Rebecca winters amor perdido (special 53)

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Amor Perdido The Greek's Long-Lost Son

Rebecca Winters

Ao sol da Grécia, seus olhos brilhavam mais do que diamantes... Theo Pantheras tornou-se um milionário por seus próprios méritos, e poderia ter qualquer coisa que seu coração desejasse. Mas possuía somente um desejo: seu filho. Theo não era mais o bad boy por quem Stella Athas se apaixonou seis anos atrás. Porém, reencontrá-lo abalou seu mundo tão certinho... Stella desejava que Theo soubesse o quanto machucara seu coração, mas primeiro ele deveria ser apresentado a uma pessoinha muito especial...


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Tradução Oliveira Jr. Harlequin 2011 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE GREEK'S LONG-LOST SON Copyright © 2009 by Rebecca Winters Originalmente publicado em 2009 por Mills & Boon Romance Arte-final de capa: nucleo-i designers associados Editoração eletrônica: ABREITS SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11)2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para. bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11) 2195-3186/2195-3185/2195-3182 Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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CAPITULO UM

Depois de um dia árduo negociando preços com clientes do exterior, Stella Athas saiu do escritório na sede de Atenas pouco depois das 15h em seu novo Jaguar XK conversível, o primeiro carro que ela possuía na vida. Até tê-lo comprado com seu próprio dinheiro, dois meses atrás, Stella usara o velho carro da empresa. Para acompanhar a nova aquisição, achara adequado adotar um novo corte de cabelo. Seu cabelo era escuro, e ela sempre o usara comprido e reto, mas tudo isso mudara junto com o conversível, porque o motivo para se abaixar a capota era sentir o sol e a brisa. Bastara um único dia andando no carro com a cabeça parecendo um esfregão para Stella entrar num salão de beleza e pedir um corte mais na moda, parando na altura do queixo. Todos aprovaram seu novo visual. As colegas disseram que enfatizava as maçãs do rosto ovalado. As amigas insistiram que ressaltava a textura aveludada dos olhos castanhos-escuros. O irmão mais velho de Stella, Stasio, provocou-a dizendo que ela era uma beldade, como a falecida mãe deles, e que todos os homens, disponíveis ou não, iriam babar por ela em seu novo carro esporte. Quando ela iria atender às súplicas de Keiko e levá-lo para um passeio de carro? Ela não sabia que estava partindo o coração dele? Stella sabia que seu irmão estava torcendo para que ela e Keiko Pappas ficassem juntos. Porém, uma experiência de seu passado deixara-a traumatizada demais para querer iniciar um relacionamento íntimo com outro homem. Preferia continuar amiga de Keiko ou de qualquer outro homem que tivesse interesse de se aproximar dela. Mas hoje, ela não queria pensar em nada além de se divertir, porque era o começo de suas férias de três semanas. Era também o fim do ano letivo de seu filhinho de seis anos, Ari. Embora gostasse muito da mansão de campo de sua família em Atenas, afinal, ela era o lar do clã Athas há três gerações, Stella tinha a alma de uma garota de praia e sempre aguardava ansiosamente por suas temporadas em Andros com Stasio e Rachel, esposa dele. Quando freqüentara a faculdade em Nova York, Stella conhecera uma garota americana chamada Rachel Maynard. Elas haviam se tomado melhores amigas enquanto Stella recuperava-se do que agora só podia considerar como um colapso nervoso. Quando Theo Pantheras a desertara ainda grávida do filho deles, Stella permitira que isso quase a destruísse. Obviamente, isso tinha sido há seis anos. Já fazia um bom tempo desde que ela se recuperara, mas a experiência a fizera perder a fé nos homens. Mesmo assim, com férias tão próximas, nada disso tinha qualquer importância agora. Ela estava ansiosa por se juntar à Rachel, que se casara com Stasio e que agora tinha duas filhas pequenas, Cassie e Zoe, que adoravam Ari, uma paixão que era recíproca. Todos estavam ansiosos por se reunir na mansão de campo da família em Andros, e em algum momento, seu irmão, Nikos, chegaria da Suíça com sua esposa Renate. A chegada de Nikos sempre era uma preocupação para Stella, porque ele era temperamental e tinha um talento para dificultar a vida de todos. Com sorte, desta vez, ele estaria de bom humor, mas ela não sabia se isso era possível. 4


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Em vez de ir no helicóptero de Stasio, Stella planejava viajar de carro com Ari até lá. Queria estar com o carro novo à sua disposição enquanto corria pela ilha e apreciava o verão glorioso. Stella planejava partir bem cedo na manhã do dia seguinte e pegar a barca de veículos em Rafina. Ari adorava embarcações de todos os tipos e amava estar na água. Stella mal podia esperar para estar longe da cidade, que já começava a ficar entupida com turistas. Depois de contornar á casa até os fundos, estacionou longe das árvores e dos passarinhos. Quando entrou na cozinha ampla, viu a idosa governanta Iola aguando uma planta na pia. — Yiasas, Iola. Como foi o seu dia? A governanta virou a cabeça grisalha para olhar para Stella. — Cheio. — Anime-se. Ari e eu partiremos de manhã. Com a família Stasio fora daqui, você também terá três semanas para relaxar e se divertir. — Stella beijou-a na face. — Vou subir para fazer as malas. — Tudo já foi lavado e secado. Quer que eu suba com a bagagem? — Obrigada, mas a minha mala está no meu closet. Não precisamos levar muita coisa para a praia. Tudo de que precisamos vai caber na minha mala. Pegando uma maçã no cesto, deu uma mordida grande na fruta e caminhou até a escadaria, na frente da casa. Quando não estavam em Andros, Stasio e Rachel moravam no terceiro andar da mansão de campo, e as garotas, ela e Ari, no segundo. A suíte de Nikos ficava no térreo, perto da piscina, mas ele raramente estava aqui. Depois que entrou na sua suíte adjacente à de Ari, Stella pôs mãos à obra. Ari saíra para passar o dia com seu amigo de escola, Dax, e Stella planejava peg á-lo na casa de seu amigo por volta das 16h30. Isso lhe concedia uma hora. Enquanto começava a recolher camisetas, shorts e roupas de banho para ambos, o telefone da casa tocou uma vez. Ela pegou o fone na mesinha de cabeceira. — O que é, Iola? — Você precisa descer para assinar uma carta registrada. Stella franziu o cenho. — Todos os documentos jurídicos seguem para o escritório de Stasio, mas você já sabe disso. — Eu disse isso ao carteiro, mas parece que essa carta é pessoal para você. Ele insiste que precisa lhe entregar em mãos. O carteiro poderia ter feito isso enquanto Stella estivera no escritório. — Vou descer já. O que estava acontecendo? Stella desligou o telefone, ansiosa por esclarecer o que era, obviamente, um erro para que ela pudesse acabar de fazer as malas. Ela desceu correndo para o corredor e seguiu direto até a sala da frente. — Yiasou. O carteiro assentiu com a cabeça. — A senhora é Despinis Estrella Athas? — Sim. — Mas ninguém jamais havia se dirigido a ela por seu nome de batismo. 5


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Ele estendeu uma prancheta para ela. — Por favor, assine o cartão na última linha para provar que isto lhe foi entregue pessoalmente. — Posso saber quem enviou a carta? — Não tenho a menor idéia. Apesar de sua irritação, Stella sorriu enquanto assinava. — Tudo bem, não vou matar o mensageiro. Mas o carteiro ignorou o comentário, permanecendo estoico. Ele pegou a prancheta de volta e lhe estendeu a carta. — Pode deixar que eu encontro a saída. Iola o seguiu até a porta da frente e a fechou às suas costas. Stella caminhou devagar até o corredor, sentindo-se mais entretida do que irritada pela interrupção. — Talvez uma daquelas câmeras de tráfego tenha me pegado ultrapassando o limite de velocidade no meu carro novo — brincou Stella. — Não vai abrir para descobrir? Stella esperara demais por sua viagem para se deixar incomodar por qualquer coisa agora. — Talvez depois que eu voltar de viagem. Afinal, se isto chegasse amanhã, eu não estaria aqui. — Mas você assinou pela carta hoje! — Verdade. Por que você não abre a carta e me diz do que se trata enquanto acabo de fazer a mala? — Ela deu a carta a lola antes de começar a subir as escadas. Stella esperava que a governanta subisse correndo atrás dela com as notícias, mas nada aconteceu. Apenas um silêncio arrepiante. Depois de alguns minutos, Stella saiu para o corredor e desceu até a beira da escadaria. — Iola? Silêncio absoluto. — Iola? — chamou Stella numa voz mais alta. Quando não houve resposta, ela desceu correndo as escadas. Nenhum sinal da governanta no salão. — Iola? — Ela atravessou correndo a casa até a cozinha, onde encontrou-a sentada numa das cadeiras da cozinha, cabeça nas mãos. A carta jazia aberta na mesa. Quando Stella começou a estender a mão até a carta, Iola tomou-a e a segurou-a contra o busto amplo. — Não! Isto não é para os seus olhos. A leal governanta estava com sua família desde que Stella cursara o fundamental. Ela sabia tudo que acontecia debaixo do teto deles. Stella não tinha a menor dúvida de que Iola seria capaz de defendê-la até a morte caso a situação exigisse. — O que é tão terrível para que você não queira que eu veja? — A pergunta foi respondida com lágrimas silenciosas. Stella sentou-se na cadeira ao lado da dela e passou um braço carinhoso em volta dos ombros que subiam e desciam compulsivamente. — Iola? Por favor. Deixe-me ver. Um minuto se passou antes que a governanta desse a Stella a carta de uma 6


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página. Os olhos de Stella caíram na carta. Estava escrita a mão, em letras ousadas, que pareciam levemente familiares. O coração de Stella parou por um segundo. Querida Stella: Faz muito tempo desde a última vez em que estivemos juntos. Depois das cartas que lhe enviei terem retornado fechadas, e eu ter exaurido cada possibilidade de encontrar você, parti para trabalhar em Nova York, mas agora estou definitivamente de volta a Atenas. Eu a vi caminhando perto da sua casa com um menininho que era nitidamente um Pantheras. Ele também é carne da minha carne e sangue do meu sangue. Você e eu precisamos nos encontrar. Posso ser achado no número de telefone no cabeçalho desta carta. Também anotei o número do meu celular aqui. Esperarei o seu telefonema amanhã bem cedo. Não me faça ir ao tribunal assegurar meu direito a estar com o meu filho. Essa é a última coisa que quero fazer a vocês dois. Theo. O grito de Stella reverberou contra as paredes da cozinha. Enquanto lia novamente a carta, o nome de Theo flutuava diante de seus olhos. Começou a se levantar da cadeira, mas seu corpo começou a parecer gelado. Estava nauseada demais para conseguir ficar de pé. Escutava um zumbido em suas orelhas. Ouviu o grito longínquo de Iola antes de desabar nos braços da governanta. Quando finalmente conseguiu se dar conta do ambiente ao redor, descobriu que estava deitada no chão da cozinha. Iola estava debruçada sobre ela, sussurrando suas preces enquanto acariciava as faces de Stella com um pano frio e úmido. Enquanto a governanta cuidava dela, uma memória da carta encheu sua mente. Depois de seis anos, Theo Pantheras reaparecera em sua vida, como se tivesse voltado dos mortos, querendo conversar com ela? A idéia por si só era tão atordoante que Stella mal conseguia avaliá-la. Stella já sentira raiva em várias ocasiões de sua vida, mas nenhuma dor podia se comparar à violência de suas emoções contra o pai de Ari, o homem que chegara muito perto de destruí-la. Porque ele estava redondamente enganado se achava que ela ia pegar o telefone e ligar para ele. Na noite em que lhe contara que estava grávida, ele se fingira de empolgado e lhe dissera que encontraria uma forma de cuidar dela e do bebê. Eles iriam se casar imediatamente, ainda que contra a vontade de suas famílias. Tinham combinado de se encontrar na igreja e, depois que Theo chegasse, eles iriam se casar em segredo. Contudo, Theo nunca chegou, e Stella jamais o viu novamente. Era como se ele tivesse simplesmente desaparecido da face da Terra. A dor e a vergonha de esperar por ele deixaram-na completamente dilacerada. Sem o amor e o apoio de Stasio, e, obviamente, o amor que ela nutria por seu lindo Ari, Stella provavelmente teria enlouquecido. — Estou bem, Iola — Stella assegurou-a. Uma adrenalina negativa fluía por seu corpo, instigando-a a se levantar. Ela se segurou na cadeira enquanto esperava que sua 7


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cabeça parasse de girar. — Beba isto. — Iola lhe deu um copo d'água. O líquido era refrescante, e ela tomou o copo inteiro. — Obrigada. — Está na cara que Theo Pantheras tem perseguido você. Isso não é bom. Você precisa telefonar para Stasio imediatamente. — Não — retorquiu Stella em voz baixa. — É exatamente isso que eu não vou fazer. Preciso pensar em Ari. Este é um problema do qual pretendo cuidar pessoalmente. Desde as mortes de seus pais, Stella confiara em seu irmão para tudo. Isso, praticamente, arruinara a vida dele no processo, mas ela não era mais uma adolescente indefesa. Crescera para se tornar uma mulher de vinte e quatro anos com um cargo de responsabilidade na companhia, que vinha criando seu filho nos últimos seis anos. Stasio fizera mais por ela e seu filho do que qualquer ser humano poderia esperar de outro. O amor de Stella por seu irmão beirava a idolatria. A única forma possível de recompensá-lo era deixando-o fora disso. Stasio tinha esposa e filhos que dependiam dele, e Rachel estava grávida pela terceira vez. Stella não estava disposta a sobrecarregar nem a ele nem à sua família com os problemas dela. Nunca mais. Ela fitou Lola. — Não conte nada disto a ninguém, principalmente a Nikos ou Stasio. Vai ser o nosso segredo. Você entendeu? A mulher mais velha assentiu com a cabeça, mas, mesmo assim, voltou a rezar baixinho. Sem tempo a perder, Stella subiu ao segundo andar para pegar sua bolsa. Enquanto estava lá, telefonou para a mãe de Dax e disse a ela que estava indo pegar Ari. Depois de contar a Iola aonde estava indo, saiu da mansão e seguiu de carro até a cada de Dax. Assim que a viu, Ari desceu correndo os degraus da varanda da frente, carregando sua mochila, e entrou no carro. Ela o beijou na bochecha. — Como foi o seu último dia de aula? — Legal. Tivemos de trazer para casa todos os nossos desenhos e artes manuais. Podemos voar para Palaiopolis esta noite? — Era a aldeia em Andros onde Stasio morava. — Não, querido. Estou planejando irmos de carro amanhã de manhã. Quero ter meu próprio carro enquanto estivermos de férias. — Viva! Adorei o nosso carro novo. Ela deu uma risadinha. — Eu também. — Stasi o disse que um dia vou poder dirigir um carro como esse. — Só daqui a muitos anos, meu bem. Fosse lá o que Stasio tivesse dito, ela concordava. Há muito tempo, quando Stasio dissera a Stella que iria ajudá-la a criar Ari, Nikos a alertara que Ari sempre iria ver Stasio como seu pai. Nenhum outro homem teria qualquer chance de competição. Nikos sugerira a Stella que oferecesse seu filho para adoção, para que pudesse ter uma vida normal, com mãe e pai, mas Stella não quis lhe dar ouvidos. Ari era toda a sua vida! Como Theo abrira mão de toda responsabilidade, o menino teve muita sorte em ter um pai substituto 8


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como Stasio. Enquanto esperavam que um senhor de idade atravessasse a rua na frente deles, ela olhou para seu filho. Durante seis anos, ela havia se concentrado nas características que ele herdara dos Athas, mas desde que recebera a carta de Theo, ela fora for çada a analisar o menino com outros olhos. Como Stasio, Ari era alto para a idade e tinha cabelo castanho-escuro. Possuía a bela pele olivácea dos Nikos e o sorriso de Stella. Mas ela precisava ser honesta consigo mesma: b cabelo muito negro, a musculatura do corpo esbelto, o desenho do limite do cabelo em forma de gaivota pertenciam a Theo. A dor apunhalou seu coração. Ari era o menino de seis anos mais adorável do mundo. Theo não fazia a menor idéia do que abrira mão quando dera as costas para eles dois. Por que cargas d'água ele estaria interessado no filho agora? Não fazia o menor sentido. Ela prosseguiu. A brisa soprou o cabelo comprido de Ari. Os fios tendiam a encaracolar nas pontas, como os de Theo. Às vezes, ele posicionava a cabeça em ângulo enquanto olhava para alguma coisa com intensidade, e mais uma vez, isso a lembrou do homem que ela um dia amara tão completamente que julgara não poder viver sem ele. Mas esse homem que havia lhe mostrado tanto amor e fizera com que se sentisse imortal tinha desaparecido de sua vida. Depois de compreender que ele jamais iria retornar, ela achara estar no meio de um pesadelo do qual acabaria por acordar. Para seu horror, Stella não demorou a descobrir que estivera acordada o tempo todo. Bem-vinda à nova realidade de sua vida. Lembrar de toda aquela dor ainda era capaz de deixá-la trêmula. Ela olhou para Ari. — Está com fome? — Não. A mãe de Dax deu comida para gente. Acha que Dax poderia vir a Andros para ficar com a gente? Em qualquer outra ocasião ela não teria pensado duas vezes antes de dizer sim, mas seu mundo inteiro virar de cabeça para baixo esta tarde. Ela temia falar com Ari sobre o pai dele, mas se postergasse isso, acabaria mais trêmula do que já estava. Então ele saberia que havia alguma coisa terrivelmente errada. Ari possuía uma natureza muito intuitiva. Como sempre havia sido honesta com o menino, Stella não podia agir de outra forma agora. Quando contornaram os fundos da mansão, ela não saltou imediatamente do carro. — Ari... antes de entrarmos, tem uma coisa que quero lhe dizer. Ele pareceu transtornado. — É a respeito de Dax? Você não gosta dele, não é? Ela piscou. — De onde tirou essa idéia? De todos os seus amigos, ele é o meu predileto. — Por que você também não deixou que ele viesse conosco para Andros no ano passado. Stella exalou um suspiro tenso. — O motivo não foi esse. Os pais de Dax tinham outros planos, lembra? Eles o levaram para a Disney. Foi uma surpresa. Foi por causa disso que ele não pôde vir com a gente. 9


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— Então, por que você não disse que ele podia vir com a gente desta vez? — Ele continuou a fitá-la com aqueles penetrantes olhos negros enquanto esperava por uma resposta. Às vezes, Ari podia ser muito adulto para a sua idade. Isso sempre a pegava de guarda baixa, provavelmente porque a fazia lembrar do Theo que ela um dia conhecera. Aos 16 anos, Stella fora extremamente tímida e insegura, mas Theo tinha sido, ao mesmo tempo, terno e paciente com ela, e isso lentamente contribuíra para aumentar sua confiança. Quando Nikos tinha sido maldoso e escarnecera dela, Stella voltara-se para Theo, cujo amor e aceitação espantaram toda a dor. Para onde tinha ido aquele homem? Depois que Theo desapareceu, ela quis morrer. Pigarreando, virou-se para Ari e disse: — Lembra quando me perguntou se eu sabia onde seu pai estava e eu disse que não? Ari assentiu, tenso. — Lembro. — Falei a verdade. Não sabia nada a respeito dele. — Stasi disse que ele te deixou tão triste que você ficou doente. — Stasi está certo. Entenda, minha mãe morreu pouco antes de você nascer. Então seu pai foi embora e nunca mais o vi novamente. Fiquei arrasada durante muito tempo. Para tornar a vida ainda mais insuportável, Nikos tinha sido cruel e impossível de se conviver naquela época, sempre assumindo do pai quando ele dizia que Theo era o tipo errado de pessoa para ela, sem antecedentes, classe ou dinheiro. E que ela devia sentir-se grata por ele estar fora de sua vida. Sentindo o quanto a situação era dramática, o quanto seus sentimentos eram frágeis, Stasio levara Stella para Nova York para ter seu bebê. Seis meses depois, o pai deles sofreu um ataque cardíaco fatal. Depois do enterro, ela e Ari permaneceram em Nova York pelos quatro anos seguintes. Com Stasio morando em Nova York durante a metade de cada mês, cuidando de seus negócios, o arranjo funcionara bem, e Stella fora capaz de se formar na faculdade. Por sorte, na época, Nikos passava o tempo viajando entre Atenas e a casa da família em Chamonix, onde costumava esquiar. Stella raramente o via, o que era um benefício adicional. — Graças ao amor e à gentileza de seu tio Stasio, eu melhorei. A questão é: isso foi há muito tempo, e eu mudei bastante desde então. — Ela umedeceu os lábios, tensa. — Hoje descobri que seu pai esteve morando em Nova York. Ele arregalou os olhos. — Que nem a gente? — É. — Esse tinha sido outro choque. Durante quatro anos, eles haviam morado na mesma cidade sem saber. Incrível. — Mas agora ele voltou para Atenas, e é para ficar. Ele... ele quer ver você. Seguiu-se um longo momento de silêncio. Stella imaginou o menino digerindo o que acabara de ouvir, mas antes que pudesse fazer outra pergunta, ela precisava lhe contar o resto. 10


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— Como ele ficou seis anos sem nos procurar, preciso saber como você se sente sobre vê-lo. Pense nisso. Ari, se quiser conhecer seu pai, nós vamos telefonar para ele, mas se não se sentir confortável com isso, basta me dizer, está bem? Se Ari não quisesse conhecer o pai, então Stella iria telefonar para ele sem que o menino soubesse. Como ela iria adorar ouvir o motivo de Theo para querer estar com o filho depois de tanto tempo! Ela não podia imaginar o que Theo podia dizer que o absolveria do que fizera a ela, a eles! Stella não podia compreender um homem partindo daquela forma, como se não tivesse consciência, mas isso acontecia a outras mulheres o tempo todo. Havia muitos homens imorais no mundo, mas ela não queria que este chegasse perto do filho. Para seu horror, Theo aventara a possibilidade de levar a questão aos tribunais caso ela não cooperasse. Como não conseguia nem pensar na possibilidade, não tinha como ignorar a carta dele. Ari abaixou a cabeça e disse: — Não quero ir embora e morar com o meu pai. Quero ficar em casa com você. Mas eu gostaria de vê-lo. — Ele estendeu as mãos para ela. Ondas de amor intenso por seu filho reverberaram pelo ser de Stella. — Se essa é a sua decisão, então nós vamos contar isso juntos a ele. Ele franziu os olhos para fitá-la. — Papai pode me obrigar a ir com ele? Alex sempre precisa ir com o pai para sua casa nova, e ele não gosta disso. Alex era um dos amigos de Ari. A situação na casa deles era muito triste desde o divórcio dos seus pais. O coração de Stella bateu com nauseante intensidade. O tribunal poderia exigir visitação, mas na carta, Theo dissera que não queria seguir esse caminho. Neste exato instante, ela estava rezando para que ele tivesse sido sincero. — Não vamos nos preocupar com isso hoje. Num movimento abrupto, Ari afastou-se dela e saltou do carro com sua mochila. — Vou telefonar para Stasi. — Não, Ari! Isso fez com que seu filho parasse abruptamente. Ele se virou, sem acreditar completamente na firmeza dela. — Por que não posso? — Porque ele já se preocupou com nós dois por muito tempo. — Mas... — Eu disse não. — Ela o interrompeu antes de saltar do carro. — Isso não é da conta dela e não precisa envolver mais ninguém além de você e eu. Você entende? Depois que tivermos entrado na casa, vamos telefonar para os pais de Dax. Talvez eles o deixem ir passar alguns dias em Andros conosco. Mas aconteça o que acontecer, quando chegarmos à ilha, não quero que você diga uma palavra a respeito do seu pai a ninguém. Além de lola, ninguém mais sabe que ele está de volta à Grécia. Você não vai contar às meninas, nem a Rachel, Stasio ou Nikos. Pode me prometer que vai ficar de boca fechada? 11


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— Sim. — Julgara que a menção de Dax juntar-se a eles iria suavizar o peso dessa nova preocupação na vida do menino, mas fora uma tola em pensar isso. Depois de ouvir que seu pai queria vê-lo, que menininho seria capaz de pensar em qualquer outra coisa? A essa altura, Ari estava terrivelmente confuso. Ela também, e sofrendo muito pelo menino. Seus olhos escuros já estavam cheios com lágrimas antes que ele começasse a caminhar pesadamente até a varanda, deixando-a devastada.

O resort que Theo construíra em St. Thomas, nas ilhas Saronic, atraía uma fluxo contínuo de turistas de elite vindos dos principais continentes. O gerente contratado por Theo disse que eles estavam se tornando rapidamente o destino favorito em toda a Grécia, e tinhas as estatísticas para provar isso. Isso era sempre boa notícia, mas depois de sair de Atenas para passar a noite aqui, ele tivera outras coisas em mente. Ele daria mais uma hora para que Stella respondesse à sua cata antes de telefonar para ela. Não havia como saber onde ela se encontrava neste exato momento. Talvez com seus irmãos, enquanto eles planejavam uma forma de deter Theo. Eles não iriam conseguir nada. Havia um motivo para isso, e jazia à sua frente. O gramado verde e aveludado do campo de golfe, estendendo-se em duas direções a partir do amplo hotel branco, representava muitos investimentos lucrativos que agora asseguravam a riqueza de Theo. Era necessário dinheiro dessa espécie para se estar no mesmo patamar que a dinastia Athas. Theo jamais tinha sido um mercenário. Ainda não era. Era por causa disso que a mansão de campo de tamanho médio que ele construíra na ilha Salamis era confortável, sem sobrecarregar os próprios pais de Theo com um estilo de vida estranho para eles. Precisando de uma válvula de escape para sua energia, ele se pôs a caminhar pelo resort até a marina. A maioria das lanchas e pequenos veleiros estava no mar, desfrutando daquele lindo fim de tarde. E, muito em breve, ele iria levar seu filhinho para navegas em águas plácidas. Ele não duvidava que seu filho tinha sido exposto a todas espécies possíveis de esportes aquáticos. Ele não duvidou que seu filho tinha sido exposto a cada esporte aquático imaginável, mas fora ensinado apenas pela família Athas. Havia todo um lado dele que o menino não conhecia, e apenas Theo poderia lhe mostrar isso, porque era seu pai. Depois de conversar com alguns dos funcionários, entrou no hotel e seguiu até a gerência. O gerente apresentou Theo ao novo chefe de cozinha, que lhe mostrou diversos menus para sua aprovação. Depois que tinha concluído seu trabalho, ele tinha o escritório só para si. Boris, o guarda-costas de Theo, permaneceu fora da sala enquanto ele caminhava até a janela que dava para o mar azul. Ele apertou o atalho para o número do celular de Stella, o qual programara em seu aparelho. Nestor Georgeles, seu advogado, tinha seus métodos de obtenção de informações. Theo acionou o dispositivo que bloqueava a identificação de sua chamada. Quando atendeu depois de quatro toques, Stella ainda estava falando com outra pessoa. Ele podia ouvir outra voz ao fundo. 12


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— Alô? Era a voz dela. Mas estava diferente. Era a voz de uma mulher. — Kalispera, Stella. Ele a ouviu arfar. — Theo. Co... como você... — Fez uma pausa. — Esqueça. Não sei por que estou surpresa. — Preciso admitir que quando passei pela sua casa, apenas para recordar os bons tempos, eu fiquei surpreso em descobrir que você não havia abortado o nosso bebê. — Abortado? — gritou ela. Ele apertou o telefone com força. Entre os diversos pecados que Nikos Athas cometera, ele havia mentido a Theo, dizendo-lhe que Stella tinha se livrado de seu bebê. Nauseado pela possibilidade de que ela realmente cometera esse ato e não fora capaz de lhe dizer a verdade, Theo partira para Nova York determinado a começar uma nova vida e fazer dinheiro suficiente para que sua família jamais voltasse a conhecer a pobreza. Entretanto, agora que voltara para casa e descobrira-se pai de um menino, nenhum poder no mundo seria capaz de afastar Theo dele. Estava mais do que preparado para combater fogo com fogo, porque tencionava ser pai em tempo integral para o seu filho. Durante todos aqueles anos, Theo recriminara Stella por ter feito a pior coisa possível que poderia ser feita por uma mãe. Ele deveria ter imaginado que ela não seria capaz de abortar o filho deles. Isso simplesmente não era da natureza de Stella. Mas Theo estava tão furioso com ela por ter escondido dele a existência do menino que mal conseguia falar. Ele franziu os olhos e perguntou: — Que nome você deu a ele? Houve um momento de silêncio até que ela respondesse: — Eu... eu estou surpresa por você não ter descoberto isso, visto que parece saber de todo o resto. — Após mais uma pausa, ela acrescentou: — Ele foi batizado Ari. Theo resfolegou. — É um nome da família Athas? — Não. Apenas um nome de que eu gosto — murmurou Stella. Na verdade, ele também gostou do nome. Muito, até. Por um momento, ela soou como a antiga Stella. No passado, eles haviam sido forçados a falar em voz baixa pelo telefone para que a família de Stella não soubesse que ela estava fazendo planos com ele. Stella não recebera permissão para começar a sair com rapazes até seu décimo oitavo aniversário, mas ela atraíra os olhos dele antes de fazer 17 anos. E a paixão deixara a ambos muito imprudentes. Eles tinham escapado várias vezes juntos. Theo pagara um velho pescador para usar seu barco a remo. Na ilha Salamis, havia uma enseada coberta, para onde ele sempre a levara. Lá nadavam e, depois, deitavam-se em uma colcha estendida na areia. Theo sabia que não deveria tocá-la, mas não tivera como evitar, não quando Stella lhe implorara para que fizessem amor. Stella havia sido tão generosa, tão adorável, passional e, ao mesmo tempo, tão inocente, que ele lhe dissera que, se esperassem até ela fazer 18 anos, iriam casar-se com uma cerimônia na igreja. Embora tivessem tentado esperar, chegou um dia em que nenhum deles conseguira mais agüentar. E depois que tinham feito amor, não havia mais como voltar atrás. 13


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Theo pigarreou, determinado a aprender tudo sobre seu filho. Tinha seis anos para colocar em dia. — Se você tivesse de me contar a coisa mais importante sobre ele, qual seria? — Não poderia escolher uma única coisa. — A voz de Stella estremeceu. — Ari é doce, adorável. Acho que é o menino mais inteligente e gentil do mundo. Isso descrevia a mulher que ele um dia havia amado. Ela falava como uma m ãe que adorava seu filho. Ari parecia a antítese de seu tio Nikos, que anos atrás despejara uma avalanche de ameaças sobre Theo: Fique longe da minha irmã, senão vai se arrepender amargamente. Nikos passara a vigiá-los na igreja e segui-los quando passeavam a pé. Quando viu que suas ameaças não surtiam efeito, tentou subornar Theo com dinheiro. E Theo jogara o dinheiro bem na cara dele. Uma semana depois, houve um pequeno incêndio na taverna dos pais de Theo. A polícia determinou que o incêndio fora criminoso, mas nunca descobriu o perpetrador. Alguém que trabalhava para Nikos telefonara para Theo, para ameaçá-lo de novo, avisando-o que mais coisas ruins iriam acontecer se ele não deixasse de ver Stella. Quando o irmão de Theo, Spiro, sofrerá um acidente, tendo sua scooter atingida por um carro de luxo andando rápido demais para aquela hora da noite, Theo compreendera que Nikos estava falando muito sério. A última vez em que vira Stella, ela revelara estar grávida. Theo ficara empolgadíssimo com a notícia, e, subitamente, tudo passara a fazer sentido. Ela fora impregnada por um Pantheras. Não era de espantar que Nikos tivesse se comportado como um louco: Theo violara sua irmã e precisava pagar por isso. Naquela noite, Theo contara-lhe que queria casar com ela assim que fosse possível. Eles iriam fugir, e ele arrumaria um bom trabalho para sustentar a ela e ao beb ê. Eles tinham planejado tudo e decidido se encontrar na igreja em segredo. Mas na noite em questão, Nikos esperara por ele no estacionamento da igreja. Ele contara a Theo que Stella não viria agora nem nunca, que ela havia abortado o bebê deles e que queria esquecer completamente de Theo. Em choque, Theo investira contra ele, mas fora derrotado por capangas contratados e deixado quase à morte na ilha Salamis. Depois que se recuperou dos ferimentos, procurou por Stella, mas não a encontrou. Ela não respondeu aos seus telefonemas ou às suas cartas. Simplesmente desapareceu. Com o tempo, concluiu que, ela realmente não queria vê-lo de novo. Era evidente que a família de Stella a convencera a abortar o bebê. O bebê dele. — Passei o dia todo esperando você telefonar para falarmos sobre Ari — disse Theo. — Como você não deu notícias, decidi telefonar. Onde e como você gostaria que acontecesse meu primeiro encontro com ele? — Preferiria que não acontecesse nem nesta vida nem na próxima. Um nervo latejou no canto da boca de Theo. — Então está dizendo que quer levar o assunto ao tribunal? — Não! — gritou ela, agonizante. Por um momento, ela lembrou a Theo da menina vulnerável que ele conhecera. — Preciso saber o que você pretende fazer. Ari costuma esconder muita coisa. Ele está com medo, o que é perfeitamente natural. — E eu também — disse, voz grave. — Tem alguma idéia de como ele realmente 14


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está se sentindo a respeito disso? — Ele provavelmente reagiu como reagiu hoje para me agradar. Ele sempre tenta agradar — explicou Stella. — Às vezes, mais do que provavelmente é saudável. Theo tinha certeza quase absoluta de que Ari odiava o homem que lhe dera a vida para, em seguida, rejeitá-lo antes mesmo que nascesse. Um menino de seis anos podia odiar com a mesma veemência que um homem de 50 ou 80 anos. Theo não tinha a menor ilusão de que isso seria fácil. Neste caso, o ódio seria pior porque Ari fora doutrinado pelos tios. Um gemido escapou da garganta de Stella. — Gostaria de poder lhe dizer que ele não quer se encontrar com o pai e que preferia que você não existisse, mas a verdade é que não faço a menor idéia do que se passa na cabeça dele. Em outras palavras, Ari sabia que a mãe dele odiava Theo. Theo compreendia que precisava estar preparado para uma hostilidade da parte de Ari que talvez durasse toda uma vida. Vários fatores seriam acrescentados à situação, começando com a atmosfera na qual Ari fora criado e a quantidade de ódio levantada contra Theo da parte da família de Stella. Os pais dela haviam se posicionado contra o envolvimento dos dois desde o início. Levando em consideração que os irmãos Athas consideravam que Theo pertencia ao excremento da sociedade grega e que haviam recorrido a tudo, que n ão ao assassinato, para mantê-lo afastado de Stella, Theo estava começando com uma imensa desvantagem. — Muito obrigado por tanta honestidade, Stella. — Ele não esperara por isso. — Como eu já amo Ari mais do que a própria vida, e sei que você sente o mesmo por ele, vamos nos encontrar em algum lugar esta noite para discutirmos a situação. Um lugar público ou não; você escolhe. Pode providenciar que alguém fique com ele enquanto estivermos juntos? — Claro que sim, mas não é possível. Neste momento, eu estou em Andros. Em outras palavras, ela considerava que ele estava em Atenas e que quaisquer planos que tivesse feito para esta noite estavam fora de questão. Bem, ele tinha novidades para ela. — Posso estar lá em uma hora. Apenas me diga onde você está exatamente. — Ela demorou a compreender que ele tinha um helicóptero à sua disposição. Isso o colocava no mesmo nível que ela quanto à capacidade de mobilização de sua família. — Há uma barraquinha de aluguel de pedalinhos na praia de Batsi. Estarei no estacionamento de lá, esperando por você, às 19h30. Ela desligou antes que ele tivesse tempo de agradecê-la, mas isso não importava. Progresso fora feito. Os deuses haviam estado ao lado dele hoje. Theo olhou as horas. 18h30. Depois de telefonar para o piloto para lhe dar seu destino seguinte, ele se despediu do gerente e seguiu com Boris até o heliporto. Theo nunca estivera em Andros, mas Stella falara-lhe tanto a respeito, que ele tinha a impressão de saber de cor todos os lugares especiais. Provavelmente o seu filho, por mais jovem que fosse, poderia mostrar-lhe a região, sabendo do que estava falando. Andros era o lar do lendário Stasio Athas, onde viviam algumas das famílias mais importantes de toda a Grécia. Para as pessoas da família de Theo, o lugar representava território proibido. Um sorriso curvou uma das pontas da boca de Theo. Este membro da 15


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família Pantheras estava prestes a pular o muro. Para a família de Stella, as outras, como a de Theo, que residia perto da divisa da propriedade, pertenciam ao fundo da cadeia alimentar. Quando Theo recusara o dinheiro, Nikos tentara obrigá-lo a se afastar de Stella, xingando-o de verme para baixo. Tudo boa gente, a família de Stella. Theo olhou pela janela. O verão chegada aos Cyclades. Quando Andros apareceu na janela, Theo ficou boquiaberto com a beleza da ilha verdejante e pontuada com flores. Não era de admirar que Stella adorasse o lugar. St. Thomas era idílico, mas não chegava aos pés de Andros. Quando o helicóptero começou a descer até o pequeno porto de Batsi, Theo teve sua atenção atraída para um conversível branco esportivo cruzando a estrada em direção à água. A visão o intrigou. Depois que o helicóptero tocou o solo, ele desceu e seguiu até o estacionamento, onde parou abruptamente. Para sua surpresa, ele viu uma morena voluptuosa saltar do carro e contornar a área com passos confiantes, como se estivesse em busca de alguém. Mais perto agora, notou que ela portava semelhança superficial com a adorável adolescente de cabelo longo da juventude de Theo. Stella.

CAPÍTULODOIS

Os anos haviam transformado a única filha dos Athas em uma mulher deslumbrante, cujo vestido branco clássico era mantido colado ao corpo por um cinto largo, ressaltando curvas acima e abaixo da cintura delgada. Ela sempre parecera linda aos olhos de Theo, mas a gravidez a fizera desabrochar. As maçãs proeminentes, combinada com os adoráveis contornos do rosto e o lustroso cabelo negro, tornavam-na tão fascinante que ele não conseguia olhar para mais nada. Theo tentara imaginar o quanto ela havia mudado. O que não esperava era que seus sentidos explodissem no instante em que a visse novamente. Isso não deveria acontecer, não quando ela escondera seu filho dele. Mais um passo e seus olhos se encontraram. Aqueles aveludados olhos castanhos dos quais lembrava tão bem fitaram-no com uma mistura de choque e ansiedade. Depois do que Stella havia feito, devia sentir medo dele. Pareceu vacilar por um minuto antes de recuar até seu carro e se segurar na carroceria, como se precisasse de apoio. Theo caminhou até o outro lado do carro. Decidindo que eles eram um alvo fácil demais para os observadores, ele sentou no banco do carona e fechou a porta. Ela hesitou antes de sentar ao lado dele. No segundo que Stella se posicionou diante do volante, sua fragrância o alcançou. Mais uma vez, ele ficou atordoado, porque aquele era o perfume que sempre associava a 16


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ela. Um perfume que o levou de volta no tempo até a última vez em que haviam estado juntos. Todas as vezes em que a beijara, o sabor daqueles lábios tinha sido deliciosos, como flores frescas em uma cálida manhã primaveril. Neste momento, essa era a última coisa de que ele queria ser lembrado, mas tentar apagar certos pensamentos íntimos era como conter um tsunami. Ele se virou para ela. Ela evitou fitá-lo. Se ele não estava enganado, ela estava tremendo. Em algum nível, ele ficou feliz em saber que ela não estava completamente controlada. — Obrigado por se encontrar comigo, Stella. — Você não me deu escolha — disse em voz trêmula. — Na verdade, dei sim. — Você ameaçou um processo. Não posso imaginar nada que pudesse ser mais aterrorizante para Ari — gritou ela, soando desesperada. — Acredite ou não, isso me assusta ainda mais. Já perdemos muito tempo até agora. — Theo ficou surpreso com o quanto estava tentado a estender o braço para tocála, para certificar-se de que ela era real. — Você sempre foi bonita, mas se tornou uma mulher belíssima. Quando muito, as feições de Stella enrijeceram diante do elogio. O olhar de Theo vagou para além do rosto de Stella. — Estranho como esta praia isolada me faz lembrar... — Não faça isso. — O perfil dela parecia cinzelado em pedra. Aparentemente, ela tivera a mesma impressão e não queria despertar recordações de prazer. — Concordei em me encontrar com você para pensarmos na melhor maneira de ajudar Ari a lidar com esta situação. Uma situação iniciada há seis anos, e que ele não havia desejado. Contudo, Theo não deu voz aos seus pensamentos. Por enquanto, ele estava pisando em ovos. — Acha que ele vai se sentir mais confortável se encontrando comigo em Atenas do que aqui? Ela entrelaçou os dedos, atraindo a atenção de Theo para as unhas lindamente pintadas. Ele estremeceu ao notar que cada parte do corpo de Stella parecia-lhe absolutamente perfeita. Era impossível olhá-la com indiferença. — Ari não vai se sentir confortável com você em nenhum lugar, mas como vamos permanecer em Andros durante algum tempo, acho melhor que o encontro seja aqui. — O que você contou a ele a meu respeito? Ela respirou fundo. — Muito pouco. — Mesmo assim, pode me dizer exatamente o que foi? Ela voltou subitamente o rosto para Theo. Intensos como raios laser, os deslumbrantes olhos castanhos penetraram os dele. — Quer dizer, com a mesma exatidão com que você descreveu para mim? — gritou ela, apertando o volante com tanta força que parecia a ponto de entortá-lo. — Contei a verdade... que você, afinal de contas, não me ama. Isso era tudo que eu sabia para contar a ele. Isso é tudo que ele sabe. Theo estudou as feições dela. — Deixou de fora metade da história. Está na hora do menino saber que você parou de me amar. Tenho certeza de que ele não sabe que você jamais teve qualquer 17


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intenção de entrar na igreja para que pudéssemos nos casar e ter nosso bebê em paz. Ela ficou pálida. — Eu estive na igreja — disse ela com a voz embargada. — Esperei por horas. Theo não acreditou. — Esse é um conto de fadas muito interessante. Eu fui atacado antes de entrar na igreja, e me disseram que você havia se livrado do bebê porque não queria ter qualquer espécie de relacionamento comigo. — Por hora, ele preferia não mencionar o nome de Nikos. — Você está mentindo! — ela vociferou. — Ninguém jamais acreditaria numa história tão monstruosa. — No começo, eu também não acreditei. Mas depois que vi que você não estava disposta a entrar em contato comigo, passei a acreditar. Evidentemente, esse é um caso da sua palavra contra a minha, exceto que tenho as cicatrizes para provar o que digo. — Que cicatrizes? — Essas que você esteve olhando enquanto conversávamos. Eu senti os seus olhos em mim. Eles estavam viajando pelos meus cortes, notando as mossas que ficaram em meu rosto no local em que meus ossos foram esmagados e na mudan ça sofrida pelo meu nariz por ter sido reconstruído. Essas coisas não são nada em comparação ao que os raios X mostram abaixo do meu pescoço. Stella rapidamente desviou os olhos, mas não antes que ele pudesse notar a confusão naquelas profundezas castanhas. Isso, ao menos, já era algo. — Não sei o que aconteceu com você — disse ela finalmente em voz trêmula —, mas não acha muito estranho levar seis anos para aparecer? — Sob circunstâncias normais, sim, mas depois que não consegui mais encontrar você, e todas as minhas cartas retornaram sem terem sido abertas, eu compreendi que teria de retornar à Grécia e contratar um detetive para encontrar você. Infelizmente, eu não dispunha do tempo necessário para isso, não enquanto estava construindo um empreendimento. Ela virou a cabeça abruptamente para ele. — Não sei de que cartas você está falando. Theo enfiou a mão no bolso das calças e retirou a primeira carta que havia enviado para Stella depois que saíra do hospital. Ele endereçara a carta à Stella, em seu endereço na mansão em Atenas. Portava o selo cancelado e a data. Na base do envelope, fora escrita a frase "endere ço desconhecido". — Dê uma olhada. — Ele lhe estendeu a carta. — Se você alguma vez sentiu curiosidade em ler o que está dentro do envelope, então conhecerá meu estado de espírito na época. Enquanto isso, estou aqui para reclamar o que é meu por direito: Ari. Ela relanceou os olhos para a frente da carta antes de jogá-la de volta para ele. — Ari não é seu — disse Stella numa voz gélida que ele não reconheceu. Ele guardou a carta de volta no bolso. — Deixe-me refazer a frase. Ele pertence a nós dois. Ela jogou a cabeça para trás, 18


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lançando ao ar os reluzentes e negros fios de cabelo. Com essas características combinadas à pele bronzeada, Stella era um milagre da feminilidade. — Você deu vida a ele, mas foi apenas isso que fez. — Foi apenas isso que me foi permitido fazer — retorquiu Theo. — Como você claramente não acredita em mim, não vamos falar sobre o passado. Prefiro conversar sobre o futuro de Ari. Por que não traz o Ari amanhã para que possamos nos conhecer melhor? O que acha? O corpo de Stella estremeceu em agitação. — É melhor você não esperar demais, Theo. Como se ele não soubesse. — Eu sei disso. A que horas devo encontrar vocês dois? Ela ligou o carro. — Amanhã é domingo. Nós temos planos. — Stella estava enrolando, mas ele precisava ser paciente se esperava conseguir qualquer coisa com ela. — Depois de amanhã será melhor. 13h. — Estarei aqui. Stella, juro que tratarei ele com a maior consideração possível. Sei que ele não seria o menino maravilhoso que é se não fosse sua mãe. Você nasceu para ser mãe, Stella. Qualquer criança sua seria uma felizarda. Embora não estivessem se tocando, ele pôde senti-la tremer. — Você pode ter duas horas com Ari se ele quiser — balbuciou. — Isso é mais do que eu esperava. A Stella que conheci um dia era generosa. Lembra daquele coraçãozinho que lhe dei? — Referia-se a uma bijuteria que comprara para ela porque tinha sido a única coisa que seu dinheiro pudera pagar, mas o sentimento a descrevera. "Amo a generosa." Ela deu a partida no carro, claramente não gostando de ser lembrada do passado dos dois. — Por favor, desça do carro. Ari está me esperando. Houve um momento em que ela teria lhe implorado para não partir. É claro que naquela época, ele não teria ido a parte alguma porque precisara de mais um beijo, mais um abraço antes de forçar a boca a interromper o contato com a dela. Maldição, ele precisava tão desesperadamente da boca de Stella que sentia-se a ponto de explodir. Forçando-se a agir, ele desceu do carro. — A propósito, adorei o seu carro. Com suas linhas clássicas, parece com você. E caso você não saiba, esse vestido branco foi feito para você. A guisa de resposta, ela manobrou e arrancou com o carro.

Stella só havia rodado dois quilômetros quando precisou parar o carro por um minuto. Enterrou o rosto nas mãos. Como era possível que Theo pudesse atingi-la daquele jeito depois de tudo que a fizera sofrer? Em cerca de meia hora, ele havia apertado cada botão dela, até deixá-la com 19


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vontade de gritar. Mas o que realmente a assombrava era a mudança dos traços de seu rosto. No que dizia respeito aos padrões de beleza masculina, Theo fora um homem belo antes. E Stella precisava ser honesta consigo mesma: ele ainda era. Contudo, uma pequena cicatriz se projetava do canto de sua boca. A sobrancelha direita não abria tanto quanto a outra. Sob alguns ângulos, isso lhe concedia uma aparência ligeiramente sinistra. O nariz ainda era nobre, mas exibia diversas imperfeições. Theo não mentira a respeito do dano que haviam lhe causado. Enquanto ele descia do carro, ela vira a cicatriz abaixo do seu lóbulo esquerdo. Uma linha fina e esbranquiçada descia por seu pescoço bronzeado até desaparecer no colarinho da blusa azul escura. O resto do corpo alto, coberto por trajes elegantes, revelava que ele amadurecera para se tornar um homem de constituição poderosa. Ela não queria pensar no dano sob a superfície ao qual ele havia se referido, a espécie de dano que um raio X poderia detectar. Ele emanava uma aura que não fora evidente seis anos atrás, mas isso se devia ao tempo que tivera para amadurecer. Hoje ele seria capaz de intimidar a maioria dos homens. E Stella mordiscou o lábio ao reconhecer que qualquer mulher iria se sentir irresistivelmente atraída por ele. Enquanto estava mergulhada profundamente em pensamentos torturantes, Stella ouviu o helicóptero de Theo sobrevoá-la. Com medo de que ele pensasse que ela tivera de parar no acostamento devido à sua reação a ele, ela começou a dirigir pelas ruas com paralelepípedos de Batsi em direção à mansão de Stasio, em Palaiopolis. No caminho, ela passou na aldeia para comprar alguns cosméticos, evidência clara de sua necessidade de ficar um pouco sozinha. Ela deixara os meninos nadando na piscina com Rachel e as meninas. A não ser que Ari tivesse falado alguma coisa sem querer para a família, Stella tinha quase certeza de que poderiam manter em segredo a presença de Theo na ilha. Na segunda-feira, ela diria à família que ia levar os meninos para passear pela ilha porque Dax nunca estivera antes em Andros. Stasio trabalhava muito. Agora que ele tirara três semanas de folga para ficar com a esposa e os filhos, ela não queria sobrecarregá-lo com seus problemas. E, com sorte, quando Nikos chegasse, ele não iria causar problemas. Nikos tinha se posicionado contra a decisão de Stella de ficar com Ari. Na opinião dele, isso não era justo para com os desejos dos pais deles. Assim como não era justo para com a própria Stella, que não possuía um marido e que não podia dar a Ari o mesmo tipo de atenção que pais adotivos iriam lhe oferecer. Nikos ficara furioso com Stasio por tê-la ajudado, e o recomendara a não meter o nariz onde não era chamado. Stella sabia que Nikos não gostava de Ari. O filho de Stella também sabia disso, e essa era a razão por que era tão apegado a Stasio, que abertamente o adorava. O fato de que Nikos não era capaz de demonstrar qualquer espécie de afeto por Ari causava em Stella tristeza perpétua e tornava muito difícil para ela estar com ele. Há muito tempo, ela havia decidido que não possuía a capacidade de ser feliz, principalmente depois que seus pais haviam morrido. Parte de Stella torcia para que ele não viesse passar a temporada aqui. Com o advento de Theo em suas vidas, Ari já tinha problemas demais. Quanto a Theo, a despeito das coisas horríveis que tivessem acontecido em sua vida, será que já não era tarde demais para iniciar com Ari um relacionamento que deveria ter começado com o nascimento do menino? 20


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Lágrimas quentes correram pelas faces de Stella. A agonia da rejeição e os anos de torturante solidão que tinham vindo em seguida poderiam tê-la levado à loucura. Mas não agora. Agora ela não se permitia mais isso. Tudo que queria era ser capaz de prover uma vida maravilhosa para Ari. Ela não ia permitir que Theo aparecesse de repente e tornasse a vida deles um caos. Theo realmente achara que ela iria acreditar que aquela carta era autêntica? Ela enxugou a umidade das faces antes de entrar no portão que conduzia ao caminho de acesso para a mansão de Stasio. Aparentemente, chegara a tempo de se juntar a todos para um passeio de iate, seguido por um jantar na costa. Provavelmente, fora idéia de Stasio, porque ele sabia que Ari gostava de ficar ao leme durante parte do trajeto, com a orientação de Stasio, é claro. E com toda certeza, Dax também iria conduzir um pouco. Sim, uma tarde no mar prometia ser muito relaxante. Stasio a ajudou a entrar no barco. O belo irmão de Stella parecia tão feliz, que ela compreendeu que seu segredo estaria a salvo por enquanto.

Theo voou para Andros na segunda-feira, ao meio dia. Trouxera uma mochila cheia com petiscos e alguns itens essenciais. Sem saber ao certo o que Ari gostaria de fazer, Theo optara por usar calças casuais com uma camisa azul-marinho e botas de caminhada. Hoje ele iria deixar que Ari tomasse todas as decisões. Depois de comer um sanduíche e tomar um drinque em uma taverna próxima com Boris, ele seguiu até a área de concessões comerciais para esperar a chegada do carro de Stella. Era quase difícil de acreditar que este dia havia chegado. Ele sonhara com isso por muito tempo. Hoje de manhã, ele acordara agitado, incapaz de se concentrar em seu trabalho. A praia estava cheia de turistas. Ele teria preferido não estar perto de tanta gente, mas precisava fazer o jogo de Stella se quisesse conquistar um pouco de sua confian ça. Enquanto tentava imaginar o que estaria passando pela cabeça de seu filho, sentiu o coração acelerar ao ver o carro de Stella. Junto com ela, havia dois meninos da mesma idade compartilhando o banco do carona: um era moreno, e o outro, louro. Então Stella preparara-lhe uma surpresa. Mas ele não podia culpá-la por sentir-se mais confortável em grupo. Ajustando a mochila nos ombros, ele se aproximou do carro. — Olá, Ari — disse ele, sorrindo para o filho, que estava com bermudas caqui e camisa de futebol. Ele era magro, com cabelo castanho quase negro de tão escuro; o tipo de menino bonito do qual qualquer homem gostaria de ser pai. Ver a ele e a mãe fez com que Theo esquecesse de respirar por um momento. Ele analisou o filho. A única coisa que podia oferecer qualquer garantia de sucesso era a pureza do espírito de Ari, o amor sem fronteiras de Theo pela criança que era parte ele, parte Stella. Se o menino deles houvesse herdado a doçura de Stella, sua natureza amorosa, então Theo talvez tivesse alguma chance de tocar seu coração. Mas ele sabia que isso teria de ser no próprio tempo de Ari. — Oi — ele respondeu sem entusiasmo, recusando-se a olhar para ele. — Quem é o seu amigo? 21


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— Dax. — Oi, Dax. Estou feliz por você ter vindo. Quero conhecer os amigos de Ari. Acho que tem um personagem em uma série de Jornada nas Estrelas com esse nome. Alienígena, acho. Dax piscou. — Eu já sabia disso. Como você sabia? — Adoro ficção científica. Principalmente histórias de discos voadores. — Eu também. Mas meu pai acha que esses filmes são estúpidos. — Bom, eu não acho. — Rachel conhece alguns discos voadores de verdade — disse Ari, atraído para a conversa, mesmo contra sua vontade. — Quem é Rachel? — Minha tia. O pai dela foi piloto da força aérea. Theo correu os olhos por Dax, que estava de calças jeans e camisa de malha. Stella vestira calças compridas e uma blusa branca que faziam maravilhas por sua silhueta. Considerando que todos estavam vestidos de forma apropriada, ele tomou uma decisão. — Ari, sua mãe me disse que só teremos duas horas hoje, mas acho que é tempo suficiente para fazermos uma trilha. O que você acha de todos irmos? — Parece ótima idéia — respondeu Dax, entusiasmado. Ari fitou Theo, surpreso. — A mamãe também? — Ela e eu passávamos todo o tempo ao ar livre. Devemos ter caminhado por toda a ilha Salamis. Não há ninguém com quem eu gostaria mais de ficar preso em uma montanha. Além disso, eu gostaria de ver se ela ainda consegue seguir o meu ritmo. Theo contornou o carro e abriu a porta para Stella, que parecia completamente sem palavras. — Eu... Eu não planejava ir com você — a voz falseou. — Por favor, mamãe! — Aparentemente, essa idéia agradou seu filho. Acompanhado pela mãe, ele não sentiria muito medo. Theo não podia pedir mais do que isso. Ela não teria como em recusar. — Apoio a moção — murmurou Theo. — Você conhece todos os lugares secretos da região. Lembro de que você me contou sobre o mirante deserto naquela montanha ali, onde uma vez achou um ninho de águia. Mais uma vez, Ari pareceu surpreso. Ele fitou Stella. — Eu nunca vi esse ninho. — Isso porque eu nunca te levei para fazer uma trilha até lá, querido. Bom, então essa seria uma experiência nova para eles quatro. — Vamos descobrir se ele ainda está lá. Trouxe petiscos suficientes para todos nós. Todos estavam olhando para Stella. Ela não tinha como dizer não. E Stella seria capaz de caminhar em brasa para proteger o filho deles. 22


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— Muito bem, vamos. Theo ajudou Stella a descer do carro. Ver aquelas pernas longas e elegantes cobertas em caqui elevou subitamente sua pressão arterial. Quando seus braços roçaram por acidente, o contato deslanchou um fluxo de desejo tão intenso por seu corpo que ele cambaleou. Para seu desespero, tudo nessa mulher o atraía mais do que nunca. — Ari? Aposto que você sabe como levantar a capota do carro para a sua mãe. — O menino fez que sim, mas Theo pôde notar que o menino não pensara nisso até que ele mencionasse o assunto. — Isso é bom. Queremos que o carro esteja seguro enquanto estivermos fora. Ele é uma beleza — disse Theo, olhando para Stella. Ela desviou o olhar. — Você me deixa fazer isso, mamãe? — Eu ajudo — voluntariou-se Dax. — Sim, é claro — disse Stella, resignada. Depois que Stella havia trancado o carro com o controle remoto, Theo abriu sua mochila. — Dê-me sua bolsa. — Embora Theo sentisse que ela estava resistindo a ele a cada passo do caminho, Stella precisava ser cautelosa na frente de Ari. Depois que ela lhe deu a bolsa, ele passou o zíper no compartimento e a acomodou nos ombros uma segunda vez. — Se todos estiverem prontos, tem um caminho que começa atrás daquele bosquete ali. A trilha sobe a encosta do vale. O último a chegar ao mirante é mulherzinha. Os dois meninos riram. Dax perguntou: — Só uma expressão que eu costumava ouvir muito em Nova York. Bem, a expressão era quase essa. O sorriso de Ari sumiu. Ele o fitou com olhos duros enquanto caminhava. — Mamãe e eu já moramos em Nova York. Fora para lá que ela escapara? Onde ficara por tanto tempo? Essa era uma informação surpreendente, a despeito do fato de que soubesse que Stasio viajava a negócios para Nova York regularmente. E pensar que Ari estivera vivendo na mesma cidade em que ele trabalhara... — Você gostava de lá? — Sim, mas gosto mais da Grécia. — Eu também. — Vamos, pessoal — Stella incitou-os. — Nesse ritmo, nunca chegaremos lá. Theo se perguntou o que a deixara tão nervosa que ela chegara a ser um pouco rude com Ari. Bem, ele pretendia descobrir até o final do passeio. — Nunca estive em Nova York — murmurou Dax . — É uma cidade empolgante. — Achei que você morasse na Grécia. — Morei até ter uns vinte anos, Dax. Depois me mudei para Nova York para ganhar a vida. Agora tenho um escritório em Atenas e estou determinada a ficar. — Stella estava caminhando com Ari na frente deles, mas Theo suspeitava que ela estivesse prestando atenção na conversa para ter certeza de que ele e Dax não iriam falar sobre nenhuma questão que ela considerasse delicada. 23


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— O que você faz? — Negocio ações e investimentos. Algumas propriedades. O que o seu pai faz? — Ele tem um banco. É claro. Dax pertencia ao pináculo da sociedade grega. — A sua mãe também tem um emprego? — Não. Ela fica em casa com o meu irmão, minha irmã e eu. — Você tem muita sorte. Sabia que minha mãe ainda ajuda o meu pai a gerenciar sua taverna em Salamis? Não consigo lembrar de um único dia em que eles não tenham trabalhado. Eu queria que minha mãe tivesse ficado mais tempo em casa comigo e meus irmãos, mas éramos pobres demais. Ela precisava trabalhar. — É cozinheira? Theo sorriu. — Ela é muitas coisas. Outro dia mesmo, eu lhe disse que ela e papai não precisavam mais trabalhar, porque eu pretendia cuidar deles daqui por diante. Sabe o que ela me disse? Dax levantou o rosto para olhar para ele. — O quê? — Theo Pantheras, eu trabalhei a minha vida inteira. Eu não saberia o que fazer se não tivesse de trabalhar. Ari reduziu o passo e olho em torno. — Eles sabem a meu respeito? — Stella olhou para trás. Havia dor evidente em seus. olhos enquanto buscavam pelo filho. — Eles sabem tudo a respeito de você e rezo para que chegue logo o dia em que você possa conhecê-los. Para suavizar o momento, Theo tirou a mochila e abriu um compartimento. — Vejamos. Tenho água, laranjas, amendoins, balas. Quem quer o que antes de passarmos o dia gastando energias? — O alívio no rosto de Stella não requisitava explicação. Depois que eles haviam bebido e comido um pouco, Theo parou ao lado de um pinheiro. — Vou contar até vinte enquanto vocês dois sobem primeiro a trilha. Leve meus binóculos, Ari. Se você vir alguma coisa empolgante, grite. No segundo em que ele começou a contar em voz alta, os dois começaram a correr. Era mais escarpado ali, e a trilha ziguezagueava através da floresta. — Vinte — gritou ele finalmente, e então olhou para Stella. — Está pronta para tentar pegá-los? — Só um minuto, Theo. — Qual é o problema? Vai me dizer que fiz tudo errado? O peito de Stella subia e descia com a força de suas emoções. — Não finja que não sabe que está fazendo tudo direito. — Sua voz tremia. — Convidar Dax para vir deixou Ari mais confortável. — Achei que tinha sido por causa disso que você o trouxe com Ari. 24


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— Não. Eu ia levar Dax para passear pela ilha enquanto esperávamos por vocês, mas a sua idéia foi muito mais interessante. — Ela não ousou fazer contato visual com ele. — Então, você está zangada porque eu a envolvi no passeio. Quando vi o quanto Ari parecia desanimado, tomei uma decisão impulsiva, torcendo para que isso ajudasse o nosso filho. Ela esfregou a palma das mãos nos quadris sedutoramente femininos, num gesto de nervosismo que ele vira muitas vezes. Sempre sentia-se tocado por sua vulnerabilidade. — Seus instintos foram precisos — admitiu Stella. — Eu não esperava que ele se divertisse hoje. Acho até mesmo que ele não vai resistir a se encontrar novamente com você — ela balbuciou. — É a respeito disso que preciso falar com você. Ele mastigou mais alguns amendoins. — Continue. Ela pigarreou. — Estaremos aqui de férias por duas semanas e meia. — Depois de uma pausa, ela o fitou com uma sombra de súplica no olhar. — Antes que peça para vê-lo novamente, gostaria de saber se pode esperar até voltarmos a Atenas. Duas semanas e meia pareciam uma vida inteira. — Podemos combinar isso, mas antes terá de me dizer porque sente tanto medo de que eu os visite aqui — retorquiu sem hesitar. — Não estou com medo. — Entretanto, o tremor do corpo de Stella indicava o exato oposto. — Sim, você está. — Inconscientemente, ele segurou as mãos frias de Stella. — Presumo que sua família esteja aqui e que você ainda não tenha contado a eles a meu respeito. — Stella tentou recuar, mas ele a puxou para mais perto. — Eles vão descobrir por meio de Ari ou Dax. Você não pode manter uma situação dessa magnitude em segredo. — Talvez não, mas estou torcendo para já ter resolvido tudo quando voltarmos para a cidade. Ele franziu o cenho. — Parece déjà vu, nós dois nos encontrando escondidos para que sua família não saiba o que está acontecendo. Nada mudou, não é mesmo? — Por favor, me solte. — Ela tentou se afastar, mas ele ainda tinha perguntas. — Não seria por medo de me ver novamente, seria? — Theo... — As minhas cicatrizes te repelem tanto assim? — As suas cicatrizes não têm nada a ver com nada! — A raiva dela soou genuína o bastante para convencê-lo. — Então, fique aqui mais um pouco. — Eu não posso! 25


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— Não era isso que você costumava falar pra mim! — Quer dizer, até você me deixar esperando na igreja? — Já conversamos sobre isso, Stella. Eu lhe disse que estava indo quando fui detido. Quando conseguir chegar à igreja, você havia desaparecido. Um grito estranho escapou da garganta de Stella. Theo subiu as mãos pelos braços de Stella, sentindo o calor da pele atravessar o material fino da blusa dela, seduzindo-o. Ele a balançou gentilmente. — Você sabe que eu só teria deixado de ir à igreja se uma situação de vida ou morte tivesse me impedido. Nós já conversávamos sobre casamento muito antes de eu descobrir que havia te engravidado. Os olhos de Stella se encheram com lágrimas. — Não quero falar sobre esse assunto. Os meninos podem ver a gente. — Eles estão pelo menos a um quilômetro de distância agora. Nós precisamos discutir este assunto em algum momento. — Ele começou soltá-la novamente. Stella balançou a cabeça, recuando dele como se o contato tivesse sido demais para ela. — Não sei no que acreditar. Se você me fizer a gentileza de devolver a minha bolsa, voltarei para o carro enquanto você se junta aos meninos. Ele respirou várias vezes para se acalmar enquanto ele retirava a bolsa de dentro da mochila. O fato de precisar fugir dele significava que Stella talvez estivesse começando a aceitar a lógica dele. O coração de Theo disparou. — Você vai ficar bem voltando para casa sozinha? — Essa é uma pergunta estranha, vinda de uma pessoa que não esteve por perto durante anos. Por favor, vá lá pra juntos dos meninos. Este lugar é território desconhecido para eles. — Trarei os dois de volta em segurança. Ela saiu correndo como uma gazela, deixando-o sozinho. Ele a observou até não poder mais vê-la, então subiu a trilha com as veias pulsando com energia renovada. Ainda que por trás de uma sólida parede de defesa, a Stella que ele amara continuava viva, e saber disso revigorava a sua alma. Theo esquecera que podia se sentir assim. Com o tempo, ele iria descobrir por ela nunca entrara em contato com ele novamente. Ela não ia a lugar algum agora. E nem ele. Quando chegou ao mirante, Dax estava olhando alguma coisa por seus binóculos. Quando viu Theo, o menino apontou para uma área ao longo da cordilheira, e então lhe passou os binóculos. Theo levantou-os aos olhos. — Você tem olhos aguçados, Dax. Aquele é um falcão Elenora se divertindo com um amigo. Eles não estavam a trinta metros de distância. Ele devolveu os binóculos ao garoto. — Exatamente como você e Ari. Dax riu, mas os lábios de Ari não deram o menor sinal de sorriso. Theo não esperara uma reação muito positiva de seu filho, e realmente não estava obtendo nenhuma. Ele teria de ter uma paciência infinita caso quisesse que Ari permitisse que ele entrasse em sua vida. 26


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Stella recebera sua promessa de que não tentaria ver Ari de novo até que eles estivessem de volta a Atenas. Ele pretendia honrar essa promessa, mas não precisava gostar dela. — Odeio estragar a diversão, mas a sua mãe está esperando por nós. — Ele abriu a mochila. — Comam o que sobrou e vamos embora. Não foi preciso insistir para que os meninos comecem os petiscos. Theo guardou os binóculos, e eles desceram a montanha. Stella já havia abaixado a capota do conversível. Ela parecia tão composta e intocada quanto antes. Para sua satisfação, Theo notou o nervo latejando furiosamente na base do pescoço de Stella, irrefutável prova em contrário. Quando chegaram ao carro, ela olhou as horas. O passeio durara três horas. Mais tempo com seu filho do que ele esperara. Ele estudou o perfil de Stella enquanto afivelava os cintos de segurança dos meninos e fechava a porta. — Vocês foram ótimos hoje. Há muito tempo não me divirto tanto. Talvez possamos fazer isso de novo em outra ocasião. Dax fez um high five, batendo a palma da mão contra a dele. — Foi demais. Ari franziu os olhos enquanto olhava detrás de Theo. — Aquele ali é o seu helicóptero? Seu filho não deixava passar nada. — Sim. — Quem é o homem caminhando na frente dele? — Meu guarda-costas. Ele se chama Boris. Um breve momento de silêncio. — Stasi também tem um. — E seu próprios assassinos contratados, que incluíam Nikos, mas Ari não sabia disso. — Está indo para Atenas agora? Theo pensou na questão. Ari provavelmente estava ansioso para se ver livre dele. Theo podia estar sendo um tolo, mas ousou acreditar ter detectado um tom desolado na pergunta do filho. Por outro lado, era possível que Ari apenas estivesse curioso. Mas que diabos, Theo não sabia o que pensar. Ari era seu filho, um menino que ele conhecia há apenas três horas. A história de horror do passado não devia ter acontecido. A dor estava começando de novo, de uma forma completamente nova. — Na verdade, vou voar de volta para a minha casa, na ilha Salamis. — Você mora com a sua mãe e o seu pai? — perguntou Ari em voz baixa. Eles são os seus avôs, Ari. — Não. Eles moram em Paloukia, em cima da sua taverna. — Ari não devia saber como era viver com tantos corpos apertados dentro de um espaço exíguo, com tão pouca privacidade. Paredes finas. Roupas de segunda mão. Os aromas provindos da cozinha permeando tudo. — Minha casa fica na praia, a uns dez minutos de distância deles. — Oh. — Obrigado pelo passeio divertido, rapazes. — Foi legal! — gritou Dax com entusiasmo. Nenhuma reação da parte de Ari, é claro. Stella havia desviado os olhos. 27


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Theo caminhou a passos largos até o helicóptero. Enquanto se afastava, não ousou olhar para trás. Temia não querer partir.

CAPÍTULO TRÊS

Por um momento absolutamente insano, Stella se viu acometida por uma sensação de perda, da mesma espécie que costumara sentir todas as vezes em que tivera de deixar Theo e correr de volta para casa. Não, isso não podia estar começando de novo. Ela não ia permitir isso. Como no outro dia, ela se descobriu dirigindo veloz até a mansão enquanto o helicóptero de Theo voava acima de sua cabeça. Mas houve uma diferença. Dessa vez, não parou para ceder às suas emoções ou reviver a sensação das mãos de Theo tocando-a. Dessa vez, ele não a pegara de guarda baixa, e ela estava decidida a não permitir que isso voltasse a acontecer. — Quando voltarmos e alguém perguntar, lembrem de dizer que andamos de carro por aí, compramos uns belisquetes e paramos em Batsi para andarmos de pedalinho. Vocês acham que conseguem fazer isso? Dax assentiu com a cabeça. Ari não disse nada, mas Stella sabia que ele ficaria calado. Ela não estava surpresa por ele estar em estado de choque. Uma overdose de Theo Pantheras por três horas seguidas deixaria qualquer criança embevecida, especialmente quando esse homem impressionante era o seu próprio pai. Assim que chegaram à mansão de campo e os meninos correram até o quarto de Ari para vestir suas roupas de banho, Stella seguiu direto até o seu para ligar para a mãe de Dax e assegurá-la de que tudo estava correndo bem. Era a primeira viagem que o menino fazia sem seus pais, mas apenas com ela e Ari. Era uma espécie de experimento. Até aqui, Dax parecera perfeitamente feliz. Theo tornara o passeio tão empolgante que ela duvidava que o menino estivesse com saudades de casa. Stella sentou-se na beirada da cama para telefonar para a mãe de Dax. Depois que elas tivessem conversado, Stella talvez fosse capaz de desfrutar o fim de semana que eles tinham planejado antes que Theo entrasse em cena como um daqueles discos voadores sobre os quais eles haviam conversado antes. Aquela conversa em particular havia quebrado o gelo de uma forma que Theo decerto não havia planejado. Ainda que fosse muito pequeno, Ari demonstrava um interesse em ficção científica digno de um adulto. Depois das conversas que tivera com sua tia Rachel, ele estava determinado a ser um astrônomo quando crescesse, para procurar por novas galáxias onde houvesse vida. Todo esse tempo Stella pensara que o menino tivera sua paixão despertada por sua tia, mas agora ele estava convencido de que isso viera dos genes dos Pantheras. Ari tinha várias sérios de Jornada nas Estrelas em DVD. Quem teria adivinhado que Theo também era um viciado em Jornada nas Estrelas! Isso apenas mostrava a Stella o quanto ela conhecia pouco a respeito de Theo. 28


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— Stella? — Oi, Elani. — Como está indo com o meu garoto? — Eles estão se divertindo muito. Acabamos de fazer uma trilha e agora vamos nada. — Nenhum problema ainda? Stella sorriu. — Nenhum. — Durante os minutos seguintes, ela contou à mãe de Dax tudo que eles vinham fazendo, deixando de fora apenas os detalhes de que Theo estivera junto. Depois que voltasse a Atenas, Stella iria se abrir com Elani, contando-lhe tudo a respeito dele. Por enquanto, o episódio na encosta da montanha, quando ela estivera a sós com Theo, iria ser o seu segredo. Esse era um erro que ela não estava disposta a cometer uma segunda vez. — Prometa me contar se houver algum problema com ele. Então iremos até aí resolver. — Até aqui tudo bem, minha amiga. Vou fazer com que Dax telefone para você antes de ir para a cama. Tenho certeza de ele que vai querer isso. — Você é um anjo, Stella. A gente se fala depois. Ambas desligaram. Stella ficou sentada ali, em transe, pensamentos focados em Theo. Ainda que anos atrás ele houvesse matado o amor que ela sentira por ele, a forma como tratara o filho deles hoje a convencera de que ele não estava disposto a cometer erros com Ari. Ela repassou mentalmente os eventos do último dia. Ele não recorrera a truques sujos para influenciar Ari nem insulara medo nele com qualquer espécie de ameaça. A verdade era: ele não fizera absolutamente nada de errado. Não na frente do filho deles. A outra parte fora culpa dela própria, por não ter mandado Ari passear sozinho com o pai. Em vez disso, ela permitira que a apreensão de Ari a persuadisse a se juntar a todos eles no passeio. Exceto que essa não era a verdade inteira, e esta era a parte que ela havia odiado em si mesma. Quando Theo a induziu a acompanhá-los, não foi em Ari que ela pensou. A curiosidade pelo homem que Theo se tornara havia sido o calcanhar de Aquiles de Stella. Nesse momento de fraqueza, ela havia decido a ele, e isso quase lhe custara novamente sua alma. Ela nunca iria aprender sua lição no que dizia respeito a Theo? Stella levantou-se abruptamente e correu até o banheiro para vestir sua roupa de banho. Era incrível que, enquanto seguia para se encontrar com Theo em Batsi, ela imaginara que tudo acabaria em desastre, mas nada pudera estar mais distante da verdade. Stella estava em choque. Um novo Theo renascera das cinzas, mas em todas as formas que importavam, ele ainda era o mesmo homem. O homem que roubara seu coração antes de atirá-lo em um vazio do qual jamais poderia ser recuperado. Agora ele estava de novo com uma explicação diferente do que acontecera na noite em que ela o aguarda na igreja. Fosse qual fosse a verdade, acontecera há tempo demais para que qualquer coisa pudesse ser feita agora. O dano atingira pessoas demais. Não era possível retornar e juntar os pedaços. Simplesmente não era possível. 29


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— Mamãe? — Ari entrou correndo em seu quarto. — Estou no banheiro trocando de roupa! — Stella ficou corada, morrendo de vergonha por ainda estar pensando em Theo. — Já vou sair! Precisei primeiro telefonar para a mãe do Dax. — Tia Rachel quer saber se você vai sair para a piscina. — É claro! — Ela disse que Stasi está morrendo de fome e quer comer lá fora agora. Quando o irmão dela ficava com fome, a atitude mais sensata era alimentá-lo imediatamente. — Diga a ela que já estou indo — gritou pela porta. Um segundo depois, ela saiu para o quarto embrulhada em sua toalha e descobriu que Ari ainda estava lá. Dax já descera. Se Ari não quisesse conversar, ele teria corrido de volta até a piscina. — O que foi, querido? Ele a fitou com uma expressão extremamente sóbria. — O meu pai quer ver você de novo? Naturalmente, tudo tinha relação com Theo. — Você sabe que sim. É por causa disso que ele se deu ao trabalho de levar você para passear hoje. — Mas ele não disse nada antes de partir no seu helicóptero. Isso quer dizer que ele mudou de idéia a meu respeito? O tom que ela percebeu na pergunta foi de medo ou esperança? — Ari, venha aqui. — Ela sentou na beira da cama. Ele caminhou até ela. — Enquanto estávamos sozinhos, eu disse a ele que nossa família está de férias no momento. Então, lhe pedi que esperasse nosso retorno a Atenas para planejarmos outra visita. Espero que isso facilite as coisas um pouco para você. A julgar pela forma como ele franziu a testa, pareceu que a resposta de Stella não o satisfez. Ela começou a se dar conta de que não havia nada que pudesse dizer para ajudá-lo agora. — Terei de ir com ele? Ela respirou fundo. — Vou lhe dizer uma coisa. Se você não quiser ficar sozinho com ele, vou acompanhar vocês de novo na próxima vez. — Ela analisou os olhos do menino. — Ele foi legal com você hoje, não foi? — O menino não disse nada. Stella não tinha como saber o que estava se passando pela mente dele. Ari olhou para os pés. Ela reconheceu aquela expressão de incerteza. — O seu pai assustou você hoje de alguma maneira que eu não tenha percebido? Você precisa ser honesto e me ajudar a compreender. Ele balançou a cabeça. — Não. — Mas ele te deixou nervoso, não deixou? — Sim. O menino saiu correndo da sala, deixando-a completamente desolada. Ela atravessou a miríade de corredores e desceu alguns degraus para alcançá-lo. Quando ela 30


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alcançou o pátio, Ari já estava pulando na piscina. — Ah, ótimo! — exclamou Rachel. — Stasio! Saia agora! Estamos prontos para comer. Stella encontrou Dax e se certificou de que o menino encheu o prato. Em seguida, pegou um pouco de comida para si mesma e sentou-se no balanço ao lado de Dax, porque Ari ainda estava nadando. Em voz baixa, ela perguntou a Ari: — Vocês realmente se divertiram hoje? Ele assentiu com a cabeça. — Foi demais! — Então, pode me dizer o que o pai de Ari fez que o deixou nervoso? Você sabe de alguma coisa? — Não, mas ele ficou zangado comigo. Ela franziu a testa. — O Sr. Pantheras ficou zangado com você? — Não. O Ari. — Ari ficou zangado com você? Quando? — Depois que voltamos para a casa, ele parou de falar comigo e começou a brincar com as meninas. Esse simplesmente não era o jeito de Ari. — Sinto muito, querido. Acho que o comportamento dele não tem nada a ver com você. — Ele me disse que eu devia voltar para casa. Stella odiou ouvir isso. — Ele não quis dizer isso, Dax. É claro que você ficou magoado, mas ele vai entender que cometeu um erro e pedir desculpas. Depois do jantar, vou ter uma conversa com ele. — Mais uma. — Aposto que ele vai lhe dizer que sente muito antes mesmo que terminarmos de comer. Exceto que Ari não fez nada de acordo com seu comportamento habitual. O menino permaneceu na piscina, recusou a comer e provocou Cassie até ela sair da água e correr chorando até a mãe. Até Stasio percebeu que alguma coisa estava errada e saiu da piscina para conversar com ele. Mas Ari não estava disposto a dialogar e saiu correndo do pátio. Stasio lhe dirigiu um olhar inquisidor. Isso não era bom. — Você me dá licença por um minuto, Dax? Volto já. Com o coração acelerado, ela correu atrás do filho. Quando alcançou o menino, Ari estava prestes a trancar a porta do seu quarto. — Ari. — Ela o abraçou forte, recusando-se a deixá-lo ir. Não demorou muito para que ele começasse a chorar. Em sua vida inteira, ela jamais o vira estremecer dessa forma. — Diga-me o que está sentindo, querido. Deixe-me ajudar você — ela implorou. — Eu sei que você está chateado por causa do seu pai. — Não quero falar a respeito dele. — Então não falaremos. — Estou feliz por não ter de vê-lo até depois das nossas férias. — Ele enxugou os 31


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olhos. — Vou descer agora. — Para falar com Stasio? — Não. — Então para o quê? — Nada. — Por favor, espere... — Ele estava prestes a sair. — Dax disse que você ficou com raiva dele. Por quê? — Porque ele me deixou com raiva enquanto estávamos fazendo a trilha. — Entendo. — Só que ela não entendia. Dax era um menino adorável. Os dois sempre haviam se relacionado muito perfeitamente bem. — Isso acontece com amigos. Vocês estiveram juntos demais hoje. Quando descer, pode me fazer um favor? Faça as pazes com ele. Ele está no pátio, sentindo-se muito triste. Se fosse o contrário, seria você quem estaria se sentindo muito mal agora. — Não quero fazer as pazes com ele. — Nem parece você falando. — Stella não via seu filho agir dessa forma com muita freqüência. — Mas, mesmo assim, você precisa se desculpar com Dax, porque ele é nosso convidado. E enquanto estiver fazendo isso, que tal dizer a Cassie que sente muito por ter tomado a bola dela na piscina? Ela só tem quatro anos, querido. Quando um menino grande como você toma as coisas de uma menininha como a Cassie, ela não tem como se defender. — Desculpe. — Diga isso a ela. Está bem? Ele assentiu, e então desapareceu. Quando ela chegou ao pátio, Ari já encontrara Dax e começara a comer uma kebab de carneiro com ele enquanto conversavam em particular. Logo depois, os meninos entraram na piscina e começaram a brincar gentilmente com Cassie, deixando-a pegar a bola quando chegava sua vez. Stasio dirigiu-lhe um sorriso, feliz por estar tudo bem novamente. Stella escorregou para o lado fundo e começou a nadar de costas, tentando relaxar depois de um dia que ela jamais iria esquecer. Ari poderia estar agindo normalmente neste momento, mas ela sabia que, lá no fundo, suas emoções estavam tumultuadas. E as dela também. Talvez ela tivesse errado ao pedir a Ari que ainda não contasse nada a Stasio, mas ela queria acreditar que eles podiam lidar sozinhos com essa situação. Stella odiava pensar que tinha uma personalidade tão fraca que sempre precisava recorrer à ajuda do irmão. Como Ari poderia aprender a sempre cair de pé se corria para Stasio cada vez que ocorria uma crise? Isso precisava parar. No dia seguinte, Stella entrou no quarto de Ari levando um pouco de água gelada para ele. Eles haviam passado um dia inteiro velejando. Ele pegara um pouco de sol demais e estava reclamando que não se sentia muito bem. Enquanto os outros e Dax brincavam na piscina antes do jantar, ela pediu licença para ir cuidar do filho. Estava deitado de costas na cama, cobrindo os olhos com o bracinho queimado de sol. Stella entrou ao lado dele e sentiu sua testa. — Você está quente. Beba isto, querido. Vou pegar meu telefone e chamar um 32


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médico. A recepcionista disse que o doutor estava ocupado. Stella deixou um recado pedindo que ele ligasse de volta. — Não quero ir ao médico — disse Ari. — Vou ficar bem. — Vamos deixar que ele julgue isso. — Queria que Dax fosse para casa, mas eu sei que ele não pode. Dax novamente. — Claro que ele pode. Tudo que preciso fazer é telefonar para Elani e ela virá pegá-lo. — Stella fitou o filho, preocupada. Ele não era o mesmo desde o passeio com Theo no dia anterior. — Você teve algum problema com ele hoje? — Tive. — Quer me contar a respeito? — Não. — Ele se virou para não ter de olhar para ela. — Precisamos conversar. Tem alguma coisa muito errada. Você não sabe o quanto te amo? — Sei. Por impulso, ela disse: — Se você precisar conversar com o seu tio a respeito do seu pai, vou pedir que ele venha até aqui depois que tiver acabado de comer. — Não quero falar com Stasi. — Essa seria a primeira vez. Ele rolou tão rápido da cama que ela compreendeu que havia tocado em um nervo. — Por que você não está se entendendo com Dax? — Porque ele quer falar sobre coisas que eu não quero. — Quer dizer, como coisas pessoais? Ele assentiu. Num impulso de inspiração, ela disse: — Ele tem feito perguntas sobre seu pai? — É. — De que tipo? — Ele acha meu pai bacana. — Notei que Dax se afinou bem com ele. — Eles passaram o tempo todo conversando. Stella compreendeu que estava se aproximando de alguma espécie de resposta. — O pai de Dax é um homem mais velho e pacato. Dax deve ter gostado da atenção de Theo. — Ele fica me perguntando quando vou vê-lo novamente, e se podemos todos fazer coisas juntos. — Os olhos dele se encheram com lágrimas. — Ele não é o pai do Dax! — O que você quer dizer com isso? Ele piscou para conter lágrimas que teimavam em sair. — Meu pai gostou mais do Dax do que de mim. 33


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— O quê? — Achei que ele queria estar comigo, mas meu pai foi mais legal com o Dax. Odeio os dois. — Oh, meu amor! — Stella estendeu os braços para ele e o abraçou mais forte enquanto tentava compreender que, longe de sentir hostilidade opor seu pai, Ari estava enciumado pela atenção que Theo prestara ao seu melhor amigo. Para sentir ciúmes de alguém, é preciso gostar dessa pessoa. Isso significava que Ari nutrira um desejo por seu pai durante toda sua vida cognitiva, mas que permanecera adormecido até o primeiro teste. Até o dia de ontem, ela havia considerado que Theo iria descobrir que era tarde demais para iniciar um relacionamento com Ari. Ela tivera certeza de que seu filho jamais iria se afinar com ele. Ari já possuía uma figura paterna em Stasio, o melhor homem do mundo. Ele não precisava nem queria outro pai. Stella esperara que Theo tivesse uma surpresa chocante, mas, no fim, quem se surpreendeu foi ela. Stella precisava desesperadamente fazer alguma coisa para ajudar Ari, mas o quê? Só uma pessoa tinha o poder de corrigir isso. Desta vez, a situação estava fora da capacidade de Stasio de resolvê-la, o que era, por si só, uma revelação. Enquanto ela embalava seu filho para frente e para trás, seu celular tocou. A última coisa que ela queria era atender, mas provavelmente era o médico. — Vamos ver quem é. — Ela o soltou por tempo suficiente para poder pegar seu telefone na penteadeira. Ela reconheceu o número no identificador de chamadas. Theo! — Alô? — disse trêmula. — Stella? — O som da grave permeou o corpo de Stella até as solas de seus pés. — Eu prometi a você que não tentaria ver Ari até depois das suas férias, mas preciso ver você esta noite. Sozinha — acrescentou, emitindo uma onda de choque através do corpo de Stella. — Estou aqui em Palaiopolis, num pequeno bistrô chamado Yanni's. Estou sentado a uma mesa no terraço com vista para a água. Vou esperar por uma hora até que você venha me ver. A pulsação de Stella acelerou. Ela estivera uma vez lá com Rachel, mas como era um point romântico freqüentado principalmente por casais, nunca mais estivera lá. — A... alguma coisa errada? — balbuciou Stella. — Sim. Vou lhe dizer quando você chegar aqui. Ela se remexeu nervosa. — Eu não sei se posso ir sem despertar suspeitas. — É importante. — Depois de uma breve pausa: — Enquanto você está pensando a respeito, eu gostaria de falar com Ari por um minuto e lhe dizer o quanto o pas seio com ele ontem foi importante para mim. Com Dax perto, eu não podia dizer certas coisas que eu queria. Acha que ele pode falar comigo agora ou então me ligar depois? E se ele não quiser fazer nenhuma das duas coisas, irei deixá-lo em paz. Stella mal podia acreditar na coincidência da hora, ou nos motivos dele para ter ligado. Mas ela ouviu alguma coisa na voz de Theo que dizia que ele estava ansioso. — Espere um minuto que vou ver. Ela pousou o telefone na penteadeira e caminhou até Ari. — É seu pai. Ele quer falar com você. 34


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Isso fez com que Ari virasse a cabeça abruptamente. — O que ele quer? O pobre menino estava sofrendo desde o dia anterior. Disso ela já sabia, mas não que fora por ciúmes. — Ele disse que há coisa que queria lhe dizer, mas não podia com Dax por perto. Você não precisa falar com ele agora. Ele disse que você pode ligar a qualquer hora que quiser, ou então nem precisa ligar. Você é quem sabe, meu bem. O menino levou um longo tempo para se decidir antes de caminhar até o telefone e atender à ligação. Stella prendeu a respiração enquanto o menino dizia um claudicante "alô". Começou como uma conversa unilateral, com Theo falando o tempo todo. Ela achou que iria terminar logo, mas como todas as presunções que fizera desde que esse homem retornara à sua vida, ele a surpreendeu com o inesperado. Num minuto Ari estava mais animado. Em dado momento, chegou até a rir. Antes do telefonema, ela não teria julgado isso possível. A conversa durou mais cinco minutos. De repente, ele disse: — Mãe? — Sim, querido? — Preciso esperar até o fim das nossas férias pra ver o meu pai de novo? Stella estava chocada! Theo não parava de surpreendê-la desde que retornara a Atenas. — E quanto ao Dax? — questionou Stella. — Papai disse que ele pode vir com a gente se eu quiser. Eu quero. — Então está bem. Stella mal podia crer no que acabara de dizer, mas depois do surto de honestidade de Ari, ainda há pouco, estava feliz pela crise desta noite ter sido abatida pela única pessoa que poderia ajudar seu filho. Stella não esquecera que Theo era a causa inicial de todo o problema, mas nada disso importava à luz da dor de Ari, que parecera ter desaparecido ao som da voz do pai. Ela ia telefonar de volta para o doutor e lhe dizer que, afinal, tudo estava bem. — Mamãe? Temos alguma coisa planejada para amanhã? Tão cedo assim? — Não. Nada especial. O menino voltou a conversar ao telefone com o pai. Ela aguardou que ele disse alguma coisa. — Você fez planos? Ele fez um som afirmativo num tom desinteressado que queria expressar que aquilo não era importante, mas a luz nos seus olhos marrons dizia que sim, era algo muitíssimo importante. — Você se importa de me contar? — Quatro da tarde, papai vai levar a gente de helicóptero até Meteora. Disse que é lá que ficam os monastérios. Nós vamos ficar por lá até escurecer. Papai vai levar seu 35


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telescópio para que possamos olhar as estrelas. Quem sabe, a gente consiga ver algum disco voador. Stella estava realmente espantada. — Ainda bem que a sua tia Rachel não está sabendo disso, senão ia querer ir com vocês. — Não se preocupe. Ele disse que não serão permitidas mulheres nessa viagem. Viagem? Theo estava fazendo tudo do jeito certo. Ela não conseguia culpá-lo. — Preciso contar a Dax. — Ainda não — ela o aconselhou. — Você e eu ainda precisamos conversar por um minuto primeiro. Fique aqui. — Certo. Papai quer falar com você de novo. — Ele deu a ela o telefone. — Theo? — perguntou enrouquecida. — Ari reagiu melhor do que eu esperava. É com você que estou contando agora. Porém, desta vez, sou eu quem vai esperar que você chegue. Vamos torcer para que nenhuma força sombria a impeça de chegar. Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, Stella ouviu o clique do telefone sendo desligado. O som ecoou a batida feroz de seu coração. — Mamãe? Você acha que a tia Rachel pode me emprestar as fotos dela de Marte? Quero mostrá-las ao meu pai. — Tenho certeza de que ela vai deixar. — Quando você acha que eu posso pedir a ela? — Querido, eu estava querendo esconder isso da família até podermos voltar a Atenas. Você sabe, até acertarmos melhor esta situação. — Está bem. — Ari? Preste atenção. O seu pai está aqui em Andros. Os olhos do menino se iluminaram. — Ele está? — Está. Disse que precisa falar comigo a respeito de alguma coisa muito importante antes de voar de volta para Salamis. Eu... Eu disse que iria tentar me encontrar com ele, mas preciso da sua ajuda, porque não quero que mais ninguém saiba disso. — Eu não vou contar. — Sei disso. Quero que você fique no seu quarto e se apronte para dormir. Vou mandar o Dax subir para te fazer companhia, e então você poderá lhe dizer o que seu pai planejou para amanhã. Enquanto isso, eu vou dizer a Rachel que preciso sair para fazer compras, mas que voltarei logo. — Queria ir com você. — Não desta vez, querido. O seu pai e eu temos coisas sobre as quais precisamos conversar sozinhos. Você consegue entender isso? — Ele assentiu. — Você vai vê-lo amanhã, está bem? Os lábios do menino se curvaram num sorriso. 36


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— Tá. Stella o beijou e correu até seu quarto para pegar a bolsa. Ela não ousou trocar as calças e a blusa que usara para passear de barco. Isso poderia denunciá-la. — Rachel? — disse Stella um minuto depois. Todos estavam à beira da piscina, comendo. — Ari está descansando. Ele estava meio febril, mas agora está se sentindo melhor. Mesmo assim, vou à cidade comprar umas coisas que ele quer. Voltarei logo. — Ela se virou para Dax. — Ari pediu pra você subir depois que tiver acabado de comer. — Já acabei — declarou o menino antes de entrar correndo na mansão. Feliz por todos estarem dando atenção às meninas, Stella entrou em seu carro e dirigiu até a cidade. No caminho, ela telefonou para o consultório médico e disse à recepcionista que Ari estava muito melhor e que o doutor não precisava ligar de volta. Devido aos turistas, ela precisou estacionar a uma rua de distância do Yanni's. O lugar começava a ficar cheio demais. Ela entrou no bistrô e disse à hostess que ia se encontrar com alguém no terraço. Não havia qualquer sinal de Boris, mas isso não significava que ele não estivesse lá. A outra mulher conduziu-a até a mesa iluminada por velas no terraço, a qual Theo estava sentado. A cada passo, ela desejou ao menos ter posto um vestido de noite. Especialmente quando o viu levantar-se usando uma caríssima camisa de seda preta acompanhada por calças cinza. Ele se destacou dos outros homens, atraindo atenção feminina de cada direção, inclusive da deslumbrante hostess. Os olhos negros correram por Stella com aquela antiga intimidade. Quando ele a ajudou a sentar-se, Stella sentiu as mãos dele acariciando levemente os ombros dela, como se ele não pudesse se conter. Isso a fez recordar de outra época quando eles não haviam sido capazes de manter as mãos afastadas um do outro. — Você pegou muito sol hoje — sussurrou Theo no ouvido dela. — Sua beleza irradia como uma tocha. Todos os homens no restaurante estão morrendo de inveja de mim. Ela tentou não reagir, mas, por dentro, sentia um turbilhão de emoções. Theo sempre havia exercido esse efeito nela. Neste momento, ela corria o risco de esquecer o abismo de dor que os separava. Depois de se sentar, ele disse: — Como eu sabia que você não podia ficar muito tempo longe da mansão, tomei a liberdade de fazer o pedido para nós. Stella mal conseguia respirar por causa da forma como ele estava devorando-a com os olhos. — Você acha mesmo que me conhece, não é? — Eu a conhecia muito bem quando fomos impedidos tão tragicamente de nos casar. Ela desviou o olhar enquanto o garçom servia-lhes camarão grelhado e cebolas. Theo lembrou. Era um dos pratos favoritos dos dois, acompanhado por pão e uma taça de vinho da casa. Depois que o garçom se afastara, ela começou a comer, dando-se conta de que estava faminta. — Como o camarão que costumávamos comer no Blue Lagoon durante nossos passeios a Salamis. 37


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Rapidamente estendeu a mão até o vinho, lamentando que ele a houvesse lembrado. — Não temos muito tempo. Por que você não me diz por que era tão importante você me ver esta noite. Ele partiu o pão. — Pedi que se encontrasse comigo porque quero lhe comunicar uma coisa. Desejo ter um relacionamento não apenas com Ari, mas também com você. Por um momento, o mundo pareceu girar. Theo sempre fora franco e direto. Nesse sentido, ele não havia mudado, mas a vida mudara essa situação. Ela precisava manter a cabeça fria. — Se você olhar ao redor, Theo, verá muitas fêmeas que gostariam de lhe dar uma oportunidade. Ele sorriu de lado. — Que fêmeas? Eu só vejo Stella Athas, a garota que arruinou todas as outras mulheres para mim, — Theo... — sua voz latejou. — Você fez mesmo isso, sabia? — Ele inclinou a cabeça. — Saí com muitas mulheres em Nova York na esperança de que me fizessem esquecer de você, mas isso nunca aconteceu. Creia em mim, se alguma mulher tivesse feito com que eu esquecesse de você, eu teria me casado com ela e permanecido nos Estados Unidos. As palavras de Theo fizeram um arrepio correr pelo corpo de Stella. Depois de v êlo novamente, depois de saber o que ele já significava para Ari, pensar nele casado com qualquer outra pessoa cravou uma nova dor em seu coração. — Quantos homens você conheceu desde mim? — A voz grave de Theo assumira agora uma qualidade territorial. — Isso não é da sua conta. — Quantos, Stella? Devem ser incontáveis. Ela o fitou severa. — Se está perguntando, o que acho que está pensando, a resposta é nenhum. — Mas não por falta de tentar? — Ele levantou o que restava de vinho aos lábios. — Eu estava ocupada demais criando Ari. Os olhos negros pareceram brilhar à luz bruxuleante. — Você fez um trabalho soberbo. — Obrigada. Ela não conseguia mais continuar essa conversa. Depois de pousar o guardanapo na mesa, ela se levantou. Ele não tentou detê-la. — Preciso comprar algumas coisas na cidade antes de voltar para a mansão. Se eu demorar muito, a família vai se perguntar por quê. — Não podemos permitir isso, não é? Theo sabia que ela estava preocupada com a reação de sua família à perspectiva de tê-lo novamente em sua vida. 38


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— Os garotos estarão à sua espera às quatro da tarde. — Venha conosco amanhã. — Não — asseverou Stella. Ela já estava envolvida demais nisso. Qualquer tempo que passasse na companhia dele apenas iria confundi-la ainda mais. — Ari está ansioso por ficar sozinho com você. Boa noite, Theo. Depois de comprar algumas coisas, ela voltou para a mansão de Stasio. No caminho, precisou pensar em uma desculpa para ela e os meninos se afastarem da mansão no dia seguinte. Ela não poderia dizer que eles iam passear de carro pela ilha de novo. Na tarde do dia seguinte, Stella finalmente chegou a um plano. Ela contou à família que eles tinham decidido dar um passeio longo nas montanhas. Depois, fariam um jantar lauto em um dos restaurantes em Batsi e ver um filme, daí seu motivo para chegarem tarde em casa. Às 16h, quando ela chegou de carro à doca dos pedalinhos, Theo estava esperando por ela e os meninos, de calça jeans colante e suéter creme. Ele estava tão deslumbrante que a pulsação de Stella disparou. — Voltaremos às dez — disse ele. — Que tal se juntar à gente para um jantar leve depois? — Acho que não. Esta noite é só dos meninos, lembra? — Mas eu quero que você venha, mamãe — disse Ari. Ele a beijou no rosto e desceu do carro junto com Dax. — Você pode estar cansado demais quando chegar para comer. Mas vamos ver o que acontece. — Vou tomar isso como um sim — disse Theo em sua voz rouca enquanto deitava um braço sobre os ombros de Ari. Stella não conhecia seu filho, que riu alto antes dos três correrem até o helicóptero que os aguardava. Ela os fitou. Aquele era o primeiro gesto de afeto físico de Theo para com seu filho? Se era, Ari pareceu recebê-lo muito bem. Os dois pareciam estar se afiando muito bem. Se as coisas continuassem assim, então ela teria de encarar a verdade. Theo planejava ser o pai de Ari em cada sentido da palavra, algo que o menino, obviamente, queria. Isso significava que Stella precisava criar uma dura camada de proteção para sobreviver. Na noite passada, ele havia lhe contado que desejava que mantivessem um relacionamento, mas ela estava aterrorizada. Stella temia que muito em breve ela estaria onde havia começado: loucamente apaixonada por Theo. Atordoada, caminhou até a cidadezinha de Batsi, onde ia matar tempo até que os três retornassem. Stella ouviu o helicóptero sobrevoá-la. O som a fez acelerar o passo para não ter de pensar nas emoções que estaria perdendo por não estar com eles.

CAPITULO QUATRO 39


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Naquela noite, Theo falou em voz baixa com a hostess enquanto lhe dava uma gorjeta. — Pode nos colocar na frente, onde os meninos poderão ver a dança de perto? — Ele escolhera uma taverna em Batsi que permitia a entrada de menores de idade. — O senhor e sua esposa queiram me acompanhar. — Obrigado. Se Stella ouviu o que a outra mulher dissera, fingiu não ter se importado. Vários casais já estavam na pista de dança, movendo-se ao som da banda, e ele estava ansioso por levá-la até lá. Depois que os meninos começassem a beliscar alguma coisa, ele planejava conduzi-la para algum lugar de onde pudesse ficar de olho neles e ent ão abraçá-la o mais perto que a decência permitisse. Depois que um garçom com seus pedidos e os meninos acabaram de contar a Stella sobre o passeio, ele lhes pediu licença e segurou a mão dela. — Dança comigo? — Vai, mamãe. Nunca te vi dançando antes. — Ela é uma especialista — murmurou Theo. Sem esperar por um sim ou não, ele a obrigou a se levantar e a conduziu até a pista. — Faz anos que não danço — disse Stella. — Eu também. A última vez, foi numa dança de igreja com você. Lembra que foi no porão? Todos estavam com medo, porque os adultos estavam de olho. Eu pisei no seu pé. — Não, você não pisou. Fui eu quem pisou no seu pé várias vezes. Eu fiquei tão constrangida que quis morrer. Ele a puxou para perto de si, pressionando a face contra a de Stella, para sentir sua pele quente. — Tudo que lembro era que estava no céu por causa de Stella Athas, a garota mais desejável do mundo, que havia concordado em dançar comigo. Todos os meus amigos estavam morrendo de inveja de mim. Eles haviam apostado que você não me deixaria nem chegar perto o bastante para tocar em você. — Isso era impossível? — Pensei nisso no começo, mas logo descobri que você era terrivelmente tímida. Você representava um desafio ao qual eu não podia resistir. Meu maior medo era que você descobrisse que eu era um Pantheras, e, então, fugisse de mim, passando a freqüentar uma outra igreja onde eu não poderia encontrá-la. — Quando eu era adolescente, a última coisa que eu pensava era em dinheiro. — Eu sei disso agora, mas todo mundo dizia pelas suas costas que você era uma Athas, e que, como tal, gostava de pisar em nós, plebeus. Ela recuou, fitando-o com olhos magoados. — Que triste que as pessoas se sentissem assim. 40


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— Nem todos, Stella. — Atendendo a um desejo insaciável, ele roçou a boca contra a dela antes de correr os dedos pelas parte de trás de seu cabelo. Deus, como ela era linda. Stella não fazia idéia da falta que ele sentia de estar perto dela. Stella cerrou os olhos. — Por favor, mantenha distância. Estamos em uma pista de dança, com as crianças olhando. Theo não teve como conter um sorriso. — Todo mundo está dançando colado. — Ele estava rapidamente perdendo o autocontrole. — Nós não somos todo mundo. — Não, não somos, graças a Deus. Só existe uma Stella. — Ele beijou o cabelo dela na têmpora. — Há coisas sobre as quais temos de falar. Espere um telefonema meu antes de ir para a cama esta noite. — Theo virou-a na direção da mesa deles e puxou a cadeira para que ela sentasse. — Que tal a comida, garotos? — Boa — disse Ari. -— O garçom trouxe mais refrigerantes. Dax assentiu. — Ele disse que podíamos beber quanto quiséssemos. Sentindo-se eufórico, ele olhou para o filho. — Já dançou com a sua mãe antes? — O menino fez que não. — Esta é a sua chance. — Não sei como. — Eu sei. Minha mãe me ensinou. — Dax se levantou e caminhou até Stella. Ela sorriu. — Estou honrada. — Sem hesitação, ela o conduziu para um rodopio pela pista de dança. Theo sorriu para Ari. — Está vendo? Não tem nada de mais. Ele pôde perceber que o menino estava reunindo coragem. Um minuto depois, eles voltaram à mesa. Para o deleite de Theo, Ari se levantou e assumiu sua vez com Stella. Nada como uma pequena competição saudável. Bom para ele. O garoto herdara a timidez da mãe, mas com um pouco de confiança, iria crescer para se tornar um homem extraordinário. O que quer que ele fizesse, fosse astronomia ou qualquer outra coisa, terá inteligência e perseverança para ser bem-sucedido. Theo queria ser pai 24 horas por dia. E o caminho para fazer isso passava por Stella. Como se ela soubesse o que ele estava pensando, no minuto em que retornou com Ari, ela olhou o relógio. — Está realmente tarde. Temo que tenhamos de ir andando. Theo pousou algumas notas na mesa e ajudou Stella a se levantar. Os quatro saíram do restaurante para a quente noite grega. Desta vez, ele fez um highfive com o filho primeiro. — Eu tive alguns dos melhores momentos da minha vida hoje. — Eu também. 41


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— Você pode ligar a qualquer hora. Quando estiver de volta a Atenas, fale com sua mãe, e faremos mais planos. Ari voltou a cabeça abruptamente para Stella. — Não podemos decidir agora? Ela pareceu atormentada. — É melhor falarmos sobre isso depois. — Sua mãe tem razão. Foi um dia muito longo. — Ele fez cafunés em ambos meninos e então relanceou os olhos para Stella. — Dirija com cuidado para casa. Seu carro leva carga preciosa. Eles se entreolharam por um instante antes que uma expressão de determinação alterasse as feições de Stella e ela ligasse o carro. Enquanto eles se afastavam, Ari olhou para trás e acenou. Theo levantou a mão. Até breve, Ari. Até breve.

Assim que entrou na mansão com os meninos, Stella ouviu uma voz perturbadora chamar por ela. Era terrível sentir-se dessa forma com relação ao próprio irmão, mas acontecera coisas demais no passado para que ela fingisse não se sentir importunada pela presença dele. — Ora, ora. — Ele correu os olhos pelos três. — Quem diria que vocês iam chegar tão tarde... — Oi, tio Nikos. Ela fez uma pausa no saguão de entrada para beijá-lo na face. Ele parecia esbelto e elegante em seu calção de banho. O irmão de Stella era a personificação do medalhista de prata olímpico que conquistara algumas medalhas para a Grécia. — Olá, Nikos. Que bom te ver. Onde está Renate? — Lá em cima, desfazendo as malas. Ele fitou Dax. — Quem é esse? — Meu amigo, Dax. — Nunca te vi aqui antes. — Ari me convidou. Ciente de que Ari estava se sentindo desconfortável, Stella pôs a mão em seu ombro. — Suba e prepare a cama. Não esqueça de escovar os dentes. Subirei daqui a pouquinho para lhe dar boa noite. Depois que os dois meninos haviam subido, ficou mais fácil lidar com Nikos. — Stasio ainda está acordado? — Eles estão lá fora no pátio. Vai se reunir a nós? — Não esta noite. Para ser honesta, estou exausta. Diga a Renate que irei vê-la de manhã. — Como você deixou Ari trazer alguém? Este é um momento íntimo em família. 42


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Stella ficou furiosa. — Não consigo acreditar que você acaba de dizer isso! Ele não vai passar o tempo todo aqui, mas mesmo se passasse, que diferença isso faria para você? Você costuma entrar e sair ao seu bel prazer. Quanto às meninas, elas tem dois e quatro anos, e não servem de companhia para um menino de seis anos o tempo todo. Ele pareceu intimidado. Stela não conseguia lembrar da ultima vez em que o vira assim. — Por que está tão irritadiça? Nem parece você mesma. — Eu não comecei esta briga, Nikos. Foi você quem começou, sendo ofensivo, não apenas para comigo, mas também para com os garotos. Theo fora mais atencioso com Dax do que Nikos costumava ser com Ari. — Stella? — retorquiu Nikos, olhos negros furiosos. — O que deu em você? — Eu ainda sou a mesma pessoa! Apenas decidi falar o que penso, como você faz. Às vezes, isso não é nada agradável, não acha? Boa noite. Ela subiu as escadas sem olhar para trás. Era uma sensação muito boa ser honesta com ele. Ao chegar ao quarto, Stella encontrou o filho já vestido em seu pijama, esperandoa sentado na cama. Por algum motivo, isso não a surpreendeu. — Ei, querido... por que essa cara triste depois de um passeio tão maravilhoso? — Mamãe? Teremos de ficar aqui durante nossas férias inteiras? Obrigada, Nikos! — Foi isso que planejamos. — Mas eu quero ficar com o meu pai. Ele tem um monte de coisas que podemos fazer na casa dele. Ela julgara que o comentário fora a respeito de Nikos, mas claramente não fora. Stella respirou fundo para se fortalecer. — Não está gostando daqui? Ele desviou o olhar. — Estou. — Mas? — Gosto de estar com ele. Ele é sensacional. Dax também acha. —- Eu notei. É como estar com o tio Stasio? — Ele era o herói de Ari. — E parecido, mas ele é o meu papai — disse em voz baixa. O papai dele... — Queria que a gente pudesse ir pra casa amanhã. As vidas deles estavam mudando de formas que Stella não julgara possível há uma semana. Certamente, o mundo de Ari sofrera uma transformação total. -- Vou lhe dizer uma coisa. O seu pai vai me ligar daqui a pouco, e então iremos conversar. Amanhã de manhã, eu lhe direi o que ficou decidido. — Tá bom — retrucou melancólico. — Ele desceu da cama e disparou para o quarto dela. Com a mente focada em Theo, ela foi ao banheiro escovar os dentes. Se ele tinha voado direto para Paloukia, provavelmente já estava em casa. Ela decidiu se preparar 43


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para dormir antes. Talvez a essa altura ele já a houvesse telefonado. Dez minutos depois, ela se meteu debaixo das cobertas, ainda esperando que ele ligasse. Decidida a tomar a iniciativa, pegou a carta de Theo em sua bolsa e digitou o número dele no celular. Theo atendeu ao segundo toque. — Ari? — A empolgação terna na voz de Theo foi por si própria reveladora. — Não. É Stella. Essa é uma hora ruim para conversarmos? — É uma hora perfeita. Acabo de entrar em casa e já ia telefonar para você. Ela julgara-se capaz de fazer isso, mas agora não tinha tanta certeza. Nervosa demais para ficar deitada ali, levantou-se e se pôs a caminhar de um lado para outro. — É a respeito de Ari. — Foi o que presumi, mas espero ansiosamente pelo dia em que possamos conversar sobre o futuro. O nosso futuro. Ela ficou sem ar. — Não temos tempo para conversar sobre isso agora. — Por que não? Ari ficou enjoado com todos aqueles petiscos que eles comeram enquanto a gente dançava? — Não. — Ela bem que queria que fosse tão simples. — Desde que te conheceu, ele é um menino diferente. — E eu também. Mas é isso o que acontece quando pai e filho se encontram. — A minha preocupação é: por quanto tempo? — indagou, apertando com força o fone. — Para sempre. O corpo de Stella começou a tremer. — Muitos relacionamentos começam como amizades, mas deterioram com o tempo. — Nosso amor não morreu, Stella — declarou ele com sua voz grave e máscula. — Fomos emboscados por uma força que nenhum de nós tinha o poder de deter na época. — Você insiste em dizer isso! — exclamou Stella. — Porque é verdade. Se acreditasse na minha palavra de que fui arrancado de você, eu nunca iria lhe dizer mais nada, porque não quero que você e Ari sofram mais. — Escute, Theo, pelo bem de Ari, eu quero acreditar que ele quer estar com você, mas temo que minha capacidade de confiar morreu anos atrás. — O que você quer dizer? — indagou severo. — Q... que vou lhe dar um voto de confiança e lhe permitir acesso livre a ele. — Lágrimas rolaram por suas faces. — Você tem o coração de Ari em suas mãos. Mas se você fizer qualquer coisa que o decepcione... — Estou aqui para ficar, Stella. Minha vida está completamente amarrada à dele. Isso era difícil. Ainda mais difícil porque essas eram as coisas que ela quisera que ele dissera muitos anos atrás. — Rezo para que você esteja dizendo a verdade, porque esta noite ele perguntou 44


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se poderíamos interromper nossas férias e voltar amanhã de manhã para Atenas. Ele quer estará disponível para você. — E o que você disse a ele? — Que falaríamos sobre isso de manhã. — Tenho certeza de que essa é a ultima coisa que uma pessoa quer ouvir quando gosta de estar com sua família. Eles ainda não sabem que tenho visto Ari? — Não. Isso não é da conta deles. Tenho preferido manter a situação em segredo. Mas eles vão descobrir muito em breve. Amanhã de manhã, vou voltar para casa com os meninos. — Nesse caso, eu gostaria de passar lá à tarde para vê-lo. Então nós três poderemos conversar sobre nossos planos. — Ele vai adorar — murmurou Stella. — Mesmo com toda nossa historia, será a primeira vez em que eu vou entrar na sua casa, Stella. — Ari vai adorar — disse Stella, tentando se desviar do assunto, — Não mais do que eu. Obrigado. Você não faz idéia do quanto isso significa para mim — acrescentou, com a voz traindo sua emoção. Desligue o telefone, Stella. — Boa noite. — Boa noite. Dirija com segurança para casa. — Ela ouviu a preocupação em seu tom antes de desligar. Stella passou o resto da noite se revirando na cama, torcendo para ter tomado a decisão certa. Na manhã seguinte, a primeira coisa que fez foi dizer a Ari que eles estavam de partida. Ele gritou um viva antes de sair correndo para mandar Dax arrumar suas coisas. Stella fez as malas rapidamente antes de descer até o escritório de Stasio. Ele costumava conferenciar com sua secretária no começo de cada manhã, mesmo quando estava viajando. Como Theo, era alto e dotado de feições belas e másculas. — O de casa. — Stella? Sentimos falta de você ontem à noite. Entre. — Só vim me despedir. Espero que Rachel melhore do enjôo matinal. Ele franziu a testa. — Por pior que seja o enjôo dela, no momento estou mais preocupado com você. Diga-me qual é o problema. — Nada específico. — Ela odiava mentir para ele, mas ainda não estava preparada para falar a respeito de Theo. — Ari e Dax estão inquietos. Em casa, eles têm mais amigos da idade deles com quem fazer coisas. Ele estudou intensamente o rosto de Stella. — Você não está dizendo a verdade, mas tem esse direito. Notei que vocês dois estão diferentes desde que chegaram. Só não esqueça, se precisar de mim, estarei aqui. O irmão dela tinha radar. 45


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— Eu sei, e te amo por isso. Diga à Rachel que vou ligar mais tarde, depois que tiver chegado em casa. Despeça-se por mim de Nikos e Renate, sim? Stasio contornou sua mesa e deu um grande abraço na irmã. — Vou acompanhar você até o carro. Os meninos já estavam com seus cintos de segurança. Era tão incomum que Ari não tivesse ido falar com o tio, que Stasio certamente sabia que algo de profunda significância estava acontecendo. — A gente se vê depois, tio Stasi. Obrigado por tudo. — Eu me diverti muito — disse Dax. — Obrigado. — Voltem quando quiserem. — Ele abraçou Ari. Stella deu a partida no carro e eles seguiram para o porto de Gavrion para pegar a barca. Assim que saíram do carro e foram para o convés de recreação, um comissário se aproximou de Stella. — A senhora é Despinis Athas? — Sim. — O seu quarto está reservado para a senhora. Ela piscou. — Eu não reservei um. — Dependendo do clima e das condições do vento até Rafína, o cruzeiro só durava de duas a três horas. — Outra pessoa reservou — disse o comissário com um sorriso. — Por aqui, por favor. — Vamos, meninos. Alguém planejou uma surpresa pra gente. — O sangue tamborilou em seus ouvidos. Ela só podia pensar em uma pessoa. Eles acompanharam o comissário até o deck seguinte, onde abriu a porta de uma cabine. Stella arfou espantada ao entrar e ver duas dúzias de rosas de cabos compridos em um vaso na mesinha de cabeceira entre duas camas de casal. De um lado, havia uma mesa e cadeiras. Ela viu uma bacia de frutas e uma outra cheia com doces e biscoitos e meia dúzia de latas de sucos variados. — Isso é tudo é para gente? — perguntou Ari, deliciado. — E para mais quem seria? — respondeu uma voz grave, familiar. Stella se virou. — Theo... — Papa! — Ari correu para abraçá-lo. — Não sabia que você ia voltar com a gente! Os olhos negros de Theo encontraram os de Stella. Eles eram tão vivos que ela podia sentir sua energia. — O trabalho pode esperar. Eu decidi que queria me juntar à diversão. — Legal! — exclamou o filho deles enquanto Dax, todo sorridente, começava a se entupir com doces. Stella estava mais feliz em vê-lo do que julgara possível. — As flores são lindas. Theo entrou completamente no quarto e fechou a porta antes de se recostar contra 46


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ela com os braços cruzados. De camisa castanha clara esportiva e bermudas brancas, ele parecia incrível. — Lembra da vez que fomos de barca até Poros? Estava tão cheia que tivemos de ficar o tempo inteiro de pé lá no fundo? Eu tinha apenas uma rosa vermelha para te oferecer. Naqueles tempos, eu era tão pobre que só podia lhe dar presentes simbólicos. Stella amara cada coisinha que ele havia lhe dado. — Eu ainda a tenho — ela meio que sussurrou. — Está pressionada no dicionário grande que mantenho na minha estante lá em casa. — Já vi essa rosa — comentou Ari. — Eu não sabia que tinha sido o papai quem havia te dado. O sorriso reluzente de Theo fez o coração de Stella dar uma cambalhota dentro de seu peito. — A sua mãe e eu gostávamos de trocar presentinhos. Ainda tenho o bracelete que ela comprou para mim. Ari mastigou um biscoito. — Onde está agora? — Bem aqui. — Theo levantou a perna. Todos fitaram pasmos a correntinha de ouro abraçando o tornozelo de Theo. — Você ainda usa o bracelete? — Stella estava chocada. — Eu te disse, na noite que você me deu o bracelete, que eu jamais iria tirá-lo. Ela ficou toda corada. Antes deles terem saído para nadar, Stella havia dado a Theo o bracelete, e lhe pedira para colocá-lo. Ela lembrava de Theo esmagando-a em seu braços, dizendo-lhe que eles agora estavam unidos para sempre. — Eu quero usar um! — Eu também! — concordou Dax. Stella riu. — Talvez quando vocês dois forem mais velhos. — Por falar em vocês dois... — Theo caminhou até o armário e pegou um par de coletes salva-vidas infantis. — Quero que usem estes coletes enquanto estivermos na barca. — Ele ajudou os dois a vestir os coletes. — Por quê? Ele terminou de afivelar os coletes. — Porque nunca se sabe quando alguma coisa pode acontecer, e quero que vocês estejam seguros. Stella notou que Ari não pareceu gostar muito da idéia, mas amou o fato de Theo ter insistido. — Aposto que ninguém mais está usando isso. — Talvez não, mas eu quero que você faça isso por mim, porque eu te amo demais. — Também te amo, papai. Agora você tem de colocar o seu colete. Tanto Stella quanto Theo caíram na gargalhada. Ele retirou dois coletes adultos do closet. 47


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— Não vale o velho ditado "faça o que eu digo, não faça o que eu faço", certo? — Ele começou a caminhar até ela com travessura brilhando nos maravilhosos olhos negros. Stella teria posto o colete sozinha, mas Theo insistiu em fazer as honras. O toque enviou ondas de calor delicioso por todo seu corpo. Com as costas voltadas para os meninos e os olhos ardentes fitando os dela, Theo pôs-se a amarrar, muito lentamente, as pontas das correias perto do pescoço de Stella. Ela estava com uma vontade tão grande de que ele a beijasse que chegou a sentir dor na palma das mãos. Precisando fazer alguma coisa antes que o desejo a levasse a fazer alguma besteira, Stella pegou o outro colete e o ajudou a vesti-lo. Ele sempre tivera ombros largos e músculos rijos? Ao tocar o peito dele, Stella ouviu-o arfar. — Podemos ir brincar de shuffleboard? — Sim — respondeu Theo enquanto ela ainda estava, amarrando a correia dele. — Daqui a pouquinho vamos descer para brincar com vocês. — Tá legal. Vamos, Dax! — Eles pegaram alguns doces e saíram da cabine. Quando a porta fechou, Theo puxou-a para si. — Nosso filho acaba de nos prestar um favor. Sem esta armadura, você não estaria a salvo de mim neste exato momento. Vamos experimentar, para caso eu esteja errado. Antes que se desse conta do que estava acontecendo, Stella se viu engolfada pelos braços dele, incapaz de se mover. — Vou te beijar, queira você ou não. Ela achou que ele iria começar por sua boca, mas ele iniciou uma exploração do rosto dela, movendo-se lentamente até ela achar que iria morrer se Theo não satisfizesse o desejo que crescia feroz dentro dela. Um gemido escapou da garganta de Stella, a forma que seu corpo encontrou para pedir a Theo que parasse de torturá-la e realmente a beijasse. E, quando isso aconteceu, ela quase desmaiou de êxtase. De algum modo, ela realmente não compreendeu como eles acabaram na cama, num beijo que pareceu não ter começo nem fim. Ela perdeu completamente a noção do tempo. Eram apenas eles dois se comunicando numa explosão de desejo. De repente, a porta foi aberta. — Ei, mamãe? Papai? Não vão brincar com a gente? Theo foi o primeiro a se recuperar. Ele mordeu gentilmente o lóbulo de Stella e então rolou para fora da cama. — Vou subir agora. A sua mãe vai se reunir a gente daqui a pouco. Que tal um refrigerante? — Sim. Legal. Depois que eles saíram, Stella sentou-se na cama, mas estava tão tonta por causa do beijo dele que precisou se levantar com cuidado para não tropeçar e cair. O colete salva-vidas dificultou ainda mais isso. Uma olhada no espelho sobre a penteadeira foi um doloroso testemunho de sua situação. Tinha a impressão de que era, de novo, uma adolescente. Depois de estar com Theo, estava com os lábios inchados e o cabelo desgrenhado. O perfume das rosas enchia todo o quarto. No futuro, sempre que sentisse cheiro de rosas, lembraria deste dia. 48


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Mais uma vez, Theo fizera sua mágica. Depois de pentear o cabelo e passar batom, telefonou para Elani e lhe disse que estavam voltando para casa, mas que, caso ela não se importasse, Dax continuaria com eles. Depois que Elani concordou, Stella subiu ao convés para encontrar os rapazes. Depois que jogaram shuffleboard, voltaram para a cabine para comer mais petiscos. Enquanto Ari e Dax descansavam em uma das camas, Theo deitou de lado atrás de Stella, que ficou sentada na beirada da cama, conversando com os meninos. Ele fez isso de propósito, sabendo que seria tortura para ela não poder deitar-se ao lado dele. Faltando dez minutos para chegarem ao porto, o telefone de Stella tocou. Ela precisou atender. — Stella — disse Rachel. — Eu não fazia idéia de que você ia embora hoje. Acordei tarde e soube que você não estava mais aqui. Cassie está muito triste. Ela se levantou e saiu da cabine para conversar em particular com Rachel. — Sinto muito, Rachel. É que Ari e Dax estão com saudades dos coleguinhas de escola e queriam encontrá-los. — Entendo, mas preciso admitir que estou decepcionada. — Perdoe a gente. — É claro. — Voltaremos daqui a alguns dias, depois que Dax tiver ido para casa. — Estou contando com isso. Cuide-se. — Você também. Espero que se recupere do enjôo matinal. — Vai passar. A gente conversa depois. Stella desligou, sentindo-se horrível, mas não podia mudar de planos agora. Era evidente que Theo e Ari amavam um ao outro e queriam estar juntos. Este era um momento vital para eles. Ela não podia permitir que nada mais interferisse. Theo parecia saber instintivamente como lidar com Ari. Subitamente, o filho deles estava confiante e com uma atitude mais positiva com relação à vida. Stella precisava admitir que era maravilhoso pensar que Ari tinha seu próprio pai em sua vida como seus outros amigos tinham os deles. Um menino precisava de seu pai. E se Theo queria exercer esse papel agora, não seria Stella quem iria impedir. Depois de desligar o telefone, ela retornou à cabine. Assim que entrou, viu-se trespassada pelo olhar penetrante de Theo. — Está tudo bem? — Sim. Era Rachel. Ainda estava dormindo quando saíamos e ligou para se despedir. — Vamos aportar agora — murmurou Theo. — É hora de caminharmos até o carro. Todos podem tirar seus coletes. Logo todos os coletes estavam guardados no closet. — Você vai com a gente? — perguntou Ari ao pai. — Eu gostaria, mas tenho trabalho a fazer no meu escritório. Irei para Atenas de helicóptero. Mais tarde, irei à mansão. — Que horas? 49


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— Por volta das quatro da tarde. Stella caminhou até as flores. — Quero levar essas rosas comigo. Theo pegou o vaso. — Vou derramar a água e levar as rosas até o carro. Todos estão prontos? Os meninos fizeram que sim e saíram primeiro. Quando chegaram ao carro, Theo guardou as rosas no porta-malas. Então contornou o veículo até o lado de Stella e pousou a mão em seu ombro. — Dirija com cuidado. — Até mais tarde, papai. — Até mais tarde, Sr. Pantheras. Stella deu a partida no motor e saiu com o carro. Ela continuou observando pelo retrovisor até perder Theo de vista. — Dax pode ficar com a gente lá em casa? — indagou Ari. — Já falarei com a mãe dele, e ela disse que tudo bem. — Oba! Quarenta e cinco minutos depois, eles chegaram em casa. — Aiyee — gritou Iola ao vê-los entrar na cozinha. — Decidimos reduzir as nossas férias — disse Stella. — Não se preocupe. Diga aos funcionários que planejo cuidar de toda comida e limpeza. Vocês podem fazer exatamente o que pretendiam fazer. Vamos tentar não atrapalhar vocês. Iola fez o sinal da cruz. — O que está havendo? Ari deu com os ombros. — Meu papai vem visitar a gente esta tarde. Se os olhos da governanta arregalassem mais, teriam saltado das órbitas. — Seu papai? — Isso. Ele é demais! Venha, Dax. Vamos levar nossas coisas lá pra cima. Você quer ajuda pra subir com a sua mala, mãe? Isso era novidade! — Sim, eu adoraria. — Querer copiar o pai era uma coisa boa. — Tá. Depois que, eles haviam desaparecido, Stella virou-se para Iola.. — Eu sei o que você está pensando. Como pude deixar que isso acontecesse depois que o homem quase arruinou a minha vida? Mas eu não sou a pessoa mais importante nessa história. Elas caminharam pela mansão até o salão, onde puseram as rosas num vaso na mesinha de café. — Ari gostou de Theo e agora quer passar o tempo todo com ele. Foi por isso que voltamos tão rápido para Atenas. Iola levou as mãos à face. — Espero que você saiba o que está fazendo. 50


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— Eu também. Mas você acaba de ver o Ari. Ele está com um brilho novo nos olhos. — Veremos quanto tempo isso vai durar. — Ainda é um segredo — Stella alertou a governanta. — Ninguém sabe. Só você e Dax. — Nem Stasio? — Ela soou escandalizada. — Ainda não. Ele anda muito preocupado com as náuseas de Rachel. Iola meneou a cabeça. — Eu não sei... Depois de tudo que você passou por causa do pai de Ari... — Isso pertence ao passado, Iola. Ari está feliz. Quero que ele continue assim. Iola fez novamente o sinal da cruz.

CAPÍTULO CINCO

Para Theo, receber permissão para entrar na propriedade dos Athas foi uma experiência absolutamente nova. O guarda no portão permitiu que ele conduzisse sua limusine até a frente da mansão quadrada, de três pavimentos. Construída em linhas neoclássicas, ela parecia um templo. Sob muitos aspectos, era realmente um santuário, um que sempre lhe fora proibido entrar. Mas não hoje. Isso significava que os irmãos dela ainda não sabiam o que estava acontecendo. Ele iria desfrutar de seu acesso ao mundo de Stella até que tudo batesse no ventilador. Então, ele iria simplesmente se recostar e admirar o espetáculo. Mal tocara a campainha quando ouviu vozes lá dentro e a porta se abriu para revelar seu filho. Eles sorriram um para o outro. Dax estava de pé, logo atrás de Ari. — Oi papai... entre. Papai, a palavra mais maravilhosa que ele já tinha ouvido. — Obrigado. Quem é o seu amigo? Os meninos riram. — Oi — disse Dax. — Oi, Dax. — Mamãe mandou levar você até o salão. Ele apertou o ombro de Ari. — Mostre o caminho. O interior elegante era o que esperara de uma família abastada como os Athas, mas a única coisa que importava para Theo era estar com as duas pessoas que ele amava. — Stella. — Ela estava tão linda que lhe roubou o fôlego. — Gosto de você de amarelo. — Hoje mais cedo ela estivera de cor-de-rosa. 51


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Ela corou enquanto pousava na mesa uma bandeja com refrigerantes e belisquetes. A camiseta e a saia amarelas ficavam simplesmente sensacionais nela. — Obrigada. Por que você não se senta para conversarmos? Dax, se você for até a cozinha, lola vai lhe serviu um lanche. A nossa reunião não vai demorar muito. — Tá legal. Depois que os três estavam a sós, Stella sentou-se em uma cadeira de frente para o sofá. Theo guiou Ari até o sofá, e eles sentaram-se juntos. O menino forçou Theo a comer e beber alguma coisa. — Hum... Que excelente baklava! Obrigado. Esta é a hora do dia em que sinto mais fome. — Eu também — disse Ari. — Nós jantamos cedo, não é mamãe? Stella concordou com a cabeça. — Pensei que deveríamos falar sobre os planos para o resto do verão. — Se não se importa, eu vou começar, porque assim será mais fácil para você — disse Theo. — Prossiga. — Como vocês sabem — disse Theo, olhando para ambos —, voltei à Grécia com apenas um objetivo, que é passar o máximo de tempo possível com vocês. Ari sorriu. — Quero fazer o que todos os pais fazem: ajudar você com as lições, levá-lo ao dentista, ao médico. Quero participar das reuniões de pais e mestres. Quero planejar pequenas viagens, jogar futebol com você e seus amigos. Fazer compras e ir ao cinema com você. Ou então ficar de bobeira lá em casa. Em suma, quero ficar junto de você. — Eu também. Pode ficar aqui e assistir Jornada Nas Estrelas comigo esta noite? — Eu iria adorar. Talvez possamos comprar comida para viagem e jantarmos enquanto assistimos ao episódio. Mas antes de planejarmos qualquer coisa, quero saber a opinião da sua mãe. Stella, você vai trabalhar em tempo integral neste verão? Stella pousou seu refrigerante na mesa. — Só terei duas semanas de férias. Mas já tenho um arranjo com o Keiko para depois disso. Ele vai trabalhar de nove as cinco. Eu começarei a trabalhar todo dia às 6h30 para poder estar em casa às 14h30. Agendei algumas aulas particulares de línguas e matemática para Ari. — Mas não quero estudar nas férias! — É uma boa idéia, Ari — apoiou-a Theo. — Você precisa manter a mente ativa. Eu estava pensando que poderíamos nos matricular em um programa de jovens astrônomos também. — O que é isso? — Ele pulou do sofá, empolgado demais para ficar parado. — Tenho certeza de que algumas universidades oferecem cursos assim. Você poderá olhar por um telescópio e vão lhe ensinar tudo sobre as estrelas. — Posso fazer isso, mamãe? — Claro, querido. — Se você me trouxer seu catálogo telefônico, poderemos telefonar para as 52


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universidades e ver o que elas estão oferecendo. — Vou pegar! Depois que o menino saíra voando da sala, Theo inclinou-se até Stella. — Stella? Olhe para mim por um minuto. — Ela levantou a cabeça. — Quero que saiba que não estou tentando roubar seu lugar. Quero apenas aliviar um pouco o fardo que você carrega. Considere-me um sistema de apoio permanente. Mas se eu estiver atrapalhando, é só dizer. Ela se levantou. — Não, você não está atrapalhando. É o que Ari quer. Eu não posso negar que Ari já é um outro menino. E tudo isso se deve a você. Theo gostou de ouvir isso, mas quando Stasio descobrisse o que estava acontecendo, haveria conflito. E, dessa vez, Theo estava preparado para qualquer golpe que a família Athas desferisse contra ele. — Ele está muito confiante. E isso é porque ele sabe que seu verdadeiro pai o ama. Estou muito feliz por isso. Você não sabe tudo que já fiz para tentar deixar Ari mais confiante. Intrigado, Theo se levantou. — Do que está falando? Stella esfregou as mãos, sinal de nervosismo. — É uma longa história. Você precisa ouvi-la inteira para compreender a psique de Ari. Eu vou lhe contar depois que ele tiver dormido. — Aqui está o catálogo, papai — disse Ari, entrando no salão junto com Dax. — Excelente. Vamos dar alguns telefonemas e ver que cursos estão abertos. Ari observou ansiosamente o pai dando alguns telefonemas. — Estamos com sorte — disse Theo ao desligar o telefone. — Tem um curso de observação do céu que começou esta semana, mas podemos entrar na sexta à noite. Isso me deu uma idéia. Por que não visitamos a faculdade amanhã de manhã? Depois que tivermos feito nossa matrícula nos cursos, voaremos para St. Thomas para passar o dia lá. — Ei! — exclamou Dax. — Meus pais estiveram lá há algumas semanas. Papai adora golfe. Ele disse que o resort tem o melhor campo de golfe em que ele já jogou. Theo gostou de saber disso. — Vocês já jogaram? Ambos meninos fizeram que não com a cabeça. — E você, Stella? — Não. — Então seremos um quarteto e jogaremos nove buracos. O que acham da idéia? — Legal! — Ari e Dax exclamaram em uníssono. A boca de Stella curvou nas pontas. — Ari? Por que não leva o seu pai até a sala de entretenimento no segundo andar para você assistirem ao DVD? 53


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— Tá bom. Vamos, papai. Ele a fitou. — Antes de qualquer coisa, vou comprar alguma coisa para comermos. Vocês podem vir comigo se quiserem me ajudar a escolher. — Isso não é necessário, Theo. Nós temos muita comida aqui. Ari e Dax podem levar comida lá pra cima quando vocês sentirem fome. — Então, que venha a ponte de comando da Enterprise — disse ele antes de desviar os olhos dos dela. Ele se divertiu imensamente com a maratona de cinco horas com os meninos. Stella apareceu com sanduíches e salada, mas ele ficou feliz quando ela, finalmente, insistiu que os garotos fossem para cama. Ele não iria sentir paz até que ela houvesse explicado o que quisera dizer antes. Assim que ela se juntou a ele no salão, Theo disse: — Que historia é essa sobre Ari não ser confiante? Mais uma vez, Stella sentou-se de frente para ele. — Vou lhe dar algumas informações primeiro. Depois do que aconteceu na igreja, o sofrimento me deixou doente. Havia tensão demais na casa. Meu pai estava muito transtornado por eu ter me envolvido com você, e a atitude de Nikos tornou tudo ainda pior. Stasio teve de partir a negócios para Nova York e me levou com ele. Morei no apartamento de Stasio tanto antes quanto depois do nascimento do bebê. Ele contratou um casal grego para cuidar de mim quando não estivesse em casa. Ele também viabilizou que eu pudesse cursar a universidade e obter meu diploma lá em Nova York. — Nada do que ela acabara de dizer combinava com o que ele pensava a respeito de Stasio. Teria Theo se enganado a respeito dele? — Você é uma mulher maravilhosa. — Ele se orgulhava do que ela havia conquistado, mas não conseguia refrear a raiva gerada por eventos os quais fora incapaz de impedir na época. Ela balançou a cabeça. — Não há nada para se orgulhar. Milhares de mulheres fazem isso todos os dias. Depois que me formei, eu disse a Stasio que queria voltar para a Grécia e arrumar um emprego. Ari tinha idade suficiente para entrar no jardim de infância, e, com a ajuda de Iola, eu podia arrumar tempo para trabalhar. Tudo correu bem até voltarmos para Atenas, o que nos colocou de volta na órbita de Nikos. Ele nunca aceitou Ari, e nem mesmo tenta esconder isso. Os últimos anos têm sido muito duros para o nosso filho. Ela respirou fundo antes de prosseguir: — Embora Ari não compreenda por quê, tem noção de como Nikos se sente e faz tudo que pode para não provocá-lo, por medo de ser ridicularizado. Consequentemente, ele nem sempre demonstra muita confiança. Era isso que eu queria que você entendesse. — Ela sentiu lágrimas queimarem suas sobrancelhas. — Está fazendo uma diferença enorme para ele ter um pai que o defende. Ele se levantou. — Nada disso deveria ter acontecido — ele murmurou. Cada vez mais, Theo estava concluindo que a culpa de toda a crueldade cabia a Nikos. — Embora não haja nada que possamos fazer sobre o passado, juro a você que jamais deixarei que qualquer mal volte a acontecer com você ou Ari. — Theo! — exclamou Stella em abjeta frustração. — Se quiser que eu acredite em você, terá de me contar tudo a respeito do passado. Sem mentiras. — Se me fizer um favor primeiro, prometo lhe contar os detalhes depois. 54


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Quando ela fechou os olhos, lágrimas correram. — Que favor? — sussurrou Stella. — Diga a seus irmãos que voltei à Grécia e que tenho me encontrado com você e Ari. Isso iria causar uma explosão, uma que Stella teria de experimentar para compreender. — Eu ainda não contei a eles porque este é um momento muito delicado para você e Ari — defendeu-se Stella. — Mas você está com medo de contar a eles. Posso ver isso nos seus olhos. Eu não a culpo. — Mas você sente medo de contar a eles. Posso ver nos seus olhos. Eu não te culpo. Sempre tivemos de esconder o nosso amor da sua família, mas naquela época éramos jovens. Agora, somos dois adultos maduros com um filho de seis anos. Não há nada a temer. Estou aqui para proteger você. Ari sabe que eu e você costumávamos nos encontrar escondidos? — Não. Como já lhe disse, ele não sabe nada sobre o que passei. — Eu sei. E é graças a isso que eu e ele nos afinamos tão rápido. Mas ele vai estranhar se você não for honesta com sua família. — Tem razão. É apenas que... — Por quê? — retorquiu Theo. — Está com medo que eles se oponham? Ela mordiscou o lábio inferior, aquele que ele queria tanto beijar. — Você me magoou. Eu era a irmãzinha deles. — Mas nós fomos arrancados um do outro da forma mais cruel possível. Com toda certeza, isso faria uma diferença para qualquer pessoa sã e racional. — O que Stella não sabia era que ele não colocava Nikos nessa categoria. — Não estou preparada para dizer nada ainda. Dentro de algumas semanas, Stasio vai voltar de sua viagem. Então vou dizer a ele. Theo compreendeu que ela estava aterrorizada por que ele sempre iria ser um Pantheras aos olhos de sua família. Stella estava coberta de razão para querer esconder isso. — Conte logo a eles, Stella — incitou Theo, temendo falar para ouvidos surdos. — Não queremos obrigar Ari a continuar mentindo, queremos? Minha limusine me espera. Virei encontrar vocês de novo amanhã, às 10h. Ele saiu a passos largos da casa sem olhar para trás. Stella era uma tentação grande demais para que Theo pudesse permanecer na mesma sala que ela por muito mais tempo.

Na manhã seguinte, Stella fez o desjejum com os meninos, ciente de uma empolgação incontrolável que crescia dentro dela. Depois de ficar andando de um lado para outro, escolheu vestir calças cargo e camiseta verde-limão, não havia por quê fingir não se importar o que Theo pensava. Ela era vaidosa e queria estar bonita para ele. Enquanto passava batom, ouviu o celular tocar. Theo? Stella sentiu o coração 55


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disparar enquanto estendia a mão até o aparelho. Porém, era a mãe de Dax. Ela viria na hora do jantar para pegar o menino. Elas conversaram por um minuto antes que Stella desligasse para escovar o cabelo. Ela presumia que Dax ainda não estava pronto para ir para casa. Ele vinha apreciando demais a companhia de Theo. Ari, por outro lado, ficaria empolgado em, finalmente, ter seu pai só para si. Vinte minutos depois, Theo chegou à mansão de campo. Stella sentou ao lado dele na limusine. Ela podia senti-lo estudando-a. Enquanto os meninos tagarelavam um com o outro, ela e Theo travaram uma conversa superficial. Depois de visitar a universidade, eles seguiram para o escritório de Theo. Depois que eles haviam subido de elevador até o terraço, entraram no helicóptero. Boris já estava a bordo, e todos se cumprimentaram. Em um piscar de olhos, estavam voando. Stella sorriu para Ari. — Está animado para seu curso de observação do céu? — Sim. Vai ser sinistro. Sinistro era uma palavra que abarcava tudo divertido ou maravilhoso. A aula seria às 21h, três vezes por semana durante mais duas semanas. — Tenho certeza de que será fascinante. Theo estava ao lado do copiloto, parecendo completamente à vontade com seus fones. — Assim que aterrissarmos, vocês vão querer jogar golfe ou primeiro brincar no tobogã de água? — Não sabia que tinha um desses! — exclamou Dax, eufórico. — Vai te deixar com o cabelo em pé. Todos riram, até Stella. Ela podia confiar em Theo, não podia? Ari confiava inteiramente. Durante o resto do dia, ela estava determinada a pôr de lado todas suas dúvidas e apenas desfrutar o momento. Assim que Stella tomou essa decisão, seu corpo começou a relaxar, permitindo-se sensações que ela havia se forçado a suprimir desde que o vira diante da barraca de pedalinho. Theo possuía o tipo de corpo musculoso em que qualquer coisa caia bem. Hoje ele estava usando uma camisa polo magenta com calças compridas cor de creme que aderiam sensualmente aos seus quadros. Theo parecia não se dar conta de seu carisma. Ela, por outro lado, tinha dificuldade de manter os olhos afastados dele. Anos atrás, todas as meninas da igreja haviam fantasiado com ele. Stella mal conseguira acreditar quando ele havia sentado atrás dela na escola dominical e sussurrado-lhe coisas enquanto o padre dava uma lição. Quando a missa começava, ele sentava na mesma fileira e se curvava para a frente, para poder sorrir para ela. Ele a seguia para toda parte. As amigas de Stella achavam-no sexy e lhe diziam quanta sorte ele tinha. Stella sabia disso, mas vivendo sob o escrutínio de seus familiares, ela tivera de tomar cuidado para que eles não descobrissem o que estava acontecendo. Quando a igreja organizara um festival para arrecadar fundos, ele a escolhera como parceira para executar uma dança folclórica. Eles tiveram de participar de ensaios e vestir fantasias. A lembrança daqueles momentos, durante os quais eles se prepararam para a grande noite, ainda acelerava sua pulsação. Ela amara Theo com uma paixão que 56


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derrubara todas suas inibições. Sentado a seu lado, Ari, o filho dos dois, era a prova viva de que ela amara Theo de corpo e alma. Ela não fora capaz de conter seu desejo. Aquele período fora preenchido por um estase absolutamente inimaginável. Então, terminara subitamente certa noite, quando algo dentro dela havia morrido. Mas esse algo subitamente estava de volta, maior e mais forte do que antes. — Stella? — A voz infiltrou seu corpo, despertando-a de seus pensamentos mais íntimos. — O que é? — Aterrissamos. — E era verdade. — Os meninos correram na frente para preparar o nosso jogo de golfe. — Ela notou que o piloto e Boris já haviam saído. — Precisa de ajuda? Ele parecia a ponto de se aproximar dela para ajudá-la a desafivelar o cinto de segurança. O pensamento a deixou corada. Se alguém os visse... — Não, obrigada. Eu consigo sozinha. Depois de se desafivelar, ela permitiu que Theo a segurasse para descê-la até o chão. E quando ele fez isso, bem lentamente, seus corpos se roçaram, gerando um delicioso calor entre os dois. No dia anterior, haviam tido entre eles os coletes salva-vidas, mas não hoje. Stella caminhou rápido na frente dele, mas suas pernas estavam moles como gelatina. Enquanto eles se aproximavam, Stella viu os meninos saírem das portas da sede do clube com duas bolsas de tacos, mas não estavam sozinhos. Um arrepio abalou o corpo de Stella. Para seu choque, caminhando com eles, estava Nikos com seu velho parceiro de esqui, o suíço Fritz. O segredo de Stella fora revelado exatamente à pessoa que queria que não soubesse nada! Quem teria imaginado que ela iria esbarrar com seu irmão aqui? Ela o observou chamar Ari para uma conversa. Por mais afastados que ainda estivessem, ela percebeu que seu filho estava sendo coagido. Dax estava parado ao lado de Fritz. Ela teria feito tudo para que as coisas não tivessem tomado este rumo, mas agora não havia nada que pudesse ser feito. Fritz se aproximou e beijou-a em ambas as faces. — Stella Athas! Há quanto tempo. Nikos não me disse que você cresceu para se tornar uma beldade. Stella jamais gostara dos modos rudes desse homem, e não estava apreciando nem um pouco a forma como ele a estava olhando agora. — Como vai, Fritz? Permita-me apresentá-lo ao pai de Ari, Theo Pantheras. Theo? Fritz ganhou a medalha de ouro de tênis para a Suíça há alguns anos. — Olá. — Theo apertou a mão dele sem dizer mais nada. Ari caminhou até Theo, que o envolveu com os braços em um gesto protetor. Isso animou Stella. Seu filho agora tinha seu próprio pai, graças ao céu. Nikos não podia dizer ou fazer nada a respeito. — Ora, ora, ora — disse o irmão de Stella com olhos frios como gelo. — Um dia de golfe para a minha irmãzinha. — Nikos ignorou Theo. Seis anos não haviam ensinado a seu irmão absolutamente nada sobre decência. — Como eu iria imaginar que você estaria no mais novo e celebrado campo de golfe do mundo? 57


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— Era exatamente o que eu ia dizer — retorquiu Stella. — Onde está Renate? — Com a Rachel — murmurou Nikos. — Como você saiu tão rápido de Andros, acho que é hora de colocar a conversa em dia. Se o resto do grupo nos der alguns minutinhos. — Talvez em outro momento — Theo interviu com suavidade. — Não queremos nos atrasar para nossa partida. Nada teria irritado mais Nikos do que ser esnobado daquele jeito na frente de Fritz, e justamente por Theo. Ela podia sentir seu irmão ferver de raiva. Quanto a Theo, ela parecia não dar a mínima para isso. Ele pôs o outro braço nos ombros de Stella. — Vamos indo — disse ele. Juntos, os quatro começaram a caminhar na direção das quadras. — Stella? Estou esperando — Nikos disse com frieza. Para prevenir um conflito, ela decidiu conversar com ele, mas Theo a impediu de se moveu. — Temo que você terá de esperar por muito tempo ou deixar para essa conversa familiar para outro momento. Ela e os meninos estão comigo, e estamos ocupados. O irmão de Stella aproximou-se mais. — Poderia mandar expulsar você deste lugar por falar comigo desse jeito — disse ele para Theo. — Tudo que preciso fazer é falar com o dono. — Pare com isso, Nikos — murmurou Stella, envergonhada e furiosa com seu comportamento. Ele estava fora de controle. Nikos não se importava nem com o que os meninos pudessem pensar dele. — Farei isso depois que tivermos conversado. — Ele não ia desistir. Era inacreditável. Ela sentiu Theo remover o braço e sacar seu celular. O que ele disse foi curto e direto. Quase imediatamente ela viu o guarda-costas de Theo e outro homem chegarem rapidamente da sede do clube. — Boris? Ficaremos gratos se você conduzir esses dois cavalheiros para fora do campo de golfe. Nikos era um esquiador, não um fisiculturista. Os dois homens o dominaram sem problemas. Parte dela ficou animado em vê-lo ser humilhado, mas outra parte sofreu por ele. Nikos era seu irmão, e ela o amava, mas fazia anos desde a última vez em que realmente gostara dele. Para lembrar de algo bom, ela precisava vasculhar sua memória atrás da época em que ele tinha sido um adolescente. — Quem diabos você pensa que é? — inquiriu Nikos. — Nikos! — gritou Stella. — Qual é o problema com você? — Está tudo bem — assegurou-a Theo. — Ele só está surpreso em me ver de novo com você depois de todos esses anos, não é Nikos? Mas é melhor você se acostumar, porque o sangue de nossas duas famílias corre nas veias de Ari. Se você aprender a se comportar, será bem-vindo novamente ao campo de golfe depois que tiver se acalmado. Será por minha conta, porque eu sou o proprietário. Agora precisamos realmente nos apressar, não é mesmo, Ari? O filho de Stella sorriu. — Sim. A gente se vê depois, tio Nikos. — Depois que eles haviam percorrido uma pequena distância, Ari levantou os olhos para Theo. — Não sabia que você era dono 58


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deste lugar. — Tem muita coisa que você não sabe sobre mim ou eu sobre você. É por causa disso que é muito importante passarmos o máximo de tempo juntos que for possível, não acha? — Sim. — Ele estava sorrindo de orelha a orelha. — mãe? Eu nunca vi o tio Nikos com tanta raiva. Ela ainda estava tremendo. Era hora de dizer a verdade. — Infelizmente, eu já o vi pior, querido. Vamos apenas ficar afastados dele até ele pedir desculpas. — Ele não gosta de mim. Era a primeira vez que Ari admitira isso em voz alta. Tudo por causa do pai dele, que renovara seu senso de confiança. — É de mim que ele não gosta, Ari — disse Theo. — Por quê? — Venho de uma família muito pobre. O seu tio não gostava de ver sua mãe comigo. — Isso é idiotice. — Concordo, mas muitas pessoas ricas compartilham da opinião do seu tio. — Tio Nikos não é rico. Tio Stasi o ajuda quando ele está sem dinheiro. Stella ficou boquiaberta. Ari sabia demais para seu próprio bem. — Bem, vamos esquecer disso e nos divertir. — Ótima idéia — disse Stella. Por favor, Deus. Faça com que esta felicidade dure.

CAPÍTULO SEIS

Às 18h, Stella conduziu Dax até o carro dos pais. Ari e Theo a acompanharam com a mala e os jogos e bugigangas variadas que o menino trouxera. Todos se abraçaram. Dax deu um abraço bem apertado em Theo. Na frente dos pais de Dax, Theo convidou o amigo de Ari a ir a ilha Salamis dentro de algumas semanas para passar um fim de semana. O outro homem concordou com a cabeça. Eles conversaram durante alguns minutos sobre o campo de golfe. — Eu adoro vocês — disse Dax a Stella antes de abraçá-la. — Eu me diverti muito. — Foi muito divertido para todos nós, querido — disse Stella ao menino. Com Theo por perto, não poderia ter sido diferente. Depois que os três tinham voltado para a mansão, Ari virou-se para ela. 59


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— Agora que Dax foi para casa, papai pode dormir no meu quarto esta noite? Por favor? Stella devia ter previsto isso, mas a simples perspectiva de que Theo passasse a noite em sua casa acelerou seu coração. — O que você me diz, Stella? — disse Theo em um tom levemente provocador. Provavelmente, sentia o quanto ela queria que ele ficasse. Talvez fosse uma coisa boa. Talvez eles pudessem realmente conversar depois que Ari tivesse ido para a cama. Ela finalmente estava no clima para ouvir. — Por mim, tudo bem, mas só se você não contar histórias de disco voador que tirem o sono dele. Ari a abraçou forte. — Valeu, mãe. — Os olhos dele pareciam brilhar à luz do corredor. — Eu te amo. — Também te amo, meu bem. — Eu meio que deduzi isso. — Estou muito feliz por ele ter voltado. — Também estou feliz — ela admitiu. Seu filho era uma pessoa diferente. — Boa noite, querido. Stella beijou a testa do menino e então foi até seu próprio quarto, preparar-se para dormir. Mas Stella não conseguia imaginar como seria capaz de dormir sabendo que Theo estava no quarto ao lado. Depois de vestir uma camisola, foi ao banheiro escovar os dentes. Desligou a luz com toda intenção de dormir. Contudo, como seu quarto compartilhava um banheiro com o de Ari, ouviu as vozes dos dois. Embora tenha se odiado por fazer isso, não resistiu a encostar o ouvido na porta e ouvir a conversa. — ... porque eu me sentia inferior ao meu irmão. Hektor era o mais velho da minha família e tinha vocação para padre. Meus pais o amavam tanto que eu achava que eles não gostavam de mim. —- Isso fazia você chorar? — Muito, quando eu era pequeno. — Te amo, papai. — Eu sei. Também te amo. Mais do que qualquer coisa no mundo. — Os seus irmãos também se sentiam mal com isso? — Acho que sim, mas nunca falamos a respeito. Sofri muito quando ele saiu de casa de vez. Eu tinha perdido o meu irmão mais velho. Mais ou menos nessa época, eu tinha planos de fugir com a sua mãe e me casar com ela, mas na noite em que íamos nos encontrar na igreja, uns homens maus bateram em mim. — Por que fizeram isso, papai? — perguntou Ari numa voz sofrida. — Não gostavam de mim e queriam me manter afastado da sua mãe. Stella sentiu a bile subir sua garganta. Quem fora responsável por um crime como esse? — Quando melhorei, procurei sua mãe por toda parte. Meus amigos e parentes me ajudaram. Dei telefonemas e remeti cartas para ela. Mas ninguém sabia onde ela estava, e eu tive de aceitar que realmente a havia perdido. 60


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— Ela foi para Nova York com Stasio. — Eu sei disso agora, mas naquela época foi como se ela tivesse evaporado. Além disso, ao perdê-la, também perdi a minha melhor amiga. Lágrimas correram pelas faces de Stella. Você também era o meu melhor amigo, Theo. — E quanto a perdi, também perdi você. — Eu estou aqui agora, papai. — Mas eu não sabia. Infelizmente, fiquei muito mal naquela época. Foi quando decidi sair de casa e iniciar uma carreira. Mas foi a época mais dolorosa da minha vida. Nunca achei que iria vê-la de novo, mas na semana passada, passei de carro diante desta casa e vi vocês dois caminhando. Mal pude acreditar! Aquilo me deixou tão feliz que escrevi uma carta para a sua mãe e pedi que ela telefonasse para mim. — Mas mamãe achava que você não a amava mais. — Eu sei disso agora, mas não era verdade. Eu amava tanto a sua mãe que teria feito qualquer coisa por ela. Mas precisei fazer dinheiro e poder pagar algu ém para me ajudar a encontrá-la. — Porque você era pobre. — Sim, porque eu era um Pantheras da parte pobre das ilhas Salamis, e Stella, uma Athas da parte nobre de Atenas. — Eu também sou um Pantheras! — declarou Ari. — Sim, você é, metade eu, metade sua mãe, e nada disso importa, contanto que todos nós vivamos juntos. Incapaz de continuar ouvindo aquilo, ela retornou para a cama. Theo dissera-lhe que havia coisas que ela ainda não sabia que poderiam magoar a ela e a Ari. O pai de Stella tinha se oposto ferrenhamente ao seu casamento com Theo. Teria sido ele o mandante do ataque? O pai de Stella fora um homem muito severo que ascendera à proeminência no governo grego. Fora um homem muito antiquado e orgulhoso. Ele tivera muitos amigos influentes. Teria ele manipulado toda a situação, sem jamais esperar que Theo um dia fosse retornar para lutar por seu filho? Teria sido o pai de Stella, lá no fundo, um homem corrupto? Se isso era verdade, e se Nikos estivera a par de tudo, então isso explicaria o comportamento rude do irmão de Stella no campo de golfe. Era quase como se ele estivesse prosseguindo de onde seu pai parara, só que abertamente. Stasio não devia saber de nada disso. Stella tinha certeza de que ele jamais seria capaz de aprovar qualquer atitude cruel ou criminosa. Essa, simplesmente, não era sua natureza. Era por isso que Theo temia lhe contar tudo? Por que não queria que ela odiasse o pai? Durante o resto da noite a mente de Stella correu em círculos, atordoando-a com um número crescente de questionamentos. Pela manhã, ela estava exaurida. Quando Ari entrou em seu quarto para implorar que ela deixasse o pai dele passar o fim de semana inteiro na casa, Stella não teve como negar. Eles estavam todos de férias e os irmãos dela estavam em Andros. 61


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A cada dia que passava com o pai na casa deles, Ari parecia ficar mais seguro. Theo abrira um mundo diferente para o menino, que estava se divertindo como nunca. No sábado à noite, antes de ir para a cama, Stella procurou por Iola. — Diga à cozinheira que vamos querer um desjejum lauto de manhã antes de irmos à igreja. Stella subiu ao segundo andar e encontrou Ari e o pai assistindo a um DVD sobre o dia em que a Terra parou. Ela não teve como não conter um sorriso. — Oi, rapazes. Levando em consideração os nossos planos para amanhã, é melhor vocês irem logo para a cama. Enquanto isso, preciso ver se o seu terno está pronto para a missa de amanhã, Ari. Ela no closet do quarto do menino. As calças de seu terno de três peças estavam precisando de uma prensagem. Separou-as. O paletó parecia em bom estado. Depois de uma inspeção, ela descobriu que as duas camisas que o menino usava com o paletó tinham sido lavadas e passadas a ferro. — A que eu mais gosto é a com listras brancas e azuis — murmurou Theo bem atrás dela. Stella deixou escapar um gritinho de surpresa ao senti-lo tão perto de si. Ele a surpreendeu completamente, passando os braços ao seu redor, puxando-a para trás contra o peito firme. Theo já estava usando seu roupão. Ultimamente, ela a simples presença de Theo deixava-a excitada a um nível quase doloroso. Ela não teve como não sentir-se extasiada quando Theo beijou-a na nuca e começou a correr suavemente os dedos por seu corpo. Stella chegou a sentir-se debilitada por tanto desejo. — Que lugar maravilhoso para encontrar você — sussurrou ele em voz rouca. No instante seguinte, ele a havia virado, de modo que agora seus rostos estavam afastados por meros centímetros. — Não sei quanto a você, mas se eu não fizer isto agora, não vou sobreviver à noite. A cabeça morena de Theo desceu até a de Stella, cobrindo sua boca com a dele. Cercados por roupas que abafavam os sons, ele a beijou com uma fome que a fez gemer baixo. Eles retribuíram os beijos um do outro, deslanchando ondas de desejo. Theo emanava um perfume maravilhosamente másculo, intoxicante. Quando Stella correu as mãos até o peito dele, entrou em contato com um tapete de pelos negros. A sensação da pele de Theo eletrizou-a, suscitando memórias as quais preferia não se entregar, estando Ari tão perto. Isto era loucura. Insano. Ela afastou os lábios dos dele. — Não podemos fazer isso. Ele emitiu um riso grave. — Parece que estamos fazendo. Ele a beijou de novo, um beijo longo e profundo que a reduziu a uma latejante massa de desejo. Theo desatou um dos laços da camisola para beijá-la no ombro. Êxtase explodiu dentro dela, mas Stella sabia aonde isto estava levando, e finalmente recuou para fora do closet, arfando por ar. — Esqueceu disto? — Ele mostrou-lhe as calças de Ari enquanto ela amarrava novamente a camisola. O sorriso lupino de Theo foi a última gota. Ela arrancou as calças das mãos de Theo e as jogou nele. Ari desatou uma gargalhada. Theo se agachou, e então pegou as calças do menino no chão. 62


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— É melhor tomar cuidado, mocinha. Está brincando com um garoto grande agora. Ela gritou e saiu correndo. Ari pulava em cima da cama com um sorriso enorme no rosto enquanto observava os dois. Stella se encostou contra a parede. Theo se aproximou, girando as calças no ar. Ele parecia cruel e perigoso, capaz de fazer qualquer coisa. — O... o que você vai fazer? — balbuciou Stella. Ele estreitou os olhos. — O que você gostaria que eu fizesse? — Segura ela e faz cócegas, papai. Ela odeia isso. — Traidor! — Obrigado pela dica, meu filho. — Exceto que Theo já sabia que ela era sensível a cócegas. — Não, Theo... Por favor. Mesmo assim, ele continuou se aproximando com uma expressão assustadora. Enquanto ela tentava se esquivar dele, Iola chegou à porta com uma expressão ansiosa. — Está tudo bem? — Não — disse Stella. — Estão me matando de cócegas. A expressão preocupada da governanta se desmanchou num sorriso. Stella não podia lembrar da última vez que vira a Iola sorrir. — Boa noite, mas evitem fazer barulho. Tem gente na casa querendo dormir! — Desculpe, Iola — disse Theo. Ari falou a mesma coisa. Stella virou-se para os rapazes. — Boa noite — disse ela. — Não vá ainda — sussurrou Theo, mas ela não ousava ficar mais um segundo. Rápida como um raio, ela pegou as calças no chão antes de fechar a porta. Amanhã ela iria prensar as calças. Depois de abraçar Iola, ela foi até seu quarto, mas não fazia a menor idéia de como conseguiria dormir depois de ser completamente beijada nos braços de Theo. O conhecimento de que eles iriam passar o dia seguinte juntos deixou seu corpo latejando de desejo. E medo. Eles iriam à igreja no dia seguinte para se encontrar com os pais de Theo. A única razão para ela ser apresentada a eles depois de todos esses anos era Ari. Os pais de Theo nunca haviam aprovado sua associação com Stella. Sabendo disso, Theo nunca a levara até sua casa para conhecê-los. Era tudo muito triste.

Quanto voltara para a Grécia, Theo recebera as bênçãos do irmão mais velho, a quem prometera que, quando pudesse, levaria Ari e Stella à igreja para conhecê-lo. Esse dia chegara. Depois da missa, o irmão de Theo convidara a família deles ao seu escritório particular na velha casa ao lado da igreja. Ele a dividia com dois outros padres. — Entrem. 63


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Theo foi o último a entrar na sala com Stella e Ari. Ele estava orgulhoso por poder apresentá-los. Como seu filho, ele vestira um terno azul-escuro que combinava com a sobriedade da ocasião. Stella parecia uma visão num tailleur que lhe caía com perfeição. Ele os conduziu até o sofá onde a família se congregara. Os pais de Theo não conseguiam tirar os olhos de Stella e Ari. Os irmãos e suas famílias estavam igualmente deslumbrados. — Como todos vocês podem ver, eu lhe trouxe uma surpresa — começou Theo. — Stella? Ari? Quero que conheçam minha família, começando por minha mãe, Ariadne, e meu pai, Gregory. A mãe sorriu para ambos. — Faz muito tempo que espero conhecer vocês. — Eu também — respondeu Stella baixinho. O olhar de Ariadne recaiu em seu neto. — Você e eu temos o mesmo nome. -— Eu sei. — Ari sorriu enquanto percorria a sala com Stella para apertar as mãos de todos. O pai de Theo o fitou. — Você parece tanto com o meu Theo, que tenho a impressão de estar vendo coisas. — Temos o mesmo topete — disse Ari, apontando para seu cabelo. Todos riram. — Este é o meu irmão Dymas, sua esposa Lina e os filhos Calli, Dori e Spiro. Ari olhou para seus primos mais velhos. — Oi. — Oi — disseram todos a ele. — Este é meu irmão Spiro. Minta, mulher dele. E seus filhos, Phyllis, Roxane e Leandros. Ari olhou para Theo antes de dizer: — Então, é ele que é da minha idade. — Certo. Vocês dois estão entre os seis e os cem anos. Todos riram novamente. — Por último, mas não menos importante, Hektor, padre Matthias. Ari caminhou até ele e apertou sua mão. — Papai disse que sente muita saudade de você. Hektor pareceu comovido. — Eu não devia admitir isso, mas também sinto falta de toda a minha família. — Gosta de ser padre? Ele sorriu. — Muito. Estou muito feliz por você e seu pai terem se reunido. Ele não sabia que tinha um filho. — Eu também o amo! — Se não se importa, eu gostaria de abençoar você. Tudo bem? Ari fez que sim. 64


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Foi uma benção curta e carinhosa, que emocionou Theo. Ele relanceou os olhos para Stella. Ela estava de cabeça baixa. Ele podia ver que as palavras também a haviam emocionado. Depois de mais alguns minutos, todos eles se despediram e entraram nas limusines que Theo providenciara para a família. Ele e Stella foram juntos com os pais dele e Ari. Seguiram para a ilha Salamis. Durante o percurso, todos se conheceram um pouco melhor. Fazia muito tempo que ele não ouvia seu pai rir tanto. Quando começaram a jantar na taverna, todos estavam muito bem humorados. Theo podia notar que Stella e Ari estavam se divertindo. Stella conversou com as cunhadas de Theo sobre filhos. Esse era um assunto com o qual todos eles podiam se identificar. Até onde ele pôde notar, não houve momentos desconfortáveis. — Foi um bom começo, não acha? — perguntou Theo a Stella durante sua viagem de volta a Atenas pela estrada que ligava Perama ao continente. Ela estava sentada de frente para ele, ao lado de Ari. — A gente se divertiu muito. — Com Ari por perto, ela não podia perguntar a Theo o que os pais dele realmente haviam achado. — Sim, mas eu queria não ter tido de usar este terno o dia todo. Theo jogou a cabeça para trás e riu. — Você é parecido demais comigo. Prometo que não terá mais de usar isto até que tenhamos de ir novamente à igreja. E por falar de igreja, gostou de Hektor? — Ele é legal. Os meus avôs também. — Que bom que você se sente assim, porque eles adoraram você. — Eles querem que eu vá à casa deles na semana que vem. Vovó disse que eu posso ajudar na cozinha do restaurante. — Você gostaria? — Eu adoraria! — Então nós vamos, com certeza. Hoje, enquanto eu e sua mãe estivemos jantando, você poderá nos servir antes de sairmos para a aula. — Isso seria fantástico. Meu primo Leandros perguntou se pode vir com a gente. — Talvez possamos providenciar isso. Vamos conversar com o corpo docente da faculdade. Ele gosta de ciências e coisas do tipo? — Sim. Ele é bacana. — Um elogio do mais alto grau. Theo estava quase flutuando de alegria. — Você pode dormir de novo na nossa casa, papai? Eles haviam acabado de parar diante da mansão. Sem olhar para Stella, Theo disse: — Tenho uma idéia muito melhor. Como a sua mãe ainda tem dez dias de férias, por que nós três não fazemos nossa própria viagem até St. Thomas? Posso te prometer que não vai nos faltar o que fazer. Ari parecia a ponto de explodir de alegria. — Podemos, mãe? — Eu... eu acho que parece divertido. — Theo pôde perceber que ela fora pega de surpresa pela proposta de viajarem juntos. — Bem, enquanto vocês dois fazem as malas, 65


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vou tentar adiantar meu trabalho, para poder me concentrar em vocês pelos próximos dez dias. — O que você vai fazer amanhã, mamãe? — Compras. Preparativos para a nova viagem. — Quero ir com você, no nosso carro novo. Enquanto ela ria, seus olhos casualmente encontraram os de Theo. Pela primeira vez, ele sentiu que os dois estavam se comunicando como haviam feito um dia, compartilhando da mesma alegria. Era um momento que ele queria congelar no tempo. Depois que tinha aberto o cinto de segurança, Theo saltou para acompanhar os dois até a porta da frente. — Boa noite, filho. — Ele apertou Ari num abraço de urso.. — Durma bem, Stella. — Ele relanceou os olhos para ela antes de voltar para a limusine. Depois do dia que eles haviam passado juntos, ele não ousava tocá-la.

CAPÍTULO SETE

Enquanto se preparava para dormir, Stella pensava em Theo. Era impossível saber o que realmente se passava por sua cabeça. Ela estava com medo, mas não sabia exatamente do quê. Sim, ela sabia. No fundo, Stella sabia que Theo não queria lhe contar sobre o pai dela. Theo temia que ela ficasse arrasada quando ele lhe contasse. Talvez ela ficasse, quando se confrontasse com a prova irrefutável, mas seu pai austero havia falecido. O importante era o relacionamento de Ari com Theo. Antes de se cobrir, ela pegou o telefone para ver suas mensagens. Temendo que ele tocasse enquanto estivessem na igreja, ela desligara o aparelho e depois esquecera do assunto. Agora ela viu que havia três recados de Rachel. Cada um implorava-lhe que telefonasse imediatamente, a qualquer hora. Temendo que isso tivesse qualquer relação com a gravidez, Stella telefonou. Rachel atendeu imediatamente. — Graças a Deus que você ligou! — gritou ansiosa. Stella apertou o telefone mais forte. — Aconteceu alguma coisa com o bebê? — Não. Stella... por que você não nos contou sobre o Theo enquanto estava aqui? Desde que voltou de St. Thomas, Nikos não fala de outra coisa. Stella sentiu um aperto rio peito. — É exatamente por isso que não queria que ninguém soubesse de nada. — Que ninguém soubesse do quê? 66


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Rachel era a mais antiga e íntima amiga de Stella. Ela seria capaz de lhe confiar a própria vida. Sem preâmbulos, ela lhe contou tudo. Depois que havia terminado, o silêncio no outro lado da linha foi assustador. — Rachel? Você ainda está aí? — Sim. Oh, Stella... — Eu sei o que você está pensando, mas... Eu confio nele! Espancaram o coitado. Dá para ver os danos. Acho que meu pai teve alguma coisa a ver com isso. — Você está brincando. — Não. Eu tive tempo de pensar no assunto. Quando chegar a hora certa, eu vou tirar a verdade de Theo. Enquanto isso, não conte minhas suspeitas a Stasio. Ele idolatrava o papai. — Na verdade, a verdade era capaz de feri-lo muito mais do que estava ferindo Stella neste momento. — Você acredita realmente em Theo, não é? — Sim, Rachel. Se você o vir com Ari, vai entender também. — Bem, se isso é suficiente para você, então é suficiente para mim também. Stella começou a chorar. — Obrigada, minha amiga. Você nem imagina o que isso significa para mim. — A sua felicidade é tudo. Stasio acha a mesma coisa. Infelizmente, Nikos não para de falar sobre os pais de vocês e o quanto estariam arrasados se soubessem que você está vendo novamente esse homem. Ele acha que foi o seu romance com Theo que causou o ataque cardíaco do pai de vocês. Talvez Nikos soubesse o que seu pai estava fazendo. — Estou pensando a mesma coisa — sussurrou Stella. — A questão é: isso aconteceu há muito tempo. Agora que seu pai está morto, isso não é mais da conta de Nikos. Não que tenha sido algum dia, mas se seu pai disse a Nikos o que achava de Theo, então isso meio que faz sentido. — Concordo. É verdade que Theo é dono daquela novo resort em St. Thomas? — Sim. — Então é melhor você ouvir o resto. Nikos disse a Stasio que acredita que Theo está ligado ao submundo do crime. Porque essa é a única maneira de explicar a rapidez com que enriqueceu. Indignada, Stella gritou: — De onde ele tirou uma acusação ridícula dessas? — Eu não sei. — Theo passou seis anos fora do país trabalhando como um cachorro para construir uma carreira de sucesso. Nikos está apenas fazendo acusações absurdas porque seus próprios negócios não têm sido tão bem-sucedidos. — Tenho certeza de que existe um componente de inveja aí. Stasio tenta argumentar com ele, mas Nikos insiste que vai mandar investigar Theo. — O quê? Isso é loucura. — Tem razão. A pobre Renate não está conseguindo controlar ele. Ela quer voltar à Suíça, mas ele não lhe dá ouvidos. Ele nem fala comigo, mas isso não é de surpreender, pois nunca foi mesmo com a minha cara. Agora Stella já estava temendo pelo pior. 67


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— Nikos não está se comportando de forma racional. Você devia tê-lo visto. Ele nem se importou com o fato de Ari e Dax estarem vendo tudo. — Que coisa horrível. Ouça... quando Stasio chegar, vou lhe dizer que você está esperando que ele telefone. Ele vai ficar mais calmo quando falar com você. — Obrigado. Eu te amo, Rachel. Cuide-se. — Você também. Elas desligaram antes que Stella se desse conta de que nem havia perguntado à cunhada sobre seu enjôo. Ela se deitou debaixo das cobertas e esperou pela ligação de Stasio, mas o telefone não tocou durante mais meia hora. Já passava da meia-noite quando ela finalmente conseguiu falar com ele. — Sinto muito que você tenha descoberto sobre Theo por intermédio de Nikos. Eu queria lidar com isso pessoalmente antes de lhe contar. — Compreendo. Mas apenas estou preocupado com você. — Sei disso. A questão é, Theo voltou para a Grécia e quer ser pai de Ari. Ele não está pedindo mais nada. Preciso enfatizar que ele não fez nada além de ser maravilhoso com Ari e comigo. Como eu disse à Rachel, ele contou que foi detido por agressores antes de poder se encontrar comigo na igreja para nos casarmos, e que depois disso nunca mais conseguiu me achar. Ele me mostrou uma carta a que lhe foi devolvida com o carimbo "destinatário desconhecido". Eu vi com os meus próprios olhos. Segundo ele, alguém tentou destruir o nosso amor. Eu... eu acredito nele, Stasio, ainda que ele não tenha me contado tudo. — Você leu o que a carta dizia? Ela estremeceu. — Não. Eu estava zangada demais na época, mas quando estivermos em St. Thomas, vou pedir para ele me mostrar. — Quando você vai vê-lo novamente? — Amanhã. Manterei contato com você enquanto estivermos longe. Quanto a Nikos, por favor, não diga onde estou. Stella tomara uma decisão. — Depois da nossa viagem, eu vou encontrar um novo lugar para viver. Não poderei continuar morando aqui depois que Nikos voltar para Atenas. E se o irmão dela voltasse a ameaçá-la ou a Ari, Stella seria forçada a pedir a Costas, o advogado de sua família, que conseguisse uma ordem de restrição contra ele. — Stella... você tem todo o direito de estar irritada. Mas acho melhor nós nos encontrarmos de manhã em Andros, para conversarmos. — Você quer dizer, com Nikos? — Sim. Quando souber que Theo quer ser pai do seu filho, ele vai começar a agir de forma mais racional. — Não, ele não vai, Stasio. Ele jamais aceitou completamente Ari. Saber que Theo está de volta à vida de Ari só vai deixá-lo ainda mais insuportável. Eu não vou deixar que ele machuque o meu filho. — Vou tentar dialogar com ele uma última vez. — Agradeço por isso. Te amo muito, Stasio. — Eu também. Sabe, quando percebi que você não se interessou por mais 68


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nenhum outro homem, rezei para que Theo voltasse para você. Stella sentiram os olhos pinicarem. Os beijos que eles haviam trocado nos últimos dias podiam ter estremecido seu coração, mas ainda lhe parecia muito cedo para reiniciar o relacionamento. — Eu... eu não tenho certeza disso, mas sei que ele quer ser pai de Ari daqui por diante. — Seis anos é um tempo muito longo para se estar fora da vida de uma criança, mas nunca é tarde demais — murmurou Stasio. — Um menino precisa ter uma figura paterna, e se essa figura for o seu pai verdadeiro, melhor para ele. Ter a benção de Stasio foi muito importante para Stella.. Agora que seu irmão sabia de tudo, ela se sentia livre para ver Theo no dia seguinte.

— Kyrie Pantheras? Theo estava no meio de uma ligação internacional. — O que é? — perguntou à sua secretaria. — Tem um oficial de justiça aqui. Você precisa assinar uma ordem judicial. Ele estivera esperando por isso. Nikos Athas não era um homem de perder tempo. — Mande-o entrar. Theo pediu desculpa ao homem do outro lado da linha e desligou. Um minuto depois, o oficial de justiça entrou em seu escritório. Depois de assinar a ordem judicial, recebeu o envelope. Assim que o oficial saiu, Theo fechou a porta e caminhou até a janela para abrir o documento. Pantheras contra Athas. Agora que Nikos estava de volta à cena, Theo precisava triplicar a segurança para si mesmo e sua família, para não mencionar Stella e Ari. Nikos tentara destruí-los antes. Isso poderia acontecer novamente, e ele não estava disposto a correr riscos. O queixoso Nikos Athas requer ordem de restrição contra o réu Theo Pantheras, que já provou ser uma ameaça à irmã do queixoso, Stella Athas, e seu filho, Ari. O senhor está convocado a comparecer ao tribunal em 14 de junho, quarta-feira, às 9h, para responder a acusações de manipulação e coerção com intento danoso. O não comparecimento implicará em sua prisão. Nikos não devia bater bem da cabeça. Esta convocação era a razão pela qual ele se dedicara intensamente ao trabalho durante seis anos. Theo estava mais do que preparado para enfrentar o irmão de Stella. O nome de Stasio Athas não estava no processo. Theo começava a pensar que, durante todo esse tempo, estivera enganado a respeito do irmão mais velho de Stella. Fora Stasio quem levara Stella para Nova York e cuidara dela. Stella amava Stasio. Theo telefonou para seu advogado, Nestor. — Acabo de receber uma ordem judicial de Nikos Athas, do escritório de Costas Paulos. Quem é ele? — O advogado da família Athas. Leia para mim o que está escrito na ordem. Depois que Theo leu a carta, Nestor disse 69


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— Vou responder à ordem judicial e então entrar em contato com você. -— Obrigado. Como você sabe, não quero uma disputa judicial. Faça o que puder para impedir isso. — Isso pode não ser possível. Costas é um dos melhores advogados da Grécia. — Bem, quando eu pesquisei, disseram-me que você era um dos melhores, mas aconteça o que acontecer, mantenha-me informado. Estarei fora durante os próximos dias, viajando. — Divirta-se. Você merece. — Obrigado, Nestor. Tendo cuidado dessa questão, Theo mal podia esperar para sair do escritório. Ele tinha planos para os três, planos que, ele torcia, iriam mudar toda sua vida.

A piscina do resort parecia um lago azul. Em uma extremidade, ficava o tobogã gigante sobre o qual Theo falara aos meninos. Ari havia passado a tarde inteira deslizando por ele. Theo não parecia se cansar nunca. Ele e Ari haviam pensado em uma dúzia de formas diferentes de descer. Seu filho estava no paraíso. — Da próxima vez, vou deslizar de braços, papai! — gritou Ari. Theo sorriu. — Mantenha a cabeça levantada. Vou esperar por você! — Vai ser a última vez por hoje, querido — disse-lhe Stella de sua espreguiçadeira. — Você e seu pai vão à aula de observação do céu esta noite. É melhor jantarem antes de ir. — É mesmo, eu esqueci. Enquanto o menino descia os degraus da escada do tobogã, Stella correu os olhos para Theo, que o aguardava dentro da piscina. Cada fêmea nos arredores estava olhando para ele, mas Theo não parecia ligar. Ele e Ari estavam se divertindo a rodo. Feche os olhos, Stella. Não olhe para ele. Eles já estavam aqui há quatro dias. Depois que esta viagem houvesse terminado, ela iria encontrar um apartamento no mesmo bairro, e a vida iria retornar a uma espécie de normalidade. Ela voltaria ao trabalho. E Theo também. Ele falara sobre querer iniciar um relacionamento com ela, mas eles precisavam avançar lentamente. Enquanto isso, não acontecia, ela teria de suportar outras mulheres olhando para ele. Theo virava a cabeça das mulheres como a de corpo bronzeado e esvoaçante cabelo louro, com quem ele estava conversando agora, enquanto observava Ari. Como Theo parecia estar apreciando a atenção, Stella decidiu que já havia assistido ao espetáculo por tempo demais. Depois de guardar o livro na bolsa, vestiu sua saída de praia e entrou no hotel, onde provavelmente não teria de suportar tamanha tortura. Certas coisas haviam mudado desde seis anos atrás, quando Theo nunca fazia nada que lhe causasse ciúmes. Mas nessa época, eles haviam sido jovens amantes escondendo-se de suas 70


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famílias para estarem juntos. Tudo era diferente agora. Quando sentiu lágrimas começando a empoçar seus olhos, Stella foi para seu quarto com a firme intenção de tomar um banho, mas Theo entrou de, súbito pela porta adjacente. Ari vinha correndo atrás dele e desapareceu no banheiro. — Por que não esperou a gente? — foi a primeira pergunta que saiu da boca de Theo. Stella estava surpresa por ele ter notado. — Vocês dois estavam se divertindo tanto que eu não sabia quanto tempo iam demorar. Ela o ouviu praguejar antes de dizer: — Eu e você precisamos conversar. — Ele parecia zangado. — Qual é o problema? — Como você teria se sentido se tivesse se virado e descoberto que eu havia desaparecido. — Não é a mesma coisa, Theo. Você estava falando com aquela mulher. Eu não sabia se a respeito de negócios ou não, e não quis ser um incômodo. — Aquela mulher era uma completa estranha para mim. Quando ela me convidou para uma festa, eu disse a ela que era casado e que minha esposa estava bem ali. Só que você não estava por perto. — Sinto muito. Não sei mais o que dizer. — E isso também deixou o Ari chateado. Agora o coração de Stella batida violentamente. — Eu não fazia a menor idéia. — Na próxima, vez pense melhor antes de sair correndo. E, em um piscar de olhos, ele havia se retirado. — Mamãe? Ela se virou para ver Ari embrulhado em uma toalha. — Sim? — Achei que você gostasse do papai. — Você sabe que eu gosto. Já lhe disse isso. — Mas você não gosta dele da forma como gostava antes, não é? Stella sentiu-se encurralada. A despeito de como respondesse a essa pergunta, Ari iria internalizar a resposta e depois contá-la a Theo. — Por enquanto, por que não nos concentramos em você e seu pai? — Queria que pudéssemos ficar aqui para sempre. Incapaz de resistir, ela o beijou na bochecha. — Nunca vi você se divertir tanto assim antes. Os olhos negros do menino reluziram. — Eu amo o papai. — Ele te ama. 71


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— Eu sei. Ele vai levar a gente pra velejar amanhã. Vamos passar a noite fora e, no dia seguinte, vamos pescar. — Isso vai ser muito empolgante para você. — Mas você terá de vir conosco. — Acho que não, meu bem. O seu pai quer passar algum tempo apenas com você. Pense em todos os anos que vocês dois perderam. O rosto bonito do menino desabou. — Papai disse que não vamos se você não vier. Theo estava preocupado com Ari ficar assustado caso ela não os acompanhasse? Se tivesse ouvido o que o menino acabara de dizer, ele saberia o quanto era forte o elo entre os dois. — Mais tarde conversarei com ele. — O jantar vai ser no quarto dele. Vamos. Você pode falar com ele agora. — Ainda não. Primeiro preciso de um banho. Alguns minutos depois, Stella voltou correndo para o quarto e vestiu um par de calças compridas castanhas e uma camiseta estampada em tons de terra. Ela pegara um forte bronzeado nos últimos dias. O batom novo que comprara acentuava o tom de sua pele. Pela primeira vez em anos, Stella tinha a impressão de estar em uma viagem real com nada a fazer além de comer, dormir e brincar. Ela queria que isso jamais terminasse. Nos últimos dias, eles sempre haviam tido de se esconder de alguém. Contudo, com Theo longe da influência de Nikos, Stella jamais sentira-se tão livre. Quanto mais pensava nisso, mais sentia-se determinada a buscar por outro lugar para morar, quando voltasse a Atenas. Assim que ela entrou na suíte de Theo, ele a capturou com os olhos. Os dois se entreolharam. — Você está linda. — Obrigada. — Você é a mulher mais bonita neste resort. Mal posso acreditar na minha sorte. Ela tentou sufocar um arfado de surpresa, mas não teve como conter o arrepio de prazer que correu por seu corpo. Theo, sendo como era, provavelmente já lera os sinais, como o fato de que, neste momento, ela estava respirando raso, pelo simples fato de estar tão perto dele. — Eu é tenho sorte por estar com dois homens tão bonitos. — Eu sou bonito? — indagou Ari. — Sim, exatamente como o seu pai. — Quando percebeu o que havia dito, já era tarde demais. Theo simplesmente sorriu para ela. Stella olhou em outra direção. — Hum... isso parece bom. —- Ela sentou ao lado de Ari, e Theo serviu-lhes comida de um carrinho enviado pela cozinha. Até agora, eles haviam feito todas as refeições em seu quarto. Ela adorou a intimidade da situação, como se eles fossem uma família de verdade. Theo fitou-a por um longo momento, aparentemente para avaliá-la até que ela se 72


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sentisse exposta. O coração de Stella começou a bater tão rápido que parecia a ponto de explodir. — Ari lhe contou os meus planos para os próximos dias? — Sim. Estávamos agora mesmo falando sobre isso. — Se todos iriam passar a noite no mar, então ficariam longe do irmão dela por mais algum tempo. Sem hesitar, ela disse: — Não consigo pensar em nada que eu esteja com mais vontade de fazer. — Urra! — comemorou Ari. Ela viu um brilho nos olhos negros de Theo que comunicava que ela estava agradavelmente surpresa. — Nesse caso, quero partir de manhã bem cedo. — Estaremos próximos. Farei as malas enquanto vocês estiverem na aula. — Vou providenciar para que a cozinha do barco esteja cheia de comida. Esse era um luxo que eu não podia oferecer quando saíamos para remar. Lembra? — Não sabia que você remava com papai. Stella quase engasgou com o cordeiro que estava comendo. — Fazíamos isso às vezes. — Ari fora concebido em um desses passeios. — Era divertido? Os olhos negros de Theo correram para os dela. — Como você descreveria nossos passeios? — perguntou ele com sua voz grave. Ela evitou olhar nos olhos dele. — Pelo que lembro, era muito árduo. — Mas os fins sempre justificavam os meios. Theo... Incapaz de ficar sentada ali por mais um segundo sequer, Stella levantou-se da mesa. — Acho que vou começar a fazer as malas. Divirta-se na aula e dirija em segurança para casa. Stella saiu do quarto dele o mais rápido que pôde.

Duas noites depois, Stella estava de pé na proa do veleiro, admirando a vista. — Aí está um pôr do sol que não se vê todo dia. — Theo chegara por trás dela. — É glorioso. — Ela estivera admirando um céu dourado desbotar lentamente para rosa. Ele correu as mãos pelos braços de Stella e a beijou na face. — O... onde está Ari? — Quando Theo a tratava daquele jeito, ela mal podia falar claramente. — Na cozinha, tomando sorvete. Por que você acha que escolhi este momento para subir? — Ele acariciou os ombros dela. — Não, Theo — rogou ela. — Este não é o momento... — Mas ele nem estava ouvindo. — Você está errada. É o momento perfeito. Antes de eu ir embora, você era toda a minha vida. — Ele a virou para olhá-lo. — Desde que voltei, descobri que você ainda é. Agape mou, ele sussurrou, encontrando sua boca, avidamente usando a língua para afastar seus lábios. — Preciso provar novamente a sua doçura. 73


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A fome que ele sentia por ela o fez esquecer de todo o resto. Ela sabia apenas que a boca de Theo a estava incendiando e que ela não conseguia impedir o que estava acontecendo. À medida que a paixão de Theo aumentada, ela se via mais engolfada por seus braços, ansiando por seu toque. Não havia mais ninguém no mundo capaz de fazer com que ela se sentisse assim. A necessidade que ela sentia de se fundir com ele era absolutamente avassaladora. Ele, finalmente, levantou a cabeça o bastante para olhar nos olhos dela. — Eu não posso acredita que, quando eu vivi em Nova York, você também estava lá, tendo nosso filho. Eu devia ter estado a seu lado. — Ela ouviu lágrimas na voz dele. — Fomos privados das nossa vida por muito tempo. Agora que estamos juntos de novo, preciso de você mais do que nunca. Vamos, diga-me que você se sente da mesma forma... Por um momento inebriante, ela sentiu seus corpos mesclarem-se. A química entre eles sempre tinha sido volátil. A sensação que ela tinha neste exato momento era de que eles jamais haviam estado afastados. — É óbvio que eu não sou imune a você, Theo — confessou com um pequeno gemido de rendição. — Mas saiba que isso não muda nada. Não somos mais jovens. — Não. Nós somos um homem e uma mulher que nunca conseguem ficar afastados um do outro. Ela vasculhou os olhos dele. — Precisamos falar sobre certas coisas. — Eu concordo, mas vamos primeiro aproveitar o resto da nossa viagem. Isto é o céu para mim. Quero fazer com que dure o máximo possível. Você não quer? — Claro que sim — ela admitiu. — Mas... — Você confia em mim? Ela o sentiu vasculhando as profundezas de sua alma. — Sim. Senão eu não estaria aqui. —- Isso é tudo que eu queria ouvir. Mais uma vez, a boca de Theo se infundiu a dela. Isso era êxtase. Os lábios de Theo vasculharam o rosto de Stella, capturando cada traço de suas feições. Enquanto vasculhava a boca de Stella, ela ouviu um som atrás deles. — Que tipo de peixe você acha que pegaremos amanhã? Enquanto ela afastava os lábios dos dele e escapulia dos braços de Theo, ele se virou para Ari. — Provavelmente algum tipo de truta. É muito saboroso. Mas se não conseguirmos pescar nada, podemos mergulhar um pouco. — Vamos ver muita coisa? — Vamos a um lugar onde a água é tão limpa e pura, que nem vai acreditar que está submerso. — Vai ser assustador? — Não aonde vamos. Além disso, a sua mãe e eu estaremos lá com você. — Sim. 74


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— Agora que lançamos âncora para passar a noite aqui, venha me ajudar a colocar o barco para dormir. — Barco não dorme, papai. — Claro que dorme. Está cansado depois de trabalhar o dia todo. — Ari deu uma risadinha. — Precisamos limpar a sujeira que fizemos. Amarrar o que estiver solto, acender as luzes. Temos muito o que fazer. — Papai, eu adoro estar com você. — Eu também, filho. — Eu queria que mamãe e eu pudéssemos morar com você. — Eu adoraria isso — respondeu Theo sem hesitação. Ele estreitou os olhos para fitá-la. — E quanto a você, Stella? Stella sentiu o coração afundar no peito. Foi sujeira da parte dele fazer-lhe uma pergunta como aquela na frente de seu filho. — Está falando sério? — Ela decidiu que era sua vez de colocá-lo em uma saia justa. Uma estranha tensão irradiou entre eles. Theo finalmente disse: — Tão sério que gostaria de falar mais sobre isso depois que formos para a cama. Aturdida pela resposta de Theo, Stella desceu do convés. Precisando recompor seu raciocínio, seguiu direto para a cozinha para começar a lavar os pratos. Alguns momentos depois, os dois chegaram para fazer-lhe companhia. Havia dois quartos, um com uma cama de casal e outro com um beliche com dois leitos. Ela teria dormido com Ari, mas Theo insistiu que ela ficasse com a cama grande, porque os homens estavam aqui em uma aventura. Depois de dar um beijo de boa-noite em Ari, Stella escovou os dentes e vestiu um pijama azul-marinho feito sob medida. Acendendo o abajur, sentou-se na cama e pegou o livro que não conseguira ler à piscina, por estar cansada demais. Era um romance de espionagem escrito por um autor que ela gostava muito. Para seu desespero, ela logo viu que também não conseguiria lê-lo esta noite. Quando Theo entrou no quarto, de moletom e camisa de malha, o cora ção de Stella começou a bater tão forte que doeu. A penumbra ressaltava as feições marcadamente másculas de Theo. Perturbada por vê-lo, ela fingiu que continuava lendo. No instante seguinte, ele sentou ao lado dela e tomou o livro de suas mãos. Então ele sentou na cama e se estendeu ao lado dela, apoiado num cotovelo. Ela sentiu os olhos de Theo estudarem-na com arrepiante intimidade. — Você não faz idéia do quanto está deslumbrante esta noite. Ela engoliu em seco. — Obrigada. — Depois que fui para Nova York, houve noites em que achei que iria morrer se não pudesse ter você. Eu não tinha como saber que você havia parado de me amar. Stella desviou os olhos. — Então você tem alguma compreensão de como me sinto. Eu não teria conseguido lidar com a dor se não estivesse ocupada cuidando de Ari. 75


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Ele respirou fundo. — Eu me atirei ao trabalho. Tive três empregos, um com o rico proprietário de um café grego que era amigo de infância do meu avô. Ele me disse que se eu quisesse fazer dinheiro de verdade, teria de investir em propriedades. Havia propriedades que eu poderia adquirir sem precisar fazer um pagamento inicial. O truque era revender a propriedade antes mesmo de pagar por ela. — E você fez isso? — perguntou Stella? — Mesmo parecendo loucura, aceitei o conselho dele. Você jamais acreditaria na velocidade com que comecei a fazer dinheiro. Ele me disse onde investir o que eu ganhava. Comecei a mandar dinheiro para casa e planejar meus retorno. Um dos meus objetivos era encontrar você e lhe perguntar diretamente o que havia acontecido. Ela se remexeu inquieta na cama antes de relancear os olhos para ele. — Eu torcia exatamente pelo contrário disso. Vivi um pesadelo tão terrível que esperava jamais ver você de novo. Theo sorriu. — Minha carta deve ter sido um choque. — Eu desmaiei, mas Iola me pegou a tempo de não rachar a cabeça no chão. — A compaixão nos olhos dele era quase insuportável. — Eu sinto muito, Stella. Depois que passei de carro diante da mansão e a vi, não consegui pensar em mais nada além de fazer contato. Ela umedeceu os lábios. — Não importa como aconteceu. Para mim, foi como se você tivesse voltado dos mortos. — Contaram-me que você havia abortado o bebê. — Theo... — Quase tive um ataque cardíaco quando a vi brincando com Ari. E pensar que eu achava... — Que eu nunca havia tido nosso filho? — ela completou. — Meu Deus, como você devia me desprezar. A lembrança mais uma vez enrijeceu seu corpo. — Eu estava furioso até o momento em que vi Ari. Então eu mergulhei em outra espécie de fúria, porque você o escondeu de mim. Depois de respirar fundo, ela disse: — Quem fez isso com a gente? — Não importa mais. — Ele se inclinou até ela. — No começo, tentei desprezar você, mas não consegui. Eu me apaixonei por você há muito tempo, Stella. Isso nunca vai mudar. Case comigo, meu amor. Eu não posso continuar sem você. Ela deixou escapar um pequeno gemido quando ele começou a beijá-la. — Eu também nunca deixei de amar você. Você é toda a minha vida! — Você acaba de dizer sim? — Você sabe que eu disse — gritou ela. — Eu te amo, eu te amo, Theo. Quero me tornar sua esposa o mais rápido possível. — Stella, me deixe te amar esta noite. Me deixe realmente amar você. 76


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A deliciosa sensação da boca de Theo reduziu-a a uma trêmula massa de desejo. Ela não conseguia parar de gritar o nome dele. As pernas poderosas de Theo se entrelaçaram com as dela, lembrando-a daqueles outros momentos em que eles haviam se entregado ao seu desejo. — Papai? Ambos gemeram. — Quando vocês vão voltar para a cama? — Não conte ainda a ele — sussurrou ela. — Vamos esperar até termos feito todos os planos. — Concordo. — Theo beijou o pescoço dela antes de rolar para seu lado da cama. — Achei que você estava dormindo, companheiro. — Tive um pesadelo. — Oh, querido — disse Stella. — Venha aqui. — Ari subiu na cama para ficar entre eles. — Com o que você sonhou? — Com um tubarão. Ele estava tentando me pegar. — Bem, fique aqui com a gente. Vamos manter você em segurança. Stella sentiu Theo correr os dedos pelo cabelo dela, atiçando-a. Ele esperara que ela mandasse Ari de volta para o beliche, mas isso não era uma boa idéia, por diversos motivos. O principal estava enroscado entre eles como um filhotinho, tendo esquecido completamente seu pesadelo. — Boa noite para todos. — Boa noite, mamãe. Boa noite, papai. Theo apertou o ombro dela. — Boa noite, mamãe. Boa noite, filho. — Mamãe não é sua mãe. Mais uma gargalhada rouca reverberou pelo quarto. Essa foi a última coisa de que ela se lembraria antes de adormecer. Quando a viagem chegou ao fim, Stella já tinha a sensação de que eles eram uma família. Ela poderia ter ficado naquele barco para sempre, brincando e amando os dois homens que ela idolatrava. A perspectiva de retornar ao trabalho era desanimadora. — Por que está com essa cara triste? — perguntou Theo. — Não queria que isto terminasse. — Os três estavam levando suas malas até o helicóptero. Ele passou o braço em torno da cintura de Stella. — Não vai terminar. Você e eu precisamos de mais tempo juntos. Contrate um substituto temporário para ajudar Keiko por mais uma semana. Alguém no escritório vai gostar da oportunidade. Mais uma semana com Theo? Ela quase tropeçou, tamanha foi sua empolgação. — Verei se isso é possível. Logo depois, estavam de volta à civilização. Quando o helicóptero pousou no topo do edifício de Theo, Stella se rebelou. Por um momento, ela teve a premonição de que agora que ele a pedira em casamento, o frágil mundo novo que eles haviam construído seria estilhaçado por uma força invisível, e que eles jamais seriam capazes de juntar os pedaços. 77


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Enquanto Theo a ajudava a descer do helicóptero, ela sussurrou: — Você ainda tem a carta? Gostaria de lê-la. Os olhos negros de Theo inflamaram como pedras de carvão. Ele pressionou um beijo faminto nos lábios de Stella e então disse: — Está no meu escritório. — Pode pegá-la antes de levar eu e Ari para casa? — Vou fazer isso agora mesmo. Daqui a pouco me encontro com você na limusine. — Ele fez um cafuné no cabelo de Ari. — A gente se vê daqui a um minuto.

CAPÍTULO OITO

Theo fez um desvio até sua suíte. Havia uma mensagem à sua espera. Nestor falara com o juiz, mas não conseguira convencê-lo a anular o processo. A audiência iria acontecer, conforme o planejado, dentro de dois dias. Theo fechou os olhos com força, imaginando a reação de Stella. Depois de pedi-la em casamento, faria qualquer coisa, para não magoá-la, mas agora tudo seria exposto, e ele estava aterrorizado em pensar o que isso faria com ela. A carta estava em sua gaveta. Ele a pôs no bolso e saiu do escritório para encontrar Stella e Ari diante do prédio. No segundo em que Theo sentou-se ao lado de Stella no banco traseiro da limusine, Ari disse: — Estou louco para pescarmos de novo! Essa era uma das coisas que Theo mais gostava em Ari: seu constante entusiasmo. — Eu também, filho. Assim que as aulas de astronomia tiverem terminado, vamos pescar de novo. Conheço um lugar nas montanhas onde podemos acampar e pescar no córrego. Leandros e o pai dele também adoram pescar. Talvez pudéssemos ir os quatro juntos. — Muito legal! Assim que a limusine parou diante da mansão, Ari lhe deu um grande beijo e desceu primeiro. Aproveitando-se do momento, Theo tirou a carta do bolso e a pôs na bolsa de Stella. Em seguida, segurou a mão de Stella e beijou sua palma. — Telefone para Keiko e faça os preparativos. Tenho mais planos para nós. Ela assentiu com a cabeça. — Amanhã eu vou lhe dizer. — Stella... — Ele pôs as mãos em concha nas faces de Stella para lhe dar mais um beijo. Jamais era suficientemente longo ou profundo. — Vem, mamãe! Relutantemente, Theo deixou-a ir. 78


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— Boa noite. Theo observou-a subir os degraus para se juntar a Ari. Depois que eles estavam em segurança dentro da casa, mandou que o chofer o levasse de volta para o escritório. Como sabia que não ia conseguir dormir, Theo decidiu adiantar um pouco de trabalho. Quase podia ouvir o tique-taque de uma bomba relógio. Ela não ia demorar muito a explodir. Devia haver uma maneira de ajudar Stella quando a situação explodisse, mas o maior temor de Theo era que ela entrasse em choque. Apenas uma coisa o estava ajudando a manter a sanidade esta noite. Para sua mais profunda gratidão, ele tinha Ari, seu maior aliado e ligação com Stella. Que filho maravilhoso! Na viagem, Theo descobrira que precisava mais dele e de Stella do que precisava de ar para respirar. E, dependendo da reação de Stella à crise, ele talvez jamais conseguisse conquistar de volta a sua confiança. Theo sentia-se morrer um pouco cada vez que pensava nas chances de ver ruir tudo que ele tinham construído. Ele enterrou o rosto nas mãos.

Foi só olhar para Ari que Iola levantou as mãos ao alto e exclamou: — Meu Deus, você está vermelho como uma lagosta! — Lagosta... — Ari soltou uma gargalhada. — Sabe de uma coisa? Pequei duas trutas! — Qual era o tamanho delas? — Este. — Ele demonstrou com as mãos. — Que bom! Vocês as comeram? — Sim. Papai é um cozinheiro maravilhoso, e minha vovó também. O peixe estava delicioso, não estava, mamãe? — Estava sim. — Durante a viagem, ela descobrira que Theo possuía muitas habilidades ocultas. — Está com fome agora? — Não. Estamos prontos para dormir — declarou Stella. — Se ele vai brincar com Dax de manhã, terá de dormir bem. Vá tomar um bom banho, querido. Daqui a pouco, subo para arrumar a sua cama. — Tá. Enquanto subia as escadas, ela se virou para Iola. — Como você está? — Eu estou bem agora que você chegou tão feliz em casa. Você está apaixonada novamente. Stella assentiu. Theo está ainda mais maravilhoso do que era antes. — Ele é um homem. — Sim. Ele é minha vida e a de Ari. — Ela beijou a bochecha de Iola. — A gente se vê de manhã. 79


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Uma vez em seu quarto, ela mal podia esperar para ler a carta. Sentou-se na cama, morrendo de curiosidade para saber o que ele havia escrito. Tomando o máximo de cuidado possível, abriu o envelope selado e tirou a pequena carta de uma página. Agape Mou, Uma coisa terrível aconteceu comigo. Foi por isso que não consegui entrar na igreja. Estou no Salamis Hospital, quarto 434W. Spiro está escrevendo esta carta para mim, porque ainda não consigo usar as mãos. Encontre uma maneira de sair da mansão e venha me ver o mais rápido que puder. Minha família vai deixar você ficar conosco até que eu esteja me sentindo melhor. Depois, nós iremos nos casar e encontrar um lugar só nosso. Eu te amo, Stella. Amo nosso bebê. Venha logo. Preciso de você. Theo. Stella gemeu. — Kyrie Pantheras? — Sim? — Stella Athas está aqui para vê-lo. Excitação percorreu seu corpo como um choque elétrico. — Mande-a entrar. Ele largou sua caneta e contornou a mesa para saudá-la. Nesta manhã, ela estava usando uma linda blusa cor de chocolate com calças pregueadas de tom café com leite. Os olhos castanhos de Stella buscaram ávidos pelos seus. Ela devia ter lido a carta ou não estaria com aquela expressão ansiosa no rosto. — Estou perturbando você? — Está — sussurrou ele em um tom rouco enquanto estendia os braços até ela. — De todas as formas que você me perturba. — Notou que ela estava ofegante. — Você acertou as coisas com o Keiko? Ela confirmou com a cabeça. — Mais alguma coisa que você queira me dizer? — Sim. E a respeito da gente. Semanas atrás, você me pediu para depositar minha fé em você e te aceitar. Ontem à noite, no barco, você me pediu em casamento. É o que eu quero, é o que Ari quer. Foi por isso que vim aqui hoje.lhe dizer que quero que contemos para Ari hoje. — Stella — disse ele. — Eu rezei para que esse fosse o seu motivo para vir. Agora que está aqui, não pretendo perder nem mais um segundo. Ele abaixou a boca até os deliciosos e úmidos lábios de Stella, não lhe permitindo espaço de fuga. Eles começaram a devorar um ao outro com um fervor que transportou a ambos de volta aos tempos da adolescência, quando a única coisa que importava no mundo era se comunicarem assim. O corpo de Theo tremia com desejo enquanto eles se entregavam a um abraço tão forte que não deixava qualquer espaço entre eles. Ele não podia acreditar. Ela estava se entregando de corpo e alma a ele. Era como se uma luz tivesse sido acesa. Theo não conseguia saciar-se dela à medida que seus beijos ficavam mais ofegantes, mais sensuais. 80


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— Estou apaixonado por você, Stella — gritou ele contra o cabelo dela. O arfado de êxtase de Stella o excitou. Ela enterrou o rosto no pescoço dele. — Eu vou te amar para sempre, Theo. Eu não posso mais continuar vivendo sem você. — E você acha que eu posso? — retorquiu Theo, euforia fazendo com que ele esquecesse de todos os problemas. — Kyrie Pantheras? — disse a secretária pelo viva voz. — O senhor pediu que eu o informasse quando fossem dez para o meio-dia. O gemido de protesto de Stella foi tão alto quanto o dele. — Obrigado. Ele bebeu da boca de Stella mais uma vez antes de, enfim, afastar-se dela. Os olhos de Stella estavam embaciados pelo desejo. Ela cambaleou. — Só Ari poderia me fazer deixar você num momento como este. Ela beijou as mãos dele. — Vamos pegá-lo juntos. Mal posso esperar para lhe contar as novidades. Ele vai ficar tão feliz! Theo pressionou os lábios nas palmas dela. — Nenhum de vocês poderia querer isso tanto quanto eu. Depois que o pegarmos, vou levar vocês dois para minha casa na ilha Salamis. Enquanto estivermos almoçando lá, vamos lhe dizer que essa será nossa nova casa. Quero casar com você imediatamente. Você se importaria de morar na ilha? Ela franziu a testa. — Como você pode me perguntar uma coisa dessa? — Porque você morou em Atenas por toda sua vida. — Contanto que eu esteja com você, para mim não fará diferença de onde estiver morando. Nós vivíamos falando sobre a casa de frente para a praia que nós íamos ter um dia. Você esqueceu? Ele segurou o rosto de Stella entre as mãos. — Não há um segundo da nossa vida que eu não tenha revivido em pensamento até quase enlouquecer. Nunca esquecerei os planos que fizemos. Depois de beijá-la com requintada selvageria, Theo, afastou-se de Stella para pegar seu paletó e telefone. Na limusine, a caminho da casa de Dax, ele a pôs no colo e a beijou até deixá-la tonta. Por alguns instantes, ele voltou a se sentir como um adolescente, perdidamente apaixonado por Stella Athas, a garota mais linda do mundo. — Comporte-se, Theo — disse Stella. — Estamos quase chegando. — Diga-me, Stella, você está tão feliz quando eu? — Estou tão feliz que dói — disse ela, repassando o batom. — Podemos estar casados dentro de três semanas, Stella. Vou providenciar tudo com Hektor. Três semanas sem estar casada com ele parecia uma eternidade. Enquanto Stella 81


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se perguntando como iria sobreviver até lá, a limusine entrou na garagem de Dax. Os meninos estavam na frente da casa, brincando de bola. Ari se despediu do amigo e correu até eles. — Mamãe! — O menino sentou-se ao lado de Theo. — Não sabia que você vinha com papai! Isso é fantástico! — Eu e sua mãe temos um plano. Vou dizer ao motorista para nos levar até a sua casa. Vocês dois vão pegar algumas roupas. Depois da aula de observação do céu, vamos passar a noite na minha casa. — Legal! — Agora me conte o que você e Dax fizeram esta manhã. Stella mal escutou. Estava inquieta, empolgada demais com as notícias que iriam contar a Ari. Não apenas isso, mas ela mal podia esperar para ver a casa de Theo. Enquanto ele e Ari estavam na aula, ela começou a planejar o casamento. Rachel iria ajudá-la. Ela iria incluir Elani também. Na verdade, ela iria telefonar para ambos esta noite. Seria um momento de grande felicidade para todas elas. — Stella? — sussurrou Theo. — O que se passa nessa linda cabecinha? — Ela piscou até compreender que eles estavam na frente da mansão. — Ari foi pegar suas coisas. — Também preciso pegar as minhas. — Só um minuto. — Ele pressionou um beijo profundo em seus lábios. — Por favor, diga-me que não está com dúvidas. — Claro que não, Theo. — Ela o beijou ardorosamente. — Na verdade, eu estava pensando em Rachel e em como ela vai adorar me ajudar a planejar o nosso casamento. — Estou ansioso por conhecê-la. — Vou vai adorá-la. Ele beijou a testa de Stella. — Quer que eu entre enquanto você pega suas coisas? — Não. Isso só vai levar um minuto. — Depressa! — Eu prometo. Ele a ajudou a descer da limusine. No corredor, ela cruzou com Ari, já com a mochila nas costas. — Logo estarei com vocês, querido. — Precisava apenas de alguns cosméticos, uma muda de roupas e uma camisola. Enquanto guardava os itens na sua bolsa de viagem, Iola entrou no quarto. — Onde você vai? Ela fechou a tampa. — À casa do Theo. Não tenho certeza de quando voltaremos para casa. Devemos ficar fora alguns dias. — Tem certeza de que sabe o que está fazendo? 82


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— Absoluta. Iola, você merece saber primeiro. Voltamos de vez. Vamos nos casar dentro de três semanas. Os olhos da governanta se encheram de lágrimas antes que ela começasse a se debulhar em soluços felizes. Stella abraçou-a forte. — Você precisa me ajudar com os planos do casamento. Iola finalmente se recompôs. — Antes que eu esqueça, Rachel pediu para você ligar imediatamente. Ela disse que é uma emergência. — Obrigado por me avisar. Vou telefonar para ela. — Bom. Depois que a governanta saiu do quarto, Stella pegou seu telefone. Rachel atendeu ao primeiro toque. — Stella? — Oi. Algum problema? — Se você perguntou isso, é por que não sabe. O coração de Stella disparou. — Não sei o quê? Depois de um momento de silêncio: — Espero que você esteja sentada. Stella se levantou, mas se viu incapaz de se mover. — Se tem alguma a ver com Theo, eu não quero ouvir. — Você precisa ouvir, Stella. — Ela ouviu lágrimas na voz de Rachel. — Então me conte. — Nikos abriu um processo contra Theo por falsidade ideológica e por se aproveitar de você. A sessão está marcada para amanhã de manhã. Ele espera que a família esteja presente para prestar apoio. Eu disse a ele que não quero nenhuma relação com isso. Stasio está chocado por Nikos ter chegado a esse ponto. — Eu também — murmurou Stella. Isso significava que Theo sabia a respeito da sessão há algum tempo, mas não dissera nada. — Stella? — Preciso ir agora. — Você está bem? — Rachel parecia cm pânico. — Não. Eu preciso conversar com Theo. Diga a Stasio que ligarei para ele depois. Ela desligou o telefone sentindo-se tão mal que duvidava ser capaz de sobreviver a mais um segundo. Estava abalada por seu irmão ter feito uma coisa dessa no apogeu da felicidade dela. Muito nervosa, desceu correndo as escadas e seguiu direto até o carro. Theo abriu a porta da limusine e a segurou pela cintura. — Estávamos achando que você não ia chegar nunca. Evitando os olhos dele, ela disse: — Recebi um telefonema que me atrasou. Antes de irmos a qualquer lugar, preciso falar com você a sós. 83


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Ela abaixou a cabeça para olhar para Ari. — Querido? Preciso conversar uma coisa com seu pai em particular. Vai demorar só um minuto. Você se importa de ficar um pouco lá em casa? Eu te chamo quando tivermos acabado. Ficou evidente para Theo que ela estava transtornada. — Certo — disse Theo, com a expressão feliz sumindo do rosto. Ele saiu, deixando a mochila na limusine e subiu correndo os degraus que conduziam à mansão. Stella entrou na limusine e sentou de frente para Theo. Ele se recostou, estudando suas feições. Ela não viu nada além de amor naqueles olhos escuros. — Acabo de falar com a Rachel. Ela me disse que Nikos abriu um processo contra você, e que você tem de comparecer ao tribunal amanhã. É verdade? — Sim. — Por que eu quero deixar o passado para trás. — Eu não consigo entender meu irmão. Deve ter realmente alguma coisa errada com ele. — Deixe que eu me preocupe com isso. — Como você pode ficar tão calmo? Estava pensando em ir ao tribunal sem mim? — Sim. Eu não quero você lá. — Acabo de lhe dizer que vou me casar com você. Você acha que eu iria deixar você entrar sozinho num tribunal depois do que passamos nos últimos seis anos? — Não vou deixar você ir, Stella. A sessão não vai demorar. Voltarei logo. Stella decidiu não discutir com ele. Depois que ele saísse para o tribunal, ela iria deixar Ari na casa de Dax e entrar sem ser notada na sala de julgamento. Então, Theo não poderia fazer nada. — Está bem. Ele a beijou. — Vou entrar e pegar Ari agora.

— Terceira Corte Distrital em sessão. O Meritíssimo Juiz Antonias Christopheles irá presidir. — Podem se sentar — disse o juiz, olhando para a platéia. Além da família inteira de Theo, incluindo Hecktor, metade da sessão fechada era composta por testemunhas arregimentadas por Nestor. A outra metade estava notavelmente vazia. Nikos estava sentado à mesa com seu advogado, mas assim que o juiz começou a falar, Stella entrou na sala e sentou-se ao lado de Stasio. — Há varias acusações apresentadas ao tribunal nesta quarta, 8 de junho, por Nikos Athas contra Theo Pantheras, por manipular e coagir Stella Athas contra a vontade dela. Sr. Pantheras, por sua vez, apresentou contra-acusações contra Nikos Athas. O primeiro objetivo é determinar se Nikos Athas pretendeu matar Theo Pantheras em 6 de julho, há seis anos. O segundo é descobrir se ele ateou fogo na Taverna Pantheras em Paloraria, na noite de 1 de julho. O terceiro objetivo é descobrir se ele causou um acidente sofrido por Spiro Pantheras enquanto dirigia sua lambreta na noite de 27 de junho. O quarto é determinar se o Sr. Nikos ameaçou as vidas da família Pantheras em 84


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repetidas ocasiões por meio de telefonemas, entre 2 de junho e 6 de julho. O quinto obje tivo é determinar se o Sr. Athas tentou subornar Theo Pantheras com dez mil dólares, para que ele rompesse o relacionamento com a Srta. Athas. A cada acusação, Theo notou Stella abaixar um pouco mais a cabeça. Ele a alertara que não viesse. Essa parte certamente iria devastá-la. — Sr. Paulos, pode fazer sua exposição. — Obrigado, Excelentíssimo — disse o advogado de acusação. — Meu cliente foi forçado a responder a essas alegações totalmente falsas sem ter tido para isso um tempo adequado de preparação. — Estou ciente disso. Mas esta é apenas uma audiência preliminar. Prossiga. — Obrigado. — Ele pigarreou. — A Athas Shipping Lines é uma das maiores empresas gregas. Não preciso lembrar à corte dos talentos extraordinários de Nikos Athas como um de nossos atletas olímpicos. E seu pai ocupou uma das posições mais elevadas em nosso governo. É um completo absurdo considerar que Nikos poderia perpetrar tais crimes. Um absurdo e um desperdício de vosso tempo, Excelentíssimo. Se meu colega é capaz de apresentar uma única prova em contrário, deve se pronunciar. O juiz assentiu com a cabeça. — Sr. Georgeles? Queira se aproximar da tribuna. Nestor deu uma palmadinha no braço de Theo antes de se levantar. — Como Prova A, chamarei algumas testemunhas. Convoco o Dr. Vlasius, médico que atendeu o Sr. Pantheras na sala de emergência do Salamis Hospital, na noite de 6 de julho. Hoje o Dr. Vlasius é membro da diretoria desse hospital. Depois que o médico prestou juramento, Nestor começou: — Dr. Vlasius, pode comentar os raios X? — Certamente. As chapas mostram os ferimentos causados ao Sr. Theo Pantheras, o indivíduo de 19 anos trazido ao hospital por seus amigos. Enquanto retornava para casa, ele foi espancado e deixado à morte. Os exames revelaram que ossos das pernas, braços e mãos foram partidos por um cano. A polícia corroborou a hipótese do tipo de arma usado. O rosto do paciente sofreu afundamento. Ele permaneceu internado no hospital por seis semanas enquanto seus ossos saravam e era submetido a várias cirurgias reconstrutivas no rosto e nariz. Um grito feminino se elevou da platéia. Tinha sido Stella. — Obrigado, Dr. Vlasius. Quero chamar à tribuna Damon Arabos, o amigo de Theo que o levou ao hospital. Instantes depois Nestor perguntou a Damon: — O senhor testemunhou o ataque a Nikos? — Apenas o fim. — Reconheceu o perpetrador? — Havia cinco homens curvados sobre ele. Chamei alguns de nossos amigos e começamos a brigar com eles. Eles fugiram em um furgão. Um dos nossos amigos anotou a placa. A polícia identificou o veículo como pertencente a um operário da doca da Athas Shopping Lines, um certo Yanni Souvalis. Mas esse homem nunca mais compareceu ao trabalho. — Obrigado, Sr. Arabos. Queira sentar-se. Convoco agora Alena Callas. Ela 85


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trabalha no departamento de gravações da companhia telefônica e reuniu algumas evidência úteis a este caso, as quais submeti como Prova B. Essa era a parte pela qual Theo vinha aguardando ansiosamente. A trilha de documentos que iria derrubar Nikos. — Sra. Callas, explique ao tribunal a natureza da Prova B. — São os registros telefônicos das datas entre 2 de junho, e 6 de julho. Ao todo, nove telefonemas. Foram originados pelo telefone particular do Sr. Nikos Athas. Todas as chamadas foram feitas para a Taverna Pantheras na ilha Salamis. — Foram telefonemas longos? — Cada um foi diferente, mas nenhum durou mais de 45 segundos. — Grato. Queira sentar-se. Convoco como minha próxima testemunha o Sr. Biofi. — Protesto, Meritíssimo! — bradou o Sr. Paulos. — Protesto negado. Estou aqui para ouvir a apresentação das provas. Por favor, seja breve, Sr. Georgeles. — Sim, Excelentíssimo. Theo não podia ver o rosto de Nikos. Ele estava virado para seu advogado. Os dois conversavam intensamente. — Sr. Bion? Por favor, apresente-se à corte. — Sou comandante de batalhão do Corpo de Bombeiros de Paloukia. — O senhor testemunhou o incêndio na Taverna Pantheras, em 1 de julho? — Sim, senhor. Mas é claro, nessa época, eu havia acabado de me juntar ao departamento. — Pode nos contar o que descobriu no incêndio? — Foi um caso de incêndio premeditado. Foi usado um produto químico cuja procedência a polícia atribuiu à Athas Shipping Lines. Apenas algumas companhias marítimas usam esse produto. — Então poderia ter vindo de outra companhia marítima? — Não naquela época. — Obrigado. Queira sentar-se. Convoco à tribuna o Sr. Spiro Pantheras. Spiro piscou para Theo enquanto se dirigia à tribuna. — Por favor, queira apresentar-se ao tribunal. — Spiro Pantheras, irmão mais velho de Theo. — Compreendo que o senhor teve um acidente de lambreta na noite de 27 de junho, nas proximidades da taverna. — Isso é correto. — Pode nos contar o que aconteceu. — Estava voltando da taverna para minha casa quando ouvi um motor de carro atrás de mim. Eu passei para a direita para sair do caminho, mas o veículo me seguiu e, então, me abalroou de lado, derrubando-me da lambreta. — O senhor viu o carro? 86


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— Apenas a traseira do veículo, antes de virar a esquina. Era uma Ferrari preta último modelo, com placa local. — O senhor foi hospitalizado? — Não, mas devido aos telefonemas ameaçadores que meus pais receberam na taverna, eu liguei para a polícia para dar queixa. Tenho uma cópia do caso policial. — A queixa surtiu algum resultado? — Não. — Muito obrigado. O senhor pode descer. — Nestor virou-se para o juiz. — Meritíssimo? Se olhar a Prova C, verá que provi uma lista de cada Ferrari nova vendida naquele período de doze meses em Atenas. Duas atendiam à descrição. Uma delas pertencia ao primeiro ministro suplente, e a outra, a Nikos Athas. Como minha última testemunha de hoje, convoco à tribuna o Sr. Theo Pantheras. Chegara a hora tão esperada, mas Theo não sentiu qualquer prazer em expor o irmão de Stella dessa forma diante, dela. Depois que Theo havia jurado dizer a verdade, Nestor disse: — Sr. Pantheras, por favor, descreva à corte com suas próprias palavras os acontecimentos durante o mês anterior à sua hospitalização. Theo respirou fundo e olhou diretamente para Stella. — Cometi o crime de me apaixonar por Stella Athas quando ela tinha 16 anos e eu 18. A família não me aprovava e nós dois sabíamos disso. Assim, precisávamos ser criativos para estarmos juntos. Sabia que Nikos Athas não gostava de mim, mas não imaginava até onde ele poderia chegar para ameaçar a mim e à minha família para que eu rompesse nosso relacionamento. Certa noite, ele me seguiu da igreja até a minha casa. No caminho, ele me ofereceu 10 mil dólares para que eu saísse da vida de Stella e não retornasse mais. Bem, eu disse a ele o que podia fazer com o dinheiro. Alguns dias depois, nossa taverna pegou fogo. Depois do acidente de Spiro, eu entendi que Nikos falava sério. No último telefonema que recebi dele, Nikos me disse que se eu não rompesse com Stella, ele iria machucar tanto os meus pais que eu não seria capaz de reconhecê-los. Acreditei nele. Assim, liguei para Stella e lhe disse que íamos nos casar. Eu iria encontrá-la na igreja, mas fui espancado no estacionamento. Ficou claro que Nikos não estava disposto a permitir que a família Pantheras se unisse à dele, nem me conceder direitos de pai. Depois que saí do hospital, fui para Nova York, para construir uma carreira. Depois disso, retornei para a Grécia e reencontrei Stella e meu filho Ari. Nestor sorriu para Theo. — Obrigado, Sr. Pantheras. Pode voltar ao seu lugar. — Depois que Theo havia sentado-se atrás da mesa. — Excelentíssimo, retorno a palavra ao Sr. Paulos. — Sr. Paulos? — perguntou o juiz. — Quer interrogar as testemunhas? — Não desta vez, Excelentíssimo. — O que ele pode dizer? — sussurrou Nestor a Theo. — O caso que acabamos de apresentar não possui qualquer incoerência. O caso dele acaba de desmoronar. Theo concordou. Nikos havia se enforcado com sua própria corda. O juiz pronunciou: — Depois de ouvir a exposição deste caso, planejo levá-lo a júri popular no dia 13 de setembro. Decreto que a fiança de Nikos Athas será de dez milhões de dólares. O senhor não terá permissão de sair do país. 87


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Nikos explodiu. — A senhora não pode me manter aqui! Moro na Suíça! — Mais uma reação como essa, Sr. Athas, e terei de ordenar sua detenção. Esta sessão está suspensa até as nove horas, de 13 de setembro. — O juiz bateu seu martelo e se retirou do tribunal. Theo, subitamente, se viu completamente cercado por seus parentes. Este era um dia muito importante para todos eles, que, emocionados, choravam copiosamente. Mas quando Theo enfim conseguiu levantar-se para procurar por Stella, descobriu que ela havido ido embora.

CAPÍTULO NOVE

Stella saiu do tribunal e correu até a mansão para chegar antes de todos. — Iola? — gritou Stella assim que entrou na casa. A governanta apareceu imediatamente. — O que aconteceu? — Espere aqui. — Stella subiu correndo as escadas para pegar a carta que Theo havia lhe dado. Quando desceu novamente, ela mostrou a carta à governanta e disse: — Quero que seja sincera comigo, lola. Foi você quem escreveu na carta "destinatário desconhecido"? A governanta se limitou a assentir vigorosamente com a cabeça. — Por que você fez isso, lola? — Para não perder meu emprego. — Isso seria impossível, lola! você faz parte desta família. — Stella abraçou a governanta. — Quem ameaçou você? — Por favor, não me faça dizer isso. Estou com medo. Stella levou a mão à boca, absolutamente devastada em pensar que Nikos havia chantageado a governanta que lhes servira com tanto amor desde que eles eram muito pequenos. — Houve mais cartas como essa? — Eu não sei — murmurou Iola, que subitamente deu as costas para Stella e saiu correndo para os fundos da mansão. Stella caminhou lentamente até o salão e ficou ali, aguardando que o resto da família chegasse. Ela providenciara para que Ari ficasse com Dax até poder buscar por ele. Em um minuto, ouviu passos no corredor. Com expressão torturada, Stasio entrou no salão acompanhando por Nikos, que parecia apático, distante, a pele normalmente bronzeada agora completamente pálida. Durante anos, Nikos fora a nêmesis de Stella. 88


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Cada momento verdadeiramente infeliz da vida de Stella podia ser atribuído a esse homem, seu próprio irmão. Pobre Stasio. Ele estava tão ferido quanto ela, talvez ainda mais, porque era o irmão mais velho que Nikos odiava amar e amava odiar. Por impulso, ela pegou a mão de Nikos. — Tenho uma coisa importante para lhe dizer, Nikos. Apesar do que você fez, eu sei que Theo não quer mandar você para a prisão. Esse nunca foi o objetivo dele. Quando voltou para a Grécia e descobriu que tinha um filho, tudo que ele queria era lutar por ele. E, então, ele passou a lutar por mim também. — Jamais uma mulher tivera mais evidências do amor de um homem. — Ela apertou a mão de Nikos para obter uma reação dele. — Ouça o que estou dizendo: ele vai encerrar todas as acusações, contanto que você faça uma coisa por mim. Nikos fitou-a atormentado por um instante. Stella prosseguiu: — Se ele ainda me quiser depois de tudo isso, nós vamos nos casar. Tudo que ele quer é que minha família fique em paz com ele. Ele gostaria de poder ir e vir comigo e com Ari e ser tratado de forma gentil e justa. Apenas isso. Os olhos de Stasio reluziram com lágrimas. — Mas isso não é tudo que eu quero. Um dia você foi um menino amoroso, mas alguma coisa aconteceu com você quando cresceu. Você terá de prometer a mim e a Stasio que irá procurar auxílio psiquiátrico. Faz anos que você precisa disso. Isso também vai salvar o seu casamento. Renate realmente te ama, mas ela não vai conseguir manter o relacionamento sem a sua ajuda. — É tarde demais para mim — sussurrou Nikos num suspiro torturado. — Não. — Stasio se curvou para frente em sua cadeira. — Nunca é tarde demais para mudar. Stella segurou a mão dele. — Olhe o exemplo de Theo. Depois de seis anos, ele voltou preparado para continuar de onde o deixamos. Ele não pensou que fosse tarde demais. Nikos meneou a cabeça. — Mandei os rapazes assustarem ele, e não matá-lo. — Acredito em você. E ele também. — Ele tem todo o direito do mundo de me odiar para sempre. — Theo não é assim. — A voz de Stella estremeceu. — Ele é um homem bom.

Stella tomou um banho e colocou o vestido branco com cinto largo de que Theo parecia gostar tanto. Não sabia onde ele estava agora, mas quando o reencontrasse, queria estar o mais bonita possível para ele. Depois de ligar para a casa de Dax para conversar com Ari, Stella descobriu que ele não tivera notícias do pai o dia inteiro. Era a primeira vez que Theo passava tanto tempo sem entrar em contato com o filho deles. Stella ficou ainda mais apreensiva ao lembrar que eles tinham aula de observação do céu esta noite. Theo poderia ter ido a qualquer lugar depois da audiência. Ela queria 89


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acreditar que ele estava com sua família, mas depois do que tinham passado hoje, ele provavelmente estava sozinho, sofrendo. Ela precisava dar algum jeito de encontrá-lo sem alarmar Ari. Depois que estava pronta, ela se despediu de Stasio e saiu pela porta dos fundos. Instruíra Ari que a aguardasse. Assim que ela chegou à casa de Dax, o menino saiu correndo da casa e entrou no carro. — Onde está o papai? Ela sufocou o gemido que ameaçou sair de sua garganta. — Está na taverna com a família dele. Pensei em irmos de carro até lá antes de vocês saírem para a aula. — Ele vai ficar feliz. Papai está com medo de que você não goste da família dele. Stella relanceou os olhos para o filho. — Não é verdade. Gosto muito deles. — Ele fala muito sobre quando vocês eram jovens. Ele disse que você era tímida. O que isso significa? — Que eu não falava alto e tentava não ser notada. — Papai disse que isso era o que ele mais gostava em você. Todas as outras garotas... bem... Você sabe. Elas queriam ficar com ele, mas ele disse que depois que conheceu você, não pensou em mais ninguém. Stella tinha certeza de que houvera outras mulheres durante a época em que passara em Nova York. Ele era atraente e ativo demais para viver como um monge. Mas o importante era que ele voltara para ela. — Folgo em saber disso. — Ele quis saber se você teve namorados. — O que disse a ele? — Que teve alguns, más que nunca deixou nenhum conhecer a nossa família ou dormir com a gente. Papai ficou muito feliz em ouvir isso. A despeito de todo o medo que sentia de não conseguir encontrar Theo, Stella teve de rir. — Depois que conheci seu pai, eu nunca olhei realmente para outro homem. — Você é louquinha por ele, não é? — Sou sim — respondeu emocionada. — Como você sabe? — Porque desde que ele voltou, você nunca mais parou de sorrir. — E você também. Vamos encontrar seu pai e surpreendê-lo. Eles seguiram até a ilha Salamis. O tráfego estava terrível devido ao fluxo de turistas e pessoas voltando para casa do trabalho. Esteja lá, Theo, rogou Stella. Mas quando viram a taverna, ela não localizou o carro dele. Isso não significava necessariamente nada, mas mesmo assim ela começou a suar frio. Assim que ela estacionou na frente da taverna, Ari desceu. — Vou trazer ele, mamãe. Stella gostou que ele houvesse entrado sozinho. Não estava disposta a encarar os 90


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parentes dele depois de tudo que haviam sofrido naquela manhã no tribunal. O irmão de Stella tinha sido a causa de toda a dor que a família deles havia sofrido. Stella sentia uma punhalada de dor no peito sempre que lembrava o testemunho do médico sobre os ferimentos de Theo. Quando Ari saiu, ela teve de enxugar as faces para esconder que estivera chorando. — Vovô disse que ele esteve aqui mais cedo, mas foi para casa. — Então é para lá que iremos. Sabe como chegar lá daqui? Nunca estive na casa dele. — Sei. Vou te mostrar como chegar lá. À medida que se aproximam, tudo começou a parecer familiar para Stella. A cada quilômetro, ela compreendia que Ari a estava direcionando para uma área muito querida, a qual ela não visitava há seis anos. Quando Ari a instruiu a dobrar a última curva, ela arfou, surpresa. A bela mansão branca ficava em uma parte da mesma praia a qual Theo costumara levá-la no barco a remo. — Esta é a casa do seu pai? — Sim. É muito legal. Ele tem academia e piscina coberta. Do meu quarto, eu posso ir direto para a praia. Nós montamos um telescópio na varanda para vermos as estrelas. Dax disse que gostaria de morar aqui. — Aposto que ele gostaria — disse ela, trêmula. Os dois saltaram do carro e seguiram o caminho que atravessava o canteiro florido até a porta principal. — Papai me deu uma chave. Entre. — Ele abriu a porta e Stella se viu em um mundo novo e moderno de branco com explosões de cores nas paredes e piso. — Papai? — chamou Ari. O menino correu pela casa mas não encontrou Theo. — Deve ter saído para caminhar na praia. Vamos encontrá-lo. Se ele não estivesse ali, Stella não sabia o que iria fazer. — Essa é uma grande idéia. Vou tirar os sapatos. — Eu também. A praia imaculada era exatamente como ela lembrava. — Vamos, mamãe. Vou te mostrar onde papai me levava para passear. Ela teve de correr para alcançá-lo. — Não tem ninguém por perto. — É a praia particular dele. Papai disse que quando era garoto, a família dele vivia como sardinha em lata. — Stella riu da metáfora. — Ele decidiu que se um dia tivesse dinheiro suficiente, iria construir um lugar onde pudesse passear e ficar sozinho. Ela sentiu as lágrimas pinicarem seus olhos. — Bem, ele certamente conseguiu isso aqui. — Sim. Eu adoro. Nossa casa em Atenas é velha é vive cheia de gente. Depois que eles contornaram um pequeno pontal, Stella parou de repente. Esta era a pequena angra para a qual Theo sempre a trazia no barco a remo. Fora aqui que eles haviam feito amor ardorosamente pela primeira vez. Ari fora concebido aqui. 91


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A distância, Stella viu o homem que ela amava acocorado no areia de shorts e camiseta, olhando o oceano. — Papai! Theo virou a cabeça. Pela forma com que ele se levantou lentamente, Stella notou que ele estava chocado em vê-la com Ari. — Querido! Theo não disse palavras que ela pudesse ouvir. Ele o fez com a boca, cobrindo a dela com sofreguidão, fazendo-a saber como sentia-se enquanto eles se comunicavam da forma como haviam feito ao descobrir juntos este lugar especial. — Graças a Deus você veio — ele finalmente sussurrou. — Querida, eu disse a meu pai... a toda minha família... que vou retirar as acusações contra Nikos. Amanhã mesmo mandarei Nestor... — Não diga mais nada. Nunca mais falaremos disso novamente. Nunca mais lembraremos do passado. Beijaram-se longa e ardentemente, até Stella romper o beijo de repente e sussurrar para Theo: — Não olhe agora, mas acho que deixamos nosso filho envergonhado. Theo virou-se para ver Ari de costas para eles, concentrado em um veleiro que navegava ao longe. — Ari? Você terá de perdoar a mim e a sua mãe. Sabe, ela acaba de me dizer que vai casar comigo. — Você vai? — Ele deu um gritinho de alegria. Stella assentiu com a cabeça. — Isso é sinistro! — O menino pulou de alegria. — Concordo totalmente, filho — murmurou Theo, e voltou a beijar Stella. Ari riu e correu até eles. Os três se abraçaram com força. — Venham — disse Stella finalmente. — Vamos voltar para a casa e planejar o casamento. — Quando vai ser? — Daqui a três semanas. — Vai pedir ao Hektor para casar vocês? — Quem mais? — provocou Theo. — Vocês vão viajar em lua de mel? — perguntou Ari, subitamente melancólico. Theo sorriu para Stella antes de dizer ao filho: — Estamos na dúvida entre Disneylândia e Disney World. Vamos deixar você tomar a decisão. — Disneylândia! — gritou o menino. — Dax disse que lá é maneiro!

CAPÍTULO DEZ 92


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Onze meses depois — Rachel? Pode me fazer um favor? — Ela e Stella estavam deitadas diante da piscina na mansão de Andros, folheando revistas sobre bebês. — O que é? — Theo está me vigiando como um gavião. Meu parto está programado para daqui a três dias, mas olhando para ele, até parece que posso parir a qualquer momento. Peça ao Stasio para levá-lo para passar o dia em algum lugar. Juro que se ele continuar me vigiando desse jeito, eu vou gritar. — Sei exatamente como você se sente. Stasio também me deixou maluca nas últimas semanas antes do nascimento de Anna. — Estou quase. — Opa! — Que foi? — Theo está vindo para cá. Stella levantou a revista que estava lendo, para fingir que não o via. — Stella, vamos entrar. Calor demais não vai lhe fazer bem. Antes que ela pudesse protestar, Theo tomou-a em seus braços fortes e a levou para seu quarto. Depois que Theo a havia deitado cuidadosamente na cama, Stella lhe disse: — Querido, você não precisa se preocupar comigo. Quando estava esperando Ari, nunca tive problemas. — Mas eu não estava lá para cuidar de você. Agora estou. — Eu sei, e te amo por isso, mas ficar me vigiando o tempo inteiro é como olhar água ferver. Os lábios de Theo se contorceram. — Não mesmo. Você é muito mais interessante. — Ele tocou a barriga de Stella, o que emitiu arrepios por todo seu corpo. — Ela está chutando? — Não no momento. Vou lhe dizer assim que começar a chutar. Vamos. Feche os olhos e tire uma soneca junto comigo. — Isso é difícil quando eu quero fazer muito mais com você. — Acho que você já fez muita coisa comigo em um ano, Kyrie Pantheras. Ele riu. — Você é uma mocinha muito fértil. — Foi o que descobri. Teremos de tomar cuidado depois que ela nascer. Ele franziu as sobrancelhas escuras. — É sua maneira de dizer que a lua de mel acabou? — Não. — Ela segurou a mão de Theo e beijou a ponta de seus dedos. — É minha forma de dizer provavelmente poderíamos ter um bebê por ano durante os próximos dez 93


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anos sem problema algum. — Gosto da idéia. — Oh, Theo. — Ela segurou seu rosto com as mãos em concha. — Eu te amo demais. Suas bocas se uniram por um longo tempo. — Agora você sabe como me sinto o tempo inteiro. — Logo o bebê vai nascer e você poderá parar de se preocupar. — Se alguma coisa acontecer com você... — Não vai — garantiu Stella. — Já lhe contei a sugestão de nome que Ari deu? — Não. Qual é? — Uma noite dessas, estávamos olhando a constelação de Andrômeda e ele disse "Papai, que tal chamar o bebê de Andréa?" — É um nome lindo. — Também acho. — Então vamos chamá-la assim. Ari vai ficar empolgado. — Vamos contar a ele depois. Por enquanto, tenho outros planos para nós. Deite de lado que eu lhe aplicarei uma massagem nas costas. No segundo que Theo começou a tocá-la, seu corpo arrepiou todo. Lentamente, as carícias emitiram fagulhas de desejo por ela, deixando-a ofegante. A boca de Theo gerou caos puro na dela. Stella o desejava com tanta necessidade que chegou, literalmente, a sentir dor. Ela deve ter deixado escapar um gemidinho. — Qual é o problema? — Nada que não seja curado por uma noite fazendo amor sem nosso bebê nos separando. — Eu provavelmente não devia nem estar tocando você. — Se não estivesse, não sei como continuaria conseguindo viver. Ela o beijou com sofreguidão, até sentir mais uma dor repentina. Então segurou a mão de Theo e a pôs lá. — Está sentindo a rigidez? — Sim. — Estou em trabalho de parto, querido. — Está brincando! — Sua voz tremeu. — Não. Foi assim que começou da outra vez. E melhor chamarmos o médico.

Duas horas e meia depois, o médico assistente levantou a bebezinha que emitia um choro alto e saudável. — Você tem uma filhinha linda e forte, Kyrie Pantheras. Aqui... corte o cordão. 94


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Theo, de avental hospitalar e luvas, gritou de alegria. Ele vivera cada segundo das últimas horas com ela. A lágrimas de Stella desciam por suas faces. Ele não tomara parte nesse processo antes. Estava tão grato pela oportunidade que não conseguia conter sua alegria. Um minuto depois, o médico deitou o bebê sobre o estômago de Stella para que ela pudesse vê-la. — Ela tem um topetezinho igual ao seu, meu amor! — disse a Theo. — O cabelo e a boca são igualzinhos aos seus. — Ela é linda. Theo enterrou o rosto no pescoço de Stella. — Minhas duas meninas. Foi a última coisa que Stella ouviu antes de se render ao sono. Ao acordar, viu que estava em um quarto particular, com Theo ao lado da cama, com a barba por fazer e a filhinha deles no colo. — Você acordou! — comemorou Theo. Ela sorriu. — Sim. O que acha da nossa menininha? — Palavras não podem descrever — disse ela, voz trêmula. — Eu sei. Ele abaixou Andréa para os braços da mãe, e então sentou-se em uma banqueta ao lado da cama. Juntos, examinaram seu bebê. — Já chequei tudo. É perfeita. Stella desatou uma gargalhada. — E sim. Theo cobriu o rosto de Stella com beijos. — Como se sente? — Bem. Tenho a sensação de estar flutuando. — Vocês mulheres são o sexo forte. Agora eu sei disso. — Ele a fitou ternamente. — Você me deu o mundo. O que eu posso lhe dar? — Apenas continue me amando. Eu te amo desesperada-mente. Eu sempre irei te amar. — Oh, Theo... nós somos as pessoas mais felizes do mundo, porque tivemos uma segunda chance na vida. Sabe, valeu a pena esperar seis anos. Incapaz de resistir, ele a beijou. — Daqui a pouco vou em casa para pegar Ari, Stasio e os outros. — Ele suspirou triste. — Sei que uma parte de você gostaria que Nikos viesse, mas ainda é cedo para isso. Vamos torcer para que ele um dia possa encontrar uma felicidade como a nossa e dar a volta por cima. Os olhos de Stella se encheram com lágrimas. — Como você pode dizer isso depois de tudo que ele te fez? — É verdade o que dizem: o amor cura todas feridas. Stella sorriu. Theo voltara para a Grécia sem esperanças de reconquistar Stella ou o filho deles. E agora tinha a ambos e também a adorável 95


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AndrĂŠa. Se havia algo que jamais iria lhes faltar, era amor.

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PRÓXIMO LANÇAMENTO MAR DE REVELAÇÕES Marion Lennox — ADEUS, SR. Cavallero. Obrigada por pensar em mim como uma marinheira em potencial. Foi muita bondade da sua parte. E sabe de uma coisa? Se eu não tivesse essa dívida, ficaria tentada a aceitar sua oferta. Mais uma vez ela se virou. Caminhou aproximadamente dez passos, entretanto a voz dele voltou a chamá-la. — Jenny? Deveria ter continuado a caminhar, mas havia algo na voz de Ramón que a fez parar. — Sim? Ramón estava parado onde ela o havia deixado. Atrás dele, no fim da rua, podia se avistar o porto. O lugar aonde ele pertencia, pensou Jenny. Era um homem do mar... — Jenny, eu pagarei suas dívidas. Ela não se moveu. Não disse nada. Não sabia o que dizer. — Não se trata de caridade — disse ele depressa ao vê-la corar. — É uma proposta. — Eu não entendo. — É uma proposta muito bem-delineada. Não tenho tempo para elaborar os detalhes, podemos conversar sobre isso depois. Mas, essencialmente, vou pagar sua dívida junto ao seu chefe se você prometer vir trabalhar comigo durante um ano. Desempenhará duas funções. Marinheira quando eu precisar de uma, e cozinheira durante o restante do tempo. Às vezes, ficará muito ocupada, mas a maior parte do tempo, não. Também lhe pagarei um bom salário mensal — disse, mencionando uma quantia que a fez ofegar. — Viverá no barco de forma que deve ser suficiente — acrescentou, ignorando o assombro de Jenny. — Então, ao término de um ano, providenciarei para que volte para casa, de onde quer que o Marquita se encontre. E então? — E lá estava aquele sorriso novamente, flamejando e aquecendo partes dela que ela não sabia que estavam frias. — Quer ficar aqui como escrava de Charlie ou assar seus bolos em meu barco e ver o mundo? O que me diz? O Marquita está esperando, Jenny. Venha velejar. — São três anos de dívida — ela ofegou por fim. Ele seria louco? — Não para mim. É um ano de salário para uma cozinheira e marinheira competente e é o que estou lhe oferecendo. — Seu patrão pode não concordar em pagar esse salário. Ramón hesitou por um momento, apenas por um momento, e então sorriu. — Meu patrão não interfere no modo como administro o barco. Sabe que se eu... se ele pagar pouco, só contratará estúpidos. Quero uma marinheira boa e leal, e com você acredito que conseguirei isso. — Você nem me conhece direito. E acho que é louco. Sabe quantos marinheiros poderia contratar com esse dinheiro? — Não quero qualquer marinheiro. Quero você. — E então, quando ele a fitou, emendou o que fora uma declaração realmente forte. — Se assar os bolinhos que comi esta manhã, tornará minha vida e a de todos que entrarem no barco mais agradável. — Quem cozinha para você agora? — Eu ou um dos marinheiros — disse ele pesaroso. — Eu... eu pensei que cozinharia para o dono. — Sim. — Festas? — Não há muitas festas a bordo do Marquita — informou ele. — O dono é muito parecido comigo. Uma alma aposentada. — Você não parece alguém que se aposentou. — Aposentado ou não, preciso de uma cozinheira. Céus! Ser uma cozinheira em um barco... com aquele homem... 97


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