Revista Varal do Brasil - ed 26 - Nov - 2013

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Revista Varal do Brasil - Novembro de 2013

O Macaco da Ilha Por Raquel Sá “Na minha matéria anterior os leitores do varal ficaram conhecendo um cara super bacana. Um cara tipo aventureiro, que não tem medo de arriscar. Falo do macaco Raul Casquilho. Quem não o recorda? Raulzito (apelido carinhoso dado por mim) é inesquecível! É o tipo do cara cativador. Agora vou aqui registrar sua origem”. Essa história aconteceu há bastante tempo. Os portugueses ainda nem tinham nos descoberto e o Brasil era habitado por índios guaranis que falavam a língua tupi. Moravam nas ocas, pescavam peixes dos rios e plantavam sementes para colher seus frutos. O padre Anchieta ainda não tinha os alfabetizados, por isso, os índios viviam em sua pura cultura. Em uma das tribos Raul Casquilho era criado. Chamavam-lhe de Zulú naquela época. Os curumins, que em tupi quer dizer menino, o adoravam. Penteavam Zulú com semente de urucum, que é de onde se extrai um condimento alimentar que se chama colorau, e faziam pinturas em seu corpo só para ele ficar com cara e jeito de índio. Assim, diante de tanto mimo e cuidado Zulú cresceu um macaco inteligente. Tão inteligente que conseguia imaginar e criar coisas. Sabia resolver problemas, mas não falo dos problemas de matemática, e sim, dos problemas da vida que ainda são mais complicados. Quando Zulú atingiu a idade adulta para um macaco não se conformou em ficar na tribo onde cresceu. Queria descobrir novas terras e novos povos. Tinha a intuição de que o mundo era imenso, com coisas diferentes para explorar e aprender. Uma noite quando todos os índios já dormiam Zulú foi escapando de fininho, foi andando em meios passos e saiu em direção ao rio. Pegou a canoa, os remos e perna pra quem te quer, ou seja, remos pra quem te quer. Lá se ia o macaquinho querido! Durante a viagem pensou em seu nome e até que achou que ser “Zulú” era carinhoso. Mas, queria ter um nome mais forte e poderoso. Então pensou e decidiu ser chamado de Raul Casquilho. O tempo foi passando e toda comida que ele tinha dava apenas para uma semana. E nada de ele ver terra firme. Onde estava todo mundo? Deu tanto desespero que apertou-lhe uma dor de barriga tremenda. De repente, por sorte ou espanto de Raul Casquilho, ele passou pela pororoca, que é o encontro da água doce com a água salgada. Então ele estava no mar, tão azul, tão lindo, tão profundo e misterioso. Mas, ao mesmo tempo tão triste. Passando vários dias no mar ele já estava de boca seca (pois detestou a água salgada) e pensava que não iria sobreviver. Até que uma tempestade fez sua canoa virar e ele foi parar em uma ilha no meio do oceano atlântico, com água doce e inúmeras bananeiras. Sentiu saudade dos curumins, mas, não podia se arrepender do seu sonho de ir à procura de coisas novas. Mas, os dias o deixou entediado por está preso sempre em um mesmo lugar, cujo já conhecia por completo. Percebeu que o mundo que queremos conhecer jamais pode ser alcançado. Se Raul Casquilho tivesse consigo caneta e papel naquele momento (pois a sua mochila que hoje é o seu depósito de ideias ele obteve muito depois) escreveria uma carta para os índios dizendo que viesse à sua procura, que ele estava muito infeliz. Mas, por outro lado ele bem sabia que a sua felicidade não estava naquela tribo. Tanto procurou e tanto achou. Não poderia voltar atrás de modo algum. De tanto instigar situações em sua cuca Raul Casquilho percebeu que ninguém entende um cérebro que pensa.

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