Caderno F
Saúde MANAUS, DOMINGO, 12 DE JANEIRO DE 2014
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Como falar para as crianças sobre doenças graves? Explicar a uma criança pequena sobre o diagnóstico de uma doença grave não é tarefa muito fácil para os pais MELLANIE HASIMOTO Equipe EM TEMPO
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eceber um diagnóstico de uma doença grave é difícil. Pior ainda é descobrir que seu filho está doente. E, em muitos casos, os pais não sabem como agir em uma situação como essas. No entanto, o mais indicado, de acordo com especialistas, é abrir o jogo e contar a verdade mesmo para os menores, de modo que, juntos, possam enfrentar a situação. Em primeiro lugar, explica a psicopedagoga Carla Silva, quem deve dar o diagnóstico é o médico. “E isso independe da idade do paciente. Mas isso é sempre acompanhado dos pais”, ressalta. Isso porque ele é o profissional que
entende sobre a doença, e poderá tirar qualquer dúvida em relação ao diagnóstico. Quando estão doentes, as crianças percebem que está acontecendo algo de errado com ela, notam que seu corpo não está como antes e sentem as reações aos medicamentos, que as deixam mais debilitadas. Por isso, a orientação da profissional é que, essencialmente, os pais sejam sinceros com os filhos e expliquem, por meio de linguagem simples, o que realmente está acontecendo. “Em um tratamento de uma doença séria, como o câncer, a criança precisa participar no processo do seu próprio tratamento. Ela tem que entender o que está acontecendo e que é
importante tomar os remédios, para seguir as orientações médicas e combater a doença”, completa. A psicopedagoga explica, ainda, que os pais não devem esconder nada. “Não omita nenhum detalhe, afirme que o remédio é ruim, que vai haver desconforto e, em casos como o câncer, que o cabelo vai cair e que haverá algumas reações como náuseas, feridas na boca, diarreia, infecção e anemia, mas que isso fará com que a saúde dela melhore”, diz. Família O processo de aceitação dos pais pode ser um processo longo, por isso é bom que eles também procurem ajuda de um psicólogo. “Muitos demoram a acreditar no que está acontecendo. Alguns pedem para
não contarmos para a criança a respeito da doença, mas um bom profissional da área procura tirar essas resistências, pois, a partir do momento que a criança entende a sua doença, ela adere de forma muito melhor ao tratamento”, destaca Carla. Por conta disso, o apoio dos pais é fundamental. E, além de ter que lidar com toda a situação, os outros membros da família, como os irmãos da criança, também podem precisar de apoio emocional. “Quando há uma criança doente, toda a família precisa de cuidados. É uma situação frágil e que pode causar ciúmes nas outras crianças, ao perceberem que o outro está recebendo mais atenção. É comum surgir agitação, mau comportamento na escola,
para conseguir a atenção dos pais novamente”, alerta. Incluir a outra criança no tratamento do paciente é a melhor saída, como explica Carla Silva. “Explique, também, ao irmão o que está acontecendo, porque o outro precisa de mais cuidado naquele momento. É útil distribuir funções para todos os membros da família – diga à criança que ela precisa cuidar e ajudar o irmãozinho doente”, indica. Leve-os às visitas ao hospital e, se possível, apresente-o às outras crianças. Temores Em uma situação complicada como esta, alguns assuntos mais difíceis ainda irão surgir, como a morte. A profissional diz que, em geral, as crianças é que trazem o assunto à tona.
“Elas acabam percebendo que alguns amiguinhos não frequentam mais o hospital. E é nesse momento que é importante explicar o que aconteceu, mas sempre esclarecendo que os riscos diminuem quando o tratamento é feito da maneira certa”, aponta. Apesar de esse ser um dos grandes medos dos pais, as crianças, entretanto, têm mais medo da picada da agulha. “Mas, com o tempo, elas perdem o receio e acabam se acostumando, porque têm mais facilidade para se adaptar a uma situação nova”, diz a psicopedagoga Carla Silva. “E aí, muitas das vezes começam até a gostar de ir ao hospital, porque vão brincar com os amiguinhos, e isso ajuda muito na aceitação e tratamento”, afirma.
Quando o drama é com os pais Dar uma notícia ruim a uma criança é de cortar o coração. Quando a doença é com os pais, deve-se, também, contar para as crianças. A tarefa não é fácil, mas alguém precisa fazê-la e, de preferência, alguém que seja próximo e tenha um bom vínculo com os pequenos. E por mais difícil que possa parecer, existe um ponto que é fundamental para o entendimento da própria criança: nunca mentir.
“Isso porque, no futuro, ela pode acabar descobrindo a verdade ou acabar tendo esperança em cima de fatos que não vão acontecer, como a volta de um ente querido, por exemplo”, explica a psicopedagoga Carla Silva. Sem contar que, às vezes, os próprios adultos acabam comentando o fato, fazendo com que a criança descubra por outras pessoas e receba a notícia de forma muito pior. “Por isso, o quanto antes for possível conversar com a criança,
melhor”, completa. Mas como conversar com ela? A dica da profissional é explicar com calma a situação, sempre usando um vocabulário que ela entenda. “Ou seja, não precisa entrar em explicações técnicas da doença. Às vezes, dizer que uma pessoa ‘ficou dodói’ já resolve. Essa explicação deve ocorrer de acordo com a idade da criança”, reforça. Com crianças pequenas, aponta a especialista, devese usar linguagem simples e mensagens mais curtas, conforme as crianças crescem têm necessidades de explicações mais elaboradas. “E também é preciso ter paciência, já que muito provavelmente a criança questionará sobre o assunto por vários dias até entender melhor o que está acontecendo, ou, às vezes, o questionamento pode vir depois de algum tempo da conversa anterior”, afirma.