Panorama Setorial da Cultura Brasileira

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capacitação em Marketing, tem 70 anos de reflexão e de prática a respeito disso. Isso não existe na área cultural. Assim, as escolas estão procurando seus caminhos de acordo com o que elas absorvem do mercado e isso acontece a partir do contato com os profissionais, com as empresas, com as agências e com os órgãos governamentais. Desses encontros é que saem os inputs e é junto desses players que vamos buscar informações para estruturar esse conhecimento.

PSCB - Hoje temos um cenário de um profissional que busca se qualificar pela sua atuação e que tem dificuldade de encontrar capacitação formal e de qualidade na sua área. Do outro lado, está o investidor, que são as grandes corporações, e que lida diariamente com esses profissionais sem essas bases de formação. Como você analisa essa relação? Gracioso - Não sei se eu estaria sendo justo em dizer que esse profissional está correndo o mesmo risco que as ONGs sérias correm, que é o de serem nivelados por baixo. Normalmente é isso o que acontece quando não se tem critérios de avaliação do trabalho que está sendo feito.

PSCB - Qual a sua visão sobre os mais convencionais mecanismos de investimento em cultura no Brasil? Gracioso - Eu levantaria talvez a questão de como no Brasil é difícil investir em qualquer coisa. Além, é claro, de um outro ponto principal, que é a falta de reconhecimento da importância desses investimentos. Não existe nenhum benefício para aquele que se dispõe em colocar dinheiro do seu próprio bolso para investir em cultura. É o mesmo caso da educação. Não existe nenhum benefício para alguém que queira investir em escolas. Temos como referência nessa área os investimentos privados em universidades nos EUA, que talvez seja o país mais bem sucedido nesse quesito. Acredito que por um lado, isso se deva aos costumes do Brasil, mas principalmente pela falta de incentivo.

PSCB - Mas não podemos nos esquecer das grandes corporações que utilizam mecanismos de lei de incentivo que possuem a sua contrapartida. E este é o principal mecanismo de investimento cultural no Brasil. Gracioso - Infelizmente, acho que se as leis de incentivo não existissem, nem o que temos hoje seria feito. Talvez devêssemos discutir se o escopo previsto na lei Rouanet deva ser ampliado de forma que pudesse prever outros tipos de investimento e de contrapartida. Afinal, o aspecto financeiro é importante em qualquer lugar e vai ser sempre argumento de negociação. Do outro lado, as empresas brasileiras só têm utilizado esse tipo de investimento pra ajudar a criar sua imagem de marca, fazer o branding da empresa de dois ou três anos para cá. A falta de valorização deste investimento por parte das próprias empresas, muito se dá em razão do público brasileiro não perceber o valor destas ações. As pessoas não se dispõem a optar por marcas que investem em cultura, em detrimento das que não investem.

PSCB - Você coloca um cenário de falta de valorização do investimento em cultura tanto pelo público consumidor quanto pelas empresas que não veem esse investimento como benefício na construção de sua marca. Do outro lado, falamos de um crescimento do mercado cultural e de um processo de profissionalização dos profissionais desta área. A mudança deste cenário, então, seria uma questão de tempo? Gracioso - Acho que as empresas vão olhar esses benefícios de construção de imagem 45


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