Revista do Patrimônio Arqueológico de Marabá

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Revista do Patrimônio Arqueológico de Marabá

Publicação especial - Novembro de 2013


GOVERNO MUNICIPAL Prefeito Municipal de Marabá João Salame Neto FUNDAÇÃO CASA DA CULTURA DE MARABÁ (FCCM) Presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá Noé Von Atzingen Coordenação do Núcleo de Arqueologia e Etnologia de Marabá Marlon Prado NÚCLEO EDITORIAL REVISTA ARQUEOLOGIA Coordenação Mariana Sampaio Criação e edição de conteúdo Antonia Muniz , Emanoel Fernandes Júnior, Marciano Grokaliski Mariana Sampaio, Marlon Prado, Natália Abdul, Ramon Cabral Projeto Gráfico Amaury Aquino Revisão Léa Fernandes Tratamento de imagens Ricardo Borges Fotos Antonia Muniz , Breno Pompeu , Marciano Grokaliski, Mariana Sampaio, Noé Von Atzingen, Raimundo Mesquita Impressão Gráfica Halley - Tiragem 1.000 exemplares - Distribuição gratuita VALE – PROJETO AÇOS LAMINADOS DO PARÁ (ALPA) Diretor-Presidente do Projeto Alpa João Coral Diretor de Implantação do projeto Alpa Juarez Sigwalt Gerente Geral de Implantação Vinicius Oliveira Gerente de Área de Engª e Construção Projetos Siderúrgicos Talles Mendoça Analista Ambiental (Técnico Responsável) Wilker Araújo Arqueólogo (Apoio Técnico) Warley Delgado

Gravura Rupestre encontrada na Ilha dos Martírios, em Xambioá-TO. Foto: Noé Von Atzingen


Preservar a memória e a identidade de um povo é um dos principais legados que podemos deixar para gerações futuras. Reforçando esse compromisso com o território, a Vale, por meio da Aços Laminados do Pará (Alpa), desenvolveu o Programa de Educação Patrimonial, com objetivo de preservar e resgatar o patrimônio histórico e arqueológico na área de influência do projeto. Ao longo de 28 meses, levantamos um rico material que nos permitiu, em parceria com a Fundação Casa da Cultura de Marabá, produzir conhecimento e transmitir importantes informações à comunidade sobre o patrimônio cultural e arqueológico da região. O resultado de todo esse trabalho está registrado nesta publicação exclusiva, que tem como compromisso disseminar a informação de forma didática e objetiva à sociedade. Ao reconhecer e valorizar a cultura local, acreditamos que a preservação da cultura pode aproximar as pessoas e contribuir para o desenvolvimento social de uma comunidade. Tenham uma boa leitura! João Coral Diretor de Energia e Institucional Pará

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A Arqueologia fascina o homem. Sempre queremos retroceder no tempo e entender como viviam os grupos humanos: quem eram, o que faziam, por quê estiveram aqui. Conhecer este passado é lançar uma luz sobre nossa existência e nos ajudar a pensar no futuro! Esta revista chega em boa hora, quando Marabá comemora seu centenário. No entanto, não devemos esquecer dos milênios de ocupação humana em nossa região. A revista se propõe a fazer uma ponte, nos levando a refletir e entender este passado remoto. Entendemos que o valor deste trabalho reside, principalmente, no fato de tratar o tema científico de forma didática e objetiva, sendo acessível a estudantes, professores e comunidade. Levando em consideração a grande lacuna que existe no conhecimento do tema, esta parceria da VALE com a Fundação Casa da Cultura de Marabá mais uma vez propicia a inclusão do conhecimento e da cultura em nossa região tão carente de subsídios técnicos, impulsionando assim o entendimento deste tema tão importante quanto necessário. Noé Von Atzingen Presidente da Fundação Casa da Cultura de Marabá

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Pires de porcelana encontrado durante a pesquisa arqueológica nos sítios da área da ALPA. Acervo: Scientia


Fragmento de faiança fina encontrado durante a pesquisa arqueológica nos sítios da área da ALPA. Acervo: Scientia

Sumário Como os homens criam coisas e fazem cultura

Coisas que lembram aos homens suas histórias

Diversidade cultural: povos diferentes, culturas diferentes

Patrimônio Cultural

Processos de ocupação da região: passado distante e passado recente

Para que serve a Arqueologia? Como é feito o trabalho do arqueólogo?

Arqueologia na Amazônia

Arqueologia no Sul e Sudeste do Pará

Alguns resultados de pesquisas arqueológicas na região de Marabá

Para saber mais

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Obra intitulada Cortando castanha de Pedro Morbach Acervo: Pinacoteca Municipal Pedro Morbach - FCCM

Como os homens criam coisas e fazem cultura A cultura pode ser compreendida como o modo que grupos humanos organizam, criam e compartilham símbolos e sentidos sobre o mundo em que vivem e suas experiências. As coisas também são construções culturais. Humanos se relacionam com coisas e através delas, comunicam o que somos. Podemos construí-las, assim como podem construir a nós. As técnicas com as quais as fabricamos e usamos, consumimos, trocamos, os sentidos que lhes atribuímos e nossos modos de ser e de nos relacionarmos são reproduzidos através de uma memória compartilhada e, reinventados, na interação com estes objetos.

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Pé-de-bode Instrumento utilizado pelo castanheiro do Sul do Pará. Trata-se de um pedaço de árvore, um bastão com a ponta lascada pelo coletor de castanha-do-pará (Bertholletia excelsa), que o usa para pegar o ouriço do chão e depositá-lo no paneiro. O paneiro é carregado nas costas, com alças para os ombros e para amarrá-lo à testa. Ambas, ferramentas criadas pelo homem que habita os castanhais e usadas para prover o seu sustento. Ele domina a prática da coleta, provavelmente aprendida com outros castanheiros. O uso destes objetos, somado às caminhadas e ao peso da castanha, que chega a 60 kg, transforma seu corpo, definindo uma determinada constituição muscular. Seus instrumentos e suas roupas identificam-no como “castanheiro”, para si mesmo e para os outros. A Paxiba É a raiz da palmeira paxiúba (Socratea exorrhiza), cheia de espinhos, usada para ralar a castanha e tirar-lhe o leite. É comumente manipulada pelas mulheres, que usam o leite da castanha na cozinha doméstica, em pratos, como o “macaco ao leite de castanha”. Diretamente retirada da natureza, seu valor cultural está no uso que as pessoas fazem dela. E a forma de usá-la só foi possível pela relação entre estas mulheres e a natureza do lugar. Ou seja, a natureza é também parte do que se chama “cultura material”.

Pé-de-bode: Pedaço de madeira com uma das pontas “faxiada” (cortada em feixes). Utilizado na coleta de castanha para apanhar o ouriço do chão e colocá-lo no paneiro. O pé-de-Bode evita que o castanheiro precise se agachar para apanhar o ouriço, além de preveni-lo de possíveis picadas de cobra no braço desprotegido. Foto: Breno Pompeu Acervo: FCCM

Paneiro: Tipo de cesto transportado pelo castanheiro em suas próprias costas, utilizado para depositar os ouriços que eram coletados com o pé-de-bode durante as caminhadas de coleta. Foto: Breno Pompeu Acervo: FCCM

Paxiba: Pedaço da raiz de uma árvore que, por ter formação espinhosa, era muito utilizada pelo castanheiro e ainda hoje por grupos indígenas para ralar castanha. Contam os pioneiros da região que essa raiz também era utilizada pelos índios como ferramenta punitiva àqueles que invadiam suas terras. Durante o curso de Educação Patrimonial com professores de Marabá, a professora Helena Borges contou que quando alguém faz uma coisa errada usa-se a expressão “passar na paxiba” como forma de punição e medida de correção. Foto: Breno Pompeu Acervo: FCCM

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E é por esta cultura que a Arqueologia se interessa. A partir das coisas e seus vestígios, interpreta pistas a nos contar sobre as populações. Os objetos têm uma trajetória, às vezes, perdem importância para um grupo, em outras, são recuperados, ganham novos significados; são apropriados por outros; convivem paralelamente às invenções mais recentes ou são descartados. A própria Arqueologia atribui novos sentidos às coisas quando, após serem analisadas, são destinadas aos museus, onde não mais terão seus papéis de origem – como antigos utensílios de cozinha, expostos ao grande público, para divulgação de conhecimento e outros fins. Os Xikrin Mebêngôkre têm se apropriado das “coisas dos estrangeiros” e tornado as coisas dos brancos (aviões, automóveis, câmeras filmadoras, etc.), coisas Mebêngôkre, usando-as conforme seus princípios. Sua cultura é alterada, hoje, com novas questões e desafios. Porém, permanecem sendo Mebêngôkre, pois assim se reconhecem, criam um novo modo de ser índio e de viver suas tradições. Suas ações fazem parte de um contexto em transformação, que envolve o espaço, o tempo, os outros grupos e as coisas. Na atualidade, as sociedades valorizam sua memória, sua identidade; reivindicam respeito e reconhecimento por parte dos outros. Refletir sobre a “cultura material”, a relação entre humanos e coisas no passado e no presente, possibilita a criação de uma sensibilidade para a importância da história e do patrimônio cultural.

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O pintor, desenhista, gravador, decorador, cenógrafo e professor Jean Batiste Debret (1768- 1848) nasceu em Paris e veio ao Brasil em 1816 para promover o ensino das artes no país. Ao longo dos quinze anos em que viveu no país, fez inúmeros registros que descrevem a vida no país no século XIX. Na obra Cablocos (1820-1830), os objetos indígenas pintados por Debret assumiram novos significados, indo parar em livros e museus e ajudam a contar a História do Brasil. Assim, é na trajetória de suas representações que os objetos ganham novos significados e apresentam-se como pistas para conhecer culturas.


Vestido de inf창ncia. Foto: Antonia Muniz

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Maria das Graças Rocha Pinho e Antônio Carlos Rocha fotografados na rua 5 de abril, Canaã Monção, Velha Marabá, 1950. Foto: Barbosinha Acervo: FCCM

Coisas que contam aos homens suas histórias Se você costuma olhar as fotos de sua família, com certeza deve ficar impressionado com as lembranças e sensações que surgem: aquela festa de aniversário, dos amigos de infância, da rua em que morava. Se você costuma fazer isto, tente imaginar como seria sua vida se um belo dia acordasse e simplesmente não conseguisse mais se lembrar destas pessoas. Logo, o que seriam das pessoas sem a memória? A memória se realiza no lembrar e esquecer das coisas e por meio das coisas, lembrar de muitas, esquecer de tantas outras. Uma casa, um vestido, um quadro, por exemplo, podem atrair mesmo aqueles que não conheceram pessoalmente seus donos ou histórias, inspirando-nos a reviver e recriar tais memórias, a estes objetos chamamos de Cultura Material. A Cultura Material é a porção palpável de nossas expressões humanas, e é ela que os arqueólogos esperam interpretar, por exemplo, ao estudar um vaso de cerâmica ou as pinturas na parede de uma caverna, ou seja, podemos dizer que os objetos também possuem uma memória. Que tal descobrir algumas histórias guardadas nos objetos?

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Diversidade Cultural: povos diferentes, culturas diferentes Para identificar a diversidade cultural, basta prestarmos atenção às nossas roupas, aos programas de televisão, às comidas, ao nosso gosto musical: cada um de nós é como um mosaico de múltiplas experiências humanas, de diferentes culturas do mundo todo. Na formação da “cultura brasileira”, entre os africanos, para citar apenas alguns, existem Benguelas, Hauças, Malês, Kètus; entre os indígenas, os Apurinã, Ashaninka, Assurini, Kariri; entre europeus, os portugueses, os franceses, os holandeses, os alemães. E ainda árabes, judeus, etc.; logo, o Brasil é um país mestiço. Mas e os outros países? Todos formados com trocas entre grupos, intercâmbios, guerras, migrações, comércios, alianças, invasões, casamentos, etc., portanto, todos os povos são mestiços. É em meio a nossa cultura que criamos definições como as de bem, mal, certo, errado, humano, desumano. A partir delas, interpretamos a nós e aos outros. Às vezes, não compreendemos as motivações alheias ou o valor que atribuem a certas coisas. Por quê um prédio antigo, um pedaço de terra ou uma árvore são tão importantes para determinadas pessoas? Só saberemos qual o sentido destas coisas dentro de um conjunto de significados e regras, que pode ser entendido como um código cultural.

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Há conflitos, por vezes, justificados por divisões entre civilizados/primitivos, desenvolvidos/atrasados. Não existem grupos mais próximos da natureza, “primitivos” e outros da cultura, “civilização”. Todos têm sua forma de interagir com o meio ambiente, de alterar a natureza com elementos de sua cultura, e viver a passagem do tempo de modo particular. Toda cultura se transforma. E, para cada grupo, as questões que se pretende resolver e as soluções criadas, são únicas. Temos, então, uma pluralidade de culturas singulares, cujas mudanças envolvem trocas entre diversas culturas. E em um mesmo grupo, os indivíduos se diferenciam, cada um com uma interpretação própria acerca da vida coletiva e de si mesmo. As diferenças atravessam religiosidades, sexualidades, ideologias, ocupações profissionais, faixas etárias, classes sociais, etc. Vemos o mundo com os olhos da nossa “tribo”, mas podemos dialogar com outros modos de ver. A compreensão da diversidade cultural nos mostra a possibilidade de compartilhar experiências, de aprender e ensinar, afirmar a coexistência, multiplicar e renovar tantas humanidades. Deste ponto de vista, a diferença é uma riqueza.


Mosaico com diversas fotos hist贸ricas de brasileiros do s茅culo XIX.

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Patrimônio Cultural A palavra patrimônio, assim como muitas outras do nosso português brasileiro, deriva da antiga língua falada pelos romanos, o latim. Mas afinal o que significa patrimônio? Sua raiz latina vem da palavra patter, que literalmente quer dizer “pai”, e deu origem a outras palavras como paterno e paternidade. Neste caso, patrimônio tem a ver com a ideia de herança, já que se refere aos bens herdados por uma ou mais pessoas no caso de morte do chefe da família, o pai. Esta mesma ideia de herança também está contida no que chamamos de Patrimônio Cultural, ou seja, constitui um conjunto de tesouros da cultura que são repassados de geração a geração. Mas que tesouros são esses? Em nossas famílias, quando alguém de mais idade morre, deixa-nos além das lembranças, diversos tipos de objetos, que podem ser uma foto, um sapato, uma joia ou um livro. Em geral, escolhemos os que consideramos mais valiosos, aqueles que mais facilmente nos trazem boas recordações desta pessoa e nos desfazemos do restante. Estes objetos que selecionamos como os mais importantes, muitas vezes são levados conosco por toda vida e alguns, não raro, são repassados aos mais jovens como um símbolo de afeto para com os antepassados e, principalmente, como marco da continuidade de uma família, seus costumes e tradições e a estes objetos podemos chamar de Patrimônio Material.

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Mas, às vezes, o que estes antepassados nos deixam são coisas que não podem ser tocadas, mas sabemos, por força da memória, que estão lá: uma receita, uma história, uma oração, um ensinamento e tantos outros. Estas coisas continuarão vivas enquanto vivos estiverem os que detêm este tipo de conhecimento, geralmente passando de pai para filho. Esta herança que não pode ser tocada, mas cuja presença é sentida, pode ser entendida como patrimônio imaterial. A língua portuguesa, tal qual se falou, é um patrimônio imaterial para os praticantes de diferentes regiões do mundo: eles não podem tocá-la, mas percebem a sua presença e a transmitem para os demais, garantindo a sua continuidade e permanência no tempo. Juntos, Patrimônio Material e Patrimônio Imaterial formam o que chamamos de Patrimônio Cultural, uma fonte importante para conhecermos a história de nossas famílias, seus sonhos e modos de ver o mundo e poder pertencer também a um bairro, cidade ou país sendo, portanto, um conjunto de coisas escolhidas por estes grupos para que sejam guardadas na memória e passadas às gerações futuras. Podemos dizer, então, que cada cultura elege as “coisas” que melhor lhe representam, denominando-as como Patrimônio Cultural.


A Língua Portuguesa como Patrimônio Cultural Os romanos construíram um dos maiores impérios que a história conheceu, fazendo do latim a língua oficial de boa parte do mundo antigo. O país que hoje chamamos de Portugal foi uma das muitas regiões dominadas pelos romanos, assim como a Espanha e a França, locais onde a língua também teve origem latina. Por sua vez, Portugal também dominou diferentes regiões do mundo, principalmente a partir das Grandes Navegações do século XV e XVI, levando sua língua e seus costumes para luga-res distantes como Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Índia, China e o nosso Brasil. Apesar das diferenças notadas no português praticado por estes diferentes povos, pode-se dizer que a língua portuguesa é um patrimônio para estas culturas.


Processos de ocupação da região: passado distante e passado recente O passado distante na região de Marabá Os primeiros habitantes da região foram sociedades caçadoras-coletoras, pequenos grupos nômades que viviam da caça e da coleta de frutas e raízes. Ocuparam a região entre 11.000 e 6.000 A.P (Antes do Presente). Estes grupos confeccionavam seus artefatos em pedra lascada, como as pontas de suas lanças, e em pedras polidas, como as machadinhas encontradas na região. A região também foi habitada por grupos sedentários que, além da agricultura, fabricavam objetos de cerâmica com características decorativas específicas que correspondem à tradição denominada Inciso-Ponteada Amazônica (classificações arqueológicas). Estes grupos permaneceram na região até os primeiros séculos da era cristã, quando então foram surpreendidos pela chegada dos povos pertencentes ao tronco linguístico Tupi. Estes povos fixaram-se na região por vários séculos, num período estimado entre 1.670 A.P. e 50 A.P, quando então passaram a dividi-la com os Kaiapó, pertencentes ao tronco linguístico Jê. As pesquisas arqueológicas indicam que, a partir do século III, ocorreu um aumento da população na região, processo que atingiu o seu auge no século XV, antes da chegada dos europeus na América.

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Peças encontradas de forma isolada no Pará. As peças menores eram fixadas nas pontas das flechas e a peça maior era fixada na ponta de um pedaço de madeira e utilizada como lança para caçar e guerrear contra grupos vizinhos. Acervo: NAM-FCCM


Caçadores-coletores e sedentários (agricultores) Durante algum tempo, acreditou-se que o modo de vida das populações sedentárias (agricultores) era culturalmente superior ao modo de vida dos caçadores-coletores, uma vez que já dominavam a técnica de produzir roçados e assim não precisavam perder tanto tempo em busca de comida. Com mais tempo disponível, as populações sedentárias poderiam então se dedicar a outras ocupações, como fabricar objetos, criar arte e linguagem escrita. Porém, com o avanço das pesquisas e a descoberta de que os grupos caçadores-coletores também manipulavam certas espécies vegetais, assim como produziam intrigantes imagens gravadas nas rochas, esta teoria de que sedentários tinham uma cultura superior aos caçadores-coletores finalmente foi superada.

Estes são homens da etnia !Kung que vivem no deserto de Kalahari, fronteira entre a Namíbia e Botswana, sul do continente africano. A etnia !Kung vive na região há pelo menos 10.000 anos e mantém praticamente inalterados seus hábitos e conhecimentos ancestrais. Estes saberes que incluem, entre outras coisas, um exímio conhecimento da flora local, são passados de geração para geração e constituem a verdadeira riqueza deste povo, um contraponto à simplicidade de sua vida material.

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O passado recente na região de Marabá No século XVII, os europeus chegam à Amazônia, e o mercado das drogas-do-sertão (cravo, canela, castanha, copaíba, cacau) passa a ser muito lucrativo. Foi à procura destes produtos que europeus e bandeirantes paulistas entraram em contato com o que viria a ser o estado do Pará. Os primeiros a explorarem o rio Tocantins foram os franceses, com várias colônias de povoamento em sua margem. Entre conflitos com estes franceses e com os Tupinambá, os portugueses se estabeleceram na região Norte. O rio Tocantins, assim é chamado em referência a um grupo indígena de mesmo nome que habitava a região. Mas, em 1653, este e outros grupos sofreram redução de sua população, pois além de escravizados, o contato com os europeus e bandeirantes paulistas, trouxe

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doenças que causaram milhares de mortes para as populações indígenas. Assim, no século XIX, as margens dos grandes rios da região já estavam despovoadas. Em 1894, o coronel Carlos Leitão fundou o burgo agrícola do Itacaiúnas. A partir daquele acampamento, os colonos abriram caminhos na floresta à procura de campos naturais para a criação de bovinos. Esta ocupação deu origem às localidades de “Seco Grande”, “Novilha” e “Pontal”. Nesta última, foi fundada Marabá, a cidade mais antiga desta região. Na virada do século XIX, o governo do Pará tentava colonizar e garantir o domínio sobre os limites sul e oeste, atraindo pessoas para trabalhar com a atividade dos seringais e do caucho. Os colonos que chegavam, entravam em confronto com as populações indígenas que ainda existiam na região.


Página ao lado: Burgo do Itacaiúnas, fotografado em 1926, esta era a localidade onde o Coronel Carlos Gomes Leitão se instalou com cem seguidores que fugiam do estado de Goiás por conta de conflitos políticos e onde encontraram o famoso caucho (Castilla SP), primeiro ciclo econômico de Marabá. Foto: Bastos Acervo: FCCM

O Caucho, obra de Domingos Nunes (2011) Acervo: Pinacoteca Municipal Pedro Morbach (FCCM)

O grande deslocamento populacional foi um dos fatores que estimularam a emancipação municipal de Marabá, do município de Baião, em 1913. A crescente importância da extração do caucho provocou a decadência de outras atividades extrativistas e se firmou como a principal atividade comercial. O interesse em trabalhar na extração de borracha, atraiu metade das 1.500 pessoas que passaram a residir naquela cidade. Ela recebia imigrantes vindos de várias regiões do Brasil, principalmente, do Nordeste brasileiro, Minas Gerais, Goiás e imigrantes árabes. Com o declínio do ciclo da borracha, as atividades nos seringais foram reduzidas, e a população da região se voltou para a atividade da castanha-dopará, que se tornou o principal produto circulante nos portos de Belém. Mais uma vez, a região recebeu migrantes maranhenses, goianos, paraenses e aqueles antigos seringueiros, que passaram a ser chamados de castanheiros. Eles eram conduzidos

pelos contratadores, algumas semanas antes da safra e submetidos ao Aviamento. Em 1927, Marabá se tornou a maior produtora de castanha-do-pará do Sul do Pará e veio a se tornar a maior produtora do mundo.

Aviamento O aviamento acontecia assim: o seringueiro ou o castanheiro não era um trabalhador assalariado, ele vendia o resultado do seu trabalho – a borracha ou a castanha coletada – para o dono do barracão, uma espécie de armazém, que também era o dono da terra. E dele mesmo, comprava comida e água para sua sobrevivência, além de roupas e instrumentos de trabalho. O proprietário impunha os preços de forma que o trabalhador não sanava sua dívida e ficava “preso” à terra.

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Em 1954, o Governo do Estado do Pará modificou a lei de arrendamento de terras, concedendo aos arrendatários, após um ano de arrendamento, a posse definitiva. Foi então que o dono começou a fazer modificações em suas terras: estradas, roças e, principalmente, a plantação de pastagens para o aumento na criação de gado, que já contava com mercado consumidor, uma vez que a população crescia de 5.000 habitantes em 1950, para 6.000 em 1955, e Marabá já fornecia carne

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para o mercado de Belém. A partir de 1964, o governo militar implementou no país uma política desenvolvimentista e modernizadora com economia voltada para o capital industrial e tendo como proposta a integração nacional. No contexto da Política de Integração Nacional, foi elaborado o planejamento da ocupação da Amazônia, incentivando os grandes projetos agropecuários


Abertura da Transamazônica em vistoria realizada pelo Ministro dos Transportes Mário Andreazza, em 1972. Foto: Luis Carlos Wichert. Acervo: FCCM

e minerais, a colonização dirigida, a construção de estradas de rodagem, etc., contribuindo mais uma vez para a atração de novos contingentes populacionais.

para o qual seria fornecedora de matéria-prima e mão de obra barata. Grande parte dessa mão de obra ainda vinha do Nordeste brasileiro, cenário dos “homens sem terra”.

Havia um modelo de desenvolvimento para o país, no aspecto social, político e econômico. A Amazônia era vista como uma “terra sem homens”, com necessidade de pessoas que lá trabalhassem, integrando-a tanto ao projeto de desenvolvimento nacional, como ao modelo econômico mundial,

Em 1960, construiu-se a rodovia Belém-Brasília, que permitiu um grande aumento na ocupação do Sul do Pará. Em 1970, surge a antiga PA-70, hoje BR222, permitindo a chegada de ônibus interurbanos. Em fins de 1971, é entregue o primeiro trecho da Transamazônica (Porto da Balsa a Marabá).

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Matérias jornalísticas do Arquivo Histórico Manoel Domingues, da FCCM. No presente, possibilita a criação de uma sensibilidade para a importância da história e da memória.

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Em 1980, a então Companhia Vale do Rio Doce (atual Vale) lançou o Programa Grande Carajás, para o desenvolvimento da Amazônia Oriental. Em uma área de 90 milhões de hectares, abrangendo parte dos estados do Pará, Maranhão e e, do então Goiás, hoje Tocantins foi construída toda a infraestrutura necessária para a atividade da mineração.

Vista aérea de Marabá em 1971. Foto: Jorge Salame Acervo: FCCM

Além da população nordestina, houve migração de agricultores do Sul do país, descendentes de alemães e italianos. Também se deslocou para a região o grande capital baseado em São Paulo, que provocou alterações significativas no padrão de vida local, com grandes investimentos na pecuária, atividade florestal e mineral da região. Assim, o Sul do Pará é considerado um dos locais do Brasil que mais recebeu migrantes de várias regiões do país.

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Para que serve a Arqueologia? Como é feito o trabalho do arqueólogo? É muito comum que a figura do arqueólogo apareça associada à imagem do aventureiro usando chapéu de couro e chicote na mão, percorrendo lugares distantes na busca por relíquias muito raras ou cidades inteiras escondidas sob a mata, como no caso do Eldorado, ou sob as águas, como no caso da Atlântida. Essa é a fantasia criada em torno deste profissional. Muitas destas imagens fantasiosas foram criadas pela Literatura ou pelo Cinema, inspiradas por pessoas reais como o coronel inglês Percy Fawcett, que, no começo do século XX, se aventurou pela Serra do Roncador, no Mato Grosso, buscando as pistas de uma cidade perdida. Infelizmente, sem a mesma sorte e o mesmo charme do fictício Indiana Jones, acabou sumindo sem deixar vestígios. Na verdade, quando a Arqueologia surgiu no século XIX, estava realmente ligada ao resgate destas relíquias muito raras ou empenhada em achar estas cidades perdidas e era um trabalho, quando não um passatempo, dos filhos de famílias aristocráticas, como no caso do próprio Fawcett. Além disso, sua atividade estava ligada ao fornecimento de peças para museus hoje muito famosos, como o Louvre, em Paris, ou o Museu Britânico, em Londres.

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No Brasil, a Arqueologia também se desenvolveu durante o século XIX e muitos consi- deram o dinamarquês Peter Lund, que morou na região de Lagoa Santa, em Minas Gerais, como o seu fundador. Também a Arqueologia brasileira se dedicou a procurar cidades perdidas, talvez no intuito de provar que os nossos indígenas eram capazes de nos deixar como herança prédios monumentais, como fizeram os Inca, os Maia e os Asteca. A existência de tais cidades nunca foi comprovada, mas a Arqueologia na Amazônia descobriu em locais, como a Ilha de Marajó e a região do rio Tapajós, no Pará, e às proximidades do rio Maracá, no Amapá, objetos cerâmicos muito refinados, exemplos da habilidade e talento de nossos antigos habitantes. O aperfeiçoamento das técnicas e métodos tornou possível aos estudiosos interpretar o modo de vida das sociedades desaparecidas a partir dos objetos escavados. Mais recentemente, os arqueólogos passaram a afirmar também a existência de um papel social em seu trabalho, uma vez que ao reconstruir a memória de um grupo com informações contidas nos vestígios materiais, revive, também, um pouco a história deste povo.


Se existe alguém que trouxe grandes contribuições para a jovem ciência brasileira do século XIX, este alguém foi sem dúvida Peter Lund. Dinamarquês radicado no Brasil, Lund era médico por formação, atuando também em áreas como Botânica e Zoologia. Foi graças ao seu vasto conhecimento em Ciências Naturais que descobriu na região de Lagoa Santa, Minas Gerais, vestígios humanos de até 11.000 anos, além de ossadas de animais da extinta megafauna, como o tigre-dente-de-sabre, o tatu e a preguiça gigante. Além destes achados, Lund também identificou e estudou desenhos rupestres na região. Por tudo isto, Lund é considerado o pai da Paleontologia brasileira e um dos pioneiros da Arqueologia em nosso país.


Historicamente, por boa parte do século XIX e parte do século XX, a Ciência considerou negros e indígenas como biologicamente e culturalmente inferiores. Esta ideia serviu como uma das justificativas usadas por países europeus e não europeus, no domínio de povos da Oceania, África e América, durante todo o seu período colonial. À ideia de que existem povos e culturas superiores a outros, damos o nome de Etnocentrismo.

Etnocentrismo A palavra vem do grego: ethnós (raça, povo) + centrismo e consiste em privilegiar a própria cultura, como modelo do que seria correto, e negar a legitimidade de outras visões de mundo.

No caso dos índios, a primeira medida garantindo algum tipo de proteção data de 1910, depois que o Brasil foi denunciado no XVI Congresso dos Americanistas por massacrar seus indígenas. Neste ano, foi criado o Serviço de Proteção aos Índios, atualmente, Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Alguns anos depois, em 1916, o Código Civil previa que os indígenas estariam legalmente na mesma situação das crianças, ou seja, eram incapazes de serem responsáveis por si mesmos. A Arqueologia de nosso tempo trabalha para desfazer estas imagens que durante séculos foram tidas como verdadeiras e tem conseguido grandes avanços por meio das pesquisas como as realizadas na região amazônica, atestando que, de primitivos e preguiçosos, os antepassados dos nossos indígenas nada tinham. Exemplos disto são os desenhos geométricos encontrados nos campos do Acre. Batizados de geóglifos, estes desenhos só são visíveis a uma altura considerável e sua finalidade ainda é um mistério. Ocorrendo em outras áreas da América do Sul, como o Peru, onde são chamados de “Linhas de Nazca”, estes desenhos atestam que as pessoas que os construíram deviam ter um mínimo conhecimento em Matemática e Geometria, uma vez que estas figuras lembram círculos, quadrados e retângulos. No extremo norte do Brasil, estado do Amapá, encontramos outro bom exemplo da engenhosidade destes ancestrais. No município de Calçoene, semelhante a outros lugares do mundo, como Portugal e Inglaterra, ergue-se um curioso sítio arqueológico, em que grandes

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As Linhas de Nazca são um conjunto de geóglifos localizados no deserto de mesmo nome, região sul do Peru. Esse sítio arqueológico, cuja construção teria ocorrido entre 400 e 650 D.C, é formado por imagens que variam entre linhas simples até desenhos mais elaborados, como aranhas, macacos, baleias e colibris (foto). Desde 1994 é considerado Patrimônio Mundial pela UNESCO.


pedras conhecidas como megalitos parecem se organizar sem uma lógica aparente. No entanto, estudos recentes têm revelado que este local era possivelmente uma espécie de observatório para fenômenos astronômicos, e escavações no local têm encontrado vestígios de carvão, através do qual foi possível obter a datação por carbono 14, determinando idades entre 700 e 1.000 anos para o sítio. Esses são alguns exemplos da inteligência e criatividade de nossos antepassados, principalmente quando nos referimos às populações sedentárias, ou seja, aquelas que já praticavam a agricultura e se fixavam em um lugar para cuidar de suas roças, além de caçar e pescar.

Datação por Carbono 14 A Datação Absoluta pode ser obtida examinando a quantidade de C 14 presente nos vestígios orgânicos, vegetais ou animais, encontrados em um sítio arqueológico. O C 14 é a variação rara de um elemento químico conhecido como carbono, presente em todos os seres vivos e consumido através da respiração ou da alimentação. Quando o ser morre, a quantidade de C 14 vai diminuindo com o passar do tempo. Os cientistas calculam que a cada ciclo de 5.730 anos, um ser morto perde um bocado da quantidade de C 14 que possuía quando estava vivo. Assim, se no exame de laboratório for constatado que um determinado vestígio orgânico já perdeu 3 ciclos de seu C 14, a Datação Absoluta é calculada multiplicando a quantidade de ciclos perdidos (3) pelo valor de um ciclo (5.730 anos), resultando no valor estimado para a idade deste vestígio, que no caso, seria de 17.190 anos.

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Além dos sedentários, outras populações também povoaram a região. Estas populações conhecidas como caçadoras-coletoras, se deslocavam constantemente em busca de alimento e durante muito tempo foram duramente associadas à ideia de primitivo, palavra que, neste caso, refere-se a alguém que vive no mais completo atraso, incapaz de criar ferramentas ou meios suficientemente bons para modificar o mundo ao redor e alcançar com isso uma vida mais confortável. Claro que ao pensarmos em nossas casas, telefones, geladeiras e televisores, nos sentiremos tentados a acreditar que estas comunidades viviam em extrema dificuldade, tendo de se deslocar pelo interior da Amazônia gastando todo o seu tempo à procura de

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Talvez o conjunto de megalitos mais famoso do mundo seja o Stonehenge, localizado na região sul da Inglaterra. Qual povo o projetou e quando foi construído ainda é um mistério, mas os arqueólogos acreditam que, a exemplo de outros conjuntos similares espalhados pelo mundo, era usado na observação de fenômenos celestes.

alimento. Se compararmos o nosso mundo, que valoriza o acúmulo de coisas e objetos, ao mundo dos caçadorescoletores que sequer tinham uma linguagem escrita, ele certamente nos parecerá hostil e pobre, e suas vidas muito pouco sofisticadas. A Arqueologia serve para desfazer essas concepções equivocadas dos povos do passado ajudando a rever ideias ultrapassadas a respeito destas pessoas e da natureza em que viviam. Investigando o ambiente


por onde passaram estes caçadores-coletores, os pesquisadores concluíram que eles sabiam como explorar áreas da floresta nos mais diferentes intervalos de tempo, permitindo uma renovação constante dos meios de caça, pesca e coleta, levando os pesquisadores a crer que estes antepassados já se preocupavam com o que chamamos hoje de meio ambiente.

Arqueologia, constatou-se que parte do que sempre se considerou como vegetação original ou mata virgem, na verdade, vem sendo manipulada há séculos pelos povos que a habitavam, incluindo estas comunidades de caçadores-coletores que manipulavam, adaptavam e transportavam diferentes espécies de vegetais nas suas caminhadas pelo interior da Amazônia.

Quando falamos ambientalismo é impossível não recordar da Floresta Amazônica, “Maior floresta equatorial do mundo” e “Pulmão Verde” são alguns dos títulos que a região ganhou nos últimos anos graças, em parte, aos movimentos em defesa do meio ambiente e que, sem dúvida, ajudaram na criação de algumas ideias equivocadas relacionadas à floresta e seus povos, entre elas, a de que a sua natureza ainda não foi perturbada e que, por isso, deve ser urgentemente preservada para as gerações futuras.

Para os arqueólogos, a presença de vegetação não nativa em algumas regiões, associada a outros vestígios deixados por estes andarilhos, tem sido a prova de que ao contrário do que pensa a maioria de nós, estas pessoas possuíam sim um modo de marcar a sua presença no ambiente, modificando, portanto, a floresta em que viviam.

Não que a floresta não deva ser cuidada. Ela é fonte de muitos recursos naturais, como a maior reserva de água doce do mundo e de espécies vegetais com grande potencial farmacêutico. Além disso, vivem nela diversos tipos de animais e de comunidades humanas, fazendo desta, uma região muito rica em biodiversidade e diferentes culturas. Aliás, são estas culturas que vêm modificando e contribuindo com a formação da Amazônia que conhecemos hoje. No entanto, segundo pesquisas, principalmente da

Tendo em mente que diferentes povos, em diferentes épocas têm modos específicos de construir os objetos que necessitam, podemos perceber que os materiais são diferentes, as tecnologias são diferentes e até as próprias necessidades são diferentes. Sendo assim, é a Arqueologia a ciência que tem os métodos para encontrar esses objetos e desvendar a história do povo que os fez.

Artefato de pedra que servia como machado para as antigas populações. Foto: Mariana Sampaio

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Mas que métodos são esses para encontrar os objetos que explicam a história dos povos do passado? É importante entender que os arqueólogos não estudam os povos do passado e sim os artefatos que esses povos deixaram. É o estudo dos objetos, também denominados como Cultura Material, o campo de atuação da Arqueologia. Junto com outras ciências, a Arqueologia passa a ser a responsável por construir uma narrativa sobre o passado dos povos humanos a partir das coisas que eles deixaram para trás, selecionando objetos com potencial para contar uma determinada história que seja útil para res- ponder questões que precisam ser compreendidas, como: quem eram? Ou como viviam nossos antepassados? Assim, os arqueólogos definem valor aos artefatos de pedra, aos artefatos cerâmicos, de vidro ou de louça, classificando-os e decodificando suas mensagens. Decodificar mensagens e significados das coisas exige um método, no qual, o arqueólogo investiga os objetos no contexto do tempo e do espaço, reconstruindo antigos modos de vida e explicando mudanças nesses modos de vida. Qualquer explicação que venha da Arqueologia sobre uma determinada cultura será baseada nas deduções a partir dos objetos produzidos por essa cultura, mas tais deduções são construídas com base em meios confiáveis e “científicos”. Investigar, no contexto do tempo e do espaço, os objetos descartados por povos que viveram em um passado recente ou distante, significa estudar esses objetos considerando quando e onde foram produzidos, para assim tentar des-vendar quem os produziu. Na Europa, a Arqueologia tem como marco de tempo a invenção da escrita, em que a Pré-História é o

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tempo antes da invenção da escrita; e a História tudo o que o homem viveu depois da invenção da escrita. Nas Américas e, em específico, no Brasil, a Arqueologia tem como marco de tempo o contato com os europeus, onde ficam estabelecidos dois momentos: o período pré-contato e o pós-contato ou Arqueologia Histórica. Os sítios arqueológicos são os lugares onde a cultura material ficou depositada. É nesse lugar que os arqueólogos investigam para tentar entender quem, quando e como viveu por lá. Assim, é possível saber sobre o ambiente dessas populações, interpretando seus modos de vida ou se as populações eram nômades ou sedentárias. A cultura material também pode ser encontrada em sambaquis, que são “montes” formados pelo acúmulo de carapaças de moluscos, peixes, mariscos e areia, ocorrendo em regiões de litoral.

Legislação A legislação brasileira determina que tudo que está no subsolo (minérios, petróleo) pertence ao país, não ao proprietário do terreno. Então, as pesquisas arqueológicas só podem ser realizadas com a autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).


Quanto às etapas do trabalho do arqueólogo, são realizadas em atividades de gabinete, de campo e de laboratório, sempre partindo de um projeto: Etapa I - Diagnóstico O pesquisador deve realizar o levantamento preliminar da área, avaliando os vestígios arqueológicos que ela contém (por exemplo: ruínas de antigas edificações) e, a partir daí, produzir um diagnóstico do patrimônio cultural e histórico envolvido. É o momento da pesquisa utilizando fotos aéreas, mapas e fontes escritas para identificação de relatos de possíveis ocupações humanas na região a ser investigada. Também são realizadas conversas com moradores da área questionando sobre a ocorrência de vestígios como cerâmicas ou ruínas. Nessa etapa da pesquisa não são feitas intervenções no solo.

Etapa II - Prospecção Etapa onde ocorrem as primeiras intervenções no subsolo para possível localização de sítios arqueológicos. É realizada a abertura de poços-teste (intervenção) para identificação de ocupações humanas por meio de vestígios da cultura material (lítico, cerâmico, sambaquis). É sempre importante observar as mudanças de coloração do solo (camadas estratigráficas), onde as áreas mais escuras são conhecidas como “terra preta” e indicam ocupações humanas no local.


Etapa III - Resgate ou Salvamento É o momento da escavação, quando as áreas dos poços-teste, onde foram encontrados vestígios arqueológicos, são ampliadas para a coleta de material. Utilizando métodos ordenados para escavar camadas do solo de forma que seja possível saber o local exato onde cada peça foi encontrada. Esta etapa tem como objetivo entender as formas de ocupação do espaço, interpretando as atividades realizadas no sítio por um determinado grupo no passado. Por meio de grandes áreas de escavação é possível reconhecer a área de preparação dos alimentos (cozinha), a área de confecção de instrumentos de pedra (área de lascamento), a área de enterramento de mortos, a área de descarte (lixeira) e assim por diante. Com estes dados, é possível reconstituir atividades e comportamentos relacionados ao cotidiano daquele grupo de pessoas.

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Sítio do Brejo em Porto Velho-RO. Fonte: Scientia

Estratigrafia Ao escavar um sítio arqueológico é possível identificar as camadas que formam o terreno. Estas camadas (ou estratos) juntas formam o Perfil Estratigráfico. É no perfil estratigráfico que se vê como estes vários estratos foram se acumulando ao longo do tempo. Quanto mais profunda estiver localizada a camada, mais antiga ela será. Estudando o perfil estratigráfico do terreno, o arqueólogo pode detectar a presença ou não de vestígios da cultura material nestes estratos, estabelecendo assim uma idade aproximada para os objetos.

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Oficina de cerâmica é um instrumento muito eficiente para abordar o tema da Arqueologia, apresentando matérias-primas e técnicas de confecção de objetos cerâmicos pelos povos do passado e do presente. Esta imagem é um registro da oficina de cerâmica promovida pelo programa de Educação Patrimonial da ALPA. Foto: Mariana Sampaio

Imagens do trabalho em laboratório . Foto: Raimundo Mesquita. Acervo: FCCM

Etapa IV - Análise do material em laboratório Todo o material coletado no sítio é higienizado (lavado e secado) de forma manual. Em seguida, são selecionadas peças com maior potencial para fornecer informações sobre a população que o confeccionou.

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E para onde vai o material encontrado nos sítios arqueológicos? Etapa V - Ação Educativa É o momento de tornar público os resultados da pesquisa para as comunidades próximas aos sítios arqueológicos pesquisados. Esta publicação que está em suas mãos é um instrumento da ação educativa do projeto de Arqueologia dos sítios arqueológicos pesquisados na área da ALPA.

O local de guarda do material arqueológico retirado dos sítios é definido pelo IPHAN, devendo ser uma instituição reconhecida pelo poder público (museu, casa de cultura, entre outras) mais próxima do local ao qual está inserido o sítio arqueológico estudado. Na região de Marabá, o destino dos achados arqueológicos é a reserva técnica da Fundação Casa de Cultura de Marabá.

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O El Dorado é uma das muitas lendas surgidas durante a colonização espanhola na América e reflete a busca incansável do colonizador por metais preciosos. Esta região mítica repleta de ouro despertou a cobiça de vários aventureiros que tentaram, em vão, localizar seu paradeiro em diferentes pontos da América do Sul, como nesse mapa de 1642, que situa a mitológica cidade dentro do território das Guianas.

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Arqueologia na Amazônia A Arqueologia na Amazônia deve o seu nascimento ao pioneirismo de pesquisadores que, ainda no século XIX, deram início à árdua tarefa de tentar interpretar por meio dos vestígios da cultura material, qual a origem e como se deu a ocupação humana na região. Dentre estes pioneiros, podemos destacar o incansável Ferreira Penna, mineiro radicado em Belém, nomeado pesquisador viajante do Museu Nacional e fundador do Museu Paraense, segundo museu e instituição de pesquisa mais antiga do país. Ferreira Penna notabilizou-se pela escavação e descrição de vários exemplares da cerâmica arqueológica, sendo o grande fundador deste campo científico no Norte do Brasil. Já no século XX, durante os anos 60, a região presenciou o surgimento da Arqueologia Científica, com o trabalho do casal de americanos Betty Meggers e Clifford Evans, que entre outras contribuições, estabeleceu um sistema de agrupamento para diferentes tipos de decoração cerâmica, as chamadas tradições, que são formas de classificação para estes vestígios arquelógicos. Outra contribuição do casal foi a fundação do Projeto Nacional de Pesquisas Arqueológicas na Bacia Amazônica (PRONAPABA), responsável pela formação de toda uma geração de arqueólogos. Na década de 1980, Anna Roosevelt, bisneta do presidente americano Theodore Roosevelt, também atuou na região. Roosevelt contesta as teorias que apresentavam a região amazônica como um local inóspito que dificultaria o desenvolvimento de culturas mais complexas (tese defendida por Meggers e outros pesquisadores). O grande mérito desta arqueóloga foi comprovar que as antigas populações locais além de socialmente muito mais complexas do que se imaginava, ainda eram capazes de realizar grandes obras públicas (por exemplo, os tesos do Marajó), graças ao seu grande contingente populacional.

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Arqueologia no Sul e Sudeste do Pará Na região de Carajás, o pioneirismo das pesquisas em Arqueologia ficou por conta de Protásio Frikel. Na década de 1960, Protásio coletou a cerâmica arqueológica retirada da área ocupada pelos Mebengokré, região do rio Cateté. Este material, analisado mais tarde pelo antropólogo Napoleão Figueredo, confirmou a presença de outro antigo grupo na área, uma vez que entre os Mebengokré não se fabricava cerâmica. A partir das características principais destes vestígios, como a presença de quartzo na argila, o uso do chamote, a técnica de acordelamento na sua confecção e a decoração plástica de textura corrugada, Mário Simões classificouas, na década de 1970, como pertencentes à tradição Tupiguarani. Os Tupi teriam se fixado na região por volta de 250 D.C, sucedendo culturalmente grupos cuja cerâmica corresponde à antiga tradição inciso-ponteada. Ao contrário do que seria possível imaginar, os Tupi incorporaram este elemento decorativo à sua fabricação oleira, como mostram os diferentes vestígios achados na região, que ora registram a típica cerâmica Tupiguarani, ora a cerâmica ancestral inciso-ponteada, suscitando não só a ideia de uma incorporação de elementos culturais, mas também de convivência de diferentes grupos humanos em um mesmo local. Na década de 1980 foi descoberta na região um raro abrigo de caçadores-coletores. Este tipo de descoberta, até então inédita, colocou em dúvida a tese defendida por muitos pesquisadores até então, de que a ocupação humana na região era recente. As datações para os vestígios encontrados nesta localidade, batizada de Gruta do Gavião, atestam a presença de grupos nômades entre 6.350 e 900 A.P. Em outra região, na Serra das Andorinhas, Sul do Pará, pesquisas empreendidas desde 1987 pela Fundação Casa de Cultura de Marabá encontraram vestígios arqueológicos que também atestam a passagem destas comunidades ancestrais. Foram mapeados 84 cavernas e abrigos, dos quais 30 apresentaram vestígios materiais e que, guardando semelhanças com o material resgatado da Gruta do Gavião, comprovam a antiguidade da ocupação humana nesta porção da Amazônia.

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Tupi, Tupiguarani ou Tupi-Guarani? Cada uma destas palavras tem um sentido próprio. Tupi se refere aos povos falantes de qualquer uma das muitas línguas que fazem parte do tronco linguístico Tupi, que é dividido em várias famílias e grupos reunindo línguas com alguma semelhança entre si, como no caso das línguas que compõem a família TupiGuarani. Já Tupiguarani é uma das várias tradições arqueológicas usadas para classificar vestígios de cerâmica encontrados em diversos sítios pelo Brasil. A tradição arqueológica Tupiguarani caracteriza-se, entre outras coisas, pelo uso do vermelho e do preto, do chamote como antiplástico e pela técnica do acordelamento. Portanto, Tupi ou Tupi-Guarani se referem às pessoas que falavam línguas parecidas, enquanto Tupiguarani se refere aos objetos que podem ter sido fabricados por pessoas que falavam ou não estas línguas.


Na região de Carajás e Serra das Andorinhas, a Fundação Casa da Cultura de Marabá tem pesquisado centenas de cavernas ao longo de mais de duas décadas. Pesquisas arqueológicas têm revelado que esses locais serviram de moradia ou abrigo para povos no passado, tanto para caçadores-coletores como para povos ceramistas.

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Alguns resultados de pesquisas arqueológicas na região de Marabá Os trabalhos de Arqueologia na região de Marabá, indicada no mapa, ao lado tiveram início em 2010 e foram realizados pela Scientia Consultoria Cientifica, contribuindo para a descoberta e estudo de 17 sítios arqueológicos, dos quais 7 foram pré-contato ou pré-coloniais (sítios Marabá 9, 10, 11, 13, 14, 15, e 25), 9 pós-contato ou pós-coloniais (sítios Marabá 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22, 23 e 24) e 1 multicomponencial (sítio Marabá 12). Dos nove sítios históricos, cinco são cemitérios: Marabá 12, 16, 17, 19 e 21 (SCIENTIA, 2010a). Considerando que, na Amazônia, a beira dos rios concentra boa parte dos sítios arqueológicos; no mapa, é possível identificar que a maioria dos sítios pesquisados está localizada justamente às margens do rio Tocantins, provavelmente pela facilidade de se estar mais próximo de produtos essenciais para a vida destas antigas culturas, como o pescado e a argila. Com relação ao estado físico destes vestígios, a maioria encontra-se bastante quebrada, uma vez que foram confeccionados com um tipo de cerâmica fina. Este tipo de cerâmica, embora permita um aquecimento mais rápido quando levada ao fogo, não é resistente a

impactos físicos, considerando ainda que este material ficou enterrado durante séculos em uma área que sofreu perturbação natural (como a erosão do terreno) e antrópica (aquela provocada pela ação humana, como o uso do arado, trator e outros). São estas perturbações as responsáveis pelo atual estado físico desses vestígios. No entanto, são esses vestígios, reduzidos muitas vezes, à porções de cacos, que oferecem informações importantes sobre os antigos modos de vida que ocuparam a região. Estas informações estão contidas no tipo de decoração pintada, que pode estar relacionada ao uso de cor ou decoração plástica (que dão textura ao objeto, seja usando as mãos, como no caso do digitado ou do corrugado, seja usando outros objetos para marcar a superfície, como no caso do inciso, que marca a cerâmica com cortes ou do ponteado, que o faz com pequenos furos), nas marcas de queima, nos pequenos desgastes observados ou mesmo no tipo de material que dá o ponto de liga à argila. A seguir, apresentaremos os resultados das pesquisas dos sítios Ma9, Ma10, Ma11, Ma12, Ma13, Ma14, Ma15, Ma20, Ma22, Ma23, Ma 25, localizados nos arredores da cidade de Marabá.

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Vestígios arqueológicos dos sítios pré-contato O material retirado dos sítios pré-contato (Ma9, Ma10, Ma11, Ma 12, Ma13, Ma14, Ma15 e Ma 25) corresponde ao período anterior à chegada do colonizador europeu e possui características típicas da tradição cerâmica Tupiguarani. Com exceção de duas vasilhas encontradas em razoável estado de conservação nos sítios Ma11 e Ma13, a maioria do material se constitui de fragmentos, pedaços de vasilhas fabricadas usando a técnica do acordelamento, em que vários roletes de argila são colocados, uns sobre os outros, até dar forma ao vasilhame. Quanto à composição da argila, foram identificados elementos minerais, vegetais (carvão e cariapé), animais (cauixi, concha e osso) e cultural (chamote). O chamote é o uso de cerâmica triturada misturada na argila com a finalidade de conferir maior consistência à massa. É um dos marcadores culturais da tradição Tupiguarani. A decoração dos fragmentos pode ser dividida em dois grupos: crômicos (com decoração colorida) e a plásticos (com decoração feita por texturas). O estudo destes elementos decorativos também ajuda a identificar a possível etnia a qual pertenciam estes antigos moradores. No grupo que possui decoração crômica, em que predomina a presença do engobo (acabamento feito antes de se aplicar a decoração final) e o uso de cores tanto na parte interna quanto na parte externa dos vasilhames, as mais recorrentes são vermelho, branco, amarelo, laranja e preto, além de combinações entre estas. Já no grupo dos objetos com decoração plástica, as texturas mais notadas são a incisa, a ungulada e a corrugada. Quanto ao uso cotidiano destas vasilhas, os desgastes notados em alguns fragmentos de borda, denotam que parte destes objetos era usada na preparação de alimentos e em outros usos junto ao fogo.

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Fragmentos de bordas e de parede com decoração pintada. Acervo: FCCM

Ma9, 10, 11, 12, 13, 14, 15 e 25

Fragmento de borda vazada. Acervo: FCCM

Fragmento de borda com marcas de rolete e decoração do tipo corrugada. Acervo: FCCM

Borda com decoração plástica do tipo digitada. Acervo: FCCM

Fragmento de parede com decoração corrugada. Acervo: FCCM

Parede com decoração plástica do tipo inciso. Acervo: FCCM

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Vestígios arqueológicos dos sítios pós-contato Nos sítios Ma20, Ma22 e Ma23 concentra-se o material arqueológico pós-contato. Neste conjunto de vestígios é possível identificar vários objetos do nosso dia a dia, tais como louças, papeiro em aço esmaltado, lata de refrigerante, garrafas de vidro, cartuchos de arma de caça e até um alfinete, aproximando o trabalho da Arqueologia de nossas vivências diárias. O estudo destes objetos, sejam fragmentos de cerâmica datados de antes da colonização europeia ou objetos fabricados depois do contato, é importante para construir uma narrativa sobre a ocupação humana na região em diferentes períodos de tempo, e ajuda a desfazer a ideia corrente de populações sucedendo outras populações de modo imediato, mostrando que a história é feita de desencontros e conflitos, mas também de encontros e convivências. A partir do estudo destes vestígios, as pesquisas arqueológicas concluíram que a área situada às margens do rio Tocantins já era ocupada por populações de agricultores há mais de mil anos, fazendo disto, peça importante para a recostrução do passado de Marabá e de todo o Sul e Sudeste do Pará, região que vem sendo ocupada há milênios por diferentes grupos humanos.

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As louças são objetos de cerâmica de uso doméstico. Contudo, existem diferentes técnicas e matérias-primas para a confecção desses objetos, como porcelanas, faianças e grés. Nesta imagem temos, acima, pires e fragmentos de xícaras. Abaixo, fragmentos de faiança. Acervo: Scientia

Ma20, 22 e 23

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Ma 20, 22 e 23

Ferro e peรงa de brinquedo plรกstico. Acervo: Scientia

Alfinete, cartucho de arma de caรงa e cartucho de espingarda. Acervo: Scientia

Lata de refrigerante e papeiro de aรงo esmaltado. Acervo: Scientia

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Ma 20, 22 e 23

Garrafas e frasco de remĂŠdio. Acervo: Scientia

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Para saber mais BARRETO, M.V. Abordando o passado. Belém: Editora Paka-tatu, 2010. ______. A história da pesquisa arqueológica no Museu Paraense Emílio Goeldi. Disponível em: <http://repositorio.museu-goeldi.br/jspui/ handle/123456789/515>. Acesso em: 22 set. 2013. FILIPPO, R. Arqueologia passo a passo. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2011. FUNARI, P.P.A.; PELEGRINI, S.C.A. O que é Patrimônio Cultural Imaterial. São Paulo: Brasiliense, 2008. MAGALHÃES, M.P. O homem das cavernas de Carajás. Disponível em: <http://brasilbrasileiro.pro.br/arq%20amaz.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2013. MILLER, T.O. Usos da Arqueologia na sala de aula. Disponível em: <http://www.fe.unicamp.br/revista/index.php/histedbr/article/ view/3854>. Acesso em: 26 ago. 2013. NEVES, E.G. Arqueologia na Amazônia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. PETIT, P. Chão de promessas: elites políticas e transformações econômicas no estado do Pará pós-1964. Belém: Paka-Tatu, 2003. SCIENTIA. Resgate dos sítios arqueológicos identificados na área da empresa Aços Laminados do Pará/PA: relatório final de Laboratório e Educação Patrimonial. Belém, 2012. 193 p. SCHAAN, D.P. Marajó: Arqueologia, Iconografia e Arqueologia. Erechim: Habilis Editora Limitada, 2009.

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Todos nós devemos atuar na preservação da nossa memória e do nosso patrimônio. Assim, caso um dia encontre algo que considere ser um sítio arqueológico, você pode, e muito, ajudar no trabalho do arqueólogo. • Em primeiro lugar, é muito importante não recolher e nem retirar os objetos, pois, para a pesquisa arqueológica, é fundamental conhecer o local em que os objetos foram encontrados; • Em segundo lugar, não cave, não remova a terra, não retire a vegetação, não escreva ou desenhe sobre a arte rupestre encontrada nas lajes ou paredes de abrigos ou cavernas; • Não jogue lixo na região; • Conte a alguém sobre sua descoberta: seu colega, sua professora, seu supervisor ou outros que possam avisar o órgão responsável pela preservação do sítio arqueológico. Se você quer saber mais sobre patrimônio arqueológico, consulte o site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: www.iphan.gov.br Você pode também visitar a Casa da Cultura de Marabá, localizada no centro de Marabá, para conhecer um pouco mais a história do Pará.

Realização:

Produção:

Foto da Capa: Resultado da oficina de cerâmica promovida pelo Programa de Educação Patrimonial da ALPA em Marabá. A oficina de cerâmica foi ministrada por Neusa Kluk e Sandra dos Santos Silva, integrantes do grupo de ceramistas de Parauapebas “Mulheres de Barro”. Foto: Mariana Sampaio


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