Bodoni

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Abril, 2013

OS PRIMEIROS MODERNOS DA HISTÓRIA DA TIPOGRAFIA:

Bodoni

A Bodoni utilizada na revista é o tipo Bauer Bodoni, porém a família tipográfica Bodoni possui muitas variações, dentre as principais: ATF Bodoni, Bodoni Antiqua, Bodoni Old Face, ITC Bodoni Seventy Two, ITC Bodoni Six, ITC Bodoni Twelve, Bodoni MT, LTC Bodoni 175, WTC Our Bodoni, Bodoni EF, Bodoni Classico, e TS Bodoni.

- Allan Haley

Giambattista Bodoni

A tipografia Bodoni ainda é considerada uma das impressões mais refinadas e estruturadas já produzidas.


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Bodoni presente em editoriais de moda

sses tipos fazem parte de um complexo sistema de comunicação, tendo uma função prática, estética e simbólica que transmitem informações aos usuários e neles desencadeiam emoções e interpretações. Cumprindo esse papel tipográfico, o tipo Bodoni, criado há mais de 300 anos, permanece em constante uso, sendo altamente considerado pelos designers por suas características que remetem ao luxo e sofisticação.

“A sufocante feiura das letras Bodoni fazem delas o tipo mais ilegível jamais produzido até hoje” -William Morris “O Pai do tipo moderno” — Nicholas Fabian 01

A TIPOGRAFIA PODE SER MUITO MAIS QUE UM ELO ENTRE FORMA E ESCRITA. OS TIPOS QUE ESTÃO PRESENTES EM CARTAZES, LIVROS E PRODUTOS TRAZEM MUITO MAIS QUE SIMPLES INFORMAÇÃO AO USUÁRIO.

Características Os caracteres criados por Bodoni caracterizam-se, sobretudo pela passagem sutil e cuidadosamente estudada do traço fino ao traço grosso e também pela coexistência de hastes finas e grossas, num jogo de claro e escuro. Com uma alternância estudada do corpo da letra nas linhas dos títulos e um cuidado especial na escolha dos papéis e das tintas, a página é ampla, simples, com margens e espaçamentos entre linhas generosos e grandes áreas da página em branco. A procura de clareza e luminosidade da página é reforçada pelo uso de tipos com altura reduzida e longos ascendentes e descendentes. Esta dialética do branco e negro dos caracteres é claramente neo-clássica.

"Não se obtém das cartas sua verdadeira delícia, quando as fazem com pressa e desconforto, nem simplesmente fazê-las com diligência e dor, mas em primeiro lugar quando elas são criadas com amor e paixão." -Giambattista Bodoni


O Neoclássico O início da transformação tipográfica começa com a origem do alfabeto ocidental formado pelas antigas letras romanas, sendo estas cópias das letras gregas ao sul da Itália. Não foi uma adaptação simples e direta, os romanos tiveram que adaptar algumas delas para simbolizar os sons romanos. As chamadas romanas ganharam sua autonomia cerca de 100 anos depois de Cristo e seu exemplo mais famoso está gravado na Coluna de Trajano em Roma, sendo conhecido pelo nome de capitalis romana. Possuem cerca de dez centímetros de altura e foram pintads no mármore com pincel.

As romanas tinham apenas as letras maiúsculas. As minúsculas foram criadas por Alcuin, bispo de York, contratado por Carlos Magno [742-814] e receberam o nome de carolíngias. Elas tinham a vantagem de serem escritas mais rapidamente do que as maiúsculas e são consideradas as primeiras autênticas caixas-baixas da história dos alfabetos. Não é uma adaptação, mas uma invenção. Destas letras derivaram as blachletters- popularmente conhecidas como letras góticas - que eram usadas lado a lado das romanas desde a criação da imprensa de tipos móveis por Gutenberg em meados do século 15.

O passo evolutivo seguinte foi a criação dos tipos humanistas, minúsculas adaptadas das carolíngias, que tiveram na Itália um desenvolvimento próprio na escrita conhecida como Cancellaresca. É bom lembrar que até Gutenberg todas estas letras eram desenhadas à mão com penas de ponta chata, cortadas retas ou em ângulos. O modo como se segurava a pena, a posição do braço e do corpo em relação à página eram fatores que determinavam o estilo da escrita de cada escrevente. Com o processo de industrialização, e conseqüentemente da mecanização da imprensa, os tipos foram sendo trazidos para o metal levando consigo as características da escrita manual. Mas não por muito tempo. E é aqui que entram Granjean,

Bodoni, um dos primeiros desenhos modernos, o último sobre as formas das romanas

Bodoni e outros profissionais. O caminho de influências e cópias não se restringe à apresentação do alfabeto manuscrito. No século 16 o francês Claude Garamong desenhou seu famoso tipo olhando os desenhos de Francesco Griffo. Por sua vez o também francês Robert Granjon se inspirou em Garamond, e Christopher Plantin, francês estabelecido na Holanda e, que segundo Claudio Rocha “não era tipógrafo e sim impressor e editor, comprava matrizes diretamente de Garamond e Granjon. O tipo que leva seu nome foi produzido no inicio do século 20”, copia idéias editoriais de Grajon. Bodoni por sua vez se espelha nas páginas criadas pelo inglês John Baskerville e nos tipos desenhados por seu rival Firmin Didot e em Fournier. Mais ou menos como hoje em dia Zuzana Licko ou Sumner Stone dirigem seus olhares para mestres do passado e do presente. É nesse filão romano-italiano que localizamos os origens das Bodonis. Suas formas são também originárias do gestual que por 200 anos guardou em seus traços as características determinadas pelo pincel e pela pena caligráfica.

HASTE RETA E COM TERMINÇÃO EM BOLA

Letra manuscrita, desenhada com pincel chato

Garamond, tipo esculpido em metal com base no desenho caligráfico

Baskerville, desenhada com ajuda de instrumentos mecânicos com régua e compasso

SERIFAS EM ÂNGULOS RETOS

SERIFAS COM INCLINAÇÕES DIFERENTES SERIFAS SIMETRICAS

ARCOS CRUZADOS

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Há historiadores que desconsideram a importância das capitalis romanas na formação dos tipos do século 18, e em compensação dão a maior importância aos tipógrafos venezianos como Nicolas Jenson (Frances), Erhard Ratdolt [alemão] e ao impressor Aldus Manutius, cujo escultor de tipos [punchcutter] era o bolonhês Francesco Griffo. Para o historiador inglês Alan Bartram “Aldus representa os intelectuais do renascimento, Garamond a nobreza francesa, e os impressores holandeses as novas classes mercantis” emergentes dos negócios gerados pelos descobrimentos de Colombo e Cabral. Um dos primeiros passos fora do trilho gestual foi dado pela racionalista França, sob Luis XIV. Ele encomendou de Philip Granjean a primeira romana desenhada com base cientifica. Isto é, traçada com régua e compasso, para o imprimérie Royale e que ficou famosa com a denominação Romain Du Roi. O trabalho de Grajean não

Série de 5 romances do escritor Edward St. Aubyn

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resultou num grande desenho, sobre o qual trabalhou Pierre-Simon Fournier criando letras que vieram a influenciar Giambattista na Itália e a família Didot na França. Outro passo foi dado pelo inglês John Baskerville, editor e tipógrafo inglês, de produção importante no período. Bodoni adotou de Baskerville o uso dos espaços vazios e das grandes margens das páginas. Entretanto, para alguns cronistas da tipografia, foi Firmin Didot quem criou o primeir alfabeto moderno em 1784. As características deste tipo são a geometrização das serifas, o eixo vertical [contrariando a natural tendência à inclinação do desenho manuscrito] e a oposição marcante entre as hastes finas e as grossas. Os Didots na França, Walbaum na Alemanha, Bell na Inglaterra e Bodoni na Itália criaram ao mesmo tempo tipos muito semelhantes, mas segunda Alan Halley, “Bodoni não foi um copiador” já que seus tipos revelam-se mais equilibrados nas suas relações formais, incluindo as curvas e as

JUNÇÃO DUPLA E SERIFAS SUPERIORES COM COMBINAÇÃO DE JUNÇÕES RETAS E ARREDONDADAS

BARRA E HASTE ONDULADAS

Bodoni em outros estilos de literatura

dimensões das serifas. Mal comparando os tipos Didone – classificação aceita para os padrões de Didot e Bodoni – resultado da geometrização radical dos padrões das romanas, seriam para a tipografia o equivalente aos primeiros edifícios de Walter Gropius e Peter Behrens: austeros e puros, mas ainda com alguns ornamentos clássicos em suas fachadas. A elegância formal de Bodoni, que pode ser entendida como uma ponte cultural entre o renascimento e o mundo moderno, antecipa as transformações que a revolução industrial vai provocar na sociedade. Hoje devemos olhar para ela com respeito e curiosidade, de modo que possamos entender que todo desenho e todo design representa com precisão a sensibilidade de seu tempo.


O escritor britânicoTed Hughes demonstra sua preferência pela Bodoni em suas obras

PERNA CURTA

Giambattista Bodoni B

odoni nasceu no dia 16 de fevereiro de 1740 na cidade italiana de Saluzzo. Foi contemporâneo de Wolfgang Mozart, de Johann Sebastian Bach, conviveu com o início da Revolução Industrial e com a instalação dos primeiros altos- fornos na Inglaterra. Bodoni não era um simples criador de tipos. Segundo Allan Haley, cronista de tipografia da revista Step-by-Step “era em primeiro lugar impressor e tipógrafo, e em segundo um designer de tipos. Bodoni desejava criar belas páginas e seus tipos eram simplesmente um meio de atingir este fim”. Foi seu pai quem lhe ensinou o ofício de impressor. Adolescente, decide morar em Roma para trabalhar na imprensa do Vaticano. Porém, abalado com a morte de seu mentor e chefe, decide tentar a sorte em Londres. Em 1768

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torna-se diretor da gráfica que o duque Fernando, infante da Espanha, fundou em Parma, sendo ali supervisor de publicações de livros como a Ilíada, de Homero, e centenas de outras obras. Foi o autor do primeiro manual tipográfico moderno com caracteres romanos, o Manuale Tipográfico com 142 tipos de letras romanas e seus correspondentes itálicos, sendo no segundo volume incluso numerosos ornamentos árabes, gregos, russos e tibetanos. Iniciado no final do século 18, impresso em 1818, por sua esposa Margherita Dall’Aglio, depois de sua morte. Tournou-se conhecido por seus desenhos de caracteres tipográficos considerados mais aptos "para serem admirados por fonte e layout e não para serem estudados ou lidos". Sua impressão reflete um estilo estético simples, sem adornos, combinado com pureza de materiais. Este estilo atraiu muitos admiradores e imitadores, ultrapassando a popularidade dos tipógrafos franceses, como Philippe Grandjean e Simon Pierre Fournier.

ORELHA CURVADA PARA BAIXO

ESPORAS HORIZONTAIS COM SALIÊNCIA CÔNCAVA

SERIFA UNILATERAL NA BASE DA HASTE

HASTES CRUZADAS E SERIFAS FECHADAS


CAUDA CENTRAL CURVADA VÉRTICE ABERTO E BARRA GROSSA

SERIFAS COM CURVATURA INTERNA ACENTUADA

Utilização da tipografia na indústria da Moda e perfumarias VÉRTICE UM POUCO ACIMA DA LINHA DE BASE

CALDA LIGEIRAMENTE ENTORTADA CABEÇA TRIANGULAR CÔNCAVA

ABERTURA GRANDE E AUSÊNCIA DE ESPORA

CABEÇA DIAGONAL

CAUDA AFILADA E TERMINAL COM BOLA

Aplicação da Bodoni na indústria fonográfica e cinematográfica

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Utilizada também em instituições de ensino


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