o patrimônio industrial da Mooca

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VIII. a arquitetura menor A habitual exaltação à arquitetura monumental, apreciada por sua excepcionalidade, tem dividido espaço com o reconhecimento da arquitetura menor, objeto de estudo recente do campo do patrimônio cultural, abarcado a partir das mudanças conceituais que remontam à Carta de Veneza, de 1964. Se, de um lado, o reconhecimento é o primeiro passo para a salvaguarda do patrimônio, protegendo-o futuramente da ação do mercado imobiliário, por outro, ele não impede que essa arquitetura seja inserida na lógica da cultura de consumo – através da qual, muitas vezes, seus valores são deturpados pelo fachadismo, pela espetacularização do monumento e pelo fetiche por tudo o que parece antigo, ainda que não seja necessariamente autêntico. Quando se trata de uma arquitetura de exceção, as ações em monumentos, algumas questionáveis do

ponto de vista do restauro, podem aparecer de modo pontual no território, e geralmente são notados em aspectos estéticos dos elementos construtivos, em substituições de material pouco sensíveis à identidade do monumento em questão, chegando à instalação de usos não condizentes com sua história e arquitetura. Já, quando aplicada também aos conjuntos urbanos, a interferência no patrimônio adquire uma dimensão diferente, com potenciais igualmente danosos se direcionada segundo a mesma lógica de mercado. O que vemos na Mooca, nesse sentido, perpassa não somente a ameaça de desaparecimento de uma arquitetura simbólica ou de sua alteração estética, mas também a transformação de um cotidiano urbano que foi consolidado pela história de ocupação da região e pela memória de sua população. Atualmente, uma reestruturação urbana se mostra necessária e permite colocar o patrimônio em pauta, ainda que sua discussão seja quase sempre superficial. Mais uma vez, o patrimônio, em seu papel coadjuvante de sempre, surge como um empecilho, e não como uma saída, e a complexidade e sutileza dos valores que apresenta são pouco apreendidas pelas formulações às quais a gestão urbana se propõe. Parece difícil colocar em prática a manutenção de relações que a cidade estabelece e que parecem frágeis, mas é verdade também que elas só existem (e resistem)

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Imóveis na Rua da Mooca, em 2016 [Arquivo Pessoal/Aline Fortunato].

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