SOBRE A TEORIA PARA A ORIGEM DA VIDA DE STUART KAUFFMAN

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Ana Maria de Sousa Leit˜ ao

Sobre a Teoria para a Origem da Vida de Stuart Kauffman

Disserta¸c˜ao de Mestrado Mestrado em Evolu¸c˜ao e Origem da Vida Universidade do Minho

outubro 2008


T´ıtulo da Tese: Sobre a teoria para a origem da vida de Stuart Kauffman Aluno: Ana Maria de Sousa Leit˜ao

resumo

Desde finais da d´ecada de 1960, o bi´ ologo Stuart Kauffman tem vindo a desenvolver uma teoria para a origem da vida onde a Matem´atica tem alguma relevˆancia, em especial a teoria de grafos aleat´ orios, desenvolvida poucos anos antes por Paul Erd¨os e Alfr´ed R´enyi. Este trabalho inicia-se com a teoria cl´assica de Kauffman, baseada nos seus trabalhos at´e 1995, e os argumentos daqueles que tˆem vindo a contestar essas ideias. Nesta apresenta¸c˜ao ´e dada particular aten¸c˜ao aos aspectos computacionais, tendo sido trabalhados alguns exemplos que ilustram as caracter´ısticas essenciais da proposta de Kauffman. De seguida s˜ao mencionados alguns avan¸cos ap´os 1995, com destaque para algumas generaliza¸c˜oes dos modelos matem´aticos iniciais, muitos deles concebidos exactamente como resposta aos seus cr´ıticos. Por fim, s˜ao abordadas algumas consequˆencias que a teoria de Kauffman sugere, em oposi¸c˜ao ao que as actualmente aceites teorias para a origem da vida prop˜oem. Neste ˆambito s˜ao avan¸cadas algumas ideias de poss´ıvel trabalho futuro nesta linha de investiga¸c˜ao.


Thesis: On the theory for the origin of life of Stuart Kauffman Student: Ana Maria de Sousa Leit˜ao

abstract

Over the past four decades, the biologist Stuart Kauffman has been working on a theory for the origin of life where Mathematics assumed a relevant role, in particular the random graph theory, initiated some years before by Paul Erd¨os e Alfr´ed R´enyi. This thesis begins with a presentation of the classic theory of Kauffman, from his results until 1995, and the arguments of some of its critics. Here, is given special importance to the computational aspects, being the most important aspects of Kauffman theory illustrated with examples. Next, we show how the mathematical models had been generalized in order to answer some of the critics mentioned before. Finally, we discuss some of the consequences of Kauffman’s theory as opposed to the common accepted theories for the origin of life. Then, we give some ideas for future work.


No meu mundo de Utopias, A Ciˆencia continua com o poder das verdades mut´aveis. No meu mundo de sonho, a Ciˆencia ainda se mistura com a Arte, com o prazer de inventar, desvelar, conhecer e criar.

Por este motivo dedico esta minha tese a dois grandes homens de saber e a uma grande mulher de armas: Professor Hernˆ ani Maia, pelo incentivo ao estudo de uma das verdadeiras quest˜oes da humanidade. Doutor Ricardo Severino, pela sua capacidade de tornar o dif´ıcil em f´acil e por ter acreditado na capacidade de uma cientista com dotes de artista. minha M˜ ae, Maria Julieta Br´as de Sousa, que, mais que ningu´em, acredita no meu ser.

iv


conte´udo

introdu¸c˜ao

1

primeira parte

5

a procura de uma origem: os primeiros mitos

7

a procura de uma origem: o pensamento racional

14

as dificuldades de uma teoria cient´ıfica

25

a g´enese cient´ıfica

27

segunda parte

37

forma¸c˜ao de um sistema aberto autocatal´ıtico

37

modelo cl´assico de redes RBN de Kauffman

54

coment´arios `a teoria de Kauffman

89

v


terceira parte

91

formalismo matem´atico para o grafo de reac¸c˜oes

91

distˆancia de Hamming

98

diferentes topologias

108

diferentes modos de actualiza¸c˜ao do sistema

110

fun¸c˜oes canalisadoras

120

quarta parte

125

cristais de argila

125

vida noutros planetas

129

doen¸cas imunit´arias

131

conclus˜oes

133

bibliografia

137

sexta parte

147

anexo A

147

anexo B

199

anexo C

203

vi


introdu¸c˜ao

Durante este mestrado, a origem da vida nunca me foi revelada, mas a necessidade de reflex˜ao sobre esta origem em muito foi acrescentada. Nesta minha tese irei expor aquela que me parece a vis˜ao mais globalizante e menos restritiva de todas vis˜oes at´e agora apresentadas. A teoria de Kauffman e aperfei¸coada por outros ser´a foco central de toda a tese. Iniciarei a tese com uma breve introdu¸c˜ao `a necessidade humana de desvelar solu¸c˜oes para a existˆencia, para a vida. Suavemente procurarei chegar `a vis˜ao cient´ıfica predominante, evidenciando de certo modo as suas virtudes e fragilidades, conduzindo o racioc´ınio para a necessidade da vis˜ao de Kauffman, para o qual a vida j´a nasce complexa e torna-se mais complexa. Com base nesta ideia farei uma descri¸c˜ao do qu˜ao vi´avel ´e a existˆencia de sistemas abertos autocatal´ıtico, introduzindo um conceito de rede complexa e de sistemas de Redes Boleanas Aleat´ orias (RBN), para os quais explicarei todo o funcionamento intr´ınseco da rede, a validade dos seus resultados e o significado dos mesmos. Para refor¸car a teoria investigada, apresentarei um conjunto de resultados obtidos mediante a constru¸c˜ao de pequenos programas computacionais realizados com base no sistema de


programa¸c˜ao Matem´atica, para K = 2, K = 3, K = 4 e a sua respectiva an´alise. Atrav´es destes ´e poss´ıvel observar-se a transi¸c˜ao de fase entre um sistema ca´otico e um sistema ordenado, o limiar do caos, que favorece a existˆencia de vida. Mais tarde, mostrarei os argumentos de um dos maiores cr´ıticos da teoria de Kauffman, Shneior Lifson, confortando-a posteriormente com a contra cr´ıtica/ solu¸c˜ao de Mike Steel. Seguidamente, ser˜ao expostas varia¸c˜ oes ao modelo de RBNs de Kauffman, sendo estas de car´acter topol´ ogico, ou uma actualiza¸c˜ao da rede ao longo do tempo, ou ainda atrav´es de fun¸c˜oes catalizadoras. Por ultimo darei algumas sugest˜oes para a utiliza¸c˜ao de sistemas autocatal´ıticos de modo a resolver algumas das quest˜oes tanto da origem da vida na terra, como noutros planetas, bem como a aplica¸c˜ao deste tipo de sistemas na resolu¸c˜ao de quest˜oes de outras ´areas da Ciˆencia. Finalizando, concluirei com a importˆancia e relevˆancia de um pensamento como o de Kauffman para a Ciˆencia actual e para o estudo da origem da vida. Porque a simula¸c˜ao computacional assume um papel muito relevante neste dom´ınio, ao longo deste trabalho foram sendo escritos programas em linguagem Mathematica que me permitiu acompanhar os resultados apresentados por Stuart Kauffman e outros autores e, sempre que poss´ıvel, foram tentadas varia¸c˜oes dos mesmos numa tentativa de melhor evidenciar os resultados em causa. Gostaria no entanto de sublinhar que os recursos computacionais usados foram muito modestos comparados com aqueles que possibilitaram a publica¸c˜ao dos resultados pelos seus autores, mas ficar´a sempre a satisfa¸c˜ao de ter aprendido uma nova e muito poderosa linguagem de programa¸c˜ao e com ela ter observado alguns dos principais fen´ omenos que est˜ao na base das hip´oteses avan¸cadas por Stuart Kauffman. Aqueles programas considerados mais relevantes s˜ao apresentados em anexo a este trabalho.

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primeira parte

H´a muitos, muitos, muitos, muitos anos atr´as, quando ainda n˜ao existia nem tempo, ´ nem espa¸co, tudo era somente Agua, Caos e Leis. As Leis eram conhecidas como Deuses; possuindo corpos gigantes e cabelos feitos de linho, pouco a pouco, tentaram fazer a Ordem.

No mundo das Leis dominava Olodumare, a lei suprema, e com ele viviam Orishala, Yo-ko-mat-is e seus irm˜aos e a mulher que sonhava sonhos.

Certa vez, a mulher que sonhava sonhos sonhou com uma ´arvore que trazia a Luz. Correndo, foi contar a Olodumare o seu sonho. Olodumare, sabendo o poder dos sonhos, resolveu mandar Orishala criar a Terra e nela plantar uma ´arvore. Obediente, Orishala preparou a mala para a grande viagem.


E na mala Orishala colocou uma concha de tartaruga cheia de Terra, uns pedacitos de ferro, uma galinha de cinco dedos e uma semente de Palmeira. ´ E, atrav´es de uma corrente de ouro, desceu do Lugar das Leis at´e `a superf´ıcie da Agua. ´ Sobre a Agua, Orishala colocou a concha de tartaruga cheia de Terra, ancorada com os pedacitos de ferro. E sobre a Terra, Orishala derramou o sangue espesso da galinha de cinco dedos, fertilizando-a. E a´ı deixou a semente de Palmeira.

Ap´ os esta tarefa, havia que criar a Ordem e as direc¸c˜oes e Olodumare enviou Yo-ko-mat-is e os seus irm˜aos estender quatro cordas, de quatro cores diferentes. E assim criando as diferentes direc¸c˜oes.

Mas neste processo o C´eu quase caiu sobre a Terra. Ent˜ao, Olodumare ordenou a constru¸c˜ao de nove pilares, para que o C´eu e a Terra se mantivessem eternamente separados.

Com tanta az´afama, Olodumare ficou mal disposto e vomitou. Deste v´ omito nasceu o Sol e a Lua e as estrelas. Olhando o fogo do Sol e da Lua e das estrelas, Olodumare colocou-os no C´eu para criar o Tempo, a sucess˜ao dos dias e noites. Aqui a Luz apareceu na Terra.

Mas a Terra estava vazia, nela existia t˜ao s´o uma Palmeira. Para a preencher, Olodumare pediu a Obtala para criar os homens, os animais e as outras plantas. Este assim o fez. 5


´ E da argila nascida do cruzamento da Agua e da Terra, Obtala criou os homens, os animais e as outras plantas. Possuindo o seu corpo, Olodumare deu-lhes Vida.

E foi assim, seguindo o destino ditado por Olodumare, que nasceu a Ordem e a Vida em todo o seu esplendor.

´ Interpreta¸c˜ao livre de mitos da cria¸c˜ao dos Yoruba, grupo ´etnico que vive na Africa Ocidental, na sua grande maioria na Nig´eria, cuja presen¸ca nessa regi˜ao remonta j´a h´a v´arios mil´enios.

a procura de uma origem: os mitos O ponto de partida para a vida ´e algo que, desde h´a muito, intriga o Homem, muito possivelmente mesmo desde que este tomou consciˆencia da sua efemeridade. Esta ideia, que os mitos mais antigos s˜ao, na realidade, a express˜ao genu´ına de uma procura de respostas a quest˜ oes fundamentais, tomou forma apenas em finais do s´eculo XIX, com a ´ Antropologia do Sagrado, fundada com os trabalhos de Emile Durkeim, Rudolf Otto e, principalmente, com o Tratado de Hist´ oria das Religi˜oes, publicado em 1949, por Mircea Eliade, [Eli92]. Tal como nos diz Alfonso di Nola, [dN87], estamos perante uma perspectiva totalmente nova, onde, se privilegia (...) no mito o momento criador fant´astico — n˜ao numa negatividade do incr´ıvel, mas numa densa consistˆencia de explica¸c˜oes diversas das racionais. ´ essa surpreendente consistˆencia nos diferentes mitos da cria¸c˜ao, referida por di Nola, E que Mircea Eliade nos revela na primeira parte do seu tratado. De uma forma muito rigorosa, Eliade estuda os mitos mais antigos para chegar `a conclus˜ao que todas essas explica¸c˜oes tˆem um denominador comum, que de alguma forma parecem corresponder a um mesmo est´adio no desenvolvimento do esp´ırito humano. Neste ponto gostaria de citar as pr´oprias palavras de Eliade, quando destaca o ponto de maior significado nos mitos da cria¸c˜ao mais antigos: a evoca¸c˜ao de uma entidade celeste respons´avel por um 6


extraordin´ario momento criador.

O que est´a completamente fora de d´ uvida ´e a quase universalidade das cren¸cas num ser divino celestial, criador do universo e assegurador da fecundidade da Terra (gra¸cas `as chuvas que derrama). Esses seres s˜ao dotados de uma presciˆencia e de uma sabedoria infinitas; as leis morais e frequentemente os rituais do cl˜a foram por eles instauradas durante a sua breve permanˆencia na Terra; velam pela observˆancia das leis e todo aquele que se lhes op˜oe ´e fulminado.

Como nos sugere Eliade, a escolha de um ser divino celeste ´e justificada desde logo na diferen¸ca do sentir que o simples olhar da ab´obada celeste provoca.

Sem precisarmos sequer de atentar na efabula¸c˜ao m´ıtica, o C´eu revela directamente a sua transcedˆencia, a sua for¸ca e a sua sacralidade. A simples contempla¸c˜ao da ab´ obada celeste provoca na consciˆencia primitiva uma experiˆencia religiosa. Uma afirma¸c˜ao como esta n˜ao implica necessariamente um naturismo uraniano. Para a mentalidade arcaica, a natureza nunca ´e exclusivamente natural. A express˜ao simples contempla¸c˜ao da ab´obada celeste toma um sentido diferente se a relacionarmos com um homem primitivo de tal modo sens´ıvel aos milagres quotidianos que nos ´e hoje dif´ıcil de imaginar, pois essa contempla¸c˜ao equivale a uma revela¸c˜ao. O C´eu revela-se tal como ´e na realidade: infinito, transcedente. A ab´obada celeste ´e, por excelˆencia, uma coisa muito diferente do pouco que representa o homem e o seu espa¸co vital. Dir´ıamos que o simbolismo da sua transcedˆencia se deduz da simples tomada de consciˆencia da sua altura infinita. O ser alt´ıssimo ´e algo que se torna necessariamente num atributo da divindade. As regi˜oes superiores, inacess´ıveis ao homem, as zonas siderais, adquirem os prest´ıgios divinos do transcendente, da realidade absoluta, da perenidade. Tais regi˜oes s˜ao a morada dos deuses; ´e a´ı que chegam alguns privilegiados pelos ritos de ascen¸c˜ao celeste; at´e a´ı se elevam, segundo as concep¸c˜oes de certas religi˜oes, as almas dos mortos. O alto ´e uma dimens˜ao inacess´ıvel ao homem como tal; pertence por direito `as for¸cas e aos seres sobre-humanos; o que se eleva subindo cerimoniosamente os 7


degraus de um santu´ario ou a escala ritual que conduz ao C´eu deixa ent˜ao de ser um homem; as almas dos defuntos privilegiados abandonaram a condi¸c˜ao humana na sua ascen¸c˜ao celeste. Tudo isto ´e deduzido da simples contempla¸c˜ao do C´eu; mas seria erro grave considerar essa dedu¸c˜ao como uma opera¸c˜ao l´ogica, racional. A categoria transcendental da altura, do supraterrestre, do infinito, revela-se ao homem integral, tanto `a inteligˆencia como `a sua alma. O simbolismo ´e um dado imediato da consciˆencia total, ou seja, do homem que se descobre como tal, do homem que toma consciˆencia da sua posi¸c˜ao no universo; estas descobertas primordiais est˜ao ligadas de maneira orgˆanica ao seu drama que o mesmo simbolismo determina tanto a actividade do seu subconsciente como as mais nobres express˜oes da sua vida espiritual.

Depois do ser divino celeste, o segundo ponto fundamental das primeiras explica¸c˜oes do acto da cria¸c˜ao ´e aquilo a partir do qual tudo emerge1 . Uma vez mais, atente-se no que, a esse respeito, nos diz Eliade.

Princ´ıpio do indiferenciado e do virtual, fundamento de toda a manifesta¸c˜ao c´osmica, recept´aculo de todos os g´ermenes, as ´aguas simbolizam a substˆancia primordial de que nascem todas as formas e para a qual voltam, por regress˜ao ou cataclismo. Elas foram no princ´ıpio, elas voltar˜ao no fim de todo o ciclo hist´orico ou c´osmico; elas existir˜ao sempre — se bem que nunca s´os, porque as ´aguas s˜ao sempre germinativas, guardando na sua unidade n˜ao fragmentada as virtualidades de todas as formas. Na cosmogonia, no mito, no ritual, na iconografia, as ´aguas desempenham a mesma fun¸c˜ao, qualquer que seja a estrutura dos conjuntos culturais nos quais se encontram: elas precedem qualquer forma e suportam qualquer cria¸c˜ao. A imers˜ao na ´agua simboliza o regresso ao pr´e-formal, a regenera¸c˜ao total, um novo nascimento, porque uma imers˜ao equivale a uma dissolu¸c˜ao das formas, a uma reintegra¸c˜ao no modo indiferenciado da pr´e-existˆencia; e a emers˜ao das ´aguas re1 Repare-se que a ideia de uma cria¸c˜ ao a partir do nada ´e algo muito mais elaborado e, portanto, muito mais tardio.

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pete o gesto cosmog´ onico da manifesta¸c˜ao formal. O contacto com a ´agua implica sempre a regenera¸c˜ao; por outro lado, porque `a dissolu¸c˜ao se segue um novo nascimento; por outro lado, porque a imers˜ao fertiliza e aumenta o potencial de vida e de cria¸c˜ao. A ´agua confere um novo nascimento por um ritual inici´atico, ela cura por um ritual m´agico, ela assegura o nascimento post mortem por rituais funer´arios. Incorporando nela todas as virtualidades, a ´agua torna-se um s´ımbolo de vida. Rica em g´ermenes, ela fecunda a terra, os animais, a mulher. Recept´aculo de toda a virtualidade, fluida por excelˆencia, suporte do devir universal, a ´agua ´e comparada ou directamente assimilada `a Lua. Os ritmos lunares e aqu´aticos s˜ao orquestrados pelo mesmo destino; dirigem o aparecimento e desaparecimento peri´odico de todas as formas, d˜ao ao devir universal uma estrutura c´ıclica. Mas quais podem ser as fontes para estes estudos dos primeiros mitos? Como nos diz Jean-Pierre Vernant, mem´ oria, oralidade, tradi¸c˜ao, s˜ao (...) as condi¸c˜oes de existˆencia e de sobrevivˆencia do mito. E ´e assim que vemos Eliade, e muitos dos outros que o seguiram, a orientar os seus estudos para as narrativas tradicionais dos povos sem escrita. O universo mental dos mundos arcaicos n˜ao chegou at´e n´os dialecticamente nas cren¸cas expl´ıcitas dos indiv´ıduos, mas conservou-se nos mitos, nos s´ımbolos e costumes que, apesar de todo o g´enero de degrada¸c˜ao, deixam ver ainda claramente o seu sentido original. Em certo sentido, representam f´osseis vivos, e por vezes basta um s´ o f´ ossil para que possamos reconstruir o conjunto orgˆanico de que ele ´e o vest´ıgio. No entanto, n˜ao se pense que ´e tarefa f´acil, o estudo dessas narrativas. Veja-se ainda o que nos diz Jean-Pierre Vernant a esse respeito. A narrativa m´ıtica (...) n˜ao ´e apenas, como o texto po´etico, poliss´emica em si mesma pelos seus planos m´ ultiplos de significa¸c˜ao. N˜ao est´a fixada numa forma definitiva. Tem sempre variantes, vers˜oes m´ ultiplas que o contador encontra `a sua disposi¸c˜ao, que ele escolhe em fun¸c˜ao das circunstˆancias, do p´ ublico ou das suas preferˆencias, e onde ele pode suprimir, acrescentar, modificar se lhe apetece. 9


Enquanto uma tradi¸c˜ao oral de lendas se mantiver viva, enquanto ela agir sobre as maneiras de pensar e os costumes de um grupo, ela mexe: a narrativa mant´em-se em parte aberta `a inova¸c˜ao. O que (...) interessa ao historiador e ao antrop´ologo, ´e o plano intelectual subjacente de que o fio da narrativa ´e testemunho, o quadro em que ´e tecido, o que provavelmente n˜ao ´e detect´avel sen˜ao atrav´es da compara¸c˜ao das narrativas, pelo ` diversas mitologias aplicamjogo das suas diferen¸cas e das suas semelhan¸cas. As se, com efeito, as oberva¸c˜ oes que Jacques Roubaud formula com muita clareza sobre os poemas hom´ericos com o seu elemento lend´ario: ”N˜ao s˜ao s´o narrativas. Elas encerram o tesouro de pensamentos, de formas lingu´ısticas, de imagina¸c˜oes cosmol´ ogicas, de preceitos morais, etc., que constituem a heran¸ca comum dos Gregos da ´epoca pr´e-cl´assica.” Com as suas pesquisas realizadas entre povos primitivos sem escrita, Eliade tenta entender os aspectos simb´ olicos e espirituais dos comportamentos rituais, considerados como experiˆencias do ser humano nas suas diferentes tentativas para transcender a sua condi¸c˜ao e tomar contacto com a realidade u ´ltima. Contudo, como facilmente se se apercebe, essa linha de pesquisa retira os mitos do seu contexto temporal. Quando ter˜ao ent˜ao esses primeiros homens encontrado nessas explica¸c˜oes uma forma de organizar a sua rela¸c˜ao com essa realidade u ´ltima? Caminhando no sentido dos tempos mais remotos, `a procura de vest´ıgios pass´ıveis de serem identificados como s´ımbolos religiosos, chegamos facilmente ao Neol´ıtico, cerca de 10.000 anos atr´as, portanto, `a pr´ opria pr´e-hist´oria. Naturalmente que muitos dos artefactos encontrados, uma consequˆencia directa da pr´opria revolu¸c˜ao de comportamentos que associamos a esse per´ıodo da hist´ oria, nos revelam apenas que j´a nessa altura o homem tinha com o sagrado uma rela¸c˜ao muito importante. Da necessidade da introdu¸c˜ao de cultos do nascimento, da fertilidade e da morte, bem como da venera¸c˜ao de deuses e semi-deuses a eles directamente ligados, s˜ao testemunhos os grandes menires (falos), cromeleques e d´ olmenes, os mais simples dentre eles datados de h´a 6.000 anos. Voltemos de novo a Eliade e atentemos na reflex˜ao que tais monumentos megal´ıticos, como s´ımbolos do sagrado, lhe sugerem. 10


A dureza, a rudeza, a permanˆencia da mat´eria representam para a consciˆencia religiosa do primitivo uma hierofania. Nada de mais imediato e mais aut´onomo na plenitude da sua for¸ca, nada de mais nobre e mais terrificante do que o majestoso rochedo, o bloco de granito audaciosamente erecto. Antes de mais a pedra ´e. Ela permanece sempre igual a si pr´opria e subsiste. O rochedo revela-lhe qualquer coisa que transcende a precaridade da sua condi¸c˜ao humana: um modo de ser absoluto. A sua resistˆencia, a sua in´ercia, as suas propor¸c˜oes, tal como os seus contornos estranhos, n˜ao s˜ao humanos: eles atestam uma presen¸ca que fascina, aterroriza, atrai e amea¸ca. Na sua grandeza e na sua dureza, na sua forma ou na sua cor, o homem encontra uma realidade e uma for¸ca que pertencem a um mundo diferente do mundo profano de que ele faz parte. Contudo, hoje aceita-se uma interpreta¸c˜ao m´agico-sagrada de algumas das pinturas e gravuras datadas do Paleol´ıtico Superior, h´a cerca de 25.000 a 15.000 anos, o que nos levaria a recuar a emergˆencia do sagrado no Homem de uma forma extraordin´aria, fazendo, de alguma forma, coincidir a origem da arte primitiva, com a consciˆencia do sagrado.

Com o advento da escrita, e com ela o aparecimento de castas sacerdotais que os protegem e explicam, alguns dos mitos mais antigos ficaram cristalizados nos textos religiosos de muitas das mais importantes civiliza¸c˜oes que ao longo dos s´eculos floresceram2 . Um exemplo disso ´e o hino 121 do livro I do Rigveda, escrito na ´India, por volta dos s´eculos IX e VII, a.C., que, como nos diz Maurilio Adriani na sua Hist´oria das Religi˜oes, ´e consagrado a Kah, o deus-desconhecido, refract´ario a qualquer denomina¸c˜ao e, precisamente por isso, intu´ıdo como for¸ca geneticamente primordial.

2 De facto, mesmo para as religi˜ oes contemporˆ aneas, n˜ ao ´e muito dif´ıcil identificar nos seus livros sagrados algumas das caracter´ısticas apontadas por Eliade para os primeiros mitos.

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Qual g´ermen de ouro, surgiu no princ´ıpio; apenas nascido, foi o u ´nico senhor de tudo o que tem existˆencia. A terra ele sust´em, e o c´eu: a qual deus devemos prestar homenagem com a obla¸c˜ao? ` Aquele que d´a a respira¸c˜ao, que d´a o vigor, a cuja vontade todos obedecem, `a sombra do qual est´a a imortalidade e a morte: a qual deus devemos prestar homenagem com a obla¸c˜ao? ` Aquele que pela sua grandeza se tornou u ´nico soberano daquilo que respira e que se abandona ao sono; que ´e senhor do b´ıpede e do quadr´ upede: a qual deus devemos prestar homenagem com a obla¸c˜ao? ` Aquele que por cuja grandeza estes montes nevados existem, e se diz existir o mar juntamente com a Rasa3 ; os dois bra¸cos do qual s˜ao os dois pontos cardeais: a qual deus devemos prestar homenagem com a obla¸c˜ao? ` Aquele pelo qual o poderoso c´eu e a terra foram fixados, pelo qual foi estabelecida a luz e a ab´ obada celeste; Ele que no espa¸co interm´edio foi quem colocou o ´eter: a qual deus devemos prestar homenagem com a obla¸c˜ao? E quando as grandes ´aguas se derramaram, levando consigo o todo, gerando Aghni4 , da´ı Ele se levantou, u ´nico esp´ırito vital dos deuses: a qual deus devemos prestar homenagem com a obla¸c˜ao? Longe de n´ os o mal d’Aquele que foi gerador da terra, o procriador do todo, Ele cujos decretos s˜ao verdadeiros, o c´eu; Ele, o originador das ´aguas cintilantes e infinitas a qual deus devemos prestar homenagem com a obla¸c˜ao?

3

O rio que circunda a terra.

4

O deus do fogo.

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a procura de uma origem: o pensamento racional Se, como ´e amplamente reconhecido, o trabalho de Mircea Eliade ´e considerado fundamental para o entender da emergˆencia do sagrado, o mesmo se poder´a afirmar relativamente `a Hist´ oria da Ideia de Natureza, escrita pelo fil´osofo e historiador das ciˆencias francˆes Robert Lenoble, em 1969, [Len90], onde ´e apresentada uma reflex˜ao muito profunda sobre o surgimento de uma metodologia inteiramente nova de interrogar a natureza e, a partir da´ı, formular explica¸c˜oes para os seus fen´omenos: o m´etodo cient´ıfico. E a primeira d´ uvida levantada Lenoble ´e precisamente a relativa ao princ´ıpio, `a origem dessa procura racional para os fen´ omenos da Natureza. Nas obras do s´eculo XVIII e do s´eculo XIX, onde se fala da hist´oria das ciˆencias encontrar-se-´a quase inevitavelmente uma frase como esta: a antiga f´ısica n˜ao tinha acumulado sen˜ao nuvens; mas com Bacon e Descartes come¸ca a observa¸c˜ao da Natureza. Entende-se ent˜ao que, antes do s´eculo XVII, os f´ısicos se contentavam com repetir Arist´ oteles e nunca tinham pensado em olhar para a Natureza. Depois dos trabalhos de P. Duhem, as coisas parecem mais complexas. N˜ao s´ o se descobriram, afora Ptolomeu que j´a era conhecido, os nominalistas da Idade M´edia, como Jean Buridan, e os pr´e-modernos, como Giambattista della Porta, como tamb´em se compreendeu o imenso esfor¸co de observa¸c˜ao e organiza¸c˜ao que deveria ter provido o pr´ oprio Arist´oteles — o antigo bode expiat´orio da hist´oria das ciˆencias — para construir, contra os mitos do seu tempo, uma Natureza coerente e submetida a leis. Mas Lenoble vai muito mais longe e diz-nos mesmo que a revolu¸c˜ao cient´ıfica, vista como um corte radical com o passado, n˜ao passa de uma constru¸c˜ao habilidosa, apoiada em m´aximas5 sem qualquer rigor hist´orico. Supor-se-ia ent˜ao, em conformidade com o esquema do empirismo do s´eculo XVIII, que o homem, confusamente e depois mais nitidamente em busca de luzes, teria 5

Como a de Giambattista Vico, primeiro os homens sentem sem perceber, depois percebem com a alma perturbada e emocionada, finalmente reflectem com mente pura, apresentada na sua obra famosa Scienza Nuova, de 1744

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olhado a Natureza sempre com os mesmos olhos, colocando os mesmos problemas, e resolvendo-os a pouco e pouco, acumulando factos compar´aveis ou exactamente da mesma ordem. Sem d´ uvida que algo se modificou naquela ´epoca, mas os termos dessa revolu¸c˜ao devem ser revistos e colocados em perspectiva. Volte-se a Lenoble e `a sua Hist´oria da Ideia de Natureza. Na Natureza, os primitivos procuravam compreender a vontade dos deuses do mar, dos vulc˜ oes e dos rios; Arist´ oteles, uma hierarquia de formas organizadas; Descartes e os Modernos, as alavancas de uma m´aquina em que tudo se passa por n´ umero e movimento; longe de renunciar completamente `a m´aquina, sabemos hoje que a maquinaria cartesiana encerrava tamb´em uma parte de mist´erio e procuramos, na mat´eria, equil´ıbrios matem´aticos que n˜ao toquem a n˜ao ser, por assim dizer, aflorando-as, as leis do engenheiro do s´eculo XIX. N˜ao assistimos ao progresso de uma investiga¸c˜ao centrada no mesmo objecto: sob as palavras Natureza, ciˆencia e leis n˜ao se viam as mesmas leis. Neste sentido, a nossa Natureza e a nossa ciˆencia podem muito bem ter a sua data de nascimento, o que n˜ao quer dizer que anteriormente n˜ao se observasse nada. Numa palavra, sempre se observou a Natureza, s´ o que n˜ao era a mesma. Podemos, pois, aperceber-nos da extens˜ao do erro que o racionalismo cometeria relegando o pensamento m´agico para um passado jamais volvido, cujo estudo n˜ao poderia interessar sen˜ao a um punhado de amadores de temas obscuros. A magia, o poder de efabula¸c˜ao, como diz Bergson, ´e uma necessidade psicol´ogica, tal como a raz˜ao. N˜ao morreu no final da Antiguidade, n˜ao morreu no s´eculo XVIII, (...). Fala-se muito da evolu¸c˜ao das ideias como de uma passagem, lentamente conseguida no decurso do tempo, de um pensamento pr´e-l´ogico para o pensamento l´ogico, de um estado pr´e-cient´ıfico para um estado cient´ıfico. Qui¸c´a u ´til como primeira aproxima¸c˜ao, esta maneira de ver encobre, no entanto,uma dupla ilus˜ao. Em primeiro lugar, estabelece, na hist´oria, cortes n˜ao s´o artificiais (como todas as divis˜oes da hist´ oria em per´ıodos) como enganadores. N˜ao toma em considera¸c˜ao 14


o facto, todavia essencial, de todas as ´epocas serem definidas como l´ogicas e cient´ıficas por referˆencia `as suas predecessoras pr´e-l´ogicas e pr´e-cient´ıficas. Substitui, pois, pela falsa solu¸c˜ao de um escalonamento cronol´ogico das formas mentais, o u ´nico problema real: o do crescimento interno do l´ogico e do cient´ıfico. Para mais, dando-nos assim o direito de tomar por n´os e por nosso turno a atitude satisfeita dos Antigos, fazemos da nossa ciˆencia e da nossa l´ogica o tipo definitivo do saber. Acusamos o passado, por n˜ao (se) ver o que pode subsistir de magia em n´os, no nosso pensamento, nessas cosmogonias que d˜ao sempre, por pano de fundo, aos nossos conhecimentos cient´ıficos, uma imagem geral da Natureza e da Hist´oria.

E, por fim, Lenoble fala-nos de uma causalidade m´agica dos primeiros mitos, evidenciando assim que a diferen¸ca para a ciˆencia nem est´a tanto na procura de causalidades, mas sim no modo como essas liga¸c˜ oes causa-efeito s˜ao concebidas e aceites.

Fala-se facilmente (...) das fantasias e da gratuidade da magia. Ela tem as suas leis; tem tamb´em o seu drama: o de uma consciˆencia ainda pouco segura de si para se arriscar a perder-se, vendo o mundo na sua tr´agica alteridade. N˜ao s´o a magia responde a leis da consciˆencia, como a Natureza que edifica se apresenta como uma Natureza legal. O falso dogma da ignorˆancia primitiva conduziu os historiadores a datar a origem do pensamento determinista da constitui¸c˜ao de uma f´ısica das leis, e esta segunda cren¸ca ´e t˜ao falsa como a primeira. O nosso determinismo cient´ıfico, limitado `as coisas regidas pelo princ´ıpio da in´ercia, n˜ao sucedeu ao indeterminismo (entendido como o reinado do caos), mas ao sobredeterminismo m´agico que ligava, num mesmo destino, homens e coisas. ´ na verdade, um pouco simples homenagear Francis Bacon por ter definido a E, ciˆencia como a busca das causas, pois a f´ormula encontra-se tamb´em em Arist´oteles, em todos os s´abios que consideramos precursores do nosso pensamento, e ainda mais nos m´agicos. Toda a gente procura a causa; o m´agico tem mesmo o privil´egio de a encontrar com muito mais facilidade que o verdadeiro s´abio, porque o seu determinismo ´e mais vasto e o seu crit´erio muito menos estrito. O u ´nico problema ´e o de nos interrogarmos sobre a forma como cada um define a causa: precisar a 15


no¸c˜ao excessivamente vaga de causalidade, distinguir os tipos aceit´aveis e os tipos fict´ıcios. A causalidade m´agica regula n˜ao apenas as rela¸c˜oes dos fen´omenos entre si, como as suas rela¸c˜ oes com os homens e as rela¸c˜oes dos homens uns com os outros. A ac¸c˜ao causal ´e, pois, concebida como um poder, nitidamente, ou pelo menos vagamente, psicol´ ogico e moral, segundo o sentido equ´ıvoco da palavra virtus, que reinar´a ainda na F´ısica do come¸co do s´eculo XVII. No seio de uma Natureza que possui vida e consciˆencia, as vontades dos homens e as das coisas entrecruzam-se numa rede inextrinc´avel.

Para a quest˜ao muito particular da origem da vida, ´e consensual eleger Arist´oteles como o primeiro a propor uma explica¸c˜ao diferente dos mitos aceites. Se se trata de uma explica¸c˜ao racional, penso que a partir das reflex˜oes deixadas por Lenoble n˜ao ´e mais permitido adjectivar desse modo t˜ao inequ´ıvoco n˜ao apenas a teoria de Arist´oteles, como tamb´em qualquer das propostas que a v˜ao seguir. ` origem divina para a vida, Arist´ A oteles vai contrapor uma origem espontˆanea. Como veremos, vai ser esta a explica¸c˜ao que assume um papel central com o decorrer dos s´eculos, na medida em que vai ser em torno dela que vamos ver uma disputa bastante acesa entre os seus partid´arios e aqueles que, muito embora n˜ao assumissem uma alternativa, dela discordavam. Muito interessante ´e tamb´em perceber que o desfecho desta contenda est´a ligado a um amadurecimento do pr´ oprio m´etodo cient´ıfico, a um refinamento das t´ecnicas laboratoriais, principalmente quando o ponto fulcral da quest˜ao passou para uma escala microsc´opica, para uma escala para al´em dos nossos sentidos. Mas atente-se ent˜ao no trabalho do pensador grego. Arist´oteles, na sua obra Hist´ oria dos Animais, relata-nos6 as conclus˜oes a que chegou pela observa¸c˜ao da natureza.

Em rela¸c˜ao aos animais, alguns nascem de pais animais conforme o seu tipo, enquanto outros crescem espontaneamente e n˜ao de uma linhagem semelhante; e 6

Citado a partir do livro O Legado de Prometeu, de Raquel Gon¸calves-Maia, [GM06].

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desses exemplos de gera¸c˜ao espontˆanea alguns provˆem da mat´eria vegetal, ou terra em putrefac¸c˜ao, como ´e o caso de um certo n´ umero de insectos, enquanto outros s˜ao gerados espontaneamente no interior de animais, a partir de secre¸c˜oes dos seus diversos org˜aos. Aquilo que, na sua origem, com Arist´oteles, ter´a sido sem d´ uvida uma consequˆencia de observa¸c˜ oes efectuadas, foi, no s´eculo XVII, um princ´ıpio aceite como consequˆencia l´ogica no seio de uma determinada forma de pensar. No s´eculo XVII, Johann van Helmont provou cientificamente a existˆencia da gera¸c˜ao espontˆanea afirmando que, vinte e um dias ap´os ter envolvido alguns gr˜aos de trigo numa camisa suada dum homem, de l´a sairam ratos. O seu intuito era mesmo esse, o de provar que o mundo inanimado poderia dar lugar a um mundo animado. Mas por que raz˜ao algo assim absurdo e, aparentemente, f´acil de desmascarar, foi aceite de forma t˜ao leviana? Primeiro porque as pessoas se sentiram confort´aveis com essa conclus˜ao, segundo porque a chamada revolu¸c˜ao cient´ıfica iniciada por Descartes e Bacon pouco mais al´em tinha ido do que a matematiza¸c˜ao da f´ısica. Atente-se no que nos diz a esse prop´osito o historiador da ciˆencia norte-americano Thomas Hankins na sua obra Ciˆencia e Iluminismo, publicada em 1985, [Han02]. Descartes tinha conclu´ıdo, em 1638, que, `a excep¸c˜ao da alma racional do homem, todos os objectos naturais tinham por origem o movimento de part´ıculas inertes de mat´eria. N˜ao havia, segundo ele, qualquer diferen¸ca fundamental entre um rel´ogio e um c˜ao. (. . . ) Deste ponto de vista, n˜ao havia qualquer diferen¸ca essencial entre objectos vivos e objectos inanimados. A filosofia mecanicista arrastou a fisiologia na esteira de Descartes, de forma que, em 1670, todos os grandes fisi´ologos eram mecanicistas. A obra De motu animalium (Sobre o movimento dos animais) (1676), de Giovanni Alfonso Borelli, ´e o exemplo mais famoso desta abordagem. Borelli analisou a mecˆanica dos m´ usculos e do esqueleto humanos e tentou explicar a contrac¸c˜ao muscular como uma dilata¸c˜ao mecˆanica ou hidr´aulica do tecido. A hist´ oria natural descrevia e classificava os trˆes reinos da Natureza — animal, 17


vegetal e mineral. Enquanto ciˆencia das formas e categorias, n˜ao tinha que se preocupar com as causas da vida e, por isso, podia facilmente incluir coisas vivas e inanimadas no mesmo sistema. A hist´oria natural era um complemento da filosofia mecanicista, porque ambas as abordagens ao mundo natural conciliavam o vivo e o inanimado. N˜ao havia espa¸co em qualquer delas para esp´ıritos, para al´em da alma racional humana. Esta caracter´ıstica da hist´oria natural, no in´ıcio do Iluminismo, levou diversos fil´ osofos e historiadores contemporˆaneos, em especial Michel Foucault, a afirmarem que n˜ao podia ter havido uma ciˆencia da biologia antes de 1750, porque n˜ao havia um entendimento da vida separada do mundo inanimado. Uma vez que a biologia actual tenta explicar a vida em termos fisicoqu´ımicos, podemos ser tentados a ver os mecanicistas dos s´eculos XVII e XVIII como precursores desta vis˜ao contemporˆanea. Na verdade, a cria¸c˜ao da biologia como disciplina separada s´ o ocorreu depois de uma forte reac¸c˜ao contra a filosofia mecanicista ter separado o estudo das coisas vivas da natureza inanimada e ter explicado a vida atrav´es de princ´ıpios que n˜ao se aplicavam ao mundo inanimado. A filosofia mecanicista era sedutora, mas s´o conseguia explicar fen´omenos como o crescimento, a nutri¸c˜ao e a reprodu¸c˜ao, recorrendo a hip´oteses muito extravagantes, nenhuma das quais passs´ıvel de ser confirmada atrav´es da experiˆencia. Durante a primeira metade do s´eculo XVIII, este optimismo f´acil foi-se desvanecendo, e os fisi´ologos deram-se conta de que talvez fosse imposs´ıvel fazer uma an´alise mecanicista das coisas vivas. Em 1733, Bernard de Fontenelle afirmou que as matem´aticas se aplicavam seguramente `as coisas vivas, mas que n˜ao tinham conseguido explicar como elas funcionavam devido `a sua grande complexidade. A vida poder´a ser apenas o resultado de de uma organiza¸c˜ao mecˆanica, mas se assim ´e, ultrapassa o alcance da investiga¸c˜ao. Uma alternativa melhor seria estudar os pr´oprios fen´omenos vitais e tentar reduzi-los a normas, sem recorrer a quaisquer suposi¸c˜oes sobre causas originais ou mecanismos imaginados.

E ´e somente em finais do s´eculo XVII que a revolu¸c˜ao cient´ıfica vai conhecer um segundo impulso, t˜ao importante quanto o primeiro, que culmina com o desabrochar, primeiro da Qu´ımica e, um pouco mais tarde, da Biologia. Voltemos a Hankins e `a sua caracteriza¸c˜ao 18


deste per´ıodo.

Uma (. . . ) raz˜ao para o ressurgimento da hist´oria natural, a partir de 1670, foi a crescente ˆenfase dada `as ciˆencias emp´ıricas, especialmente na Inglaterra. Sem repudiarem a filosofia mecanicista, os fil´osofos e cientistas britˆanicos repudiaram, de facto, a abordagem racionalista e aprior´ıstica de Descartes ao estudo da Natureza. O mundo s´ o pode ser conhecido atrav´es de uma cuidadosa observa¸c˜ao e estudo dos fen´ omenos naturais, e n˜ao a partir de racioc´ınios dedutivos sobre princ´ıpios abstractos. Em 1752, James Parson observou que os fil´osofos mecanicistas tinham procurado em v˜ao ”part´ıculas e poros de diferentes configura¸c˜oes, em v˜ao recorreram ao Momentum do sangue e em v˜ao tentaram reconciliar a Doutrina das Secre¸c˜oes com o C´alculo Matem´atico”. Na mesma altura, Diderot defendia que o gosto dos tempos se tinha virado para a qu´ımica e para a fisiologia, porque estas ciˆencias lidavam com a natureza como ela existia, em vez de o fazerem com uma abstrac¸c˜ao mecˆanica e matem´atica.

Outro autor com contribui¸c˜ oes importantes na hist´oria da ciˆencia desta ´epoca ´e Rupert Hall, nomeadamente com a sua obra A Revolu¸c˜ao na Ciˆencia 1500 - 1750, [Rup83]. Vejamos o que nos diz sobre este per´ıodo.

O renascimento da ciˆencia no s´eculo dezasseis e as ideias estrat´egicas da primeira fase da revolu¸c˜ao cient´ıfica pouco deveram aos aperfei¸coamentos na t´ecnica da investiga¸c˜ao propriamente dita. Antes do in´ıcio do s´eculo dezassete existem poucos ind´ıcios, excepto talvez na anatomia e na astronomia, de qualquer esfor¸co para controlar rigorosamente a exactid˜ao das afirma¸c˜oes cient´ıficas atrav´es da utiliza¸c˜ao de novos m´etodos, menos ainda para estender o seu raio de ac¸c˜ao, com o aux´ılio de t´ecnicas desconhecidas, `a tradi¸c˜ao existente na ciˆencia. Mesmo o refinamento da observa¸c˜ao, iniciado na anatomia por Vesalius e pelos seus contemporˆaneos e na astronomia por Tycho Brahe, dificilmente envolveria mais que a extens˜ao natural e a aplica¸c˜ao escrupulosa de m´etodos familiares. Dado que a aparelhagem 19


e os instrumentos dispon´ıveis eram grosseiros e limitados, n˜ao estavam `a m˜ao os meios para obter conhecimentos sobre novas classes de fen´omenos, ou para deduzir factos mais recˆ onditos que os j´a estudados. Embora fosse depositada uma maior confian¸ca na observa¸c˜ao e experimenta¸c˜ao, a mudan¸ca de conte´ udo da ciˆencia podia ser dram´atica e outras fontes de informa¸c˜ao eram, pelo menos at´e `a parte final do s´eculo dezasseis, em grande parte tradicionais. Gradualmente, contudo, a tendˆencia para (superar) este saber livresco, verificado por exame pessoal quando poss´ıvel, ganhou terreno atrav´es da experiˆencia de v´arios grupos de homens pr´aticos. A riqueza do facto foi aumentada pelo reconhecimento das observa¸c˜ oes de art´ıfices, navegadores, viajantes, m´edicos, cirurgi˜oes e botic´arios como dignas de s´eria considera¸c˜ao, e desta forma o estatuto de verdades puramente emp´ıricas, em quase nada inferiores ao das verdades sistem´aticas da f´ısica foi a seu tempo real¸cado. Para o influente historiador da Ciˆencia, Alexandre Koyr´e, (. . . ) o centro do palco em que a revolu¸c˜ao cient´ıfica se desenrolou foi ocupado pela ciˆencias f´ısicas, e o drama levado `a cena tinha por tema a sua matematiza¸c˜ao. Para a maioria dos historiadores da ciˆencia, hoje, isto pareceria um ponto de vista muito limitado. Eles defenderiam a importˆancia da filosofia (mecanicista), grandes altera¸c˜oes nas ideias e m´etodos que foram completamente independentes da ciˆencia f´ısica e mudan¸cas das atitudes sociais para com a ciˆencia como aspectos de uma situa¸c˜ao revolucion´aria que o historiador n˜ao pode ignorar. De facto, Koyr´e n˜ao se opunha a tal vis˜ao inclusiva daquelas correntes que conduziram a Newton e dessa forma, por vias que eram relativamente directas, a Maxwell, Planck e Einstein. (. . . ) O di´alogo sobre quest˜oes de espa¸co e tempo entre o s´eculo dezassete e finais do s´eculo vinte ´e poss´ıvel e, com efeito, poder´ıamos at´e dizer normal; mas semelhante di´alogo acerca da vida e dos processos vivos parece virtualmente impens´avel. Estes pensamentos sugerem outros. Seria correcto que o historiador falasse talvez de uma revolu¸c˜ao negativa na biologia seiscentista, por exemplo, a qual por certo destru´ıu a antiga base de confian¸ca de um programa de pesquisa efectivo que permitisse o r´apido desenvolvimento cumulativo? Somos levados a pensar 20


na esterilidade comparativa da microscopia e do intervalo ainda mais surpreendente entre a descoberta feita por Harvey da verdadeira fun¸c˜ao do cora¸c˜ao e dos prim´ordios da investiga¸c˜ao m´edica das imperfei¸c˜oes na ac¸c˜ao card´ıaca — atrav´es do mais simples dos meios — dois s´eculos mais tarde. Temos amplos testemunhos da ´epoca de Newton de que as ideias e o conhecimento relativos ao corpo humano n˜ao pareciam estar mais avan¸cados em rela¸c˜ao aos que prevaleciam na antiguidade do que os seus an´alogos na ciˆencia f´ısica e, se medirmos o progresso pela intensidade do interesse, n˜ao h´a qualquer d´ uvida de que existem mais esfor¸cos no sentido da inova¸c˜ao na medicina e na hist´oria natural do que em qualquer outro campo Dificilmente se pode pˆ or em causa que, pois, que existiu efectivamente uma situa¸c˜ao revolucion´aria mas que, por uma s´erie de raz˜oes — entre as quais se podem deverto contar a dificuldade intr´ınseca dos fen´omenos e uma falta de coerˆencia intelectual desfrutada pelas ciˆencias matem´aticas — foi explorada com muito menos sucesso. As profundidades da vida n˜ao foram sondadas `a mesma distˆancia que as do espa¸co e do tempo. (. . . ) por come¸cos do s´eculo dezoito julgava-se que Newton oferecia ideais de conhecimento e m´etodo; n˜ao se trata todavia de estes serem vistos exclusivamente em termos matem´aticos, pois que o m´etodo newtoniano proposto para a qu´ımica ou a biologia era totalmente experimental e qualitativo. No entanto, aproximadamente cem anos antes, com Descartes, o (mecanicismo) cient´ıfico aplicado a organismos vivos parece ter-se desenvolvido de m˜aos dadas com a mecaniza¸c˜ao do universo e, ainda que o (mecanicismo) biol´ogico fosse necessariamente baseado em an´alogos f´ısicos, dificilmente poder´ıamos consider´a-lo dependente de um desenvolvimento antecedente da ciˆencia f´ısica. Havia antes um paralelismo e interac¸c˜ao. As primeiras tentativas de formular a investiga¸c˜ao biol´ogica na f´ısica conduziram com frequˆencia a um beco sem sa´ıda. Os historiadores empregaram durante muito tempo um esquema cronol´ogico em que Lavoisier ´e visto como o Newton da qu´ımica e Darwin como o Newton da biologia. Recentemente, Kuhn fez notar que, mesmo no ˆambito da ciˆencia f´ısica do s´eculo dezassete, a perfei¸c˜ao da revolu¸c˜ao matem´atica se situa a par de 21


um grau incompleto de progresso nos ramos experimentais onde, mais uma vez, a matematiza¸c˜ao foi adiada at´e ao s´eculo dezanove. Concordando com Koyr´e em que: ”Se se pensar na Revolu¸c˜ao Cient´ıfica como uma revolu¸c˜ao de ideias, s˜ao as mudan¸cas nestes campos tradicionais, quase matem´aticos, que h´a que procurar compreender”, acreditando simultaneamente que ”outras coisas vitalmente importantes aconteceram tamb´em `as ciˆencias durante os s´eculos dezasseis e dezassete (a Revolu¸c˜ao Cient´ıfica n˜ao se limitou a uma mera revolu¸c˜ao no pensamento)”Kuhn conclui finalmente que ´e imposs´ıvel uma simetria hist´orica completa, mesmo entre os departamentos matem´atico e experimental da f´ısica, dado que ”a clivagem entre ciˆencia matem´atica e experimental”parece ”ter ra´ızes na natureza da mente humana”. N˜ao ser´a, pois, de surpreender que existam assimetrias hist´oricas ainda maiores entre as ciˆencias matem´atica e qu´ımica, geol´ogica e biol´ogica, onde os tra¸cos de evolu¸c˜ao baconianos s˜ao ainda mais marcados que na f´ısica experimental.

Regressando `as teorias para a origem da vida, em particular `a teoria da sua origem espontˆanea provada por van Helmont, vemos que em finais do s´eculo XVII surgem j´a algumas desconfian¸cas relativamente aos resultados anteriormente anunciados, em especial com os trabalhos de Francesco Redi. Contudo, havia ainda que esperar um pouco mais para que esses argumentos fossem ouvidos. J´a em pleno s´eculo XVIII, surge o microsc´opio e tudo se volta de novo a embrulhar, assumindo um papel relevante na defesa da filosofia mecanicista o francˆes George-Louis Leclerc, tamb´em conhecido por Conde de Buffon. Sinal de como os tempos estavam realmente mudados, vamos ver o Conde de Buffon a pedir aux´ılio a um experimentalista inglˆes para obter a confirma¸c˜ao experimental das suas ideias. Citemos de novo Thomas Hankins.

Uma vez que as mol´eculas orgˆanicas se distribu´ıam por toda a natureza e elas pr´oprias nunca eram destru´ıdas, podiam aparecer numa variedade de formas microsc´opicas. Buffon defendia que os pequenos animais que se observam num caldo em putrefac¸c˜ao eram grupos de mol´eculas orgˆanicas libertas das mat´erias mortas pela ausˆencia de um molde interno. Conseguiu persuadir John Tuberville Needham, um microscopista inglˆes, a realizar experiˆencias de gera¸c˜ao espontˆanea em caldo 22


de carne e em infus˜ oes de feno. Needham considerava que o enorme n´ umero de pequenos animais que observava n˜ao podia provir da totalidade das sementes da infus˜ao. Para verificar se vinham do exterior ou se eram gerados no l´ıquido, aqueceu os recipientes de caldo para matar todos os animais e rolhou-os muito bem. Descobriu que, passado pouco tempo, havia de novo in´ umeros objectos a nadar no caldo. Buffon concluiu que os objectos n˜ao eram verdadeiros animais, mas apenas colec¸c˜ oes de mol´eculas orgˆanicas em v´arios n´ıveis de organiza¸c˜ao.

Mas ´e ent˜ao que se envolve nesta pol´emica aquele que ´e por muitos considerado o grande precursor de Lavoisier, o homem que inicia o processo de credibiliza¸c˜ao do trabalho laboratorial, o padre italiano Lazzaro Spallanzani. A pr´opria descri¸c˜ao que faz Hankins do trabalho de Spallanzani imediatamente nos revela n˜ao s´o um apurado sentido cr´ıtico, como uma capacidade de inova¸c˜ao dentro do laborat´orio que acompanha esse seu sentir.

Lazaro Spallanzani efectuou experiˆencias em 1765 e de novo em 1776 para verificar os resultados de Needham. Utilizou frascos de gargalos mais estreitos que podiam ser fechados por fus˜ao, garantindo uma selagem eficaz contra a entrada de organismos provenientes do exterior. Spallanzani descobriu que caldo fervido num recipiente selado permanecia est´eril indefinidamente, mas se quebrasse o gargalo dos frascos, rapidamente apareciam no l´ıquido grandes quantidades de animais.

No entanto, o fim da pol´emica em torno da teoria da origem espontˆanea da vida necessitava de um actor de peso, de algu´em cuja reputa¸c˜ao e notoriedade n˜ao deixasse quaisquer d´ uvidas nos esp´ıritos da sua ´epoca. Esse algu´em foi o famoso qu´ımico francˆes Louis Pasteur. A sua experiˆencia foi igualmente simples, embora tecnicamente mais avan¸cada: desta vez foram fervidos caldos de carne e expostos ao ar7 em recipientes fechados apenas por um filtro que impedia que qualquer part´ıcula entrasse. Citando Raquel Gon¸calves-Maia, [GM06], foram estas as palavras proferidas por Louis Pasteur, no dia 7 de Abril de 1864, no anfiteatro da Sorbonne, em Paris, `acerca dos resultados obtidos. 7 Os seguidores de Needham argumentaram que Spallanzani tinha mostrado apenas que a gera¸c˜ ao espontˆ anea n˜ ao podia ocorrer na ausˆencia de ar.

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E espero, e observo, e interrogo-me e pe¸co-Lhe que recomece para mim a cria¸c˜ao primitiva; como seria um belo espect´aculo! Mas ela n˜ao fala! Ela est´a muda desde que estas experiˆencias come¸caram h´a v´arios anos. Ah! ´e porque afastei dela, e que afasto ainda neste momento, a u ´nica coisa que n˜ao foi dado ao homem produzir, afastei dela os g´ermes que pairam no ar; afastei dela a vida, pois a vida ´e o germe e o germe ´e a vida. Jamais a doutrina da gera¸c˜ao espontˆanea se recompor´a do golpe mortal que esta simples experiˆencia lhe vibrou.

Muito embora sem avan¸car com uma alternativa para a origem da vida, tudo parecia indicar de facto que se estava a colocar um ponto final nesta pol´emica, mas tal n˜ao sucedeu. Esse golpe mortal, segundo as palavras de Pasteur, vai apenas fazer passar algumas d´ecadas antes que outras teorias da origem espontˆanea da vida sejam avan¸cadas. E isto porque, alguns anos antes da experiˆencia do qu´ımico francˆes, uma outra experiˆencia igualmente importante foi bem sucedida: em 1828, o qu´ımico alem˜ao Friedrich Woehler obteve ureia a partir do aquecimento de cianato de am´onio, sendo assim o primeiro a sintetizar num laborat´ orio um composto orgˆanico. Este facto veio derrubar as perspectivas, alimentadas pelos sucessivos fracassos na sua sintetiza¸c˜ao a partir do material inorgˆanico, de que substˆancias orgˆanicas jamais poderiam ser preparadas artificialmente num laborat´orio, isto ´e, de que os compostos orgˆanicos obedeceriam a leis totalmente diferentes das que regem o material inanimado.

as dificuldades de uma teoria cient´ıfica A procura de uma explica¸c˜ao cient´ıfica para a origem da vida est´a, hoje em dia, dividida em dois campos, correspondendo a dois modos de realizar essa procura: descendo numa hierarquia de complexidade dos seres vivos conhecidos, ou subindo numa hierarquia de complexidade qu´ımica, das mol´eculas mais simples aos longos e complexos pol´ımeros. Em poucas palavras, um princ´ıpio biol´ogico ou princ´ıpio qu´ımico para a vida? Para entendermos o que separa estas duas vis˜oes, transcrevemos aqui um texto de Hernˆani Maia, publicado em 1985, [Mai85]: 24


A vulgar afirma¸c˜ao de que a Vida teria surgido do caos, isto ´e, a ordem a partir do caos, ´e de natureza dicot´omica: subentende, por um lado, que a Vida, tal como os bi´ ologos no-la apresentam, ´e uma forma especialmente ordenada e complexa da mat´eria, e, por outro, que o resto do Mundo, o Inorgˆanico, ´e (pela nossa percep¸c˜ao) o caos. Ora est´a aqui encerrado um sofisma. De facto o universo inorgˆanico ´e bem mais ordenado do que a nossa percep¸c˜ao deixa entender, e, possivelmente, bem mais ordenado do que a forma mais organizada de Vida. Qual a raz˜ao para uma tal diferen¸ca? Um fundamentalismo cego de dois mundos distintos da Ciˆencia? Obviamente que n˜ao. Trata-se muito simplesmente de uma quest˜ao de dif´ıcil resolu¸c˜ao, por duas raz˜ oes. A dinˆamica da crusta terrestre condiciona, de uma forma irrepar´avel, a existˆencia de ind´ıcios de vida mais antigos, colocando limites muito severos ao preenchimento dos sucessivos elos na descida da cadeia que nos levaria `a origem da vida. Por outro lado, as hip´ oteses avan¸cadas para um princ´ıpio qu´ımico para a vida tˆem o problema do tempo, isto ´e, sugerem experiˆencias imposs´ıveis de serem reproduzidas num laborat´orio, pois implicam mecanismos de baixa probabilidade, uma dificuldade que apenas o tempo permite resolver. A excep¸c˜ao ´e obviamente a t˜ao famosa experiˆencia de Stanley Miller, uma vez que algumas das mol´eculas consideradas importantes para a vida foram obtidas logo no dia seguinte. Mas, naturalmente, o pre¸co a pagar foi a indica¸c˜ao mais ou menos precisa da atmosfera pr´e-bi´ otica, de certo modo fundamental para a obten¸c˜ao dos resultados ´ assim f´acil de entender que esta pol´emica, tamb´em alimentada por apresentados. E alguns egos, tenha subsistido ao longo do u ´ltimo meio s´eculo e, sobretudo, que um modelo computacional matem´atico tenha desequilibrado a balan¸ca em favor do princ´ıpio qu´ımico, ao levar a experiˆencia fundamental do laborat´orio qu´ımico para o laborat´orio inform´atico, onde o tempo n˜ao se mede j´a em segundos, mas em ciclos do computador, tornando-se desta forma numa vari´avel incrivelmente veloz.

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a g´enese cient´ıfica Com o desenvolvimento do pensamento cient´ıfico, a Ciˆencia, pouco a pouco, apoderou-se do problema da origem da vida tal como a conhecemos. Podemos falar agora de uma g´enese cient´ıfica, na qual a ciˆencia viabiliza solu¸c˜oes para esta problem´atica. Muitos s˜ao os que argumentam a favor de uma vis˜ao mais abrangente do que se considera vida, uma vez que a vida, tal como a vemos na Terra, n˜ao ´e necessariamente a u ´nica forma de vida! Carl Sagan e Edwin Salpeter, em 1976, [SS76], imaginaram seres como os ca¸cadores ou flutuadores que viviam no planeta J´ upiter suportando condi¸c˜oes de press˜ao e temperaturas e quantidade de ´agua, totalmente distintas das existentes na Terra. Mas, se ´e verdade que a vida pode possuir um formato diferente e ser baseada em distintos compostos orgˆanicos, tamb´em ´e verdade que ´e na vida que temos na Terra que nos podemos basear, portanto, ´ deste modo essencial definir-se o que se considera vida e uma vida `a base de carbono. E para isso nada melhor que enunciar os componentes essenciais para a sua existˆencia: • uma fonte de energia (os elementos vivos necessitam de possuir um gradiente de energia interno) • uma bioqu´ımica b´asica (pequenas mol´eculas e reac¸c˜oes conduzidas pelo gradiente de energia) • uma organiza¸c˜ao/ metabolismo (compartimenta¸c˜ao e separa¸c˜ao de um ambiente exterior) • auto-reprodu¸c˜ao (transferˆencia de informa¸c˜ao, hereditariedade gen´etica, capacidade de evoluir)

Claramente que na Natureza todos estes factores inerentes `a vida n˜ao surgiram em simultˆaneo. Deste modo as propostas de solu¸c˜oes para origem da vida caiem num problema mais central, o qual alguns autores designam como o problema ovo ou galinha, neste caso metaforicamente representando a quest˜ao: o que surgiu primeiro, o metabolismo ou a reprodu¸c˜ao e informa¸c˜ao gen´etica? Desta pergunta surgiram v´arias buscas por compostos e mol´eculas primordiais e com 26


elas v´arias hip´ oteses para a origem da vida, das quais destacamos as seguintes:

• auto-reprodu¸c˜ao de RNA, originando um mundo RNA; • auto-reprodu¸c˜ao de pol´ımeros catal´ıticos, p´eptidos e prote´ınas, originando um mundo proteico; • auto-reprodu¸c˜ao atrav´es de argilas ou outros minerais, como por exemplo, pirites.

Na actualidade, a hip´ otese mais apoiada pela comunidade cientifica ´e a de um mundo RNA. No entanto, as dificuldades inerentes `a existˆencia deste cen´ario levam a que outra parte, tamb´em importante, da comunidade cient´ıfica apoie uma teoria proteica. A descoberta das propriedades catal´ıticas do RNA, ver os trabalhos de Kruger, et al, [KGZ+ 82], e Leslie Orgel, [Org04], levaram a um maior suporte e aceita¸c˜ao de um mundo RNA. Com esta nova descoberta o RNA para al´em de possuir caracter´ısticas de transmiss˜ao (tRNA) e armazenamento de informa¸c˜ao gen´etica (mRNA, v´ırus de RNA), possui tamb´em a fun¸c˜ao que essencialmente era conferida `as prote´ınas, a fun¸c˜ao de catalisar reac¸c˜ oes, especialmente a sua pr´opria cat´alise (ribossomas (rRNA), riboenzimas). No entanto, apesar destes trˆes tipos de fun¸c˜oes do RNA, inerentes `a quest˜ao da origem da vida, o RNA possui um conjunto de propriedades que facilitam outras quest˜oes anexadas `a quest˜ao da origem da vida, tais como:

1. os ribonucle´ otidos s˜ao os percursores dos desoxirribonucle´otidos (pensa-se que os ribonucle´ otidos existiram primeiro que os desoxirribonucle´otidos, uma vez que esta ´e uma reac¸c˜ao dif´ıcil, necessitando da presen¸ca de um complexo proteico). 2. o RNA ´e um promotor (prime) da s´ıntese de DNA (quando um nova sec¸c˜ao de DNA ´e sintetizada o RNA prime ´e necess´ario para iniciar a s´ıntese de DNA). 3. a maioria das coenzimas (cofactores) das enzimas proteicas possui componentes ribonucle´ otidos (e.g. FAD, NAD, NADP), o que suporta a ideia de estes serem percursores das prote´ınas. 27


4. o RNA possui propriedades reguladoras no interior de c´elulas e ribo-cˆambios, onde as mol´eculas de RNA detectam e respondem `a presen¸ca de mol´eculas especificas na c´elula. 5. a hip´otese de um mundo RNA evita o problema da quiralidade dos amino´acidos, uma vez que a D-ribose determina a s´ıntese de L-amino´acidos durante a s´ıntese proteica; no entanto, o problema mant´em-se, pois teria que existir um excesso enantiom´erico de D-ribose, o qual n˜ao se pode justificar com a astrof´ısica, com a emiss˜ao de radia¸c˜ao UV a quando da forma¸c˜ao estelar quebrando essencialmente as liga¸c˜oes dos amino´acidos de tipo D, uma vez que a luz ´e polarizada circularmente `a direita. 6. os genes dos organismos dos eucar´ıticos s˜ao compostos por ex˜oes e intr˜oes, onde os ex˜oes codificam as prote´ınas e os intr˜oes s˜ao removidos; esta remo¸c˜ao de intr˜oes do c´odigo gen´etico ´e efectuada por spliceossomas, os quais s˜ao compostos por RNA e prote´ınas; segundo Anthony Poole, este complexo processo de splicing e a cria¸c˜ao de intr˜ oes n˜ao teria sentido sen˜ao existissem primeiramente num mundo RNA; a presen¸ca de intr˜ oes indica como um mundo RNA poderia estar organizado. 7. a s´ıntese proteica nas c´elulas ´e realizada por ribossomas (compostos essencialmente por RNA); ´e o RNA que nos ribossomas realiza a fun¸c˜ao de s´ıntese proteica; no entanto, a dif´ıcil transforma¸c˜ao de ribonucle´otidos em desoxiribonucle´otidos ´e realizada pelas prote´ınas; segundo esta vis˜ao, [Kau93], o processo evolutivo na Natureza ocorreria no sentido RNA ⇒ Prote´ınas ⇒ DNA. Apesar da grande for¸ca da vis˜ao cient´ıfica de um mundo RNA, alguns problemas se colocam quanto `a efic´acia de um processo catal´ıtico efectuado pelo RNA, comparando-o com a efic´acia de cat´alise proteica. De facto, sabe-se que a cat´alise proteica ´e cerca de 10,000 a 100,000 vezes mais r´apida que a cat´alise por RNA. Na realidade, actualmente na c´elula a maioria das fun¸c˜ oes que envolvem reac¸c˜oes catal´ıticas s˜ao efectuadas pelas prote´ınas e n˜ao existe qualquer evidˆencia de uma passagem destas fun¸c˜oes do RNA para as prote´ınas, o que levanta algumas quest˜ oes: como se efectuou esta passagem de fun¸c˜oes? Porque n˜ao se manteve nenhum ser vivo com propriedades catal´ıticas com base no RNA? 28


Estas e outras quest˜ oes levam a que parte da comunidade cient´ıfica continue apoiando a hip´ otese de auto-reprodu¸c˜ao de pol´ımeros catal´ıticos, p´eptidos e prote´ınas. A vis˜ao de um mundo proteico ´e tamb´em muito apoiada pelo facto de, em condi¸c˜oes pr´e-bi´oticas, a forma¸c˜ao de amino´acidos parecer ser n˜ao muito dif´ıcil. Em 1955, o bi´ ologo norte-americano Stanley Miller, a trabalhar na Universidade de Chicago como estudante de Harold Urey, simulou em laborat´orio as condi¸c˜oes da atmosfera pr´e-bi´ otica redutora, metano, amon´ıaco, ´agua e hidrog´enio, submetendo-a a descargas el´ectricas.

Figura 1.1 O aparelho experimental utilizado por Stanley Miller, em 1955, segundo as suas pr´ oprias palavras, ver [Bra98]. Como resultado desta reac¸c˜ao, algumas mol´eculas orgˆanicas presentes `a vida foram encontradas, tais como amino´acidos, principalmente glicina e alanina, os quais pertencem ao grupo standard de 20 amino´acidos presentes nas prote´ınas codificadas. Actualmente, 29


crˆe-se que a atmosfera primitiva era menos ´acida/redutora que a atmosfera proposta por Miller, mas mesmo diminuindo a concentra¸c˜ao de am´onio, NH3 , ´e ainda poss´ıvel observarse a forma¸c˜ao de amino´acidos nesta reac¸c˜ao. Assim, parece inevit´avel que numa suposta atmosfera primitiva terrestre se tenham produzido amino´acidos, os quais por um simples processo de desidrata¸c˜ao se podiam unir por liga¸c˜oes pept´ıdicas e formar pequenos p´eptidos, os quais j´a possuem propriedades catal´ıticas.

Muito diferente ´e a forma¸c˜ao dos ribonucle´otidos, pois envolve um processo mais complicado, necessitando da jun¸c˜ao de uma ribose a um ´acido nucleico e um grupo fosfato. A forma¸c˜ao de ´acidos nucleicos em meio pr´e-bi´otico foi investigada principalmente pelo bioqu´ımico catal˜ao Joan Or´ o, em 1961, obtendo adenina e guanina, e ainda por R.A. Sanchez, J. Ferris e L. Orgel, em 1968, [SFO66] e [SFO67], obtendo timina, uracilo, citosina, mas com rendimentos muito baixos e, por este motivo, pouco convincentes. Algumas outras reac¸c˜ oes foram propostas envolvendo cianeto de hidrog´enio, sendo produzidas bases nucleicas e outras purinas e pirimidinas, bem como outros amino´acidos. A forma¸c˜ao de ribose e glucose remete para a presen¸ca de formalde´ıdo e do ´acido glic´olico, ambos presentes tanto no espa¸co interestelar como na Terra. Investiga¸c˜oes recentes d˜ao conta da presen¸ca destes dois componentes no meio interestelar, bem como em meteoritos.

Figura 1.2. Imagem de componentes de nucle´otido. Apesar da presen¸ca de todos os componentes dos nucle´otidos de RNA, a sua forma¸c˜ao 30


´e bastante mais complicada que a forma¸c˜ao de amino´acidos, bem como a forma¸c˜ao de cadeias de RNA com propriedades catal´ıticas ´e bastante mais complicada que a forma¸c˜ao de p´eptidos como propriedades catal´ıticas, uma vez que mesmo pequenos p´eptidos exibem propriedades catal´ıticas, [Kau93].

Figura 1.3 Imagem de mol´ecula liga¸c˜oes pept´ıdicas e p´eptido.

Figura 1.4 Imagem de liga¸c˜ oes entre nucle´otidos cadeias de fosfatos.

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Stuart Kauffman apresenta uma solu¸c˜ao onde tenta unir estas duas vis˜oes para o in´ıcio da vida, bem como poder´a ser uma resposta `a auto-reprodu¸c˜ao por argilas, como veremos mais posteriormente. A sua vis˜ao aponta-nos para a falha que existe na procura da simplifica¸c˜ao de um sistema celular complexo a um sistema simples: as c´elulas fazem parte do conjunto de sistemas complexos estudados pela Ciˆencia, a an´alise do funcionamento global deste tipo de sistemas n˜ao deveria ser feita desde um ponto de vista reducionista, do particular para o mais complexo, mas sim do complexo para o mais complexo. Baseando o nosso racioc´ınio no conceito de complexidade necess´aria e intr´ınseca ao sistema, Kauffman e outros, prop˜ oem uma solu¸c˜ao complexa para a origem da vida. A c´elula como sistema complexo de ser analisada como tal, como uma rede de reac¸c˜oes catal´ıticas.

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Figura 1.5 Mapa do metabolismo de uma c´elula hep´atica. Os n´os correspondem a metabolitos enquanto as arestas a transforma¸c˜oes qu´ımicas. (Retirada do livro, O Universo, a nossa casa, de Stuart Kauffman.) Olhado sob este prisma, todas as mol´eculas poss´ıveis de existir no meio pr´e-bi´otico podem ser simultaneamente agregadas no conjunto complexo em quest˜ao. Qualquer reac¸c˜ao, se quimicamente poss´ıvel, seja ela de RNA, DNA, prote´ınas ou outras mol´eculas poss´ıveis, pode ocorrer, n˜ao sendo necess´aria a especifica¸c˜ao de qual a primeira mol´ecula a iniciar 33


a vida. Imagine-se um caso simples, por exemplo, um conjunto de 100 000 mol´eculas, as quais podem reagir entre si e/ou catalisar outras reac¸c˜oes, produzindo ou ajudando a produzir outras mol´eculas. Parece ent˜ao natural pensar que, ao fim de algum tempo, existir´a inevitavelmente um conjunto de mol´eculas conectadas quimicamente entre si. Neste conjunto autocatal´ıtico cada mol´ecula ´e criada por pelo menos uma reac¸c˜ao do respectivo conjunto. Enclausurando este conjunto numa bicamada lip´ıdica, num proteinoide globular ou noutro tipo de camada vol´ umica, que permita a troca de alimento, energia e mat´eria, entre o interior e o exterior do sistema e outros processos osm´oticos, teremos que ao fim de algum tempo o n´ umero de mol´eculas no interior do volume ser´a demasiado elevado, pelo que espontaneamente este volume se dividir´a, reproduzindo-se. Com esta ac¸c˜ao seriam cumpridas todas as componentes essenciais `a vida, anteriormente enumeradas. Visto deste prisma, a vida deixa de ser dif´ıcil de acontecer/existir, passando para o plano do inevit´avel, possivelmente originada ao mesmo tempo em v´arios pontos terrestres, o que aumenta a possibilidade de diversidade e diminui¸c˜ao da necessidade de um ascendente comum e especificidade qu´ımica de um mundo RNA, RNA-proteico, RNA-proteico-DNA. ´ de notar que esta ideia n˜ao invalida a necessidade de procurar pelas fun¸c˜oes que cada E uma destas mol´eculas possui no interior da c´elula, nem a necessidade de procurar por estas mol´eculas no meio interestelar, bem como a necessidade de procurar como se poderiam ter formado primordialmente prote´ınas, RNA, DNA e outros compostos orgˆanicos. Introduz, isso sim, a necessidade de um pensamento complexo sobre algo complexo como ´e o metabolismo celular, retirando o problema do ovo ou da galinha, do que ter´a surgido primeiro, RNA, DNA ou prote´ınas, deixando um espa¸co aberto para a consuma¸c˜ao de cada uma destas mol´eculas no metabolismo celular atrav´es de um aumento do grau de complexidade do sistema, bem como um espa¸co aberto para o surgimento de vida baseada noutros elementos qu´ımicos.

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segunda parte

Ao contr´ario da maioria dos cientistas, Stuart Kauffman acredita que a vida surgiu j´a complexa. Inspirado em resultados matem´aticos, publicados em in´ıcios dos anos 1960, que mostram a emergˆencia inevit´avel de uma estrutura em sistemas muito simples, este bi´ologo quebra uma das regras at´e a´ı considerada fundamental das teorias da origem da vida: em vez de se basear num mecanismo do simples para o complexo, apresenta-nos a vida como algo que possui uma l´ ogica mais profunda, emergindo do caldo primordial de uma forma j´a complexa e com capacidade para, simultaneamente, manter essa complexidade e evoluir ´ com esse sentido que Kauffman vai para outras estruturas ligeiramente diferentes. E escrever, [Kau05], que o segredo da vida n˜ao est´a na beleza do emparelhamento de bases de Watson-Crick, mas na realiza¸c˜ao do fechamento autocatal´ıtico colectivo.

forma¸c˜ao de um sistema aberto autocatal´ıtico Quando, num dos seus livros, [Kau05], Stuart Kauffman recorda aquilo que o ter´a levado a pensar na possibilidade de uma origem para a vida totalmente diferente das hip´oteses


aceites, refere-se ao momento em que viu um determinado gr´afico, basicamente o seguinte gr´afico.

Aquilo que naturalmente se imp˜ oe quando olhamos para este gr´afico ´e uma varia¸c˜ao, de forma mais ou menos brusca, de algo, neste caso do n´ umero de elementos ligados entre si, quando consideramos um sistema muito simples de elementos em interac¸c˜ao, `a medida que se v˜ao introduzindo cada vez mais liga¸c˜oes, escolhidas aleatoriamente. Na verdade, o gr´afico em causa expressa o resultado matem´atico da emergˆencia de um aglomerado gigante de elementos todos eles ligados entre si num grafo aleat´orio, `a medida que se aumenta o seu n´ umero de liga¸c˜ oes. A partir daqui ´e deixarmo-nos levar pela imagina¸c˜ao e olhar para este objecto matem´atico como uma rede de elementos, apresentando-se desta forma como uma expressiva met´afora para as redes da vida, simples sistemas moleculares em interac¸c˜ao cujo segredo para se elevar a algo de extraordin´ario vai estar precisamente na cat´alise — na mudan¸ca de velocidade de uma reac¸c˜ao qu´ımica, devido `a presen¸ca de uma substˆancia, o catalisador. O conceito de grafo aleat´ orio, referido atr´as, foi introduzido pelos matem´aticos h´ ungaros Paul Erd¨os e Alfr´ed R´enyi, no seu trabalho On the evolution of random graphs, publicado em 1960, [ER60]. Mas, antes ainda de apreciarmos a relevˆancia destes objectos matem´aticos no contexto da teoria de Kauffman, vamos apresentar muito rapidamente alguns dos conceitos da teoria de grafos que nela assumem um papel especial. 36


Um grafo ´e um conjunto de elementos, os seus v´ertices, conectados por arestas. Essas liga¸c˜ oes entre v´ertices pretendem descrever de uma forma qualitativa a interac¸c˜ao entre esses elementos do sistema. Atente-se no modo absolutamente grosseiro como se mostra a interac¸c˜ao, com a indica¸c˜ao muito simples da existˆencia, ou n˜ao, de uma liga¸c˜ao. 1 2

5

3 4

Figura 2.1 O grafo apresentado tem cinco v´ertices e sete arestas. Tendo numerado os v´ertices, as arestas podem ser descritas atrav´es de pares de n´ umeros, correspondentes aos v´ertices que est˜ao ligados por essa aresta: (1, 2), (1, 4), (2, 3), (2, 5), (3, 4), (4, 5), (5, 5). No grafo apresentado na figura anterior existe uma aresta a ligar um mesmo v´ertice. Trata-se de algo que foge `a interpreta¸c˜ao dada para uma aresta, mas ´e o resultado de uma generaliza¸c˜ao natural do conceito de aresta. Os grafos que nos v˜ao interessar s˜ao aqueles mais simples, onde assumimos n˜ao serem poss´ıveis arestas diferentes unindo os mesmos v´ertices, mas onde s˜ao permitidas arestas entre um mesmo v´ertice. Por outro lado, a propriedade que nos interessa estudar ´e a de saber se um grafo ´e conexo, isto ´e, se, dados quaisquer dois v´ertices, existe sempre uma sequˆencia de v´ertices, iniciada num deles e acabando no outro, todos eles ligados por arestas8 . Um grafo onde tal n˜ao seja verdade, diz-se desconexo. Contudo, excepto se o conjunto de arestas ´e vazio, podemos afirmar que um grafo desconexo tem sempre algumas partes, chamadas subgrafos, relativamente `as quais a afirma¸c˜ao acima ´e j´a verdadeira. Nesse caso, falamos das componentes conexas de um grafo. Obviamente que, dado um grafo, existir˜ao diversas componentes conexas, sendo umas maiores que outras, no sentido de terem um maior n´ umero de v´ertices. Aquilo 8

Em teoria de grafos essa sequˆencia de arestas chama-se um caminho.

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que pretendemos estudar ´e o tamanho da maior componente conexa de um grafo9 . Os grafos aleat´ orios que vamos considerar s˜ao designados por grafos aleat´orios binomiais e denotados por G(N, p). S˜ao grafos com N v´ertices, sendo o conjunto das suas arestas determinado por uma escolha de tipo binomial, de existˆencia ou n˜ao, efectuada para cada uma das N2 = N (N − 1)/2 arestas poss´ıveis. O valor de p, que ´e explicitado na nota¸c˜ao, corresponde `a probabilidade de existir uma aresta entre dois quaisquer v´ertices do grafo, sendo assumida igual para todas as arestas do grafo.

Figura 2.2 Identificando as diferentes componentes conexas destes trˆes exemplos de grafos aleat´orios binomiais G(20, 0.04), facilmente se chega `a conclus˜ao que o tamanho da maior componente conexa ´e igual a seis para o primeiro e segundo exemplos, sendo igual a quatro para o terceiro. Pela descri¸c˜ao feita retira-se facilmente que num grafo do tipo aleat´orio n˜ao ´e poss´ıvel assumir uma determinada estrutura geom´etrica para o conjunto das suas arestas. Vemos assim que, neste contexto, o que interessa estudar ´e o padr˜ao de conectividades do grafo, isto ´e, a sua topologia, e n˜ao a sua geometria. Introduzidos os grafos aleat´ orios binomiais e recordado o importante conceito de componentes conexas de um grafo, podemos agora come¸car a descrever as ideias principais de Kauffman e a analisar de que modo estes objectos se constituem como um modelo para a sua teoria da origem da vida. Consideremos um sistema molecular, ou seja, um conjunto de diferentes mol´eculas numa situa¸c˜ao que facilite a sua eventual interac¸c˜ao. Assim, por defini¸c˜ao, iremos as9

Que pode n˜ ao ser u ´nica, mas isso n˜ ao ´e relevante.

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sistir a reac¸c˜ oes qu´ımicas entre alguns dos componentes do sistema, algo que ´e costume representar, de uma forma muito simples, por A + B −→ C querendo com isto dizer que as mol´eculas A e as mol´eculas B interagem, de uma forma espontˆanea, para formar mol´eculas C. Deste modo, explicitado um sistema molecular, ´e poss´ıvel apresentar o conjunto das suas reac¸c˜oes, ou seja, o conjunto de todas as poss´ıveis reac¸c˜ oes qu´ımicas entre todas as mol´eculas que constituem o sistema. Contudo, este n˜ao ´e de modo algum aquilo que nos interessa, pois estas reac¸c˜oes espontˆaneas do sistema s˜ao sobretudo processos muito lentos. Assim sendo, no sistema rapidamente v˜ao assumir grande importˆancia todos os processos que sejam acelerados pela presen¸ca de uma outra mol´ecula, habitualmente representados por D

A + B −→ C e designados por reac¸c˜ oes catalisadas. S˜ao esses os processos que s˜ao relevantes e que, portanto, devemos estudar. Por outras palavras, querendo estudar a evolu¸c˜ao temporal de um sistema molecular, devemos assinalar no seu conjunto das reac¸c˜oes, aquelas que s˜ao aceleradas por mol´eculas tamb´em presentes no sistema, ou seja, o subconjunto das reac¸c˜ oes catalisadas. E ´e exactamente esse o ponto fundamental da ideia de Kauffman, as chamadas redes da vida, redes de esp´ecies moleculares cujo segredo est´a precisamente na cat´alise. Um organismo vivo mostra-se assim como um sistema de produtos qu´ımicos com a capacidade de catalisar a sua pr´opria reprodu¸c˜ao, ou seja, um sistema autocatal´ıtico. Nas palavras de Kauffman, (. . . ) a vida na sua origem assenta na propriedade de fechamento catal´ıtico, numa colec¸c˜ao de esp´ecies moleculares. Isolada, cada esp´ecie molecular est´a morta. Associadas, uma vez realizado o fechamento catal´ıtico, o sistema colectivo de mol´eculas torna-se vivo. Mas, obviamente, a quest˜ao que ent˜ao se coloca ´e a de saber at´e que ponto ´e razo´avel admitir o fechamento catal´ıtico de um sistema. Veja-se o que a esse respeito nos diz Kauffman. 39


Qual a probabilidade de uma tal rede auto-sustentada de reac¸c˜oes surgir naturalmente? Ser´a a emergˆencia de uma autocat´alise colectiva f´acil ou virtualmente imposs´ıvel? Teremos de escolher os nossos produtos qu´ımicos cuidadosamente ou funcionar´a com qualquer mistura? A resposta ´e animadora. A emergˆencia de conjuntos autocatal´ıticos ´e quase inevit´avel. A convic¸c˜ao na quase inevitabilidade do fechamento catal´ıtico foi o que Kauffman viu no gr´afico mostrado anteriormente. Para tal houve a necessidade de perceber que um grafo aleat´orio era um modelo razo´avel para um sistema de mol´eculas em interac¸c˜ao. Imaginemos um qualquer sistema composto por um n´ umero N de esp´ecies moleculares distintas. Quais das suas reac¸c˜ oes ser˜ao catalisadas por elementos tamb´em pertencentes ao pr´oprio sistema? Para evitar a necessidade de especificar todos os detalhes do sistema, podemos resolver este problema com uma atitude um pouco diferente: vamos admitir que, dado um qualquer par de esp´ecies moleculares do sistema, a probabilidade que a sua liga¸c˜ao seja catalisada por um elemento do sistema ´e igual a um certo valor, digamos p. Para simplificar, vamos tamb´em assumir que o valor de p ´e sempre igual, quaisquer que sejam os elementos envolvidos. Desta forma, uma vez que a evolu¸c˜ao temporal do sistema ´e determinada apenas pelo subconjunto das reac¸c˜oes catalisadas, e que podemos assumir como poss´ıveis todas as reac¸c˜ oes entre as diferentes mol´eculas do sistema, tem todo o sentido representar esse sistema por um grafo composto por N v´ertices, o n´ umero de mol´eculas distintas do sistema, sendo o conjunto das suas arestas obtido por uma escolha aleat´ oria de tipo binomial, que determinar´a, ou n˜ao, a sua existˆencia, a partir do conjunto de todas as arestas poss´ıveis do grafo. O nosso modelo matem´atico surge assim como um grafo aleat´ orio binomial G(N, p), onde p representa a probabilidade de uma qualquer reac¸c˜ao poss´ıvel do sistema ser uma reac¸c˜ao catalisada por uma mol´ecula do mesmo. Qual ´e ent˜ao a caracter´ıstica que estes grafos apresentam que fundamenta a teoria de Kauffman?

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Figura 2.3 Grafo das reac¸c˜ oes qu´ımicas.

Figura 2.4 Grafo das reac¸c˜ oes qu´ımicas.

41


O resultado referido anteriormente, a emergˆencia de um aglomerado gigante num grafo aleat´orio, pode ser apresentado num outro contexto, sendo ent˜ao um pouco mais f´acil de entender. Consideremos um exemplo, um grafo com N = 14 v´ertices, sem qualquer aresta. Porque n˜ao ´e importante neste contexto, n˜ao vou identificar cada um dos v´ertices do grafo.

Figura 2.5 Sistema formado por 14 elementos. A partir destes elementos vamos construir um grafo escolhendo aleatoriamente os elementos em interac¸c˜ao, ou seja, as suas arestas. Primeiramente vamos analisar a forma¸c˜ao de um grafo aleat´orio simples ao longo do tempo. Para tal, temos que o conjunto das suas arestas vai sendo constru´ıdo passo a passo, adicionando em cada um desses passos uma aresta, aresta essa que ser´a escolhida aleatoriamente entre todas as possibilidades, excepto aquelas que j´a foram concretizadas ´ este o resultado dos primeiros cinco passos dessa constru¸c˜ao. no grafo em causa. E

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t=0

t=1

t=2

t=3

t=4

t=5

Figura 2.6 Os cinco primeiros passos da constru¸c˜ao de um grafo, a partir de um sistema de 14 elementos, acrescentando, em cada um desses passos, uma aresta escolhida aleatoriamente entre todas as poss´ıveis. Agora a proposta ´e fazer o seguinte estudo: como ser´a que varia o tamanho da maior componente conexa do nosso grafo ao longo do tempo? Por outras palavras, qual a topologia, muitas componentes pequenas, ou uma componente muito grande, de um grafo aleat´ orio `a medida que se lhe v˜ao acrescentando mais e mais arestas? Sabemos que no fim teremos obviamente uma u ´nica componente, pois chegaremos a um grafo com todas as arestas poss´ıveis, mas de que forma, estatisticamente falando, vai variar o tamanho da maior das suas componentes conexas at´e esse valor extremo? Como se pode perceber analisando o exemplo apresentado, no in´ıcio vemos formar-se v´arias componentes conexas de tamanho muito reduzido, ou seja, o tamanho da maior componente conexa do grafo mant´em-se quase constante, num valor muito pequeno, neste caso de tamanho 2, para t = 1, 2, 3, 4. Contudo, no passo t = 5, vai surgir uma aresta que 43


liga duas dessas pequenas componentes conexas, donde resulta uma componente conexa ´ este, basicamente, o mecanismo que vai levar `a emergˆencia de uma de tamanho 4. E componente conexa gigante: o grafo vai acumulando pequenas componentes conexas que, a partir de um determinado momento, v˜ao ser ligadas a outras e mais outras, originando uma varia¸c˜ao muito brusca do tamanho da maior delas, em muito poucos passos da constru¸c˜ao.

44


Voltemos ao nosso exemplo e olhemos para alguns passos mais da constru¸c˜ao do grafo aleat´ orio. t=0

t=1

t=2

t=3

t=4

t=5

t=6

t=7

t=8

t=9

t = 10

t = 11

Figura 2.7 Os onze primeiros passos da constru¸c˜ao do grafo descrito. Como ´e poss´ıvel constatar, mesmo a partir de um pequeno exemplo, este processo de adicionar arestas a um grafo com um n´ umero fixo de v´ertices revela-nos uma enorme 45


surpresa: uma transi¸c˜ao de fase, com o aparecimento natural, inevit´avel e brusco, de uma sua componente conexa gigante! O contexto que nos interessa ´e um pouco diferente, mas a transi¸c˜ao tamb´em vai ocorrer. Consideremos de novo um grafo binomial G(N, p) e fixemos um valor para a probabilidade p, pouco importando, por agora, o seu valor: por exemplo, seja p = 0.01. De seguida, vamos fazer escolhas para G(N, p), considerando valores crescentes de N , por exemplo, para N = 100, 200, . . . , 2900, e determinar, para cada um desses grafos, qual o tamanho da sua maior componente conexa. Atente-se que n˜ao se trata aqui de construir um grafo passo a passo, mas sim de escolher um valor para N (n˜ao esquecer que p est´a fixo) e lan¸car os dados, obtendo assim um determinado grafo. Antes de avan¸car, acho conveniente fazer um paralelo entre esta situa¸c˜ao e aquela que foi apresentada acima: neste caso, uma vez que as arestas do grafo s˜ao escolhidas aleatoriamente, n˜ao conhecemos exactamente o n´ umero de arestas que tem cada um dos grafos. Contudo, em termos estat´ısticos pode-se afirmar que o n´ umero m´edio de arestas de um grafo binomial G(N, p) ´e igual ao produto pN (N − 1)/2, o que significa que, estando fixo o valor de p, este n´ umero cresce com N 2 . Deste modo tem-se que, tal como no contexto anterior, os grafos que consideramos quando escolhemos valores crescentes de N tˆem cada vez mais arestas relativamente ao n´ umero de v´ertices, ´ assim natural que, tal como na podemos dizer que s˜ao grafos cada vez mais densos. E situa¸c˜ao anterior, tamb´em agora se observe uma transi¸c˜ao de fase quando estudamos a varia¸c˜ao do tamanho da maior das suas componentes conexas. Os resultados obtidos na experiˆencia efectuada s˜ao apresentados na figura seguinte, onde temos como abcissas os valores de N e como ordenadas o tamanho, em percentagem, relativamente ao n´ umero de v´ertices do grafo, da sua maior componente conexa.

46


1

0.8

0.6

0.4

0.2

0

500

1000

1500

2000

2500

Figura 2.8 Conjunto de valores obtidos para a raz˜ao entre o tamanho da maior componente conexa de grafos binomiais G(N, p) e o n´ umero dos seus v´ertices, fixado o valor p = 0.01, considerando grafos com um n´ umero crescente de v´ertices. Este resultado matem´atico ´e muito importante e a sua compara¸c˜ao com a origem da vida ´e verdadeiramente espantosa: de acordo com este modelo, quando consideramos grafos binomiais com um n´ umero crescente de elementos, a partir de um determinado valor observa-se um crescimento brusco do tamanho da sua maior componente conexa, quase atingindo, em percentagem relativamente ao n´ umero de elementos do sistema, o valor limite 1. Por outras palavras, fixado o valor de p, a partir de um determinado n´ umero de elementos ´e muito prov´avel que a sua maior componente conexa seja a quase totalidade do sistema. Nesse sentido pode-se inferir que a partir de uma determinada diversidade do sistema molecular, e apenas a partir desse limiar, subitamente a grande maioria das mol´eculas do sistema participam em reac¸c˜ao catalisadas, sendo ent˜ao razo´avel admitir que se assista ao fechamento catal´ıtico do um sistema, `a forma¸c˜ao de um sistema colectivamente autocatal´ıtico. Citemos o pr´oprio Kauffman, ainda a partir do seu livro O Universo, a Nossa Casa. Aumente a diversidade e a complexidade at´omica das mol´eculas (do sistema), e mais e mais reac¸c˜ oes s˜ao catalisadas pelos membros do pr´oprio sistema. Quando ´e atravessado um determinado limiar de diversidade, uma rede gigante de reac¸c˜oes catalisadas cristaliza numa transi¸c˜ao de fase. O subgrafo das reac¸c˜oes catalisadas varia entre ter muitos componentes pequenos e um componente gigante com al47


guns componentes isolados mais pequenos. Tem agora elementos suficientes para supor que o componente gigante poder´a conter um subconjunto colectivamente autocatal´ıtico capaz de se formar a si pr´oprio por reac¸c˜oes catalisadas a partir de um suprimento de mol´eculas de nutrientes.

Observe-se que o valor de p = 0.01 escolhido para ilustrar a presen¸ca de uma transi¸c˜ao de fase no crescimento do tamanho da maior componente conexa de um grafo bimodal com a varia¸c˜ao do n´ umero de elementos do sistema n˜ao ´e de forma alguma realista, mas, se acompanharmos Kauffman e considerarmos um valor p = 10−6 , obter-se-´a uma curva an´aloga, apenas variando o valor de N onde se observa a mudan¸ca brusca, n˜ao sendo por isso relevante. A no¸c˜ao de conjunto autocatal´ıtico enumera uma das bases da vida, mas mais ´e necess´ario, pois os sistemas vivos replicam-se e alimentam-se, sendo sistemas termodinamicamente abertos. De facto, se o sistema fosse fechado, rapidamente encontrava o equil´ıbrio, mas na vida o equil´ıbrio termodinˆamico significa a morte. Os sistemas termodinˆamicos abertos, encontram-se continuamente desviados do equil´ıbrio qu´ımico e em casos simples os sistemas abertos estabilizam num estado estacion´ario diferente do encontrado nos sistemas termodinˆamicos fechados. No caso de um sistema aberto complexo, como a c´elula viva, o sistema dissipativo pode n˜ao estabilizar num estado estacion´ario inalter´avel ao longo do tempo e as concentra¸c˜oes podem come¸car a oscilar, para cima e para baixo, em ciclos que se v˜ao repetir, chamados ciclos limite. Apesar de numa fase inicial Kauffman aplicar o seu modelo as prote´ınas (devido ao seu car´acter catal´ıtico), o modelo ´e mais geral e pode ser aplicado a qualquer tipo de mol´eculas, ver [MS05], [Ste00] e [Kau93]. O grande interesse de olhar para estes sistemas em termos de topologia e complexidade ´e que n˜ao ´e necess´ario saber particularmente que mol´ecula catalisa determinada reac¸c˜ao para ter a certeza que um determinado conjunto de mol´eculas forma um conjunto autocatal´ıtico. Os pormenores especiais da qu´ımica podem n˜ao ser importantes. J´a se verificou que este tipo de sistemas possui propriedades auto-sustentadoras, mas 48


a realidade ´e que a sua existˆencia se aproxima e muito a um sistema auto-reprodutor, possuindo deste modo todas as caracter´ısticas fundamentais da vida. Focalizemos agora a nossa aten¸c˜ao nesta ideia de auto-reprodu¸c˜ao. Suponha-se que um destes sistemas auto-catal´ıtico est´a contido em algum tipo de compartimento. Esta compartimenta¸c˜ao ´e essencial para evitar a dilui¸c˜ao das mol´eculas em reac¸c˜ao, este compartimento poderia ser um dos cocervados de Fox ou constitu´ıdo por uma membrana de bicamada lip´ıdica. Compartimentado o sistema, `a medida que o tempo passa as reac¸c˜oes no sistema v˜ao produzindo c´ opias moleculares e ao final de algum tempo o n´ umero de c´opias efectuadas ter´a duplicado, aumentando o volume do sistema e a partir deste momento o sistema pode dividir-se em dois, tal como ocorre nas c´elulas, observando-as de uma forma gen´erica e simplista. Deste modo verifica-se que os sistemas ao aumentarem de volume espontaneamente tendem a dividir-se. Est˜ao agora reunidas todas as fun¸c˜oes essenciais `a vida de modo a olhar para os sistemas autocatal´ıticos como sistemas vivos. No entanto, outro problema se coloca ao pensarmos na possibilidade de forma¸c˜ao de estes sistemas com mol´eculas com propriedades catal´ıticas com grandes dimens˜oes, tais como RNA e/ou prote´ınas/p´eptidos. De facto, ´e muito dif´ıcil construir este tipo de mol´eculas grandes em ´agua, mantendo-as sem existir nenhum processo de separa¸c˜ao ou clivagem das mesmas em mol´eculas mais pequenas ou mesmo nas suas mol´eculas constituintes, como, por exemplo, amino´acidos ou nucle´ otidos. Apesar deste problema poder ser colocado em qualquer tipo de mol´ecula catalisadora, foquemo-nos nas prote´ınas/p´eptidos. A energia associada a uma simples liga¸c˜ao pept´ıdica ´e da ordem de 1400 calorias. Ora, como a liga¸c˜ao pept´ıdica se efectua normalmente pela liberta¸c˜ao de uma mol´ecula de H2 O, na presen¸ca de ´agua o efeito inverso ´e naturalmente o mais favor´avel. Por hidr´ olise, verifica-se o processo de clivagem das cadeias pept´ıdicas. Existe um problema, visto que uma das ideias base da origem da vida na Terra ´e que esta surgiu no interior dos oceanos, apesar de existirem outro tipo de ideias. Assumindo que a energia de uma qualquer liga¸c˜ao pept´ıdica ´e essencialmente a mesma que qualquer outra, segue-se que a taxa de dissocia¸c˜ao de um dip´eptido nos seus cons-

49


tituintes ´e cerca de dez vezes maior que a taxa de reassocia¸c˜ao desses mesmos, quando ambos reagentes e produtos est˜ao presentes no meio com uma concentra¸c˜ao 1M. A consequˆencia deste facto ´e que, no equil´ıbrio, a concentra¸c˜ao [PN ] de um p´eptido espec´ıfico com N amino´acidos decresce sob um factor de dez sempre que N aumenta em um, [PN ] = C N k −(N −1) onde k ´e a constante de dissocia¸c˜ao de uma liga¸c˜ao pept´ıdica, C ´e a concentra¸c˜ao molar da esp´ecie de amino´acidos e N ´e o comprimento do p´eptido. A equa¸c˜ao acima descrita mostra duas coisas: que a maioria dos amino´acidos presentes se encontram sob a forma de mon´ omeros ou pequenos p´eptidos e que a concentra¸c˜ao de um pol´ımero espec´ıfico de comprimento elevado ´e infinitesimal. Kauffman prop˜oe trˆes situa¸c˜oes distintas para resolver esta situa¸c˜ao: 1. A confina¸c˜ ao das reac¸c˜ oes moleculares a uma superf´ıcie em vez de um volume Deste modo a velocidade a que uma reac¸c˜ao qu´ımica se d´a depende somente da velocidade a que os pares da reac¸c˜ao colidem entre si. Enquanto num volume as mol´eculas tˆem que se difundir por trˆes dimens˜ oes, numa superf´ıcie reduzir-se-´a uma dimens˜ao, sendo mais f´acil o encontro entre pares, aumentando fortemente a probabilidade de colis˜ao e, consequentemente, a forma¸c˜ao de pol´ımeros maiores. 2. Desidrata¸c˜ ao do sistema A desidrata¸c˜ao do sistema conduz `a remo¸c˜ao de mol´eculas de ´agua, reduzindo os processos de clivagem das liga¸c˜ oes pept´ıdicas. Simula¸c˜oes computacionais feitas por Doyne Farmer, Norman Packard e Richard Bagley indicam que mesmo desidrata¸c˜ oes simples no sistema permitem a forma¸c˜ao de sistemas autocatal´ıticos e a sua reprodu¸c˜ao. N˜ao existem evidˆencias qu´ımicas para esta ideia. Um exemplo ser´a um sistema constitu´ıdo por uma enzima tripsina e prote´ınas. A enzima tripsina ´e uma das mol´eculas intervenientes no processo de digest˜ao, cortando as prote´ınas em p´eptidos mais peque50


nos. Misturando a tripsina com prote´ınas grandes num meio aquoso ela corta as prote´ınas em p´eptidos mais pequenos, mas se o sistema ´e desidratado o equil´ıbrio altera-se favorecendo a s´ıntese pept´ıdica e agora a tripsina serve de catalisador das reac¸c˜oes de liga¸c˜ao pept´ıdica. 3. Transferˆ encia de energia directa Nas c´elulas este tipo de reac¸c˜ao ´e o mais comum, com o fornecimento de energia na maioria das vezes sob a forma de quebra de liga¸c˜oes nas mol´eculas de ATP-adenina trifosfato. As c´elulas o que fazem ´e induzir reac¸c˜oes enderg´onicas (que libertam energia) acopolandose com reac¸c˜ oes exerg´ onicas (que requerem energia). Nos metabolismos primitivos de entre os diversos candidatos considera-se o pirofosfato (dois fosfatos ligados entre si), uma vez que, devido `a sua abundˆancia, este seria a mais prov´avel fonte de energia livre dispon´ıvel `a s´ıntese nestes sistemas primitivos. Mas, e nos sistemas autocatal´ıticos, como se poder´a acoplar reac¸c˜oes enderg´onicas a reac¸c˜ oes exerg´ onicas? Para Kauffman a solu¸c˜ao a esta quest˜ao est´a na adi¸c˜ao de catalisadores que acoplem as reac¸c˜oes enderg´onicas a reac¸c˜oes exerg´onicas de forma a que estas forne¸cam energia `as outras, onde a cat´alise dessas reac¸c˜oes acopuladas seria feita por catalisadores capazes desse estado de transi¸c˜ao.

51


modelo cl´assico de redes RBN de Kauffman A hip´otese de Stuart Kauffman de que a vida emergiu de forma espontˆanea a partir do caldo qu´ımico primordial como um sistema autocatal´ıtico encerrado num compartimento espacial que, com o tempo, tende a separar-se em v´arios elementos, teve de encontrar respostas para duas quest˜ oes fundamentais: a primeira diz respeito `a estabilidade do sistema, isto ´e, se um desses sistemas moleculares autocatal´ıticos ´e suficientemente est´avel para poder ser encarado como um proto-organismo, mas, simultaneamente, como ´e que este tipo de auto-reprodu¸c˜ao permite a variabilidade heredit´aria. Como vemos as duas quest˜oes est˜ao interligadas, o que parece tornar uma solu¸c˜ao praticamente imposs´ıvel de se obter. A resposta vai estar no refinamento da ideia original de Kauffman, num modelo matem´atico com caracter´ısticas absolutamente espantosas. A solu¸c˜ao para o problema de uma reprodu¸c˜ao do sistema permitindo pequenas varia¸c˜oes foi proposta, em 1992, por Richard Bagley e Doyne Farmer, [BF92]. Estes propuseram um modelo em que existiria a possibilidade de uma reac¸c˜ao aleat´oria, n˜ao catalisada, ocorresse espontaneamente, quando da separa¸c˜ao de um conjunto autocatal´ıtico. Segundo a sua perspectiva, se em torno do sistema molecular autocatal´ıtico existir uma esp´ecie de inv´ olucro molecular, isto ´e, se um significativo n´ umero de mol´eculas se localizar nas proximidades do conjunto, a sua integra¸c˜ao no sistema poderia modificar o sistema positivamente, caso fossem favor´aveis `a catalisa¸c˜ao de mol´eculas do sistema, ou negativamente, caso inibissem uma reac¸c˜ao desse mesmo sistema. Estar´ıamos assim perante um mecanismo muito simples que permitiria eventuais pequenas modifica¸c˜oes de r´eplicas do sistema original durante a sua auto-reprodu¸c˜ao. Esta ideia avan¸cada por Bagley e Farmer acrescenta um aspecto importante `a teoria de Kauffman: neste modelo o organismo primordial n˜ao necessitaria de uma mol´ecula guia para evoluir, ou seja, numa primeira vers˜ao do que chamar´ıamos vida n˜ao seria necess´aria a defini¸c˜ao de uma mol´ecula gen´etica para orientar a sua evolu¸c˜ao, ou seja, a distin¸c˜ao entre gen´otipo e fen´ otipo deixaria de ter significado, pois o organismo passaria a comportar-se como um todo, deixando de ser necess´aria qualquer sua especifica¸c˜ao e particulariza¸c˜ao. Essa distin¸c˜ao seria uma consequˆencia de est´agios posteriores da evolu¸c˜ao, mas n˜ao uma

52


caracter´ıstica primordial. Este aspecto resolveria uma quest˜ao muito importante, uma vez que a discuss˜ao sobre quais as mol´eculas mais prov´aveis para a informa¸c˜ao gen´etica primordial passaria imediatamente para um segundo plano e a vida passa a ter um car´acter mais prov´avel. Mais uma vez refor¸ca-se a ideia que a vida, no seu sentido mais b´asico, ´e algo quase imposs´ıvel de n˜ao acontecer e que facilmente uma protoc´elula se reproduz dando origem a uma pan´ oplia de diferentes protoc´elulas, criando micro ecossistemas com capacidades evolutivas. Mas a capacidade evolutiva de uma protoc´elula requer mais do que a simples capacidade de muta¸c˜ao atrav´es da varia¸c˜ao heredit´aria. Acima desta variabilidade heredit´aria est´a a necessidade de um compromisso interno do sistema entre a maleabilidade e a estabilidade. Por outras palavras, torna-se necess´ario mostrar que neste modelo o sistema ´e suficientemente est´avel, de modo a que pequenas flutua¸c˜oes n˜ao desencadeiem perturba¸c˜ oes em cascata, destruindo-o rapidamente, mas, simultaneamente, que ´e suficientemente male´avel para que n˜ao se torne est´atico. A resposta a esta importante quest˜ao surgiu pela identifica¸c˜ao de um comportamento poss´ıvel para o sistema, talvez de uma forma pouco feliz designado por limiar do caos, onde ´e evidente um estado de homeostase interna do sistema que permite manter alguma ordem, ao mesmo tempo que o mant´em aberto a pequenas flutua¸c˜ oes. Para verificar se ´e poss´ıvel a um sistema molecular autocatal´ıtico permanecer num estado de homeostase interna, Kauffman considera um modelo bastante mais sofisticado, mas onde as caracter´ısticas fundamentais que lhe permitiram provar o fechamento catal´ıtico do sistema s˜ao conservadas: esses modelos s˜ao hoje designados por redes boolenas aleat´orias NK , ou, de uma forma mais simples, por redes de Kauffman. Mas, antes de apresentar em que consistem estes modelos matem´aticos, gostaria de motivar a sua escolha destacando alguns aspectos do funcionamento molecular no interior das protoc´elulas. O sistema autocatal´ıtico mais f´acil de compreender e descrever ´e um sistema biol´ogico enzim´atico, dado que as enzimas s˜ao especialmente conhecidas por ter esta fun¸c˜ao de catalisar reac¸c˜ oes moleculares. Num sistema enzim´atico, as enzimas apresentam sempre sinais de mais ou menos actividade dependendo da concentra¸c˜ao de enzima e substrato, mas para uma maior simplifica¸c˜ao e facilidade de modela¸c˜ao, visto que se trata de um

53


sistema conectado de milhares de enzimas, onde cada uma tem a possibilidade de activar ou inibir determinada reac¸c˜ao, ser´a v´alido, numa primeira aproxima¸c˜ao, considerar apenas dois estados de actividade: o estado ligado, isto ´e, quando a enzima se encontra ligada ao substrato catalisando e favorecendo a reac¸c˜ao, e o estado desligado, isto ´e, quando a enzima se encontra desligada do substrato. Uma forma de tornar este tipo de sistema mais palp´avel e visualmente mais eficaz ser´a utilizando a met´afora de que a rede metab´olica enzim´atica ´e equivalente a um circuito conectado de lˆampadas el´ectricas, onde cada lˆampada determina o estado de ligado ou desligado de uma ou mais lˆampadas. Temos assim, tal como anteriormente, um sistema de elementos em interac¸c˜ao, mas s´o que desta vez vamos descrever um pouco melhor a interac¸c˜ao em causa, n˜ao basta dizer que existe uma liga¸c˜ao, uma aresta a ligar dois v´ertices do nosso grafo. Para simplificar, vamos admitir que os elementos do sistema podem assumir dois estados, digamos, os estados ligado, que vamos denotar pelo n´ umero 1, ou desligado, denotado por um 0. Deste modo, uma configura¸c˜ao do sistema passa por explicitar os valores, 0 ou 1, de todos os elementos do sistema. Agora a ideia fundamental ´e permitir que o estado de cada elemento do sistema possa ser alterado por influˆencia de outros elementos. Para simplificar, vamos admitir que o estado de todos os elementos do sistema depende de um n´ umero fixo de outros elementos, ou de si pr´oprio, naturalmente. Temos assim uma rede booleana NK , onde N designa o n´ umero de elementos do sistema, o n´ umero de lˆampadas/enzimas, e onde K indica o n´ umero de elementos que influenciam o estado de cada elemento da rede. Para terminar, ´e necess´ario explicitar, para cada elemento do sistema, de que modo os K elementos influenciam o seu estado. Matematicamente isso ´e feito indicando uma fun¸c˜ao booleana com K entradas, descrita, por exemplo, por uma tabela de verdade. Atente-se que s˜ao permitidas fun¸c˜oes booleanas diferentes para diferentes elementos do sistema. Para melhor entendermos o funcionamento deste tipo de sistema NK de lˆampadas/enzimas, n˜ao h´a nada como analisarmos um exemplo simples, com escolhas para N e para K suficientemente pequenos de modo a que permitam a sua an´alise e caracteriza¸c˜ao. Consideremos um sistema composto por N = 3 lˆampadas/enzimas que, tal como anteriormente foi descrito, podem estar no estado ligado (1) ou desligado (0). Vamos as-

54


sumir que todas as lˆampadas do sistema possuem K = 2 entradas, inputs, de informa¸c˜ao e uma sa´ıda, output, da informa¸c˜ao de acordo com a fun¸c˜ao booleana a ela associada.

L1

L2

L3

Figura 2.9 Sistema formado por trˆes elementos/lˆampadas/enzimas, L1 , L2 e L3 . Por defini¸c˜ao, o estado ligado/desligado de cada um deles depende do estado ligado/desligado dos outros dois elementos, sendo esse o significado das liga¸c˜oes entre lˆampadas. Para completarmos a descri¸c˜ao do nosso sistema NK devemos ainda explicitar as trˆes fun¸c˜ oes booleanas, uma para cada elemento. Neste caso vamos escolher fun¸c˜oes booleanas facilmente reconhec´ıveis como operadores l´ogicos, And e Or. Como sabemos, no caso de termos a fun¸c˜ao booleana And associada a uma lˆampada, somente dois sinais de input positivos, (11), levam a um output positivo, ou seja a um acender da lˆampada. input1

input2

output

0

0

0

0

1

0

1

0

0

1

1

1

Figura 2.10 Tabela de verdade da fun¸c˜ao booleana correspondente ao operador l´ogico And.

55


De modo an´alogo, sabe-se que, no caso de termos a fun¸c˜ao booleana Or associada a uma lˆampada, basta que um dos seus sinais de input seja positivo para que a lˆampada retorne um output igualmente positivo. input1

input2

output

0

0

0

0

1

1

1

0

1

1

1

1

Figura 2.11 Tabela de verdade da fun¸c˜ao booleana correspondente ao operador l´ogico Or. Descritas as fun¸c˜ oes booleanas que vamos associar aos elementos do nosso sistema, vamos agora explicitar essa correspondˆencia. Assim sendo, considere-se o sistema composto por N = 3 elementos a que se encontram associadas as seguintes fun¸c˜oes booleanas: Lˆampada/enzima

fun¸c˜ao booleana

input1

input2

L1

And

L2

L3

L2

And

L1

L3

L3

Or

L1

L2

Figura 2.12 Descri¸c˜ao do sistema pela indica¸c˜ao das fun¸c˜oes booleanas que est˜ao associadas ao seus elementos, n˜ao apenas a sua l´ogica, mas tamb´em as suas entradas. A evolu¸c˜ao temporal do sistema faz-se da seguinte forma: num determinado momento T, vamos assumir conhecido o estado de cada um dos elementos do sistema, digamos, L1 = 1, L2 = 1 e L3 = 0. Ent˜ao, o estado do primeiro elemento, L1 , no instante seguinte, T+1, ´e obtido lendo na tabela de verdade da fun¸c˜ao boolena que lhe est´a associada, neste caso, o operador l´ ogico And, o valor correspondente `a primeira entrada estar no estado 1 e a segunda no estado 0, respectivamente, os estados das lˆampadas L2 e L3 . Vem assim que o resultado, isto ´e, o estado, no instante T+1, da lˆampada L1 , ´e igual a 0. Fazendo o mesmo para os outros dois elementos do sistema obtemos os seguintes resultados: 56


Lˆampada

T

T+1

L1

1

0

L2

1

0

L3

0

1

Procedendo de modo an´alogo, podemos descrever a evolu¸c˜ao temporal do sistema, quaisquer que sejam os estados dos seus elementos. Sendo o estado de cada lˆampada do sistema um de dois valores, podemos concluir que o espa¸co de estados deste sistema NK , com N = 3 lˆampadas, ´e constitu´ıdo por 23 = 8 estados poss´ıveis. Na tabela seguinte apresenta-se a evolu¸c˜ao temporal de todos os 8 elementos do espa¸co de estados do sistema ap´os um e dois instantes, ou seja, para os instantes T+1 e T+2.

instante T

instante T+1

instante T+2

L1

L2

L3

L1

L2

L3

L1

L2

L3

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

0

0

0

0

1

0

0

0

1

0

0

0

1

0

0

0

0

1

0

0

0

0

1

1

1

0

1

0

1

1

1

1

0

0

0

1

0

0

0

1

0

1

0

1

1

1

0

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

Analisando os valores apresentados nesta tabela ´e poss´ıvel caracterizar a evolu¸c˜ao temporal deste nosso sistema. Primeiro, vemos que existem dois estados relativamente aos quais o sistema, uma vez assumido esse estado, a´ı permanece para sempre: s˜ao os estados (111) e (000). Por outras palavras, se o sistema no instante T se encontra num destes estados, a´ı permanecer´a nos instantes seguintes. Estes estados s˜ao habitualmente designados por estados estacion´arios do sistema. 57


Por outro lado, como ´e poss´ıvel constatar, existem quatro estados, (110), (100), (010) e (001), que revelam uma tendˆencia para se direccionar para o estado estacion´ario (000). De facto, caso o sistema, no instante T, se encontre num destes estados, podemos garantir que vai estar no estado estacion´ario referido passados apenas dois instantes. Por fim, vemos que os outros dois estados, (101) e (110), tˆem um comportamento c´ıclico, ou peri´ odico, no sentido em que, quando o sistema se encontra num destes estados no instante T, vai, no instante seguinte, estar no outro, e assim sucessivamente. Vemos assim o sistema num pulsar intermitente entre os dois estados, o que corresponde a um comportamento peri´ odico de per´ıodo 2 do sistema. Olhemos agora sob uma perspectiva diferente para cada um dos casos anteriores. Primeiramente focaremos a nossa aten¸c˜ao para o estado em que as lˆampadas se encontram todas elas inicialmente acesas (111); neste caso o sistema n˜ao evolui visto que simplesmente permanecer´a preso nesse estado ligado. Voltando ao caso enzim´atico, podemos pensar que neste caso as nossas enzimas estariam, por exemplo, ligadas a um inibidor permanente, n˜ao permitindo a liga¸c˜ao daquelas com o substrato. No caso estacion´ario para o qual o sistema fica preso no estado n˜ao ligado (000) podemos assumir, por exemplo, que nenhum dos substratos existentes no interior do caldo corresponde `as enzimas em quest˜ao. No caso do sistema ter um estado que seguir´a em direc¸c˜ao ao estado estacion´ario n˜ao ligado (000) poderemos imaginar um sistema em que a concentra¸c˜ao do substrato seja inferior `a das enzimas pelo que, passado algum tempo, deixaria de existir substrato no sistema. No caso da intermitˆencia correspondente a uma ´orbita de per´ıodo 2, (011), (101) , vemos que existe um desligar e ligar de algumas das enzimas do sistema, pelo que podemos pens´a-lo como um sistema que ao longo do tempo vai sempre renovando as mol´eculas de substrato necess´arias `a fun¸c˜ao enzim´atica.

58


De um ponto de vista mais matem´atico podemos descrever o sistema anterior como uma rede booleana NK com 3 atractores, para os quais todos os restantes estados poss´ıveis do sistema confluem:

• o estado estacion´ario (111); • o estado estacion´ario (000); • o ciclo de estados (011), (101) .

Nesta altura ´e muito importante salientar o seguinte: a existˆencia destes atractores numa rede booleana NK ´e fonte de ordem, no sentido em que todos os estados do sistema, isto ´e, um elevad´ıssimo n´ umero de estados, tˆem uma evolu¸c˜ao temporal na sua direc¸c˜ao, fazendo com que o sistema estabilize de forma ordenada, quer num estado estacion´ario, quer num ciclo que se vai repetir ad eternum. Mas ´e obvio que, no caso extremo, um ciclo atractor do sistema pode ter o tamanho do espa¸co de estados do sistema, o que no exemplo em quest˜ao corresponderia a ter um atractor com ciclo de per´ıodo 8. Se neste caso um per´ıodo de ´ orbita 8 n˜ao ´e muito grande, para um conjunto autocatal´ıtico com 1000 mol´eculas, ou seja, uma rede de 1000 lˆampadas, o espa¸co de estados adquire o valor gigantesco de 21000 ≈ 10301 estados poss´ıveis, o que implicaria uma verdadeira eternidade para se assistir ao completar da sua ´orbita de estados, pelo que o sistema pareceria apresentar caracter´ısticas err´aticas, ou seja, embora exista ordem, essa ordem n˜ao seria de modo algum percept´ıvel. Verifica-se ent˜ao que, para que a existˆencia de atractores seja o meio apropriado, ou seja, um pr´e-requisito, para a ordem de um sistema, ´e necess´ario que este tenha um comportamento c´ıclico entre um n´ umero muito pequeno de estados, ou seja, tenha um per´ıodo n˜ao muito elevado. Um outro pr´e-requisito para a existˆencia de uma ordem gratuita ´e o sistema exibir homeostase, ou seja, possuir a capacidade de resistir a pequenas perturba¸c˜oes. Note-se que a existˆencia de atractores s˜ao, tamb´em eles, fonte b´asica de homeostase, uma garantia de uma certa estabilidade do sistema. Exemplo disso ´e o facto de, uma vez alterado o estado de uma das lˆampadas do sistema, verificarmos que, ao fim de algum tempo, o sistema retorna ao atractor, uma vez que, apesar da pequena varia¸c˜ao no estado do 59


sistema, este se manteve na chamada bacia de atrac¸c˜ao do atractor. No entanto, sabe-se que nem todos os atractores exibem propriedades de homeostase, por exemplo, na rede metab´olica/circuito el´ectrico por n´ os considerada, facilmente se reconhece que efectuada uma pequena varia¸c˜ao no atractor correspondente ao estado estacion´ario isolado (111), o sistema seguir´a uma outra traject´ oria e n˜ao mais retornar´a `a bacia de atrac¸c˜ao anterior, ou seja, essa pequena varia¸c˜ao levou a um efeito catastr´ofico/ca´otico desviando o sistema do equil´ıbrio e levando-o para uma bacia de atrac¸c˜ao diferente e assim em direc¸c˜ao a um outro atractor. Uma pequena modifica¸c˜ao do sistema pode ser de um outro tipo, para al´em da altera¸c˜ao do estado de um dos elementos do sistema: vamos admitir que a varia¸c˜ao no sistema ´e ao n´ıvel da fun¸c˜ao booleana associada a uma das lˆampadas. Como ´e razo´avel supˆor, com esta mudan¸ca, uma muta¸c˜ao, uma nova configura¸c˜ao pode ocorrer no sistema, modifica¸c˜ao essa que pode mesmo levar `a cria¸c˜ao de novos atractores e novas bacias de atrac¸c˜ao, em suma, a um novo padr˜ao evolutivo. No entanto, como vamos ver, pode ainda assim persistir uma estabilidade intr´ınseca do sistema, ou seja, o sistema modificarse-ia, mas mantendo caracter´ısticas an´alogas de ordem. Recuperando uma vez mais o exemplo anterior, imaginemos que introduzimos uma ligeira varia¸c˜ao `a fun¸c˜ao booleana associada a L2 , que em vez do operador l´ogico And anterior, consideramos agora a fun¸c˜ao booleana descrita pela seguinte tabela de verdade: input1

input2

output

0

0

0

0

1

1

1

0

0

1

1

1

Figura 2.13 Tabela de verdade da nova fun¸c˜ao booleana associada a L2 , resultante de uma ligeira modifica¸c˜ao do operador l´ ogico And. Que consequˆencias, em termos de evolu¸c˜ao do sistema, do n´ umero de atractores, etc., ter´a esta pequena modifica¸c˜ao do sistema? Para responder a essa quest˜ao temos apenas 60


que repetir o estudo efectuado anteriormente e apresentar, para todos os oito estados poss´ıveis para o sistema, num instante T, quais os correspondentes estados nos instantes T+1 e T+2. instante T

instante T+1

instante T+2

L1

L2

L3

L1

L2

L3

L1

L2

L3

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

0

1

0

0

0

1

0

1

0

0

0

1

0

1

0

1

0

0

0

0

1

0

0

0

0

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

0

0

0

1

0

0

0

1

0

1

0

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

1

Analisando esta tabela chega-se `as seguintes conclus˜oes: o novo sistema tem exactamente os mesmos dois estados estacion´arios, (111) e (000), e tamb´em um ciclo de per´ıodo 2, mas agora os estados que comp˜oem esse ciclo s˜ao (010) e (011). Desta vez, por´em, ambos os estados estacion´arios atraem outros estados, a saber, os estados (100) e (110) evoluem na direc¸c˜ao do estado (000), enquanto os estados (101) e (011) se dirigem para o estado (111). Naturalmente que para um exemplo de t˜ao reduzidas dimens˜oes, N = 3, n˜ao ´e f´acil concluir se as altera¸c˜oes verificadas para a evolu¸c˜ao do sistema modificado s˜ao realmente importantes, ou se, pelo contr´ario, estamos perante um sistema radicalmente diferente do anterior. Mas este estudo permite, pelo menos, entender que existe este tipo de modifica¸c˜ao/muta¸c˜ao poss´ıvel para uma rede booleana NK . Com este exemplo, verifica-se que as redes booleanas poder˜ao ser de facto uma possibilidade para uma modela¸c˜ao do que pode ter sido a vida nos seus est´agios mais b´asicos. Mas, como se constata facilmente, nem todas as redes booleanas levam a estados ordenados e, podemos mesmo desde j´a adiantar, na sua grande maioria as redes booleanas levam a estados destitu´ıdos de qualquer tipo de ordem, estados apelidados de ca´oticos. Deste modo, existe a necessidade de investigar quais os tipos de redes NK mais favor´aveis 61


a padr˜oes ordenados ou, como vamos ver de seguida, de limiar do caos. Existem duas caracter´ısticas fundamentais que caracterizam a forma como as redes s˜ao constru´ıdas e que podem caracterizar o tipo de estado em que estas se encontram. Elas s˜ao, primeiro, o n´ umero K de inputs que controlam cada uma das lˆampadas e, segundo, quais as fun¸c˜ oes booleanas que vamos associar a cada um dos elementos do sistema. Mas, antes ainda de avan¸carmos nessa direc¸c˜ao, torna-se obrigat´orio apresentar alguns n´ umeros e mostrar a dimens˜ao do estudo que este tipo de modelos implica e, desse modo, justificar a afirma¸c˜ao de Kauffman, quando nos diz que passou trinta anos trabalhando simula¸c˜ oes computacionais at´e lhe ser poss´ıvel adiantar algumas das suas conjecturas. No exemplo atr´as apresentado foram escolhidos valores de N e K suficientemente pequenos para que fosse poss´ıvel apresentar todas as tabelas necess´arias para o acompanhar do estudo feito de molde a caracterizar o padr˜ao de comportamento do sistema em causa. O que acontece, por´em, se considerarmos, n˜ao ainda valores razo´aveis para a quest˜ao da origem da vida, mas, digamos, um pouco maiores que aqueles escolhidos anteriormente: por exemplo, seja N = 15 e K = 3. O que significa ent˜ao estudar redes booleanas NK , quando s˜ao estes os valores em causa? Se K = 3, temos que uma tabela de verdade de uma qualquer fun¸c˜ao booleana deste tipo tem que especificar o output para 23 = 8 poss´ıveis estados do conjunto das suas entradas. Ora, uma vez que cada um desses outputs pode assumir quer o valor 0, quer o valor 1, conclu´ımos que, para K = 3 inputs, existem 28 = 256 fun¸c˜oes booleanas poss´ıveis para cada elemento da rede. Mas, tal como anteriormente, especificar uma fun¸c˜ao booleana significa tamb´em dizer que elementos est˜ao em cada uma das suas entradas, isto ´e, que elementos da rede s˜ao input da fun¸c˜ao em causa. Dizendo isto, chega-se `a conclus˜ao que, fixada uma qualquer fun¸c˜ao booleana, temos ainda 15 = 455 3 escolhas poss´ıveis para as entradas dessa fun¸c˜ao. Deste modo, tem-se que o n´ umero de fun¸c˜oes booleanas que podem ser escolhidas para cada elemento da rede ascende a 23 ×455 = 116 480. Ora, como o sistema ´e composto por N = 15 elementos e temos toda a liberdade de escolher uma qualquer fun¸c˜ao booleana para cada um desses elementos,

62


ficamos a saber que existe um n´ umero assombroso de redes booleanas NK distintas: 116 48015 = 1 898 501 371 294 981 013 110 624 194 148 437 500 000 000 , ou seja, cerca de 1048 redes booleanas NK , quando N = 15 e K = 3. Mas agora, encontrado o n´ umero de redes NK distintas, o que significa estudar uma destas redes? Tal como se fez anteriormente, significa caracterizar exactamente o comportamento, a evolu¸c˜ao temporal, de todos os estados poss´ıveis para o sistema. E quantos s˜ao esses estados poss´ıveis? Sendo uma rede com N = 15 elementos, cada um podendo estar ligado ou desligado, temos que existem 215 = 32 768 configura¸c˜oes poss´ıveis para a rede. Por outras palavras, a tabela anterior, que nos permitiu concluir que o sistema em causa tinha trˆes atractores, et cetera, ter´a desta vez 32 768 linhas, e j´a n˜ao as 8 anteriores. Por outro lado, como ´e muito f´acil de imaginar, para estes sistemas n˜ao bastar´a determinar o estado de cada elemento do sistema nos dois instantes seguintes10 . Como podemos constatar, a apresenta¸c˜ao de resultados sobre redes booleanas NK requer algumas ast´ ucias e um poder computacional consider´avel. Uma vez que n˜ao existe qualquer motivo para escolher uma determinada rede booleana NK , e se pretende concluir pela inevitabilidade da emergˆencia de vida, Kauffman prop˜oe que o modelo adoptado seja uma rede booleana aleat´oria NK , ou seja, uma rede booleana NK onde as fun¸c˜ oes associadas a cada um dos seus N elementos sejam escolhidas aleatoriamente entre todas as poss´ıveis com K entradas, sendo igualmente as entradas de cada uma delas escolhidas aleatoriamente entre os N elementos da rede. Para simplificar, vou passar a designar estas redes por RBN, a partir da sua descri¸c˜ao em l´ıngua inglesa, Random Boolean Networks. A partir desta escolha, o que fazer para encontrar algumas caracter´ısticas t´ıpicas para esses modelos? A resposta ´e muito simples: o melhor ser´a definir cuidadosamente o tipo de redes em quest˜ao e depois utilizar computadores para simular um grande n´ umero de redes retiradas aleatoriamente dessa fam´ılia, simula¸c˜oes essas feitas a partir de escolhas aleat´orias para a configura¸c˜ao inicial do sistema11 . Os 10 Tamb´em para redes booleanas com N = 3 e K = 2 poder´ a ser necess´ ario estudar a evolu¸c˜ ao do sistema por mais que esses dois instantes. 11

N˜ ao sendo o n´ umero de configura¸co ˜es poss´ıveis para o sistema um n´ umero extraordinariamente elevado quando N = 15, o mesmo j´ a n˜ ao se pode dizer quando toma valores mais realistas, N = 100 000, por exemplo.

63


resultados obtidos ser˜ao ent˜ao olhados estatisticamente, isto ´e, como propriedades t´ıpicas para a fam´ılia de modelos RBN considerada. As principais caracter´ısticas de uma fam´ılia de RBN NK que interessa estudar s˜ao trˆes, a saber, • o n´ umero de atractores do sistema; • o comprimento dos atractores do sistema; • a estabilidade dos atractores do sistema a perturba¸c˜oes. Relativamente `as duas primeiras, o estudo mais relevante ´e, escolhido um valor de K, perceber a forma como o n´ umero e o comprimento dos atractores cresce com N . Desse modo teremos uma ideia dos n´ umeros envolvidos quando fazemos N tomar valores muito elevados. Foi basicamente este o tipo de estudo feito por Kauffman e que lhe permitiu perceber que estas redes RBN possu´ıam de facto caracter´ısticas que apoiavam de forma inequ´ıvoca a sua utiliza¸c˜ao como modelo para a origem da vida. De seguida vou apresentar o estudo expl´ıcito de uma rede RBN NK , para N = 8 e K = 3, ou seja, vou apresentar todos os atractores, estados estacion´arios e/ou ciclos de estados, e respectivas bacias de atrac¸c˜ao do sistema. Como hoje em dia ´e habitual, a dinˆamica da rede vai ser representada por um diagrama de Wuensche onde o atractor toma o centro do diagrama e onde os diferentes estados do sistema que para ele convergem s˜ao dispostos ao longo de c´ırculos. Para n˜ao complicar o diagrama de Wuensche da rede a estudar, uma vez que essa informa¸c˜ao n˜ao ´e particularmente relevante para a an´alise pretendida, decidi n˜ao explicitar os estados do sistema pertencentes `as bacias de atrac¸c˜ao. O interesse desse estudo est´a na percep¸c˜ao das caracter´ısticas principais da dinˆamica que uma rede deste tipo revela, as suas bacias de atrac¸c˜ao, em particular o n´ umero de estados que a comp˜oem e o n´ umero de passos necess´arios para, a partir de um dos seus elementos, alcan¸car o atractor12 . Escolhida aleatoriamente uma rede RBN NK , para N = 8 e K = 3, foi obtido o seguinte conjunto de fun¸c˜ oes booleanas:

12

Computacionalmente esta informa¸c˜ ao ´e muito importante.

64


input1 0 0 0 0 1 1 1 1

input2 0 0 1 1 0 0 1 1

input3 0 1 0 1 0 1 0 1

output 0 1 0 0 1 1 0 1

input1 0 0 0 0 1 1 1 1

input2 0 0 1 1 0 0 1 1

input3 0 1 0 1 0 1 0 1

output 1 0 1 1 1 1 0 1

input1 0 0 0 0 1 1 1 1

input2 0 0 1 1 0 0 1 1

input3 0 1 0 1 0 1 0 1

output 0 1 0 1 0 1 1 1

input1 0 0 0 0 1 1 1 1

input2 0 0 1 1 0 0 1 1

input3 0 1 0 1 0 1 0 1

output 1 0 1 1 0 1 1 1

input1 0 0 0 0 1 1 1 1

input2 0 0 1 1 0 0 1 1

input3 0 1 0 1 0 1 0 1

output 0 0 1 1 1 0 1 0

input1 0 0 0 0 1 1 1 1

input2 0 0 1 1 0 0 1 1

input3 0 1 0 1 0 1 0 1

output 0 0 1 1 0 1 0 1

input1 0 0 0 0 1 1 1 1

input2 0 0 1 1 0 0 1 1

input3 0 1 0 1 0 1 0 1

output 0 0 1 0 1 0 1 0

input1 0 0 0 0 1 1 1 1

input2 0 0 1 1 0 0 1 1

input3 0 1 0 1 0 1 0 1

output 0 1 1 0 1 1 1 0

Figura 2.14 Fun¸cËœ oes booleanas associadas a cada um dos N = 8 elementos da rede.

65


De seguida procedeu-se `a escolha, igualmente aleat´oria, das trˆes portas l´ogicas, inputs, associadas a cada uma dessas fun¸c˜ oes booleanas. A distribui¸c˜ao das entradas que se obteve ´e apresentada na seguinte tabela: input1

input2

input3

L1

L6

L5

L2

L2

L4

L2

L8

L3

L1

L3

L6

L4

L3

L8

L4

L5

L7

L5

L2

L6

L8

L3

L6

L7

L7

L2

L5

L8

L1

L7

L8

Figura 2.15 As K = 3 entradas das fun¸c˜oes booleanas associadas a cada um dos N = 8 elementos da rede. Fixada a rede NK , foi estudada ent˜ao a dinˆamica de cada uma das 28 = 256 configura¸c˜oes poss´ıveis para o sistema, tendo sido encontrados 6 atractores: dois estados estacion´arios, A1 =(01011001) e A2 =(00001000), e quatros ciclos de estados, um de per´ıodo 2, A3 =((00001000), (01010000)), dois de per´ıodo 3, A4 =((01010000), (10000010), (01011011)) A5 =((01110000), (10010110), (11101011)), e um de per´ıodo 6, A6 =((10110111), (11111110), (10110101), (11110101), (111110111), (11110110)). De seguida s˜ao apresentados os diagramas de Wuensche de cada um dos seis atractores encontrados. 66


Figura 2.16 Diagrama de Wuensche da bacia de atrac¸c˜ao do estado estacion´ario (01011001).

Figura 2.17 Diagrama de Wuensche da bacia de atrac¸c˜ao do estado estacion´ario (00001000).

67


Figura 2.18 Diagrama de Wuensche da bacia de atrac¸c˜ao do ciclo de estados de per´ıodo 3 (01010000), (10000010), (01011011).

Figura 2.19 Diagrama de Wuensche da bacia de atrac¸c˜ao do ciclo de estados de per´ıodo 3 (01110000), (10010110), (11101011).

Figura 2.20 Diagrama de Wuensche da bacia de atrac¸c˜ao do ciclo de estados de per´ıodo 2 (00001000), (01010000).

68


Figura 2.21 Diagrama de Wuensche da bacia de atrac¸c˜ao do ciclo de estados de per´ıodo 6 (10110111), (11111110), (10110101), (11110101), (111110111), (11110110). Por compara¸c˜ao, vˆe-se claramente que certos atractores possuem bacias mais complicadas, n˜ao apenas no muito maior n´ umero de estados que as comp˜oem, mas sobretudo no n´ umero ´ bom de passos necess´arios para certos estados chegarem ao comportamento peri´odico. E lembrar que estes n´ umeros devem ser analisados relativamente aos n´ umeros do pr´oprio sistema, ou seja, que quando extrapolados para um valor de N muito maior, mostrar˜ao, sem qualquer d´ uvida, uma complexidade (dentro de uma ordem, que s˜ao os atractores) evidente. Num universo de apenas 256 estados poss´ıveis, vemos que o primeiro dos atractores descritos alonga-se por nove estados e o segundo por oito. Este alongar das bacias por um n´ umero bastante elevado de estados transientes torna-se um verdadeiro problema computacional, como tivemos consciˆencia em muitos dos exemplos estudados.

69


As redes mais f´aceis de estudar s˜ao aquelas correspondentes aos valores extremos de K, isto ´e, uma vez fixado um valor para N , o que acontece se escolhermos K = 1 ou K = N inputs para as fun¸c˜ oes booleanas associadas a cada um dos elementos da rede? Os estudos anal´ıticos, e n˜ao j´a computacionais, foram efectuados para estas duas situa¸c˜oes a partir da d´ecada de 1980, com os seguintes resultados, [FK88]: para valores elevados de N , a varia¸c˜ao do n´ umero esperado de ciclos com o valor de N quando consideramos uma rede RBN NK com K = 1 ´e log 2 N 2 De igual forma, ´e poss´ıvel mostrar que, ainda para K = 1, a probabilidade de existirem atractores de longo per´ıodo decresce exponencialmente com o valor desse per´ıodo. Por outro lado, ´e muito pequeno o tempo necess´ario para que o sistema alcance o estado onde vai permanecer para sempre. Por fim, pode-se dizer que um sistema deste tipo congela, no sentido em que resiste a qualquer pequena varia¸c˜ao quer do estado inicial, como da pr´opria distribui¸c˜ao de fun¸c˜ oes booleanas. Resumindo, estamos perante sistemas que, mesmo para valores de N elevados, exibem uma ordem extraordin´aria. Contudo, n˜ao parecem ter a capacidade de variar ligeiramente, perante pequenas varia¸c˜oes do sistema. O que acontecer´a ent˜ao quando aumentamos o n´ umero de inputs das fun¸c˜oes booleanas at´e ao valor m´aximo K = N ? Escolhendo K = N , ou seja, quando consideramos redes onde qualquer lˆampada recebe inputs de todas as lˆampadas da rede, inclusiv´e de si mesma, ´e poss´ıvel mostrar, [DF86], que o comprimento m´edio dos ciclos atractores cresce proporcionalmente com 2N/2 e que o n´ umero de atractores coexistindo para uma mesma rede ´e da ordem de 2 N √ . e Por outro lado, mesmo a ideia de atractor fica um pouco difusa, pois prova-se que, em m´edia, o tempo que o sistema necessita para encontrar um atractor cresce exponencialmente com N , o que limita a investiga¸c˜ao num´erica a redes muito pequenas. Para al´em disso, tambem se verifica que muito pequenas modifica¸c˜oes do sistema levam a resultados completamente distintos, ou seja, que estes sistemas s˜ao muito sens´ıveis a quaisquer altera¸c˜oes da configura¸c˜ao da rede. Vemos ent˜ao que estamos de facto no extremo oposto, 70


com redes cujos atractores, com ciclos de comprimento de tal forma elevado que se perde por completo o sentido de ordem, n˜ao traduzem j´a qualquer sentido de estabilidade, exibindo ainda estes sistemas uma sensibilidade a pequenas e inevit´aveis altera¸c˜oes que os torna dif´ıceis de aceitar como modelos para qualquer organismo primordial. A quest˜ao que se coloca ´e a de saber se entre estas duas situa¸c˜oes extremas e, de alguma forma, ambas pouco satisfat´orias para as pretens˜oes de Kauffman, existir´a um ou mais valores para K que levem o sistema a um compromisso entre ordem e alguma maleabilidade. Vejamos o que sucede quando escolhemos K = 2. Para estudar o n´ umero e o comprimento t´ıpicos dos atractores de redes RBN NK , para K = 2, em particular o modo como estes variam com N , vamos proceder do seguinte modo: fixado um valor de N e escolhida uma rede, isto ´e, escolhidas N fun¸c˜oes booleanas, vamos considerar 40 configura¸c˜oes iniciais escolhidas aleatoriamente. Para cada uma dessas situa¸c˜ oes, vamos registar o comportamento do sistema passado algum tempo, ou seja, o ciclo de estados onde o sistema ficou preso. Como seria de esperar, algumas das configura¸c˜ oes iniciais v˜ao convergir para o mesmo ciclo de estados, registando-se ent˜ao apenas os ciclos distintos. Os resultados obtidos v˜ao ser apresentados na seguinte tabela, onde em cada linha, uma vez fixada uma determinada rede RBN NK , se registam os comprimentos dos ciclos distintos que foram obtidos a partir das 40 configura¸c˜oes iniciais aleat´ orias.

71


N 40

60

80

100

120

2 7 1 10 1 1 1 1 4 1 2 8 2 4 1 2 1 2 3 2 2 2 1 2 4 4 8 2 4 2

2 15 1 5 4 36 2 8 2 6

5

5

5

19

2

3

36 10 8 2

10 8 2

10 8 6

10 8 6

22 8 6

22 8 6

22 8 6

22

2 2

2 3

2 3

6

6

6

6

6

6

6

6

6

6

10

10

8 2

11 10

10

10

10

10

10

10

10

10

10

10

10

10

10

25 2 2 4 4 8 2 4

34

12

12

12

12

12

12

12

12

12

12

···

12

8

8

8

8

8

8

8

8

8

8

6 12 4 8 6

6 12 4 8

Figura 2.22 Estudo da varia¸c˜ao do n´ umero de atractores e dos seus per´ıodos para valores crescentes de N , fixado K = 2. Por forma a n˜ao tornar a tabela excessivamente grande, n˜ao ´e indicado explicitamente a existˆencia dos 28 atractores de per´ıodo 12 na primeira escolha para uma rede RBN NK , considerando N = 120. Por raz˜ oes computacionais, foram escolhidos valores de N n˜ao superiores a 120. Esse facto condiciona e muito as conclus˜oes que se podem retirar 72


deste estudo, mas ainda assim fica aqui como registo de um modo de proceder e para avaliarmos dos valores que s˜ao t´ıpicos para este tipo de redes quando N toma valores n˜ao muito grandes. Como podemos ver, quando consideramos redes RBN NK , com K = 2, o n´ umero e o comprimento dos atractores apresentam muito pouca varia¸c˜ao com N . De igual modo, podemos afirmar que, relativamente ao comprimento dos atractores encontrados, eles nunca chegam a atingir valores muito elevados, n˜ao se registando tamb´em uma varia¸c˜ao muito acentuada com as escolhas crescentes de N . De tal forma ´e assim que o atractor com maior comprimento foi obtido logo para N = 60, onde se encontrou um ciclo de per´ıodo 34, mas n˜ao devemos esquecer que as conclus˜oes a retirar devem ser tomadas sob uma perspectiva estat´ıstica. Mesmo relativamente a esse aspecto este estudo fica um pouco aqu´em, com amostras de apenas 6 redes diferentes, num universo de um n´ umero elevad´ıssimo de possibilidades de escolha. Mas perante as limita¸c˜oes atr´as descritas, pens´amos n˜ao ter muito sentido efectuar uma estat´ıstica mais s´eria, pois nunca ter´ıamos acesso a uma descri¸c˜ao razo´avel do modo como esses n´ umeros crescem com N . Mas fa¸camos o mesmo tipo de estudo estat´ıstico para a fam´ılia das redes RBN NK , desta vez escolhendo K = 3. A quest˜ao que ent˜ao se coloca ´e a de saber se ser´a agora percept´ıvel uma varia¸c˜ao qualitativa do n´ umero de atractores e dos seus comprimentos?

73


N 40

60

80

100

120

12 8 4 4 7 1 23 12 2 86 25 5 8 1 104 1325 1 915 1 797 9 344 10116 1 612 131 1 341 3 969 839 30 1 016 482 -

25 8 4 4 34 3 29 12 4 492 187 25 39 1 503 4 177 2 595 32 013 58819 2 486 1 737 14 487 29 223 887 463 1 779 892

76 8 8 4

8 12 4

8 13 4

6

27

32

12 16

12 18

1011 35 54 1 2 631

8 32 4

8

16

16

48

4

...

4

18

12

12

12

12

49 252 3

235 677 3

802 5

34

9 582 3 888

18 483

46 801

3 658

3 806

6 487 3 403 57 494

Figura 2.23 Estudo da varia¸c˜ao do n´ umero de atractores e dos seus per´ıodos para valores crescentes de N , fixado K = 3. Tal como na situa¸c˜ao anterior, opt´amos por n˜ao explicitar todos os 14 diferentes atractores de per´ıodo 4 que surgiram no quarto exemplo, para N = 40. Como podemos observar pelos dados registados, a passagem de K = 2 para K = 3 74


mostra desde logo o aparecimento de uma complexidade muito elevada. De facto, ´e poss´ıvel mesmo dizer que para valores de K superiores ou iguais a 3 o comportamento t´ıpico de uma rede RBN NK ´e extremamente complicado, principalmente pelo comprimento dos ciclos para onde o sistema vai convergir. Podemos assim afirmar que, nesta situa¸c˜ao, a desejada ordem gratuita n˜ao ´e inevit´avel, no sentido de n˜ao ser algo t´ıpico do tipo de rede considerada. Mas voltemos `as fam´ılias de redes RBN NK com K = 2. Segundo Kauffman, baseado nas suas in´ umeras experiˆencias computacionais, quer o n´ umero m´edio de atractores distintos coexistindo para uma determinada rede, como os seus comprimentos m´edios crescem √ como N . De alguma forma isto explica a ligeira varia¸c˜ao registada no nosso estudo, √ √ uma vez que 40 ≈ 6.32 e 120 ≈ 10.95, mas sobretudo significa que mesmo para os valores razo´aveis de N , que, segundo Kauffman, poder˜ao ser perto de N = 100 000, o n´ umero e comprimento m´edios dos atractores do sistema estariam ent˜ao `a volta de √ 100 000 ≈ 316.23, o que significa o aparecimento de uma extraordin´aria ordem gratuita13 . Este ´e o tipo de conclus˜ao que a teoria de Kauffman necessita: a existˆencia de ordem, no sentido de poucos atractores e nunca com comprimentos muito grandes, mesmo quando consideramos redes com um elevado n´ umero de elementos. Esta conclus˜ao ´e um dos pilares onde assenta toda a teoria da origem da vida de Kauffman. Como veremos mais `a frente, ´e por aqui que os seus detractores v˜ao tentar mostrar a sua fragilidade. Nesta altura gostaria de acrescentar um ponto que n˜ao me parece ter sido ainda objecto de estudo, ou, pelo menos, a que nunca se tem dado a devida importˆancia: quando olhamos para os atractores do sistema e dizemos que estes tˆem um determinado comprimento, estamos obviamente a caracterizar a dinˆamica global do sistema. Mas o que da´ı se pode extrapolar para cada um dos elementos da rede? Uma conclus˜ao f´acil ´e que, se a rede tem um comportamento c´ıclico de per´ıodo p, ent˜ao os diferentes elementos dessa rede ter˜ao necessariamente comportamentos c´ıclicos de per´ıodo m, onde m pode assumir um qualquer valor desde que seja divisor de p, incluindo-se aqui, naturalmente, o pr´oprio estado estacion´ario, quando m = 1. Por outras palavras, a ideia que um atractor 13 Extraordin´ aria, pois o n´ umero de elementos do espa¸co dos estados para este tipo de sistema, com N = 100 000 e K = 2, ´e igual a 2100 000 ≈ 1030 103 .

75


do sistema ´e uma evidˆencia de ordem do sistema pode ser ainda mais aprofundada uma vez que isso implica que o comportamento de cada um dos seus elementos seja igualmente c´ıclico, mas com um comprimento muito provavelmente inferior ao per´ıodo da rede. Para entendermos um pouco melhor esta quest˜ao, proponho voltar a um exemplo, uma rede RBN NK , com N = 100 e K = 2. Na tabela seguinte apresentam-se os resultados obtidos, onde os diferentes elementos do sistema s˜ao agora apresentados sob a forma de um quadrado. Contudo, dessa representa¸c˜ao nada deve ser inferido relativamente a uma distribui¸c˜ao espacial dos seus elementos, uma vez que a escolha dos diferentes inputs de cada fun¸c˜ao booleana foi, uma vez mais, feita aleatoriamente. Em cada posi¸c˜ao desse quadrado registamos o comprimento do ciclo de estados que o elemento correspondente sente, quando o sistema se encontra a repetir o ciclo de estados.

76


1 1 5 1 15 1 15 1 1 15

5 1 15 1 15 15 15 1 1 1

15 1 15 5 15 1 1 1 1 1

5 15 1 1 5 15 15 5 15 1

1 5 5 1 1 1 15 1 1 15

15 3 1 3 5 15 1 5 15 15

15 1 5 1 1 15 1 5 1 15

1 5 1 1 5 1 5 1 1 15

1 3 15 1 15 1 1 15 15 15

1 1 1 15 1 15 1 1 1 1

1 15 5 1 15 15 15 1 1 15

5 15 15 1 15 15 15 1 15 1

15 1 15 5 5 1 15 15 15 1

5 3 1 15 5 15 15 5 15 1

1 5 5 1 1 1 15 1 1 5

15 3 1 3 5 15 1 5 15 5

15 5 5 15 1 15 1 5 1 15

1 15 1 1 5 1 5 1 1 15

1 3 15 15 15 1 1 15 15 15

1 1 1 15 1 15 15 1 1 15

1 15 15 1 15 15 15 1 1 15

5 15 15 1 15 15 15 1 15 1

15 1 1 5 5 1 15 15 15 1

5 15 1 15 5 15 15 5 15 1

1 5 5 1 1 1 15 1 1 15

15 3 1 3 5 15 1 5 15 15

15 15 5 15 1 15 1 5 1 15

1 5 1 1 5 1 5 1 1 15

1 3 1 1 15 1 1 15 15 15

1 1 1 15 1 15 15 1 1 15

Figura 2.24 Neste exemplo foram encontrados trˆes ciclos distintos, todos eles de per´ıodo 15, para o sistema. Contudo, a grande maioria dos elementos tem um comportamento peri´ odico de per´ıodo muito menor e para muitos deles os diferentes atractores n˜ao significa mesmo qualquer altera¸c˜ao do tipo de comportamento.

77


Os resultados apresentados permite-nos concluir que estamos perante uma rede que, globalmente, admite trˆes atractores distintos, todos eles ciclos de estados de per´ıodo 15. Contudo, em termos locais a identifica¸c˜ao de dois atractores distintos n˜ao corresponde a qualquer diferen¸ca de comportamento para muitos dos elementos da rede. Na tabela assinalam-se a vermelho os elementos da rede cujo comportamento ´e exactamente igual em todos os trˆes atractores, o que significa que a passagem de um atractor para o outro n˜ao ser´a reconhecido por esse elemento. Atente-se que se falarmos do mesmo tipo de comportamento, ent˜ao o n´ umero de elementos que repete em todos os atractores ciclos ´ assim poss´ıvel constatar que a ordem gratuita que de igual comprimento ´e muito maior. E exibe uma rede RBN NK , para K = 2, vai um pouco mais al´em do pequeno n´ umero de ciclo de estados distintos do sistema e dos seus igualmente pequenos comprimentos, uma vez que, elemento a elemento, se percebe uma ordem muito superior, mais profunda. No entanto, esta ordem n˜ao significa, de forma alguma, a solidez/rigidez que se apresenta quando escolhemos K = 1, existido sempre uma flexibilidade, a possibilidade de alguma varia¸c˜ao do sistema, o que implica a possibilidade de ocorrˆencia de muta¸c˜oes e, consequentemente, uma evolu¸c˜ao do sistema. Um estado do sistema com estas caracter´ısticas, uma mistura muito subtil de estabilidade e maleabilidade, diferente quer de um estado ordenado, quer de um estado ca´ otico, ´e hoje designado como um estado no limiar do caos. Este ´e, portanto, o estado t´ıpico de uma rede RBN NK , quando K = 2. Esta ideia de homeostase do sistema est´a por seu turno ligada `a necessidade de o n´ umero de atractores do sistema ser reduzido e consequentemente `a existˆencia de maiores bacias de atrac¸c˜ao de modo a que para pequenas flutua¸c˜oes o sistema permane¸ca no mesmo estado global final. No entanto, se de um modo geral j´a ´e dif´ıcil determinar o n´ umero de atractores de um pequeno sistema, para redes RBN de grandes dimens˜oes este problema torna-se ainda maior, visto que o espa¸co de estados do sistema ´e demasiado vasto para possibilitar uma procura exaustiva e pormenorizada e que na maioria dos casos as suas bacias de atrac¸c˜ao s˜ao demasiado pequenas e por isso muito dif´ıceis de serem encontradas atrav´es de um amostragem aleat´ oria. Esta ´e sem d´ uvida uma das maiores barreiras `a aceita¸c˜ao deste modelo no quadro da teoria da origem da vida de Kauffman, dado que at´e ao momento

78


nenhuma solu¸c˜ao eficiente foi encontrada. Antes de prosseguirmos, penso ser conveniente14 dizer que o resultado anunciado para a rela¸c˜ao de dependˆencia que envolve o n´ umero m´edio de atractores e o seu comprimento m´edio, no caso de redes RBN com K = 2, ´e ainda alvo de alguma controv´ersia, sendo √ para alguns, Kauffman e Bastolla e Pairisi, [BP97], uma rela¸c˜ao de N , enquanto para outros, Bilke e Sjunnesson, [BS01], essa rela¸c˜ao estaria mais perto de N . No entanto, para este u ´ltimo caso a maioria dos atractores possui uma muito pequena bacia de atrac¸c˜ao, da´ı a dificuldade em serem encontrados, sendo necess´aria uma extensa investiga¸c˜ao para os descobrir. Vejamos de seguida o que acontece quando consideramos redes RBN NK , para K = 3. A quest˜ao que se coloca ´e de saber se, tal como para a escolha K = 2, as redes exibem tipicamente as caracter´ısticas de estabilidade e maleabilidade do limiar do caos. At´e agora s´ o se falou de sistemas no estado limiar do caos para sistemas com K = 2, mas seria demasiado restritivo pensar num u ´nico tipo de rede RBN que exibisse esta ordem gratuita. De facto, se assim fosse ficar´ıamos presos ao facto de s´o uma fam´ılia espec´ıfica de redes booleanas poder estar na origem da vida e na pr´atica podemos ver que no interior celular a maioria das mol´eculas possui mais do que um input de uma outra ´ mol´ecula. Este problema crucial foi solucionado, em 1986, pelos f´ısicos da Ecole Normale Sup´erieur de Paris, Bernard Derrida e Gerard Weisbuch, [DW86]. ´ evidente que, quando dizemos que as redes RBN NK , para K = 3, apresentam E um comportamento muito complexo, estamos sempre num contexto estat´ıstico, ou seja, queremos afirmar que tipicamente as redes RBN NK , para K = 3, n˜ao apresentam um comportamento de limiar do caos. De facto, n˜ao ´e sequer muito dif´ıcil imaginar uma distribui¸c˜ao de fun¸c˜ oes booleanas com K = 3 que determinam uma dinˆamica da rede trivialmente simples; basta uma distribui¸c˜ao homog´enea de fun¸c˜oes booleanas cujas sa´ıdas sejam sempre iguais a 1, quaisquer que sejam os valores nas suas trˆes entradas. Ent˜ao, considerada uma qualquer configura¸c˜ao inicial para o sistema, facilmente se constata que no instante seguinte teremos o sistema congelado, pois nunca mais sair´a desse estado,

14

Porque p˜ oe a n´ u as fragilidades de resultados baseados em experiˆencias computacionais.

79


numa configura¸c˜ao onde todos os seus elementos apresentam o valor 1, qualquer que seja o valor de N . Por outras palavras, n˜ao se trata aqui de redes RBN incapazes de outro comportamento que n˜ao o ca´ otico. O que acontece ´e que ´e improv´avel escolher um sistema com uma dinˆamica de outro tipo. A quest˜ao que Derrida e Weisbuch se colocaram foi a de saber se existiria algum parˆametro cuja varia¸c˜ao nos permitisse controlar o tipo de comportamento de uma rede RBN, ou seja, um certo parˆametro P que classificasse as redes relativamente `a sua dinˆamica. Dessa forma talvez fosse poss´ıvel sintonizar as redes de modo a que o seu comportamento estivesse entre a ordem e o caos, muito possivelmente em estados semelhantes ao j´a encontrados para redes RBN com K = 2. O parˆametro P sugerido ´e descrito da seguinte forma: dada uma fun¸c˜ao booleana, o parˆametro P vai medir o enviesamento dessa fun¸c˜ao booleana, ou seja, vai ser a raz˜ao P = n´ umero m´aximo de sa´ıdas iguais da fun¸c˜ao/ n´ umero de sa´ıdas. Como vemos, este parˆametro introduz um conceito de equil´ıbrio dinˆamico, dependendo unicamente do n´ umero de entradas positivas e negativas que o sistema d´a a quando de um input. Atentemos nos seguintes exemplos, onde s˜ao apresentadas duas fun¸c˜oes booleanas com K = 4, que, como anteriormente foi mencionado, numa primeira an´alise apresenta um car´acter ca´ otico. Como para K = 4 temos 24 = 16 estados poss´ıveis, as tabelas que descrevem as duas fun¸c˜ oes tˆem necessariamente que especificar um valor para a sa´ıda para todas essas possibilidades nas entradas.

80


input1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1

input2 0 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1

input3 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1

input4 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1

output 0 1 0 1 0 1 1 0 1 0 0 1 0 0 1 1

input1 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 1

input2 0 0 0 0 1 1 1 1 0 0 0 0 1 1 1 1

input3 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1 0 0 1 1

input4 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1 0 1

output 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0

Olhando para as tabelas ´e poss´ıvel intuir-se que, para o segundo dos sistemas, onde o n´ umero m´aximo de sa´ıdas iguais ´e quase igual ao n´ umero de sa´ıdas do sistema, P = 15/16, 81


qualquer input de entrada leva o sistema a entrar no congelamento. No entanto, j´a para o primeiro sistema, onde o n´ umero m´aximo de sa´ıdas iguais ´e apenas metade do n´ umero de sa´ıdas do sistema, logo P = 1/2, ´e f´acil perceber que uma pequena flutua¸c˜ao no sistema levaria este a mudar definitivamente o seu rumo, apresentando um car´acter ca´otico. Deste modo, para que o sistema n˜ao possua nem um car´acter demasiado ca´otico nem um car´acter estagnado, o parˆametro de enviesamento P tem que se encontrar num valor interm´edio dentro do conjunto de valores (0.5, 1), onde 0.5 corresponde a um car´acter ca´otico e 1 a um estado de congelamento. Voltando de novo ao circuito lˆampadas/ enzimas com N elevado, K > 2 e 0.5 < P < 1, pode-se perceber que ap´ os iniciado o sistema tender´a a formar um aglomerado gigante de lˆampadas presas em estados estacion´arios (regime ordenado) e pequenos aglomerados de lˆampadas intermitentes entre o estado ligado e desligado (regime ca´otico ou ordenado peri´odico). Uma melhor forma de visualizar este fen´omeno ser´a criando um sistema com cores diferentes para os dois tipos de estado presentes, onde lˆampadas verdes correspondentes ao estado intermitente e lˆampadas vermelhas a um regime estacion´ario. Ao iniciar, o sistema apresenta-se maioritariamente como um conjunto de lˆampadas verdes, com algumas ilhas vermelhas, apresentando caracter´ısticas aparentemente ca´oticas, mas passado algum tempo e ajustando os valores de K e P , come¸ca a emergir um grande aglomerado conectado vermelho com ilhas verdes n˜ao interconectadas no seu interior, apresentando caracter´ısticas de sistema ordenado, onde as ilhas verdes representam o conjunto de ´ nesta ocorrˆencia de transi¸c˜ao de fase entre lˆampadas no sistema ordenado c´ıclico. E o estado ca´ otico e o estado ordenado que o comportamento complexo prospera. Outro exemplo para f´acil visualiza¸c˜ao da situa¸c˜ao descrita ´e o da cria¸c˜ao de um reticulado quadrado, ou seja, K = 4 e P vari´avel. Neste tipo de sistema ao inv´es de se marcar as lˆampadas com cores marcamo-las com o n´ umero correspondente ao n´ umero de ciclos de cada lˆampada at´e voltar ao estado inicial, assim ciclo igual 1 (lˆampada congelada). Fazendo correr o sistema obt´em-se uma figura do sistema, idˆentica a esta:

82


8 8 8 1 1 1 1 1 1 1 4 1 220 220 220 1 1 110 110 110 110 22 1 1

8 8 8 8 1 1 1 1 4 4 4 4 1 220 220 220 110 110 110 110 22 88 88 8

1 1 8 1 1 1 1 1 1 1 1 12 1 1 1 110 110 110 110 1 22 22 1 1

1 1 456 1 228 1 1 1 6 1 6 6 1 1 1 110 110 110 22 1 22 22 1 1

228 1 456 228 228 1 1 1 6 6 6 6 1 1 1 1 1 110 1 1 22 1 1 228

228 1 456 228 228 228 1 6 6 6 6 6 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 228 228

228 1 228 228 228 228 1 1 1 6 6 1 1 1 1 1 4 4 1 1 1 1 228 228

228 228 228 228 228 228 228 228 1 228 6 228 1 1 1 1 1 1 1 1 228 1 228 228

228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 1 1 1 1 1 1 1 1 228 228 228 228

228 228 228 1 228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 1 1 1 1 1 228 228

228 228 228 1 1 228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 228 1 1 4 1 1 228 228 228

1 1 228 1 1 228 228 1 228 1 1 1 228 228 1 1 1 1 4 1 228 228 228 228

1 1 1 1 1 1 1 1 228 1 1 1 1 228 1 1 2 2 228 228 228 228 228 228

1 1 1 1 1 1 1 1 228 1 1 1 1 1 1 1 4 4 1 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1 1 1 4 4 4 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 4 1 1 1

1 1 1 1 1 1 1 1 10 1 1 10 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 4 1 1 4 1 1 1 1 1 1 8 1 1 8 1 1 8 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 20 20 1 20 20 4 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

1 1 10 10 1 1 1 1 1 1 1 8 8 8 1 1 1 20 20 20 1 1 1 1

1 1 10 10 1 1 1 1 1 1 1 8 8 4 1 1 1 20 20 20 1 1 1 1

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 8 8 1 20 20 20 20 20 4 1 4 1

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 220 20 20 20 20 20 20 20 4 1

1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 4 1 1 1 110 110 110 1 20 20 2 2 4 1

1 1 1 1 1 4 1 1 1 1 4 4 220 1 1 110 110 110 110 110 22 1 1 1

Aparece um conjunto de lˆampadas como valor igual a 1, e um pequeno conjunto lˆampadas n˜ao conectadas ao sistema com ciclos de dimens˜oes maiores. O que se verifica ´e que no sistema ordenado congelado pequenas perturba¸c˜ao n˜ao levam a significativas mudan¸cas nem a muta¸c˜ oes, mas qualquer perturba¸c˜ao nas ilhas com ciclos maiores leva a uma propaga¸c˜ao da perturba¸c˜ao semelhante a transforma¸c˜oes em cascata. Constata-se assim uma convergˆencia de estados para o regime estacion´ario e uma divergˆencia de estados para o regime ca´ otico. Este tipo de sistema ´e globalmente est´avel e flex´ıvel o seu interior assemelhando-se em muito a um sistema celular, uma vez que a homeostase globalmente ´e mantida, mas internamente existe espa¸co para uma evolu¸c˜ao e modifica¸c˜ao do sistema, exibindo um car´acter ordenado mas flex´ıvel. Com os anteriores exemplos ´e f´acil de se perceber que para um valor de K inputs ´e f´acil determinar um valor de P para o qual o sistema se encontre na chamada fase critica/transi¸c˜ao. Mas um estudo anal´ıtico do sistema facilita essa escolha de P . Tendo por base a distˆancia normalizada de Hamming, a qual ´e definida pela frac¸c˜ao de nodos / enzimas/ lˆampadas que se encontram em diferentes configura¸c˜ oes, e a aproxima¸c˜ao de annealed, introduzida por Derrida e Pomeau, [DP86], ´e poss´ıvel determinar, a priori, para determinado n´ umero inicial de inputs, K, o valor de P para o qual o sistema se encontra num estado critico ou homeost´atico, sendo este valor dado pela equa¸c˜ao Kc =

1 P (1 − P ), 2 83

(1)


correspondendo `a curva do gr´afico abaixo representado.

Olhando para este gr´afico, ´e poss´ıvel definir duas regi˜oes para o sistema, tal que para Kc < 1/2p(1 − p) o sistema encontra-se no estado congelado, e para Kc > 1/2p(1 − p) o sistema se encontra no regime ca´ otico. Resolvendo (1) em termos de P obt´em-se: Pc =

√ 1 (1 ± 1 − 8K) 2

(2)

Bastolla e Parisi, [BP97], estudaram sistemas com K = 4 de modo a perceberem de que forma a estes se aplicavam os dados obtidos por Kauffman para o n´ umero de atractores, bacias de atrac¸c˜ao e comprimentos dos ciclos, concluindo que, apesar de alguns desvios, para K = 4 o n´ umero de atractores e os comprimentos dos ciclos seguiam as mesmas rela¸c˜oes de dependˆencia que para K = 2. Para termos uma ideia mais palp´avel das caracter´ısticas de ordem em sistemas RBN e da presen¸ca de caracter´ısticas de homeostase necess´arias `a estabilidade celular, efectu´amos a simula¸c˜ao, utilizando o sistema computacional Mathematica, de redes RBN, para diferentes conectividades, K = 2, K = 3 e K = 4. Mas, devido `a falta de capacidade de c´alculo dos computadores utilizados, os sistemas em causa n˜ao puderam ser de dimens˜oes superiores a N = 180, para K = 2, N = 50, para K = 3 e N = 36, para K = 4. Estes programas foram constru´ıdos basicamente em trˆes blocos. O primeiro bloco corresponde `a cria¸c˜ao de todas as fun¸co˜es Boleanas implicadas no sistema guardando-as 84


num ficheiro de modo a possuir um acesso directo, para uma posterior utiliza¸c˜ao. O segundo bloco corresponde `a evolu¸c˜ao temporal do sistema e contagem do n´ umero de atractores. Nos primeiros programas esta evolu¸c˜ao temporal era feita atrav´es de uma escolha aleat´ oria de Fun¸c˜ oes Boleanas no sistema, mas como a maioria das fun¸c˜oes do sistema possuem um factor de P ≈ 0.5, os resultados obtidos apontavam caracter´ısticas ca´oticas, isto ´e atractores com ciclos de per´ıodos largos e um n´ umero muito elevado de bacias de atrac¸c˜ao. Para confirmar este dado criamos um pequeno programa o qual simplesmente escolhia um conjunto de fun¸c˜oes boleanas para cada nodo do sistema de rede e posteriormente calculava o valor de P correspondente `a fun¸c˜ao em quest˜ao, calculandose por fim o valor m´aximo e m´ınimo de P do sistema, bem como a m´edia de P do sistema. Como resultados obtivemos o que esper´avamos, ou seja, que efectuada uma escolha completamente aleat´ oria relativamente a todo o conjunto de redes booleanas, a maioria das fun¸c˜ oes escolhidas para cada nodo do sistema possu´ıa P ≈ 0.5. Ap´os esta constata¸c˜ao foi introduzida uma escolha por valor de P das fun¸c˜oes booleanas. O terceiro bloco corresponde ao conjunto de qualidades que pretendemos inserir no sistema, dimens˜ao N da rede, valor de P das fun¸c˜oes booleanas associadas aos sistemas, o n´ umero de configura¸c˜ oes iniciais que queremos obter do sistema e o n´ umero de exemplo que pretendemos obter. Para K = 2 os valores obtidos muito escassos para fazer uma an´alise aprofundada, isto devem-se ao facto de o computador n˜ao ser capaz de realizar a tarefa pretendida sem sobreaquecer e consequentemente bloquear. No entanto, dos resultados obtidos, verificase que para P = 0.5 o sistema tende a encontra-se num estado de limar do caos ou seja na fase de transi¸c˜ao entre o caos e a ordem. Sendo este limiar do caos caracterizado por existirem tanto atractores com ciclos pequenos como outros com ciclos elevados. Apesar de na nossa experiˆencia termos obtido ciclos de estado com per´ıodos superiores a 317 estados, o qual corresponde ao valor m´aximo do per´ıodo dos ciclos previsto por Kauffman, quando comparados com o espa¸co de estados do sistema 2180 possuem dimens˜oes bastante pequenas, o que indica uma estabilidade do sistema. Olhando para o n´ umero de atractores do sistema verifica-se que estes existem em maior n´ umero, tal previsto para Kauffman, para P = 0.5 do que para P superiores. No entanto, apesar deste decr´escimo

85


evidente do n´ umero de atractores para valores de P superiores, o n´ umero de atractores mant´em-se significativamente pequeno, o que evidencia a existˆencia de grandes bacias de atrac¸c˜ao, o que leva a uma convergˆencia de diversos estados num mesmo atractor, permitindo que o sistema permane¸ca num mesmo estado global, exibindo assim caracter´ısticas de homeostase. Para K = 3 o n´ umero de atractores aumenta com uma diminui¸c˜ao de P . Deste modo `a medida que nos vamos aproximando do caos (P = 0.5) existe um aumento do n´ umero de atractores bem como uma diminui¸c˜ao do tamanho das suas bacias de atrac¸c˜ao. No entanto para P = 5/8 ≈ 0.625 o n´ umero de atractores associados ao sistema ´e pequeno, evidenciando maiores bacias de atrac¸c˜ao e uma certa estabilidade do sistema, o que nos leva novamente de encontro da homeostase necess´aria `a vida. Analisando os resultados obtidos para sistemas com K = 4, verifica-se muito bem a transi¸c˜ao de fase ou fase cr´ıtica dos sistemas, sendo esta transi¸c˜ao de fase cada vez mais acentuada com o aumento do tamanho de rede. Observando os resultados gr´aficos verifica-se que esta ocorre para um valor de P cr´ıtico igual a 10/16 ≈ 0.625. Para estes sistemas n˜ao parece existir correla¸c˜ao entre o n´ umero de atractores do sistema e os valores de P . No entanto, se observarmos a qualidade dos atractores observamos que, apesar de para sistemas com ciclos pequenos o n´ umero de atractores ser elevado, estes possuem caracter´ısticas muito idˆenticas entre si, possuindo um funcionamento global muito semelhante e levando o sistema para um estado global semelhante. Analisando o sistema novamente de um ponto de vista biol´ogico, imaginemos duas mol´eculas de DNA pertencentes a dois humanos: apesar destas mol´eculas de DNA terem diferen¸cas pontuais de activa¸c˜ao de determinados genes, globalmente o produto final ser˜ao dois humanos muito idˆenticos, apesar das suas particularidades pontuais. Visto deste modo, passa a existir um aumento do n´ umero de atractores com o decr´escimo do valor de P . Assim, no limiar do caos o sistema passa a ter um n´ umero inferior de atractores, o que permite uma maior convergˆencia dos estados do sistema e, consequentemente, a que exiba ainda caracter´ısticas de homeostase, tal como previsto por Kauffman.

86


coment´arios `a teoria de Kauffman Um dos maiores cr´ıticos do modelo de Kauffman ´e o cientista Shneior Lifson do departamento de Qu´ımica F´ısica, do Instituto da Ciˆencia Weizman em Israel. Lifson critica essencialmente a prioridade dada por alguns cientistas ao mecanismo da vida, metabolismo e organiza¸c˜ao, passando para segundo plano a importˆancia da transmiss˜ao e codifica¸c˜ao da informa¸c˜ao gen´etica. Vejamos o que nos diz Lifson, no seu trabalho On the Crucial Stages in the Origin of Animate Matter:

Enquanto um metabolismo ´e certamente complexo, os sistemas complexos n˜ao s˜ao necessariamente metab´ olicos. O metabolismo ´e um sistema complexo de reac¸c˜oes que mutuamente se regulam e coordenam de modo a permitir a replica¸c˜ao e sobrevivˆencia dos organismos viventes. Enquanto as complexidades inorgˆanicas se regulam por si s´o, os metabolismos complexos requerem coordena¸c˜ao e regula¸c˜ao. Esta caracter´ıstica ´e espec´ıfica `a vida e resulta da ac¸c˜ao aleat´oria da selec¸c˜ao natural.

Note-se sobretudo as diferen¸cas relativamente ao anteriormente exposto, na medida em que Kauffman afirma que a sua teoria mostra ser poss´ıvel que a auto-organiza¸c˜ao dos sistemas e o seu metabolismo seja independente da vis˜ao simplista da selec¸c˜ao natural. Lifson, baseado nas cr´ıticas de G.F. Joyce e F.J. Dyson, [Joy89] e [Dys85], que afirmam que a teoria de Kauffman se baseia numa muit´ıssimo optimista estimativa probabil´ıstica de que um polipept´ıdeo possa catalisar a forma¸c˜ao de uma liga¸c˜ao pept´ıdica, realizou um estudo aprofundado da matem´atica intr´ınseca ao modelo de Kauffman, evidenciando que existia um erro no c´alculo da probabilidade p com que uma mol´ecula catalisa uma reac¸c˜ao. De facto, enquanto para Kauffman a probabilidade p mantinha-se constante mesmo com o poss´ıvel aumento do n´ umero de reac¸c˜oes no meio, de tal modo que o tamanho molecular aumentaria com p constante e consequente maior seria a probabilidade de ocorrer um conjunto autocatal´ıtico, Lifson afirma, pelo contr´ario, que p ´e inversamente proporcional ao n´ umero total de reac¸c˜ oes poss´ıveis, sendo o n´ umero m´edio de reac¸c˜oes que uma mol´ecula catalisa constante com o aumento do n´ umero de diferentes mol´eculas. Deste 87


modo, se o valor inicial de p for muito baixo, como admite Kauffman, ent˜ao ser´a quase inevit´avel que nenhum conjunto autocatal´ıtico possa emergir. Como veremos j´a de seguida, Mike Steel resolveu estas quest˜oes matem´aticas, definindo um grau interm´edio de catalisa¸c˜ao, tendo mesmo demonstrado nos seus trabalhos que o surgimento de sistemas autocatal´ıticos ´e muito prov´avel e quase inevit´avel.

88


terceira parte

O modelo de redes RBN de Kauffman, apesar de ser um excelente exemplo de autoorganiga¸c˜ao e de trˆes fases de estado, ordenado, cr´ıtico e ca´otico, por vezes n˜ao representa tal e qual o cen´ario observado numa c´elula real. Numa tentativa de tornar mais realista o modelo de RBN foram sendo propostos nos u ´ltimos anos outros tipos de modelos, uns com diferen¸cas essencialmente a n´ıvel topol´ogico e outros com diferentes cen´arios de ”update”do sistema. Neste cap´ıtulo vou apresentar alguns dos trabalhos que tˆem sido desenvolvidos de molde a mostrar que as conclus˜oes que ´e poss´ıvel retirar do modelo de Kauffman n˜ao dependem essencialmente de nenhuma das suas caracter´ısticas, podendo tamb´em ser obtidas quando se consideram modelos um pouco mais refinados, no sentido de mais de acordo com a realidade.

formalismo matem´atico para o grafo das reac¸c˜oes Uma das importantes contribui¸c˜oes para a credibilidade do modelo de Kauffman deve-se ao trabalho desenvolvido, a partir de 2000, por Mike Steel, Wim Hordijk e Elchanan


Mossel, [Ste00], [HS05] e [MS05]. De facto, estes cientistas conseguiram formalizar a ideia intuitiva de Kauffman de olhar para um sistemas de reac¸c˜oes qu´ımicas como um grafo e analisar com algum detalhe a probabilidade do fechamento autocatal´ıtico. Denotemos por X um qualquer conjunto de mol´eculas. Ent˜ao, uma reac¸c˜ao vai ser descrita como um par ordenado r = (A, B), com A, B ⊂ X e A ∩ B = ∅, onde A = ρ(r) ´e o conjunto de mol´eculas reagentes e B = π(r) ´e o conjunto de mol´eculas produto, no sentido em que, se A = {a1 , · · · , am } e B = {b1 , · · · , bk }, ent˜ao a reac¸c˜ao r traduz uma certa combina¸c˜ao de mol´eculas de A que vai dar origem a uma combina¸c˜ao de elementos de B, n1 a1 + · · · + nm am −→ n01 b1 + · · · + n0k bk , com n1 , · · · , nm e n01 , · · · , n0k inteiros positivos. Caso haja um suprimento de certas mol´eculas ao sistema, vamos dizer que esse subconjunto F ´e um conjunto de mol´eculas alimento de X. O conjunto das reac¸c˜ oes admiss´ıveis para o conjunto de mol´eculas X vai ser denotado por R. Destas, interessa-nos destacar aquelas reac¸c˜oes que s˜ao catalisadas por elementos de X, dizendo que uma reac¸c˜ao catalisada ´e um par ordenado (x, r), para algum x ∈ X e alguma r ∈ R. O conjunto das reac¸c˜oes catalisadas vai ser denotado por C, sendo naturalmente um subconjunto de (X, R). Assim sendo, o objecto fundamental neste estudo ser´a o sistema das reac¸c˜ oes catalisadas sobre F , descrito pelo triplo (X, R, C). Para facilitar o seu estudo, ´e conveniente olhar para um sistema das reac¸c˜oes catalisadas sobre F , (X, R, C), como um grafo dirigido, cujos v´ertices s˜ao os elementos do conjunto X ∪ R e cujas arestas s˜ao de dois tipos: para cada r = (A, B) ∈ R vamos considerar um arco entre cada a ∈ A e r e, para cada b ∈ B, um arco de r para b. Essas arestas s˜ao habitualmente referidas como arestas de reac¸c˜ao. Por outro lado, para cada (x, r) ∈ C, vamos considerar uma aresta a ligar a mol´ecula x e a reac¸c˜ao r, s˜ao as chamadas arestas catal´ıticas. Vejamos o seguinte exemplo.

90


Consideremos um sistema formado pelo conjunto X = {a, b, c, d, e, f } de mol´eculas e o conjunto de reac¸c˜ oes d

r1 : a + b −→ c a

r2 : b + c −→ d r3 : c + d −→ e + f f

r4 : a + e −→ g com F = {a, b}. Temos ent˜ao que o seu grafo de reac¸c˜oes ´e representado da seguinte forma, onde a cheio temos as arestas de reac¸c˜oes e a tracejado as arestas catal´ıticas:

Figura 3.1 Um exemplo de um grafo de uma reac¸c˜ao catal´ıtica. Analisando o grafo podemos afirmar que L = (X, R, C) ´e um sistema de reac¸c˜oes catal´ıtico sobre F . No contexto da teoria de Kauffman, mais importante que um sistema catal´ıtico de reac¸c˜ oes ´e formalizar a ideia de subconjunto autocatal´ıtico gerado por uma certa fonte de alimento. Vejamos pois de seguida como ´e poss´ıvel introduzir essa no¸c˜ao. Dado um sistema catal´ıtico de reac¸c˜oes L = (X, R, C), consideremos um subconjunto R0 de R e um subconjunto X 0 de X. Ent˜ao, vamos definir o fechamento de X 0 relativamente a R0 , como o menor subconjunto W de X que cont´em X 0 e que, para cada 91


reac¸c˜ao r = (A, B) de R0 , satisfaz A ⊆ X 0 ∪ W =⇒ B ⊆ W .

(3)

Informalmente, podemos dizer que o fechamento de X 0 relativamente a R0 , clR0 (X 0 ), corresponde ao subconjunto X 0 juntamente com todas as mol´eculas constru´ıdas a partir de X 0 por aplica¸c˜ao de repetidas reac¸c˜oes de R0 . Assim, dado um qualquer conjunto de reac¸c˜oes catalisadas L = (X, R, C), um subconjunto R0 n˜ao vazio de R pode ser classificado da seguinte forma: R0 diz-se • reflexivamente autocatal´ıtico em L = (X, R, C) se, para toda a reac¸c˜ao r ∈ R0 , existe x ∈ sup(R0 ) tal que (x, r) ∈ C; • gerado por F , se ρ(R0 ) ⊆ cl(F ); • reflexivamente autocatal´ıtico e gerado por F (RAF) para L = (X, R, C) se R0 ´e reflexivamente autocatal´ıtico para L e gerado por F . onde sup(R0 ) = ρ(R0 ) ∪ π(R0 ), com ρ(R0 ) e π(R0 ) os conjuntos dos reagentes e dos produtos de todas as reac¸c˜ oes pertencentes a R0 , ou seja, [

ρ(R0 ) =

ρ(r) ,

r∈R0

π(R0 ) =

[

π(r) .

r∈R0

Deste modo, tem-se que um conjunto de reac¸c˜oes R0 ´e um RAF se todos os seus elementos forem reac¸c˜oes catalisadas por pelo menos uma mol´ecula envolvida numa reac¸c˜ao de R0 e cada reagente em R0 possa ser obtido por um conjunto alimento F por sucessiva aplica¸c˜ao de reac¸c˜ oes de R0 . Como podemos perceber, esta formaliza¸c˜ao capta algumas das fun¸c˜oes fundamentais enumeradas para os sistemas vivos, no sentido da vida ser um conjunto autocatal´ıtico capaz de se sustentar a si mesmo a partir de uma fonte de alimento. Vejamos o seguinte exemplo. Relativamente ao exemplo apresentado anteriormente, consideremos o subconjunto R0 = {r1 , r2 }. 92


Figura 3.2 Um exemplo de um conjunto RAF com duas reac¸c˜oes. Como podemos observar, este subconjunto R0 ´e um RAF, uma vez que, n˜ao apenas cada uma das reac¸c˜ oes que lhe pertencem s˜ao catalisadas por um elemento em sup(R0 ), mas tamb´em que todos os reagentes envolvidos podem ser obtidos a partir da fonte de alimento F atrav´es de uma ou mais reac¸c˜oes r1 , r2 . O contexto que mais nos aproxima do modelo de Kauffman leva-nos a considerar um sistema catal´ıtico de reac¸c˜ oes L = (X, R, C) relativamente a F , onde X, F e R est˜ao fixos e o conjunto C ´e obtido atrav´es de uma escolha aleat´oria. Em particular, vamos admitir que todo o elemento (x, r) de X × R tem uma probabilidade p de pertencer a C, probabilidade essa que ´e igual para todos eles. Denotemos ent˜ao por P(L, p) a probabilidade que, dado um tal sistema L, exista um subconjunto RAF de L. Em [?], prova-se que esta probabilidade, P(L, p), ´e uma fun¸c˜ao monotonamente crescente com p. No modelo originalmente proposto por Kauffman, X = X(n) era o conjunto das sequˆencias poss´ıveis de comprimento n˜ao superior a n de s´ımbolos escolhidos num alfabeto de k elementos, sendo a fonte de alimento F o subconjunto das sequˆencias de comprimento n˜ao superior a um certo t, com t tomando valores pequenos, por exemplo, t = 2. Ainda de acordo com a proposta de Kauffman, os elementos de X(n) s˜ao sequˆencias ordenadas, sendo ent˜ao consideradas como reac¸c˜oes poss´ıveis aquelas descritas por r = ({a, b}, {c}) e r = ({c}, {a, b}), com a, b ∈ X e onde a sequˆencia c = ab ou c = ba ´e formada pela concatena¸c˜ao das sequˆencias a e b. Finalmente, o conjunto das reac¸c˜ oes catalisadas, C(n), ´e obtido aleatoriamente considerando que cada x ∈ X(n) catalisa qualquer uma das reac¸c˜oes r ∈ R, com probabilidade p(n). Note-se que, neste modelo, se admite que a probabilidade que uma reac¸c˜ao r seja catalisada por um ele93


mento de X n˜ao depende nem de x nem de r, mas t˜ao somente do comprimento m´aximo que as sequˆencias de X podem ter.

Figura 3.3 Um conjunto RAF, irredut´ıvel, para L(5), com k = 2 e t = 2. Denotemos por f (n) o valor esperado do n´ umero de reac¸c˜oes que cada elemento de X catalisa, ou seja, f (n) = p(n) |R| , onde por |R| se denota o n´ umero de elementos do conjunto R. As quest˜oes mais importantes no modelo proposto por Kauffman podem ser apresentadas neste formalismo do seguinte modo: denotemos por P∞ o limite, quando n cresce para infinito, da probabilidade P(L, p). (A) que condi¸c˜ oes deve f (n), ou, equivalentemente, p(n), satisfazer de modo a que garantidamente se tenha P∞ = 1 ? (B) dada uma qualquer fun¸c˜ao f (n) para a qual se tenha P∞ = 1, para que valor de n ´e esperado observar um primeiro conjunto de tipo RAF e qual ser´a a dimens˜ao t´ıpica, em termos percentuais relativamente ao n´ umero total de reac¸c˜oes, dos conjuntos RAF irredut´ıveis? Em estudos recentes, [Ste00], foi poss´ıvel provar as seguintes afirma¸c˜oes:

(1) se f (n) > c n2 , com c > ln(k), ent˜ao P∞ = 1; (2) se f (n) <

1 3e,

ent˜ao P∞ = 0 94


Como ´e poss´ıvel perceber, estes resultados trazem uma resposta um pouco fraca `a primeira das quest˜ oes, na medida em que coloca limites para os dois tipos de comportamento para a probabilidade P∞ mas deixa um intervalo muito aberto entre eles. Relativamente `a segunda das quest˜ oes podemos afirmar, [HS05], que, para k = 2 e admitindo que f (n) > d0 n log(n), com d0 > 4, o n´ umero esperado de conjuntos de tipo RAF para o sistema cresce para infinito, quando n cresce para infinito. Muito embora os resultados conseguidos fiquem muito aqu´em daquilo que se desejaria, aquilo que importa salientar ´e a formaliza¸c˜ao matem´atica do problema e a clareza que essa formaliza¸c˜ao traz `as quest˜oes colocadas. Naturalmente que est´a de alguma forma impl´ıcito que, insistindo mais, ser´a poss´ıvel chegar a resultados mais conclusivos. No u ´ltimo dos trabalhos citados s˜ao mostradas algumas simula¸c˜oes computacionais, algo que de alguma forma penso perspectivar os resultados matem´aticos a procurar.

Aquilo que me parece mais importante salientar no gr´afico apresentado s˜ao as curvas obtidas para valores mais elevados de n, curvas essas onde as transi¸c˜oes s˜ao cada vez mais n´ıtidas. Contudo, como ´e ali´as afirmado pelos autores, para n = 20 existe alguma imprecis˜ao na defini¸c˜ao do plateau superior, em virtude das dificuldades computacionais que essas situa¸c˜ oes trazem. Penso no entanto que, sem grande margem de erro, ´e poss´ıvel conjecturar a existˆencia de uma transi¸c˜ao entre os valores 0 e 1 para a probabilidade de se formarem conjuntos de tipo RAF nos modelos considerados. 95


Para terminar, gostaria de dizer que a importˆancia do formalismo aqui apresentado reside igualmente na facilidade em considerar pequenas varia¸c˜oes ao modelo de Kauffman, porventura mais realistas, testando assim se as suas principais caracter´ısticas resistem a tentativas de modela¸c˜ao mais detalhadas.

distˆancia de Hamming Como ficou bem claro desde o in´ıcio, um dos aspectos fundamentais a esclarecer relativamente `as redes NK como modelos de sistemas biol´ogicos era a sua robustez, no sentido da sua dinˆamica n˜ao se alterar significativamente com pequenas varia¸c˜oes do estado inicial do sistema. Para analisar esta propriedade podemos estudar se a evolu¸c˜ao de um sistema partindo de estados iniciais pr´ oximos leva a estados muito distintos, ou se, pelo contr´ario, mant´em sempre essas diferen¸cas ou mesmo as reduz. Deste modo, torna-se necess´ario uma medida da diferen¸ca entre dois quaisquer estados de um mesmo sistema, o que pode ser conseguido atrav´es da chamada distˆancia de Hamming, ou da distˆancia normalizada de Hamming. A distˆancia de Hamming entre dois estados E1 e E2 de uma rede NK ´e definida como o n´ umero de elementos do sistema cujos valores das suas vari´aveis (bin´arias) n˜ao coincidem. Como facilmente se observa, esta quantidade pode ser descrita da seguinte forma: H(E1 , E2 ) = (E1 (1) − E2 (1))2 + (E1 (2) − E2 (2))2 + · · · + (E1 (N ) − E2 (N ))2 =

N X (E1 (i) − E2 (i))2 , i=1

onde por E1 (i) e E2 (i) se denotam os estados da vari´avel do elemento i do sistema no estado E1 e E2 , respectivamente. Uma vez que esta medida depende do n´ umero de elementos do sistema, ´e prefer´ıvel considerar o quociente H/N , a chamada distˆancia de Hamming normalizada, que para simplificar vamos denotar tamb´em por H. Vejamos um exemplo para ilustrar de que modo este conceito nos pode ajudar a medir a robustez de uma rede NK . 96


Consideremos uma rede NK , com N = 100 e K = 4, numa topologia de quadrado, isto ´e, onde cada elemento da rede est´a disposto num quadrado, sendo ent˜ao influenciado pelos seus quatro vizinhos mais pr´oximos. Fazendo uma escolha aleat´oria das fun¸c˜ oes booleanas para cada um dos elementos da rede, consideremos a seguinte rede de fun¸c˜ oes booleanas (neste caso, como ´e usual, estamos a representar cada uma das fun¸c˜ oes booleanas pelo n´ umero inteiro correspondente, neste caso um inteiro entre 0 e 216 − 1 = 65 535): 20980 35025 62888 39382 25732 53466 56850 6685 28755 41810

590 6778 6048 52827 1918 4749 4386 58872 29865 33227

64193 60568 8767 48736 60975 55261 54844 63848 55929 54107

2788 51371 3009 14566 33052 17780 53501 41816 5721 40335

48049 29500 38394 7689 26951 37435 55462 41640 5375 40761

31971 30417 11689 27995 25041 57899 27610 26094 38043 4871

13835 58401 50379 41075 6072 8680 26188 21432 58363 47368

28122 973 52217 4999 41330 61823 25271 50695 43133 47041

1499 7501 52813 49967 34078 11912 38566 13995 47055 11165

33937 4093 15964 59468 4103 48396 47982 1587 43528 51170

Agora vamos escolher aleatoriamente uma configura¸c˜ao para a rede e uma sua posi¸c˜ao para efectuar a u ´nica modifica¸c˜ao que vamos considerar para a segunda configura¸c˜ao. Estes v˜ao ser os estados iniciais do sistema cuja evolu¸c˜ao vamos estudar. T=0 0 0 0 1 0 1 0 0 1 0

1 1 0 1 0 0 0 0 1 1

0 0 0 0 0 0 1 1 1 1

0 0 1 1 1 0 1 0 1 1

1 1 0 1 1 0 1 0 0 0

0 1 1 1 0 0 1 1 1 0

T=0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 1

1 0 1 0 0 0 0 0 0 0

1 0 0 0 1 0 0 0 1 1

0 1 1 0 0 1 0 1 0 1

0 0 0 1 0 1 0 0 1 0

97

1 1 0 1 0 0 0 0 1 1

0 0 0 0 0 0 1 1 1 1

0 0 1 1 1 0 1 0 1 1

1 1 0 1 1 0 1 0 0 0

0 1 1 1 0 0 1 1 1 1

1 0 0 0 1 0 0 0 0 1

1 0 1 0 0 0 0 0 0 0

1 0 0 0 1 0 0 0 1 1

0 1 1 0 0 1 0 1 0 1


Como podemos verificar, apenas um dos elementos da rede da direita tem a sua vari´avel n˜ao coincidente com o correspondente elemento da rede da esquerda, logo vamos dizer que a distˆancia de Hamming normalizada no instante T = 0 ´e H0 = 0.01. De seguida s˜ao apresentadas as configura¸c˜ oes de cada uma das redes, para T = 0, 1, 2, 3, 4, 5, ditadas pela dinˆamica das fun¸c˜ oes booleanas anteriormente descritas.

98


T=0 0 0 0 1 0 1 0 0 1 0

1 1 0 1 0 0 0 0 1 1

0 0 0 0 0 0 1 1 1 1

0 0 1 1 1 0 1 0 1 1

1 1 0 1 1 0 1 0 0 0

0 1 1 1 0 0 1 1 1 0

T=0 1 0 0 0 1 0 0 0 0 1

1 0 1 0 0 0 0 0 0 0

1 0 0 0 1 0 0 0 1 1

0 1 1 0 0 1 0 1 0 1

0 0 0 1 0 1 0 0 1 0

1 1 0 1 0 0 0 0 1 1

0 0 0 0 0 0 1 1 1 1

0 0 1 1 1 0 1 0 1 1

T=1 1 0 0 1 0 0 1 1 0 0

0 1 0 0 1 1 1 0 0 0

1 1 0 1 0 0 1 1 1 1

0 0 0 1 0 1 0 0 1 0

0 1 1 1 1 1 0 0 1 1

1 0 1 1 1 1 1 1 1 1

0 0 1 1 0 0 0 1 0 1

0 0 1 0 0 0 1 1 0 0

0 0 1 0 0 1 1 0 1 0

1 1 0 0 1 0 1 1 0 1

1 1 1 0 0 0 0 1 1 0

0 1 1 1 0 0 1 1 1 1

1 0 0 0 1 0 0 0 0 1

1 0 1 0 0 0 0 0 0 0

1 0 0 0 1 0 0 0 1 1

0 1 1 0 0 1 0 1 0 1

1 0 1 0 1 0 0 1 1 0

1 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1 1 1 1 1 0 1 1 1 1

1 0 1 0 0 1 1 0 1 0

0 1 0 0 1 1 1 0 1 0

1 0 0 1 0 0 0 1 0 1

0 0 0 1 1 1 1 1 1 0

1 1 0 1 0 1 0 0 1 1

T=1 1 0 1 0 1 0 0 1 1 1

1 0 0 0 0 0 0 0 0 0

1 1 1 1 1 0 1 1 1 1

1 0 1 0 0 1 1 0 1 0

1 0 0 1 0 0 1 1 0 0

0 1 0 0 1 1 1 0 0 0

1 1 0 1 0 0 1 1 1 1

0 0 0 1 0 1 0 0 1 0

T=2 0 0 0 1 0 0 1 1 1 0

1 1 0 1 1 0 1 0 0 0

0 1 1 1 1 1 0 0 1 1

0 0 1 1 1 1 1 1 0 1

T=2 0 1 0 0 1 1 1 0 1 0

1 0 0 1 0 0 0 1 0 0

0 0 0 1 1 1 1 1 1 0

1 1 0 1 0 1 0 0 1 1

0 0 0 1 0 0 1 1 1 0 99

0 0 1 1 0 0 0 1 0 1

0 0 1 0 0 0 1 1 0 0

0 0 1 0 0 1 1 0 1 0

1 1 0 0 1 0 1 1 1 1

1 0 1 0 0 0 0 0 1 1


T=3 0 0 0 0 0 1 0 0 1 0

0 0 1 1 1 0 0 1 1 0

0 1 0 1 0 1 1 1 1 0

0 0 0 0 0 1 1 1 0 1

1 1 0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 1 0 0 1 1 1 0

T=3 0 0 1 0 1 1 0 0 0 0

1 1 0 1 0 0 0 0 0 0

1 1 0 0 0 1 1 1 1 0

0 1 0 0 0 0 0 0 1 1

0 0 0 0 0 1 0 0 1 0

0 0 1 1 1 0 0 1 1 0

0 1 0 1 0 1 1 1 1 0

0 0 0 0 0 1 1 1 0 1

T=4 1 0 1 1 0 1 1 1 0 1

1 1 1 0 1 0 0 0 1 0

0 1 0 1 0 1 0 1 1 1

0 0 0 1 1 0 1 1 0 0

0 1 1 0 0 0 0 0 0 1

0 0 0 0 0 1 0 1 1 0

1 0 0 1 1 0 0 0 0 1

1 1 0 0 1 0 0 0 0 1

1 0 1 0 1 0 0 1 1 1

1 1 1 0 1 0 1 0 0 0

0 0 0 1 0 0 1 0 1 0

1 0 0 1 0 0 0 1 0 0

0 0 1 0 1 1 0 0 0 0

1 1 0 1 0 0 0 0 1 0

1 1 0 0 0 1 1 1 1 0

0 1 0 0 0 0 0 0 1 1

1 0 0 1 1 0 0 1 1 1

0 0 1 0 1 0 0 1 0 0

1 0 0 1 0 1 1 1 0 1

1 1 1 1 0 1 1 0 1 0

0 0 0 1 1 0 1 0 1 0

1 0 0 0 0 1 1 1 1 1

0 1 1 1 0 1 0 0 1 0

0 1 1 1 0 1 0 0 1 1

T=4 0 0 0 1 1 0 1 1 0 1

0 0 1 0 1 0 0 0 0 0

1 0 0 1 0 1 1 1 1 1

1 1 1 1 0 1 1 0 1 0

1 0 1 1 0 1 1 1 0 1

1 1 1 0 1 0 0 0 1 0

0 1 0 1 0 1 0 1 1 1

0 0 0 1 1 0 1 0 0 0

T=5 1 1 0 1 1 1 0 1 0 0

1 1 0 0 0 0 0 1 0 0

1 1 1 0 0 0 0 0 1 1

0 1 0 0 0 0 0 1 1 1

T=5 0 0 0 1 1 1 1 0 1 1

1 0 0 0 0 1 0 1 0 1

0 1 1 1 0 1 0 1 1 0

0 1 1 1 0 1 0 0 1 1

1 1 0 1 1 1 0 1 0 0 100

1 0 0 1 1 0 0 0 0 1

1 1 0 0 1 0 0 1 0 1

0 0 1 0 1 0 0 1 1 1

1 1 1 0 1 0 1 1 0 0

0 0 0 1 1 0 0 0 1 0


Na tabela seguinte s˜ao apresentados os valores da distˆancia de Hamming calculados para cada um dos instantes considerados: T

0

1

2

3

4

5

HT 0.01 0.03 0.05 0.37 0.5 0.44 Para medir num u ´nico parˆametro de que modo se d´a a divergˆencia (considerando a convergˆencia como uma divergˆencia negativa) dos estados de um sistema, ´e habitual procurar ajustar `a evolu¸c˜ao temporal de H a rela¸c˜ao Ht ≈ H0 eλ t , assumindo que a distˆancia inicial, H0 , ´e pequena, ou seja, que H0 ´e muito inferior a um15 . Nesse caso a divergˆencia fica caracterizada pelo expoente λ, chamado o expoente de Lyapunov do sistema. Para o exemplo anterior, vˆe-se claramente que para o c´alculo do expoente de Lyapunov devemos desprezar o valor da distˆancia de Hamming para o u ´ltimo caso, uma vez que nessa altura estaremos a medir a divergˆencia, no instante seguinte, entre dois estados j´a muito separados. Assim sendo, encontra-se que o expoente de Lyapunov ´e dado por λ = 1.03364 . A caracteriza¸c˜ao da dinˆamica do sistema pode ser ent˜ao caracterizado pelos valores do seu expoente de Lyapunov da seguinte forma:

se λ < 0, ent˜ao temos que a distˆancia de Hamming fica cada vez menor, relativamente a uma distˆancia inicial, e assim assiste-se a uma convergˆencia da evolu¸c˜ao do estado do sistema. Podemos assim dizer que estamos perante um sistema que tende a fixar, a congelar, todas as suas configura¸c˜oes numa u ´nica. se λ > 0, ent˜ao temos que a distˆancia de Hamming aumenta exponencialmente a partir de um valor inicial, ou seja, que quaisquer duas configura¸c˜oes do sistema, por muito pr´ oximas que estejam inicialmente, v˜ao, com o passar do tempo, perder essa proximidade. Diz-se que se trata de um sistema ca´otico, ou de um sistema 15 Esse n´ umero corresponde a duas configura¸co ˜es com todos os seus elementos com valores distintos da respectiva vari´ avel.

101


com sensibilidade `as condi¸c˜ oes, uma vez que tende a desfazer qualquer sentido de ordem de quaisquer suas configura¸c˜oes. por fim, se λ = 0, ent˜ao temos que a distˆancia de Hamming depende algebricamente com o tempo, no sentido em que o ajuste exponencial procurado n˜ao foi encontrado16 . Deste modo, temos que Ht ∝ tγ . De seguida iremos ver de que modo ´e poss´ıvel caracterizar as redes NK em termos de valores para o expoente de Lyapunov. Mas, antes ainda de mostrarmos alguns dos resultados poss´ıveis, vejamos o que obtivemos com algumas algumas experiˆencias computacionais. Para tentar entender de que forma os expoentes de Lyapunov de uma rede NK dependem da escolha de K , ´e necess´ario recordar que, qualquer que seja o valor de K escolhido, existem sempre sistemas com expoentes associados negativos, ou seja, redes NK onde ´e poss´ıvel assistir ao congelamento do sistema. O estudo que deve ser feito tem mais a ver com o sistema t´ıpico, ou seja, fixados os valores de N e K , vamos estudar v´arias redes NK com escolhas aleat´ orias das fun¸c˜oes booleanas. Desta forma, no final teremos o estudo do comportamento, da dinˆamica, de uma rede m´edia com essas caracter´ısticas. Na figura seguinte est˜ao tra¸cados os gr´aficos, para diferentes escolhas de K , dos pontos HT , HT+1 , para valores de HT e HT+1 a variar no intervalo (0.0, 0.7). A diagonal do gr´afico, correspondente portanto `a igualdade HT = HT+1 , marca os pontos para os quais n˜ao existe varia¸c˜ao da distˆancia de Hamming. A sua inclus˜ao no gr´afico tem o intuito de destacar a regi˜ao do plano correspondente a HT > HT+1 , ou seja, a sistemas onde se assiste a uma convergˆencia da evolu¸c˜ao dos estados, e a regi˜ao onde HT < HT+1 , ou seja, onde existe uma divergˆencia (exponencial) dos estados no instante seguinte.

16 Ao inv´es de uma evolu¸c˜ ao constante, como poderia parecer por uma substitui¸c˜ ao directa na express˜ ao acima.

102


0.6

0.5

K=5 0.4

K=3

K=4

K=2

0.3

0.2

0.1

0.0 0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

Figura 3.4 Gr´afico tra¸cado a partir da m´edia dos valores de (HT , HT+1 ), para redes com um n´ umero de elementos N = 150, tendo sido considerados 400 sistemas, escolhidos aleatoriamente, para K = 2 e 3, 500 para K = 4 e 600, para K = 5. Analisando os resultados obtidos podemos afirmar que:

para K > 2, observa-se, para pequenos valores de HT , que as redes tipicamente mostram divergˆencia dos estados em instantes consecutivos, sendo essa divergˆencia tanto maior quanto mais elevado for o valor de K ; para K = 2, observa-se que as redes tipicamente mostram convergˆencia dos estados em instantes consecutivos, muito embora com pontos muito pr´oximos da diagonal para pequenos valores de HT . No caso das redes NK ´e poss´ıvel fazer uma an´alise estat´ıstica muito simples: suponhamos que HT , o n´ umero de elementos com vari´aveis distintas das duas configura¸c˜oes num certo 103


instante T, ´e muito inferior ao n´ umero de elementos do sistema, N . Ent˜ao, podemos dizer que o n´ umero de fun¸c˜ oes booleanas que v˜ao ser afectadas nas suas entradas por esses elementos ´e aproximadamente igual ao produto K HT . Por outro lado, sabendo que a probabilidade de uma fun¸c˜ao booleana alterar o valor da vari´avel de um elemento da rede ´e igual a 1/2, podemos afirmar que, nas condi¸c˜oes descritas, o n´ umero de elementos do sistema com valores distintos, no instante seguinte, T+1, nas duas configura¸c˜oes, ´e dado por HT+1 =

1 K HT . 2

Assim sendo, retira-se facilmente a seguinte express˜ao para Ht em fun¸c˜ao do n´ umero inicial, para t = 0, de elementos distintos em ambas as configura¸c˜oes do sistema: Ht =

K t H0 = H0 e t ln K /2 . 2

Esta an´alise estat´ıstica, v´alida apenas para Ht << N , evidencia aquilo que os resultados computacionais j´a nos tinham levado a concluir, ou seja, que, para sistemas com K = 2, a separa¸c˜ao das ´ orbitas de duas configura¸c˜ oes quase iguais de um sistema n˜ao ´e exponencial. Por outro lado, vemos tamb´em que para valores crescentes de K essa separa¸c˜ao ´e cada vez maior, uma vez que os respectivos expoentes de Lyapunov s˜ao dados por λK = ln(K /2) . No gr´afico seguinte comparamos os resultados obtidos computacionalmente com as estimativas estat´ısticas atr´as efectuadas.

104


K=5

0.5

K=4

K=3

K=2

0.4

0.3

0.2

0.1

0.0 0.0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

Neste gr´afico ´e not´ orio que a concordˆancia da an´alise estat´ıstica efectuada com os resultados obtidos da simula¸c˜ao computacional se faz apenas para valores da distˆancia de Hamming normalizada, Ht , muito pr´oximos de zero, ou seja, em situa¸c˜oes em que o n´ umero de elementos da rede com valores distintos ´e muito inferior ao n´ umero de elementos da rede.

105


diferentes topologias Como vimos anteriormente, o modelo cl´assico

17

de Kauffman possui uma topologia

com base nos grafos aleat´ orios da teoria de Erd¨os e Renyi. No entanto, Albert-L´aszl´o Barab´asi, desde finais dos anos 1990, tem vindo a chamar a aten¸c˜ao que na Natureza a maioria dos sistemas complexos possui uma topologia de um tipo muito diferente, uma topologia agora designada como do tipo ”Scale-free”, na qual existem alguns elementos com muitas liga¸c˜ oes e muitos com apenas algumas liga¸c˜oes. Esta altera¸c˜ao da topologia do sistema, tal como estudaram Oosawa e Savageau, [OS02], para al´em de produzir uma significativa altera¸c˜ao gr´afica da rede, altera tamb´em as propriedades do sistema: redes com um padr˜ao mais uniforme exibem maiores e mais longos atractores, bem como uma menor entropia e uma menor correla¸c˜ao entre os seus padr˜oes de express˜ao, enquanto redes como um padr˜ao distorcido, como as redes ”Scale-free”, exibem menores e mais curtos atractores, assim como uma maior entropia e uma maior correla¸c˜ao os seus padr˜oes de express˜ao, ver [BA99], [Ger04] e [IKY07]. Alguns exemplos f´ısicos mais comuns na Natureza da presen¸ca deste tipo de topologia s˜ao as redes gen´eticas e moleculares, as cadeias de alimenta¸c˜ao animal, os ecossistemas, as redes sociais, etc. A um n´ıvel mais tecnol´ogico, este tipo de sistemas descreve as redes lingu´ısticas, a Internet, etc., [Ger04]. Utilizando um modelo ”Scale-free”, s˜ao acrescentados dois novos aspectos ao modelo de Erd¨os-Renyi. Primeiro, enquanto no modelo de Erd¨os-Renyi existe um n´ umero fixo de v´ertices, N, no modelo ”Scale-free”existe, tal como na maioria das redes reais, uma expans˜ao cont´ınua do sistema, onde novos v´ertices s˜ao introduzidos e conectados com os v´ertices j´a presentes no sistema. Segundo, a probabilidade de dois v´ertices se conectarem mutuamente numa rede de Erd¨ os-Renyi segue uma distribui¸c˜ao uniforme, enquanto numa rede ”Scale-free”existe uma maior probabilidade que um v´ertice se conecte a um v´ertice que j´a tenha muitas outras conex˜ oes, seguindo a lei de distribui¸c˜ao de probabilidade P (k) = 1/ζ(γ) k γ , 17

Assim passarei a designar o modelo de Kauffman at´e agora estudado.

106


com γ > 1 e onde ζ(γ) =

∞ X

k=1

´e a conhecida fun¸c˜ao zeta de Riemann. Desta forma, todo o v´ertice tem pelo menos uma aresta, ou seja, uma conex˜ao com um outro elemento do sistema, mas existem alguns elementos com um n´ umero de liga¸c˜oes muito maior. Por isso, as propriedades do sistema n˜ao s˜ao j´a determinadas pelo n´ umero m´edio de conex˜oes mas sim pelo expoente γ, [Ger04], [IKY07] e [BA99]. Apesar deste tipo de sistema estar continuamente a crescer, ele organiza-se num estado ”Scale-Free”estacion´ario, isto ´e, onde a distribui¸c˜ao de probabilidade P (k) ´e independente do tempo, sendo o parˆametro de preferˆencia e crescimento γ fundamental para o desenvolvimento da lei de potˆencias da distribui¸c˜ao. Alguns estudos de sistemas biol´ ogicos revelam que este parˆametro pertence ao intervalo (2, 2.5), ou seja, que um sistema no limiar do caos apresenta este dom´ınio de valores para o expoente γ, ver [Ger04]. Outro tipo de topologia estudado como poss´ıvel representa¸c˜ao dos sistemas de redes biol´ ogicas ´e caracterizada por um pico na distribui¸c˜ao de probabilidade de um elemento da rede estar associado a k outros elementos da rede para o valor m´edio de conex˜oes da ´ o tipo de topologia rede, decaindo depois exponencialmente para valores elevados de k. E associado a uma rede direccionada de flutua¸c˜oes exponenciais. Neste tipo de redes temos que a probabilidade de cada v´ertice se ligar a um outro v´ertice segue a seguinte lei de distribui¸c˜ao de probabilidade: P (k) =

z k e−z , k!

onde por z se denota o valor m´edio de k, isto ´e, z = hki. Assim sendo, vemos que P (k) aumenta exponencialmente com o n´ umero de conex˜oes que esse v´ertice possui, levando a uma topologia com centros de grande conectividade, sendo a presen¸ca de estes v´ertices de grande conectividade ainda mais acentuada que numa topologia de tipo ”Scale-Free”. Na figura seguinte s˜ao apresentados exemplos dos dois tipos de topologias. 107


Apesar das evidˆencias gr´aficas deste tipo de topologias no mundo real, ´e necess´ario um estudo mais aprofundado de modo a serem acolhidas e aceites pela maioria da comunidade cient´ıfica de sistemas RBN.

diferentes modos de actualiza¸c˜ao do sistema No modelo cl´assico de redes RBN proposto por Kauffman a actualiza¸c˜ao do sistema era feita sempre de uma forma sincr´ onica, isto ´e, o ”update” dos nodos do sistema era realizada ao mesmo tempo. Contudo, no mundo real, observando o metabolismo celular 108


e o mecanismo gen´etico, sabemos que este sincronismo n˜ao existe. De facto, sabe-se que no sistema metab´ olico celular as reac¸c˜oes moleculares metab´olicas se realizam de modo ass´ıncrono, ou, no m´aximo, revelando uma sincronia entre apenas parte da rede de sistema de reac¸c˜ oes. Da mesma forma, ´e conhecido que no sistema gen´etico os estados gen´eticos ocorrem em tempos diferentes. Atentos a esta dificuldade, Inman Harvey e Terry Bossomaier, [HB97], introduziram o modelo de redes RBN ass´ıncronas, no qual um nodo ´e escolhido `a vez e aleatoriamente e actualizado apenas esse elemento da rede. Como as redes ARBN s˜ao ass´ıncronas, mas n˜ao deterministas, os atractores c´ıclicos, ou seja, os atractores dos sistemas que temos estudado at´e agora, deixam simplesmente de existir, porque ´e muito dif´ıcil que uma sequˆencia de estados se repita num sistema n˜ao determin´ıstico. Continuam a existir, isso sim, atractores pontuais, ou seja, atractores associados a um u ´nico nodo do sistema, e as suas bacias de atrac¸c˜ao. No entanto, com este novo tipo de rede cada estado do sistema pode pertencer a mais que uma bacia de atrac¸c˜ao. Vejamos um exemplo de uma rede ARBN, voltando a um dos primeiros exemplos de uma rede RBN considerada, com N = 3 e K = 2, cuja descri¸c˜ao ´e dada pela seguinte tabela: Lˆampada/enzima

fun¸c˜ao booleana

input1

input2

L1 L2 L3

And And Or

L2 L1 L1

L3 L3 L2

N˜ao sendo a actualiza¸c˜ao da configura¸c˜ao da rede feita em simultˆaneo, em geral n˜ao vamos ter uma u ´nica configura¸c˜ao como resposta a cada uma das configura¸c˜oes poss´ıveis do sistema. Na tabela seguinte apresentamos as trˆes poss´ıveis configura¸c˜oes no instante T+1, consoante a actualiza¸c˜ao ´e feita apenas no primeiro, segundo, ou terceiro elementos da rede, respectivamente.

109


instante T L1 0 0 0 1 0 1 1 1

L2 0 0 1 0 1 1 0 1

L3 0 1 0 0 1 0 1 1

instante T+1 L1 0 0 0 0 0 0 0 1

L2 0 0 1 0 1 1 0 1

L3 0 1 1 0 1 0 1 1

L1 0 0 0 1 0 1 1 1

L2 0 0 0 0 0 0 0 1

L3 0 1 0 0 1 0 1 1

L1 0 0 0 1 0 1 1 1

L2 0 0 1 0 1 1 0 1

L3 0 0 1 1 1 1 1 1

Focando a nossa aten¸c˜ao na dinˆamica da rede, podemos resumir as poss´ıveis transi¸c˜oes de cada uma das configura¸c˜ oes no instante T na seguinte tabela (onde se perde a informa¸c˜ao do elemento cuja actualiza¸c˜ao corresponde a essa transi¸c˜ao): instante T L1 0 0 0 1 0 1 1 1

L2 0 0 1 0 1 1 0 1

L3 0 1 0 0 1 0 1 1

instante T+1 L1 0 0 0 0 0 0 0 1

L2 0 0 0 0 0 1 0 1

L3 0 0 0 0 1 0 1 1

L1

L2

L3

0 0 1 0 1 1

0 1 0 1 0 0

1 1 0 1 0 1

L1

L2

L3

1

0

1

1

1

1

´ assim muito f´acil perceber que, tal como no caso da actualiza¸c˜ao s´ıncrona da rede, E existem dois estados atractores, exactamente os mesmos. Contudo, as suas bacias de atrac¸c˜ao sofreram uma modifica¸c˜ao, passando a bacia de atrac¸c˜ao do atractor (000) a ser constitu´ıda por todos os elementos do sistema excepto o outro atractor, cuja bacia de atrac¸c˜ao passa agora a ter uma configura¸c˜ao, a saber, o estado (110). Como podemos concluir obervando a tabela anterior, existe a possibilidade de um atractor c´ıclico, mas isso implicaria que o sistema tivesse uma actualiza¸c˜ao, at´e ao infinito, com determinadas caracter´ısticas, o que, naturalmente, n˜ao ´e prov´avel. Deste modo se percebe que os atractores c´ıclicos da correspondente rede RBN, perdem o seu significado com uma actualiza¸c˜ao ass´ıncrona. Tal como foi referido anteriormente, uma outra diferen¸ca para 110


as redes RBN ´e o facto de uma determinada configura¸c˜ao do sistema poder pertencer a distintas bacias de atrac¸c˜ao, como se observa, neste exemplo, com a configura¸c˜ao (110). No entanto, Ezequiel Di Paolo, [Di 01b] e [Di 01a], descobriu que as redes ARBN, mesmo n˜ao possuindo um car´acter determin´ıstico, em alguns casos possuem um car´acter r´ıtmico, exibindo aquilo que chamou de atractores r´ıtmicos, com ciclos em cadeia, capazes de reproduzir um car´acter sincr´onico em fragmentos da rede, [Ger04]. Carlos Gersheson, [Ger04], contrap˜oe ao car´acter aleat´orio deste tipo de redes apresentando o conceito de redes DARBN, ou seja, as redes Boleanas ass´ıncronas e deterministas. Neste tipo de rede cada nodo ´e actualizado em diferente per´ıodos de tempo, mas esta actualiza¸c˜ao ´e determin´ıstica, dependendo de dois parˆametros por nodo do sistema, Pi e Qi , com Pi , Qi ∈ N e Pi > Qi , para todo i = 1, · · · , N , escolhidos aleatoriamente at´e uns valores m´aximos Pmax e Qmax , que determinam, respectivamente, o ”per´ıodo”e a ”transla¸c˜ao”da actualiza¸c˜ao do sistema. De facto, neste tipo de redes temos que a actualiza¸c˜ao do elemento i do sistema ´e feita quando for satisfeita a condi¸c˜ao T

mod Pi = Qi ,

T = 0, 1, 2, · · · .

Se mais do que um elementos do sistema preenche estas condi¸c˜oes, o sistema ´e actualizado numa sequˆencia espec´ıfica para cada nodo, um por um, simulando uma rede ARBN. Sendo as fun¸c˜ oes, a topologia e os parˆametro de actualiza¸c˜ao gerados aleatoriamente, temos que a sequˆencia n˜ao afecta as propriedades da fam´ılia de redes. Temos assim que nas redes DARBN ´e poss´ıvel observar de novo ciclos de atractores, os quais possuem propriedades idˆenticas aos das redes cl´assicas, CBRN, mas, pela forma de actualiza¸c˜ao do sistema, as propriedades gerais s˜ao idˆenticas `as das redes ARBN, [Ger04] e [Ger03]. Vejamos o seguinte exemplo de uma rede DARBN. Consideremos exactamente o mesmo sistema ass´ıncrono descrito anteriormente. Como constatamos na altura, cada uma das configura¸c˜oes do sistema pode transitar para uma ou mais configura¸c˜ oes, de acordo com a tabela apresentada, sendo a escolha da transi¸c˜ao em causa feita aleatoriamente. A diferen¸ca para este tipo de sistema ´e a indica¸c˜ao determinista da transi¸c˜ao a efectuar em cada caso. Essa indica¸c˜ao, dependente do valor do tempo T, vai ent˜ao ser inclu´ıda na tabela que descreve a evolu¸c˜ao temporal do sistema. 111


instante T L1 0 0 0 0 0 1 1 1 0 0 1 1 1 1 1 1

L2 0 0 0 1 1 0 0 0 1 1 1 1 1 0 0 1

instante T+1

L3 0 1 1 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 1 1

L1 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 1 0 1 1

L2 0 0 0 0 1 0 0 0 0 1 1 0 1 0 0 1

L3 0 0 1 0 1 0 0 1 1 1 0 0 1 1 1 1

Qi 0,1,2 0,2 1 0 1,2 0 1 2 0,1 2 0 1 2 0,2 1 0,1,2

Na coluna mais `a direita da tabela acima est˜ao indicados, para cada transi¸c˜ao poss´ıvel, os valores de Qi , sendo que escolhemos Pi = 3 para todos os elementos da rede. Assim sendo, podemos seguir (deterministicamente) a evolu¸c˜ao do sistema: suponhamos que, para T = 26, temos o sistema na configura¸c˜ao (1 0 0). Ent˜ao,

T = 26 (1 0 0)

T = 27 (1 0 1)

T = 28 (0 0 1)

T = 29 (0 0 1)

T = 30 (0 0 0)

Tendo o sistema atingido um atractor, (0 0 0), sabemos desde logo que o sistema n˜ao mais sair´a dessa configura¸c˜ao. As redes ARBN e DARBN resolvem o problema da sincronia do sistema original proposto por Kauffman. No entanto introduzem um outro problema, a saber, o de uma ass´ıncronia extrema. No complexo mundo real acontece mais de um nodo do sistema ´ necess´aria uma generaliza¸c˜ao destes sistemas, ser actualizado em determinado tempo. E 112


tendo para isso sido introduzidas as redes GARBN18 e as redes GDARBN19 , respectivamente. O funcionamento das redes de tipo GARBN ´e idˆentico ao das redes ARBN, mas existe agora uma escolha aleat´oria dum conjunto de nodos a actualizar, os quais s˜ao actualizados simultaneamente. Deste modo, temos que nestes sistemas generalizados, nenhum, um, alguns ou todos os nodos podem ser actualizados simultaneamente. Por isso, este tipo de redes s˜ao classificadas como redes semi-s´ıncronas. De igual modo as redes de tipo GDARBN possuem um funcionamento idˆentico ao das redes DARBN, sendo utilizados tamb´em os dois parˆametros Pi e Qi por elemento da rede, de modo a tornar o sistema determin´ıstico, mas neste caso se v´arios forem os nodos que preenchem estas condi¸c˜ oes de actualiza¸c˜ao todos eles ser˜ao actualizados. Diz-se ent˜ao que as redes GDARBN possuem um car´acter determin´ıstico semi-s´ıncrono. Como se observa facilmente, as redes cl´assicas, CRBN, s˜ao apenas um caso particular das redes GDARBN, uma vez que, escolhendo Pmax = 1, teremos imediatamente Pi = 1 e Qi = 0 para todos os nodos do sistema. As redes DARN e GDARN s˜ao as que mais se aproximam das redes CRBN, uma vez que s˜ao determin´ısticas, possuindo ciclos de atractores. O n´ umero de atractores depende linearmente do n´ umero de elementos da rede, N , no entanto de forma mais lenta do que nas redes CRBN, o que implica que para redes de dimens˜ao mais elevada o n´ umero de atractores de uma rede GDARBN ´e inferior ao de uma rede CRBN de dimens˜ao igual, e, consequentemente, para um n´ umero elevado de estados, as redes DGARBN possuem menor n´ umero de atractores que as CRBN. De seguida apresentamos o resultado das simula¸c˜ oes computacionais feitas por Carlos Gershenson, [Ger03], onde s˜ao comparados diferentes tipos de redes booleanas. Estudos sobre a fase de transi¸c˜ao de diferentes cen´arios das redes RBN demonstram que apesar das vis´ıveis diferen¸cas entre o n´ umero de atractores e o tipo de atractores, a fase de transi¸c˜ao, isto ´e, o estado cr´ıtico entre a ordem e o caos, se encontra para valores de K entre 1 e 3. Deste modo, ´e poss´ıvel concluir que a fase em que se encontra um sistema RBN, caos, ordem, ou cr´ıtico, n˜ao parece depender do tipo de actualiza¸c˜ao apresentado 18

Do inglˆes, Generalized Asynchronous Random Boolean Networks.

19

Do inglˆes, Generalized Deterministic Asynchronous Random Boolean Networks.

113


pela rede, dependendo unicamente do tamanho, da topologia, da conectividade e da funcionalidade da rede. O ponto de partida de Gershenson ´e a simula¸c˜ao da evolu¸c˜ao temporal de diferentes tipos de redes fixados o seu n´ umero de elementos, N , e a sua conectividade, K, sendo as fun¸c˜ oes booleanas escolhidas aleatoriamente. O estudo em causa resulta da escolha aleat´ oria de uma configura¸c˜ao inicial, A, e de uma outra, B, resultante da primeira alterando apenas o estado de um dos seus elementos. A avalia¸c˜ao ´e feita relativamente aos estados A0 e B 0 , que se obtˆem de A e B, respectivamente, ap´os 10 000 instantes tempo, sendo calculado o parˆametro δ = H(A0 , B 0 ) − H(A, B) com H uma vez mais a distˆancia de Hamming normalizada20 . Temos assim que o que se pretende avaliar ´e exactamente a estabilidade dos sistemas a pequenas perturba¸c˜oes. Vejamos os resultados obtidos, considerando sempre 200 configura¸c˜oes iniciais A, aleatoriamente escolhidas, para cada sistema e 200 sistemas/distribui¸c˜oes de fun¸c˜oes booleanas para cada par de valores de N e K. Para os sistemas ass´ıncronos foi usado o valor Pmax = 7.

Figura 3.5 Sensibilidade `as condi¸c˜ oes iniciais dos diferentes tipos de redes booleanas aleat´orias, para N = 5. 20 Neste parˆ ametro, n˜ ao ´e muito importante a presen¸ca da distˆ ancia original H(A, B) = 1/N , excepto para evidenciar a ideia de uma diminui¸c˜ ao da distˆ ancia de Hamming para valores negativos de δ.

114


Como se pode observar, tudo indica que todos os diferentes tipos de sistemas tˆem uma transi¸c˜ao entre os regimes ordem/caos na passagem de valores de K entre 2 e 3. Por outro lado, como Gershenson assinala, s˜ao as redes CRBN que mostram uma transi¸c˜ao mais acentuada, isto ´e, que evidenciam uma grande estabilidade para K = 1, 2 e uma grande instabilidade para K = 3, 4, 5. Para todos os outros tipos de redes os valores de δ s˜ao sempre mais pr´ oximos de zero. Aumentando o valor de N , obtiveram-se os seguintes resultados:

Figura 3.6 Sensibilidade `as condi¸c˜oes iniciais dos diferentes tipos de redes booleanas aleat´ orias, para N = 10. Neste caso ´e evidente que a transi¸c˜ao ordem/caos para redes CRBN se encontra ainda na passagem K = 2 para K = 3, mas j´a n˜ao ´e assim para todos os outros tipos de redes. Por fim, vamos mostrar os resultados obtidos quando se considera um valor mais elevado21 para N .

21

Mas ainda muito pouco realista.

115


Figura 3.7 Sensibilidade `as condi¸c˜ oes iniciais dos diferentes tipos de redes booleanas aleat´orias, para N = 20. Neste gr´afico fica ainda patente a antecipa¸c˜ao da transi¸c˜ao de todos os tipos de redes relativamente `as CRBN. Contudo, tamb´em se come¸ca a observar que as curvas de varia¸c˜ao do parˆametro δ com os valores de K tendem a coincidir para todos os tipos de redes considerados. De seguida, Gershenson, condicionado pelas dificuldades computacionais que o aumento do valor de N traz, estuda apenas as transi¸c˜oes ordem/caos para valores de N mais elevados: vejamos os resultados obtidos para N = 25.

116


Figura 3.8 Transi¸c˜ao ordem/caos para os diferentes tipos de redes booleanas aleat´orias, quando N = 25. Da compara¸c˜ao dos resultados obtidos pensamos ser razo´avel concluir que no caso de uma an´alise do tipo de comportamento de uma rede biol´ogica, a utiliza¸c˜ao de uma rede CRBN conduz a resultados bastante satisfat´orios, na medida em que existe uma concordˆancia bastante razo´avel para algumas das principais caracter´ısticas entre os diferentes tipos de redes considerados. Por fim, gostaria de assinalar ainda a existˆencia das chamadas redes de contexto misto, MxRBN, as quais tˆem por base as redes GDARBN. Diferentes condi¸c˜oes/ contextos, por exemplo, a temperatura, podem alterar o per´ıodo de update dos elementos do sistema, o que implica que um mesmo sistema em diferentes condi¸c˜oes/contextos possua diferentes comportamentos. Estas diferen¸cas s˜ao dirigidas pelos conjuntos dos valores de Pi e Qi escolhidos. Temos ent˜ao M diferentes contextos para diferentes conjuntos de valores para os parˆametros Pi e Qi . A um tempo R ´e seleccionado um desses contextos e utilizado no funcionamento da rede, de tal modo que o n˜ao determinismo nas redes MxRBNs ´e introduzido por esta aleatoriadade na escolha de R para o qual se determina um novo contexto a utilizar. Como as redes MxRBN possuem um car´acter n˜ao determinista, possuem um n´ umero de atractores semelhantes ao das redes ARBN e das redes GARBN, o qual aumenta linear e suavemente com o tamanho N do sistema.

117


fun¸c˜oes canalizadoras As fun¸c˜oes canalizadoras, do inglˆes, canalizing fuctions, tal como o parˆametro P utilizado no modelo cl´assico das redes RBN de Kauffman, foram introduzidas por forma a filtrar o comportamento de um sistema, sendo conhecidas pela sua capacidade de supress˜ao do comportamento ca´ otico do sistema. As fun¸c˜oes canalizadoras s˜ao fun¸c˜ oes que possuem como m´ınimo um valor de input que sozinho garante o estado seguinte do sistema, sendo irrelevante o valor dos restantes elementos da rede a que esse elemento se encontra ligado. Ilustremos com um exemplo o funcionamento deste tipo de fun¸c˜ oes booleanas: consideremos um sistema composto por apenas trˆes elementos, A, B e C, cuja dinˆamica ´e definida atrav´es da seguinte tabela: T

T+1

A

B

C

A

B

C

0

0

0

1

0

1

0

0

1

1

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Como podemos constatar, se, no instante T, temos A = 0, imediatamente se verifica que C = 1 no instante seguinte, independentemente dos estados dos outros dois elementos, B e C, no instante T. Por outro lado, se A = 1, ent˜ao o estado do elemento C no instante seguinte ser´a 0 ou 1, dependendo apenas do estado de C no instante anterior. Com esta observa¸c˜ao conclui-se que A ´e um input canalizador, no sentido em que determina o seu estado, de C e que C ´e um input canalizador de si mesmo. Deste modo podemos dizer que o elemento C possui duas fun¸c˜ oes canalizadoras. Olhando agora para o elemento B, verifica-se que este possui trˆes fun¸c˜oes canalizado118


ras, dado que B ´e canalizador de si pr´oprio, uma vez que, se, no instante T , temos B = 0, ent˜ao, no instante seguinte, podemos imediatamente assegurar que B = 0, e que possui tamb´em como fun¸c˜ oes canalizadoras A e C, visto que A = 1, no instante T, implica que, de seguida, B = 0, enquanto C = 1 implica B = 0, no instante seguinte. Por fim, ´e igualmente f´acil de observar que o elemento A possui apenas a fun¸c˜ao canalizadora B, visto que B = 0 no instante T, determina imediatamente A = 1, no instante seguinte. Com este pequeno exemplo ´e poss´ıvel verificar que numa rede uma fun¸c˜ao Boleana de K inputs pode ter 0, 1, 2, 3, · · · , K inputs canalizadores. Numericamente ´e poss´ıvel observar que para K > 2 inputs por nodo de rede, quando existe um n´ umero suficiente de inputs canalizadores o sistema pode ser dirigido de um regime ca´otico para um regime ordenado.

Mas o mais interessante da aplica¸c˜ao deste conceito de fun¸c˜oes canalizadoras ´e o facto dos resultados nos mostrarem claramente que a transi¸c˜ao de um regime ca´otico para a ordem ser observada tanto para redes CRBN, como para redes GDRBN e ainda para redes GDARBN, o que biologicamente ´e muito importante, uma vez que as reac¸c˜oes moleculares no interior das c´elulas n˜ao se realizam de uma forma s´ıncrona. Este estudo vem, de alguma forma, mostrar que a existˆencia desta transi¸c˜ao ´e independente do modo de actualiza¸c˜ao do sistema, [KH07] e [Kau00]. Por outro lado, outros estudos indicam tamb´em que a sua aplica¸c˜ao ´e tamb´em independente da topologia do sistema, no sentido em que um sistema RNB com topologia Erd¨ os-Renyi ou com topologia ”Scale-Free”, com um n´ umero suficiente de fun¸c˜oes canalizadoras encontrar-se-´a sempre num regime ordenado, ver [KPST04] e [KH07]. 119


Na realidade, para determinar se um sistema se encontra no estado ca´otico, cr´ıtico ou ordenado, define-se o valor m´edio de fun¸c˜oes canalizadoras da rede RBN considerada. Biologicamente verifica-se que, aplicando o valor m´edio de filtros biol´ogicos, Drosophila, milho, ratos, etc., como se se tratasse do valor m´edio das fun¸c˜oes canalizadoras, ´e poss´ıvel verificar que este sistema se encontra no limiar do caos junto ao regime ordenado. Verifica-se ainda que, apesar de a percentagem de fun¸c˜oes canalizadoras decrescer rapidamente com o aumento do valor de K, tal como no gr´afico que de seguida se apresenta,

estudos biol´ ogicos efectuados a genes eucariotas demonstram que a escolha das fun¸c˜oes boleanas aplicadas ao sistema n˜ao ´e de modo algum aleat´oria, existindo um n´ umero elevado de fun¸c˜ oes canalizadoras aplicadas a cada gene do sistema, o que permite que o sistema se mantenha no limiar do caos junto ao regime ordenado. Nas figuras seguintes apresenta-se, para diferentes valores de K, gr´aficos para situa¸c˜oes com diferente n´ umero de fun¸c˜oes canalisadoras.

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Com a apresenta¸c˜ao destes u ´ltimos aspectos onde se estudam varia¸c˜oes para o modelo de Kauffman, quer ao n´ıvel da sua topologia, quer relativamente `a sincronia com que se realiza a actualiza¸c˜ao dos sistemas, quer ainda `a presen¸ca de fun¸c˜oes booleanas especiais, pretendi mostrar de que forma, hoje em dia, se vai desenvolvendo a convic¸c˜ao que este tipo de modelo, de uma forma geral, pode efectivamente ser considerado como algo muito cred´ıvel.

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quarta parte

Estudos biol´ ogicos sobre a origem e evolu¸c˜ao da vida referem a existˆencia de uma correla¸c˜ao entre os seres vivos existentes na Terra, correla¸c˜ao que existe tanto ao n´ıvel proteico, como ao n´ıvel de informa¸c˜ao gen´etica de RNA e DNA, ou de material mitrocondrial, sendo que, de forma gen´erica, todos os organismos podem ser organizados em trˆes reinos celulares, euc´aria, eubact´eria ou archaea. Tamb´em parece evidente que a vida j´a no seu in´ıcio deveria possuir propriedades complexas e que, o t˜ao procurado LUCA, o u ´ltimo ascendente universal comum22 , ter´a propriedades b´asicas similares a um procarionte, n˜ao sendo nem uma protoc´elula, nem um protain´oide, [SMS06]. No entanto, apesar de evidˆencias o´bvias de uma evolu¸c˜ao e uma liga¸c˜ao entre os seres vivos, quando se tenta construir uma ´arvore geneal´ogica diversos gaps s˜ao encontrados/desvelados, uma vez que diferentes ´arvores geneal´ogicas n˜ao coincidem nos seus dados. A maioria das filogenias proteicas contradiz-se entre si, bem como contradizem as filogenias obtidas por estudos de rRNA. Na maioria dos casos, as prote´ınas metab´olicas do reino archea parecem encontrar-se mais relacionadas com as eubact´erias do que com

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Do inglˆes, Last Universal Common Ancestor.


as prote´ınas eucariotas. Mas as prote´ınas associadas a processos de transcri¸c˜ao, tradu¸c˜ao e replica¸c˜ao, bem como rRNA, indicam uma maior semelhan¸ca entre o reino archea e euc´aria que entre o reino eubact´eria e euc´aria, [PF99]. Os estudos mais recentes vˆem de certo modo contradizer estudos mais antigos: apesar de a maioria da comunidade cient´ıfica estar de acordo com um LUCA semelhante a um procarionte, alguns cientistas crˆeem que o LUCA poderia ter inicialmente uma estrutura eucariota, de tal modo que as eubact´erias seriam um produto de uma simplifica¸c˜ao das c´elulas primordiais eucariotas. Estas divergˆencias na constru¸c˜ao de uma ´arvore geneal´ogica comum s˜ao, na actualidade, o motivo pelo qual parte da comunidade cient´ıfica crer que n˜ao existira um LUCA u ´nico, mas sim v´arios LUCAs, ou seja, que a vida deve ter surgido n˜ao de uma entidade unit´aria, mas de uma popula¸c˜ao de indiv´ıduos com complementaridade metab´olica (ou seja compostos pelos mesmos princ´ıpios b´asicos) cujo genoma foi alterado por fen´omenos de transferˆencia horizontal, dando origem aos trˆes tipos de reinos celulares distintos, ver [BDIL07], [BDIL07] e [PP99]. Outra hip´otese seria a existˆencia a priori dos 3 reinos celulares, eukaria, eubact´eria e archea, e que a sua semelhan¸ca actual seja devido a fen´omenos de transferˆencia horizontal e lateral de genes, perca de genes e duplica¸c˜ao paralogouos, ver [BDIL07]. Os sistemas autocatal´ıticos abertos e os modelos RBN de Kauffman est˜ao de acordo com esta u ´ltima ideia de diversas entidades com complementaridade metab´olica, mas acrescenta algo extremamente importante, que ´e a n˜ao necessidade de um mundo RNA anterior. A vida surge dos ´atomos e mol´eculas existentes no Universo e em particular na natureza Terrestre, das reac¸c˜ oes entre aquelas, de forma natural e com caracter´ısticas j´a complexas, de tal modo que, quando um aglomerado molecular e o correspondente grafo de reac¸c˜ oes, atinge determinadas dimens˜oes, devido as reac¸c˜oes internas, se duplica, ver [Kau05] e [Kau93]. Num mundo primordial poderiam ter existido entidades compostas por DNA, compostas por RNA, por prote´ınas, por RNA + prote´ınas, por DNA + prote´ınas + RNA. No entanto, s´ o aquelas que no estado cr´ıtico, isto ´e, entre a ordem e o caos, possu´ıssem a capacidade de evoluir, ter˜ao sobrevivido; todas as restantes entidades ou entrariam

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num estado ca´ otico, perdendo a homeostase necess´aria `a vida, tendendo a desaparecer (esta seria uma poss´ıvel resposta colocada pela Biologia Gen´etica para a n˜ao existˆencia de vida composta por DNA) ou se encontrariam num estado ordenado, n˜ao evoluindo e efectuando sempre as mesmas fun¸c˜ oes (exemplo disso podem ser alguns dos metabolitos celulares, por exemplo, ribossomas) pondendo estas identidades ser absorvidas por diversas entidades no estado cr´ıtico. Devido `a complementaridade metab´olica entre as diversas identidades da vida no estado cr´ıtico, as transferˆencias horizontais e laterais, perca de genes e duplica¸c˜ao paralogous, [BDIL07], entre estes sistemas autocatal´ıticos cr´ıticos seria praticamente inevit´avel, levando a que o sistema no seu conjunto fosse alterado, sendo a homeostase do sistema alterada, de tal modo que o sistemas, devido `a sua criticalidade poderia entrar no sistema ca´otico ou no sistema ordenado fixo, o que significaria a morte do sistema. As altera¸c˜oes existentes na forma primordial, tamb´em alterariam o estado do sistema e mais uma vez s´o aqueles seres que conseguissem ou fazer o seu sistema voltar a bacia de actra¸c˜ao inicial ou a outra cujos ciclos internos se encontrassem num estado cr´ıtico perto da ordem, poderiam manter ou recuperar a sua homeostase, sobrevivendo. Todos estes processos possuem a caracter´ıstica de serem praticamente inevit´aveis, e com o tempo a vida ter-seia complexificado e especificado, dando origem aos trˆes reinos predominantes, eubact´eria, archea, eucariota, n˜ao sendo assim necess´aria uma origem comum para a vida.

cristais de argila fontes de vida, a sua an´alise desde o ponto de vista de Kauffman Graham Cairns-Smith, no seu livro ”Seven Clues to the Origin of Life”, publicado em 1985, fala-nos da possibilidade de os primeiros organismos serem compostos por mol´eculas inorgˆanicas, descrevendo o processo de crescimento de cristais de argila devido `a polimeriza¸c˜ao por desidrata¸c˜ao de mol´eculas de ´acido de sil´ıcio e i˜oes met´alicos hidratados (tal como no caso de forma¸c˜ao de cadeias proteicas e DNA), bem como de processos de autoorganiza¸c˜ao no espa¸co atrav´es da cristaliza¸c˜ao. Estas argilas, ap´os atingirem determinado volume, dividem-se em elementos mais reduzidos que ir˜ao novamente crescer e dividir-se. 124


Vˆe-se ent˜ao que os cristais de argila possuem j´a algumas caracter´ısticas enumeradas como base para a vida.

As argilas possuem propriedades de auto-organiza¸c˜ao, segundo a qual uma estrutura se desenvolve segundo uma direc¸c˜ao principal, formando estruturas de formato de agulha ou de coluna, no caso das argilas (em especial de kaoline) parece crescer segundo um formato de coluna. Ao desenvolver uma direc¸c˜ao de crescimento colunar, o mineral tem tendˆencia a quebrar-se segundo uma direc¸c˜ao perpendicular `a direc¸c˜ao de crescimento, dando origem a pequenas estruturas que mantˆem a informa¸c˜ao da estrutura interna da camada do mineral. Estas pequenas estruturas crescem novamente atrav´es de processos de polimeriza¸c˜ao e cristaliza¸c˜ao e, novamente quando atingem determinada altura, dividem-se.

Deste modo vemos que as argilas em si possuem propriedades inerentes `a vida orgˆanica, nascendo, alimentando-se e crescendo, multiplicando-se, mantendo a informa¸c˜ao estrutural entre os seus descendentes. No entanto, as argilas s˜ao compostas por mol´eculas 125


inorgˆanicas, pelo que, obviamente, pequenos defeitos podem ocorrer durante o processo de crescimento do cristal. Contudo, estas varia¸c˜oes s˜ao normalmente reparadas na camada seguintes, ou, se n˜ao forem reparadas, alteram apenas ligeiramente a estrutura do cristal, mantendo as suas caracter´ısticas globais.

Por outras palavras, estes sistemas n˜ao sofrem de processos evolutivos, a sua complexidade mant´em-se, mesmo quando ocorrem pequenos defeitos no sistema. Do ponto de vista da teoria de Kauffman estes cristais de argila podem pertencer aos sistemas autocatal´ıticos abertos que se encontram no estado ordenado peri´odico, o que faz com que qualquer modifica¸c˜ao feita nestes sistemas n˜ao aumente nem a complexidade de funcionamento do sistema, nem o fa¸ca evoluir. Na realidade, o sistema tem uma tendˆencia natural para voltar ao estado inicial e ordenado com ciclos pequenos.

vida noutros planetas Com esta ideia de autorganiza¸c˜ao molecular e forma¸c˜ao de sistemas abertos autocatal´ıticos, a vida passa a ser algo de inevit´avel, podendo possuir caracter´ısticas diversas e formatos para al´em dos parˆametros descritos pela vida terrestre, podendo mesmo os elementos qu´ımicos da vida ser outros. No entanto, visto que os elementos base para a vida parecem se poder formar para al´em do ambiente terrestre, nomeadamente no meio interestelar, nublosas e meteoritos, ent˜ao porque n˜ao outros planetas? Deste modo ser´a mais f´acil investigar e procurar uma origem da vida em tudo similar `a existente na Terra, 126


porque tamb´em esta ser´a quase inevit´avel. As novas explora¸c˜ oes a planetas e sat´elites do sistema solar, tal como Marte, Tit˜a e Europa est˜ao vocacionadas, entre outras coisas, para investigar a existˆencia de vida e, consequentemente, acrescentar algo na procura de uma origem para a vida. No entanto, ser´a interessante e desej´avel uma nova vis˜ao sobre o que ´e vida, sobretudo pelo que da´ı pode resultar numa procura feita de uma forma mais abrangente, no sentido de buscar estes sistemas autocatal´ıticos abertos. As naves espaciais Viking Lander, recentemente enviadas para Marte, realizaram experiˆencias biol´ ogicas cujos resultados foram positivos, mas a sua interpreta¸c˜ao deu causas inorgˆanicas, provocadas por agentes oxidantes, tal como per´oxido de hidrog´enio. No entanto, esta conclus˜ao pode ser posta em causa, uma vez que tais efeitos podem ter sido causados por conjuntos autocatal´ıticos, o que ´e veros´ımil uma vez que, como sabemos, conjuntos autocatal´ıticos de prote´ınas ou de pol´ımeros proteicos tˆem a capacidade de sobreviver longos per´ıodos de tempo em locais desidratados, sendo resistentes `a radia¸c˜ao ultra-violeta. Desta forma ´e perfeitamente plaus´ıvel que conjuntos autocatal´ıticos de prote´ınas ou de pol´ımeros proteicos tenham tido a capacidade sobreviver num local cuja atmosfera ´e muito d´ebil e transparente e num solo completamente desidratado como o de Marte, [McG01]. Marte, devido `a sua proximidade f´ısica com a Terra e devido `a poss´ıvel existˆencia de ´agua no seu subsolo, ´e, para grande parte da comunidade cient´ıfica, o principal candidato para a procura de vest´ıgios de vida extraterrestre. Em Rio Tinto, perto de Huelva, Espanha, investigam-se certos extrem´ofilos vivendo junto a minas de metais pesados e sulfuretos met´alicos, local que possui um baixo teor em oxig´enio e cuja ´agua possui um car´acter extremamente ´acido de PH, cerca de 2.3. Assim sendo, pensa-se que as condi¸c˜oes neste local podem ser muito semelhantes `as de Marte. Os organismos existentes neste local alimentam-se atrav´es da oxida¸c˜ao de minerais e sulfatos met´alicos para obter energia, possuindo uma actividade totalmente ana´erobica. Pensa-se que a vida em Marte poderia ter um formato semelhante `a existente neste local, podendo ter o car´acter de algas, fungos, protozo´arios e bact´erias.

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Se o planeta Marte for investigado no sentido de encontrar sistemas autocatal´ıticos simples, como outros mais complexos (algas, fungos, protozo´arios e bact´erias), o caminho para a descoberta da origem da vida seria investigado de uma forma mais abrangente. Tit˜a, por seu turno, pensa-se que dever´a possuir uma atmosfera muito parecida `a da Terra primordial. Contudo, os seus mares e lagos pensam-se serem compostos por metano. Devido a essas caracter´ısticas, penso que Tit˜a seria o local perfeito para procurar (e confirmar) a existˆencia e forma¸c˜ao de sistemas abertos autocatal´ıticos, devendo ser, uma vez mais, a busca de vida nesse planeta feita no sentido de encontrar estas entidades complexas, ou seus vest´ıgios. Como existe uma dificuldade intr´ınseca a esta investiga¸c˜ao extraterrestre, John McGowan III prop˜ oe, em [McG01], um aparato cient´ıfico para detectar a presen¸ca de conjuntos autocatal´ıticos proteicos, mas a sua descri¸c˜ao fica um pouco fora do ˆambito deste trabalho.

doen¸cas imunit´arias Considere-se um sistema autocatal´ıtico composto por prote´ınas ou pol´ımeros proteicos. Este sistema ser´a decomposto por hidr´ olise se a sua concentra¸c˜ao for muito baixa, no entanto a partir de uma determinada concentra¸c˜ao limite o sistema autocatal´ıtico manter´a a sua estrutura, se essa concentra¸c˜ao limite duplicar o sistema actuar´a de forma natural agregando mol´eculas vizinhas ao sistema, passando a possuir um tempo de vida muito elevado. Se este tipo de sistemas autocatal´ıticos infectar um organismo, pode existir um per´ıodo de latˆencia variavelmente elevado, antes de serem detectados quaisquer sintomas. Assim sendo, enquanto a concentra¸c˜ao destes sistemas nos organismos for baixa, o organismo facilmente repara os defeitos causados na c´elula hospedeira. No entanto, o conjunto aumentar´a exponencialmente a sua concentra¸c˜ao e, a partir desse momento, o poder regenerativo do corpo ´e superado pela infec¸c˜ao e os sintomas f´ısicos ser˜ao ent˜ao vis´ıveis. Podemos deste modo pensar que os sistemas autocatal´ıticos podem provocar doen¸cas com per´ıodos de latˆencia muito elevados, tal como as doen¸cas v´ıricas, onde o per´ıodo de latˆencia depende essencialmente da concentra¸c˜ao inicial do sistema autocatal´ıtico no 128


organismo. Devido `a facilidade com que este tipo de sistema ´e por quebrado por hidr´olise, ´e dif´ıcil assumir um processo de transmiss˜ao infecto-contagiosa, de modo que seria praticamente imposs´ıvel a transmiss˜ao atrav´es de um contacto casual de saliva, sangue ou outros fluidos corporais, sendo ent˜ao a infec¸c˜ao provocada por uma continuada exposi¸c˜ao a altas concentra¸c˜ oes do sistema autocatal´ıtico, tal como em piscinas ou lagos com altas concentra¸c˜ oes de sistemas autocatal´ıticos. Existem muitas semelhan¸cas entre as propriedades infecto-contagiosas deste tipo de sistemas autocatal´ıticos e os causadores das encephalopatias espongiformes transmiss´ıveis, tais como a doen¸ca de Jackob-Creutzfeltdt, a doen¸ca de Gerstmann-Staussler-Schinker, a Scrapie, a Kuru, a encephalopatia de mink, a encephalopatia espongiforme felina, a encephalopatia Bovina, etc. Estas doen¸cas possuem per´ıodos de latˆencia vari´aveis, sendo este inversamente proporcional `a concentra¸c˜ao do agente infectocontagioso. O agente destas doen¸cas parece ser imune a reagentes que destroem ´acidos nucleicos, tais como a radia¸c˜ao ultra-violeta, i˜ oes de Zinco, Hidroxilamina, e psoralen fotoaductores, no entanto as proteases parecem reduzir a sua efectividade. Na actualidade, sup˜oe-se que as encefalopatias espongiformes s˜ao provocadas por pri˜oes. No entanto, os pri˜oes nem s˜ao uma prote´ına-auto-reproductora, nem um conjunto autocatal´ıtico de mol´eculas. Os pri˜oes, prote´ınas Prp, s˜ao codificados por um gene, tanto nos animais, como nos humanos, estando estes doentes ou saud´aveis. O pri˜ao ´e previsto possuir duas configura¸c˜oes, uma patog´enica e outra n˜ao patog´enica, sendo que a configura¸c˜ao patog´enica converte a n˜ao patog´enica em patog´enica. No entanto, nem todos os investigadores desta ´area est˜ao de acordo com esta proposta, sendo que alguns apoiam a hip´otese da presen¸ca de um sistema autocatal´ıtico. Tal como as doen¸cas de encephalopatia espongiforme, os sistemas autocatal´ıticos proteicos parecem ser uma hip´otese vi´avel para explicar algumas doen¸cas atribu´ıdas ao sistema auto-imune, tal como esclerose m´ ultipla, o l´ upus sist´emico, a artrite reumat´oide e a doen¸ca de Gave. Um sistema autocatal´ıtico pode causar anomalias imunes que poderiam ser detectadas como anomalias auto-imunes, uma vez que n˜ao se conhece nenhum

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v´ırus ou bact´eria associado aquelas doen¸cas. Fazendo uma an´alise com electroforese seria provavelmente poss´ıvel detectar uma banda an´omala proteica ou proteico-semelhante, no entanto esta investiga¸c˜ao nunca foi efectuada devido ao distanciamento da rela¸c˜ao daquelas doen¸cas a organismos infectocontagiosos conhecidos (v´ırus e bact´erias). Contudo, reconhece-se que esta investiga¸c˜ao pode dar resultados camuflados pelo facto de o sistema autocatal´ıtico poder possuir prote´ınas semelhantes `as existentes nas c´elulas vivas, [McG01].

conclus˜oes Na actualidade acredita-se que o s´eculo vinte foi o grande s´eculo da Biologia. No entanto, podemos dizer que foi o s´eculo dezanove que mais influenciou o pensamento biol´ogico, pois foi nesse s´eculo que se definiram conceptualmente os problemas que a Biologia do s´eculo vinte veio posteriormente a desenvolver, tendo sido cientistas como Louis Pasteur, Charles Darwin e Gregor Mendel aqueles que estruturaram a linha de pensamento biol´ogico do s´eculo vinte. De facto, foi com a contribui¸c˜ao desses grandes cientistas que os grandes problemas da Biologia passariam a ser englobados essencialmente em duas ´areas, o estudo da estrutura dos genes e c´elulas, sendo a investiga¸c˜ao feita essencialmente buscando partes do conjunto, e por outro lado os problemas hol´ısticos da origem e evolu¸c˜ao da vida, continuando esta investiga¸c˜ao sendo feita por partes, [LS00]. A partir do s´eculo dezanove, a Biologia passaria a encontrar-se englobada no mundo reducionista da F´ısica Cl´assica. Deste modo, os conjuntos vivos deixaram a sua forma para se tornarem em meros ´atomos, com as suas interac¸c˜oes e for¸cas actuando `a distˆancia. O mundo vivo, com toda a sua complexidade e beleza, desapareceria, tornando-se meramente secund´ario. No entanto, uma coisa ´e certa, o mundo vivo traz inerente a si essa complexidade e os sistemas com propriedades complexas n˜ao podem ser analisados de um ponto de vista reducionista, pois nos sistemas complexos o todo ´e sempre superior `a soma das partes. Obviamente que um conhecimento reducionista do mundo vivo ´e extremamente u ´til, uma vez que acede a uma informa¸c˜ao detalhada dos componentes do sistema e das rela¸c˜ oes particulares entre esses componentes. No entanto, parece not´orio 130


que quando as vari´aveis do sistema s˜ao demasiado elevadas, a vis˜ao reducionista torna-se pequena, pois existe uma necessidade de uma vis˜ao completa do sistema, tornando-se assim evidente a necessidade de utilizar modelos que os vejam como sistemas complexos.. Devido `aquela evolu¸c˜ao de pensamento cient´ıfico, o problema da origem e evolu¸c˜ao da vida foi dividido em duas formas de an´alise: uma vis˜ao qu´ımica, feita do simples para o complexo, e uma vis˜ao biol´ogica, que vai do complexo para o mais simples. Estas vis˜ oes sobre a origem e evolu¸c˜ao da vida trouxeram consigo algumas descobertas e com ela desenvolveram-se novas ´areas da ciˆencia biol´ogica e bioqu´ımica. A vis˜ao qu´ımica da origem da vida, com contribui¸c˜oes not´aveis da astroqu´ımica e da geoqu´ımica, aproximou as estrelas das condi¸c˜oes existentes na Terra primordial. O estudo de como pequenas mol´eculas se poderiam formar e o modo com se poderiam polimerizar em mol´eculas maiores, trouxe um conjunto de novas informa¸c˜oes sobre esta tem´atica, de tal modo que em muito foram desenvolvidos os seguintes t´opicos: • as condi¸c˜ oes existentes durante a forma¸c˜ao do sistema planet´ario; • as mol´eculas orgˆanicas existentes em astr´oides e nublosas; • a origem de pequenas mol´eculas na terra primordial; • a poss´ıvel forma¸c˜ao de membranas; • a polimeriza¸c˜ao de nucli´ otidos e amino´acidos; • o mundo pre-RNA.

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A Biologia, juntamente com a Paleontologia, com a sua aproxima¸c˜ao do complexo para o particular e com base no Principio da Continuidade de Darwin, ocupou-se de quest˜oes como que sistemas simples se poderiam ter desenvolvido, dando origem aos organismos conhecidos, e qual o caminho evolutivo que este organismo sofreu, desenvolvendo ´areas como: • os primeiros f´ osseis; • o LUCA; • a transforma¸c˜ao de um mundo RNA num mundo DNA; • a defini¸c˜ao de um mundo ribonucleoproteico; • a defini¸c˜ao de um mundo RNA; • a liga¸c˜ao entre um mundo RNA e os v´ırus actuais. No entanto, ´e bem evidente que existe um gap entre o estudo qu´ımico e o estudo biol´ogico da vida, bem como um gap entre os estudos destas duas ´areas e a vida tal como ´e, complexa. Na actualidade, apesar do ainda existente gap entre a vis˜ao qu´ımica e biol´ogica, uma grande parte dos cientistas acredita que em dez ou vinte anos o problema da origem e evolu¸c˜ao da vida ser´a resolvido, o que ´e mais optimista que h´a quarenta ou cinquenta anos atr´as, quando se cunhou o problema como imposs´ıvel de ser resolvido, mesmo pela mais poderosa ciˆencia. O maior gap entre estas vis˜ oes cientificas ´e essencialmente a quando da passagem das mol´eculas para a c´elula viva, quest˜oes que envolvem a pr´opria estrutura celular, mol´eculas que se organizam complexamente estando compartimentada, que possuem um gradiente de energias com o exterior e que se reproduzem. E, acima de tudo, entender que a organiza¸c˜ao para a vida ´e uma propriedade natural da mat´eria, sen˜ao simplesmente n˜ao existiria. O que por outras palavras implica que a vida fa¸ca parte das estruturas auto-organizadas, tal como os cristais. ´ neste sentido que Kauffman e todos os seus colaboradores e seguidores, com alE gum destaque para Mike Steel, podem ajudar o conhecimento cient´ıfico sobre a origem 132


e evolu¸c˜ao da vida. Para estes cientistas como a vida possui uma das caracter´ısticas base da mat´eria, sendo inevit´avel, ´e necess´ario avali´a-la de uma ponto de vista da sua complexidade global, ou seja analisar o seu funcionamento j´a como sistema aberto autocatal´ıtico. Assim sendo, a nova an´alise destes sistemas tem que ser feita atrav´es do estudo de sistemas complexos, utilizando representa¸c˜oes geom´etricas como os grafos apresentados anteriormente, cujo funcionamento interno global se rege por regras b´asicas/simples que podem ser aproximadas a fun¸c˜oes boleanas. Outra importante constata¸c˜ao da vis˜ao de Kauffman ´e que a evolu¸c˜ao passa a ser parte integrante dos sistemas que se encontram no estado critico, n˜ao necessitando de ser cont´ınua, uma vez que pequenas altera¸c˜oes podem levar o sistema a habitar bacias de atrac¸c˜ao totalmente distintas da inicial, fazendo com que o sistema assuma caracter´ısticas tamb´em elas muito diferentes das iniciais. Desse ponto de vista os saltos entre esp´ecies s˜ao normais, sendo para estes estados cr´ıticos quase inevit´aveis, especialmente se o grau de ordem for mais baixo, ou seja, se o sistema cr´ıtico se encontra mais pr´oximo do caos, tal como as bact´erias. De facto, tal descri¸c˜ao explicaria inclusivamente a capacidade hiper-adaptativa que se observa em determinadas bact´erias, [DKS05]. Em suma, a teoria de Kauffman, para al´em de tornar a vida propriedade inerente `a mat´eria sendo uma consequˆencia das leis de organiza¸c˜ao, colmata alguns dos gaps existentes entre a Qu´ımica e a Biologia, pois avalia o sistema como um todo complexo, n˜ao necessitando do reducionismo, nem do pormenor. Utilizando as ideias de Kauffman os seres vivos s˜ao vistos e estudados sob um ponto de vista estrutural e de funcionamento sist´emico.

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sexta parte

Para terminar, nesta sexta e u ´ltima parte vou apresentar numa s´erie de anexos algum material que, por raz˜ oes de fluidez na leitura dos conte´ udos mais importantes, ou mesmo por serem considerados uma mostra da programa¸c˜ao computacional envolvida em alguns dos c´alculos efectuados, e por isso de menor relevˆancia, n˜ao fizeram parte do corpo principal deste trabalho.

anexo A Aqui vou apresentar os resultados obtidos nas diferentes simula¸c˜oes computacionais.


os atractores de redes RBN NK , com N = 36 e K = 3, em topologia aleat´oria, e parˆametro de Derrida p = 7/8, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 1 1 1

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exemplo 3 1 1 2

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exemplo 4 1 1 1

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exemplo 5 1 1 1

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exemplo 6 1 1 1

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exemplo 8 1 1 1

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os atractores de redes RBN NK , com N = 36 e K = 3, em topologia aleat´oria, e parˆametro de Derrida p = 6/8, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 1 2 1

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1 1 1

1 2 2

1 2 2

1 2 1

1 2 1

2 2 1

1 1 2

2 1 2

1 1 4

1 1 2

4 4 4

2 4 1

1 1 1

1 4 2

1 4 4

4 2 1

1 4 1

4 4 1

1 1 2

4 1 4

4 4 4

4 1 1

4 4 4

2 2 1

4 1 4

1 4 4

2 1 4

1 1 1

4 1 4

4 4 4

1 1 2

4 1 4

6 6 6

6 6 2

6 3 6

2 6 1

1 1 6

6 6 3

6 1 3

2 2 1

3 1 6

6 6 6

1 1 2

6 1 6

exemplo 7 1 1 3

1 1 1

1 1 1

1 3 1

1 1 1

3 1 3

3 1 3

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 3 3

1 1 3

1 3 1

3 3 1

1 3 3

3 3 1

1 1 3

3 3 1

3 3 3

3 1 3

1 1 3

1 1 3

1 3 3

1 1 3

1 3 1

3 3 1

3 3 3

3 3 3

1 1 3

3 3 1

3 3 3

3 1 3

1 1 3 151


1 1 6

1 3 3

1 1 3

1 6 1

3 3 1

6 3 6

6 3 6

1 1 3

1 3 1

3 3 3

3 1 3

1 1 3

1 1 6

1 6 3

1 1 3

1 3 1

3 6 1

6 3 6

6 3 6

1 1 3

6 3 1

3 3 6

3 1 3

1 1 3

1 1 5

5 5 5

5 5 1

1 5 5

1 1 1

5 5 5

5 5 5

1 1 1

1 1 1

5 1 5

1 1 1

5 1 1

20 20 20

1 1 1

1 1 1

20 1 20

1 1 1

4 8 4

1 1 8

8 1 8

1 1 20

1 1 8

5 20 5

8 4 4

5 5 1

8 8 1

1 20 5

1 8 8

1 4 1

1 20 1

8 8 8

20 5 20

8 4 8

1 8 8

1 1 1

5 1 1

1 1 11

11 11 11

11 11 1

1 11 11

1 11 1

11 11 11

11 11 11

1 11 11

1 1 1

11 11 11

1 1 11

11 1 11

11 1 11

11 11 11

11 11 1

1 11 11

1 11 1

11 11 11

11 11 11

11 11 11

1 1 1

11 11 11

1 11 11

11 1 11

exemplo 8 1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

152


1 2 2

1 1 1

1 1 2

2 1 1

1 1 1

1 2 1

1 2 2

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 2

1 1 2

1 3 3

1 1 1

1 3 3

3 1 1

1 1 1

1 3 1

1 3 3

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 3

1 1 3

1 6 6

1 1 1

1 1 6

6 1 1

1 1 1

1 6 1

1 6 6

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 6

1 1 6

1 6 6

1 1 1

1 3 6

6 1 1

1 1 1

1 6 1

1 6 6

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 6

1 1 6

1 1 2

2 1 1

2 2 1

2 1 1

1 2 2

2 1 2

2 2 1

1 1 1

2 1 1

1 1 2

1 1 1

2 2 2

1 3 3

3 1 1

1 6 3

3 1 1

1 3 6

6 3 6

6 6 3

6 1 6

6 3 1

1 1 6

1 1 6

6 3 3

1 6 6

12 1 1

1 12 6

12 1 1

1 12 12

12 6 12

12 12 6

6 1 12

12 12 1

1 1 12

153

1 1 12

12 12 6


exemplo 9 4 4 1

1 2 4

8 4 4

4 4 1

4 4 2

8 4 4

4 4 2

4 4 4

4 8 4

1 8 4

4 4 4

4 4 4

8 8 1

1 8 8

8 4 8

4 4 8

4 1 8

8 8 8

4 4 4

4 8 8

4 8 4

1 8 8

8 8 8

4 8 8

15 15 1

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 1 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 1 15

1 15 15

15 15 15

15 1 15

exemplo 10 1 1 1

4 1 1

1 4 1

1 1 1

14 1 1

1 4 1

1 14 1

4 1 1

1 14 1

1 4 4

14 1 1

4 4 4

2 1 2

1 14 14

4 1 1

1 1 4

4 1 1

14 14 14

2 1 2

14 1 1

1 1 4

1 1 14

14 1 1

1 1 14

17 17 17

17 17 1

17 17 17

17 17 17

17 17 1

17 17 17

17 17 17

17 17 17

17 17 1

17 17 17

17 17 17

1 17 17

19 19 19

19 1 1

19 19 19

19 19 19

19 1 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 1

19 19 19

19 19 19

1 19 19

154


os atractores de redes RBN NK , com N = 36 e K = 3, em topologia aleat´oria, e parˆametro de Derrida p = 5/8, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 24 2 24

24 1 24

24 24 24

24 24 24

6 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

10 2 10

10 20 1

10 10 1

exemplo 2 1 2 2

1 2 2

1 10 10

2 1 2

1 10 10

1 2 2

10 1 10

1 1 2

10 10 10

2 2 2

2 2 4

10 1 10

2 1 1

10 1 10

2 2 1

1 2 1

1 1 1

1 1 2

1 1 2

2 2 1

1 2 1

6 1 1

1 6 6

6 1 6

1 1 6

1 1 6

6 6 6

6 1 12

2 1 2

2 2 2

10 10 20

2 1 1

6 1 1

1 1 2

2 4 1

10 1 1

1 2 2

6 1 6

2 1 1

10 1 10

1 1 1

1 2 6

1 1 1

1 12 1

6 6 1

16 16 16

16 16 16

16 2 16

16 16 16

16 16 16

16 16 16

16 16 16

16 16 16

16 16 16

16 16 16

16 16 16

16 16 2

26 26 26

1 26 26

26 1 26

26 26 26

26 1 26

26 26 26

26 26 52

26 1 1

26 1 26

26 26 26

26 52 1

26 26 1

155


51 51 51

1 51 51

138 138 138

51 1 51

138 138 138

51 51 51

138 2 138

51 1 51

51 51 51

138 138 138

138 138 138

51 51 1

51 1 51

138 138 138

51 1 51

138 138 138

1 51 51

138 138 138

51 1 1

138 138 138

51 51 1

138 138 138

exemplo 3 1 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

1 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

1 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

47 47 47

exemplo 4 1 1 1

1 1 1

1 1 2

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

2 4 4

4 4 4

4 4 4

1 4 1

4 2 4

4 2 4

4 4 4

1 2 4

4 4 4

4 1 4

1 4 1

1 4 1

156

138 138 138

138 138 2


11 11 11

11 11 11

11 11 11

1 11 1

11 11 11

11 11 11

11 11 11

11 11 11

11 11 11

11 11 11

11 11 1

11 11 1

13 13 13

13 13 13

13 13 13

1 13 1

13 13 13

13 13 13

13 13 13

1 13 13

13 13 13

13 1 13

1 13 1

1 13 1

41 41 41

41 41 41

41 41 41

1 41 1

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 1

41 41 1

exemplo 5 372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

372 372 372

1 107 1

1 107 1

1 107 107

107 107 107

1 107 1

exemplo 6 1 4 4

4 4 4

1 4 4

4 1 4

1 1 1

1 1 1

1 4 4

1 4 1

1 4 1

1 1 2

4 4 4

1 4 1

1 4 4

4 4 4

1 4 4

4 1 4

1 1 1

2 1 1

1 4 4

1 4 1

1 4 1

1 1 4

4 4 4

1 4 1

1 107 107

107 107 107

107 107 107

107 1 107

1 107 1

107 1 107

107 107 107

157


exemplo 7 3 3 1

3 1 1

3 1 1

3 3 1

3 3 1

1 1 3

3 1 1

3 3 3

3 3 1

1 1 3

3 1 1

3 1 1

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 14

7 7 7

14 7 7

exemplo 8 7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 14 14

7 14 14

7 7 7

14 7 7

7 14 7

14 7 14

7 7 7

12 12 12

12 12 12

12 12 12

12 12 12

1 12 12

12 12 12

12 12 12

12 12 12

12 12 12

12 12 12

12 3 12

12 12 12

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

33 33 33

33 1 33

33 33 33

33 33 33

1 33 33

33 33 33

33 33 33

33 33 33

33 33 33

33 33 33

33 33 33

33 33 33

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

46 46 46

158


exemplo 9 1 1 2

1 1 4

1 1 1

1 2 1

2 2 1

2 1 2

1 1 1

1 4 4

2 1 1

2 1 1

4 2 4

2 1 1

1 1 2

1 1 6

1 1 1

1 6 1

2 2 1

2 1 2

1 1 1

1 6 6

2 1 1

2 1 1

6 6 6

2 1 1

45 45 45

45 45 45

45 45 45

45 45 45

45 45 45

45 45 45

1 45 45

45 45 45

45 45 45

45 45 45

45 45 45

45 45 45

62 62 62

62 62 62

62 62 62

62 62 62

62 62 62

62 62 62

1 62 62

62 62 62

62 62 62

62 62 62

62 62 62

62 62 62

165 165 165

165 165 165

165 165 165

165 165 165

165 165 165

165 165 165

1 165 165

165 165 165

165 165 165

165 165 165

exemplo 10 1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

3 1 3

1 3 3

3 3 3

1 3 3

1 3 3

3 1 1

1 1 1

3 3 1

1 3 3

1 3 1

3 1 3

1 1 3

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 32 32

32 1 32

32 32 32

32 32 1

1 32 16 159

32 32 32

32 1 32

32 1 32

165 165 165

165 165 165


os atractores de redes RBN NK , com N = 36 e K = 3, em topologia aleat´oria, e parˆametro de Derrida p = 4/8, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜oes booleanas exemplo 1 9 9 9

9 9 9

9 9 9

9 9 9

9 9 9

9 9 9

9 9 9

9 9 9

9 9 9

10 10 5

9 9 9

10 10 10

9 9 9

9 9 9

10 1 5

10 10 5

10 10 1

5 10 1

5 1 10

1 1 1

1 10 10

10 1 1

1 5 10

10 1 1

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

14 14 14

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

15 15 15

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

42 42 42

23 23 23

23 23 1

23 23 1

exemplo 2 5 5 5

23 23 23

5 5 5

1 5 5

23 23 23

5 5 5

23 23 23

5 5 5

23 23 23

1 5 1

1 23 23

5 5 1

5 5 5

1 23 23

5 5 5

1 23 23

1 5 5

23 23 23

5 5 5

5 5 5

23 23 23 160


37 37 37

37 37 37

37 37 37

37 37 37

37 37 37

1 37 37

37 37 37

37 37 37

37 37 37

37 37 37

37 37 37

37 37 37

exemplo 3 1 1 7

7 7 7

7 7 7

7 7 7

1 7 1

7 7 7

7 7 7

1 1 1

7 7 7

7 7 7

7 7 7

7 1 7

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

1 19 19

1 19 19

19 19 19

19 19 19

19 19 19

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

1 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

41 41 41

96 96 96

96 96 96

96 96 96

96 96 96

96 96 96

96 96 96

96 96 96

1 96 96

96 96 96

96 96 96

96 96 96

96 96 96

exemplo 4 1 1 1

1 2 2

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 2

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

161


exemplo 5 1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 4 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 12 1

1 1 1

1 1 1

1 12 1

1 1 1

2 1 1

1 1 1

1 1 1

1 12 1

1 1 1

1 2 1

1 12 1

1 1 1

11 11 11

11 11 11

1 1 1

1 1 1

1 4 1

1 1 1

1 1 1

1 1 4

2 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 12

2 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 12

2 1 1

1 1 1

1 1 11

11 11 1

11 11 11

11 11 11

11 11 11

11 11 11

11 1 11

11 11 11

11 11 11

11 1 11

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 2

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

24 24 24

exemplo 6 24 24 24

24 24 24

24 24 24

51 51 51

51 51 51

51 51 102

51 51 51

51 51 51

51 51 51

51 51 2

51 51 51

51 51 51

51 51 51

51 51 51

51 51 51

73 73 73

73 73 73

73 73 146

73 73 73

73 73 73

73 73 73

73 73 2

73 73 73

73 73 73

73 73 73

73 73 73

73 73 73

88 88 88

88 88 88

88 88 88

88 88 88

88 88 88

88 88 88

88 88 2

88 88 88

88 88 88 162

88 88 88

88 88 88

88 88 88


214 214 214

214 214 214

214 214 214

214 214 214

214 214 214

214 214 214

214 214 2

214 214 214

214 214 214

214 214 214

214 214 214

214 214 214

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 2

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

138 138 138

138 138 138

exemplo 7 1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 1 1

1 7 7

7 7 1

7 7 7

7 7 7

7 1 7

7 7 7

7 7 1

7 7 7

7 7 1

7 7 7

7 7 7

7 7 7

18 18 18

18 18 18

18 18 18

18 18 18

18 18 18

18 18 18

18 18 18

18 18 18

18 18 1

18 18 18

18 18 18

18 18 18

36 36 36

36 36 36

36 36 36

36 36 36

36 36 36

36 36 36

36 36 36

36 36 36

36 36 1

36 36 36

36 36 36

36 36 36

exemplo 8 138 138 138

138 138 138

138 138 138

138 138 138

138 138 138

138 138 138

138 138 138

138 138 138

163

138 138 138

138 138 138


exemplo 9 234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

234 234 234

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

315 315 315

exemplo 10 77 77 77

77 77 77

77 77 77

77 77 77

77 77 77

77 77 77

77 77 77

77 77 77

77 77 77

164

77 77 77

77 77 77

77 77 77


os atractores de redes RBN NK , com N = 25 e K = 4, em topologia quadrado, e parˆametro de Derrida p = 15/16, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 1 1

1 1 2 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 4 4 1 1

4 4 1 1 1

4 2 1 1 4

4 4 1 1 1

1 4 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 2 1

exemplo 2 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 4 4 1 1

exemplo 3 1 1 1 1 1

1 1 1 4 1

1 1 1 4 1

exemplo 4 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

165

4 1 1 1 1

4 2 1 1 4

4 4 1 1 1

1 4 1 1 1

4 4 4 1 1

4 4 1 1 1

4 1 1 1 4

4 4 1 1 1

1 4 1 1 1


exemplo 5 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 1 1 1

1 2 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

3 1 1 1 3

3 1 1 1 3

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 6

6 1 1 1 6

6 1 1 1 6

exemplo 6 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

exemplo 7 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

exemplo 8 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 3

166


exemplo 9 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 2 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 1 1

2 1 1 1 1

exemplo 10 1 1 1 1 1

1 1 1 4 1

1 1 1 4 1

167

2 2 1 1 1

1 1 1 1 1

2 1 1 1 1

2 2 2 1 1

2 2 2 1 1

2 2 1 1 1

1 1 1 1 1

2 1 1 1 1

2 2 1 1 1


os atractores de redes RBN NK , com N = 25 e K = 4, em topologia quadrado, e parˆametro de Derrida p = 14/16, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 4 4 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 1 1 1 1

4 4 4 1 1

1 1 1 4 1

1 1 1 4 4

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 1 1 1

1 2 1 1 1

1 2 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

exemplo 2 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

exemplo 3 4 1 1 1 1

4 4 1 1 1

1 1 1 1 1

4 1 1 1 1

exemplo 4 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

168

4 4 4 2 1

1 1 1 4 2

1 1 1 4 4

1 1 1 1 1


exemplo 5 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 1 1 1 4

1 1 1 4 4

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 1 1 1 4

1 4 4 4 4

1 4 4 1 1

exemplo 6 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 2 1

1 1 1 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 4 1

1 1 1 4 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 4 1

1 1 1 4 1

1 1 1 1 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 4 1

1 1 2 4 1

1 2 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 4 1

1 1 2 4 1

1 2 2 2 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

2 2 1 4 2

1 1 1 4 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

2 2 1 4 2

1 1 1 4 1

1 1 1 1 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

2 2 1 4 2

1 1 2 4 1

1 2 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

2 2 1 4 2

1 1 2 4 1

1 2 2 2 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

4 2 1 4 4

1 4 2 1 2

1 4 2 2 2

1 1 1 1 2

1 1 1 1 1

4 4 1 4 4

1 1 1 1 2

1 1 1 1 2

1 1 1 1 2

1 1 1 1 1

4 4 1 4 4

1 1 1 4 2

1 1 1 1 2

1 1 1 1 2

1 1 1 1 1

4 4 1 4 4

1 1 1 1 2

1 1 1 1 2

1 1 2 2 2

1 1 1 1 1

4 4 1 4 4

1 1 1 4 2

1 1 1 1 2

1 1 2 2 2

1 1 1 1 1

169


exemplo 7 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 2

1 1 1 1 2

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 1 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 2

1 1 1 1 2

1 1 2 1 1

1 1 2 2 1

exemplo 8 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

exemplo 9 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 4

1 1 1 1 4

1 1 1 1 2

1 1 1 1 2

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 2

1 1 2 1 1

1 2 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 4

1 1 1 1 4

1 1 2 1 1

1 2 2 2 1

1 2 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 4

2 2 1 1 4

1 2 2 1 1

1 2 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 4

2 2 1 1 4

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

2 2 1 1 1

2 2 1 1 4

1 1 1 1 4

1 1 1 1 2

1 1 1 1 2

2 2 1 1 1

2 2 1 1 1

1 1 1 1 2

1 1 2 1 1

1 2 2 2 1

2 1 1 1 1

2 2 1 1 4

1 1 1 1 4

1 1 2 1 1

1 2 2 2 1

2 2 1 1 1

2 2 1 1 4

1 1 1 1 4

1 2 1 1 1

1 1 1 1 1

2 2 1 1 1

2 2 1 1 1

2 2 1 1 2

170


exemplo 10 1 1 1 4 4

1 4 4 1 1

1 1 1 1 1

1 1 4 4 1

1 1 1 1 1

os atractores de redes RBN NK , com N = 25 e K = 4, em topologia quadrado, e parˆametro de Derrida p = 13/16, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 1 4 4 1 1

1 4 1 1 1

1 4 1 1 1

4 4 4 1 1

4 4 4 4 4

1 1 4 1 1

1 1 4 1 1

exemplo 2 4 1 1 4 1

4 4 1 4 1

1 4 1 1 1

8 8 1 8 8

8 4 1 8 8

1 4 1 1 1

1 1 4 1 1

1 8 4 1 1

171


exemplo 3 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 1 1 1

2 2 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 1 1 1

1 2 2 2 1

1 4 4 4 1

4 4 1 4 4

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 4 4 4 4

4 4 1 4 4

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 8 8 4 4

4 8 1 4 4

1 1 2 1 1

1 1 2 1 1

1 1 8 8 1

1 4 4 4 1

4 1 1 4 4

2 2 1 1 4

2 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 4 4 4 1

4 4 1 4 4

2 2 1 1 4

2 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 4 4 4 4

4 4 1 4 4

2 2 1 1 4

2 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 4 4 4 4

4 4 1 4 4

2 2 2 1 4

2 1 2 1 1

1 1 2 2 1

4 4 4 4 4

1 1 1 4 4

1 1 1 1 4

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 4 4 1 4

1 1 1 1 4

1 1 1 1 4

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 6 6 1 4

12 6 2 2 4

1 1 2 1 1

3 3 3 3 1

3 3 3 1 1

3 3 3 1 3

1 1 3 1 1

3 1 3 3 3

4 16 16 16 16

4 16 16 1 1

16 16 16 1 4

12 12 12 1 12

4 1 2 2 4

2 2 2 1 4

2 12 2 1 1

1 1 2 1 1

1 1 6 6 1

12 12 12 12 1

exemplo 4 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 8 8 8 8

172

4 8 8 1 1

4 4 4 1 4

1 1 1 1 1

4 4 1 8 4

16 1 16 1 16

16 16 16 16 16


exemplo 5 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 4 1 1 1

1 4 2 1 1

4 4 2 2 1

2 4 1 2 2

1 4 1 2 1

1 1 1 1 1

1 6 1 1 1

6 6 1 1 1

1 6 1 1 1

1 6 1 1 1

1 6 1 1 1

1 6 2 1 1

6 6 2 1 1

1 6 1 1 1

1 6 1 1 1

3 1 3 3 6

2 2 1 2 6

1 2 2 2 2

1 2 1 1 2

6 1 1 1 2

6 1 6 6 6

1 1 1 1 6

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

6 1 1 1 1

6 1 6 6 6

1 1 2 2 6

1 1 1 2 1

1 1 1 1 1

6 1 1 1 1

6 6 6 6 6

1 6 1 2 6

6 6 2 2 1

1 6 1 1 1

6 6 1 1 1

6 6 6 6 6

6 6 1 2 6

6 6 2 2 1

1 6 1 1 1

6 6 1 1 1

3 1 1 1 3

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 4 1 1 1

4 4 1 1 4

4 4 1 1 4

1 1 1 1 1

exemplo 6 1 1 1 1 1

1 3 1 1 1

3 3 1 1 3

1 1 1 1 1

173

1 6 1 1 1

6 6 1 1 6

6 1 1 1 6

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 12 1 1 1

12 12 1 1 12

12 4 2 1 12

1 1 2 1 1


exemplo 7 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 2 1

1 1 1 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 2 1

1 1 2 1 1

1 1 2 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

2 2 1 1 1

1 2 2 1 1

1 1 2 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 4 1 2 4

1 1 1 2 4

1 1 8 8 4

4 1 1 8 4

4 4 4 2 4

4 4 1 1 1

1 2 1 1 1

2 2 2 1 1

1 4 1 1 1

4 4 1 1 1

4 4 1 2 1

1 2 1 2 1

2 2 2 1 1

1 4 1 1 1

4 4 1 1 1

4 4 1 1 1

1 2 4 1 1

2 2 4 1 1

1 4 1 1 1

4 4 1 1 1

4 4 1 2 1

1 2 4 2 1

2 2 4 1 1

1 4 1 1 1

4 4 1 1 1

11 11 1 1 11

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

6 1 6 6 6

1 1 1 1 11

1 1 11 11 11

11 1 11 11 11

11 11 11 11 11

exemplo 8 1 1 1 1 1

4 1 1 1 1

4 1 1 1 1

6 6 6 6 6

6 1 6 1 6

6 1 1 1 6

6 1 1 6 1

174


exemplo 9 1 1 2 1 1

2 4 4 4 1

1 1 1 1 1 1

25 25 25 25 1 1

2 1 4 2 4

4 2 2 2 4

25 25 25 25 25 1

1 2 2 2 4

25 25 25 25 25 1

1 1 2 1 1

4 4 4 4 1

4 1 1 1 4

2 2 2 1 1

1 2 2 2 2

1 1 2 1 1

4 1 4 4 1

4 4 4 2 4

4 4 4 2 4

1 2 2 1 4

1 1 1 1 1

1 8 4 8 8

8 8 8 8 8

2 8 8 8 8

1 1 4 2 8

1 1 4 2 8

1 1 1 8 8

8 1 8 8 8

8 8 8 8 8

8 8 8 8 1

8 1 8 8 8

10 10 1 10 10

10 10 10 10 1

10 10 10 10 10

10 10 10 10 10

1 1 1 10 10

1 1 1 25 25 1

exemplo 10 1 1 1 1 1

25 25 1 25 25

1 1 1 1 1

25 25 25 25 25

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

25 25 25 25 25

1 1 1 1 1

25 25 25 25 25

25 1 25 25 25

175

10 10 10 10 10

10 10 10 10 10

10 10 10 10 10

10 10 10 10 10


os atractores de redes RBN NK , com N = 25 e K = 4, em topologia quadrado, e parˆametro de Derrida p = 12/16, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 1 3 3 3 3

1 1 1 3 3

1 12 12 12 6

1 1 1 1 3

1 1 1 6 6

1 3 3 3 3

1 1 1 1 6

1 3 3 3 3

12 12 12 6 6

1 6 6 6 6

6 12 6 1 1

1 1 1 6 6

1 1 1 1 6

1 14 14 14 7

1 1 1 7 7

6 6 6 6 6

6 6 6 1 1

1 1 1 14 7

1 11 11 11 11

14 14 14 14 14

14 14 14 7 1

exemplo 2 1 1 1 3 1

1 1 1 3 3

3 3 3 3 3

3 3 3 3 1

1 1 1 1 1

17 17 17 17 17

1 3 3 1 1

1 3 3 3 3

3 3 3 3 3

17 17 17 17 17

17 17 17 17 17

17 17 17 17 1

1 1 17 17 17

exemplo 3 1 1 3 3 3

1 1 1 3 1

1 1 1 1 1

1 1 1 3 1

3 1 1 1 1

3 3 3 1 3

3 3 3 1 3

176

1 11 11 11 11

1 1 11 11 11

11 11 11 11 11

11 11 11 11 11


exemplo 4 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 2 1

1 1 1 2 1

1 1 1 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

2 4 1 4 4

2 4 1 2 4

1 1 1 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 4 1 1 1

1 4 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 4 1 1 1

2 4 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 1 2

2 2 2 1 2

2 4 1 4 4

2 4 1 2 4

1 1 1 2 1

1 1 2 1 2

2 2 2 4 2

2 4 4 4 4

2 4 1 1 4

1 1 2 1 1

2 1 1 1 2

1 1 1 1 4

2 4 1 8 4

4 4 8 8 1

1 1 1 8 8

4 1 1 1 2

4 1 1 1 2

1 1 1 2 1

1 1 1 2 1

1 1 1 2 1

4 1 1 1 2

4 1 1 1 2

2 4 1 4 4

2 4 1 2 4

4 1 1 2 1

4 1 1 1 2

4 1 1 1 2

2 4 1 4 4

2 4 1 2 4

4 4 1 2 1

7 7 7 7 7

7 7 7 7 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 7

7 7 7 7 7

exemplo 5 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 4 1

1 1 4 4 4

2 1 1 2 2

1 1 1 1 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 4 4 4

2 1 1 2 2

1 1 1 1 1

1 1 2 2 1

1 1 1 4 1

1 1 4 4 4

2 1 1 2 2

1 1 1 1 1

2 2 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 1 1 1

2 2 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 1 1 1

2 2 2 2 1

1 1 1 1 1

1 1 4 4 4

2 1 1 2 2

1 2 1 1 1

177


exemplo 6 1 1 1 1 1

1 1 1 3 3

3 3 1 3 3

3 1 1 3 3

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 6 6

6 6 1 6 6

6 1 1 6 6

1 1 1 1 1

1 4 2 2 2

1 1 1 1 2

1 1 1 1 1

1 1 1 1 2

exemplo 7 1 1 1 4 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 4 1

1 4 1 1 2

1 5 1 5 5

1 5 1 1 1

1 1 1 1 1

5 5 5 5 5

5 5 5 5 5

4 12 12 12 12

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 6 6 1 1

1 12 1 1 1

1 1 1 1 1

12 12 12 4 12

1 4 4 4 1

1 4 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 4 4 4 1

12 12 12 6 12

exemplo 8 1 3 3 1 1

1 1 3 1 1

1 3 3 1 1

1 1 6 1 1

1 6 6 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

18 18 18 1 18

178

18 18 18 1 18

18 18 18 1 18

18 18 1 1 1

18 18 1 1 1

1 4 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 2 4 1


exemplo 9 1 1 1 1 1

1 6 6 6 1

76 76 76 76 76

6 6 6 6 6

76 76 76 76 76

1 1 6 6 1

76 76 76 76 76

1 1 1 1 1

76 76 76 76 76

1 1 1 1 1

76 76 76 76 76

1 8 8 4 1

8 8 8 8 8

87 87 87 87 87

1 1 8 1 1

87 87 87 87 87

1 1 1 1 1

87 87 87 87 87

61 61 61 61 61

87 87 87 87 87

exemplo 10 3 1 1 3 1

3 3 1 1 3

1 3 3 1 1

1 1 3 3 1

1 3 3 3 1

95 95 95 95 95

95 95 95 95 95

95 95 95 95 95

95 95 95 95 95

95 95 95 95 95

179

61 61 61 61 61

87 87 87 87 87

61 61 61 61 61

61 61 61 61 61

61 61 61 61 61


os atractores de redes RBN NK , com N = 25 e K = 4, em topologia quadrado, e parˆametro de Derrida p = 11/16, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 4 1 4 4 4

8 8 4 4 4

8 8 8 4 4

8 1 4 4 4

4 4 1 4 4

64 64 64 64 64

64 64 64 64 64

64 64 64 64 64

64 64 64 64 64

64 64 64 64 64

73 73 73 73 73

73 73 73 73 73

73 73 73 73 73

73 73 73 73 73

73 73 73 73 73

1 1 1 1 1

1 4 1 1 1

1 5 10 1 1

10 10 10 1 1

10 10 10 10 10

10 1 10 10 10

1 5 10 1 1

1 26 26 1 1

26 26 26 1 1

26 26 26 26 26

26 26 26 26 26

1 26 26 1 1

exemplo 2 1 4 4 1 1

1 1 4 1 1

1 1 1 1 1

exemplo 3 1 26 26 1 1

26 26 26 1 1

26 26 26 26 26

26 26 26 26 26

1 26 26 1 1

180


exemplo 4 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 2 1

1 1 2 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 2 2 1

1 1 2 1 1

1 1 2 2 1

1 1 2 1 1

1 1 1 1 1

1 2 2 2 1

1 1 2 1 1

1 1 4 1 1

1 4 4 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 4 2 1

1 4 4 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 2 2

1 1 1 2 2

1 1 4 4 4

1 2 2 4 1

2 2 1 1 2

1 2 1 2 2

1 1 2 2 2

1 1 4 4 4

2 1 1 4 2

1 1 1 1 1

1 1 1 2 2

1 1 1 2 2

1 1 1 2 2

2 1 1 2 2

1 1 1 1 1

1 2 2 2 1

1 1 2 1 1

1 1 6 2 2

2 1 1 2 2

1 1 1 1 1

1 6 6 1 2

1 1 6 1 2

2 1 4 1 1

4 2 1 1 4

2 2 4 4 4

2 2 2 4 2

2 1 4 1 1

2 1 1 1 2

2 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

2 1 1 1 1

2 1 2 2 1

2 1 2 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

2 1 1 1 1

4 1 4 2 4

4 1 4 1 1

1 1 1 1 1

1 2 2 4 2

4 1 2 2 2

1 8 8 8 4

1 8 8 1 1

96 96 96 96 96

2 1 2 2 1

exemplo 5 8 8 8 1 1

8 8 8 8 8

1 8 8 8 4

96 96 96 96 96

96 96 96 96 96

96 96 96 96 96

96 96 96 96 96

181

2 1 2 1 1

1 1 1 1 1

1 2 2 2 1

2 1 2 1 1

2 1 24 12 6

6 2 6 2 12

12 2 1 1 1

2 4 8 6 12

2 1 8 6 12


exemplo 6 13 13 13 13 13

13 13 13 13 13

13 13 13 13 13

13 13 13 13 13

1 1 13 13 13

14 14 14 14 14

14 14 14 14 14

14 14 14 14 14

14 14 14 14 14

14 14 14 14 14

19 19 19 19 19

19 19 19 19 19

19 19 19 19 19

19 19 19 19 19

19 19 19 19 19

20 20 20 20 20

20 20 20 20 20

20 20 20 20 20

20 20 20 20 20

20 20 20 20 20

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

42 42 42 42 42

42 42 42 42 42

42 42 42 42 42

42 42 42 42 42

42 42 42 42 42

81 81 81 81 81

81 81 81 81 81

exemplo 7 3 3 3 3 3

153 153 153 153 153

3 3 3 1 3

1 3 3 1 1

153 153 153 153 153

3 3 1 1 1

3 3 1 1 1

153 153 153 153 153

6 6 6 6 6

153 153 153 153 153

6 6 6 6 1

6 6 6 6 6

6 6 3 6 6

6 6 6 6 6

20 20 20 20 20

20 20 20 20 20

20 20 20 20 20

20 20 20 20 20

20 20 20 20 20

153 153 153 153 153

exemplo 8 10 10 10 1 10

10 10 1 10 10

10 10 1 10 10

10 10 10 10 10

10 10 10 10 10

38 38 38 1 38

38 38 38 38 38

38 38 38 38 38

38 38 38 38 38

182

38 38 38 38 38

81 81 81 81 81

81 81 81 81 81

81 81 81 81 81


exemplo 9 1 1 1 1 4

1 1 1 1 1

1 4 4 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 4

1 3 3 3 3

1 6 6 6 6

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 6 1 1 6

1 6 6 6 12

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 3 1 1 3

1 1 2 2 1

1 4 4 1 1

1 1 1 1 1

1 3 3 12 12

1 1 3 12 12

1 1 12 12 12

1 4 4 2 4

1 1 2 2 1

1 4 4 1 1

1 1 1 4 1

1 6 6 12 12

1 1 6 12 12

2 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 4 4 4

1 4 4 2 4

1 1 4 2 1

1 4 4 4 4

1 1 4 4 1

1 1 4 4 4

1 6 1 1 12

exemplo 10 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 4 4

1 1 1 1 1

1 3 3 3 1

1 8 8 8 1

1 8 2 4 8

1 1 4 8 8

1 1 4 8 8

1 1 1 1 1

1 24 24 24 1

1 24 6 12 24

1 1 12 24 24

1 1 12 24 24

1 1 1 1 1

1 6 6 6 1

1 1 1 1 1

183

2 1 1 1 2

1 1 12 12 12

1 1 1 4 4

1 1 1 1 1

2 1 1 1 2

1 8 8 8 1

2 2 2 1 2

1 8 1 4 8

2 1 1 1 1

1 1 4 8 8

1 1 1 1 1

1 1 4 8 8

1 1 1 4 4

1 1 1 1 1

2 1 1 1 2


os atractores de redes RBN NK , com N = 25 e K = 4, em topologia quadrado, e parˆametro de Derrida p = 10/16, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 35 35 35 35 35

35 35 35 35 35

35 35 35 35 35

35 35 35 35 35

35 35 35 35 35

42 42 42 42 42

72 72 72 72 72

72 72 72 72 72

72 72 72 72 72

72 72 72 72 72

72 72 72 72 72

193 193 193 193 193

42 42 42 42 42

42 42 42 42 42

193 193 193 193 193

42 42 42 42 42

193 193 193 193 193

42 42 42 42 42

193 193 193 193 193

48 48 48 48 48

48 48 48 48 48

48 48 48 48 48

48 48 48 48 48

193 193 193 193 193

exemplo 2 4 1 1 4 4

387 387 387 387 387

1 8 4 4 4

1 8 8 4 4

387 387 387 387 387

2 2 1 1 1

2 1 1 1 1

387 387 387 387 387

13 13 13 13 13

387 387 387 387 387

13 13 13 13 13

13 13 13 13 13

13 13 13 13 13

13 13 13 13 13

387 387 387 387 387

184

51 51 51 51 51

51 51 51 51 51

51 51 51 51 51

51 51 51 51 51

51 51 51 51 51

48 48 48 48 48


exemplo 3 138 138 138 138 138

138 138 138 138 138

138 138 138 138 138

138 138 138 138 138

138 138 138 138 138

exemplo 4 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 2 1 1 1

2 2 1 2 2

1 2 1 2 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

2 2 1 1 1

1 2 1 1 1

2 2 1 1 1

2 2 4 4 2

2 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

4 4 4 4 2

2 1 1 1 1

2 1 1 1 1

6 2 1 1 1

6 2 1 6 6

6 2 1 6 6

2 2 2 1 1

2 1 1 1 1

6 2 1 1 1

6 2 1 6 6

6 1 1 6 6

2 6 6 6 2

2 1 1 1 1

6 2 1 1 1

6 2 6 6 6

6 6 6 6 6

8 8 8 1 1

8 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

8 4 8 1 1

8 8 8 8 8

8 8 8 1 8

8 8 2 1 8

8 8 8 8 8

8 8 8 8 8

exemplo 5 108 108 108 108 108

108 108 108 108 108

108 108 108 108 108

108 108 108 108 108

108 108 108 108 108

241 241 241 241 241

241 241 241 241 241

185

241 241 241 241 241

241 241 241 241 241

241 241 241 241 241


exemplo 6 21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

278 278 278 278 278

21 21 21 21 21

278 278 278 278 278

21 21 21 21 21

278 278 278 278 278

21 21 21 21 21

278 278 278 278 278

75 75 75 75 75

75 75 75 75 75

75 75 75 75 75

75 75 75 75 75

75 75 75 75 75

223 223 223 223 223

223 223 223 223 223

223 223 223 223 223

223 223 223 223 223

223 223 223 223 223

142 142 142 142 142

142 142 142 142 142

278 278 278 278 278

exemplo 7 8 8 1 1 4

38 38 38 38 38

1 8 1 4 1

4 1 4 4 4

38 38 38 38 38

4 4 1 1 4

8 8 8 1 4

10 10 10 10 10

10 10 10 10 1

38 38 38 38 38

38 38 38 38 38

38 38 38 38 38

54 54 54 54 54

19 19 19 19 19

19 19 19 19 19

19 19 19 19 19

209 209 209 209 209

10 10 10 10 10

10 10 2 2 2

54 54 54 54 54

54 54 54 54 54

10 1 10 10 10

54 54 54 54 54

12 12 12 12 12

54 54 54 54 54

12 6 12 12 12

142 142 142 142 142

exemplo 8 19 19 19 19 19

19 19 19 19 19

209 209 209 209 209

209 209 209 209 209

186

209 209 209 209 209

209 209 209 209 209

12 12 12 12 12

12 12 12 12 12

142 142 142 142 142

12 12 12 2 12

142 142 142 142 142


exemplo 9 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 4 4 1

1 1 4 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 4 4 1

1 1 2 2 1

1 1 1 1 1

1 2 2 1 1

1 1 2 1 1

1 2 2 1 1

1 1 16 16 16

1 1 16 1 8

8 8 16 8 8

16 8 8 16 16

1 2 2 16 16

4 2 4 4 1

4 4 2 1 4

1 2 2 1 2

4 1 1 4 4

4 1 1 1 1

14 1 1 2 14

14 1 2 1 14

14 2 2 14 14

14 14 14 14 14

14 2 2 2 14

1 1 1 1 1

1 1 4 4 1

1 10 20 20 1

1 1 1 20 1

1 2 2 20 20

1 10 10 10 1

1 10 20 20 1

1 1 4 1 1

1 1 1 1 1

1 1 2 1 1

1 1 12 12 12

1 2 2 1 1

1 1 12 12 12

1 1 2 2 1

12 12 12 12 12

12 12 12 12 12

exemplo 10 1 1 4 4 1

16 16 16 16 16

1 1 1 4 1

1 1 1 1 1

2 2 2 16 16

2 1 2 16 16

1 2 2 16 16

1 1 16 16 16

109 109 109 109 109

109 109 109 109 109

109 109 109 109 109

187

6 6 3 3 6

109 109 109 109 109

2 6 6 6 6

109 109 109 109 109

2 6 1 1 6

1 6 1 1 1

1 6 3 3 1

1 1 1 1 1

1 2 12 2 2

1 2 2 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1


os atractores de redes RBN NK , com N = 25 e K = 4, em topologia quadrado, e parˆametro de Derrida p = 9/16, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 29 29 29 29 29

29 29 29 29 29

29 29 29 29 29

29 29 29 29 29

29 29 29 29 29

83 83 83 83 83

100 100 100 100 100

100 100 100 100 100

100 100 100 100 100

100 100 100 100 100

100 100 100 100 100

278 278 278 278 278

278 278 278 278 278

278 278 278 278 278

278 278 278 278 278

278 278 278 278 278

83 83 83 83 83

83 83 83 83 83

83 83 83 83 83

83 83 83 83 83

85 85 85 85 85

207 207 207 207 207

207 207 207 207 207

207 207 207 207 207

207 207 207 207 207

312 312 312 312 312

312 312 312 312 312

312 312 312 312 312

312 312 312 312 312

exemplo 2 21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

312 312 312 312 312

188

85 85 85 85 85

207 207 207 207 207

85 85 85 85 85

85 85 85 85 85

85 85 85 85 85


exemplo 3 1 8 8 8 8

8 8 8 8 8

8 8 4 8 8

8 8 8 8 8

8 8 8 8 8

197 197 197 197 197

197 197 197 197 197

197 197 197 197 197

197 197 197 197 197

197 197 197 197 197

373 373 373 373 373

25 25 25 25 25

36 36 36 36 36

373 373 373 373 373

373 373 373 373 373

373 373 373 373 373

exemplo 4 15 15 15 15 15

15 15 15 15 15

15 15 15 15 15

15 15 15 15 15

15 15 15 15 1

25 25 25 25 25

43 43 43 43 43

43 43 43 43 43

43 43 43 43 43

43 43 43 43 43

43 43 43 43 43

172 172 172 172 172

276 276 276 276 276

276 276 276 276 276

276 276 276 276 276

276 276 276 276 276

276 276 276 276 276

25 25 25 25 25

25 25 25 25 25

25 25 25 25 25

172 172 172 172 172

172 172 172 172 172

172 172 172 172 172

172 172 172 172 172

725 725 725 725 725

725 725 725 725 725

725 725 725 725 725

725 725 725 725 725

exemplo 5 2 4 2 4 2

4 4 2 4 4

4 4 4 2 2

4 4 1 4 1

4 4 4 4 4

1077 1077 1077 1077 1077

1077 1077 1077 1077 1077

1077 1077 1077 1077 1077

189

1077 1077 1077 1077 1077

1077 1077 1077 1077 1077

36 36 36 36 36

725 725 725 725 725

36 36 36 36 36

36 36 36 36 36

36 36 36 36 36

373 373 373 373 373


exemplo 6 1 7 7 1 1

1 7 7 1 1

11 11 11 11 11

1 7 7 7 7

11 11 11 11 11

7 7 7 7 7

1 7 7 1 1

1 1 4 1 1

1 4 4 1 1

4 4 4 4 4

11 11 11 11 11

11 11 11 11 11

11 11 11 11 11

109 109 109 109 109

13 13 13 13 13

13 13 13 13 13

13 13 13 13 13

69 69 69 69 69

4 4 4 4 1

1 4 4 1 1

109 109 109 109 109

1 2 4 1 1

109 109 109 109 109

1 4 4 4 1

109 109 109 109 109

4 4 4 4 1

4 4 4 4 1

1 4 4 1 1

1 2 4 1 1

1 4 4 4 1

4 4 4 4 1

4 4 4 4 1

2 4 4 4 4

109 109 109 109 109

exemplo 7 13 13 13 13 13

13 13 13 13 1

69 69 69 69 69

69 69 69 69 69

69 69 69 69 69

69 69 69 69 69

176 176 176 176 176

176 176 176 176 176

176 176 176 176 176

176 176 176 176 176

176 176 176 176 176

235 235 235 235 235

263 263 263 263 263

263 263 263 263 263

263 263 263 263 263

263 263 263 263 263

263 263 263 263 263

exemplo 8 1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

235 235 235 235 235

235 235 235 235 235

235 235 235 235 235

235 235 235 235 235

190


exemplo 9 2 4 2 4 1

999 999 999 999 999

2 4 4 4 4

4 4 2 2 1

4 4 1 1 2

999 999 999 999 999

1 1 1 1 2

999 999 999 999 999

110 110 110 110 110

999 999 999 999 999

110 110 110 110 110

110 110 110 110 110

110 110 110 110 110

110 110 110 110 110

129 129 129 129 129

129 129 129 129 129

129 129 129 129 129

129 129 129 129 129

129 129 129 129 129

80 80 80 80 80

431 431 431 431 431

431 431 431 431 431

431 431 431 431 431

431 431 431 431 431

431 431 431 431 431

999 999 999 999 999

exemplo 10 23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

80 80 80 80 80

80 80 80 80 80

80 80 80 80 80

80 80 80 80 80

191


os atractores de redes RBN NK , com N = 25 e K = 4, em topologia quadrado, e parˆametro de Derrida p = 8/16, considerando 200 configura¸c˜oes iniciais para cada escolha das fun¸c˜ oes booleanas exemplo 1 21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

21 21 21 21 21

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

37 37 37 37 37

79 79 79 79 79

79 79 79 79 79

79 79 79 79 79

79 79 79 79 79

79 79 79 79 79

230 230 230 230 230

230 230 230 230 230

230 230 230 230 230

230 230 230 230 230

230 230 230 230 230

31 31 31 31 31

31 31 31 31 31

31 31 31 31 31

159 159 159 159 159

159 159 159 159 159

159 159 159 159 159

159 159 159 159 159

159 159 159 159 159

412 412 412 412 412

412 412 412 412 412

412 412 412 412 412

412 412 412 412 412

37 37 37 37 37

318 318 318 318 318

exemplo 2 31 31 31 31 31

31 31 31 31 31

exemplo 3 378 378 378 378 378

378 378 378 378 378

378 378 378 378 378

378 378 378 378 378

378 378 378 378 378

192

412 412 412 412 412

37 37 37 37 37

318 318 318 318 318

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

318 318 318 318 318

318 318 318 318 318

318 318 318 318 318


exemplo 4 52 52 52 52 52

52 52 52 52 52

838 838 838 838 838

52 52 52 52 52

838 838 838 838 838

52 52 52 52 52

838 838 838 838 838

52 52 52 52 52

838 838 838 838 838

644 644 644 644 644

644 644 644 644 644

644 644 644 644 644

644 644 644 644 644

644 644 644 644 644

838 838 838 838 838

exemplo 5 23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

37 37 37 37 37

127 127 127 127 127

127 127 127 127 127

exemplo 6 1 1 1 4 4

1 1 1 1 1

1162 1162 1162 1162 1162

1 1 1 1 1

1 1 1 1 1

1162 1162 1162 1162 1162

1 1 1 1 1

6 1 1 6 3

6 2 1 6 6

1162 1162 1162 1162 1162

1162 1162 1162 1162 1162

6 2 6 6 6

6 2 6 6 6

3 6 6 6 6

94 94 94 94 94

1162 1162 1162 1162 1162

193

94 94 94 94 94

94 94 94 94 94

94 94 94 94 94

94 94 94 94 94

127 127 127 127 127

127 127 127 127 127

127 127 127 127 127


exemplo 7 1210 1210 1210 1210 1210

1210 1210 1210 1210 1210

1210 1210 1210 1210 1210

1210 1210 1210 1210 1210

1210 1210 1210 1210 1210

exemplo 8 17 17 17 17 17

17 17 17 17 17

17 17 17 17 17

17 17 17 17 17

17 17 17 17 17

62 62 62 62 62

62 62 62 62 62

62 62 62 62 62

62 62 62 62 62

62 62 62 62 62

78 78 78 78 78

78 78 78 78 78

78 78 78 78 78

78 78 78 78 78

78 78 78 78 78

exemplo 9 8 8 8 8 8

8 8 8 8 8

8 8 8 2 8

8 8 4 4 4

8 8 8 8 1

164 164 164 164 164

2 2 1 1 2

1 2 2 2 2

1 1 4 4 4

164 164 164 164 164

164 164 164 164 164

164 164 164 164 164

1 2 2 2 4

1 9 9 9 9

245 245 245 245 245

245 245 245 245 245

164 164 164 164 164

exemplo 10 1 1 2 1 2 55 55 55 55 55

1 1 2 1 2

2 1 2 1 1 55 55 55 55 55

55 55 55 55 55

55 55 55 55 55

55 55 55 55 55

1 1 4 4 2

2 1 4 4 1 245 245 245 245 245

2 2 1 4 4

194

9 9 9 9 9 245 245 245 245 245

9 9 9 9 9

1 1 9 9 9 245 245 245 245 245

1 1 1 9 9

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23

23 23 23 23 23


anexo B Para exemplificar os trˆes tipos de comportamento que uma rede booleana NK pode assumir, ordem, caos e limiar do caos, escolhemos aquela rede cuja constru¸c˜ao conserva a ideia de espa¸co: trata-se da rede cujos elementos est˜ao dispostos numa grelha quadrada, com liga¸c˜ oes aos seus quatro vizinhos mais pr´oximos, esquerda, cima, direita e baixo. Esta escolha n˜ao pretende introduzir qualquer simplifica¸c˜ao significativa, o que ´e desde logo evidente pelo facto de implicar um n´ umero de liga¸c˜oes K = 4, mas apenas por ser mais realista a identifica¸c˜ao de ilhas, ou seja, de subconjuntos de elementos espacialmente pr´oximos, de igual comportamento na rede considerada. No caso concreto que vamos apresentar, temos uma rede com um n´ umero N = DIM2 = 802 de elementos e um intervalo de tempo ∆ = 20 como janela de estabilidade, ou seja, o intervalo de tempo m´ınimo para o qual se regista uma invariˆancia de estado dos elemento da rede. Porque, na caracteriza¸c˜ao do tipo de comportamento, ´e tamb´em importante a evolu¸c˜ao temporal da rede, vamos apresentar alguns fotogramas correspondentes a configura¸c˜ oes da rede em momentos separados por 10 instantes de tempo. Ser´a desse modo igualmente poss´ıvel avaliar da forma como uma configura¸c˜ao t´ıpica do sistema se altera, ou se conserva, com o passar do tempo. Mas atentemos primeiro nos programas, escritos em Mathematica, que nos v˜ao permitir simular o comportamento de uma rede booleana NK do tipo anteriormente descrito.

195


as portas lógicas (K=4) inputs = Reverse@Flatten@ Table@8in1, in2, in3, in4<, 8in1, 0, 1<, 8in2, 0, 1<, 8in3, 0, 1<, 8in4, 0, 1<D, 3DD;

outputs = IntegerDigits@Range@0, 2 ^ 16 - 1D, 2, 16D; Table@fB@koD@inputsPkiTD = outputsPko, kiT, 8ki, Length@inputsD<, 8ko, Length@outputsD<D;

função evolução temporal do sistema listaPortas = IntegerDigits@Range@0, 2 ^ 16 - 1D, 2, 16D; parametroP@x_D := Max@Count@x, 1D, Count@x, 0DD 16;

evolucaoTemporal@portasLogicas_, mat_D := Module@8dm, TmatUm, TmatCentral, TmatFim<, dm = Length@matD; TmatUm = Join@8portasLogicasP1, 1T@8matP1, 2T, matPdm, 1T, matP1, dmT, matP2, 1T<D<, Table@portasLogicasP1, jT@8matP1, j + 1T, matPdm, jT, matP1, j - 1T, matP2, jT<D, 8j, 2, dm - 1<D, 8portasLogicasP1, dmT@8matP1, 1T, matPdm, dmT, matP1, dm - 1T, matP2, dmT<D<D; TmatCentral = Table@Join@8portasLogicasPi, 1T@ 8matPi, 2T, matPi - 1, 1T, matPi, dmT, matPi + 1, 1T<D<, Table@portasLogicasPi, jT@8matPi, j + 1T, matPi - 1, jT, matPi, j - 1T, matPi + 1, jT<D, 8j, 2, dm - 1<D, 8portasLogicasPi, dmT@ 8matPi, 1T, matPi - 1, dmT, matPi, dm - 1T, matPi + 1, dmT<D<D, 8i, 2, dm - 1<D; TmatFim = Join@8portasLogicasPdm, 1T@8matPdm, 2T, matPdm - 1, 1T, matPdm, dmT, matP1, 1T<D<, Table@portasLogicasPdm, jT@ 8matPdm, j + 1T, matPdm - 1, jT, matPdm, j - 1T, matP1, jT<D, 8j, 2, dm - 1<D, 8portasLogicasPdm, dmT@8matPdm, 1T, matPdm - 1, dmT, matPdm, dm - 1T, matP1, dmT<D<D; Return@Join@8TmatUm<, TmatCentral, 8TmatFim<DDD;

umExemplo@dim_, pp_D := Do@8 Clear@portasPP, wPP, portasLogicas, estadoInicial, dadosD; portasPP = Select@listaPortas, parametroP@ð1D pp &D; wPP = HFromDigits@ð1, 2D &L portasPP; portasLogicas = Table@fB@wPPPRandomInteger@81, Length@wPPD<DTD, 8dim<, 8dim<D; estadoInicial = Nest@HevolucaoTemporal@portasLogicas, ðDL &, RandomInteger@80, 1<, 8dim, dim<D, 6000D; dados = NestList@HevolucaoTemporal@portasLogicas, ðDL &, estadoInicial, 100D<D;

196


caos LL = 100; umExemplo@LL, 8 16D;

intervalo = 10; elementosTempo01 = Table@dadosPk, i, jT, 8i, LL<, 8j, LL<, 8k, 1, 1 + intervalo<D; mt01 = Table@Length@Union@elementosTempo01Piis, jjsTDD, 8iis, LL<, 8jjs, LL<D; Show@Graphics@8PointSize@0.008D, Table@8GrayLevel@mt01Pi, jT - 1D, Point@8i, j<D<, 8i, LL<, 8j, LL<D<D, FrameTicks ® False, Frame ® True, AspectRatio ® 1D

ordem LL = 100; umExemplo@LL, 14 16D;

intervalo = 10; elementosTempo01 = Table@dadosPk, i, jT, 8i, LL<, 8j, LL<, 8k, 1, 1 + intervalo<D; mt01 = Table@Length@Union@elementosTempo01Piis, jjsTDD, 8iis, LL<, 8jjs, LL<D;

Show@Graphics@8PointSize@0.007D, Table@8GrayLevel@mt01Pi, jT - 1D, Point@8i, j<D<, 8i, LL<, 8j, LL<D<D, FrameTicks ® False, Frame ® True, AspectRatio ® 1D

limiar do caos LL = 100; umExemplo@LL, 11 16D;

intervalo = 10; elementosTempo01 = Table@dadosPk, i, jT, 8i, LL<, 8j, LL<, 8k, 1, 1 + intervalo<D; mt01 = Table@Length@Union@elementosTempo01Piis, jjsTDD, 8iis, LL<, 8jjs, LL<D;

Show@Graphics@8PointSize@0.007D, Table@8GrayLevel@mt01Pi, jT - 1D, Point@8i, j<D<, 8i, LL<, 8j, LL<D<D, FrameTicks ® False, Frame ® True, AspectRatio ® 1D

197


De seguida, vamos apresentar uma sucess˜ao de configura¸c˜oes para cada um dos tipos de comportamento identificado.

ordem

limiar do caos

198

caos


anexo C Aqui ser˜ao apresentados alguns dos programas feitos na linguagem Mathematica, desenvolvida pela Wolfram Research, usados em diferentes simula¸c˜oes computacionais realizadas ao longo da elabora¸c˜ao deste trabalho. Estes pretendem ser apenas uma amostra daquilo que foi a utiliza¸c˜ao do referido programa, algo que registamos como muito importante, sobretudo pela relevˆancia que teve na compreens˜ao de muitos dos conceitos e propriedades das redes booleanas aleat´orias. Temos consciˆencia por´em, que para avan¸car nesta ´area ser´a necess´ario recorrer a outros meios, tal como muitos investigadores o est˜ao fazendo, empregando j´a n˜ao computadores pessoais, mas sim m´aquinas de capacidade de processamento muito para al´em destas. Contudo, posso dizer que a aprendizagem de uma linguagem como o Mathematica ficar´a sempre como uma mais valia deste trabalho.

199


Com este primeiro tipo de programa foram simuladas redes escolhidas aleatoriamente entre aquelas com um determinado valor do parˆametro P , sendo determinados os per´ıodos de cada um dos elementos da rede, dentro do estado estacion´ario encontrado pela configura¸c˜ao inicial escolhida. De salientar que as redes consideradas tˆem as entradas de cada uma das fun¸c˜ oes Booleanas determinadas por escolha aleat´oria de K elementos da rede. as portas lógicas (K=3) inputs = Reverse@Flatten@Table@8in1, in2, in3<, 8in1, 0, 1<, 8in2, 0, 1<, 8in3, 0, 1<D, 2DD; NIN = Length@inputsD; outputs = Table@IntegerDigits@k, 2, 8D, 8k, 0, 2 ^ 8 - 1<D; NOUT = Length@outputsD; Table@fB@koD@inputsPkiTD = outputsPko, kiT, 8ki, NIN<, 8ko, NOUT<D;

função exemplo listaPortas = IntegerDigits@Range@0, 2 ^ 8 - 1D, 2, 8D; parametroP@x_D := Max@Count@x, 1D, Count@x, 0DD 8;

exemplo@DIM_, pp_, numExemplos_D := Module@8portasPP, wPP, portasLogicas, entradas, matrizes, configInicial, dadosA, ddA, compararA, nmA, atractores<, portasPP = Select@listaPortas, parametroP@ð1D pp &D; wPP = HFromDigits@ð1, 2D &L portasPP; portasLogicas = Table@fB@wPPPRandomInteger@81, Length@wPPD<DTD, 8DIM<D; entradas = Table@RandomInteger@81, DIM<, 3D, 8DIM<D; evolucaoTemporal@config_D := Table@portasLogicasPkT@configPentradasPkTTD, 8k, DIM<D; Print@"portasLogicas = ", portasLogicasD; Print@"entradasPortasLogicas = ", entradasD; matrizes = 8<; Do@8configInicial = RandomInteger@80, 1<, DIMD; dadosA = Transpose@NestList@evolucaoTemporal, Nest@evolucaoTemporal, configInicial, 10 000D, 18 000DD; outPA = 8<; Do@8ddA = dadosAPiT; compararA = Table@Take@ddA, -jD Take@ddA, 8-2 j, -Hj + 1L<D, 8j, 6000<D; nmA = Select@Reverse@Flatten@Position@compararA, TrueDDD, ð1 > 10 &D; If@Length@nmAD > 2, outPA = Append@outPA, nmAP1T - nmAP2TD, outPA = Append@outPA, 0DD<, 8i, DIM<D; matrizes = Append@matrizes, outPAD<, 8numExemplos<D; atractores = Union@matrizesD; Print@atractoresDD;

exemplo 7/8 exemplo@50, 7 8, 100D

200


Neste segundo programa, gostaria de observar que as redes consideradas est˜ao dispostas numa topologia de quadrado, onde cada seu elemento interactua com os quatro seus vizinhos mais pr´ oximos. Tamb´em aqui se procura identificar os per´ıodos de cada um dos elementos do sistema, quando este percorre um estado estacion´ario. as portas lógicas (K=4) inputs = Reverse@Flatten@ Table@8in1, in2, in3, in4<, 8in1, 0, 1<, 8in2, 0, 1<, 8in3, 0, 1<, 8in4, 0, 1<D, 3DD; outputs = Table@IntegerDigits@k, 2, 16D, 8k, 0, 2 ^ 16<D; Table@fB@koD@inputsPkiTD = outputsPko, kiT, 8ki, Length@inputsD<, 8ko, Length@outputsD<D;

função evolução temporal do sistema evolucaoTemporal@mat_D := Module@8TmatUm, TmatCentral, TmatFim, dm<, dm = Length@matD; TmatUm = Join@8portasLogicasP1, 1T@8matP1, 2T, matPdm, 1T, matP1, dmT, matP2, 1T<D<, Table@portasLogicasP1, jT@8matP1, j + 1T, matPdm, jT, matP1, j - 1T, matP2, jT<D, 8j, 2, dm - 1<D, 8portasLogicasP1, dmT@8matP1, 1T, matPdm, dmT, matP1, dm - 1T, matP2, dmT<D<D; TmatCentral = Table@Join@8portasLogicasPi, 1T@ 8matPi, 2T, matPi - 1, 1T, matPi, dmT, matPi + 1, 1T<D<, Table@portasLogicasPi, jT@8matPi, j + 1T, matPi - 1, jT, matPi, j - 1T, matPi + 1, jT<D, 8j, 2, dm - 1<D, 8portasLogicasPi, dmT@ 8matPi, 1T, matPi - 1, dmT, matPi, dm - 1T, matPi + 1, dmT<D<D, 8i, 2, dm - 1<D; TmatFim = Join@8portasLogicasPdm, 1T@8matPdm, 2T, matPdm - 1, 1T, matPdm, dmT, matP1, 1T<D<, Table@portasLogicasPdm, jT@ 8matPdm, j + 1T, matPdm - 1, jT, matPdm, j - 1T, matP1, jT<D, 8j, 2, dm - 1<D, 8portasLogicasPdm, dmT@8matPdm, 1T, matPdm - 1, dmT, matPdm, dm - 1T, matP1, dmT<D<D; Return@Join@8TmatUm<, TmatCentral, 8TmatFim<DDD

201


função exemplo listaportas = IntegerDigits@Range@0, 2 ^ 16 - 1D, 2, 16D; parametroP@x_D := Max@Count@x, 1D, Count@x, 0DD 16;

exemplo@dim_, pp_, numExemplos_D := Module@8matrizes, estadoA, dadosA, ddA, compararA, nmA<, portasPP = Select@listaportas, parametroP@ð1D pp &D; wPP = HFromDigits@ð1, 2D &L portasPP; portasLogicas = Table@fB@wPPPRandomInteger@81, Length@wPPD<DTD, 8dim<, 8dim<D; Print@"portasLogicas = ", portasLogicasD; matrizes = 8<; Do@8 estadoA = RandomInteger@80, 1<, 8dim, dim<D; dadosA = NestList@evolucaoTemporal, estadoA, 100 000D; outPA = 8<; Do@8 ddA = Table@dadosAPk, i, jT, 8k, 9000, 100 000<D; compararA = Table@Take@ddA, -kD Take@ddA, 8-2 k, -Hk + 1L<D, 8k, 45 000<D; nmA = Select@Reverse@Flatten@Position@compararA, TrueDDD, ð1 > 10 &D; If@Length@nmAD > 2, outPA = Append@outPA, nmAP1T - nmAP2TD, outPA = Append@outPA, 0DD<, 8i, dim<, 8j, dim<D; matrizes = Append@matrizes, Partition@outPA, dimDD<, 8numExemplos<D; atractores = Union@matrizesD; Table@Print@MatrixForm@atractoresPkkkTDD, 8kkk, Length@atractoresD<DD

exemplo exemplo@8, 8 16, 10D

202


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