10 JÁ jornal de condeixa dez15

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:: TEMA DA CAPA

Educação Intercultural “Somos seres inacabados, que nos completamos através da cultura em constante transformação.” (Geertz 1989) Nos últimos anos, decorrente da descolonização, da integração na Comunidade Europeia e da participação no espaço Schengen, a Escola tem vindo a sofrer alterações significativas no corpo discente com a integração de crianças e jovens (e mesmo professores e outros técnicos), vindos de toda a parte do mundo. Tradicionalmente, em Portugal, a população imigrante vinha das antigas colónias portuguesas em África e do Brasil, e, mais recentemente, são de assinalar os movimentos migratórios da Europa do Leste (INE, 2006). Por estas razões, a Escola tem-se tornado mais multicultural*, nela interagindo, quotidianamente, uma diversidade crescente de culturas e perceções do mundo. A globalização tem acentuado a perceção dessas desigualdades através do caminho para o estreitamento de laços entre povos. A existência de uma população escolar diversificada e heterogénea do ponto de vista sexual, religioso, cultural, social, étnico, linguístico e de nacionalidade, tem-se constituído, desde há algum tempo, num desafio permanente do sistema educativo português. O princípio do direito à diferença foi consagrado na Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986, na alínea d), do Artigo 3º: “Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades e pelos projectos individuais da existência, bem como da consideração e valorização dos diferentes saberes e culturas” (ME, 1986). Neste enquadramento, a Escola tem vindo a sentir a necessidade de se repensar e reformular, adaptando-se à sociedade e às suas constantes mutações, de forma a dar resposta às exigências que esta diversidade cultural acarreta. No início da década de 90, surgiram as linhas orientadoras para a educação intercultural em Portugal,

procurando contribuir com soluções para este desafio da diversidade cultural. Para tal, apareceram programas de educação intercultural nos diferentes ciclos do ensino básico (no início nos 1.º e 2.º ciclos e depois no 3.º ciclo), com o objetivo de centrar na educação os valores de convivência, tolerância, diálogo e solidariedade. Deste modo, passou-se a exigir aos professores as capacidades de interação com culturas diferentes e de promoção de estratégias que facilitem a compreensão e a tolerância entre indivíduos, numa estreita colaboração com as comunidades étnicas minoritárias, acautelando a indiferença à diferença, para que o aluno possa crescer enquanto pessoa, ele que é um ser resultante de vários “eus” e de vários “outros” em constante interação. Segundo Allmen (2004, p. 104), o termo intercultural, resultante da junção do prefixo “inter” com a palavra “cultura”,“implies interaction, exchange, interdependence, and reciprocity (…) requires recognition of values, of life styles as well as of the symbolic representations that individuals and groups refer to in their relationships with each other and in their understanding of the world”. Isto significa, reconhecer uma gama de interações dentro da própria cultura e entre culturas diferentes, que por sua vez são dinâmicas e criativas, na medida em que resultam da apropriação/interpretação que cada indivíduo faz das suas experiências de vida e das relações que estabelece com os outros. Importa, por isso, referir que, fruto destas interações e da forma como percecionamos o modo como as outras pessoas nos veem, assim criamos a nossa identidade, ou seja, o “eu” que somos é também, o espelhamento da imagem que os outros têm de nós, pelo que a nossa identidade passa necessariamente pelo reconhecimento das nossas singularidades por parte dos outros. Esta dinâmica desenvolve-se de forma discreta, e sem que se dê conta de tal facto. Assim, a identidade vai sendo construída pelo contexto e, ao mesmo tempo, definida e regulada pelo mesmo. (Continua)

dezembro de 2015 - JÁ - O Jornal do Agrupamento de Escolas de Condeixa 17


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