O DRIBLE DO CANDEAL: O CONTEXTO SOCIOMUSICAL DE UMA COMUNIDADE AFRO-BRASILEIRA
Goli Guerreiro* Tê, tê, tê, tê, tê, tê, tê, tê/ Vem Maria, nega, bebê/ Vem Maria tocar djembê/ Vem Maria quero você/ Vem Maria caipirinha/ Vem Maria dar alegria/ Vem Maria dar feijoada/ Vem Maria dançar molhada/ Samba da Bahia/ Samba da Bahia/ Tê, tê, tê, tê, tê, tê, tê, tê [...] Carlinhos Brown
Roteiro Uma cena de cinema, um festival, uma celebração. Um sinal imagético da força da musicalidade do Brasil. No bairro do Candeal Pequeno, em Salvador da Bahia, uma imagem do lugar ganhava forma, na pré-estréia do filme que estava pronto para circular nas salas de cinema de todo o mundo. El milagro de Candeal, do cineasta espanhol Fernando Trueba, foi exibido pela primeira vez no território onde foi filmado, na comunidade afro-brasileira que alcançou visibilidade através do músico Carlinhos Brown. Há algum tempo, não se via tão intensa movimentação em direção ao principal espaço cultural da comunidade — o Candyall Guetho Square —, desde que os moradores de uma área nobre, vizinha ao Candeal, conseguiram interditar os ensaios da Timbalada, uma das mais famosas bandas afro-pop de Salvador, que durante anos levou gente de toda a cidade para um bairro periférico que criava ritmos e lançava modas.
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Goli Guerreiro é doutora em Antropologia, coordenadora do Núcleo Humanidades das Faculdades Jorge Amado, membro do Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura (CULT) e autora de A trama dos tambores: a música afro-pop de Salvador, São Paulo, Editora 34, 2000.
Afro-Ásia, 33 (2005), 207-248
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