Revista Varal do Brasil - ed 40 - março de 2016

Page 175

Revista Varal do Brasil - Edição n0 40 - Março/2016

Longe dali, os baús e pertences dos pais de Sinhazinha estavam sendo embalados. Os escravos estavam trabalhando nisso o dia todo e ainda havia muita coisa para arrumar. Quase tudo do casarão deveria ser enviado ao porto. Agora com muito dinheiro finalmente a família depois de vender as plantações de cana iria voltar a Portugal. A negra velha havia sido abandonada na senzala a sua sorte pois era de preço baixo, a maioria dos escravos já tinham sido prometidos e pagos, faltava apenas alguns outros acertos. Sinhá Dona Maria já não chorava tanto o destino da filha, pois estava em estado de gestação, possivelmente ganharia a criança já na Europa. Finalmente poderia tirar os pés daquela terra infeliz. Numa tarde fresca Sinhazinha ouviu o sino e a correria dos escravos, pela estrada vinha uma charrete grande. Seu coração se encheu de esperança, palpitava forte, parecia que ia sai pela boca. Ela juntou suas bonecas em cima da cama, aguardou sentada pacientemente a chegada de seus pais. O tempo passou, o silencio chegou, a noite veio, nada aconteceu. Cansada a menina adormeceu em meio as bonecas. Naquela noite Poeira entrou no quarto apressada, sacudiu a menina e tirou suas roupas com prontidão, arrastando-a para a bacia de madeira. Limpou-a, perfumou-a, soltou-lhe os cabelos e vestiu-lhe uma camisola rendada. Sinhazinha perguntava se seus pais tinham chegado, mas Poeira não respondia. Naquele dia Poeira estava diferente, embora apressada estava carinhosa, por fim beijou a testa da pequena e saiu depois que a menina bebeu seu leite. Aquele beijo foi como Aba sempre dizia: um atrevimento de amor. Fizera Sinhazinha sorrir. Sinhazinha ficou quieta sentada na poltrona lendo seu livro a luz das velas em silêncio, sentiu a maçaneta ser tocada, viu a porta abrindo devagar e o Barão com um camisolão branco e um roupão vermelho aberto arrastando no piso encerado. O Barão deu boa noite de modo gentil, mas Sinhazinha não entendeu bem o que ele queria.

enquanto ela sem saber o que acontecia ela puxava-a para baixo. Ele irritado rasgou suas vestes e deixando seu corpo frágil e branco na cama sem proteção cobriu-lhe com suas banhas suadas. A menina tentava sair de baixo, mas o Barão era pesado, gritada para a mãe, para Aba, para Poeira e nada acontecia. O barão fez o que viera fazer, a menina gritava desesperada. Levantou-se deixando Sinhazinha ferida e desmaiada na cama. — Poeira, venha limpar essa sujeira. Traga os sais. Arrume tudo para amanhã novamente neste mesmo horário. Amanheceu. Sinhazinha já havia perdido as esperanças de voltar para a casa, o sol já não era o mesmo, nem as bonecas, nem os sonhos. Olhou para Poeira com sua bandeja de café com dor e ressentimento. Estava com febre, estava com dores, não tinha fome. Poeira lhe trocava os panos e acariciava seus cabelos e Sinhazinha olhando para o teto não se mexia, não pronunciava som algum. O Barão veio mais tarde, fez Sinhazinha rabiscar seu nome novo em alguns papéis, colocou um selo de cera e saiu. Sinhazinha não falava. O barão veio noite após noite no seu quarto. Ela já não lutada. Esperava a morte como uma escrava condenada. Lembrava-se de Aba e das estórias que contava a respeito da senzala. Aquele quarto era sua senzala.

—Boa noite minha senhora, deite-se, vamos começar a providenciar nossa herança. A menina continuou sentada sem se mexer e sem saber o que fazer. Ele tomou seu braço a arrastou-lhe para a cama, subiu sua camisola www.varaldobrasil.com

175


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.