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ENTREVISTA
MARCOS FAVA NEVES 2020: DESAFIO PARA A PECUÁRIA: CONSTRUÇÃO DE MARGENS PARA UMA PECUÁRIA CADA VEZ MAIS COMPETITIVA
Marcos Fava Neves, nascido em Lins (SP), é professor em tempo parcial das Faculdades de Administração da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto e da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Engenheiro Agrônomo formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em 1991, fez toda a carreira de pós-graduação (mestrado, doutorado e livre-docência) em estratégias empresariais e chegou a professor titular da USP aos 40 anos.
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É autor e organizador de 67 livros publicados no Brasil, Argentina, Estados Unidos, África do Sul, Uruguai, Inglaterra, Cingapura, Holanda e China, por 10 editoras diferentes. Fava é também fundador do grupo Markestrat, Centro de Pesquisas e Projetos em Marketing e Estratégia, além da plataforma Doutor Agro de conhecimento. alize uma correta gestão interna da propriedade em termos técnicos, para poder tirar o máximo possível dos recursos que estão sendo utilizados.
Em resumo, como o produtor de carne e de leite não controla os preços de mercado, a construção de margens se dá pela eciência do seu negócio, pelos custos de produção, compras e pela gestão adequada, para produzir sempre mais com menos.
Em relação aos mercados nacional e internacional, em virtude das questões estruturais de crescimento da população mundial, melhoria de renda, crescimento do Brasil, na minha visão, são mercados muito positivos.
Em 2019, tivemos uma explosão no preço da arroba em virtude do mercado de exportação aquecido. Você acredita que o valor da arroba pode voltar ao preço do ano passado e se estabilizar?
2019 foi realmente um ano atípico para a pecuária de corte com a incrível variação no preço da arroba em um curto intervalo de tempo. Isso nunca é bom para os negócios, porque você traz uma instabilidade grande e falta de previsibilidade, que são coisas que prejudicam a parte administrativa.
Logicamente, aqueles preços foram muito altos e o consumo caiu como reexo desse aumento. Na minha visão, a arroba deve car em um patamar mais elevado, principalmente pelas questões estruturais de crescimento que eu mencionei. Portanto, preços de R$ 140, por exemplo, não são mais para serem observados. O patamar será superior a esse valor médio do
Quais os principais desaos e oportunidades para o setor pecuário, tanto para o leite quanto para o corte, quando avaliamos o mercado nacional e internacional em 2020?
Em ambos os segmentos, o desao se resume sempre na “construção de margens”, que, na minha visão, é o principal gargalo de um produtor.
Para isso, é importante que o produtor controle seus custos de produção, entenda a melhor época de comprar produtos e re
ano passado.
Como os novos patamares de preço da arroba do boi vão inuenciar a pecuária de cria nos próximos anos?
O novo patamar de preços incentiva todas as atividades, por isso, provavelmente, a pecuária de cria deve ter um incentivo de crescimento. O que o pecuarista deve tomar cuidado é com a questão da inação nos insumos. Isso não pode existir e vai contra a construção de margens de que eu sempre falo. Pode ser que, ao comprar insumos mais caros, lá na frente o produtor não tenha preço para absorver o aumento de custos de produção. Esse é um ponto para se ter muito cuidado, mas eu acredito sim em um incentivo na pecuária de cria nos próximos anos.
Ano passado, os animais para reposição e fêmeas tiveram alta demanda no mercado, puxados pela alta da arroba. O que podemos esperar este ano para o mercado de reposição? O bezerro continuará em alta?
Eu acredito que sim, o bezerro vai continuar em alta pela necessidade do crescimento da atividade por todo o aspecto estrutural que eu já mencionei e o conjuntural, que é a peste suína africana na Ásia e a nova demanda chinesa e asiática por carne bovina. Na minha visão, esses são pontos que também ajudam no fortalecimento da atividade.
Quais são os principais impactos na arroba do boi e do bezerro com o conito ente Irã
e Estados Unidos? Esse conito pode impactar o preço dos insumos?
Sobre essa questão, eu até já tive uma preocupação maior, até porque o Irã e o Oriente Médio são grandes consumidores de produtos do Brasil, mas, aparentemente, inclusive estou nos Estados Unidos enquanto esta entrevista é concedida (21/01/20), percebo que o assunto sumiu. Eu tenho a Impressão de que a gente passou por essa situação. Mas, claro, não deixou de ser um problema.
Na questão dos insumos, o produtor tem de controlar muito o seu custo e acompanhar a variação dos insumos ao longo do ano. É um jogo diário que, na minha visão, só joga bem quem tem o dado na mão. Então é importante acompanhar o mercado e ter as planilhas de controle sempre em mãos e atualizadas. Em relação ao câmbio, eu não acredito em grandes variações ao longo desse ano. Talvez o dólar que aí em torno dos R$ 4 reais, mas estável. O que é um valor bom para a exportação.
Quando falamos no mercado de inseminação articial, só a Alta cresceu 24% no último ano quando comparado com 2018. Para este ano, como avalia esse mercado?
O crescimento da Alta é realmente impressionante. Eu avalio que o mercado da inseminação articial tem um potencial muito grande no Brasil. Durante muito tempo, eu trabalhei nesse mercado e cava assustado com o índice de uso da IA no Brasil, tanto no leite quanto no corte. Eu acredito muito na continuidade desse crescimento até porque nós vamos precisar de um choque no aumento da produtividade. E esse aumento é uma roda contínua e favorável. Com o aumento na capacidade de investimento, aumenta a tecnicação, a qualidade dos animais e, com isso, traz mais margem ainda.
A infraestrutura brasileira está preparada para comportar toda a demanda crescente de importações e exportações do setor?
A infraestrutura brasileira vai passar por uma grande transformação com o trabalho dos ministérios e com a visão de um governo mais liberal, ou seja, eu cono em uma grande modernização de uma infraestrutura portuária, aeroportuária, hidroviária, ferroviária e rodoviária no Brasil nesse período. Finalmente, o país destravou na infraes-
trutura da logística e todos esses pontos tendem a melhorar para a atividade do agro brasileiro, pela e ciência e competição dos modais de transporte.
A forma mais rápida de aumentar a produtividade é com a utilização de tecnologias. Com a inseminação arti cial, por exemplo, é possível produzir mais, em menos tempo e menor espaço, contribuindo inclusive para a preservação ambiental. Ainda assim, cerca de 90% dos pecuaristas ainda não inseminam hoje no Brasil. Na sua visão, quais as medidas deveriam ser tomadas pelo governo para incentivar a utilização das novas tecnologias para a evolução?
O papel do governo em todas as esferas é a conscientização. A busca pelo conhecimento e a divulgação desse conhecimento perante os órgãos produtores e a cadeia produtiva para que ela aumente o uso da tecnologia. O papel do governo é, tanto na pesquisa, para avaliar os resultados que as tecnologias apresentam e ajudar a divulgar esse conhecimento para os produtores.
De que forma o crescimento de alguns nichos de mercado, onde algumas pessoas não consumem produtos de origem animal, podem afetar a pecuária?
Um ponto que a pecuária brasileira tem que acompanhar é o chamado Plant Based (Produtos produzidos para dietas baseadas em vegetais, com poucos ou nenhum produto animal) que eu tenho visto bastante nas gôndolas
de supermercados americanos e na Europa. São fontes alternativas de produtos para suprir uma necessidade, ou desejo pela carne. O movimento orgânico, por exemplo, tem um espaço, mas eu não acredito que isso seja uma ameaça à pecuária mundial e brasileira, porque ainda tem muita gente que não teve acesso a comer carne e que começou a experimentar agora. Na minha visão, esses nichos de mercado de pessoas que não comem produto animal afetam a pecuária de maneira negativa. É uma situação a ser monitorada, mas não acredito em grande crescimento do mercado.
Que pontos mais importantes destacaria em uma análise para o setor?
Em 2019, as exportações do agro/alimentos/bioenergia totalizaram quase US$ 97 bilhões, 43% do total que o Brasil vendeu ao mundo, deixando saldo de US$ 83 bilhões. Sem o agro, a balança comercial brasileira registraria um dé cit de mais de US$ 36 bilhões, que impactaria negativamente a taxa de câmbio, traria aumento da in ação e consequente aumento da taxa de juros, jogando “por terra” nossa chance de retomada econômica. Em 2019, o valor total da produção agropecuária (o que foi produzido x o preço médio de venda) foi recorde, de quase R$ 631 bilhões, sendo 2,6% maior que 2018. Geramos R$ 411 bilhões nas lavouras e R$ 220 bilhões nas carnes. Imaginemos todas as oportunidades criadas nas cidades com os gastos de parte desses bilhões, vindos do trabalho na terra, em imóveis, automóveis, restaurantes, supermercados, entre outros.
Num mundo onde potências medem forças em diversas áreas, coube ao Brasil se posicionar na geopolítica na nobre missão como fornecedor mundial de alimentos e energias renováveis, contribuindo para o controle dos preços dos produtos e provendo maior acesso da população mundial graças à transferência contínua de ganhos de produtividade aos preços dos produtos.
Continuaremos essa conquista com duas grandes evoluções: no setor público, amplo conjunto de reformas estruturantes que melhorem o ambiente de negócios e a competitividade (previdência, tributária, trabalhista, logística, jurídica, concessões e privatizações, entre outras) e reduzam o peso do Estado na economia, e, no setor privado, a estruturação permanente de projetos de planejamento estratégico por setores, visando entender onde estão as oportunidades, reduzir as vulnerabilidades e ter projetos estruturantes para aumentar o tamanho e rentabilidade dessas cadeias produtivas.
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