Revista Vox – volume 02

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ORIGINAIS poesia

MIMOSA Telma Scherer

Viver da vida o ocaso, nunca. Prefiro acasos de amanhecer na palavra “mimosácea”: planta da família das mimosas & das acácias. Bem-aventurada aquela que é branda e habituada aos mimos do amanhecer nas páginas das acácias.

Ela sangra durante o corpo como se ousasse a fuga por trás de mãos abertas.

Bem-aventurada e sempre diante do olhar. Nua. Parada, branda, na bruma escura do jardim. Plena ela cala como se dissesse: “Nunca ninguém me quis.” Não a julgam violenta. De perto é desaventurada e lenta como o voar das asas dessas borboletas. É também levada na brisa. Seus caracóis se somam antes do anoitecer. Guarda essa luz suspensa no vício de quem a ama. Esse sol solúvel, esse viço de abundância. 52

Bem-aventurada ela que é dócil na dor e continua sorrindo por mais que se a tomem do galho no assalto no afago e a puxem com força a vítima predileta.


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