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6 DE DEZEMBRO DE 2010 SEGUNDA-FEIRA WWW.DIARIOAVEIRO.PT

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ENTREVISTA

JOAQUIM PAVÃO E GIL MOREIRA na Praça Melo Freitas. “Os primeiros cidadãos a mobilizar somos nós”, diz o segundo

de, o que é sempre difícil de inventar. Os meios electrónicos ajudam muito e é aqui que a mobilização surge com mais força. JP - Não é uma questão de facilidade. Não se pretende mobilizar. Pretende-se reflectir, discutir e actuar. Quem reconhece este espírito contribui. Quem deseja viver melhor, trabalha em prol dessa ideia. Apenas isso. Não se trata de uma causa nossa. É sua, é minha, do vizinho, de todos. Existe massa crítica em Aveiro para promover reflexões sobre a cidade? GM- Temos tido muitos exemplos disso quando se promovem discussões sobre temas concretos da vida da cidade. Relembro o seminário sobre o futuro da Avenida promovido pela Câmara há dois anos, que envolveu muitos agentes locais e teve grande adesão.

Não só criou fortes expectativas quanto à intervenção na Avenida como esteve na génese deste movimento. Talvez falte, acima de tudo, a promoção de espaços de debate e participação. Nós temos dado o nosso contributo para a sua criação – o possível, com os meios de que dispomos. JP - Existe sobretudo um olhar mais atento e de enorme capacidade para confrontar os problemas. Aveiro – e o país – caiu num abismo ideológico grande. A autarquia revela uma fragilidade imensa, resistência e apatia quando contactada com a crítica. Esta fragilidade só vem aumentar o nível de desconfiança do cidadão que exige rigor, dedicação e transparência. Neste momento acho que há muito mais do que massa crítica. Existe todo um bolo de gente com capacidade de agir, pensar e discutir.

EDUARDO PINA

Eleições: “Não pôr de parte nenhuma opção”

Como avaliam a forma como a Câmara de Aveiro tem lidado com o movimento? GM- No primeiro ano recebemos, por parte da Câmara, apoio e disponibilidade de meios para os nossos reptos. Relembro a iniciativa de animação da Praça Melo Freitas ou a Festa dos Amigos e Vizinhos, que de outra forma não teriam sido possíveis. O segundo ano foi diferente. Apurámos opiniões críticas quanto a processos e projectos promovidos pelo Executivo, tais como a intervenção na Praça Melo Freitas, a ponte pedonal do Rossio, a intervenção no Alboi ou a discussão sobre o Parque da Sustentabilidade. Apesar da cordialidade com que sempre fomos pontualmente recebidos, tanto por técnicos como pelo Executivo, as nossas dúvidas e preocupações mantêm-se exactamente as mesmas. JP - Como disse, esta autarquia revela alguns problemas de diálogo quando confrontada pelo cidadão. Recebe-o mas não o ouve, aceita-o mas não o compreende e sinto que tem uma clara inaptidão e falta de coragem para assumir o erro. Não é honesto vir a público dizer que Aveiro precisa de uma massa crítica actuante e depois ignorar os apelos da mesma.

Acreditam que os Amigos d’Avenida têm poder para influenciar as políticas camarárias? GM - A Câmara tem toda a legitimidade democrática para definir as políticas para a cidade, assim como os movimentos cívicos têm toda a legitimidade para as questionar. É uma pergunta que deverá ser feita ao Executivo. Neste momento, com a previsível implementação de um orçamento participativo, o discurso da Câmara tem sido o de promover e acolher a participação cívica. Registamo-lo com agrado e expectativa. Afinal, temo-lo vindo a fazer há dois anos, em momentos com grande custo. Relembro a enorme dificuldade que tivemos em promover o debate sobre o Parque da Sustentabilidade... JP - Não é uma questão de poder. A pergunta que se deve fazer à autarquia é se está disponível para exercer a sua função. Ouvir, promover a discussão e apresentar soluções. Não o fazer é atentar contra um direito básico da sociedade actual. Temos assistido a uma gestão dos mais variados processos apenas baseada em conceitos subjectivos sem que qualquer explicação técnica fosse compreendida ou uma gestão tecnocrática que coloca sobre os técnicos o

ónus da decisão. Não raras vezes, há um silêncio constrangedor revelador de uma certa infantilidade política. A pergunta que faço é como se sente cada deputado municipal, cada agente político, vereador ou presidente quando a mais básica função, que é servir o cidadão, não está plenamente a ser cumprida. E semana após semana, perder a derradeira oportunidade de liderar uma cidade, catapultando-a e dinamizando-a a um nível maior. Eu quero acreditar que a política camarária não é contra o cidadão. Quais foram as grandes batalhas travadas pelo grupo e quais as que perspectivam para o futuro? GM - No primeiro ano, a nossa actividade centrou-se na mobilização dos agentes culturais e criativos e na promoção de animação do espaço público. Neste segundo ano, as principais iniciativas que temos desenvolvido têm resultado das intenções e projectos que a Câmara pretende desenvolver. Não há uma agenda. Depende sempre dos contributos de cada um e das reflexões que nos suscite a vida da cidade, a real e a que desejamos. JP - Não travamos batalhas. Entregamos vozes, ideias e soluções. A política não é um jogo. Não se

I Faz sentido pensar que o movimento poderá um dia concorrer a eleições autárquicas? JP - Qualquer cidadão é livre de concorrer a eleições autárquicas. GM - As eleições autárquicas são momentos cruciais na vida da cidade e do concelho. Nas últimas eleições, este movimento apresentou um conjunto de questões a todos os partidos concorrentes, procurando, assim, enriquecer o debate político. Julgo que não deva ser posta de parte nenhuma opção que possa contribuir para qualificar a participação cívica dos Amigos d'Avenida, desde que não desvirtue a natureza informal e apartidária do movimento. Mas ainda não discutimos essa questão.

perde, nem ganha. Se me pedir de um ponto de vista individual o que gostaria, facilmente responderia que ver uma autarquia a trabalhar de forma transparente, sem reservas, sem medo, que unisse a população para trabalhar o bem comum. As coisas são bem mais simples do que se imagina. As soluções são claras e inequívocas. Vejo isso todos os dias. Quem tem medo, não lidera. E na falta de liderança, de um caminho e de soluções, Aveiro tornar-se-á apenas um dormitório onde a apatia condenará o desenvolvimento sustentável.


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