Caderno F
Saúde MANAUS, DOMINGO, 6 DE ABRIL DE 2014
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Esquecimento pode ser um problema
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Saúde e bem-estar F5
TOC
Transtorno de Personalidade Obsessivo Compulsivo pode ser quase imperceptível ou pode incapacitar MELLANIE HASIMOTO Equipe EM TEMPO
L
avar as mãos a todo o momento, evitar o uso de banheiros públicos, revisar repetidas vezes a porta, o fogão ou o gás antes de sair de casa ou ao deitar, uma necessidade exagerada de arrumar as coisas, ter medo de passar perto de cemitérios, funerárias ou de usar certas cores de roupa com medo de que possa acontecer algo de muito ruim, ser atormentado por dúvidas intermináveis ou por pensamentos “horríveis” são alguns dos inúmeros sintomas do Transtorno de Personalidade Obsessivo Compulsivo, o TOC. A doença, que afeta milhares de pessoas no mundo inteiro, interfere na rotina de maneira significativa, mas há tratamento. A universitária Maria Fernanda Correia, 29, começou a fazer uma coleção de canetas, aos 16 anos. Juntava as que ganhava de presente, as que comprava, todas em uma mesa ao lado do computador – chegou a ter mais de 400. “E, do nada, fiquei com esse pensamento que, se não contasse todas as canetas, três vezes todas as noites, e as separasse por cores, algo iria acontecer com a minha família”, lembra. Esse “do nada” não é bem verdade, já que, após alguns momentos de conversa, a universitária desabafa. “Tinha acabado de terminar com o meu namorado. E já sofri com TOC quando criança. Voltou com tudo, e tive que voltar a fazer terapia”, conta. Comportamento A psicóloga Luciana Freitas explica que o TOC tem como características essenciais ideias, imagens ou impulsos persistentes e recorrentes, além de compulsões caracterizadas por comportamentos e pensamentos repetitivos não intencionais, e normalmente servem para anu-
lar uma obsessão. “As obsessões e compulsões consomem tempo e interferem de modo significativo na rotina normal do indivíduo, no desempenho ocupacional, nas atividades habituais e nos relacionamentos. O paciente pode ter obsessão, compulsão ou ambas”, observa. A obsessão é um pensamento, sentimento, ideia ou sensação recorrente e intrusiva. Em contraste com esta, que é um acontecimento mental, a compulsão é um comportamento. Especificamente,
GRAVIDADE
Os níveis de gravidade do TOC aparecem, principalmente, se tiverem comorbidade com outros transtornos que incluem abuso e dependência de drogas, depressão, fobias e transtornos de comportamento uma compulsão é um comportamento consciente, padronizado, recorrente, como contar, verificar ou evitar. O paciente com TOC se dá conta da irracionalidade das sensações e experimenta tanto a obsessão como a compulsão como egodistônica (comportamentos indesejáveis). A profissional revela, ainda, que o TOC pode começar em qualquer idade. “O transtorno de 1/3 da população mundial em diferentes culturas. Casos infantis são mais comuns em meninos e em adultos são mais co-
muns em mulheres”, aponta. As causas do TOC ainda são desconhecidas, informa a psicóloga. “O TOC é provavelmente resultante de fatores causais diferentes e podem estar associadas a uma predisposição genética. Outras se apresentam como casos esporádicos”, diz. Dentre os sintomas, frequentemente as pessoas acometidas por este transtorno escondem de amigos e familiares essas ideias e comportamentos, tanto por vergonha quanto por terem noção do absurdo das exigências autoimpostas. “Muitas vezes desconhecem que esses problemas fazem parte de um quadro psicológico tratável e cada vez mais responsável a medicamentos específicos e à psicoterapia”, diz. A pessoa pode perceber que a obsessão é irracional e reconhecê-la como um produto de sua mente, experimentando tanto a obsessão quanto a compulsão como algo fora de seu controle e desejo, o que causa muito sofrimento. “Pode ser um problema incapacitante porque as obsessões podem consumir tempo e interferir na rotina normal do indivíduo ou relacionamentos com amigos e familiares”, informa Luciana. O diagnóstico deve ser cuidadoso, pois traços de personalidade ou distúrbios de aprendizagem em crianças têm que ser eliminados, e o tratamento mais indicado é a TCC – Terapia Cognitivo Comportamental, associado à farmacologia, com administração de medicamentos reguladores do humor.
Realidade da doença na tevê O TOC é, muitas vezes, retratado de maneira mais “amena”, quando aparece na mídia. Pular ladrilhos de uma só cor, ou lavar as mãos em situações inoportunas aparecem em filmes e na televisão, mas recentemente, o seriado norte-americano “Girls”, da HBO, recebeu elogios por mostrar a realidade de quem sofre com o TOC. Na série, a personagem Hannah (interpretado por Lena Dunham) enfrenta o lado mais obscuro da doença. Hannah precisa de um “equilíbrio” entre os lados esquerdo e direito, é atormentada por pensamentos
trágicos e intrusivos, e conta tudo em séries de oito (ou 64) – o que é notado por seus pais durante um jantar, e isso os leva a uma consulta ao antigo pediatra da personagem e, em seguida, a um psicólogo. Depois, em um acidente por conta do transtorno (ela forçou tanto a entrada de um cotonete no ouvido que parou no hospital), a realidade de quem sofre com o TOC apareceu: por conta do tal equilíbrio entre os lados, ela levou para casa o mesmo cotonete usado no hospital para limpar, escondida, o outro ouvido.