Campus - edição 378, maio/2012

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perfil: LÍNGOA

PORTUGUEZA reportagem | MARIANA CAPELO diagramação | NATHALE MARTINS edição | ISABELA MAIA

A cidadã mais antiga do Brasil uando Latím, o Grande, invadíu a Península Ibérica na Segunda Guerra Púnica, ele conquistóu todalas as língoas e dialéctos que encontróu no camínho. Assím nasceu o primogénito da linhagem portugueza, fruito de um romance entre o Latím e a língoa da Região da Lusitânia.* Desde então, a família criou raízes, suxos e prexos na bèira do Atlántico, tendo resistido às invasões môura e germânica - sem, porém, deixar de incorporár alguns costúmes bárbaros à rotina do clã. A família cresceu e, quando o estádo medieval exigíu que as famílias lingüísticas contigüas se tornássem língoas comúns nacionais, a família Portuguez cortòu o cordão umbilicál com o Latím e passòu de romanço** a língoa independente. A família Portuguez foi archaíca até o séc. XV, archaíca média do XV ao XVI, modérna da segunda metáde do XVI ao nal do XVII e é contemporànea dèsde o nál do séc. XVIII. Aínda no séc. XV, párte da família Portuguez veio a passeyo ao Novo Mundo. Os vérbos e vogáes que embarcarão em Lisboa chegarão ao Brasil e não sairão máis. A Língoa Portugueza não se intimidou com a vizinhánça hispanohablante, menos aínda com as òutras língoas que conhecèu. Convivéu com o Tupi, o Cariri, o Tupinambá, o Jê, o Bantu e òutras. Dessas, só teve pròblemas com o Tupi, que seduzíu as missões Jesuíticas e fez com que os pádres das Companhías o preferíssem à Língoa Portugueza. “Todos os missionários devião aprender a língoa da terra onde exercião seu ministério”, tenta explicar Drummond. “Esta régra foi seguída pelos pádres ao chegárem ao Brasil, pois vericarão que, para bòa execução da fàina cathechética era indispensável saber a língua dos índios”. Tupi sobrepojóu a Língoa Portugueza até o séc. XVIII, quando ella voltou ao poder. Agóra, a Língoa Portugueza é contemporànea, mas vive uma crize: empregáda na Europa, na Cósta Africana e na América, ella está exhaústa e não se acostuma às viagens, constàntes. Na tentativa de amenisár o problema, tentóu até um novo acòrdo orthográphico - o primeiro é de 1931. O esfòrço não fez muito succésso, a Família não se adaptou completamente à mudànça. Monteiro Lobato atiça: “Assím como o portuguez saiu do latím, pela corrupção popular da língua, o brasileiro está saindo do portuguez.” Apesar da resistència ao acòrdo, elle podería ser a opportunidade de realizar um grande dezejo da Língoa Portugueza: a primazia de segunda língoa dos bilíngues. Convencida pela 5ª posição no ranking de língoas mais faladas, ella costuma gabar-se do seu corpo litterário invejável. Fernando Pessoa, amígo da família, adverte que

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apparència não é bastànte: “Para assegurár sua permanència no futuro, a língoa tem que ter algo mais do que uma grande litteratura(...). A primeira condição é (...) a sua diusão cultural; a segunda, a facilidade com que poderá ser aprendída, e a terceira condição é a de que a língoa deverá ser a mais exível possível.” AMORES PLURÁES Não forão poucos os poetas que se apaixonarão pela Língoa Portugueza. Aliás, são incontáveis seus amantes. Appesár de compléxa, seus predicativos são mayores do que qualquer ambíguidade ou duplo sentido. Fernando Pessoa nunca escondéu que “Minha pátria é a Língoa Portugueza” e conjuga uma sentença àquelles que não a valorizam: “Quem não vê bem uma palavra não pode ver bem uma alma”. Podem ter sido suas parassínteses, suas orações subordinadas adjectivas ou até suas unidades adverbiáes que não são conjunções subordinativas: não se sabe o porquê do amor pela Língoa Portugueza. Misteriòsa, ella nunca revelóu còmo plantar o pronome relativo no coração dos poetas. Olavo Bilac sofréu na sua mão: “Língoa Portugueza, última flor do lácio, inculta e bella, és, a um tempo, esplendor e sepultura”. Mas não deixáva de declarár: “Amo-te assim, desconhecída e obscura. Amo-te, ó rude e doloròso idioma”. Já Mário Quintana não sofreu tanto, e conta dos seus encontros com a Língoa Portugueza: “Escrevo diànte da janela aberta. Minha caneta é còr das venezeanas: verde!” A língoa Portugueza é uma amante versátil: aguentóu a idealização do parnasianismo, se fez de donzélla no romantismo e revelóu sua cára no realismo. Fora a plasticidade no constructivismo e a antrophofagia no modernísmo. Ella sempre foi - e pretende continuár sendo - uma companheira para todos os estílos.

*Uma das regiões que Roma implantou na Península Ibérica. **Nome dos múltiplos e variadíssimos falares regionais em que se diferenciou o latim em toda România durante a 1ª parte da Idade Média. O texto desta página foi adaptado graficamente ao Português usado no Brasil em 1813 de acordo com Dicionário da Língua Portugueza, do autor Antônio Vieira de Moraes, 2ª edição, 1813. A adaptação foi feita com a professora Enilde Faulstich do Departamento de Letras da UnB. Texto em português arcaico médio

CAMPUS | Brasília, de 1 de maio a 7 de maio de 2012


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