Arquitetura hospitalar: O estudo da importância cor nas relações de humanização dos ambientes hospitalares
Aline Soares Rodrigues – arqalinesr@gmail.com
Pós-Graduação em Design de Interiores Instituto de Pós-Graduação - IPOG Goiânia-GO, 14 de setembro de 2022
Resumo
O artigo aborda a importância do uso adequado de cores para promover o processo de humanização dos ambientes de saúde. Geralmente o paciente ao estar dentro de um estabelecimento de saúde podem desenvolver sensações relacionadas de apreensão, medo, estresse etc, onde se torna mais urgente a necessidade de ambientes humanizados. Este trabalho apresenta como objetivo realizar um extensa reflexão da necessidade do uso da cor dentro dos aspéctos de design de interiores, para dentro dos estabelecimentos de saúde contribuindo para maior conscientização do valor da cor no processo de cura. Este é um estudo de revisão bibliográfica, onde foram utlizados fontes referências teóricos, análises observando fotos retirados da mídias digitais dos ambientes internos dos estabelecimentos de saúde de atendimento para comparações no artigo. Como resultado da pesquisa foi possível comprovar que a cor faz sim diferença nos ambientes interiores da arquitetura e influencia beneficamente nos usuários dos hospitais, diminuindo níveis de ansiedade e depressão. Conclui-se então que a preocupação das cores nas arquiteturas dos hospitais e clínicas com a humanização é sim importante e tem que fazer parte do investimento de melhorias.
Palavras-chave: Arquitetura. Hospitalar. Cor. Humanização. Ambiente.
1. Introdução
O Brasil sofre com uma crescente crise na saúde, sendo os problemas dos mais comuns no século XXI é a depressão e a ansiedade para os pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde, personagens propícios no desencadeio desses e outros problemas de saúde, pois interfere na diminuição do sistema imunológico do ser vivo.
Nos estabelecimentosde saúde em geral, onde é considerado lugar sério, que sempre exige o seguimento à risca de normativas e protocolos de biossegurança. Com a promoção constante em segurança biológica a todo paciente, acompanhante e funcionários que diariamente frequenta estes locais.
As cores já fazem parte da arquitetura destes locais, como sinalizações para indicações de risco em cada setor ou ambiente, como mapa de risco (tabela 01), classificação de risco (figura 01) e sinalização de solo (tabela 02). O mapa de risco é usado para sinalizar um ambiente em específico, para indicar o grau de risco que a função daquele ambiente oferece. A classificação de risco é usada para separar pacientes, após um processo de triagem no próprio hospital, conforme o seu grau de
urgência para um atendimento. E a sinalização de piso são adesivos em formato de linhas instalados no piso com o intuito de ser um percurso que pode guiar o paciente ou acompanhante para o departamento hospitalar em que deseja chegar, exemplo, da recepção até o laboratório de análises clínicas.
Tabela 01: Tabela de mapa de risco, usada para sinalizar os ambientes e orientar a pessoas.

Fonte: https://www.fclar.unesp.br/#!/instituicao/administracao/cipa/legislacao/mapa-de-risco/ Acesso em: 14/09/2022, ás 13:00h
Tabela 02: Tabela de classificação de risco onde é usado para separar os pacientes por risco de vida.
Fonte: https://www.sulinfoco.com.br/hospital-sao-jose-implanta-sistema-de-classificacao-de-risco-dospacientes/ Acesso em: 14/09/2022, ás 13:00h.

Fonte:
Recentemente tem-se falado muito sobre a humanização dos espaços. Este assunto é muito importante no processo de cura dos pacientes, da recepção dos acompanhantes e da qualidade de trabalho dos funcionários.
São locais recebe com frequência pacientes com diversas patologias de doenças, onde dependendo do grau é constantemente motivo para gerar estresse e depressão. Em paralelo tem os funcionários, onde se não trabalharem em um ambiente saudável, podem levar também a processos de doença, causados por pressão, protocolos, atenção ao paciente constante, onde somados a trabalhos por longas horas, podem causar exaustão mental, estresse e depressão. Geralmente esses locais acabam-se tratando o paciente muito mais o físico do que o emocional e o funcionário muito mais a competitividade e sendo de urgência do que o emocional.
E é onde a Cor nos ambientes internos hospitalares entram. O artigo traz como metodologia um convite para outra visão sobre a cor na arquitetura hospitalar. Ela como meio de transformação do ser que o observa, muito além de concepção da arte, mas sim como finalidade seus efeitos positivos na psicologia. Esse novo pensamento recebe o nome humanização, e a arquitetura usa seus meios, como uso da cor para tentar alcançar esse objetivo.
Com o avanço da ciência e da pesquisa sobre o assunto unindo as cores com o conceito de humanização, o profissional de Design de Interiores precisa ter o estudo aprofundado das cores e o funcionamento cerebral em relação a ele, para assim tornar mais assertivo e menos subjetivo as suas escolhas.

2. Desenvolvimento
2.1 Referencial teórico
2.1.1 A cor e a arquitetura
A cor e a arquitetura sempre andam juntas. Independentemente da tipologia da arquitetura, sempre existe uma gama de cores para um tipo e linguagem que deseja passar. Percebe-se que a cor não está somente em tintas, mas nas superfícies, sendo lisas ou rugosas.
Infelizmente, a arquitetura moderna no século XX estava mais preocupara com a forma do que com a cor. Conforme relata Fraser (2007, p. 76):
No início do Século XX, quando arquitetos como Adolf Loss (1870-1933) e Le Corbusier (1887-1985) começaram a criar edificações que se tornaram emblemáticas do movimento moderno, não havia lugar para a acor por suas razões. Primeiro, os arquitetos do movimento moderno queriam distanciar-se do que viam como cores mal empregadas. Segundo a forma de muitos edifícios modernos podia se enfatizada usando apenas o branco.
Fraser quis dizer em sua citação, que os profissionais arquitetos perderam a preocupação com a cor na arquitetura, parecendo nesse contexto que o branco é o suficiente. Sendo aí uma questão de preocupação maior em enfatizar a forma final arquitetônica, talvez participando em um sistema de competitividade para elevar o seu nome e sua importância nas mídias e nas pessoas.
Na arquitetura hospitalar, a forma arquitetônica, por mais esplendorosa que seja, pouco importa se a função como finalidade principal a humanização não for atendida. Pode se abusar do branco e cores monocromáticas (como o cinza), se a recepção for pequena, apertada e sem uma ventilação adequada, como na figura 02, com a representação exemplificadora de uma recepção, como a do Hospital São Judas Tadeu em Minas Gerais, a sensação que passa é de um lugar pouco convidativo e confortável, em contraposição a uma recepção trabalhada na proposta de humanização como, por exemplo, uma recepção do Centro de Reabilitação Sarah Kubitschek no Distrito Federal uma das paredes de vidro, para uma visão de um jardim com um pelo paisagismo e uma brinquedoteca cheia de cores e itens interativos e coloridos para as crianças dos adultos, como na figura 03

14/09/2022, às 20:35.
2.1.2 Natureza cientifica da cor
A cor é vista como forma de um estudo físico de sua formação e funcionamento. Com esse entendimento, percebe-se como ele é catalogado e percebido pelo corpo humano.
Segundo Pedrosa (2013, p. 20) “A cor não tem existência material, [...], é a sensação provocada pela ação da luz sobre o órgão da visão” (PEDROSA 2013, p. 20). Sendo assim “os estímulos que causam as sensações cromáticas estão divididos em dois grupos: os das cores-luz e o das cores-pigmento” (PEDROSA 2013, p.20).
As ideias apresentadas por Pedrosa nos fazem entender que na arquitetura, a luz no entendimento da cor por quem enxerga, tem um papel essencial de transformação. Existem materiais de construção e de decoração que possuem cor própria e natural sem precisar de pigmentos artificiais. Tomando a obra mais bela ainda.
“A cor-luz (luz colorida) é a radiação luminosa visível que tem como síntese aditiva a luz branca” (PEDROSA 2013, p.20). O arquiteto pensa na cor enquanto luz como parceiro essencial para os projetos de hospitais. A ação da luz natural ou artificial sobre as superfícies mudam a sua tonalidade de acordo com o grau de incidência sore o objeto. A luz natural aliada a uma arquitetura de interiores hospitalar com paredes ou materiais com cores consideradas alegres potencializam a sensação de bem-estar e tranquilidade no paciente ou funcionário.
“A cor-pigmento é a substância material que, conforme sua natureza absorve, refrata e reflete os raios luminosos componentes da luz que difunde sobre ela” (PEDROSA 2013, p. 20). O arquiteto pensa na cor enquanto de cor pigmento, na matéria construtiva, não somente a tinta em si. Valorizar os materiais com suas texturas naturais deixam o ambiente ainda mais com sensação de conforto, pois remete a ambientes talvez familiares do paciente ou funcionário.

2.1.3. Noções sobre a natureza e psicologia das cores
Farina no seguinte trecho nos mostra que o maior segredo sensorial que a cor proporciona de quem o observa seja da referência da natureza:
É uma preocupação antiga do homem desejar sempre produzir o colorido da natureza em tudo o que rodeia. Isso compreende um profundo psicológico. Parece ser exatamente uma das necessidades básicas do ser humano, que se integra nas cores como misterioso catalizador, do qual brota energia para um dinamismo sempre mais crescente e satisfatório (FARINA, 1986, p. 22).
Farina quis dizer em sua citação que o homem em muitas situações e escolhas tenta reproduzir ou até mesmo se aproximar da natureza, sendo que esse interesse pode vir muito mais inconscientemente do que a conscientemente do homem, pois elementos que remete a natureza aciona nos cérebros partes responsáveis dos sentidos, das boas memórias e substâncias de prazer e satisfação.
Segundo Lins (2010, p.10) “A cor aproxima a arquitetura das pessoas. Tem um efeito imediato e dirige-se ás emoções [...]”. Ela transpassou do aspecto simplesmente decorativo para o terapêutico. É vista como uma linguagem, onde ele se comunica com as percepções do ser humano. Ela estando no contexto da arquitetura não faz diferente em seu papel. Mexe com o sentimento, com a percepção, com o estado mental. Como completa Linz (2010, p.10):
A psicologia estudou ao pormenor os efeitos diretos da cor. Esta pode revestir-se de uma importância particular para a função de determinados edifícios. As escolas e as creches, os hospitais, bem como as fábricas, são localizações típicas para a sua aplicação [...] Precisamos porque a cor é um sinal forte, que relega outros elementos para um segundo plano, exige uma utilização delicada. A má escolha de um esquema de cor pode ter um efeito desastroso. Consequentemente, a arquitetura “sem cor” pode ser por vezes, expressão de uma certa perplexidade de uma prudência exagerada. [...]. (LINZ, 2010, p. 10).
Linz quis dizer que a cor provoca reações no psicológico do observador e por isso têm sido objeto de estudo na psicologia. E ressalva a grande responsabilidade que a arquitetura tem com as cores, pois não só as formas impactam o observador, mas sim a cor tem peso maior pois envolve os sentimentos.
Farina (1986, p.22) nos diz que “A tendência dos mais sensíveis arquitetos e decoradores da atualidade é colorir um pouco mais o mundo para quebrar mais os frios deprimentes os espaços cinzentos”.
Farina completa que “Segundo a teoria da Gestalt, a percepção humana é um conjunto coordenado de impressões e não um grupo de sensações isoladas”.
Em um hospital, diversas impressões ruins são bombardeadas aos usuários constantemente, pois se afasta de sua real natureza. Para conseguir essa reaproximação e amenização dos conflitos internos do usuário é necessário o uso da cor aliado a preceitos de humanização.
Guimarães acredita na cor como signo:
A aplicação intencional da cor, ou do objeto (considerando-se) a sua cor), possibilitará ao objeto (considerando-se a sua cor), possibilitará ao objeto (ou estímulo físico) que contém a informação cromática receber a denominação de signo. Ao considerarmos uma aplicação intencional da cor, estaremos trabalhando com a informação “latente”, que será percebida e decifrada pelo sentido da visão, interpretado pela nossa cognição e transformada numa informação atualizada. [ ]. (GUIMARÃES, 2004, p. 15).
Guimarães (2004, p 19) acredita que “[...] nesse processo informacional, a percepção visual desempenha um papel de grande relevância, e é por meio do “comportamento” do aparelho óptico e do cérebro que alguns aspectos da cor são decodificados.”
O cérebro humano tem a capacidade de receber a cor com a recepção de estímulos, processar os códigos por meio de suas estruturas internas e assim finalizar a interpretação com o contexto histórico ou cultural que a pessoa carrega dentro de si.
Compreender esses dois hemisférios (cérebro e cultura) na elaboração de um projeto de interiores de um ambiente hospitalar é de suma importância para promover maior conforto para o usuário do lugar. Ambos andam juntas, primeiro, o cérebro promovendo estímulos, que em um contexto holístico podemos comparar com as ações do “inconsciente”, que é a reação que o corpo perante o contexto, e segundo a bagagem cultural do usuário, que pode usar a informação para o “consciente” (no contexto holístico), dando a justificativa para o contexto.
O processo é iniciado pela recepção da imagem pelo olho, onde toda uma estrutura trabalha intensamente para receber e processar as imagens e levar os estímulos para o cérebro, como na figura 04
https://www.infoescola.com/anatomia-humana/visao/

Guimarães complementa:
Em condições normais, a visão à distância exige menos esforço que a visão dos objetos mais próximos. Quando o olho recebe a luz do ambiente e a projeta sobre a retina, a córnea efetua a maior parte da refração necessária para a formação da imagem. No entanto, essa refração tem poder dióptrico constante e a precisão de foco da imagem só é possível devido à capacidade do cristalino de alterar sua convexidade. A tendência natural do cristalino é manter a sua forma mais convexa e que exige maior esforço dos músculos ciliares que, por sua vez, provocam menos tensão sobre os ligamentos que envolvem radialmente o cristalino e o prendem aos músculos ciliares. Assim quando exigida a visão de perto (maior poder dióptrico), o sistema nervoso parassimpático (aquele cujos nervos partem diretamente do sistema nervoso central) estimula os nervos que contraem os músculos ciliares, os ligamentos são afrouxados (como um esfíncter) e a convexidade do cristalino aumenta. De forma inversa, quando é exigida a visão de longe (menor poder dióptrico), há a inibição dos estímulos parassimpáticos, o relaxamento dos músculos ciliares e o consequente tensionamento dos ligamentos, tornando o cristalino menos convexo. Sendo assim, pode-se afirmar que a visão mais repousante é aquela que se volta para os objetos mais distantes, propendendo ao infinito. (GUIMARÃES, 2004, p. 2425).
Com a citação de Guimarães, entende-se que o processo da imagem por meio das estruturas do olho gera muitos esforços e que em consequência, gera pequenos desconfortos. É importante ressaltar essa informação, pois parte do processo da cura, é iniciado no processo de especificação da arquitetura e do design de interiores. A escolha da cor chega na preocupação com os esforços físicos que o observador vai ter. O objetivo final é sempre promover sensações de tranquilidade, descanso, paz e equilíbrio para o paciente em tratamento.
Sabendo que a bagagem cultural faz parte do processo, o uso da cor não se limita somente a pintura de paredes, mas pode se estender a materiais de acabamento lisos e rugosos, objetos de decoração e até mesmo o contato com elementos de natureza, como a luz e paisagismo, como diz Guimarães:
Os objetos do nosso mundo sensível, particularmente os cromáticos, guardam latente a sua manifestação, que é levada aos olhos pelos fluxos de feixes luminosos. A luz atinge todos os objetos que, por sua vez, refletem inúmeros feixes luminosos em todos os sentidos. Todo o espaço tridimensional é ocupado por vetores luminosos que carregam as informações visuais dos objetos. Para o homem, parte desse espaço será revelado pela projeção dos feixes que atingirão as pupilas dos seus olhos. Assim, de todas as possibilidades do mundo sensível, apenas uma área de quase 180 graus será percebida, e é ela que compõe o seu campo de visual. [...]. (GUIMARÃES, 2004, p. 22).
O estudo da cor em um ambiente hospitalar tem que ser analizada levando em consideração onde será aplicada, mas também a relação que elea exerce em conjunto com outras cores.
Guimarães (2004, p.38-39) relata que “a percepção retinal da cor é estruturada em binariedades. Para cada cor, o seu oposto. Para o vermelho, verde; [ ]um estímulo
cromático prolongado [...], que “solicitam” o retorno ao equilíbrio”
2.1.4 Humanização dos estabelecimentos de saúde
Com o avanço da história, tem se observado várias mudanças nos processos de tratamento de pacientes nos estabelecimentos de atendimento a saúde. Sendo a valorização “centrada no usuário, que passa a ser atendido de forma holística, como parte de um contexto, e não mais como um conjunto de sintomas e patologias [...]”(ZAMBRANO 2004, p.59)
O Ministério da Saúde, em seu caderno nos dá a sua compreensão de humanização:
(...) a Política Nacional de Humanização compreende e define a humanização – como efeito concreto de relações entre sujeitos e coletivos, cujo encontros, diferenças, paixões e desavenças os tonam mais potentes, mais sensíveis ás necessidades uns dos outros e mais dispostos a novos encontros. (HUMANIZASUS, 2015, p. 22).
Sobre o contexto histórico, Menezes cita:
No período que se estende da Antiguidade a Idade Média, a assistência aos enfermos era prestada em caráter oficial por sacerdotes das ordens religiosas ou por leigos que praticavam uma medicina popular, [...]. A medicina oficial, por sua vez, desenvolvia-se no interior dos mosteiros ou em anexos construídos com essa finalidade, sempre como atividade secundárias obrigações de caráter religioso e assistencial [...].
Somente a partir do século XVIII, quando a doença passa a ser reconhecida como fato patológico (Mignot, 1983:224) [ ]. Nesse contexto, as questões funcionais e espaciais tornam-se mais importantes, contribuindo para aperfeiçoar os processos projetuais das edificações hospitalares [...]. (MENEZES, 2004, p. 93).
Menezes na sua citação traz à tona o que era a realidade no passado, onde a preocupação com a humanização era mais um contexto religioso do que científico e tecnológico, mas que com o passar dos séculos a realidade foi mudando, o hospital passa a ser um contexto de aproximação familiar, como defende o autor:
As tentativas de humanização do atendimento hospitalar podem ser encaradas como uma reação recente à hegemonia do hospital tecnológico e vem sendo levadas a efeito com diferentes graus de profundidade e abrangência:
- [...]
- Pelo surgimento de diversos movimentos que propõem a humanização do ambiente hospitalar, melhorando as condições de conforto para pacientes e acompanhantes, por meio da maior atenção às áreas de espera, consultórios, enfermarias e descanso de funcionários, e também pela adoção de tratamentos arquitetônicos diferenciados, inclusive no que se refere ao uso de cores, especialmente nos hospitais infantis, maternidades e hospitais geriátricos, nos quais os espaços começam a ser tratados de forma a reproduzir, sempre que possível, o ambiente familiar. (MENEZES, 2004, p. 93).
A noção de que o hospital pode e deve ser um instrumento destinado a curar aparece claramente em torno de 1780, com o surgimento de uma nova prática: a visita e a observação sistemática e comparada dos hospitais (Foucault, 197,.99). (MENEZES, 2004, p. 94).
Em sua generalidade, trazer o ambiente familiar para dentro de um estabelecimento de saúde pode ajudar a reduzir estresse e depressão para os pacientes, e a cor tem um papel importante nesse processo. Usada adequadamente, e em conjunto com outras composições material e espacial, tentando trazer sensação de conforto para o paciente, onde ele possa se sentir como se estivesse em seu lar, mesmo que em condição de doença, torna o sofrimento mais suportável, pois o mesmo está recebendo estímulos sensoriais via cerebral em conjunto com experiências culturais.
“A arquitetura em forma de ciência social aplicada, investe cada vez mais na utilização de métodos interdisciplinares na investigação dos seus fenômenos, principalmente os utilizados nas ciências e [...] na psicologia social.”. (ZAMBRANO 2004, p.59).
Alves cita que:
É necessário que se estabeleçam parâmetros para a concepção e implantação de EAS (estabelecimentos de Assistência à Saúde), projetados para oferecerem cuidados de assistência à saúde, utilizando tecnologias adequadas a realidade brasileira, otimizando custos e tempos de construção, flexibilizando seus programas e possibilitando, por meio de sua disseminação, aumentar a oferta de serviços e alcançar maiores parcelas de usuários, sempre carentes desse tipo de atenção, na promoção da saúde. [...] No entanto, nos dias de hoje, o termo saúde tem um significado muito mais abrangente e está ligado as premissas que definem qualidade de vida. Sob essa nova ótica, os parâmetros que indicam uma vida saudável incluem a capacidade do ser humano de usufruir educação, cultura, trabalho, bem-estar em todos os níveis e de usufruir de uma vida produtiva e com qualidade. (ALVES, 2004, p. 77).
Alves está convencido que a promoção do processo de humanização é de suma importância, e ainda complementa que se estende para a arquitetura:
Torna-se igualmente necessário repensar formatação da estrutura física de estabelecimentos de assistência á saúde, para que estes possam atender ao novo perfil das atividades de cura e de promoção as saúde, e que incorporem, em seus projetos, flexibilidade, adequação ao clima e especificidades locais aos seus sistemas construtivos, agregando também a humanização dos seus espaços, para que a sua conformação tenha um impacto positivo na redução do tempo de permanência na instituição e na qualidade do tratamento dispensado aos usuários. (ALVES, 2004, p. 78).
Os projetos arquitetônicos do hospital do futuro implementam, com o desenho e a concepção dos seus ambientes, a agilidade no processo de cura, a facilitação da incorporação tecnológica e a presença do conforto ambiental, estabelecendo espaços que integram o paciente com a natureza e que embasam a nova abordagem de assistência à saúde, centrada no paciente como um todo e na integração do seu bem-estar físico, psicológico e espiritual. (ALVES, 2004, p. 88).
Alves toca em outro ponto que é importante ressaltar, a integração da arquitetura com a natureza, para que o usuário, inclusive o paciente consiga ter esse contato. O homem desde antes a era das cavernas esteve em conexão com a natureza, então ele está inserido no cotidiano do ser humano. Suas cores estão presente no paisagismo e na iluminação natural. O contato com a natureza trás sensações de familiaridade, e o contato com a iluminação natural trás regulação do círculo
circadiano, ambos permitindo fluir o que a sociedade chama de rotina normal do corpo humano, podendo contribuir no processo de cura.

Abaixo dois exemplos do que o artigo vem tratando até aqui, nas figuras 05 e 06, onde são imagens retiradas em sites para fins de somente análise, são salas de internação com duas características Na figura 05 tem em vista tons neutros de madeira e bege em sua arquitetura e mobiliário, sendo o azul somente os tecidos que cobre a maca; e sua esquadria da janela ocupa uma parte da parede com a persiana semifechada Na comparação da figura 06, tem em vista a predominância da cor branca, mas com a quebra do concreto aparente no pilar e teto e em detalhe tem uma poltrona em azul escuro; sua esquadria da janela ocupa um espaço de um vão inteiro Quando a análise é comparativa, percebe-se que as sensações geradas são diferentes, podendo ser bom ou ruim dependendo de questões comportamento e cultura do usuário
Em uma avaliação geral, a figura 06 consegue alcançar melhor o que o artigo falou sobre a importância da cor no processo de humanização, pois há no ambiente melhor entrada de luz natural, melhor visualização panorâmica com a natureza, cores contrastantes entre os materiais e iluminação indireta por meio da marcenaria atrás da cama.
Fonte: https://www.archdaily.com.br/br/939665/hospital-publico-de-emergencia-de-sao-bernardo-do-

2.2 Metodologia
O método adotado para desenvolvimento do artigo foi uma extensa pesquisa bibliográfica e união de perspectiva de diversos autores sobre ao que diz respeito a relação das cores com o contexto de humanização hospitalar. A fim de explanar a importância de um estudo aprofundado da cor por parte de quem especifica em um projeto ou consultoria, ou seja, profissional de arquitetura ou design de interiores. O levando por meio da leitura a compreender que não é somente escolha da cor por questão de gosto, mas sim, por questões técnicas. Sempre com o objetivo final, auxiliar no processo de cura do paciente.
2.3 Relação entre cor e ambiente hospitalar
Após essa explanação bibliográfica, será exposto aqui a união dos assuntos do artigo.
Matarazzo (2010, p.82) diz que “[...] é, nesse sentido, de minimizar as emoções negativas e o stress que as composições cromáticas vêm sendo aplicadas no ambiente hospitalar.”
É importante que esse discursão seja incorporado no meio profissional no desenvolvimento de projetos.
Sobre a questão das cores no contexto histórico, Matarazzo conclui:
A literatura sobre o histórico do emprego das cores, na arquitetura hospitalar, especificamente, é escassa e dispersa, de maneira tal, que falar sobre esse assunto se torna um desafio, tornando complexo saber como as cores eram usadas, com quais finalidades, e quais eram os métodos de composição para o ambiente hospitalar. Já a relação entre cor e saúde pode ser encontrada em várias disciplinas e possui uma considerável literatura. O que a história nos mostra é que a saúde e a medicina estiveram sempre cercadas por mitos e técnicas de cura, por meio dos possíveis poderes da cor. (MATARAZZO,2010, p. 142)
Enquanto Menezes fala que no começo da história hospitalar, o processo de humanização é com base em preceitos religiosos, Matarazzo fala dos possiveis poderes da cor. Atualmente existe estudos de neurociência, onde cientistas estudam o comportamento humano e conjunto com o funcionamento do cérebro em relação as cores, como parte mencionada nas citações de Guimarães. A tecnologia desde que para o bem é sempre estimuada a agregar no desenvolvimento de soluções do processo de cura.
“A luz refletida das cores, dos materiais e das superfícies pode ser descrita por características de sensação ou aparência, percebida pelo observador como sombria, morna, fria, saturada, etc.[...]” (MATARAZZO 2010, p.106).
Matarazzo reforça que:
As cores ou composições cromáticas, em um hospital, estão presentes em todo o espaço visual; desde os uniformes, equipamentos, até obras de arte e mobiliário, e juntamente a outros elementos arquitetônicos, compõem o espaço. Ela, no entanto, não serve somente como um elemento estético ou decorativo em um ambiente; pode desempenhar outras funções, como a de prover informação como, por exemplo, a orientação das circulações e a setorização das áreas em um hospital. (MATARAZZO,2010, p. 148)
As composições cromáticas para ambientes hospitalares são esquemas complexos e dependentes de outros inúmeros fatores externos. Assim, constata-se que não é possível falar em cores ou esquemas únicos, padronizados e delimitados.
Verificou-se que o sucesso ou fracasso do tratamento terapêutico de cura é fortemente influenciado pelo estado do paciente (físico, social, psicológico, emocional) e pelas relações por ele estabelecidas no ambiente e com o ambiente, por sua vez, verificou-se que esses estados são impactados pelas composições cromáticas do ambiente. Também se constatou que o desempenho das atividades desenvolvidas, no ambiente hospitalar, possui relação estreita com as cores, principalmente, com o conforto visual e a ergonomia proporcionadas por elas. (MATARAZZO,2010, p. 195)
A autora resume o que foi tratado em todo o artigo, existe diversos estudos sobre as cores, das explicações holísticas até a neurociência. No passado não se tinha esses registros como um fator importante, mas no contexto atual, foi cada vez mais sendo incluso no processo de humanização dos estabelecimentos de saúde
A escolha da cor vai depender de cada necessidade, de cada exigência emocional que o ambiente vai precisar, de quanto tempo o paciente pode passar no local, ou seja, diversos fatores. Isso é bom, pois a humanização não é execução padrão para ser repetido em todos os ambientes, cada necessidade é um caso, por exemplo, pode
ser que a cor vermelha, que é uma cor estimulante, pode ser boa sendo aplicada em pacientes com depressão, mas não é boa se os pacientes sofrem com ansiedade. O profissional, através de um estudo interdisciplinar para auxílio, pode dosar as cores, para assim conseguir contribuir com o processo de cura.
O processo de cura e o equilibrio tem que acontecer da chegada do paciente, até a sua saída, ou seja da entrada principal, passando por todo o percurso, todas as salas onde vai receber tratamento até sua saída. Um simples corredor, por exemplo, tem que ter composição de cores e elementos de humanização, é ele que vai guiar os usuários até as salas de consulta, exames, terapias ou internação. Até o destino final daquele corredor, pode acontecer no paciente sensações de ansiedade e gerar tensões corporais.
3.0 Conclusão
Foi apresentado no artigo que a humanização com auxílio da cor não precisa ser somente uma tinta na parede, ela pode estar em todos os lugares, desde mobiliários, pequenos utensílios, até o externo que é a iluminação natural, um paisagismo, por exemplo, é uma vista com efeitos relaxantes, para remeter a natureza. Não é difícil conseguir isso para os estabelecimentos de saúde. Muitas vezes, um bom planejamento e real preocupação com o ser vivo que está sendo atendido e tratado neste local, podem ser executados com menores ou mesmos custos de decisões que pode ter sidos feito sem muitos critérios, como na escolha da cor de uma tinta para parede ou tecido.
A ciência cada vez prova que cada escolha que o profissional faz na escolha da cor pode interferir na qualidade de desenvolvimento de cura do paciente e do estado de temperamento do usuário que trabalha ou acompanha o paciente.
Com a constante polarização do conhecimento, é necessário atualizações por parte do profissional para melhor especificação em projeto.
O conforto visual é imprescindível para ambientes de saúde, os critérios devem sempre serem voltadas para o equilíbrio e o auxilio para o processo de cura e bem estar do paciente e extentendo a pessoas como os acompanhantes, funcionários e terceirizados do hospital. O grande beneficio é que todos saem ganhando quando as escolhas e a gestão de humanização é feita com critério e responsabilidade por todos os envolvidos em sua criação.
Com a leitura de diversos autores, houve a compreensão da preocupação com a humanização e a importancia da relação com as cores. Mas na tentativa de encontrar respostas mais claras, sobre a união entre as duas esferas para a composiçõ deste artigo, se tem a conclusão de que ainda precisa existir mais estudos especificos de cores relacionados ao contexto hospitalar, não no sentido de padronizar, pois compreende-se que cada caso é um caso, mas sim de parâmetros ciêntificos de pósocupação de lugares existentes. Assim auxiliando a fortalecer a confiança do profissional no processo decisório da escolha das composições de cores para estabelecimentos de saúde.
Referências
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