Caderno F
Saúde MANAUS, DOMINGO, 16 DE MARÇO DE 2014
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Dieta detox e os seus benefícios Saúde e bem-estar F5
A um passo da dependência química
O uso abusivo de medicações pode levar para a hipocondria ou para a dependência desses produtos MELLANIE HASIMOTO Equipe EM TEMPO
T
odo mundo conhece alguém ansioso que sempre “coloca para dentro” um remedinho tranquilizante antes de entrar em um avião. Ou toma aquela pílula infalível para se livrar da dor de cabeça ou dor muscular. Essas situações podem até parecer corriqueiras, mas é preciso ficar alertar ao uso abusivo de medicações, já que elas pode levar para a hipocondria ou para a dependência de remédios. Dramin, Dorflex, Lexotan, Amoxicilina e alguns outros. Esse é o “kit de sobrevivência básico” do advogado Carlos Eduardo Andrade*, 27. “Tomo remédio para enjoo, que também serve para combater a ressaca, e também sempre que viajo. Tem também mais outros, que não são vendidos com receita. Antibiótico para dor de garganta e tranquilizante para os momentos de ansiedade”, diz. O tarja preta ele compra com amigos. “E, quando eles não têm, dou um jeito”, completa. A falta de seus remédios causa até preocupação para o advogado, porque ele sempre gosta de “ter um para casos de emergência”. Apesar disso, ele não considera que a medicação não prescrita que toma – ele nunca foi a um médico psiquiatra – não é essencial para o seu dia a dia. “Mas fico ansioso. Nunca viajo sem nada, fico logo preocupado”. Por sorte, ele nunca teve nenhuma intoxicação. Andrade acredita que hipocondria é apenas “tomar remédio sem precisar”, e ele não se considera um hipocondríaco, de acordo com a própria definição. “Tomo remédio quando sinto dor ou incômodo. Quando estou muito cansado e não consigo dormir, muito estressado, com dor de cabeça e/ou muscular”, justifica. A confusão com os termos, no entanto, é bastante comum. Diferenças O termo hipocondria é um estado psíquico em que a pessoa tem a crença infundada de que padece de uma doença grave. “A doença costuma vir associada a um medo irracional da morte a uma obsessão com sintomas ou defeitos físicos irrelevantes, preocupação e auto-observação constante do corpo e até, às vezes, para a descrença nos diagnósticos médicos. Já a dependência de medicamentos se dá principalmente em pessoas que abusam de medicações derivadas de anfetaminas (estimulantes) e de sedativos (calmantes, tranquilizantes). Esses medicamentos podem causar dependência física e/ou psicológica. Primeiro inicia-se o
uso, logo o abuso e em um terceiro estágio se produz a dependência”, explica a farmacêutica Aline Barros. Isso significa que, na hipocondria, a pessoa se imagina doente, percebe sinais que não existem, se identifica com sintomas descritos por outras pessoas e passam a considerar que também tem esta doença. “E, daí, muitas passam a tomar várias medicações e procuram o médico com constância sem motivo aparente. No entanto, se automedicar pode levar o hipocondríaco para a intoxicação”, completa. Dependência O organismo do dependente pode sofrer diversas reações, que variam de acordo com o tipo de substância que foi utilizada de forma abusiva. “A pessoa pode apresentar reações como tremores, alteração da pressão arterial, coração acelerado, suar demais, ficar ansiosa, inquieta, agitada, nervosa e pode, inclusive, alucinar e delirar pela falta da medicação”, aponta a profissional. Entre as que causam mais dependência, explica a farmacêutica, estão as medicações derivadas de anfetaminas (estimulantes) e de sedativos (calmantes, tranquilizantes). “Os analgésicos narcóticos (também conhecidos como opioides) como a morfina também causam dependência, porém são mais receitados em casos extremos, como para tipos de câncer mais dolorosos, portanto a dificuldade de acesso é maior”, explica Aline. O próprio mecanismo de ação dessas drogas, que agem no sistema nervoso central, pode explicar o motivo de causarem dependência no organismo, a depender da dose e tempo de uso. Por conta disso, a automedicação é potencialmente perigosa porque o paciente tende a utilizar medicamentos por conta própria para aliviar sinais e sintomas – o que pode trazer sérias consequências para sua saúde. “O uso de medicamentos de forma incorreta pode acarretar o agravamento de uma doença, uma vez que a utilização inadequada pode esconder determinados sintomas. Se o remédio for antibiótico, a atenção deve ser sempre redobrada. O uso abusivo destes produtos pode facilitar o aumento da resistência de microorganismos, o que compromete a eficácia dos tratamentos. Outra preocupação em relação ao uso do remédio refere-se à combinação inadequada. Neste caso, o uso de um medicamento pode anular ou potencializar o efeito do outro”, completa Aline. Para quem seguiu por esse caminho, mas quer ajuda, a
boa notícia: há tratamento para a dependência de remédios. “O primeiro passo do tratamento é a vontade do paciente, já que é fundamental que ele esteja disposto a se curar. A terapia psicosocial é indicada por ajudar a desenvolver o reconhecimento da dependência no paciente, pois a maioria deles ignora estar doente psicologicamente. É feita ainda, uma terapia que envolve médicos especialistas, psicólogos e terapia familiar, para que os entes o ajudem na recuperação”, finaliza. * nome fictício a pedido do entrevistado