Caderno E
Saúde MANAUS, DOMINGO, 1º DE ABRIL DE 2012
e bem-estar
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Baby blues
Prepare-se para subir ao altar Saúde e bem-estar E4 e E5
FOTOS: DIVULGAÇÃO/STCK
A depressão pós-parto é uma doença biológica que atinge de 10% a 20% das mulheres nos primeiros meses de vida do bebê e é incapacitante ALITA MENEZES Equipe EM TEMPO
S
ão nove meses de espera, nesse período não só o corpo da mãe se modifica, mas também seus hábitos de vida e a rotina de toda família, tudo para que a hora da chegada do bebê seja perfeita. Mas, o que fazer quando os sentimentos de amor e felicidade cedem lugar à tristeza, ao desânimo e até à raiva? Discriminadas pela sociedade e frustradas pela incapacidade de proteger os próprios filhos as mulheres que sofrem com a depressão pós-parto, na maioria dos casos, nem sabem que estão com a doença. O principal sintoma é a falta de apego pela criança e, apesar da causa biológica relacionada à variação hormonal que acontece durante e após a gravidez, a também chamada “baby blues” afeta muito mais o lado psicológico que o organismo da mulher. “É um diagnóstico muito difícil e tanto os entes queridos como os profissionais envolvidos nos primeiros meses de vida da criança devem estar atentos aos pequenos sinais de tristeza e falta de ânimo da mãe”, alerta o psicólogo Eduardo Honorato. Ele explica que os casos de DPP necessitam de tratamento interdisciplinar, realizado em parceria com um ginecologista, endocrinologista, psiquiatra e psicólogo. Para o doutor Honorato, obstetras e pediatras deveriam assumir um papel social mais significativo durante as consultas, uma vez que desde o pré-natal até os primeiros atendimentos ao recém-nascido a atenção fica restrita
somente à saúde física dos pacientes. “O ideal seria que se avaliasse também o lado emocional, vilão em uma série de quadros clínicos”, defende. O especialista comenta que a gestação gera uma expectativa um tanto quanto fantasiada porque grande parte da população vislumbra um momento mágico e perfeito, esquecendo-se das dificuldades que uma gestante enfrenta, como enjoos, limitações físicas, insônias e uma série de outros fatores que podem causar variações no humor. “Não são as variações no humor durante a gravidez que
REJEIÇÃO
A mãe com depressão pós-parto precisa entender que não foi ela quem causou o sentimento de rejeição pelo bebê e que o sentimento é resultado de uma doença que deve ser tratada urgentemente
desencadeiam a baby blues, mas todo problema emocional ocorrido durante os nove meses de gestação são importantes durante a terapia de tratamento”, destaca. É o psiquiatra quem tratará com medicamentos a depressão, uma vez que a doença é de cunho biológico, ficando o psicólogo responsável por tratar as sequelas emocionais da paciente. A mãe com depressão pósparto precisa entender que não foi ela quem causou o sentimento de rejeição pelo bebê e que o sentimento é resultado de uma doença.
Mulheres que sofrem com depressão pós-parto frequentemente se sentem culpadas pelos sentimentos que passam a sentir
Marcas da DPP extrema Se não diagnosticada logo na primeira fase a depressão pós-parto pode evoluir para graus mais severos de extrema rejeição pelo bebê e irritabilidade com as tarefas maternas. “Nesse último estágio da baby blues a mãe chega a agredir o recém-nascido e até matálo. Não dificilmente assistimos notícias sobre mães que abandonam seu bebê, jogam no lixo ou pela janela de seus apartamentos”, reflete o psicólogo. Independente do grau da doença, sempre, após o tratamento, restam as marcas sentimentais da DPP. “A culpa de uma mãe que rejeita o próprio filho é muito grande, tanto pelo seu sentimento de fracasso como pela pressão social”, analisa o doutor Eduardo. Ele garante que a total recuperação é Quando não diagnosticada logo a doença pode piorar
possível, mas que esse é um processo longo e que requer o apoio de toda a família da paciente. Eduardo Honorato explica que existe um instrumento, que brevemente deve ser validado também no Brasil, chamado de Escala de Depressão Pós-Natal de Edimburgo. É uma escala autoaplicável, composta por dez itens, divididos em quatro graduações, que vão de zero a três. “Esse mecanismo tem uma aplicação bem rápida e fácil, medindo a presença e intensidade de sintomas depressivos nos últimos sete dias”, diz. Não há a necessidade que a escala seja aplicada somente por médicos, podendo também ser utilizada por enfermeiros e demais profissionais da saúde envolvidos no atendimento à mãe e ao bebê. O pai pode ser uma figura de grande apoio na recuperação