A produção televisiva do crime violento na modernidade tardia

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Universidade Federal do Rio Grande do Sul

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FIGURAS 31 e 32 – Exemplos de semelhanças entre acusado e ator Fonte: Programa Linha Direta, 23 de março de 2000.

Na simulação do crime, em todas as aparições do acusado, o ator que o interpretava estava usando um boné semelhante. O figurino nesta situação assumiu uma importância definidora da imagem do acusado, já que o ator que o interpretava nem mesmo ostentava o bigode presente na foto real divulgada pelo Linha Direta. O preterimento de uma característica física em favor de um acessório como marca do criminoso a ser lembrada pela audiência estava embasada nos fragmentos de um depoimento feito pela irmã da vítima. Para ela, o boné servia de expediente para o acusado não olhar diretamente nos olhos das pessoas, o que seria indicativo de falsidade: IRMÃ DA VÍTIMA: – Fitei o bonezinho dele e sempre de cabeça baixa. O olhar dele nunca foi direcionado à pessoa, com se fosse uma pessoa falsa mesmo (Programa Linha Direta 23/03/2000).

O plano verbal tinha, portanto, um papel anterior no direcionamento das particularidades físicas e, sobretudo, de caráter a serem evidenciadas nos personagens envolvidos nos casos. Se, de um lado, podia indicar uma sobrevalorização de características representáveis pelo figurino, também podia ressaltar aspectos propriamente físicos do acusado: PAI DA VÍTIMA: Eu não gostei da fisionomia do rapaz, né. Tipinho, não sei, mesquinho uns olhos de gato, uns olhos verdes assim. (Programa Linha Direta 23/03/2000).

Desta forma, os olhos claros do ator que interpretava o acusado na Figura 31 não eram meros acessórios na simulação. A presença desta característica física,


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