As páginas de retrospectivas que você leu no final de 2011 lembraram do ano que passou como um período marcado por movimentos civis de protesto em vários pontos do planeta. E creditaram às redes sociais parte do mérito do ativismo que rendeu a Primavera Árabe, o #Occupy e outras mobilizações incentivadoras da desobediência civil globalizada. Olhando com atenção pelo retrovisor, vê-se necessariamente um ponto mais distante, ainda em 2010. Em setembro daquele ano, Malcolm Gladwell publicou um polêmico artigo na revista The New Yorker, “Small Change – Why the revolution will not be tweeted1”, cujo tema é a reinvenção do ativismo social impulsionado por sites como Twitter e Facebook. O jornalista, no entanto, é cético: para ele, as redes sociais são incapazes de promover movimentos que levem a mudanças significativas na sociedade. O artigo se manteve em pauta durante todo o ano de 2011. Para justificar sua descrença, Gladwell compara movimentos civis surgidos antes e depois da disseminação das redes sociais digitais. Para ele, antes de Twitter e Facebook, o estopim dos movimentos civis se dava quando pessoas com alta capacidade para construir redes se uniam. E essas relações, reais, forjavam laços muito fortes. O ativismo digital, por sua vez, seria baseado em redes de pessoas que seguem umas às outras por afinidade, num ambiente virtual, sem proximidade. Esses laços, entende Gladwell, são fracos e dificilmente dariam sustentação a movimentos civis mais resistentes. Já no começo de 2011, Gladwell começou a receber o troco. O levante civil pela queda de Hosni Mubarak no Egito colocou a tese em xeque. Em janeiro, Amira Nowaira, articulista do jornal The Guardian, perguntava se o mundo estava atento ao que ocorria no país [Egypt’s Day of Rage goes on. Is the world watching?2]. David Nakamura, no Washington Post, cutucou Gladwell com o artigo Malcolm Gladwell and the Twitter backlash3, um relato da renovada reação ao artigo. Gladwell voltou à carga com um post na mesma The New Yorker: “Does Egypt need Twitter?4” em que mantinha a tese.
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