ALIMENTAÇÃO ANIMAL ENTREVISTA
"A SEGURANÇA ALIMENTAR DA UE NÃO DEVE SER CONSIDERADA UM DADO ADQUIRIDO"
Pedro Cordero Presidente da FEFAC.
O senhor assumiu a presidência da FEFAC num
mentas práticas que as auxiliem na transição.
momento conturbado para o mundo e especial-
Há anos que a FEFAC é pioneira no combate à
mente para a Europa. Como encara este desafio
desflorestação através das suas Diretrizes de
neste momento da história?
Fornecimento de Soja e do desenvolvimento de
Nos últimos três anos, tivemos a oportunidade
metodologias (Regras de Categoria de Pegada
de testar a resiliência da nossa economia e, em
Ambiental dos Produtos para produção de alimen-
particular, do nosso sistema de abastecimento
tos compostos para animais) e bases de dados
alimentar. Isto foi uma chamada de atenção clara
(Iniciativa Global Feed LCA) para a avaliação da
para os operadores e autoridades da UE de que
pegada ambiental dos alimentos compostos para
a segurança alimentar da UE não deve ser con-
animais. Espera-se que continuemos com este
siderada um dado adquirido e que a melhoria
tipo de esforço.
do desempenho dos nossos sistemas alimen-
Além disso, a FEFAC apoiará os seus membros
tares no que diz respeito ao pilar ambiental da
com a implementação dos novos regulamentos e
sustentabilidade não deve acontecer às custas
desenvolverá melhores práticas juntamente com
dos pilares económicos e sociais. Esta é uma
os nossos valiosos parceiros da cadeia alimentar,
lição importante a aprender: precisamos de uma
contribuindo, assim, para a produção de alimentos
agricultura forte e produtiva na UE. Precisamos
seguros, saudáveis e nutritivos de uma forma sus-
também de um sistema alimentar menos depen-
tentável, ao mesmo tempo que reduzimos a nossa
dente de Países Terceiros no que diz respeito ao
vulnerabilidade enquanto UE.
fornecimento de ingredientes essenciais para os alimentos compostos para animais, como ali-
Como está a indústria europeia de alimentos com-
mentos proteicos, aminoácidos ou vitaminas. O
postos para animais a responder à instabilidade
conceito de Autonomia Estratégica Aberta deve
na cadeia de abastecimento, particularmente no
tornar-se um ponto de referência para qualquer
que diz respeito às alterações provocadas pela
política futura da UE e os operadores e os gover-
guerra na Ucrânia?
nos devem trabalhar em conjunto no sentido de
Em geral, uma resposta comum às perturbações
garantir acordos comerciais bilaterais eficazes
da cadeia de abastecimento é diversificar as fon-
e equilibrados.
tes de matérias-primas. A indústria dos alimentos compostos para animais explora fornecedores
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ALIMEN TAÇÃO AN IM A L
Quais são os principais objetivos da sua presi-
alternativos de ingredientes-chave para reduzir
dência? O que gostaria de concretizar até 2026?
a dependência de um número limitado de países,
A minha ambição, no seguimento do que foi conse-
por exemplo, para matérias-primas biológicas para
guido pelos meus antecessores, é estabelecer as
alimentos compostos para animais ou milho pro-
bases para uma indústria de alimentos compostos
veniente da Ucrânia. As empresas podem aumen-
para animais preparada para o futuro, servindo os
tar os seus stocks de matérias-primas essenciais
interesses dos criadores de gado da UE e desem-
para se protegerem contra perturbações súbitas
penhando um papel de liderança na transição para
(encerramento do BGI).
cadeias pecuárias mais sustentáveis. Acredito fir-
Infelizmente, relativamente a determinados ingre-
memente que deveríamos dedicar ainda mais esfor-
dientes estratégicos para alimentos compostos
ços para destacar tudo o que o nosso setor está a
para animais, tais como vitaminas ou aminoácidos,
fazer bem e o papel relevante que desempenhamos
atingimos um nível muito perigoso de dependência
na cadeia alimentar. Isto é crucial também para a
de alguns países com os quais a UE não mantém
imagem do setor, se quisermos continuar a motivar
as melhores relações. A mitigação deste risco
os jovens a iniciar uma carreira na nossa indústria.
pode ser conseguida a curto prazo, uma vez que
Também temos de continuar a agir. Mais do que
exige a construção de novas capacidades de pro-
nunca, as empresas precisam do apoio de orga-
dução na UE ou em países terceiros amigos. Para
nizações como a nossa para desenvolver ferra-
tal, contamos com a abordagem da Autonomia