpando as unhas nas penas Acho que vai chover... - Não disse que ele tinha chegado? Eu tinha certeza! - Eu sabia que alguma coisa tinha acontecido. Agora, vamos ter que esperar a maré de calmaria passar. - É, quando ele for embora, volta ansiedade, ataca a neurose e ela fica toda nervosinha, então a gente faz a festa. É só esperar. - Tem certeza disso? Você confia em quê? Tem gente pra tudo meu filho! Eu não confio em ninguém. Ainda mais em felino, ou felina... - Que nada, você não viu a piscadela que ela deu pra mim? - Ih, sai pra lá jacaré! Se enxerga! - Pura inveja! Do jeito que as coisas andam, se transformam ou evoluem na natureza, tudo pode acontecer. Você nunca ouviu

rabo de jacarezinho, jacarezinho com rabinho de oncinha e cheio de manchinhas... É, pra um coração apaixonado, quando a prática conflita com a teoria, muda-se a teoria... - E daí? Sonhar não faz mal a ninguém! Tudo pode acontecer. Quem viver verá! A minha maior paixão são aqueles lábios carnudos, que bocão, meu Deus! É o que mais me atrai... - Que lábios que nada, jacaré. Aquilo é beiço mesmo! - Você é muito despeitada isso sim! Só porque tem esse bico fino? Tá mais é com inveja! - É melhor ouvir isso que ser surda. Bico que lhe presta. E muito, não é? Seu mal agradecido. Por que você não pede a ela pra vir lhe catar? - Ela só não vem porque a natureza dela é outra, o nosso destino não é esse, senão... - Então tá bom. Deixa o gatão dela ir embora lá pras outras paradas que eu quero ver se você é macho mesmo pra resolver a sua encrenca. - Ah, deixe-me em paz! Continua limpando as minhas costas, seu passarinho pernudo e despeitado. (Segue)

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- Isso é que eu não vou ter nunca mesmo. Du-vi-de-o-dó! Não sou mamífero! Eu vou é embora. Não estou aqui pra aguentar desaforo de mal agradecido. Tchau! - Vai. Pode ir, passarinho ignorante. Eu não falei de peito, foi despeito. Quanta burrice! “É por isso que apesar de ser um pássaro bonito e elegante, vai ficar sempre nessa vidinha. Nem aprendeu a cantar, só sabe grasnar. Não vê que quando a gente quer a gente consegue? Temos que ser perseverantes. A natureza sempre dá um jeitinho.” – Pensou enquanto mergulhava fundo no rio para refrescar as ideias.

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A GARÇA CHEIA DE GRAÇA CAMINHANDO TODA ELEGANTE, ALTANEIRA, BRANCA ALVEJANTE, VEJO UMA GARÇA, CHEIA DE GRAÇA, DIFÍCIL DEFINIR TANTA BELEZA, DESTE SER DE RARA DELICADEZA.

AO PESCAR COM MUITA SUTILEZA, NUM RÁPIDO MERGULHO, ALCANÇA SUA PRESA, COM INCOMPARÁVEL DESTREZA.

UM FORTE VENTO ASSOBIANTE, FAZ SEUS PÉS LIGEIRAMENTE VACILANTES, NUM VÔO GARBOSO E FLUTUANTE, AGITA SUAS ASAS FLAMEJANTES, E EU FICO ADMIRANDO RADIANTE, A PUREZA E A CHARMOSA LEVEZA DA BELA AVE, NESSE INSTANTE!

Por MARTA ELIANE S. CARVALHO

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Saudade de Sarita Por Barbagrossa Estou ficando velho. Minha mulher diz que estou ficando amargo, analisando-me em frente a um espelho. Agora essa história de que Eles devem estar chegando, Eles, Eles, tão impessoal, não estou vendo qualquer um deles, acho que não dará tempo, vi ontem num noticiário que os russos e os americanos estarão em breve levando passageiros para a cidade espacial. Tenho a impressão de que estou assistindo filmes do Flash Gordon, anos '50, ao vivo, aqui na minha rua, um filme de terror, uma invasão. Bons tempos...Onde estão eles? Não se fazia buraco na terra. Não se invadia território. Nenhum. Com as garotas quando muito, dava para pegar na mão. O dia em que vi os seios da minha irmã por acaso, ela saía do banho, a toalha caiu, quase perdi a respiração. As mulheres são lindas. Cheias de colinas, pequenos montes brancos de pontas cor de rosa. Tempos de dançar Blue Moon com a Sarita, sentindo as suas pernas, adivinhando suas formas, o êxtase imaginado.. O espelho embaçou novamente. Acho que vou raspar essa barba Eu avisei o pessoal, esperem até Eles descobrirem que aqui canta o sabiá, que desse lado tem palmeiras, isso chama a atenção, logo Eles estarão aqui. E vieram. Vieram pedreiros, zeladores de prédios, faxineiros, os subempregados. Aumento do número de construções, a capital crescendo sem parar e todos os crimes, assaltos, roubos, estupros, a eles atribuídos. A cidade acostumou-se, os viadutos transformaram-se em praias urbanas surrealistas, abrigando muambas ao sol sob os imensos guarda-sóis coloridos. Sinto-me com a idade do mundo. Meu espelho confirma. Peles flácidas, amareladas pelo vícios. Minha mulher confirma. Onde está a Sarita? Não voltarei aos seios de Duília, perdoe-me o Anibal Machado. Minha mulher e os seus seios siliconados. Lindos,

duros. Durmo com um travesti de cabelos amarelos de boneca, e rosto de restilane. Poderia colocar restilane nas dobras da minha vida, é isso que vejo no espelho. Aí então, poderia raspar a barba que encobre a minha papada O acidente não teve explicação plausível. Todos estavam bem acomodados no ônibus, resignados a voltar à terra de origem. A nave da viagem sem fim. Do Tudo para o Nada. Sacos de alimentos espalhando-se pelos corredores. Brinquedos de plásticos, caras horrorosas de bonecas grosseiras, arremedos de carrinhos, patinhos, ursinhos, comprados com o trabalho na última construção civil, ajudando a lotar o comboio da volta para a aridez de onde haviam vindo. Mulheres grávidas de filhos gerados na cidade grande, futuros nanicos do sertão, barrigas imensas prontas para largar a cria, mal acomodadas nos bancos estreitos para os quadris. A embarcação do caos. A prefeitura ajudara com as passagens, eram os auspícios sub-reptícios de boa viagem. Alguém lá do fundo do coletivo arranhava Asa Branca numa viola chorona. O caipira alto e forte, recebeu um sorriso de desdém do arranjador de lugares, vai, vai, sobe aí, senta ele no chão, não tem mais banco, e vê se não volta. Alçou voo o pássaro formoso. Assim que o ônibus, ou o que fosse, arrancou, começou a fumaceira e depois a explosão. Sobraram restos carbonizados, que os bombeiros regavam sem esperança e apreensivos, vai faltar água, por que gastar aqui se já nada resta. O prefeito foi à televisão explicar o que acontecera, foi uma fatalidade dizia ele cinicamente, um acidente não previsto, o ônibus era novo especialmente comprado para ajudar os coitados dos brasileiros apátridas, e arrematou - não se sabe por que saem do lugar de origem, tanto faz morrer da seca, ou de fome.

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De repente o estampido.Alguém gritou que o atentado viera do camarim. Algum comunista colocou uma bomba, querem acabar com o governo, concluiu o prefeito.O tiro acertou o microfone, e está incógnito até hoje o autor do disparo.O pavão misterioso materializou-se mais tarde em helicópteros que despejavam corpos, mergulhando parte da pobreza da face da terra nas águas do país, punhados de gente sem importância, a alimentar camarões comedores de defuntos. Pequenos assassinatos sem importância. A eliminação sumária do que não queremos ver : a pobreza, a feiura, a ignorância, a senectude. A multidão está reunida no quarteirão tentando arrancar as placas dos postes. Vamos fechar a rua, pelo menos ficaremos resguardados. Não tardará muito e alguém deles agredirá algum dos moradores. Os telefones não param de funcionar, não nos dão ouvidos dizem que estamos fazendo tempestade em copo d'água, é sempre assim, virão acudir depois do dilúvio, quando tudo estiver perdido O espelho teima em mostrar uma vida de antigamente, eu e minha namorada de mãos dadas namorando na praça, a fonte no centro jorrando tranquilidade, o verde da grama convidando a um abraço ousado, lampiões cercados de mariposas, ora, isso é literatura, deixarei para os Poetas. Posso me ver adolescente, passando bilhetes para as meninas às escondidas da professora de inglês, as fotos tiradas na piscina, eu nadador, campeão das piscinas públicas, dos rios despoluídos, os piqueniques nos bosques ao redor do bairro, em outra dimensão, talvez num mundo paralelo, que ficou pelo tempo, a Tranquilidade o levou.Como estamos sendo transportados agora, abdução para um outro mundo não paralelo, mas fora de órbita. A poeira do espelho começa a se desfazer, o vapor do banho a transforma em barro, cor de sangue, quase posso ver meus traços nitidamente, não os quero ver, prefiro continuar na adolescência, assustando as garotas com as minhas fotos de torso nu, musculoso, bolinando seus peitinhos no cinema escuro. A vizinha do setenta e oito disse que tem que ser você, você é de-

senhista, caprichoso, sabe escrever, vem amor Naquele dia, naquele tempo, naquela dimensão, o fax avisava que eu conseguira o emprego. Sairia da cidade do interior, viria para a cidade grande, ser desenhista na grande autarquia. A vidente acertara, adivinhara até o salário. A realização pessoal. Depois a pensão mambembe, os quartos separados por painéis de compensado, bêbados discutindo, a faca da discussão quase furando meu olho, rasgando o meu travesseiro ao penetrar a falsa parede. Mudanças. Para o apartamento com mais cinco idiotas iludidos com a cidade grande. A tentativa de suicídio do vizinho. A passagem para Sarita, venha Sarita, não aguento essa cidade sem você, os passeios na Praça, Sarita de luvas e saltos altos, os retratos no lambe-lambe, onde estão essas fotos, tenho que procurar, o namoro nos bancos, as salsichas no balcão da avenida. O pensionato das freiras, Sarita me contando, as freiras nos obrigam a ir à missa, a comida é horrível, só tem banquete quando algum bispo aparece, rezamos para eles aparecerem. Se chegarmos depois da hora, dormimos na casa ao lado, na mulher dos gatos, a velha tem doze gatos, aluga a cama por vinte dinheiros, não quero ficar velha, não quero ficar com gatos vadios, transmissores de asma e imundice. Mataram o tempo, assassinaram os lugares, assassinaram a cidade, todas as cidades do mundo, deixaram as suas entranhas expostas às intempéries sanguinárias. Sarita não quer ficar velha. Eu não quero que Sarita envelheça, que tenha vergonha de desnudarse na minha frente, que passe o resto da vida se retalhando, procurando retornar à antiga forma, ou que queira assassinar-me de maneira suave e afetuosa, colocando arsênico diariamente no meu café da manhã. Ela não sabe que já está me assassinando ternamente, ela me aniquila de tristeza quando a contemplo e procuro nessa outra face, a antiga.

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Preciso matar Sarita. No último minuto posso terminar de afogá-la com um beijo profundo de língua, como aqueles que ela impedia nos momentos de excitação, um beijo longo no qual eu também me afogasse sentindo os seios adolescentes na concha da minha mão, e todos os problemas desaparecendo pelo ralo do banheiro: a minha velhice encardida, o estimulante escondido no armário,o orgasmo renascendo espontâneo, Sarita voltando a ser feliz, sem necessidade de projeções da felicidade como a esmerada educação dos filhos,o voluntariado no hospital macabro, os chás beneficentes, enfim o éden sendo reconquistado. A voz trêmula de Sarita.Querido, venha logo, temos prazo para entregar o documento. Se eles chegarem já não teremos chance, tudo estará perdido.A voz doce de Sarita, a carícia em meus ouvidos cantando a canção da bossa nova, chega de saudade, a realidade... a fantasia escorrendo pelo caminho, levando a paixão, deixando o amor, insosso, rotineiro, e depois do amor, o quê? Nada. Não quero ser amigo de minha mulher, quero sugar a vida de dentro dela, o sopro divino, pelo deus por todos amado, quero a volúpia dos demônios interiores, a boca escancarada do desejo de assassinar a Sarita contemporânea, quero eliminar o presente e o futuro, a senilidade, rejeito a pretensa sabedoria da velhice, os pigarros pela manhã, o clube da terceira idade.Quero assassiná-la aos poucos, proporcionar-lhe a visão do filme da nossa vida, quero enchê-la de remorsos por haver mudado, culpá-la pela minha mudança, pelo meu comodismo de ter a mulher na cama, não a cama que escolhi, mas a que comprei na casa de móveis, à prestação, para a noite de núpcias no colchão de segunda classe, e o Kama Sutra, primeira edição, na cabeceira, revelando posições agora liberadas - depois da posse permitida pelo cartório - a explosão do desejo contido inundando o quarto quando a juventude prevalecia e nada mais importava. Eu te amo, eu te amo, a descoberta do amor pelo corpo, a luz das estrelas aparecendo na nesga de céu entre a árvore e a lua, na infini-

tude daquele quarto-sala-banheiro-cozinha, o ninho de amor alugado.Abro a porta, o ar frio penetra o banheiro, engole a fumaça, desembaça o ambiente e me mostra a crua e reformada face de Sarita. Aperto seu pescoço entre as minhas mãos. Lágrimas escorrem dos meus olhos, estou eliminando o inverno do fim da minha vida, ressuscitando os corpos na dimensão em que a matéria não existe, seremos novamente eu e ela na puberdade. Acordo do transe, tento recompor-me, Sarita brinca, olhando-me com os estrábicos olhos, ora meu bem, temos tempo para isso, os vizinhos estão esperando, vamos providenciar o fax, ouça, você não está ouvindo o barulho de sirenes? Meu Deus, você raspou a barba, não é mais o mesmo.A multidão se organizando no quarteirão de cima, os batedores em motocicletas com luzes traseiras ofuscantes, muitas, a ambulância zunindo, as autoridades chegando, não disse, perdemos tempo, não sei o que deu em você, tudo inútil, Eles já chegaram Sarita deprimida, você está ficando ausente, esquisito. Preciso matar Sarita, antes que ela se transforme de vez na mulher de concreto que habita as grandes cidades. Seu último gemido foi abafado pelo som das sirenes se retirando. Sarita já está morta, eu já estou morto, não existimos mais, fomos banidos pela ausência da sensibilidade, somos todos habitantes de uma outra dimensão e como zumbis nos retiramos para as nossas casas que estremecerão a passagem dos grandes caminhões e ônibus, para vermos de nossas janelas a fumaça preta da poluição e do progresso, a desintegração da carne, a degeneração do cérebro, amém Sarita, abra a boca, quero lhe dar um beijo de língua, tão profundo que atingirá seu coração. Não senhor, beijo de língua não, nem agarramentos no escuro, só depois do casamento. Nunca mais terei Sarita

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NOVO LIVRO DE MINI CONTOS/CRÔNICAS DE JACQUELINE AISENMAN www.varaldobrasil.com

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Indriso à viúva negra Por Oliveira Caruso Por que a viúva negra, após o ato da cópula, devora o seu macho? Talvez pela volubilidade dos relacionamentos hodiernos e pelo discordar voraz dela! Devora o fracassado? Fracassado que não a decifrou?

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UMA TARDE NA COZINHA

duras, a carne formou um molho delicioso... será que não deveria fazer um assado de panela? Não, Rita, concentração!!

Por Rita de Oliveira Medeiros

Volto para a batedeira e coloco somente a margarina com o açúcar... bate, para, mistura manualmente, bate, para, mistura! Não tem jeito! Afinal de contas, o que está acontecendo? Da outra vez o creme logo se formou!!!

Acordo da soneca da tarde disposta a esperar o meu marido, que já foi padeiro, desenhista, policial, advogado e é agora... um destemido BIKEMAN, chegar do seu passeio de 2 dias à vizinha cidade de IMBITUBA, com o seu prato preferido: uma sopa!! Ao volante da merivinha, me dirijo ao Supermercado próximo para comprar os ingredientes. Quando entro em casa, verifico que o cacho de bananas está maduro demais. Que fazer? -Uma cuca de banana! Claro! Enquanto a carne cozinhava, piquei as verduras e separei os ingredientes para a cuca. Qual receita? A do livro azul? Não vai rolar: cuidar da sopa, separar ingredientes e ainda olhar a receita? NEVER! Não tem problema, vai aquela básica, que já sei de cabeça, faz tempo. Uma voz interior me advertiu: esta receita nunca deu certo!!! -Não faz mal, vai assim mesmo!!

Ah! Ligar o forno! -Bom, vou experimentar colocar um pouco do leite! Fica uma meleca!!! -Ah! Danou-se! Vou colocar logo a farinha de trigo, misturada com a maisena e ver no que vai dar!!! Antes dou uma conferida no caldo da sopa e baixo o fogo, porque sopa sem caldo não fica bem! - Está lindo! Ok! Já que esta massa vai ficar de qualquer jeito mesmo, coloco as claras e baixo a temperatura do superforno do superfogão que “ele” também resolveu comprar para suas aventuras culinárias. Na cozinha eu me sinto meio ET, às vezes! O pai, o filho e a filha cozinham que é uma beleza....

Quando tinha separado os ingrediente e a sopa estava ainda em preparação, eis que o destinatário de surpresa chegou e estragou tudo. Beijos, abraços, aquele rolo que só ele sabe fazer....

-Ah! Vá lá! Melhor prá mim, que prefiro almoçar fora!

Tomou um café, contou umas rápidas histórias, perguntou se queria ajuda e, ante a minha negativa, foi descansar! Voltei alegremente para a cuca.

Por isto o creme não ficou maravilhoso como da outra vez! Vejam só! Que pequeno detalhe eu havia esquecido.

1º- Separar gemas das claras. Bater as últimas em neve e depois, sem mexer, incorporar à massa já pronta. 2º- Separar Gemas, margarina e açúcar, para serem batidas na super batedeira vermelha que ele comprou na Polishop. Ops.! Vamos voltar a sopa e colocar as ver-

-OPAAAA!!! O que é isto ao lado das claras? -AS GEMAS!!!

Agora danou-se tudo mesmo! As claras não gostam de estar neve, não quiseram permanecer naquele estado e sobra um pouco de líquido quando viro a vasilha!!! -Agora vou bater esta massaroca (uma massa que não deu certo), tudo junto e seja lá o que Deus quiser! (Segue)

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Já irritada, eu coloco toda a farinha, de uma só vez... quando ligo a batedeira, levanta farinha para todos os lados da bancada, no chão, na geladeira.... aimeudeusdocéu, esqueci daquela partezinha que coloca em cima da tigela!! Quando resolvo o desastre, lembro que não descasquei as bananas ainda, o forno já está prá lá de quente e sou uma idiota por não gostar de ajuda enquanto estou cozinhando!!! Deixo a batedeira rebolando-se toda e vou fatiar as bananas, coloco no fundo da forma, já untada e enfarinhada (este foi o meu único ato lúcido nesta tarde de chuva e frio). Desde pequena, aprendi que devemos enfrentar nossas mancadas de frente, serenamente.... lá fui eu, desligar a batedeira, colocar o fermento e partir para o: SEJA LÁ O QUE DEUS QUIZER!!! Quando olho a massa ela está estranhamente sufflair... fofi’s, como costumo brincar! Viro a tigela... ela recusa-se a cair delicadamente, como todos os bolos e cucas normais, que as pessoas normais fazem!!! Empurrei tudo com uma espátula de nome estranho: pão duro! Ela não deixa NADA PARA SER LAMBIDO na tigela...as crianças já cresceram mesmo! Não tem mais problema....

cuca, e enfio a danada no forno, cujo calor quase queima as minhas sobrancelhas!! Consumatum est enfim! O tampo do fogão traz preciosas informações: bolos: tempo de cozimento, 40 a 45 minutos... 50 minutos e a cuca está “morena” nas bordas... no meio ela parece ferver!! Não tem saída: vou acordar o cozinheiro e pedir socorro!!! -Bota mais fogo nela!!! Botei mais fogo! Enfiei a faca, em 3 minutos ela já estava assada no meio! Retiro a cuca do forno e vamos todos tomar a deliciosa sopa, ouvindo as aventuras do nosso ciclista! Antes de dormir, vou lá à cozinha conferir: corto uma fatia e..... ALELEUIA, ALELUIA, ALELUIA!!! Delicia, delicia, assim você me mata!!!! A melhor cuca que eu já fiz!!!!

-A FAROFAAAA! Esqueci de fazer a farofa, gente do céu!! Olho para frente e sinto o calor do fogão, vejo a sopa borbulhando, corro lá e desligo esta bendita panela! Olho para o lado e vejo o pacote de trigo, a margarina quase no fim... pego uns punhados de farinha e vou mexendo dentro da cambuca até fazer as bolinhas. Lembro que, obviamente, a farofa da cuca de banana é doce e coloco o restante do açúcar que tinha no pacote, porque o açucareiro já está vazio.. -.ai! O forno, está pelando, vou baixar mais, não tem jeito! Consigo fazer a farofa com cara de farinha de margarina com açúcar! Coloco por cima da www.varaldobrasil.com

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O Vestido

Por Rita Pea

Despi lentamente o vestido de contos e guardei-o.

Guardei-o num livro, onde as palavras são como corpos, que se envolvem e se entregam ao Amor.

Guardei-o na luz dos teus olhos. Guardei-o, nos meus lábios. Guardei-o em segredo, no baú da eternidade...

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Ainda Por Silvana Brugni Ainda é cedo, ou agora já é tarde demais!? aliás, não terá sido só um “tropeço” no pretérito... de algo que só poderia ser...Agora!?... Num futuro próximo!? em futuro algum!? o relógio não para de contar as horas, principalmente, o relógio biológico. Pois, por enquanto ainda “estamos aqui”. Mais alguns dias...mais alguns anos e continua o tic-tac, tic-tac. Mais alguns anos e poderá ser... jamais. Ou pelo menos nessa vida, não mais! Em minhas preces repasso o trecho “(...) seja feita a vossa vontade...” E teimo em ter a minha própria vontade, E Ele não deve entender nada dessa contradição. Mesmo assim, ainda torço que a minha vontade seja a mesma que a D’ele, Sé Ele nos salva... E então espero que – ainda, não seja tarde demais!

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O RELÓGIO E O TEMPO Por Maria Aparecida Felicori (Vó Fia) Tic tac tic tac o que será? Esse ruído monótono e repetitivo Que se ouve dia e noite sem parar È o som do relógio que está sempre ativo. Marcando o tempo que passa Ele bate tic tac e faz dim dão A cada hora que nos ameaça Com a velhice que chegará ou não. O tempo vai rápido ao som do relógio E a juventude também vai correndo Depressa ligeira alegre até o pódio Da maturidade que chega a todos varrendo. O relógio segue fazendo tic tac e dim dão E a areia do tempo escorre da cornucópia E penso: será que vou viver muito ou não? Quem sabe? Sei não... A vida é utópica. No livro do tempo de Deus está marcado O tempo da cada ser que no mundo vive É o mesmo resultado se o relógio ficar parado Mas da morte na juventude Deus nos livre. Segue relógio no seu eterno tic tac Marcando o tempo que vai passando Melhor é morrer idoso de um ataque Do que morrer jovem e deixar o tempo continuando.

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INVERNO Por Marly Rondan Céu de Inverno, azul índigo, paixão! Minha alma sai, vai procurar a sua. Vem, preciso aquecer meu coração, Vamos caminhar, vamos ver a LUA! Quero paz de anjos alados orando, Todo o amor de aves no cio, Roçar meu corpo no seu, caminhando, E apesar do desejo...sentir frio. Parar...olhos nos olhos, abraçá-lo, Sentir o pulsar do seu coração, No ninho de seu corpo, sou tranquilo. Vem trazer calor para esta estação, Amor, sob este céu, vou esperá-lo; Céu de Inverno, azul índigo, paixão!

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Olhar... mais que palavras! Por Rogério Araújo (Rofa) Os olhos também falam São expressões de desejo Chegam antes do coração E até mesmo da razão Despertando a paixão Num encontros de olhares Penetrantes, sensuais, Fulminantes, sexuais, De cima para baixo, De baixo para cima, De frente para trás, De trás para frente, Tudo é observado Pelo ser amado Amar pelo olhar Olhar para amar Falar pelos olhos Olhos que piscam Olhos que choram Olhos que conquistam Olhos que desejam Olhos que beijam Olhos que falam Mais que palavras

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HISTÓRIA DO BRASIL SOB A ÓTICA FEMININA Hebe C. Boa-Viagem A. Costa

Estudiosa da Roma Antiga, em

Maria Benedita Câmara

especial na fase em que as romanas gozavam

Bormann – Delia

de mais liberdade, ela faz uma analogia com o

1853 – 1895

que acontecia no final do século XIX quando

Precursora das campanhas para a educa-

desponta a figura da Nova Mulher que, mesmo

ção sexual da mulher

ridicularizada, difamada, procura, cada vez mais, alargar o seu espaço. Daí escolher o pseudônimo - Delia – nome da matrona roma-

Maria Benedita nasceu em Porto

na amada pelo poeta Tíbulo. Seus persona-

Alegre (RS) em 1853. Pertencia a uma família

gens também ganham nomes romanos: Lés-

de prestígio e recebeu uma educação esmera-

bia, Catulo, Aurélia...

da tal como se costumava dar às mulheres da classe alta. Falava inglês e francês, era também pintora, cantora e pianista. Com todos esses dotes logo se revelou também escritora e, aos catorze anos, escrevia crônicas para os jornais cariocas (O Sorriso, O Paiz, O Cruzeiro e a Gazeta da Tarde). Casou-se com um tio materno, José Bernardino de Bormann que, anos mais tarde, se tornaria Ministro da Guerra e Marechal. Da crônica ela passou a escrever romances-folhetins ultra-românticos e, depois, romances que fixavam a vida social fluminense, seus conflitos e também os preconceitos

(Segue)

que tolhiam a liberdade das mulheres.

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No começo do século XIX, as

de 1883 e 1884).

escritoras usavam pseudônimos para serem

Romances: Aurélia (1883); Lés-

aceitas pelo público. No caso de Delia, entre-

bia (1890); Angélica (1894); My Lady

tanto, já no último quartel do século, tem uma

(1895); Celeste (1895)

outra conotação. Mais parece uma autoMorreu no Rio de Janeiro, aos

afirmação, um renascimento, um compromis-

quarenta e dois anos, em 1895.

so com a Nova Mulher. Nos seus romances, ela defendia a educação para a vida e a necessidade

Referências bibliográficas

do conhecimento da própria sexualidade. Ne-

COSTA, Hebe Boa-Viagem – Elas, as pioneiras do Brasil –Ed. Scortecci –p. 169 –SP -2005 (Tb em e-book)

les ainda insistia na educação sexual das jovens e combatia a hipocrisia das mulheres

COELHO, Nelly Novaes. Dicionário crítico de

que se faziam passar por anjos de pureza e,

escritoras brasileiras. São Paulo: Escritu-

às escondidas, liam livros pornográficos.

ras Ed., p. 411, 2002.

Por meio de seus personagens

TELLES, Norma. Escritoras, escritas, escritu-

questionava o casamento considerando-o o

ras. In História das Mulheres no Brasil.

local de anulação do corpo e da mente. Por

Mary Del Priori (org.) São Paulo: Ed. Contexto, p. 401, 2002.

isso, a mulher não deveria aceitar o casamento como sua única opção de vida, com a

TELLES, Norma. Escritoras Brasileiras do sé-

agravante de lhe negarem até o direito de es-

culo XIX. Zahidé L. Muzart (org) Florianó-

colha de seu futuro cônjuge. Tendo maiores

polis - Ed. Mulheres p.567, 2000

oportunidades de estudo, por que não seguir uma carreira e ganhar sua independência financeira, intelectual e sexual? Delia era abolicionista e se desencantou com os acontecimentos ocorridos após a Lei Áurea. A qualidade de vida dos libertos não foi melhorada o quanto se esperava. Com o advento da República, nada se fez nesse sentido e, portanto, nova decepção. Enfim, Delia queria justiça para o escravo, para a sociedade e para a mulher. Suas publicações: Folhetins: Uma Vitima; Madale-

(Segue)

na; Os beijos do frade; A espera; O sorriso; A estátua de neve; Duas irmãs ( todos www.varaldobrasil.com

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Eufrásia Teixeira Leite

boas maneiras necessárias para o convívio na Corte e, possivelmente, na Europa.

1850 – 1930 A primeira brasileira a investir em ações e títulos da dívida pública

Bonita, inteligente, falando francês com desenvoltura, quem diria, era uma sinhazinha do interior do Brasil que, juntamente com a irmã, se instalara num elegante palacete em Paris, em 1873. Tão jovens e desacompanhadas, o que foram elas fazer na Europa? Eufrásia e Francisca não estavam simplesmente passeando. Tinham planos ambiciosos e, de certo modo, estavam seguindo o que o pai sempre lhes sugerira. Eufrásia era a filha caçula de Joaquim Teixeira Leite e Ana Esmeria Correa e Castro. Pertencia a uma família muito rica, proprietária de extensos cafezais no Vale do Rio Paraíba, onde fica Vassouras. Seus avós, maternos e paternos, os barões de Campo Belo e de Itambé contribuíram para aumentar o seu patrimônio. O pai, advogado, importante comissário de café, tendo ocupado altos cargos tanto em Vassouras como junto à Corte, era homem de larga visão. Não tendo filhos, procurou educar Francisca e Eufrásia de modo que elas pudessem gerir os negócios da família quando ele viesse a faltar. Alertou-as lembrando que tanto a escravidão quanto a produção cafeeira eram fatos transitórios e que, para salvaguardar o patrimônio, teriam de investir fora do país. E se dispôs a prepará-las para tanto: aprenderam francês, se familiarizaram com o mundo

Nos anos setenta do século XIX, logo no começo, os pais de Eufrásia, num curto espaço de tempo, faleceram. Em 1873, as duas jovens ricas e emancipadas, se dispuseram a pôr em prática os planos paternos. A herança das duas irmãs não era de terras e escravos e sim de apólices de títulos da Dívida Pública do Empréstimo Nacional de 1868, ações do Banco do Brasil, depósitos bancários e o passivo de sua casa comissária. Possuíam apenas a chácara onde moravam e um pequeno plantel de escravos domésticos. Fecharam a casa em Vassouras, e viajaram para o Velho Mundo. No navio, Eufrásia e Joaquim Nabuco, jovem e brilhante advogado, se encontraram e se apaixonaram. No final da viagem, já estavam noivos.

das finanças, com a literatura, a música e as www.varaldobrasil.com

(Segue) 117


Varal do Brasil—janeiro de 2015

Em 1889, Nabuco se casou

Entretanto, apesar do profundo envolvimento amoroso, as trajetórias de vida

com Evelina Torres Soares Ribeiro, filha do

de cada um eram totalmente diferentes.

Barão Inhoã, fazendeiro em Maricá (RJ). Eu-

Eufrásia tinha por objetivo salvaguardar o seu patrimônio e procurar multiplicá-lo. Ela e a irmã, uma vez em Paris, passaram a aplicar dinheiro na bolsa de valores investindo boa parte da fortuna em títu-

frásia permaneceu solteira e dizem que teve outros amores. Da sua larga correspondência com Nabuco, pouco se sabe. Algumas pessoas da cidade acreditavam que essas cartas teriam sido enterradas com sua dona. Em 1920, depois de ter triplica-

los da dívida pública em diversos paises, entre eles os Estados Unidos, o Uruguai e o

do a sua fortuna, Eufrásia voltou à sua cida-

Chile. Eufrásia só teve prejuízo nos investi-

de natal – Vassouras – indo residir na casa

mentos realizados na Rússia czarista, após

onde nascera.

a Revolução de 1917. Francisca a ajudou

Vassouras, “a cidade dos ba-

nessas transações até 1899, quando fale-

rões” estava decadente. Com a exaustão da

ceu. “La Brésiliene”, como a chamavam em

terra, deixara de ser a zona cafeeira que tan-

Paris, revelou-se uma brilhante financista e

to se notabilizara no passado. A cidade esta-

tudo indica que ela realizava sozinha todos

va empobrecida o que sensibilizou Eufrásia.

esses investimentos na bolsa de valores. Por

Aos setenta anos continuava ativa como há-

muitos anos o seu campo de atuação era

bil financista, mas desde o falecimento da

Paris e, por isso, poucas vezes esteve no

irmã começou a se preocupar com o destino

Brasil e, assim mesmo, em viagens muito

de sua herança. Ainda em Paris, no começo

curtas.

do século XX, Eufrásia fez um testamento. Quanto a Joaquim Nabuco,

Seu tino comercial e sua capa-

uma brilhante carreira o esperava no Brasil:

cidade de trabalho são bem demonstrados

político, escritor, abolicionista, hábil advoga-

nos seguintes depoimentos: (Segue)

do... Algumas vezes ele também esteve na Europa e, certamente, se encontraram. Como conciliar interesses tão diferentes? O romance durou de 1873 a 1887, a maior parte do tempo por meio de cartas. Eufrásia sabia dos ideais de Nabuco e não queria que ele desistisse de suas ambições o que revelou quando escreveu: Prefiro que você seja o primeiro do Brasil do que o segundo em qualquer lugar do mundo. Por decisão dela, o romance terminou. www.varaldobrasil.com

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Possuía grande visão financeira

dilapidando fortunas. Mais uma vez Eufrásia

e, para facilitar suas especula-

acertou ao mudar seu estilo de investimento.

ções comerciais tinha em sua residência um aparelho telefônico, através do qual se comunicava com a Bolsa de Valores (Paris). Pressentindo o conflito internacional, comprou grande quantidade de anilinas alemãs, vendendo-as após para o Brasil, obtendo notáveis e animadores lucros. – Dr. Justino de Moraes Sarmento, seu contemporâneo.

Em Vassouras, nos mínimos detalhes, refez o seu testamento e, por meio dele, pode-se avaliar o montante de seu patrimônio formado pelo palacete de Paris, as chácaras de Vassouras (Hera e Calvet), jóias, títulos públicos de diversos países e ações de variadas empresas. Seus bens não eram apenas locais e espalhavam-se por diversos países: França, Bélgica, Inglaterra, Alemanha, Mônaco, Egito, Romênia, Estados Unidos, Canadá, Chile, Rússia e Uruguai. Quem herdaria esse patrimô-

Dona Eufrásia foi sempre quem

nio?

cuidou dos seus negócios. Não

nem ascendentes, Eufrásia podia dispor dele

parava o dia inteiro. Acordava,

de acordo com sua vontade segundo as leis

tomava banho e sentava-se na

brasileiras. Era, entretanto, tradicional no

escrivaninha para trabalhar. Es-

pensamento rural que os beneficiados fossem

crevia umas trinta a quarenta

os familiares. Eufrásia não pensava desse

cartas por dia. Eu me sentava a

modo e destinou uma parcela muito pequena

seu lado e só ia botando os se-

apenas a três primos. Resolveu beneficiar

los. Ela tratava pessoalmente de

Vassouras, a cidade que enriquecera sua fa-

tudo e nunca precisou de procu-

mília e que se encontrava em franca deca-

rador. Cecília Bonfim, sua mu-

dência. Queria melhorar as condições de vida

cama.

de seus conterrâneos proporcionando-lhes

Sendo solteira, e sem descendentes,

melhor atendimento médico, melhores escoEm 1924, Eufrásia comprou a chácara Calvet em Vassouras. Aos setenta e oito anos fez um empreendimento imobiliário em Copacabana, logo depois do famoso Hotel Copacabana haver sido construído. Sua

las e, principalmente, ajudar as crianças pobres e órfãs. Com esse intuito redigiu seu testamento, em nove livros, especificando detalhadamente seus bens, os legatários, suas obrigações e as cláusulas restritivas.

visão comercial indicava que seria um bom investimento. Comprou uma área enorme, loteou-a e programou as vendas. Pouco de-

(Segue)

pois, aconteceu a crise da Bolsa de Valores de New York que se estendeu pelo mundo www.varaldobrasil.com

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Varal do Brasil—janeiro de 2015

Escolheu para seus testamentei-

O testamento, segundo estudiosos, era uma peça de política social que be-

ros pessoas firmes, competentes, idôneas e

neficiava os setores da saúde, da educação e

de grande prestígio. Sabia que eles teriam de

da distribuição de rendas.

enfrentar os insatisfeitos, e que isto não seria

Os herdeiros nomeados por ela

nada fácil. Quando, em 1930, Eufrásia fale-

foram: Instituto das Missionárias do Sagrado Cora-

ceu e foi aberto seu testamento, inúmeras foram as ações tentando anulá-lo. A cidade be-

ção de Jesus;

neficiada se mobilizava em frente ao Forum Colégio Santa Rosa de Niterói dos Padres Salesianos;

repudiando os impetrantes. Até o governo do Chile moveu uma ação na tentativa de evitar

Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vassouras;

o resgate de seus títulos públicos posto que eram tantos que se fossem resgatados de

Irmandade de Nossa Senhora da Conceição;

uma só vez abalariam financeiramente o país.

Todos os bens legados às ordens reli-

O testamento, segundo estudio-

giosas eram gravados com a cláu-

sos, era uma peça de política social que be-

sula de inalienabilidade e de insu-

neficiava os setores da saúde, da educação e

brogabilidade. Ainda mais: Na falta

da distribuição de rendas. Hildete Pereira de

destes herdeiros seus legados e

Melo e Miridan B.Knox Falci no artigo Eufrásia

rendimentos passariam para a Ir-

Teixeira Leite: O destino de uma herança va-

mandade da Santa Casa de Miseri-

lendo-se de uma documentação farta, anali-

córdia de Vassouras com as mes-

saram com muita propriedade esse testamen-

mas cláusulas restritivas.

to. Apesar de todos os cuidados

Fundação Osvaldo Cruz – Para o Hospital do Câncer que estava sendo construído;

que Eufrásia teve ao distribuir sua fortuna, passados mais de setenta anos, o que sobrou

Outros:

de seu gesto filantrópico? (Segue)

Seus empregados; seu agente parisiense; três primos; para pobres de Vassouras (20 contos de reis) e para os pobres do quarteirão de Paris onde morara (20 mil francos). A Irmandade da Santa Casa da Misericórdia acabou sendo a principal legatária do testamento de Eufrásia, inclusive de seus bens no exterior, em função da desistência das outras ordens religiosas. www.varaldobrasil.com

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A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia com o legado adquiriu a Cháca-

era Eufrásia respondeu: Nunca ouvi falar dela. Não é estranho?

ra das Palmeiras e nela construiu o Hospital

A Casa da Hera inicialmente

Eufrásia Teixeira Leite, inaugurado em

doada ao Instituto das Irmãs Missionárias do

1941. Ele foi criado com o objetivo de aten-

Sagrado Coração de Jesus está, desde

der pessoas sem recursos e assim procede

1965, sob a tutela do Instituto do Patrimônio

até hoje. Isso fez com que fosse sempre defi-

Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Foi

citário e, ao longo dos anos, a Santa Casa foi

construída nos anos trinta do século XIX e o

vendendo partes da Chácara. Foi assim e

Dr. Joaquim José Teixeira Leite fez dela a

também com desapropriações feitas pela

sua residência. Por determinação de Eufrásia

Prefeitura que grande parte dessa área aca-

o legatário deveria:

bou sendo ocupada por outras instituições que não tinham diretamente compromisso com os objetivos de Eufrásia. Na atualida-

Conservar a Chácara da Hera

de, o Hospital não mais apresenta aquela

com tudo o que nela existisse

imagem de excelência decantada nos anos

no mesmo estado de conserva-

trinta.

ção, não podendo ocupar ou permitir que fosse ocupada por

Os dois Institutos Profissionais,

outros.

um masculino e outro feminino, que levariam

É uma casa belíssima que mos-

o nome do pai de Eufrásia e seriam destinados a cem crianças pobres e órfãs da comu-

tra como viviam os fazendeiros no auge da

nidade até a sua maioridade, também não

produção cafeeira. Traziam da Europa coisas

foram desenvolvidos como ela previra. Na

finíssimas para enfeitar suas casas: papeis

realidade, atenderam muitas crianças po-

de parede, lustres de cristal, porcelanas, ins-

bres, mas não se sabe quantas. O Instituto

trumentos musicais, telas...

Feminino Dr. Joaquim José Teixeira Leite,

Como Museu, a Casa da Hera

mais conhecido como Colégio Regina Celi,

conserva o mobiliário, pinturas, vestidos

não mais existe. No seu lugar funciona o

(assinados pôr mestres da alta costura), telas

Curso de Aplicação da Universidade Severi-

retratando Eufrásia, utensílios domésticos e

no Sombra e, segundo os pesquisadores Fal-

uma biblioteca com mil volumes e três mil

ci & Melo, sem realizar a política social so-

periódicos. Há também o piano Henri Herz,

nhada por Eufrásia. O Instituto Profissional

de 1856. Dizem, só existe mais um no mun-

Masculino Dr. Joaquim José Teixeira Leite,

do. Os seus vinte e dois cômodos revelam o

se concretizou como SENAI, mas de acordo

luxo em que vivia a família Teixeira Leite e,

com uma reportagem de Rebeca Kritsch (O

assim mesmo, Eufrásia foi capaz de se sen-

Estado de São Paulo – 30/05/1999) os garo-

sibilizar com as dificuldades das pessoas ca-

tos beneficiados desconhecem a benfeitora.

rentes a ponto de pôr toda sua fortuna a ser-

Um deles ao ser interrogado se sabia quem

viço delas. (Segue)

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Os principais legatários, infeliz-

Eufrásia Teixeira Leite. Uma análise

mente, não souberam administrar adequada-

de gênero. In Revista Estudos Históri-

mente o grande projeto de Eufrásia. Um le-

cos, Rio de Janeiro: CPDOC, nº. 29,

gado tão grande (cerca de 10% da cota de

p. 165 -185, 2002.

exportações do Brasil no qüinqüênio que an-

KRITSCH, Rebeca. Livre e generosa, Eu-

tecedeu a sua morte, em 1930) teria sido me-

frásia fascina mulheres. In O Estado

lhor aplicado por meio de uma Fundação es-

de São Paulo. São Paulo, Cad. 2, p.

pecialmente criada com a finalidade de reali-

10, 30/05/1999.

zar as obras sociais acima descritas. Também pensam desse modo os pesquisadores

“Um museu que apaixona qualquer um”. Jornal O Globo. Rio de Janeiro.

Falci & Melo.

14/08/03. Assim mesmo, a população de Vassouras continua usufruindo da generosidade de Eufrásia, ainda que indiretamente, pois quase todas as obras sociais, educacionais e de saúde da cidade são oriundas do seu legado. É interessante notar que existem muitos trabalhos referentes a Eufrásia, essa figura especial. São teses de mestrado, artigos publicados em revistas científicas e, no entanto, as pessoas que ela se empenhou em beneficiar, ignoram sua existência. Por que os autores desses trabalhos, a própria Casa da Hera, o SENAI não têm programas visando popularizar o nome dela? Os mais esclarecidos da cidade, certamente, devem isso a Eufrásia!

Referências bibliográficas •

COSTA, Hebe Boa-Viagem – Elas, as pio-

neiras do Brasil - Ed. Scortecci –p. 179 –SP 2005 (Tb em e-book) FALCI, Miridan Brito Knox & Pereira de Melo, Hildete. Riqueza e emancipação:

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