MANAUS, DOMINGO, 24 DE NOVEMBRO DE 2013
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RICARDO OLIVEIRA
Caderno H
Especial
No primeiro dia do manejo, depois de arpoar o pirarucu, o pescador deixa a canoa e vai buscar sua presa, que havia fugido para o capinzal que invade as águas
O MILAGRE DOS PEIXES Por muito pouco o pirarucu não desapareceu da região de Maraã. Na primeira pesquisa de estoque feita em 1999, os lagos da região do Médio Solimões e Japurá estavam quase extintos. O motivo era a pesca predatória, a invasão da região para pesca esportiva e comercial. Não havia nenhuma iniciativa de conservação. Foi o programa de Manejo de Recursos Naturais, do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), que salvou a espécie e resgatou a qualidade de vida dos pescadores da região e de suas famílias. Quinze anos depois da atividade, em unidades de manejo como os lagos Preto, Canivete e Itaúba, a contagem aponta que já habitam mais de 30 mil pirarucus. Na primeira avaliação, o estoque não chegou a 200 peixes. Para acompanhar o manejo deste ano, que começou no dia 14 de novembro, o EM TEMPO enviou uma equipe à Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá. Em seis dias, nossos repórteres presenciaram mais de 500 pescadores - monitorados pelos técnicos do Instituto Mamirauá - operarem um verdadeiro “milagre dos peixes”.
A MÁRIO ADOLFO Equipe EM TEMPO
MANEJO DO
PIRARUCU
s canoas com motores de “rabeta” da Colônia de Pescadores Z-32 de Maraã (Colpema) já estão posicionadas à entrada do lago do Canivete, nas proximidades do município de Maraã (a 615 quilômetros em linha reta de Manaus e a 892 quilômetros via fluvial). A cidade está encravada à margem esquerda do rio Japurá – afluente do rio Solimões. O lago fica a 20 quilômetros e é o cenário paradisíaco onde vai ser dada a largada para a pesca manejada do pirarucu, que ocorre todos os anos durante 17 dias do mês de novembro. Os pescadores somam 570, ocupando cerca de 400 canoas. Serenamente, eles aguardam o sinal para avançar com seus arpões e malhadeiras na captura do “peixe-rei”. São 6h e o sol, timidamente, acabou de chegar afastando a ameaça de chuva, uma constante no inverno amazônico. “Isso é prenúncio de que será um bom dia para a pesca”, aposta o pescador Cacau Nogueira, 43, que vive da pesca há 23 anos. O sinal de que “está valendo” é dado pontualmente às 7h30 pelo presidente da Colônia, Raimundo Ferreira de Souza, que, com um grito de guerra, abre oficialmente a pesca do pirarucu. Rapidamente, cada pescador rema em direção ao que manda sua intuição. Mas, para onde eles direcionarem a canoa, vão esbarrar no pirarucu, porque o lago está infestado de peixes. Mas, se derem azar, também podem, vez por outra, bater de frente com o jacaré, hóspede indesejável que habita os lagos da região. A equipe do EM TEMPO é conduzida por dois experientes pescadores da Colônia Z-32 de Maraã: Zizinho, que comanda o leme do motor de rabeta; e Antônio, que vai na proa da canoa ajudando com seu braço forte a desencalhar a embarcação, o que ocorre a todo instante, porque as águas baixaram. Quando não, Antônio tem que usar o terçado afiado para cortar o capim “memeca”, que avança sobre as águas do lago do Canivete e praticamente cobre a canoa.