1 minute read

aqui

escrevo-te do meu cantinho celeste vivido achado completo perto de todos nós harmonia sublinhada com guerras terminadas há séculos esquecidas olho para ti à distância que transfiro para infindáveis anos-luz e quero-te como meu espelho não és minha semente pois germinaste por afeição não és o meu querer pois concebeste-te por autocriação transcendeste-te ainda mutilada recriaste intoxicaste-te presenteaste-te fizeste de faz de conta para agora te encontrares ousaste opinar o mesmo querer transcrito em refugio clausura vegetal desgaste de nébula mesquinha depressa na lentidão dos meios pisos onde ousaste planar etereamente sem sopro as multissonoras constelações soltaram-se da ossatura petrificada hoje individuo permaneces em concubinato hospedeiro de arco-íris pluriassoalhadas no cumprimento eterno e doce viver biovirtualogico faça-se a vez

Que anseias

Advertisement

Colocas a no céu, bem luzidia. Salvação

Que obstinas

Porquê procurá-la todos os dias.

Vã esperança

Que acalentas

Mas fugidia

É um sonho

Exercício 9 in Exercícios de Humano. Abysmo, Lisboa 2014 na tua origem está um líquido viscoso esbranquiçado e sujo invadindo o ventre de alguém transtornada de luxúria e de palavras mágicas dentro do corpo a sujidade infecciona e a carne incha como um furúnculo por longos meses de febre e luta e um dia a sujidade invade o mundo nua coberta só de sangue e plasma aos gritos sem nada e sem saber nada sequer uma palavra uma lâmina afiada confere-te individualidade lavam-te o corpo põem-te um seio na boca dão-te um nome passas então a existir tendo como futuro breve um deixar de ser no estômago destes monstros como não ver aqui o início da música o início da escrita o combate entre a resistência da matéria e a acção do espírito como é belo e terrível o final do frio

- Prémio Teixeira de Pascoaes com "A Voz Que Nos Trai“, em 1997

- Prémio Literário José Saramago com “Natureza Morta”, em 1999

- Prémio da SPA - RTP com "Exercícios de Humano“, em 2015

This article is from: