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Tabela 4 Quadro apresentando os capítulos originais de Imagem e letra

dos capítulos “Máquina de imprimir” e “O prelo manual”. Porém, como ele foi renomeado para “Composição Fria” e renumerado para capítulo 21, acreditamos que a proposta do autor mudou e que ele seria inserido na etapa de pré-impressão, junto à parte que trata de tipografia. Há ainda o capítulo intitulado de “Acabamento manual”, com apenas notas manuscritas. Abaixo, segue uma tabela dos capítulos, com o seu número de páginas, as etapas do processo produtivo que cada uma contempla e trata diretamente do tema bibliografia descritiva.

Cap. Título

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1 Introdução a gravura 2 Gravura em relevo

Pg Pré-impressão Impressão Acabamento Bibliografia

25 36

3 A xilogravura no Brasil 4 A gravura a entalhe 5 O talho doce no Brasil 45 68 61

6 Gravura em plano 7 A litografia no Brasil 8 Estampas não gravadas 9 Introdução a fotogravura 10 Fotogravura em relevo 11 Fotogravura a entalhe 12 Fotogravura em plano 14 A cor e sua reprodução gráfica 15 Introdução a tipografia 16 Tipos: fundição 17 Tipos: descrição 18 Tipos: classificação 19 Tipos de obra 43 97 11 21 48 21 30 37 36 47 23 22 29

20 Tipos de realce 28

21a Tipos de ostensão

33 21b Composição fria 11 22 Os ornatos e os brancos tipográficos 25 23 Composição manual 32 23 A máquina de imprimir 27 24 Processos [impressão] secundários 6 26 O prelo manual 23 30a Encadernação artesanal 30b O papel 55 31 O produto bibliográfico 1 19 32 O produto bibliográfico 2 28 33 O produto bibliográfico 3 32

Tabela 4 – Quadro apresentando os capítulos originais de Imagem e letra.

Não é difícil notar que Orlando da Costa Ferreira adotou a estratégia de historiar e descrever os processos produtivos da indústria gráfica, incluindo os seus insumos, antes de começar a tratar do produto gráfico em si. Analisou os processos para depois falar dos produtos. Essa estratégia interessa aos trabalhos de memória gráfica, principalmente, por trazer à tona questões usualmente colocadas na invisibilidade e apagadas da história. Do ponto de vista do bibliólogo, a tipografia, a composição manual e a encadernação são fundamentais para a constituição do livro ou de qualquer outro impresso efêmero. De certo modo, o que está apagado da história dos impressos pode retornar pela memória de seus atores, sendo eles homens ou máquinas. Uma memória impregnada na materialidade da produção humana. Outro aspecto a ser comentado é o processo de redescrição que o bibliólogo utiliza para documentar as operações técnicas da indústria gráfica. Nos capítulos referentes ao volume I, sobre a imagem gravada, vemos que, após a reestruturação do texto para publicação, Orlando da Costa Ferreira preferiu tratar das etapas de pré-impressão e de impressão praticamente em paralelo, o que não acontece, com tanta frequência, nos capítulos restantes dos originais. Acreditamos que essa abordagem possivelmente se estenderia a outros capítulos que tem pontos de intercessão relevantes, mas, como o trabalho ainda estava em fase de desenvolvimento, não foi possível para OCF completar essa tarefa.

Os originais de Imagem e letra são um rico repositório de conhecimento. Orlando coletou dados, ao longo de toda a vida, para sintetizá-los nas informações que embasam o seu projeto ambicioso e de grande alcance. Apesar de podermos encontrar trechos desse material nas crônicas de jornal, nos textos publicados e nos verbetes que ele escreveu para dicionários, muito ainda está por ser publicizado. É de suma importância que um trabalho desse porte não se perca, assim como urge que seja publicado e disponibilizado para pesquisa. Não só para o campo da biblioteconomia e da bibliografia, mas também para o campo da história e do design. O enfoque que o bibliólogo utiliza, dando especial atenção à etapa de préimpressão, é especialmente interessante para os pesquisadores interessados em história do design. Ao longo das últimas décadas, com a dominância do Desktop Publishing, essa etapa do fluxo de trabalho da indústria gráfica foi gradualmente externalizada dos

estabelecimentos gráficos e passou a integrar objetivamente o campo de atuação dos designers. (MIRABEAU, 2011)

3 – CRÔNICAS E CRÍTICAS

A partir de 1957, Orlando da Costa Ferreira começou a escrever para os jornais do Recife com textos sobre bibliografia, crítica literária e temas correlatos. Ele continuou contribuindo com crônicas para o Diário de Pernambuco, o Jornal dos Bancários e o Jornal do Commercio até 1964. Nesse período, ele ainda publicou alguns textos no jornal O Estado de São Paulo e nos periódicos O Jornal e Para Todos do Rio de Janeiro. No total, foram 81 textos organizados em um álbum pelo próprio bibliólogo (fig. 35). Esse material foi digitalizado e o texto digitado. Fizemos uma análise de conteúdo por palavras-chave e uma classificação dos temas. Foram catalogados 38 textos publicados no Diário de Pernambuco dos quais 34 foram escritos até dezembro de 1958 − portanto, antes do estágio na Biblioteca de Paris. Todos tratam de assuntos diversos relacionados à bibliografia e às artes gráficas, sendo a crítica literária, a encadernação, a tipografia, a gravura, a impressão offset, a história e a estrutura do livro alguns dos temas recorrentes e presentes nos títulos das colunas. Outros três textos foram escritos antes dessa viagem. No primeiro deles, publicado no Para Todos de janeiro de 1958 e intitulado “Um pintor no limiar do alfabeto”, Orlando da Costa Ferreira faz um elogio ao livro Doorway to portuguese, de Aloísio Magalhães e Eugene Feldman, publicado pela The Falcon Press, em 1957. Outro texto desse período foi o “Renascimento e escrita”, publicado no Suplemento Literário do Estado de São Paulo em 12/4/1958, no qual o bibliólogo trata das relações entre a caligrafia e a tipografia, mapeando um largo período entre o renascimento e os estudos sobre tipografia da Bauhaus. Por último, temos um texto emblemático onde o autor faz uma crítica muito positiva do Dicionário de artes gráficas, de Frederico Porta. Esse artigo, intitulado “Instrumento para os gráficos”, discorre sobre as qualidades do livro e, em certo ponto, afirma que,

o fato é que se, por um lado, havendo despertado bastante tarde para as artes de reprodução, quase que ainda não merecíamos a dádiva generosa desse livro, pelo outro, a urgência dessa codificação se manifesta logo que refletimos, entre outras coisas, sobre o perigo que constitui a contínua importação de termos técnicos (JORNAL DO COMMERCIO, 1958: 39).

Essa afirmativa nos fez verificar como a questão da tradução e da exatidão no uso dos termos técnicos já estava entre as principais preocupações do autor, antes mesmo da sua estada em Paris.

Figura 35 – Página do álbum de recortes de jornal de OCF com o texto “Elogio e defesa da folha de rosto” publicada em 27/10/1957 na coluna Notas sobre artes gráficas do 2o. Caderno do Jornal do Commercio.