Caderno F
MANAUS, DOMINGO, 5 DE OUTUBRO DE 2014
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Saúde
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Hora de dar atenção ao seu coração Saúde e bem-estar F4
Quando falta a empatia! Os valores estão invertidos, as pessoas menos sensíveis e a busca desenfreada pelo sucesso nos torna a cada dia menos humanos e mais tecnológicos. Com esse ritmo de desumanização, aonde vamos parar? MELLANIE HASIMOTO Equipe EM TEMPO
U
m trágico acidente acontece e não demora muito para fotos e vídeos pipocarem em redes sociais e no WhatsApp. Enquanto há pessoas preocupadas em ajudar, há outras mais preocupadas ainda em registrar o fato, pensando no lucro que as imagens podem trazer. Isso nos leva a pensar: estaremos menos empáticos? Mais insensíveis? O psicólogo Elizeu Saraiva explica que a inversão de valores é um dos principais fatores que provocam esse comportamento. “Na verdade, eu diria que estamos nos tornando menos humanos. Esse é um processo que se dá de uma forma tão lenta e que acontece a tanto tempo, que não percebemos isso. Juntamente, vem uma série de fatores. Estamos vivendo em uma época de inversão de valores”, diz. Para o profissional, isso acontece porque algumas pessoas desejam o sucesso a qualquer custo. “Alcançar
seus objetivos, mesmo que isso implique magoar pais, amigos, familiares. Mesmo que signifique abrir mão de seus próprios valores. É comum ouvirmos as pessoas dizerem que vão orar por alguém ou para que algo seja resolvido”, completa. Sem questionar fé, ressalta o psicólogo, não seria melhor, além de orar, fazer algo por aquela pessoa? “Isso reflete também outra característica das pessoas atualmente: a prática diferente do discurso. Dizem uma coisa e fazem outra. Também há situações piores: não dizem e não fazem nada”. Apesar de tudo isso, e de dizer que estamos nos tornando menos humanos, Saraiva acredita que “ainda somos empáticos. A questão é que existem menos pessoas empáticas. Não é que sejamos menos empáticos, o fato é que os empáticos existem cada vez em menor número”. Empatia Para a psicologia moderna, a empatia é a capacidade de
ver e compreender a realidade por meio dos olhos dos outros, como se estivéssemos no lugar da outra pessoa. “Não devemos confundir empatia com simpatia. A simpatia tem como objetivo estar com o outro e agradar. A empatia tem como objetivo conhecer, compreender e eu ainda diria mais, ajudar o outro!”, explica o profissional. No dia a dia, a empatia se manifesta de diversas maneiras – desde ajudar um idoso a atravessar a rua, por exemplo. “Não pelo ato de ajudá-lo, mas de se colocar no lugar dele, de compreender a sua necessidade de ajuda. Não é necessário que sejamos voluntários de entidades assistenciais para sermos empáticos. É algo que, quando a pessoa é empática, pode ser manifesto nas pequenas atitudes, nos pequenos gestos”, destaca Elizeu Saraiva. Aliás, dá para ser simpático sem ser empático. O profissional exemplifica. “Podemos citar como exemplo pessoas dissimuladas, que, quando querem, podem ser simpáticas. Então ajudam alguém
para receber reconhecimento, para serem admiradas, para serem elogiadas, para ‘receberem aplausos’, para ganharem a simpatia dos outros. Como a empatia é a capacidade de colocar-se no lugar do outro para entender suas necessidades, sentimentos e problemas, as possibilidades são infinitas. Vale lembrar que a empatia permite a compreensão das emoções, necessidades e atos alheios, sem ter necessariamente que concordar com os outros”. Saraiva dá um exemplo prático, como o acidente que tirou a vida da princesa Diana e que chocou o mundo. “A sede obsessiva pelo sucesso e pelo poder cegar as pessoas a ponto de passar a não mais valorizar a vida e apenas se importarem com o que vão obter em uma situação dessas, desde enviar as fotos para um grupo de contatos em um programa de mensagens ou em uma rede social até receber dinheiro por uma foto ou filmagem. Um exemplo clássico disse, é o caso dos nove fotógrafos
franceses que perseguiram o carro em que a princesa Diana estava, em Paris, com a intenção de tirar algumas fotos e acabaram contribuindo para o acidente que a vitimou em 31 de agosto de 1997. Há relatos de que mesmo com as vítimas do acidente seriamente feridas ou mortas dentro do carro destroçado, os fotógrafos continuaram a tirar fotos”, lembra. Seres humanos empáticos fariam isso? “Claro que não! Assim, podemos dizer que pessoas que agem assim não são empáticas e se importam somente com o dinheiro que irão ganhar ou com a fama que irão adquirir. Pessoas assim, na tentativa absurda de obter um valor financeiro, ou qualquer outro valor, até mesmo prestígio, acabam perdendo o verdadeiro valor humano, que é o amor ao próximo, o amor pela vida”, completa Saraiza. Praticando empatia E de que maneira o sentimento de empatia pode ser cultivado? Elizeu Saraiva explica que quando uma pes-
soa exibe sinais de alívio ou alegria após ter sido ajudada, quem ajudou pode sentir alegria empática. “Uma vez que teve essa alegria empática, a pessoa pode sentir-se motivada a ajudar novamente de modo a sentir a alegria empática outra vez. Essa autorrecompensa inerente na empatia não é um processo consciente”, diz. E, com isso, cria um ciclo que se repete. Portanto, podemos cultivar a empatia procurando, a cada dia, nos colocarmos no lugar do outro. As crianças também podem aprender a ser empáticas desde cedo. “Como a personalidade se forma na infância, os pais devem ensinar e passar valores para os filhos nessa fase. Não é o caso de dizer para os filhos serem empáticos. Mas com valores, conselhos, exemplos passados pelos pais. Isso vai moldando o caráter e a personalidade da criança. Então, a empatia será consequência. Espero que esses pais sejam bem-sucedidos! Precisamos de mais pessoas empáticas no mundo”, finaliza.