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Retrato de uma princesa desconhecida

Sophia de Mello Breyner

Para que ela tivesse um pescoço tão fino

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Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule

Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos

Para que a sua espinha fosse tão direita

E ela usasse a cabeça tão erguida

Com uma tão simples claridade sobre a testa

Foram necessárias sucessivas gerações de escravos

De corpo dobrado e grossas mãos pacientes

Servindo sucessivas gerações de príncipes

Ainda um pouco toscos e grosseiros Ávidos cruéis e fraudulentos

Foi um imenso desperdiçar de gente

Para que ela fosse aquela perfeição

Solitária exilada sem destino

(poema lido e seleccionado por Yana, 9ºC)

Mar

Sophia de Mello Breyner

Mar, metade da minha alma é feita de maresia Pois é pela mesma inquietação e nostalgia, Que há no vasto clamor da maré cheia, Que nunca nenhum bem me satisfez.

E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia Mais fortes se levantam outra vez, Que após cada queda caminho para a vida, Por uma nova ilusão entontecida.

E se vou dizendo aos astros o meu mal É porque também tu revoltado e teatral Fazes soar a tua dor pelas alturas

E se antes de tudo odeio e fujo O que é impuro, profano e sujo, É só porque as tuas ondas são puras

(poema lido e seleccionado pelo Gabriel, 9ºC) e seleccionado (De todos os cantos do mundo

Amo com um amor mais forte e mais profundo

Aquela

Cheiro a terra as árvores e o vento

Que a Primavera enche de perfumes

Mas neles só quero e só procuro