Saúde - 7 de setembro de 2014

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Caderno F

MANAUS, DOMINGO, 7 DE SETEMBRO DE 2014

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Saúde

e bem-estar

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Terceira idade com mais energia Saúde e bem-estar F4

Tabagismo versus

doenças psiquiátricas Estudos revelam que a nicotina pode alterar o funcionamento cerebral e contribuir para transtornos psiquiátricos

O

tabagismo é considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a principal causa de morte em todo o mundo. Estima-se que 1 bilhão da população adulta sejam fumantes, sendo que 200 milhões são mulheres. Os prejuízos para a saúde são inúmeros. Quem fuma tem predisposição a ter em algum momento da vida diversas doenças, como câncer (gengiva, traqueia, língua, pulmão, útero, próstata e pele), respiratórias (pulmão, bronquite crônica e enfisemas) e cardiovasculares (derrame cerebral, infarto agudo e tromboses venosas). A fumaça do cigarro ainda contém toxinas que produzem irritação nos olhos, nariz e garganta ocasionando alergia respiratória em fumantes e não-fumantes. O cigarro também pode prejudicar a estética, causando um envelhecimento precoce da pele, aumento da celulite e mudança da voz. O lado B A maioria dos fumantes tem consciência dos malefícios do cigarro. Entre-

tanto, o que muitos não sabem é que o tabagismo pode estar associado a doenças psiquiátricas. “Existem estudos que relatam que a nicotina presente no cigarro tem o poder de alterar o funcionamento cerebral, especialmente dos jovens, e contribuir para o aparecimento de transtornos psiquiátricos na vida adulta - como a depressão e a ansiedade”, afirma a terapeuta e coach Erica Aidar. Segundo a terapeuta, quanto mais cedo a pessoa começar a fumar, mais chances tem de se tornar uma pessoa depressiva e ansiosa no futuro. “Na adolescência, a nicotina passa ser um estimulante para o sistema nervoso central, e como na adolescência os neurônios ainda estão se formando, a exposição a esse tipo de substância pode deixar consequências graves”, explica. Muitos pacientes com transtornos psiquiátricos buscam no álcool e no cigarro uma forma de aliviar os sentimentos. Nesses casos, o tratamento com um terapeuta é indispensável

para a recuperação total do paciente. “O tratamento ao tabagista é muito mais do que uma conversa ou um acompanhamento médico. Não basta informar o paciente sobre os malefícios desse vício, é preciso trabalhar a dependência e desvendar os distúrbios psiquiátricos que estão escondidos”, esclarece a terapeuta. É papel do terapeuta tratar os sintomas de ansiedade, depressão,abstinência, entre outros distúrbios que o paciente com alto nível de dependência esteja sofrendo. “É fundamental investigar todas as causas que levaram o indivíduo à dependência do tabagismo e tratar cada uma delas. Dessa forma, o paciente tem mais chances de conseguir dar a volta por cima e superar o vício”, conclui a terapeuta.

Trabalho científico Um dos maiores trabalhos sobre o tema foi publicado na revista científica “Addiction”, a mais renomada na área de dependência química. Pesquisadores da Universidade de Oslo (Noruega) acompanharam 1.501 jovens - entre 13 e 27 anos - durante 13 anos.

PERIGO À VISTA

Na adolescência, a nicotina passa ser um estimulante para o sistema nervoso central, e como os neurônios ainda estão se formando, a exposição a esse tipo de substância pode deixar consequências A conclusão foi que aqueles que começaram a fumar precocemente tiveram mais chances de desenvolver depressão, transtornos da ansiedade e

pensamentos suicidas em relação aos não-fumantes. O assunto foi destaque de uma conferência internacional sobre tabagismo, que aconteceu em Dublin (Irlanda). “A nicotina deixa uma marca mnêmica. Isso aumenta a predisposição à dependência e a outros transtornos que têm como causa um desequilíbrio da neurotransmissão cerebral”, explica a médica Analice Gigliotti, presidente da Associação Brasileira para Estudos do Álcool e outras Drogas. Gigliotti e outros especialistas em tabagismo avaliam que, diante dessa conclusão, deverá ocorrer uma mudança na forma de avaliar e de tratar o fumante, especialmente o jovem. “Estamos diante de um novo paradigma da medicina em relação à nicotina. A gente imaginava que o doente psiquiátrico procurava o tabagismo para aliviar seus sintomas psíquicos. Agora, postulase o contrário. O fato dele ter sido exposto ao cigarro na adolescência pode ter levado ao transtorno psiquiátrico”, afirma a cardiologista Jaqueline

Issa, do InCor (Instituto do Coração). Para Gigliotti, a resposta pode estar na criação de políticas de prevenção ao tabagismo. “A dependência de nicotina é uma doença do cérebro, assim como a dependência a drogas e outras doenças mentais. Evitando-a, preveniríamos doenças mentais, dependências de drogas e morte precoce dos adolescentes e dos fumantes passivos”, resume. Exposição precoce No Brasil, pesquisas mostram que 90% dos fumantes adquirem o vício antes dos 18 anos. “Quanto mais jovem você se expõe ao cigarro, mais cedo vai alavancar esses possíveis transtornos mentais”, alerta Jaqueline Issa. Vários estudos já demonstraram que a incidência de doenças mentais é maior entre os fumantes do que no restante da população. Nos EUA, por exemplo, o índice de tabagismo na população em geral é de 12%. Entre os doentes psiquiátricos, chega a 70%. No Brasil não há esse levantamento.


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