Caderno F
MANAUS, DOMINGO, 29 DE DEZEMBRO DE 2013
DIVULGAÇÃO
Saúde
e bem-estar
saudeebemestar@emtempo.com.br
(92) 3090-1017
Controle a compulsão de final de ano Saúde e bem-estar F5
Entre o bem e o mal
A cannabis, mais conhecida como maconha, é considerada uma droga por agir no sistema nervoso, alterando a percepção das pessoas. Entretanto, estudos médicos apontam que a marijuana pode ser usada em tratamentos MELLANIE HASIMOTO Equipe EM TEMPO
A
pós 11 horas de discussão, o Senado uruguaio aprovou, no último dia 10, um projeto de lei que regula a produção, a distribuição e a venda de maconha no país. Isso faz com que o Uruguai seja o primeiro país do mundo a legalizar produção da maconha, e o governo argumenta que o objetivo da medida é tirar poder do narcotráfico. O cultivo e uso da maconha – inclusive a medicinal, cujo valor é legitimado por meio de diversas pesquisas –, no entanto, já são liberados em vários países. Aids, glaucoma, epilepsia, insônia, enxaqueca, artrite e falta de apetite, além de câncer, TDAH, esclerose múltipla, náusea decorrente da quimioterapia e doença de Crohn, assim como anorexia, síndrome de Tourette, mal de Alzheimer, distrofia muscular, fibromialgia, caquexia e esclerose lateral amiotrófica são apenas alguns dos distúrbios e doenças crônicas cujos sintomas são aliviados pelo uso da maconha, recomendado por médicos. A maconha medicinal também é indicada para pacientes terminais, como forma de aliviar a dor e melhorar a qualidade de vida. Isso acontece porque há diversas pesquisas que corroboram seu valor medicinal. O princípio ativo da maconha, o canabinoide THC (tetrahidrocanabinol), atua em diversos sintomas de várias doenças, dependendo da quantidade presente na
maconha. Existem tipos da cannabis que possuem um teor de THC mais elevado e servem para certas doenças e outros tipos com um teor de THC mais baixo, para doenças mais simples. Nessas pesquisas, cientistas comprovaram que o THC liga-se aos receptores do sistema endocanabinoide do cérebro. E, quando isso acontece, há uma redução da dor e da ansiedade, assim como uma sensação de alteração da consciência. Outros estudos demonstraram, ainda, que os canabinoides reduzem o crescimento de determinados tipos de tumores cancerígenos.
ALÍVIO
Aids, glaucoma, epilepsia, insônia, enxaqueca, artrite e falta de apetite, além de câncer, TDAH, esclerose múltipla e doença de Crohn, entre outros, são sintomas aliviados pela maconha Claro que o outro lado existe, pois também há pesquisas científicas que tentam desvincular o poder curativo da maconha do efeito que altera a percepção das pessoas. Entretanto, os estudos indicam que o THC da maconha medicinal que dá às pessoas “um barato” age juntamente com o seu poder curativo, por isso ainda se tem opiniões contra o uso medicinal da maconha, uma vez que parte da comunidade médica desaprova o efeito de “droga” que ela possui.
Polêmica e cautela Em países como a Austrália, Canadá, Espanha, EUA, França, Holanda, Israel, Itália, Reino Unido, Suíça e agora o Uruguai, a maconha já tem permissão para ser cultivada ou comercializada (seja para fins medicinais ou recreativos), com cada lugar delimitando por meio de leis a utilização da erva. A polêmica é tanta que nenhum médico consultado para produzir esta reportagem quis falar sobre o assunto. Além disso, o governo brasileiro se diz preocupado com os impactos da decisão sobre a maconha no Uruguai. No mês passado, a presidente Dilma Rousseff encontrou-se com o presidente uruguaio José Mujica, e disse que entendia e respeitava a discussão, mas expressou receio em relação aos efeitos da liberação, em especial no Brasil. Mujica assegurou que todo tipo de controle será usado para evitar que a lei seja desvirtuada. Por conta da medida, o país se prepara para reforçar o controle de pessoas e bagagens, se confirmado o esperado aumento no fluxo de brasileiros ou uruguaios cruzando a fronteira, já que o Brasil ainda proíbe o uso da maconha. A Polícia Federal poderá enquadrar em tráfico internacional de drogas quem tentar entrar no Brasil com qualquer quantidade de maconha, e a pena para quem produz ou trafica maconha é de reclusão de 3 a 10 anos – que pode ser aumentada até seis anos caso fique constatada a “transnacionalidade do delito”.