Olívia gates como tocar um sheik

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COMO TOCAR UM SHEIK To touch a sheikh

Olivia Gates

Orgulho de Zohayd 3/3

A redenção de um sheik Ninguém consegue burlar as defesas do sheik Amjad Aal Shalaan. Ninguém. Mas quando a princesa Maram apareceu no baile de gala de Amjad no lugar do pai dela, destruindo os planos dele de recuperar o que fora roubado de sua família, Amjad ficou furioso... e aproveitou-se de uma estranha tempestade de areia para torná-la sua amante e prisioneira. Salva por um homem que sempre amou a distância, Maram percebeu que tinha a chance de fazer Amjad vê-la como uma mulher. Sua mulher. Mas ambos não estavam preparados para o resultado de seus desejos…

Disponibilização: Projeto Revisoras


Olivia Gates - [Orgulho de Zohayd 3] - Como tocar um Sheik (Desejo 173) Querida leitora, Assim que Amjad Aal Shalaan apareceu no primeiro livro da trilogia Orgulho de Zohayd, tive certeza: ele se tornaria, de longe, o meu herói favorito. Apesar de quase não ter sobrevivido a uma traição e ter jurado nunca mais pensar no melhor dos outros, o que mais me encanta neste personagem é o fato de ter se escondido tanto tempo por trás de um impenetrável cinismo, e depois passar a acreditar ser indiferente e invulnerável. Por isso, eu nunca me diverti tanto escrevendo e escolhendo cada palavra e pensamento maldosamente irreverente de Amjad. E a diversão aumentou ainda mais quando eu lhe dei a única heroína que poderia desarmá-lo de todas as formas... e daí eu só os observei se engalfinharem e se apaixonarem perdidamente. Com este livro, a trilogia Orgulho de Zohayd chega ao fim. Para mim, foi uma jornada emocionante que termina com chave de ouro. Espero que você goste deste livro e dos dois anteriores tanto quanto eu amei escrevê-los. Adoraria ouvir sua opinião, então, entre em contato pelo e-mail oliviagates@gmail.com e visite o site www.oliviagates.com, para saber das últimas novidades. E por favor, não deixe de curtir também a minha página no Facebook e de me seguir no Twitter. Boa leitura! Olivia Gates

Tradução Rafael Bonaldi HARLEQUIN 2012 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: TO TOUCH A SHEIKH Copyright © 2011 by Olivia Gates Originalmente publicado em 2011 por Harlequin Desire Projeto gráfico de capa: nucleo-i designers associados Arte-final de capa: Ô de Casa Editoração eletrônica da versão digital: Ranna Studio Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380

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PRÓLOGO — Você me perdoa, Amjad? Amjad Aal Shalaan mal conseguia erguer o olhar e ver o homem cuja voz produzira aquela pergunta. Seu pai agigantava-se sobre ele regiamente, seu rosto entalhado pelas responsabilidades, congelado numa máscara de controle. Seus olhos ardiam numa mistura de remorso e ira, agonia e ultraje. O olhar de Amjad vagou para os irmãos, ao lado do pai, e para o mar de representantes tribais que lotavam a glória imponente de Dar Al Adl — o salão da justiça de Zohayd. Seus rostos formavam uma massa indistinta de expectativa conforme a pergunta do rei reverberava pelos arcos e domos do venerável local, em um eco derrisório. Você me perdoa? Mas ele já perdoara o que nenhum outro homem jamais perdoaria. Perdoara a noiva por não se deitar virgem em seu leito matrimonial. Amjad aplacara seu medo, garantindo que jamais usaria algo contra ela que ele mesmo não pudesse lhe oferecer. O que importava eram as escolhas de vida que faria depois de se tornar sua esposa. Então a perdoara quando descobriu que estava grávida. De seu parceiro anterior. As pessoas cometem erros. Isso não é motivo para destruir uma vida, ou até mesmo um relacionamento. Amjad não conseguia se sentir traído. Ela fora uma estranha que escolhera — ou melhor, fora escolhida para ele segundo uma... forte recomendação — de uma lista de noivas, uma semana antes do casamento. Como príncipe herdeiro de um reino governado por pactos tribais, sua opinião não poderia ser levada em conta. Mas tornara-se sua esposa, e seria a única mulher de Amjad. E como não conseguiria viver o resto da vida pela fria conveniência que tivera que acatar, resolvera ver apenas o que havia de melhor nela, dando-lhe o melhor de si e descartando o que não apreciava. E ela agradecera sua clemência e compaixão traindo-o e destruindo. — Amjad? — O sussurro áspero de seu pai incitou-o a responder. Tivera muitas respostas. As preocupações quanto à perda de apetite foram seguidas de formigamento nas mãos e cãibras nas panturrilhas. Excesso de trabalho, estresse, exaustão. Quando apareceram a queimação nas entranhas, a dor de garganta e o terrível gosto na boca, suspeitara de outra coisa. Doença da alma. Sua mente pode ter aceitado a situação, mas a alma estava traumatizada pelo casamento começar com uma mentira em nome da honra da noiva e da família dela, para manter a paz que a união selara. Por talvez não amar o bebê tanto quanto a inocente criança merecia ser amada. 3


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Foi então que a verdadeira doença começou, expurgando cada pedaço de comida e cada gota de água de seu corpo, mal-estares que destruíam sua psique e dores de cabeça paralisantes que ameaçavam a sanidade. Foi então que consultou os médicos reais em segredo. Ficaram perplexos. Os sintomas desafiavam seus exames, e as prescrições não faziam nada para mitigá-los. Amjad sentiu-se aliviado quando a apatia tomou conta, poupando-o do constante tormento. Mas, quando surgiram delírios, tontura e sonolência, não houve mais dúvidas. Algo maligno o consumia. Como os exames não encontravam nada em seu corpo, devia ser algo fora dele. Duvidara de tudo e de quase todo mundo. Menos dela. Como poderia duvidar da esposa que o cobria de provas de gratidão e de um amor florescente? Concentrou-se nas mãos inertes nos joelhos. Carregavam os sinais da traição. Marcas brancas crescentes nas unhas, manchas negras na pele. Estremeceu ao relembrar. De quando a constatação o esmagou. De que fora envenenado. O veneno fora escondido nos mais solícitos dos gestos e nos mais doces presentes. Roupas, toalhas, iguarias, sais de banhos, óleos e muitos mais. Tudo verdeesmeralda, a cor que a noiva dissera adorar por ser a dos olhos dele. Arsênico. Sua esposa matava-o. Lentamente. Quase sem deixar rastros. E quase conseguira. Mal comentara sua suspeita com os irmãos antes de entrar em coma. Os médicos foram capazes de curá-lo, mas seus métodos fizeram-no desejar o contrário. Agora ali estava seu pai, pedindo o que a família da assassina não conseguia pedir. Seu perdão. Seu olhar voltou-se novamente para a multidão. De um lado, segregada, suplicante, encontrava-se Salmah. Ao lado estava seu amante. O cúmplice. Seus olhos, sob a sombra do medo e da vergonha, eram eloquentes. Esperançosos. Não. Mais do que isso. Seguros. De que a perdoaria. Como perdoara tantas coisas imperdoáveis antes. Se agisse assim, negando seu direito de puni-la, a lei decidiria por ele. Aceitar isso significava que ele poderia exigir satisfações da maneira que achasse adequada, não só daqueles que perpetraram o crime, mas também de qualquer um que tivesse o azar de ser da família. O olhar de Amjad parou em Salmah. Agora que não estava mais cego, o arrependimento trêmulo dela era tão superficial quanto seu amor. Considerava-o um tolo fraco que poderia manipular, e depois descartar. Arrependia-se apenas por não ter obtido êxito em seu intento. Um estilhaço de clareza atravessou seu ser. Ela conseguira. Estava morto, por dentro. 4


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Ele fechou os olhos, aceitando o sentimento, acolhendo-o. — Amjad? A ansiedade na voz do pai o fez abri-los. Amjad imaginou a cólera que ele sentia ao vê-lo. Seus irmãos tiveram que ajudálo a se vestir, e trouxeram-no numa cadeira de rodas. Vira o horror de sua condição crispar cada rosto em seu caminho. Os restos emaciados do homem que fora antes dos seis meses de veneno acumulado que devastaram seu corpo e alma. Mas seu pai precisava advogar a paz, mesmo querendo vingança por seu primogênito. Os irmãos também fervilhavam de vontade de vingá-lo, mas precisavam esperar pelo veredito. Ergueu o peso morto de seu corpo com os trêmulos braços, lutando contra a fraqueza. Gesticulou debilmente, abortando o ímpeto de sua família em ajudá-lo. Seu pai olhava como se já tivesse perdido um filho; Harres, Shaheen, Haidar e Jalal, um irmão. Ainda havia chances. Mas se sobrevivesse, jamais deixaria a compaixão dominar suas decisões novamente, nunca ficaria cego diante de verdades perturbadoras. Jamais voltaria a pensar o melhor das pessoas. Amjad injetou reservas de forças em seus nervos envenenados, endireitou as pernas e encarou a multidão. — Não perdoarei. Seu sussurro grave foi recebido por um pesado silêncio. Todos esperavam que bancasse o nobre príncipe e cedesse a seus direitos pelo bem de todos. Salmah irrompeu em lágrimas. A mãe dela desmaiou. O pai clamou por misericórdia. A ironia tremeu nos lábios dele conforme ignorava aquele teatrinho, voltando-se para aqueles cuja influência quase fora responsável por sua morte. Não estavam aqui para mostrar apoio e pesar, mas para certificarem-se de que seus interesses seriam atendidos. Levantou a mão formando um grande arco, seu dedo indicador apontando para todos. — Jamais perdoarei nenhum de vocês. Jamais esquecerei. Do que fizeram. Do que vocês são. É melhor rezarem para que eu não sobreviva. Se sobreviver, viverei para fazê-los pagar. E não percam tempo tentando se livrar de mim. Tiveram a chance e desperdiçaram. Ninguém jamais terá uma segunda oportunidade.

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CAPÍTULO UM Oito anos depois Maram Aal Waaked finalmente teria sua chance com o Príncipe Louco. Pelo menos era assim que Amjad Aal Shalaan era conhecido. Para ela, era a melhor coisa do mundo, depois de fudge de chocolate. Vinha tentando-a com sua luxúria há quatro anos, deixando-a faminta por mais. Mas desta vez o encurralara. É, isso. Encurralado entre dezenas de machos reais intrometidos no meio do deserto. O homem era tão escorregadio que conseguiria dar uma de Houdini numa sala cheia de guardas. Fizera isso uma vez. Durante uma negociação a portas fechadas na qual ela comparecera representando seu emirado. Quando os outros começaram a discursar, ele deu aquele sorrisinho e disse: “Que chato!”. E desapareceu. Puf. Seus amigos chamavam-na de louca só de pensar nele. Claro, diziam, era um homem fenomenal, que fazia as mulheres no raio de um quilômetro desmaiarem. Mas também as fazia se encolherem de medo, pois era um louco, que iria pulverizar qualquer uma em seu poder. Disse que se ele fosse assim, colecionaria mulheres. Mas não deixar que alguém se aproximasse provava que, na verdade, era piedoso e são. Ignoravam os motivos da paranoia dele, dizendo que Amjad já deveria ter superado o passado. Ela pensava que ninguém poderia se recuperar de algo tão terrível a não ser por meio de algo igualmente maravilhoso. Ou pelo menos por meio de alguém que apreciasse sua brutalidade, e que não se importasse com riqueza e poder, vendo o nobre e heroico homem sob aquilo tudo. Maram vivia pela chance de provar a ele que era essa pessoa. Mas antes que pudesse alcançar aspirações tão ambiciosas, precisava ter uma conversa real com Amjad. Sem contar um incidente épico, passaram apenas alguns momentos cáusticos e sagazes juntos. Mas acalmaria aquela fera magnífica, nem que fosse a última coisa que fizesse. Todos os prazeres que experimentaria quando pudesse finalmente... agradá-lo valeriam quaisquer cicatrizes. O primeiro conflito estava prestes a começar. Seu GPS dizia que ela estava a minutos do campo de batalha. O local escolhido por ele para a corrida de cavalos da região. Zohayd sediava a corrida anualmente no último dia de outono. Este ano, devido a compromissos intransferíveis, Amjad adiantara o evento. Todos ficaram horrorizados por sua proposta de fazer a corrida no meio do verão. Em resposta, Amjad enviou cartas convincentes e atrativas, algo que só ele conseguiria fazer, considerando que os destinatários eram nobres duros na queda. 6


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Lera a carta de seu pai, e pôde ouvir sua voz mansa e letal nos ouvidos conforme via sua escrita elegante e energética. Amjad deve ter escrito suas missivas direcionando-as para as idiossincrasias de cada destinatário. O pai evitava esforços físicos, e era exigente em relação ao seu asseio. Não que ninguém soubesse disso. Mas Amjad era infalível em decifrar as pessoas. Essa era apenas uma de suas infinitas armas, que o tornavam irrefreável no mundo das finanças e políticas. Desnecessário dizer que todos sucumbiram a seu pedido. Especificara o horário de chegada para as 15h. Era meio-dia. Ela acabara de ligar para o pai, dizendo que chegara. Ele exclamou sua ansiedade por Maram não ter ido com a comitiva que especificara para ela. Dissera que poderiam alcançá-la mais tarde, que poderia voltar com eles. Mas teria um tempo a sós com Amajd primeiro, antes de o deserto se transformar num mar de pessoas. Maram tirou o pé do acelerador para saborear os últimos momentos da chegada. E não, não se referia ao majestoso deserto com suas dunas ondulantes. Aquilo e o céu azul-claro, pintado com filetes de um branco incandescente, também eram gloriosos. Mas fora a visão dele que lançara fogos de artifício de prazer em seu sistema, fazendo-a tremer de antecipação. Amjad estava diante de uma das enormes tendas. Dezenas de seus homens ao seu redor. Mas ela enxergava apenas ele. Quinze centímetros maior que todos os outros, largo, esbelto e dotado de uma graça natural e um poder inimitável, indiferente ao sol impiedoso em sua cabeça, indiferente ao resto da existência. E isso antes de se levar em conta como estava diferente hoje. Só o vira em ternos sob medida, que pareciam feitos de seda viva, criados para venerarem seu corpo. Achara que nada poderia ser melhor do que aquilo. Mas podia. Todo de branco, com a camisa revolta dentro das calças justas, que por sua vez mergulhavam em botas de couro, era... indescritível. Ela estacionou perto dos outros carros, agarrou a bolsa e o chapéu e desceu do monstro de ferro que seu pai a obrigara a usar. Foi só quando Maram bateu a porta que reparou nela, daquele jeito loucamente delicioso e indiferente. Sob os arcos daquelas sobrancelhas mundialmente famosas, lendários olhos esmeralda documentavam sua aproximação com um forte desapego. Sentiu-os penetrar em seu ser, célula por célula. Enquanto os raios de sol lançavam sombras desagradáveis sobre os outros, transformando-os em caricaturas grotescas, exaltavam o deus da vingança que ele era. Assim que se aproximou, Amjad meio que a encarou, olhando com seu típico ar de menosprezo. Destemida como sempre, acenou para todos os presentes e então fixou-se nele, abrindo seu mais reluzente sorriso e dizendo: — Estou aqui! Está aqui. 7


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As palavras reverberaram na mente de Amjad. B’haggej’ jaheem! O que diabos a princesa Aal Waaked faz aqui? Convidara o príncipe Aal Waaked. Enfim, Maram Aal Waaked estava ali. Como ela anunciara triunfante depois de se aproximar como uma impressionante e faminta tigresa. Amjad forçou cada músculo de seu corpo a permanecer neutro enquanto absorvia cada detalhe de Maram. Um terninho bege abrigava toda a exuberância dela, e não conseguia obscurecer seus longos braços e pernas e as curvas firmes, ondulações de uma confiança feminina e de uma graça fluida. Um rabo de cavalo que caía como cascata numa profusão de fios dourados quando solto. Olhos tão quentes quanto o sol, tão abismais quanto o deserto, misteriosos e serenos. Detalhes esculpidos tendo como modelo a perfeição de algum deus da beleza. A confiança de alguém que sabia seu valor, e que poderia usá-lo como arma ou feitiço. Seus pulmões arderam. Segundos antes de perceber o porquê, voltaram a respirar. Aparentemente, ser um homem era incurável. O problema era que sua masculinidade se manifestava apenas perto desta personificação da feminilidade. Não havia dúvidas. Maram Aal Waaked era um perigo onde quer que existissem criaturas de cromossomos XY. E isso não era fruto de sua paranoia. Aos 30 anos, Maram já se casara duas vezes. Com um príncipe e o herdeiro de um império dos negócios. Um mais velho do que seu pai, o outro tão novo que poderia ser seu irmãozinho. Mas sem dúvida dezenas já haviam sido descartados. Agora, estava de olho nele. Mas antes que isso implique no fato de Amjad ser especial, é preciso incluir outro detalhe. Estava de olho nele e no irmão dele. Quem caísse em sua armadilha primeiro, serviria. Provavelmente não ligaria e lidaria muito bem com a situação se ambos caíssem. Fisgaria o diabo antes de conseguir apanhá-lo. Mas seu meio-irmão, Haidar, sendo o próprio um demônio temperamental e ardiloso, não era tão imune. Já tiveram uma amizade colorida na juventude, e Maram poderia penetrar em suas defesas por meio da nostalgia. Não que conseguisse imaginar algum homem além de si capaz de resistir a ela. Era o próprio nome, afinal. A desejada. A cobiçada. Mas nunca por ele. E isso nunca estivera tão fora de cogitação. Se já a colocara numa lista das pessoas mais abomináveis devido a suas atitudes, Amjad a inscrevia agora na relação dos piores inimigos, por causa do pai dela. Yusuf Aal Waaked, príncipe regente do emirado vizinho de Ossaylan, estava por trás do roubo das joias do Orgulho de Zohayd, o mentor da conspiração para derrubar os Aal Shalaans. Agora, a filha da serpente encarava-o com uma excitação que sempre ameaçava 8


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devorá-lo. Inclinou a cabeça, injetando o máximo de desprezo na voz: — Princesa Haram. Maram piscou. Acabara de chamá-la de Haram? O cintilar daqueles olhos únicos diziam que sim! Pecaminosa. Ímpia. Maléfica. Tabu. Aquela palavra queria dizer tudo isso e muito mais. E certificou-se de que todos o ouvissem. Então. Como esperava que ela reagisse? Ruborizando? Defendendo-se? Indignando-se? Não. O Amjad que conhecia esperaria que ela revidasse. E como. Fez uma reverência, tremulando os cílios. — Príncipe Abghad! Os olhos dele se abriram um pouco mais antes de o perigo perpassar seu rosto maravilhoso, a mão no coração, zombeteiro. — É que achei que você... gostasse de mim. — Eu mais do que... gosto. E sabe disso. Mas um Haram merece pelo menos um Abghad. — Princesa Pecaminosa e príncipe Detestável, — disse Amjad lentamente, como se saboreasse os insultos, a voz aveludada provando-os como os mais doces elogios. — Soam melhor do que os nomes banais que nossos pais nos deram. Ela concordou, divertindo-se. — Ficariam melhores em protagonistas de um romance fantástico ou num jogo de videogame de RPG. — Seriam também melhores descrições do que nossos nomes reais. Em vez da princesa Mestiça você seria o Tabu Loiro e eu não seria príncipe, mas o Mal, Louco e Repugnante. Venderíamos milhões. Pegou o rabo de cavalo e sacudiu. — Não sou loira, vossa malvadeza. — Mero detalhe, vossa vileza. O sorriso dela se ampliou quando percebeu que todos se afastaram, deixando-o sozinho para o embate. — Onde está o príncipe Ass-ef? — perguntou Amjad bruscamente. — Não conseguiu acordar cedo depois de uma extenuante noite jogando paciência? Uma risada irrompeu dela pelo duplo trocadilho. Em árabe, príncipe Ass-ef significa príncipe lamentável. Em inglês... Maram riu novamente. — Ele lamenta não poder vir. Tudo nele era paralisante. Parecia que o deserto inteiro se congelara, esperando a sua reação. Os olhos de Amjad estreitaram-se como filetes de laser. — Então não vem? Estranho. Que sua perturbação fosse tamanha a ponto de ser evidente. 9


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— Teve pneumonia recentemente, e seus médicos temem que sofra um colapso se exposto a condições climáticas desfavoráveis. — Sorriu persuasiva. — Mas não é seu dia de sorte por ter me enviado no seu lugar? Seus lábios espetacularmente esculpidos crisparam-se de desdém. — É como se todos os presentes indesejáveis que amaldiçoei por ter recebido fossem todos abertos na minha cara, de uma só vez. Aliviada por ele ter voltado ao sarcasmo, riu. — Oh, adoro quando tenta ser maldoso. — Garanto que quando eu realmente tentar não vai gostar tanto assim. — Dê o melhor de si, príncipe Abrad. À provocação dela, significando o mais cruel ou o mais frio, apenas pupilas escuras que pareciam responder aos caprichos de Amjad sobrepujaram a constrição do sol, quase obliterando suas íris. — Não sobreviveria... princesa Kalam. — Ficaria ainda mais forte. Vá em frente, veja se sou só de conversa. — Qual é a graça se for imbatível, princesa Rokham? Lutou contra a vontade de agarrar suas madeixas negras e trazer aqueles lábios venenosos até os dela. Suspirou frustrada: — Não será divertido, pois sou feita de mármore e suas farpas não vão me penetrar. Ao ouvir aquelas últimas palavras, as pupilas dele quase desapareceram, deixando seus olhos quase que inteiramente cor de esmeralda. Maram não quis dizer aquilo! Mas não balbuciaria uma desculpa. — E o mais patético é que suas táticas funcionam com os homens. — Balançou a cabeça. — Estou muito envergonhado do meu gênero. — Não seja grosseiro — censurou-o, lutando contra outra ânsia, de apertar suas bochechas. — Mas mã-ãe! Sou grosseiro. — Sua imitação de um garoto mimado a divertiu. — Mas anime-se, ninguém morreu por causa disso. Ainda. Não pôde evitar, e acabou mostrando a língua para ele. Aquilo o pegou de supressa. — É um amor quando age com grosseria, mas não sou geneticamente adaptada como você para aguentar o deserto. — Está a quatro passos de um casulo aclimatizado. Coloque um pé na frente do outro e leve sua pessoa geneticamente deficiente até lá. Ela arqueou uma sobrancelha. — Ok, vamos tentar novamente. Não banque o anfitrião desta vez. — O que? Quer que te carregue? — Dirigi mais de 300 quilômetros até aqui, depois de um voo de uma hora. Seria o mínimo que poderia fazer. — Em primeiro lugar, não sou esse tipo de anfitrião, administro o evento. Depois, não carrego penetras por aí. 10


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— Deus não permita que sua reputação seja maculada por um ato de cavalheirismo! — Exatamente. — Bem, acho que consigo dar esses quatro passos sozinha. Assim, passou esbarrando nele, abrindo a entrada da tenda e entrando numa penumbra abençoada, fresca e perfumada. Era um espaço de seis metros de altura com decoração inspirada em beduínos, e ouviu o zunido quase inaudível do ar-condicionado e dos geradores elétricos. Percorreu o lugar com medo de que Amjad a tivesse deixado entrar sozinha. Respirou aliviada ao vê-lo parado na entrada, agora fechada, com os polegares na cintura da calça e olhos ainda mais esmeralda no escuro. Seu arrepio não tivera nada a ver com a queda de temperatura. Não podia mais lutar contra a ânsia de rebater uma das declarações/acusações anteriores dele. — Aliás, não sou de usar táticas. O olhar de Amjad não se alterou. — Usa, sim. São uma peculiaridade e a tornam ainda mais perigosa. E desonesta. — Estou bem longe disso — disse pacientemente. — E por que precisaria de táticas? Não funcionam no único espécime de seu gênero no qual estou interessada. Você. Sua franqueza rendeu-lhe uma careta. — E a única espécime de seu gênero que me interessa é... Espere! Não estou interessado em ninguém. Ela balançou a cabeça vigorosamente. — E por um bom motivo. — Ah, que gentil da sua parte mencionar isso. É o melhor de todos os motivos, não? — Engenhosamente perverso, sim. — Concordo. Mas não acha que seria patético a ponto de continuar com meu complexo por tanto tempo, usando crimes de uma mulher contra todo o seu gênero, não é? Ela avançou em sua direção, certificando-se de que ele não recuaria. — Não, você é muito penetr... hã... exigente, muito cerebral para generalizar sua opinião merecidamente atroz sobre uma mulher que, como sabe, é imperfeita. Não precisou se afastar. Seu olhar bastava para manter Maram a alguns passos de distância. — O problema é que só me deparo com mulheres que merecem minha opinião merecidamente atroz. Não que sejam criminosas de sangue frio. Parece que não vou ter essa sorte duas vezes na minha quase extinta vida. Mas só atraio aquelas com níveis tóxicos de astúcia e fome de poder. Assim, minha generalização ainda não foi desqualificada. — Quer dizer que outras foram corajosas o suficiente para se aproximarem de você? 11


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— Algumas, ávidas por meu status e riqueza, foram imprudentes. Mas brevemente. Seus instintos de sobrevivência falaram mais alto que a avareza. — Uma exceção prova que a generalização está errada? Riu, denegrindo-a. — Nesse caso fala de você? Sorriu para os olhos dele, imperturbável. — Certamente não tenho níveis tóxicos de nada, com graus negativos de avareza e fome de poder. — Digamos que uma mulher tenha se casado com um príncipe regente e então com o herdeiro de um império. Matado um deles e se divorciado do outro depois de fazê-lo perder a herança. Aquilo a fez perder o sorriso. — Hum... Ainda estamos na zona da irmandade dos homens detestáveis, não? — Estamos na zona dos fatos palpáveis. Maram levantou as sobrancelhas, desafiadora. — A morte do Tio Ziad e a perda da herança de Brad são fatos? É no planeta Paranoia, onde você vive sozinho? Ele pôs a mão sobre o ombro esquerdo, fazendo uma reverência de escárnio. — Você não tem nada a ver com isso. Ambos foram estúpidos o suficiente para se casarem com você e causaram suas próprias destruições. Um idoso doente mais velho que seu pai, tentando acompanhar o nível de uma noiva de ego sexualmente massacrante, e um bebê que destruiu o próprio futuro para impressionar uma sedutora centena de anos mais experiente. O queixo dela caiu. Então o recolheu. Para voltar a cair. Então, Maram irrompeu numa gargalhada. — Cara, você é bom. Pensa nessas coisas que fogem dos seus lábios, ou só abre a boca e elas criam vida? Ele inclinou a cabeça. — Obrigado por me poupar dos atos banais de indignação e de desvirtuamento da verdade. — Está tão longe da verdade que poderia viver em outra galáxia. Mas ainda assim é tão bom que seria um sucesso mundial escrevendo sátiras. Você me diverte demais, mesmo quando tenta me insultar. — Quer dizer que estou falhando? Devo estar perdendo meus poderes. Tem arsênico? Outra gargalhada explodiu nela. — Sua criptonita, não? Que nada. Sou atóxica. Mas insultos são insultos quando possuem uma verdade dolorosa. Os seus não possuem sequer um traço, são tão inverossímeis que se tornam puramente hilariantes. De súbito, ele deu um passo adiante. Maram quase caiu para trás de surpresa. — Sabe o que é hilariante? Você chamar seu falecido marido de tio. Era um fetiche dele? Prendeu a respiração e esperou que ele completasse a distância que restava 12


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entre os dois. Amjad não se moveu. — Era o meu tio, embora não fosse de sangue, como sabe. Acima de qualquer pessoa deveria saber que casamentos políticos não são o que parecem. — Eu não era o tio da minha esposa. Mas parece que você obteve sucesso enquanto ela falhou. Acabou com seu desafortunado marido sem problemas. — Se com sem problemas refere-se à morte dele depois de seis anos de casamento, então gostaria de ver como é o mundo do seu ponto de vista. Ele deu de ombros. — Aih, não foi o que quis dizer. Comecei meu casamento forte como um touro e em seis meses estava quase morto. Mas em sua defesa, casou-se muito jovem, quando ainda aprendia as regras do inevitável destino feminino. Porém, conseguiu compensar o tempo perdido. Aquele homem era impossível. Ou pensava que era. Maram tinha dois dias para pôr em prática seu plano de fazê-lo ceder. — E deveria ser um banana no começo do casamento, mas logo dominou os tropos do chauvinismo. Mas não se desespere. Sua condição, de acordo com os melhores especialistas, é incurável. Amjad respondeu ao sorriso dela com outro, que poderia corroer até metais. — Aih, foi o que ouvi. Tudo o que um homem precisa para voltar a ser um tolo é uma mulher que o aprisione em sua servidão amorosa pelo resto da vida. Ela gargalhou. — Você é delicioso demais. Tão que me deixa faminta. — Esperou até que uma carranca despontasse no rosto de Amjad, marcou um ponto para si no placar e virouse. — Tem alguma coisa para comer aqui? Ele ficou encarando uma sorridente Maram, tentando entender o que acabara de acontecer. Ela arrastou-o para esse confronto compulsivo, ricocheteando seus tiros — que pareciam apenas excitar... o apetite dela por mais — com um grande sorriso... O que ele estava pensando? Apenas uma coisa importava. Que ela viera no lugar de seu pai. Aquilo acabara com seus planos. Mas aquela era sua única oportunidade. Embora seus planos dependessem da presença do pai, ele precisaria improvisar. Suas entranhas se revolveram. Amjad jamais dera um passo sem estudar toda e qualquer consequência. A única vez que não fez isso quase lhe custou a vida. Agora o destino de Zohayd estava em jogo. Não tinha escolha. Se não podia ter o pai dela, sequestraria Maram.

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CAPÍTULO DOIS Como se sequestra alguém que deseja ser sequestrado? Resposta: facilmente. Ou pelo menos deveria ser. Não dava para prever como seria esse sequestro. Amjad estudou a ágil figura de Maram, a mente tentando adaptar o plano original. O pai dela dissera que viria mais cedo depois que ele deixara a entender que queria negociar os termos da liderança que tanto desejava. Quando Yusuf concordou em vir, teve a certeza de que não tinha ideia de que seus irmãos tinham descoberto seu papel como mentor do roubo e da falsificação das joias do Orgulho de Zohayd. Devido a uma fútil lei tribal, as joias eram necessárias para que os Aal Shalaans continuassem a governar Zohayd. A lei originara-se de lendas igualmente tolas, que diziam que o rei Ezzat — ancestral de Amjad e suposto sósia, ou como o público gostava de dizer, Amjad era a reencarnação de Ezzat — reunira as tribos sob seu poder e fundara Zohayd por meio do poder das joias. Essa estúpida ideia foi arraigando-se conforme o mundo à volta progredia. Aos zohaydianos não importava que os Aal Shalaans transformassem o país numa das nações mais prósperas do planeta. Importavam-se apenas com o fato de a família real ser uma ótima guardiã dos tesouros. O momento mais importante da vida do reino era o Dia da Exibição, quando representantes imbecis do público vinham se certificar da segurança das joias. As lendas diziam que tais joias, criadas por um demônio, não permaneceriam nas mãos de alguém que não merecesse mais o trono. Yusuf e seus comparsas se usavam dessa superstição, esperando até o Dia da Exibição para expor como falsas as joias sob os cuidados dos Aal Shalaans. Quando Yusuf mostrasse as verdadeiras, ninguém naquele rebanho desmiolado o acusaria de roubo — eles o saudariam como o novo rei que as joias escolheram. Idiotas. Todos. Incluindo a própria família. Ele sempre achou essa coisa toda de realeza um saco. Claro, fazia seu trabalho porque nunca fazia nada que não fosse com suas melhores habilidades, e o pai precisava cada vez mais dele depois do ataque cardíaco. Mas ser o primeiro na linha de sucessão ao trono era sinônimo de estar na frente do estouro de uma manada ou de um pelotão de fuzilamento. Não ganhara nada além de puxões de tapete na sala de reuniões e tentativas de assassinato entre quatro paredes, intercalados por conspirações para levá-lo à ruína ou acusá-lo de crimes que não era estúpido o suficiente para cometer. Sem mencionar o fascínio violador do público. Mas ele e os irmãos fizeram fortunas independentemente de seus status. Nenhum deles perderia nada além de quilos de encargos se acordassem amanhã não sendo mais da família real. E seria uma boa lição para o reino se, depois de tudo o que a família real fez, escolhessem criminosos para ocupar o lugar dos Aal Shalaans por causa de algumas bugigangas. 14


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Mas — e esse era um mas gigantesco — não era tão simples. Mesmo que o povo fosse estúpido o suficiente para se curvar à lenda, não encontrariam uma força externa que aceitasse facilmente tal encargo. Yusuf, um homem que governa um minúsculo emirado, não conseguiria controlar um reino do tamanho e da complexidade de Zohayd. Sucumbiria, e a verdadeira catástrofe iria começar. Assim, querendo ou não, as joias do Orgulho de Zohayd eram vitais, o que tornava sua missão inevitável. Precisava recuperá-las. Amjad pretendia usar Yusuf como moeda de troca. Mas ele enviara a filha em seu lugar. Yusuf não suspeitava de nada, ou não teria enviado a única filha, que ele chamava de coração fora do meu corpo. Mas Amjad sabia por que tinha feito isso. Ele sabia que Amjad era contra uma união entre Maram e Haidar. Devia achar que a filha poderia balançar Amjad se ficasse a sós com ele, facilitando a aquisição de Haidar. Maram era culpada também. E mesmo que não fosse, os filhos geralmente pagam pelos pecados dos pais. Fora o pai dela que conspirara contra sua família. — Então, onde está a comida? Voltou-se para ele, o rabo de cavalo balançando espirituosamente. Ele rangeu os dentes por conta da resposta odiosa que percorreu seu corpo e chegou aos lábios, formando um sorriso que refletia seus pensamentos perversos. — Algo finalmente derrotou sua bisbilhotice? O sorriso dela era de júbilo. Era invulnerável a ele, não era? Maram realmente se tornava cada vez mais forte. Se quisesse frustrá-la, deveria parar de tentar insultála. — Já que deve estar guardada em recipientes hermeticamente fechados, nem um cão de caça poderia encontrá-la. — Ela parou diante dele novamente, inundando os pulmões de Amjad com sua essência exclusiva, uma destilação de desejo e delicadeza, de frescor e feminilidade. Os olhos dela brilharam. — Contento-me com um café. Só mostre o caminho e arranjarei uma xícara. Vou trazer uma pra você também, se não for... muito desagradável. Era inútil. Era incapaz de frustrá-la. — Acho que nunca vai me trazer uma, então. Maram soltou uma daquelas risadas que reverberavam em seus nervos. Precisava de esforços extras para não gemer, para não tomá-la e beijá-la, fazendo-a parar de tentar iludi-lo. — Não, trarei uma. Garotos maus são apenas incompreendidos, e não devem ser deixados de lado. A alegria irradiava dela, algo próprio de seu humor. Era perigosa de uma forma que ninguém jamais fora. Ele pegou o celular e ligou para Ameen, murmurando para que trouxesse bebidas. — De qual lado da sua criação você bebe? Árabe ou americano? — De ambos, claro. 15


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— Por que escolher quando pode ter os dois, não? — Completou suas instruções, quase destruindo a tela do celular com o dedo ao desligá-lo. Em minutos seus homens colocaram uma mesa com queijos, pães, frutas frescas e bebidas quentes e frias. Planejara este encontro para que Yusuf e seus homens relaxassem, dando-lhe a chance de sequestrá-lo sem problemas. Maram correu para a mesa e voltou, trazendo a cafeteira e a jarra de café árabe e cardamomo. Ele apontou para a primeira. Ocupou-se preparando o café. Em minutos, ela lhe trouxe uma caneca. — Preto e amargo. Como... gosta. — Você se lembrou. Lançou-lhe um olhar afetuoso e zombeteiro, perguntandose como sabia. Só aceitava comida ou bebida de pessoas de sua confiança. Aih, era paranoico a tal ponto. Já comera na presença dela, mas ela não poderia ter observado esta preferência em particular. Maram respondeu à curiosidade mental dele. — Perguntei a Aliyah. Na verdade, fiz um extenso questionário sobre você. — E ela o preencheu. — Balançou a cabeça. — Sempre disse que ter uma família é como viver cercado de um bando de curiosos e tagarelas. Não ficaria surpreso se ela e Laylah postassem no Facebook e no Twitter piadinhas sobre minhas paranoias. — Garanto, elas não estão espalhando nada. Aliyah ficou encantada com meu interesse porque você despreza qualquer mulher que seja temerária a ponto de sequer admitir ter curiosidade por você. Também pensou que se ela conseguiu se aproximar de Kamal, então eu conseguiria me aproximar de você, que admite ser um caso ainda mais... complicado. — Não se aproximou de Kamal, encurralou o pobre coitado. Quase sinto pena dele. E com certeza merece o que conseguiu: Aliyah, minha meia-irmã. Mas que caprichoso da parte de vocês me incluírem na mesma espécie que a dele. Mesmo que eu esteja muito acima na escala evolucionária. Fez uma expressão consoladora e caricata. — Não se preocupe. Para mim, é o único da sua espécie. O contraste entre a beleza avassaladora dela e aquele olhar ridículo era tão engraçado que ele quase riu. — Que reconfortante. Espero que Aliyah não esteja distribuindo mais formulários para mulheres interessadas. Uma delas já utilizou as informações da minha espécie para sistematicamente me eliminar. — Aliyah me contou que passou a odiar a cor verde depois... Depois... — Depois que a cor ficou associada ao arsênico e à minha quase morte? Que nada, sempre odiei. Minha mãe costumava me vestir inteiramente de verde até meus seis anos, para combinar com os malditos olhos. Quando morreu, jurei jamais usar nada verde. Daí minha adorável ex-aspirante à assassina começou a me presentear com itens dessa cor, parecendo que morreria se não os aceitasse. Mal sabendo que era minha vida que estava em perigo, engoli a aversão, com o veneno. Depois de um momento de comoção, voltou a provocá-lo. — Bom saber que não engole mais sua aversão. 16


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Lançou-lhe um olhar mordaz, que ela já vira perturbar chefes de estado. — Aih, prefiro engolir meus adversários e cuspir para longe qualquer um que seja imprudente o suficiente para se aproximar de mim. — Oh, cuspa mesmo. — Suspirou como se ele sussurrasse algum elogio exagerado. — E por falar nisso... — Maram se virou, enchendo um prato com fatias de frutas. — No caso de estar se perguntando como consegui que Aliyah me passasse informações secretas, isso aconteceu há anos, quando morávamos nos Estados Unidos. Era inevitável que nos tornássemos melhores amigas, sendo ambas meio árabes, meio americanas, pertencentes a famílias reais de reinos vizinhos. — Seu país não é um reino. É um emirado minúsculo com manias de grandeza. — Meu pai teria um ataque se ouvisse sua amada Ossaylan ser descrita assim. Mas comparada aos reinos ao nosso redor, é mesmo. Amo o modo como fala essas verdades dolorosas. É tão revigorante depois de tantos protocolos e decoro sufocantes. — Fico feliz de agir como sua máscara de oxigênio. — Foi recompensando pela risada melodiosa dela. — Não a considera sua amada Ossaylan, considera? — Com minha vida dividida entre os Estados Unidos e Ossaylan, nunca atingi a fidelidade fervorosa de um nativo puro. Adoro muitas coisas daqui, mas detesto outras tantas também. É difícil saber o que sentir sobre o lugar onde você passou seus melhores e piores dias. — Esses últimos sendo seus dias de casada, claro. Ela suspirou, ainda sorrindo melancolicamente. — Se prometer não me interromper com versões alternativas nas quais sou um súcubo, contarei toda a história. — Não gosto de reprises. E já conheço a história toda. — Confie em mim, não sabe de nada. — Confiar? Isso exigiria mais forças do que te arremessar daqui. — Seria muito mais do que esperava porque, com músculos como os seus, aposto que consegue me jogar bem longe. Bebeu um gole grande de café, tentando acordar daquela estupidez. As sobrancelhas dele se ergueram ao sentir o sabor. Do jeito que gostava. Que só conseguia quando o preparava ele mesmo. — Gostou? A hesitação naquela pergunta o desconcertou ainda mais. Desde que abdicara de suas emoções, ninguém jamais chegara perto de enganá-lo. Mas mesmo sabendo tudo sobre ela, e elevando seus poderes de detecção de falsidade ao máximo, não conseguia captar nada. Como ela fazia aquilo? Nada disso importava. Precisava colocar seu plano em prática. Levantou a caneca. Embora odiasse fervorosamente não ter escolha, gostara da oferta dela. — Não me diga que Aliyah informou-a da medida exata para um café perfeito para mim. Uma vermelhidão espalhou-se pelo rosto esculpido dela. Seria de prazer por ter 17


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feito algo que o agradara? De jeito nenhum. Aquela mulher devia ter a habilidade de ficar corada quando precisasse, entre outras armas de sedução. — Está como gosto. Espero que tenhamos isso em comum também. — Quer dizer que antes da descoberta de nosso gosto idêntico por café já tínhamos algo em comum? Além de sermos bípedes? — É reconfortante saber que concorda com nossa semelhança bípede. O mundo insiste que sou octópode. — Isso não lhe daria quatro pernas a mais, ou o dobro de cada par de membros? — Começou a engasgar, colocou o prato sobre a mesa e virou-se, com a beleza iluminada pela malícia. — Sabia que se o fizesse continuar falando, iria acabar me divertindo. — Aih, uma risada por segundo. — Com certeza. — Que Deus não permita que seja tamanha fonte de entretenimento para você. Vou parar. Fez beicinho, tornando-se uma garotinha desapontada e uma sereia irresistível. — Não! Ainda estava me aquecendo! — É só ir lá fora para se aquecer o quanto quiser. — Aqui dentro, com você, está ótimo. Não dá para ser melhor do que a combinação do ar-condicionado e do debate acalorado. — Já que mencionou tal combinação, vou deixar que esfrie a cabeça, e enviarei um dos meus homens para continuar o debate. Pode aquecer os ouvidos dele enquanto verifico os lugares dos espectadores e as tendas de comida. Ele se virou, contando regressivamente... três... dois... um... — Espere aqui. — Ela abriu rapidamente a bolsa, retirou um bloqueador solar com fator de proteção 50 e aplicou no rosto, pescoço e mãos, e então sorriu triunfante para ele. — Agora minha pessoa dermatologicamente deficiente pode aguentar mais dez rounds com vossa alteza hereditariamente impermeável. Ele suspirou. — Sob uma condição. — Qualquer coisa! — não hesitou. Sob aquele olhar de confiança total, uma sensação pesada espalhou-se pelas entranhas de Amjad. O quê, agora acreditava no que via nela? A confiança não era um fator naquela situação, na reação dela. Deveria achar que sair com ele seria a oportunidade segura e perfeita para saber mais sobre sua vida. Mas... houve aquele incidente em que se arriscara a ajudá-lo, para estar lá pelos outros. Um exemplo que contradizia todo o entendimento que tinha a seu respeito e provava que Maram não era covarde, que era capaz de uma coragem espantosa. Por outro lado, aquilo não significava que não fosse uma devoradora de homens. O que a tornava uma pessoa ainda mais perigosa e difícil de categorizar, prever e desprezar. 18


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— Qualquer coisa? E se considera uma conselheira política e financeira fenomenal. Quando seu pai parou de tomar as decisões financeiras e de estado estúpidas pelas quais era conhecido e começou a fazer escolhas muito acima de seu QI minúsculo, achei que estava por trás dele. Agora vou ter que rever minha crença se, também, começar a dar carta branca a condições que desconhece. — Qualquer coisa por você, — completou, indiferente à aprovação de Amjad, como só uma pessoa segura de suas habilidades faria. — Sei que não vai tornar a situação ruim. — E sabe disso porque sou o Ghandi da região? Está sofrendo de insolação? Seu julgamento está evidentemente prejudicado. Maram fez um gesto de pressa com aquelas mãos bem cuidadas. — Diga logo sua condição, e vamos andando. Ele suspirou novamente. — Sem reclamações. Se ouvir alguma, volta para cá. Ela tremulou aqueles cílios densos, saudando-o, divertida. — Sim, senhor. Ele quase gemeu. Ela estava facilitando demais seu próprio sequestro. Qualquer coisa que começasse assim iria, com certeza, acabar em catástrofe. O que aquilo significava? Sua única escolha era descobrir. Encarou-a com um suspiro e assentiu. Comprometendo-se com seu destino. Só esperava que quando a catástrofe acontecesse, pelo menos já tivesse cumprido sua missão. Encarou os olhos que Amjad amaldiçoara antes. E maldição definia-os com perfeição. Sempre tivera uma boa vida. Mas foi só quando fitou aqueles olhos que ela sentiu cada fagulha de seu ser, cada gota de seu potencial. Achou que ele cavalgava um garanhão negro. Ou branco. Ficou maravilhada ao descobrir que a favorita era uma gloriosa égua de tom castanho-claro. Dahabeyah, literalmente dourada, seria sua irmã gêmea se ela fosse uma égua. Montou-a como demonstração de seu poder e de sua graça, e tudo em que conseguia pensar era nele, cavalgando-a... Já estava em combustão antes mesmo de Amjad ajudá-la a subir na garupa. Recusara-se a cavalgar sozinha, pois não era uma cavaleira tão segura a ponto de se arriscar neste terreno. Seus olhos disseram que queria estar o mais próximo possível dele. Não negou a acusação. A verdade era uma mistura das versões de ambos. Subiram trotando por vinte minutos. A cada segundo ficava mais consciente da rocha viva e quente que ela envolvia, do poderoso coração que batia sob seu ouvido, da essência que induzia uma onda hormonal a cada inalação. Quando chegaram, achou que havia derretido sobre Amjad, e que jamais poderia separar-se dele. Desceu do cavalo, imaginando se ele a ajudaria a descer — mas já lhe fizera 19


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muitas concessões. Não iria bancar o cavaleiro galante. Enquanto descia, Maram viu seus olhos se inundarem de uma escuridão que jamais havia visto. Antes que pudesse sondá-los ele se virou e foi na beirada da gigantesca duna com vista para a área inteira. Maram seguiu-o com as pernas trêmulas. A visão a maravilhou, uma paisagem moldada pelos elementos do inexorável tempo, pulverizando montanhas em oceanos de poeira dourada. — Uau. Não vi nada além do deserto desde que vim para a região. Mas esta visão supera todas as outras. Como descobriu este lugar? — Chama-se exploração. — Que conceito novelesco! Pode me levar da próxima vez que for explorar novos territórios? Encarou-a, depois olhou para o espaço de 24 centímetros que os separava, e seus lábios se crisparam. — Não gosto de tours. O que está vendo hoje é para príncipes impressionáveis. Quando saio por aí sozinho, não gosto de levar muitas coisas comigo. — Está falando com a garota que passou seus primeiros doze anos acampando em temperaturas abaixo de zero, que conseguia a própria comida e lavava a muda de roupa em riachos congelantes. Vivi apenas com uma mochila por meses quando voltei aos Estados Unidos. Outro ar enigmático surgiu nos olhos dele antes de Amjad dar de ombros. — Vamos ver como se sai nesta miniexcursão antes de falarmos em caminhadas grandes. O coração dela saltou. Não a provocava. No momento seguinte, o coração dela se acalmou, vacilando conforme um som que jamais ouvira... Nunca sentira algo assim antes. Ela se voltou e... seu coração disparou. No horizonte, uma... uma... montanha vinha na direção deles. Aquilo parecia uma explosão nuclear. Uma gigantesca onda de terra pulverizada. Pela velocidade com que se aproximava, os alcançaria e enterraria em minutos.

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CAPÍTULO TRÊS — Tempestade de areia! Maram virou-se para Amjad, o coração tentando sair pela garganta. Encontrou-o encarando o horizonte, tranquilo. Tranquilo? Deveria estar em choque! Puxou-o até Dahabeyah, onde ele começou a tirar o que trouxera nos alforjes. — O que está fazendo? — perguntou. — Temos que voltar! Ele balançou a cabeça, retirando roupas dobradas e óculos protetores. — Não. Seríamos apenas atingidos pela tempestade. Se por algum milagre não formos, qualquer coisa naquela planície, ou seja, nossos carros, será enterrada em minutos, a julgar pelo tamanho e pela intensidade daquela haboob. Os outros não esperarão por nós. Maram olhou ao redor, em pânico. Ao longe, todos engatavam os trailers dos cavalos, entrando em seus carros e fugindo dali. Estavam partindo. — Mas... não podem fugir! — Eles precisam. — Amjad fez uma espécie de capuz protetor, colocando-o no focinho e nos olhos da nervosa Dahabeyah antes de prendê-lo ao pescoço do animal, que surpreendentemente o aceitou. Depois, colou uma proteção semelhante no corpo da égua. — Se nos alcançassem, provavelmente não teriam nenhuma visibilidade, e acabariam se perdendo e sendo enterrados depois que o combustível acabasse. Precisam voltar e torcer para que o combustível dure até saírem da tempestade. — Mas é o príncipe regente! Não podem te deixar para trás! — Vir atrás de mim seria a morte certa para eles. — Não vir atrás de você será a sua morte certa! A nossa! — Não. Sabem que consigo me virar. — Como vai se virar contra... — Uma onda de histeria se expandiu sob o diafragma de Maram conforme agitava os braços abertos na direção da nuvem que agora consumia todo o horizonte. — ...aquilo! — Oh, aquilo. — Ele lhe entregou um par de óculos protetores. — Já passei por isso. Estou até considerando como alternativa para não ficar preso por dois dias com aqueles nobres maçantes. — Ok, quem está sofrendo de insolação agora? Está louco? Esta é a mãe de todas as tempestades! Montou em Dahabeyah, e sorriu para a destruição. — Aih, a coisa está feia mesmo, não? — Amjad! Começara a enrolar o rosto e a cabeça com tiras de pano. Ele terminou em instantes, deixando apenas os olhos expostos. Então estendeu a mão para ela. — Maram. — Ela cambaleou. Jamais dissera o nome dela. E nunca soara tão... 21


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tenro. — Confia em mim? Os olhos dela se agitaram, vendo-o como nascera para ser: um cavaleiro do deserto forte contra as intempéries, calmo na sua habilidade de lhes oferecer resistência depois de tantas batalhas. Olhou por sobre o ombro, fraquejando. A nuvem parecia o fim para ambos. Mas se confiava em alguém para sobreviver a este ataque da natureza, esse alguém era ele. Confiava nele. Com a vida que já salvara antes. — Sabe que confio. Os olhos dele se estreitaram. — Então confie em mim: não vou deixar nada acontecer com você. Ela concordou, aceitando sua promessa como um fato, e estendeu a mão. No instante em que o calor e o poder daquela mão bruta envolveram a sua mão trêmula sentiu que estava selando seu destino. Mas já fora selado no instante em que colocara os olhos nele. Durante aquela ameaça de bomba. Com sua ajuda, ela montou na frente dele. Em sucessões cegas, removeu o chapéu de Maram e enrolou seu rosto e cabeça, colocando os óculos protetores. Antes que ela os ajustasse, virou-a para si. — Vou protegê-la com minha abaya, então não se preocupe em se segurar. — A voz chegou aos ouvidos dela atravessando o vendaval, de forma séria e vigorosa. Ela estremeceu e concordou. — Vamos descer a duna, isso nos dará tempo até haboob atingi-la. Mas ela nos encontrará. Quero que esteja preparada para a força do vento e da areia que nos acertará. É muito barulho para pouco estrago. Sou a prova de que dá para sobreviver sem grandes efeitos colaterais. Tenho um abrigo aqui perto. Iremos para lá e esperaremos que a tempestade passe. Concordou novamente, percebendo que o relógio dele tinha um GPS. Amjad o consultou antes de cutucar Dahabeyah. Sem hesitação, a égua começou a descer a encosta íngreme. Maram sentiu o coração saltar a cada passo. Se os braços e coxas dele não a atassem, já teria caído. Quando chegaram à terra plana, ele atiçou novamente o animal, que irrompeu num galope. Então a tempestade de areia os alcançou. Ouviu um urro, como se um mostro abrisse a mandíbula para engoli-los. E então a tempestade os atingiu com a força de um trem, engolfando-os conforme o urro transformava-se em um lamento dilacerante. O deserto desapareceu num sólido limbo de poeira amarela. Em certo momento achou ter ouvido a voz de Amjad soando... divertida? A estridência da tempestade devia ter danificado os tímpanos dela. Então decifrou as palavras dele: — Uma coisa boa das haboobs é que não precisa de seu protetor solar fator 50. Agarrou-o, a tensão atenuando-se gradativamente. Mesmo que parecesse o fim do mundo, aquilo não poderia ser tão sério, poderia? Ele não poderia ser tão indiferente diante da morte, poderia? 22


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Aparentemente, sim. Galopar infinitamente, aguentar o bombardeio pungente da areia e do vento, o fôlego sufocado, o ar seco sob os panos e intercalar tudo com comentários cáusticos nos ouvidos dela, acima de tudo que sua mente terrivelmente perturbada pudesse pensar. Os alvos favoritos em ordem descendente eram o pai dela, Ossaylan, Zohayd, a região, mulheres, homens, política, negócios e quase tudo que fazia o mundo girar. O problema era que ela não sabia ser indiferente. Conseguia apenas se segurar, recusando-se a ser um peso morto. Prendia-se com mais força cada vez que ele consultava o GPS luminoso e avançava com toda a segurança, acreditando que o destino final se aproximava. Mas o destino de ambos parecia estar se afastando. Ela aguentou a primeira quarta parte da corrida relativamente bem. A próxima começou a ficar penosa. A parte final foi quase insuportável. E não fazia ideia de quantos quilômetros a mais levariam para chegar ao abrigo aqui por perto. Não podia simplesmente desmaiar? Ele estava indo bem, cavalgando e segurandoa sozinho. Dissera-lhe para cochilar, como se estivessem numa jornada longa e tranquila em umas de suas limusines. Poderia estar certo. Ela poderia deixar tudo desaparecer... Maram acordou com um sobressalto. O vazio amarelo recebeu seus olhos sonolentos. Então tudo surgiu. Não fora um pesadelo. Estava numa tempestade de areia com Amjad. Ele avançava por entre a brutalidade da ventania, carregando-a como uma boneca de pano leve conforme dava passos quase invisíveis em direção ao pátio cheio de colunas do que parecia ser uma pequena construção. Mas poderia ser também a parte visível de um castelo. Não que importasse. Eles conseguiram. Ele conseguira. Como prometera. Em segundos bateu a porta de trinta centímetros de espessura atrás de si, isolando-os na segurança e no relativo silêncio daquele interior escuro e abençoadamente fresco. Segurou-a com um braço enquanto retirava os óculos, deixando uma marca em sua pele. Logo retirou os panos do rosto dela, a visão dos olhos de Amjad fazendoa reviver. Embora estivessem inflamados, emanavam um brilho verde, cheios de ansiedade e... culpa? Porque culpa, quando a salvara? Talvez se culpasse por não ter antecipado a tempestade e tê-la exposto a todo esse tormento. Ou talvez, sua imbecil, como caiu feito uma trouxa de roupas sujas nos braços dele, Amjad esteja pensando que você está morrendo. Apreciou aquela expressão espontânea — e com certeza única — por mais um instante antes de dar vida novamente aos músculos. Agitou-se, e lutou para tirar os próprios óculos, acreditando que arrancaria a pele junto. Também deixaram uma marca 23


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em seu rosto. Murmurou com os olhos irritados pela tempestade. Sua visão turvou-se e se ajustou. Viu sua expressão voltar a ter aquele ar de indiferença que usava como proteção impenetrável. Então o canto daqueles lábios sem cor se curvou no sorriso mundialmente famoso. — Bem-vinda ao meu covil. O olhar pungente dela demorou-se no de Amjad antes que ele olhasse para frente e caminhasse por um corredor que parecia levá-los às profundezas do santuário arcano de um mago. O que ele era. Sempre praticara magia. Pelo menos com Maram. Entraram num espaçoso hall retangular de paredes de argila e piso de pedra repleto de kilims de cores escuras, tecidos à mão. A mesma combinação de cores estava presente em almofadas de todos os tamanhos, que cobriam um longo canapé contra a parede, com uma grande mesa de carvalho à sua frente. Flanqueando o corredor, o hall desembocava em duas outras áreas. Uma tinha uma lareira de outra mistura de rochas e pedras, almofadões no chão e uma tableyah, mesa circular de trinta centímetros de altura, de madeira, que parecia feita à mão, com o anacronismo de um fino laptop prateado sobre ela, fazendo-a parecer ainda mais primitiva. A outra área era uma grande cozinha completa. Do hall Maram via outro corredor estendendo-se para o que achava serem dois quartos. Se é que se podia chamá-los assim quando não tinham portas, apenas paredes separando-os e formando o corredor. Quatro janelas grandes e arqueadas ladeavam as áreas abertas, com a iluminação difusa da tempestade de areia perpassando as persianas. Zuniam nos caixilhos ao serem bombardeadas. Sua vedação não permitia que nada penetrasse suas defesas, do contrário o local estaria até os joelhos de areia. Tudo parecia impecável. Sentia-se como se estivesse no cenário dos contos d’As mil e uma noites. Ela não conseguia imaginar outro esconderijo para Amjad senão aquele. O local era rústico como sua aura, o impacto bruto de seu poder... As divagações chegaram ao fim quando a pôs no chão, para seu desalento. Cambaleou, olhando naqueles olhos verdes e dourados devido à luminosidade sobrenatural, e tremeu pela necessidade de se aninhar em Amjad novamente. Não que ele tivesse deixado Maram se aninhar nele. Carregaria qualquer pessoa do mesmo jeito. Ela lutou para se afastar por conta própria, contorcendo os lábios. — Seu covil é de outra era. Não me contou que viajar no tempo é uma de suas infindáveis qualidades. Seu olhar indolente varreu o local e recaiu nela. — Este lugar só parece ser primitivo. Possui todas as comodidades modernas, não se preocupe. — Não é primitivo. Ele é... autêntico. — Autêntico é um eufemismo para antiquado. — Acha que usaria um artifício como esse para expressar uma opinião 24


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desfavorável? — Pensando bem, não. Provavelmente esfregaria tal opinião na minha cara. — Não como você faria. Mas este lugar é encantador. E não só por ser um alívio para meus olhos depois da vastidão em que fomos engolidos por uma eternidade. — Agora sabemos como é a eternidade. As quatro horas que levamos para chegar até aqui. Ele gemeu, relembrando a jornada sem fim. — Pareceram quatro séculos. Amjad removeu a abaya e a jogou na almofada mais próxima. O suor fez a camisa grudar em seu maravilhoso torso, uma prova de seus esforços. O vento escaldante evaporara cada gota do suor dela, e então enfiara os tentáculos no seu corpo para retirar o que lhe restava de umidade. O que era bom, senão estaria babando agora. Ele foi à cozinha, ligando interruptores. Ouviu-se um zunido, ligou um gerador, e depois uma bomba. Abriu uma torneira. A água escorreu depois de alguns segundos. As entranhas ressequidas dela se contorceram ao ver aquilo. Maram pegou o copo que enchera para ela. — A água do poço foi testada... — Fez uma pausa enquanto ela bebia de um só gole. — ...e passa por filtros e purificadores. — Ele encheu seu próprio copo. — E só para constar, este lugar está a cerca de sessenta quilômetros de onde estávamos. Teríamos chegado em menos tempo se as condições fossem melhores, mas do jeito que estava até que fizemos com rapidez. Então, desculpe se não segui o cronograma de vossa rabugice real. Ela sentiu que seus lábios se quebrariam caso sorrisse. Bebeu o terceiro copo d’água, e então deu-lhe um sorriso. — Não estava reclamando, vossa chatice real. — Por que não? Não poderia te mandar embora, de qualquer forma. — Não. — Ela riu e sentiu sua garganta funcionar, imaginando como seria estar sob aqueles lábios, e se a pele dele teria um sabor tão inebriante quanto o cheiro. Suspirou, sabendo que demoraria a descobrir. — Mas teria gostado se, entre seus prolíficos comentários sobre a condição humana, tivesse me dito o quanto ainda faltava para chegarmos. Não saber tornou tudo muito mais difícil e interminável. — E o que teria feito se tivesse estimado quatro horas, e demorasse cinco ou seis? Ficaria louca pensando que estávamos perdidos. — Não se você tivesse dito que não estávamos. — E teria acreditado em mim. — Certamente. Aquilo parecia ter conseguido o impossível — deixá-lo sem resposta. As espetaculares sobrancelhas baixaram como se ele, também, não pudesse crer. Como se não pudesse crer que acreditaria na palavra dele. Maram não só confiava, como também acreditava. Ela decidiu lhe dar o sarcasmo que tanto apreciava. — Mas se queria que eu ficasse ansiosa, então suas intenções foram boas. — E todos nós sabemos onde isso vai terminar. — Olhou ao redor, zombeteiro. — 25


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Embora lá não fosse muito pior do que aqui. — Pare de insultar este lugar maravilhoso. Se não quiser mais este covil, vou comprá-lo. Diga-me o preço. — Mal consegue ficar de pé, e não vou te carregar novamente se desmaiar. Faça isso lá dentro, enquanto resolvo algumas coisas. Fique à vontade na ducha. — E ainda tem coragem de maldizer este lugar. Ficaria maravilhada com um mero chuveiro rudimentar. Uma ducha é o nirvana. — Não é nada com o que está acostumada... — Ela abriu a boca para lembrá-lo que nem sempre fora filha de um príncipe. Mas ele continuou. — E não espere nada chique para comer. Os mantimentos são todos secos, desidratados e enlatados. — E tem comida, também? Um verdadeiro hotel cinco estrelas. — Vá. — Por que tenho a sensação de que você quer se livrar de mim? — Amjard murmurou algo perigoso. Ela ergueu as mãos, provocando-o. — Ok, eu vou, mas só porque isso que está oferecendo é irresistível. Descanso, limpeza, algo comestível... — e estar a sós com você, concluiu ela mentalmente — ...é o paraíso. Com um último olhar endiabrado, seguiu-o para onde o dedo dele apontava. Maram se deparou com um banheiro futurista revestido de mármore negro reluzente, com banheira de ônix branca e um toalete, pia de vidro temperado, cubículo para ducha e detalhes de metal polido. Uma preocupação detonou suas fantasias. Ela correu de volta. — Onde está Dahabeyah? Amjad estava onde o deixara, observando o teto. A indiferença mascarou o que vira em seu rosto. Mas ela vira. Um vazio terrível. Ele deu de ombros. — No estábulo, com água e comida. Vou lavá-la e tratar de algum ferimento que possa ter. Dito isso, voltou a se isolar. Ela voltou lentamente para o banheiro, com os nervos intrigados. O que poderia ser responsável por aquela expressão? Maram acabara de sair da ducha e estava se enxugando quando um aroma a atingiu. Ambrosia, pelo jeito. Agarrou as roupas, e o cheiro de medo e cansaço que emanou delas a fez gemer de nojo. Estava abraçada a ele cheirando assim. Espiou do outro lado da parede. Viu-o de costas para ela, na cozinha. Correu pelo corredor. Maram abriu o closet, e pegou uma camisa que ia até os joelhos. Não encontrou nenhuma roupa íntima e vestiu a própria, lavada e ainda molhada. Caminhou por sobre a maravilhosa textura morna do chão de pedra, quase zonza de fome com o cheiro que se intensificava. Seu retorno foi recompensado com um olhar de desinteresse. Ela sorriu. Já sacava Amjad. Por baixo daquela fachada entediada observava tudo como um gavião, ávido. E estava tudo, menos desinteressado por ela. Poderia provar isso. 26


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— Mudei de ideia. — Esticou o pescoço para cheirar melhor a delícia que ele preparava. — Este lugar é um hotel de cem estrelas. Tem seu próprio príncipe chefe de cozinha. — Não me promova tão rapidamente a chefe de cozinha. Ainda não provou esta coisa. — Nada que cheire tão bem pode ter um gosto ruim. O que é? — Quer dizer que nunca viu lentilhas antes? Sua dieta consiste em iguarias carnívoras e homens? Não pararia de provocá-la pelo suposto apetite por homens, não é? Ele iria ver só. — Pois saiba que sou vegetariana. — Serviu porções generosas nas tigelas que Amjad dispusera. — E lentilhas são um dos meus pratos favoritos. Estou perguntando sobre os temperos que dão este aroma tão divino. — Pede para que eu revele meus segredos? Tsc... Se quer saber, é uma poção protetora. Para portadores dos cromossomos XY. Ela riu. — Protegendo-o, grande e poderoso, dos meus cromossomos XX, agora que estamos isolados no meio do deserto? Maram riu novamente, antes de uma sensação pesada invadi-la. Ela é quem deveria temer por sua segurança, ou pelo menos se sentir desconfortável. Mas com Amjad sentia-se totalmente segura e à vontade. Soprou a colher fumegante, e lambeu a superfície. Murmurou conforme aquele sabor complexo atingia suas papilas. — É noz-moscada, cebolinha, alho, raspas de limão e sumagre. E vai me desculpar, mas não revelarei as quantidades. — E do que vai me adiantar não saber as medidas? Acenou zombeteiro com a cabeça, e começou a comer. Já comparecera a banquetes que ele organizara no passado. Esquecia-se de comer enquanto se perdia no prazer de assisti-lo. Suspeitava que se usava da própria refeição para desencorajar que interagissem com ele. Maram não podia deixar que isso tirasse sua coragem agora. — Obrigada. Sentiu que seu sussurro o atingira como uma corrente elétrica. Ele fez um movimento brusco e levou a tigela à pia, jogando-a por cima do ombro. — Não há de quê. — Só por salvar minha vida, nada demais. — Foi consequência de salvar a minha própria. — Outra pessoa poderia pensar que me levar junto diminuiria as chances de salvar a si mesmo. — Sou o príncipe louco, e não o covarde. — Sabemos que faria qualquer coisa para salvar a vida de alguém, arriscando a própria. Fez isso durante a suspeita de bomba. É o príncipe herói, também, embora prefira morrer a ser chamado assim. Os olhos dele se incendiaram. Jamais lhe dera a chance de citar o atentado 27


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antes. Ela sabia o motivo. Não porque seu lado da história destruiria a reputação que ele trabalhara tanto para cultivar. O incidente era amplamente conhecido, mas as pessoas ainda rejeitavam as evidências de seu heroísmo e preferiam acreditar no que queriam — que ele jamais levantaria um dedo para salvar alguém se afogando a seus pés. Finalmente sorriu. — Cuidado com esses eufemismos. Ainda vai se machucar. — Oh, aceite logo meus agradecimentos, Amjad. Prometo, não vai se machucar. — Se acabar com essas interpretações fantasiosas de minhas ações e meu caráter. — Curvou-se, irônico. — Fico honrado com sua gratidão e opinião, princesa Má. Farei de tudo para provar que não sou digno dela. Enquanto ela ria, virou-se e começou a preparar o café, completando: — Agora que a parte interessante da nossa fuga terminou, começamos a parte chata de estarmos salvos e entediados até a morte. — Confie em mim — disse. — Conosco aqui, o tédio é literalmente impossível. — Mas posso ser grosseiro, e isso me dá esperança. Ela riu novamente. Amjad não cedia nem um centímetro. E tudo valeria mais a pena quando se entregasse a ela. Um minuto depois, disse: — Liguei para o seu pai. Maram sequer se lembrara do pai, quanto mais de ligar para ele. — Oh, obrigada. Deve estar morto de preocupação. — Não. — Pôs a caneca na frente dela, sem encará-la. — Nem sabia ainda da tempestade de areia. Amjad levou a caneca até o laptop. Antes de se sentar no chão e ignorar a presença dela, completou: — Disse a ele que estamos a salvo até a tempestade diminuir. Ela não tinha nenhuma pressa. Desejara algumas horas com ele há dois dias. Agora que ficaria isolada do mundo até a tempestade acabar, que demorasse o tempo que fosse necessário. Usaria cada minuto para eliminar a resistência e o distanciamento enlouquecedor de Amjad. E como usaria.

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CAPÍTULO QUATRO Como ele conseguiria? Era o que imaginava novamente enquanto observava Maram arrumando a cozinha, cantarolando melodias com a voz aveludada. Como sobreviveria com ela permeando cada respiração sua, sobrepujando seus sentidos e eliminando o bom senso até que conseguisse pôr seu plano em prática? Sua intenção original era manter o pai dela aqui até que quisesse negociar. Amjad estimara que uma noite com ele no deserto, com a ajuda da tempestade de areia lá fora, faria-o ceder. Yusuf Aal Waaked não era um homem forte, física ou mentalmente. Não tinha dúvidas de que concordaria. Aquela conclusão convenceu-o de que Yusuf não era o mentor da conspiração. Pressentia uma mente mais complexa e cruel por trás disso. Provavelmente o informante que atraíra Talia Burke até Zohayd. Tal informante denunciara Yusuf a Talia, a sedutora futura esposa de seu irmão Harres, provavelmente porque ele duvidava que Yusuf fosse em frente com os planos. O informante esperava que Talia corresse à imprensa com a identidade de Yusuf e que a notícia do roubo das joias prejudicasse os Aal Shalaans, que acreditava estarem envolvidos na prisão do irmão dela. Uma vez exposto, Yusuf seria forçado a ceder a todos os desejos do informante — o que não incluía esperar até o Dia da Exibição. Mas frustraram o informante. Talia revelara a identidade de Yusuf para Harres. Agora tinha Maram, embora preferisse desbravar a tempestade de areia nu e a pé do que ficar exposto a ela prolongadamente. Seu novo plano era ligar para o pai dela daqui alguns dias, quando ele estivesse desesperado por notícias, e apresentar seus termos. Assim que Harres e Shaheen confirmassem o retorno das joias, iria à cidade mais próxima com Maram e a enviaria de helicóptero para seu pai. Jamais saberia que havia sido uma refém. Aconselharia Yusuf para seu próprio bem que nunca a deixasse suspeitar de nada. Na teoria, manteria sua palavra. Nada lhe faria mal. E agora que acreditava que seu pai sabia que estava segura, que aquilo era uma aventura, apreciava imensamente a situação. Mas ele não. Aquela haboob duraria dias. E se o pai dela não cedesse teria que mantê-la aqui, sem saber do que realmente acontecia, até que ele cedesse. Haviam se passado apenas seis malditas horas. Duas, se não contasse as quatro horas que ela dormira. Adotara enfim a ideia dela de eternidade. Parecia que estavam ali desde sempre. E isso foi antes dela acordar. Toda despenteada e descansada, as vibrações que emanava mesmo dormindo o inundavam, fazendo-o esquecer do tumulto lá fora. Pelo menos agora estava totalmente vestida. 29


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Ocupou-se dos afazeres do lugar, trocando luminárias, abastecendo e acendendo lâmpadas a gás, fazendo o inventário da despensa. Mas ela estava em cada centímetro quadrado de ar daquela cabana isolada e lacrada que construíra com tanta solidão em mente. Amjad sentia-se como se fosse o refém. Acabara de desistir de trabalhar no computador, e fora deitar-se no canapé. Não conseguia se concentrar com ela cantando aquela mistura de canções sentimentais e fazendo perguntas sobre comidas e temperos que não reconhecia mesmo com as etiquetas, e sobre as preferências dele para o jantar. Teria preparado sozinho, mas sabia que ela ajudaria. Finalmente decidiu preparar um ensopado de ervilhas pretas, húmus tahine e salada de frutas secas. Usou e abusou dos temperos e quando a refeição estava pronta os aromas transformavam sua fome em voracidade. Ela trouxe pratos e talheres e a lamparina bruxuleante lançou sua beleza pelo prisma da iluminação ardente. — Sabe, somos um par e tanto. As pessoas vão me chamar de Shagaret Ad’Durr, enquanto você ficará conhecido como Shahrayar. Shagaret Ad’Durr, literalmente árvore de pérolas, era uma figura histórica que governara a região após a morte do marido. Depois de ser pressionada para escolher um marido que governasse ao seu lado, descobriu que ele tinha uma primeira esposa, e o matou. Acabou sendo assassinada pela tal esposa anterior e por suas escravas, espancada até a morte por seus tamancos de madeira. Maram serviu a comida e então sentou-se numa pilha de almofadas do outro lado, diante dele. Ele mergulhou o pão tostado pelo sol no tahine. — Semelhanças muito convenientes. Acontece que eu nunca matei ninguém. Não se deixou levar pelo comentário dele sobre suas atividades letais; apenas sorriu e mergulhou o pão. — Não pensei na precisão histórica, apenas na conotação caluniosa geral. Com certeza não governei sozinha depois da morte de tio Ziad, muito menos matei meu próximo marido, e não há primeiras esposas à espera, querendo acabar comigo. — Você percebe como é... Não é esquisito ouvi-la chamar seu falecido marido de tio? Maram mastigou a comida por um instante, e então se recostou, lançando seu olhar dourado para ele, sério pela primeira vez. — Ok, então sabe minha história toda. Conte. — Talvez deva esperar você digerir a comida. — Fez um gesto imperativo. Amjad levantou as sobrancelhas com uma ameaçadora indiferença e continuou a comer, falando lentamente entre mordidas e colheradas. — Você e seu pai conseguiram que o príncipe regente de seu emirado, viúvo, deprimido e frágil, se casasse com você. A união fez seu pai passar à frente dos dois primeiros homens na linha de sucessão, tornando-o o príncipe regente após a morte de Ziad. Fim. — É só isso que sabe? Rumores? Tenho que admitir, têm o toque de realidade 30


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necessário para serem levados a sério. Continuou comendo por um tempo, aparentemente absorta em pensamentos desagradáveis. Então levantou os olhos novamente, e as sombras ali lançaram tentáculos sobre ele, relembrando-o de coisas que há tempos ele esquecera. Vergonha? Simpatia? Ela suspirou. — Então, quer saber sobre mim? Minha vida antes de vir a Ossaylan? Os sentimentos opressivos tornaram suas provocações ainda mais frias. — Foi criada nos Estados Unidos por sua mãe solteira até os doze anos, até que ela arranjou o terceiro marido e enviou-a para seu pai biológico, o príncipe Ass-ef. Seis anos depois, arranjou-lhe o casamento com seu tio. Mais seis anos depois, o tio Ziad bateu as botas e seu pai tornou-se o príncipe regente através de maquinações. Foi aos Estados Unidos de luto, e encontrou um garanhão endinheirado mal saído das fraldas. Depois de um caso amplamente divulgado de uma semana inteira, casou-se, a despeito da má vontade da família dele. Em três meses, tentando livrá-lo de suas garras, a família o deserdou. O que funcionou, pois você se divorciou dele quase no dia seguinte. Depois de alguns anos, nos quais iniciou um próspero negócio vendendo juízo a políticos e homens de negócios desajuizados, voltou à região para se tornar o cérebro que faltava a seu pai. Um turbilhão de reações atravessou o rosto de Maram enquanto ele falava. A melancolia foi substituída pela perplexidade antes de o divertimento espantar todo o resto. — Puxa, você me faz parecer tão... interessante. O sorriso de resposta dele foi demolidor. — E você é. Tão interessante quanto uma doença fatal. Maram gargalhou. Realmente era imune a insultos. — E me faz parecer tão... poderosa. Tão perigosa. Quase desejo que estivesse certo. Mas não chego nem perto de ser letal. — Claro. Disse a tigresa antes de devorar sua próxima vítima. O sorriso dela era feito de tolerância e indulgência. — Quer ouvir a história real? — Quer dizer a sua versão? — Já que é a minha história, minha versão deveria ser sancionada. — Se tiver algo a ver com os acontecimentos reais, talvez. — Que tal me interromper se achar que estou substituindo os fatos pela ficção? — Está pronta para ser constantemente interrompida? Maram sorriu confiante e se ergueu para pegar a sobremesa. Como ele gostava. — Nos meus doze primeiros anos, minha mãe mudava sempre de emprego, de cidade em cidade, sempre no norte, por algum motivo, e de um homem para outro. Acabava ficando noiva entre os divórcios. Tinha a impressão de que estava sempre procurando pelo amor da vida dela, que a sustentaria e faria da sua vida uma eterna aventura romântica. — Primeira substituição ficcional — disse. — Um príncipe do deserto teria lhe 31


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oferecido tudo o que procurava, e ela não o fisgou. Ou talvez porque não conseguira dar o bote nele, mesmo depois de engravidar. Se for isso, então Ass-ef tem mais juízo do que o príncipe-sapo que sempre acreditei que fosse. Lançou-lhe um olhar de repreensão, fazendo-o querer retirar tudo o que disse. — Primeiro, meu pai não é tão incapaz como imagina. E segundo, um príncipe do deserto não oferece o que minha mãe procurava. Estou qualificada para julgar. Não há nada de romântico em ser forçada a viver pelas sufocantes leis tribais, com os seus desejos e os de seu marido sendo ignorados diante dos mínimos detalhes de imposições sobre o que vestir, com quem se socializar, a que eventos comparecer, e de grandes decisões como quantos filhos ter e como criá-los. — Minha mãe buscava por romance e segurança, com a liberdade de viver a vida diária como desejasse para tomar suas decisões e não ficar aprisionada a um só lugar. Deve ser por isso que nunca teve uma carreira, nunca tentou comprar uma casa, para que pudesse simplesmente levantar e partir quando seu príncipe encantado surgisse, sem remorsos. Sua única amarra era eu. Mas me tornei independente e indispensável para ela muito cedo, e então parou de dizer que desejava nunca me ter. Algo se agitou nele, mais violentamente do que os ideais que o fizeram dizimar alguns dos maiores valentões do mundo. Ele sussurrou: — Disse isso? — Quando era totalmente dependente e as coisas ficaram difíceis para ela. Mas no geral saiu-se bem. Uma mãe solteira de 19 anos não poderia ter feito mais nada. Acabou se tornando uma boa mãe para mim e meus meio-irmãos. Ela me teve muito cedo, com o homem errado, nas circunstâncias erradas. O sangue dele ainda fervilhava. Nem mesmo sua mãe, uma renomada Medusa, traumatizara os filhos dessa forma. — Aposto que nem sempre aceitou os acessos de raiva e de autopiedade dela. — Não era fácil algumas vezes, mas era tudo o que eu tinha, e eu a amava acima de qualquer coisa. Amjad lutou contra a compulsão de pegá-la nos ombros e chacoalhá-la, despertando-a da aceitação de toda aquela injustiça. Ela colocara algo na comida? Ótimo. Ele procurava por razões sobrenaturais para seu efeito sobre ele. Quando o feitiço dela era totalmente natural. — Você me desaponta. Achei que era perspicaz o suficiente para não engolir essas bobagens piegas, para aceitar a estupidez de amar alguém que deveria ser apenas desprezada. — Diga isso para a criança que fui. — Então ao menos deveria desprezá-la agora. — Não era perfeita, mas também não era de todo mal. Realmente me amava... Ama. — É por isso que manteve você vivendo na pobreza, e não contou que seu pai era rico e que te queria? — Não era simples assim. Fui o resultado de uma aventura que teve com meu 32


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pai. Uma garota de 18 anos que fingiu ser mais velha para estar com este homem exótico que a cativara com sua boa aparência e seu sotaque estrangeiro, com carinhos tenros, presentes e encontros extravagantes. Então pediu-a em casamento e levoua para conhecer sua terra. Sabe que a Ossaylan de trinta anos atrás não era nada do que é hoje. Ficou horrorizada ao perceber o que significaria casar-se com ele. Não poderia dirigir, beber ou dançar, nem ter amigos. E sem minissaias, para o particular horror dela. Assim, sem nenhum centavo e planos, ela recusou a proposta, mesmo quando descobrira que estava grávida. Informou-o que me teria, e recusou até mesmo sua ajuda financeira. Aquilo pelo menos provou que não era uma mercenária. Não deixaria que mandasse nela ou em mim, para acabar sendo arrastada para um país que abominava. — Não contou nada sobre ele até meu aniversário de 12 anos. Dá para imaginar o que é para uma garota sem pai ouvir que você não só tem um pai, mas que é um príncipe do deserto e quer que more com ele? Naquela época minha mãe queria se casar com o amor da vida dela. O trabalho dele implicava viagens contínuas, o que perturbaria a minha vida, então aquela seria a solução perfeita. Amjad agarrou uma almofada, imaginando que aquilo era o pescoço daquela mulher. — Daí ela abandonou a única filha no país que detestava tanto e foi viver a vida como se nunca tivesse tido você. Admirável. Mulheres como ela fazem traficantes de crianças parecerem seres humanos. Ela balançou a cabeça, com uma expressão benevolente. Aquilo era real? Sempre procurava pelo melhor em todo mundo, em cada situação? Escolhia enxergar apenas o ângulo mais favorável das coisas? — Ela não me abandonou. Meu pai a certificou de que Ossaylan mudara muito desde a visita dela, e que não perderia nenhuma das minhas liberdades. Há anos que implorava para me ter, então sabia que ele seria bom comigo. Eu estava animada, até porque não gostava muito do noivo da minha mãe. Estava também assustada, mas isso desapareceu assim que encontrei meu pai e o adorei logo de cara. Parecia um conto de fadas, a garota de uma cidadezinha tornando-se a princesa de um reino da noite para o dia. — E não houve nada de ruim nos seis anos seguintes. Fiquei fascinada pelas incríveis diferenças entre minha vida antiga e a atual, e fiz de tudo para aprender a nova cultura e a língua, para me misturar com o mundo ao redor, embora meu pai dissesse para não tentar demais, pois minha singularidade era ser a filha de dois mundos. Mas queria agradá-lo, deixá-lo satisfeito por me aceitar. E quanto mais me enchia de amor e orgulho, mais eu faria qualquer coisa por ele. — Então aprendi porque era tão atencioso comigo, e aquilo foi um baque. Já se casara duas vezes, mas não tinha mais filhos. Acontece que desenvolvera leucemia depois da aventura com minha mãe, e os tratamentos afetaram sua fertilidade. Estava claro que não teria mais filhos. Confrontei-o com meu desapontamento, acusandoo de me querer apenas porque era sua última chance de ter um filho. Com tempo, me convenceu de que não importava o porquê de me adorar tanto, pois acabou me amando 33


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pelo que eu era. — Aih. — Os lábios dele se crisparam. — Amou você por poder te usar. E quando fez 18 anos, consumou o que queria. Ela suspirou novamente, imperturbável. — Da primeira vez que propôs que me casasse com o tio Ziad, fiquei horrorizada. Não queria me casar, jamais. Tinha planos, uma graduação, uma carreira em mente. Meu pai me garantiu que isso seria apenas para que ele pudesse suceder tio Ziad no trono. Tio Ziad queria isso — acreditava que os dois homens na linha de sucessão destruiriam o que lutara tanto para construir em Ossaylan, e provavelmente a própria Ossaylan. Mas só poderia tirá-los da jogada casando-se comigo, pois isso tornaria seu relacionamento com meu pai mais próximo. Disseram que precisávamos nos apressar porque tio Ziad estava doente, e não viveria mais que seis meses. Estava apreensiva, mas queria servir a meu novo país e meu pai, queria estar com o tio que amava em seus últimos dias. — Afastou o prato que mal tocara. — Mas como princesa de Ossaylan, as liberdades das quais eu gozava se foram. E ao invés de seis meses, seis anos se passaram, os dois últimos comigo ao lado da cama de tio Ziad. O turbilhão dentro dela se intensificou. Amjad podia imaginá-la, aquele ser de energia e entusiasmo, vitalidade e vivacidade, murchando a cada dia, oprimida, aprisionada pelas maquinações de homens ávidos por poder. Aparentemente Yusuf Aal Waaked tinha mais contas a prestar do que imaginava. E mais, por Maram exonerá-lo de qualquer culpa. E pior ainda, por amá-lo apesar dos danos que lhe causara, a exploração à qual lhe sujeitara. Se algo do que lhe contava fosse verdade. — Quando ele morreu fiquei... um pouco louca. Senti que havia sido... roubada. Queria compensar o tempo perdido, então fui aos Estados Unidos contra a vontade de meu pai. Viajei só com uma mochila pelo país, aproveitando a liberdade e... vivendo. Então conheci Brad, e ele era tudo que os homens de Ossaylan não eram. Extrovertido e amigável, não ligava para o mundo ou o que pensavam dele. Depois de tudo que passei, aquilo era atraente. Não me importava que fosse um garanhão. E ele não usava fraldas. Era só dois anos mais novo do que eu. E lindo, animado e aventureiro. Cada palavra atingia Amjad como um açoite. Imaginava-se batendo naquele garanhão até ele ficar sem todos esses atributos. — Mas Brad era... muito aventureiro. Arriscava praticamente tudo, até mesmo a segurança dele e dos outros. Foi por isso que o deixei. E foi isso que o fez ser deserdado, não eu. — Então o pobre coitado tentou de tudo para te impressionar, e o deixou por isso. Maram lançou novamente aquele olhar calmo e de repreensão que o revoltava. — Então quando alguém age de forma criminosa e estúpida você culpa outra pessoa? Não, maldita seja. Ele não faria isso. Só tentava não ser arrastado por ela para as águas profundas das reavaliações prematuras. 34


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— Não que seja inocente nisso tudo. Vi os sinais desde o início e os ignorei. Sabia que éramos totalmente inadequados um para o outro, e mesmo assim me casei com ele. Teria me casado com qualquer um para fugir das leis do luto, para me livrar daquele título opressivo de primeira princesa, porque não parecia que meu pai se casaria novamente para tirá-lo das minhas costas. Só espero que Brad cresça e pare com sua busca compulsiva por emoções antes de ferir a si ou a outros irreversivelmente. — Muito nobre da sua parte. Os olhos dela disseram babaca da forma mais indulgente possível, antes de continuar. — Depois disso concentrei-me nos estudos da pós-graduação e comecei meus negócios de consultoria. Pode parecer estranho, mas meu relacionamento com meu pai tornou-se melhor e mais intenso. Foi só há quatro anos que resolvi voltar a morar em Ossaylan. E embora não concorde que seja desmiolado, vou receber seu comentário como um elogio a meu efeito positivo sobre as decisões dele. Ele levantou uma sobrancelha e encolheu os ombros. Maram terminara. Amjad sussurrou lentamente: — Que história. Deveria ser rebatizada de Shahrazad. — Entretendo seu príncipe louco com contos intrincados sucedidos por outros ainda mais excitantes e complexos? Mas no meu caso, o conto não possui mais nenhuma reviravolta chocante. — Tem sim, em você mesma, em cada palavra de seus lábios, escrita por sua mente inescrutável para ser ouvida compulsivamente. Maram olhou em volta procurando uma plateia inexistente. — Alguém aqui foi obrigado a fazer algo? — Então fitou-o novamente, seus olhos provocando. — Não você, do jeito que ficou me interrogando. — Mas isso foi tudo o que o pobre Shahrayar pôde fazer enquanto Shahrazad o prendia em sua teia de manipulação mental. Interromper com comentários e perguntas que a fizessem continuar. Como ela, você sabe como influenciar os pensamentos e a opinião dos ouvintes. — Já que não pode ser influenciado, quer dizer então que está considerando a hipótese de sancionar minha versão? Podia sentir os efeitos das palavras dela — dela própria — infiltrando-se em sua massa cinzenta, alterando suas crenças. E estaria perdido se deixasse ela mudar sua opinião tão facilmente. Maram pode ter sido inocente antes, mas não era agora. Aprendera as lições de seu pai muito bem, incrementando-as com seu gênio e jeito irresistíveis para tornar-se imbatível. Só havia uma maneira de detê-la. Sair de seu alcance. Ergueu-se como se não quisesse fugir dali, até que seus músculos doeram com a tranquilidade que ele os forçava a ter. — Ainda terei que voltar a este assunto com você — disse, imprimindo em sua voz a última dose de indiferença que havia em seu arsenal. 35


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Ele arrumou a cozinha, desejando que os atos mecânicos o acalmassem. Depois de uma noite interminável em que sentira que dormia sobre pregos quentes, imaginando que ouvia a respiração dela em meio ao tumulto da tempestade e que sentia as ondulações transmitidas a cada nervo, o dia seguinte foi pior. Ela acordou minutos depois de ele ter desistido de dormir e se levantou, alegre e convidativa para o mau humor de Amjad. No café da manhã que preparara, Amjad estava de volta. Ela jogava no seu nível, sagaz como um relâmpago, elétrica, magnífica. A manhã pareceu demorar uma semana. Não por se arrastar, mas por ser cheia de incidentes e interação. Ao meio-dia, Maram começou a preparar o almoço, e ele, de alguma forma, descobriu-se na cozinha dividindo os preparativos, ocupado com as refeições. Voltou a ficar calado enquanto comiam, e novamente ela permitiu que ele se refugiasse no distanciamento — embora não fosse deixar aquele desprezo pontiagudo carregar a atmosfera de tensão. Sua resignação tornou até mesmo o tumultuado silêncio comunicativo e sociável. Para conseguir algumas horas sem a presença dela, foi tirar uma soneca. Grande erro. Os lençóis tinham o cheiro — a presença — dela. Seu corpo latejou como uma ferida inflamada nas quatro horas em que se forçou a ficar ali. Finalmente, a um passo de enlouquecer, levantou-se e se juntou a ela. Encontrou-a sentada no canapé, com a cabeça descansando nos joelhos junto ao peito. Seu rosto estava virado para ele, e os olhos brilhavam como se estivessem prestes a atacá-lo com sua beleza e força. Foi à cozinha sem dar atenção a ela. Achou que se não fizesse isso, se arrastaria para mais fundo na... afinidade que era mais perturbadora do que qualquer coisa que já experimentara. — Há uma parte da verdade que não contei. Aquelas palavras penetravam por entre as omoplatas de Amjad, entraram em sua caixa torácica e agarraram seu coração. Ele não se virou. — Claro que não, Shahrazad. Não contar a história toda é o que você faz. — É só uma parte. Não haverá mais. Não queria. Não deveria. Voltou-se para ela. — Não tinha intenção de voltar a Ossaylan. Mas então houve a conferência que trata das dimensões políticas da expansão econômica da região. Seu primeiro contato com ela. Não havia se recuperado ainda. — Voltei da conferência pronta para relocar meus negócios, vender minha casa e me mudar de volta a Ossaylan. — Está dizendo que me ver a fez se decidir a voltar para cá? — Sim — disse simplesmente. — Você era... é o homem mais incrível que já 36


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encontrei, e queria estar onde pudesse te conhecer melhor. Não que tenha facilitado as coisas. A raiva inflamou suas entranhas. E o desejo de deixar de resistir. Pior ainda, sua inabilidade de se lembrar por que resistia, porque não sucumbira ainda. Forçou-se a caminhar com calma até ela, encarando-a com o que desejava que fosse seu desprezo mais aniquilador. — Que decepcionante. Não dá para tentar ser um pouco mais sutil sobre sua missão? — Que missão? — A que seu pai lhe incumbiu. A última tentativa de se casar comigo, antes de desistir de vez. Encarou-o, estupefata. E então explodiu numa gargalhada. Quando finalmente conseguiu falar, balbuciou: — Acha que eu quero me casar com você?

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CAPÍTULO CINCO Nenhuma mulher jamais considerara se casar com ele. Não importavam a riqueza e o poder que um casamento com ele acarretaria, pois temiam que se transformasse em Shahrayar ou em Othello. O horror e a rejeição o apaziguavam infinitamente. Então porque a incredulidade de Maram o perturbava? Mesmo que soubesse que estava fingindo? Tinha certeza de que se casaria com ele num piscar de olhos. Fora a única mulher corajosa o suficiente para se arriscar e correr atrás dele. O que o incomodava realmente era sua pretensão. Mas esse não era o porquê. Não queria que ela quisesse isso... Queria? Claro que não. Amjad estava cansado, sem dormir. E ela era potente. O suficiente para fazê-lo começar a imaginar... A sentir coisas. Balançou a cabeça, ridicularizando-se ainda mais. — Com certeza não espera que eu responda à sua estupefação e deixe que me arraste para outra história com sua versão da verdade, não? Ela também balançou a cabeça, ainda rindo. — Com você, é uma surpresa a cada segundo, além das risadas. — É sempre um prazer ser um desserviço. — Ele se curvou e virou-se para fazer café. Durante a tarde, ela novamente desafiou suas expectativas. Não o incitou a continuar suas acusações. Em vez disso, bancou a distante. Já passava da meia-noite e se contivera dezenas de vezes para não tocar no assunto. Poderia jurar que ela sentia seu esforço, e estava serenamente esperando o ataque. Mas ele não atacou. Terminou de se arrumar e foi preparar o canapé para outra noite insone infernal. Ficou na entrada do corredor até ele lançar seu olhar mais vazio. O brilho enigmático nos olhos dela penetrou em suas defesas. Mas ele continuou trabalhando. Maram não se mexeu até que ele se endireitou e ergueu uma sobrancelha. O que aquela rainha da sedução e da estratégia queria agora? — Por favor, volte para a cama. Ficarei confortável no canapé, devido ao meu tamanho. — Não. E antes que imagine coisas, isso não é um ato de cavalheirismo. Não vou deixar que me ponha em quarentena. — Não precisa ficar em quarentena. Durmo muito bem. Concordava com aquilo. Ela, maldita seja, dormia profundamente e acordava recarregada. Enquanto que suas baterias não estavam apenas baixas, estavam invertendo suas polaridades. — Não — disse ele novamente, precisando terminar aquele dia sem fim. — Mas 38


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irei ao banheiro primeiro. Suas atividades lá dentro podem ser medidas numa escala geológica. Ele entrou no banheiro ao som de risadas, ainda que amaldiçoasse a falta de uma porta para poder bater e se isolar. Descansou a testa nos azulejos frios, fechou os olhos enquanto a água o golpeava, e silenciosamente se acalmou. O alívio veio quase de uma vez, um dos vários que sentira influenciados pela imagem dela. Mais do que nunca, não fazia diferença para seu estado de excitação. Uma coisa era fantasiar com ela enquanto a evitava, e outra era render-se ao desejo que alimentava sempre que se aproximava. Não que aquilo importasse. Como sempre, ele iria se segurar. No quarto dia, Amjad já não conseguia mais se segurar. A manhã começara normalmente, se é que algo naquela situação poderia ser chamado de normal. Depois do almoço, resolveu limpar o local, embora ambos mantivessem o lugar impecável. Precisava fazer algo físico. Já se exercitara arduamente, o que só aumentara sua tensão quando ela se juntava a ele. Maram também o ajudara a limpar, com seu costumeiro zelo, sem questionar se o local precisava de faxina. Iniciaram outra discussão assim que terminaram de organizar a sala de estar. — Se todos os homens, especialmente os nobres deuses das finanças, estão condenados a ter mulheres avarentas e de sangue frio, dotadas das artimanhas para destruí-los, como explica seus irmãos? — Quer saber de onde vieram? — respondeu enquanto polia um espelho pela terceira vez, evitando reencontrá-la. — Por força do destino, eles, e eu, claro, viemos de mulheres avarentas e de sangue frio. Ouviu o tinido de panelas enquanto ela ria. — Tsc, tsc... Isso é jeito de falar da própria mãe? — E de minha madrasta. São fatos. Para verificá-los posso indicar fontes que corroborem minhas avaliações. — Entre essas fontes estaria seu pai, claro. Mas seu testemunho contaria a favor dele mesmo e contra elas. Teria que ouvir fontes neutras, e o lado feminino da questão, antes de corroborar os fatos. Ele limpou a pia novamente. — No caso da minha mãe será necessária uma sessão espírita, e uma poderosa bruxa que impeça que possua o seu corpo. Quanto à minha madrasta, será preciso um feitiço de proteção para evitar que ela lhe parta ao meio e se alimente de suas entranhas. A beleza daquela gargalhada atravessou o corpo dele. Forçou-se a organizar seu kit de barbear, olhando-se no espelho, tentando tirar aquele sorriso besta da cara. Quando conseguiu sorrir de modo venenoso de novo, voltou à área principal. Encontrou-a com o cabelo preso num coque, com fios caindo sobre o rosto vermelho, as mangas e as calças enroladas enquanto esfregava o chão. Mas poderia estar usando salto agulha e biquíni, pela maneira como os hormônios fulminavam seu sistema. 39


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Amjad ignorou seus sentidos insanos e foi à cozinha preparar café. — De acordo com as novas informações, sua própria mãe também é uma variante dessa forma de vida feminina virulenta. Maram riu e guardou para si sua objeção à maldosa avaliação da mãe, esfregando com mais força o chão. — Minha mãe nunca roubou a alma ou se alimentou das entranhas de ninguém. Quando faço um balanço da minha vida, na qual os prós pesam muito mais do que os contras, creio que fez o que achava ser o melhor para mim. Levantou um pé de cada vez para ela limpar, olhando-a com pena. — Acreditarei que você engole toda essa porcaria do Dia das Mães quando formos esquiar no deserto. — Você ainda não explicou a atitude de seus irmãos. Shaheen arriscou ser exilado e perder tudo, e Harres desafiou os costumes e fez muito inimigos novos e poderosos para estar com a mulher que ama. Teriam sacrificado tudo por elas, alegremente. — Shaheen é um bobo romântico, e o cérebro da Harres foi irreversivelmente prejudicado pela combinação de um ferimento causado por um tiro, insolação e exposição prolongada a uma mulher destemida. Vamos ver como se sentem depois que a lua de mel acabar, e no que se transformarão as noivas endeusadas depois de alguns anos e filhos. — Tem certeza de que elas se transformarão em súcubos também, não? — Mas mesmo que meus irmãos mereçam isso por serem tão idiotas, espero que não recebam o que está por vir. — Que demonstração de amor fraternal. — Eu sei. Sou um molenga. — E Aliyah? Com dois filhos, quebrou a barreira do período do encantamento da lua de mel. Vi com meus próprios olhos que ela e Kamal estão mais apaixonados do que nunca. Amjad estremeceu exageradamente. — Nem me lembre. De todos os homens que conheço, ver Kamal se transformar nesse cachorrinho adestrado me dá pesadelos. É definitivamente perturbador. — E claro que não pode levar em conta que ela o faz feliz e completo, e que ele não tem motivos para ser desconfiado e rude com a esposa. Observou enquanto Maram se virava, e seu cabelo subitamente soltou-se do lápis que o prendia. O coque se desfez e aquela seda pareceu varrer cada um de seus nervos. E teve que admitir. Ela vencera. Maram resistira a todas as suas tentativas indiretas de fazê-la abordar o único assunto que queria que ela enfrentasse. Agora a necessidade de ouvir outra história lhe queimava as entranhas. Não conseguia mais segurar, e encarou-a diretamente: — Não acha que usar esses exemplos de felicidade matrimonial é algo muito evidente? Se pudesse, ficaria insultado por você pensar que tais táticas tão óbvias podem ajudá-la na missão de conseguir que eu seja seu marido. 40


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Ela se virou, os olhos compreendendo a rendição dele, seu triunfo. Então descansou o queixo em ambas as mãos no esfregão, e sorriu. — Só por curiosidade, de onde tirou a ideia de que quero me casar com você? Ele quase gemeu de alívio. Agradecendo-a mentalmente por ter pena dele quando seus olhos diziam que não merecia, encolheu os ombros. — Oh, não sei. Talvez por sua constante perseguição depois daquela maldita conferência. Ela lhe lançou um olhar alegre enquanto guardava o esfregão. — Entendeu errado os meus interesses. Pode descansar em paz à noite sabendo que casar com você nunca passou pela minha cabeça. — Aih. E seu pai sairá voando. Uma risada escapou dos lábios dela, embora seus olhos dessem umas palmadas nele, com aquela reprovação que lembrava-o que, por mais que ela se deliciasse com seu humor negro, não era muito apreciado quando o assunto era seu pai. — Mas não leve para o lado pessoal. O casamento é um anátema para mim agora, assim como contrair uma nova variante virulenta dessa praga. Quando Maram estava prestes a continuar, passou-lhe a caneca de café. — Então não me quer como esposo? — Definitiva e irrevogavelmente não. — Bebeu um gole do café, suspirando de prazer. Mas assim que achou que ficaria sem histórias, o olhar dela o presenteou com algo a que nunca fora exposto. A força total de sua sexualidade. — Mas quero você. Aquele momento pareceu infinito antes que ele conseguisse trocar os fusíveis queimados pela intensidade das palavras dela. — Como parceiro sexual? Ela fechou os olhos como se aquela descrição a golpeasse. Então os abriu novamente, revelando um olhar cheio de significados e emoções. — Entre outras coisas. — Que outras coisas? O que mais poderia ser? Um troféu? Um patrocinador? Um cão de guarda? Um segurança? — Seria a melhor de todas as alternativas acima, mas não, não preciso de nada disso. Apesar de que, se precisar de nomes para o que tenho em mente para você, posso sugerir dezenas, começando por parceiro e passando por estimulador mental, revitalizante, que aliviasse o estresse, até... — o olhar de Maram despejou seu desejo escaldante em Amjad. — ...stripper. Sentiu os ossos vibrarem com o impacto de cada papel em sua imaginação, com a necessidade de demonstrá-los. Subitamente voltou a ficar séria. — Não cito exemplos matrimoniais, mas conexões apaixonadas que funcionam e que fornecem aos parceiros algo mais. Se esses casais escolheram colocar tais relacionamentos dentro dos padrões socialmente aceitos de casamento, é problema deles. Já tentamos o casamento e sabemos que não funciona. Não para nós. Mas acredito que daríamos certo, da maneira que melhor nos satisfaça. Estamos numa 41


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situação na qual poderemos conseguir o que quisermos juntos, sem nos importarmos com as exigências de nossa cultura e com o status que certa vez quase destruiu minha vida e acabou com a sua. E pela primeira vez ele entendeu. Que mesmo com suas convicções passadas e atuais, ainda considerava a hipótese de arriscar ser aniquilado ao agarrar esta mina terrestre. — Então o que tem em mente é um caso, aberto e sem amarras? — Se por sem amarras quer dizer sem exigências presentes ou futuras para torná-lo oficial, então sim. Se por aberto quer dizer publicamente escancarado para a máquina de fofocas da mídia, então não. O que temos não é da conta de ninguém. — Clandestino, então. — Isso também não. Apenas... privado. Como acredito que qualquer relacionamento deveria ser. — Então tudo que sempre quis era um caso? — Também não gosto da palavra caso. Não tenho um nome para o que podemos ter. Quero estar com você, e vice-versa. Quero ampliar o que já dividimos, levar nossa sinergia a todas as áreas de nossas vidas, sendo livres ainda para termos todas as formas de intimidade e paixão, sem restrições nas esferas social ou de convenções. Ele rangeu os dentes ao imaginar as visões, acima de qualquer paraíso. — Então afirma que nunca quis e nunca vai querer se casar comigo? Ela sorriu. — Não se preocupe com isso. Aquilo fez o desapontamento se espalhar dentro dele novamente. Por que, já que lhe oferecia tudo que um homem poderia desejar de uma mulher, sem o incômodo das formalidades e responsabilidades? Sequer conseguia começar a analisar. Isso fez com que Amjad ficasse ainda mais irado com ela e com ele próprio. — Que estranho, depois de seu pai oferecê-la a mim em casamento a qualquer preço. Não uma vez, mas repetidas vezes. Antes de ele desistir de mim e ir atrás de Haidar. Encarou-o, boquiaberta. Aquele era Amjad. A pessoa mais adversa à intimidade. Acabara de dizer que o queria de todas as formas possíveis. Deveria ter esperado que ele lutasse contra ela, contra as próprias necessidades. Era temido por ser terrivelmente sincero, esse era o problema. Todas as suas duras afirmações eram baseadas em fatos. Até mesmo a visão dela como sendo uma sanguessuga era baseada na opinião pública em geral, uma imagem que jamais contestara. Assustara-o tanto assim, a ponto de ele usar calúnias para mantê-la afastada? — Sempre precisa dar a última palavra, não? — O sorriso que era seu estado natural quando estava perto dele vacilou. — Não achei que fosse usar de mentiras para conseguir o que queria. A fúria que mantinha a beleza dele incandescente crepitou. — Não achei que fosse usar de negativas quando pega mentindo. 42


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— Nunca usei de calúnias em relacionamentos pessoais. E nunca escondi o que pensava ou sentia sobre você. O corpo dele se enrijeceu, como se pronto para o ataque, os olhos esmeralda irradiando essa intenção. — Então essa é sua nova história? Que o seu pai fez isso sem você saber? — Ok, tempo. — Ela gesticulou, o pressentimento invadindo seu coração. — Ainda está praticando o esporte favorito de acabar com meu pai, certo? — Não. O mundo caiu sobre ela como um martelo gigante. Isso e o que Maram considerou ser a primeira visão da verdade nos olhos dele. Amjad falava a verdade! — Quando ele fez isso? — Como se não soubesse. — Aquilo soou tão assustador quanto o rosnado de um predador. — Mas não sei. O olhar dele atingiu-a com descrença. E estava sendo sincera. Ele piscou primeiro, bufando de desgosto. — Vamos fingir que não sabe, então. A primeira abordagem dele foi empurrá-la para cima de mim naquela conferência. — Vamos nos ater aos fatos, por favor? Sem licenças dramáticas? Ele nos apresentou. — Aih. Então, depois disso, fez sua oferta. Achei que estava fora de si. Depois que me afastei, pensando que uma resposta à altura não valeria sequer o meu oxigênio, você me caçou e atacou. E então percebi que seu pai não era tão bobo assim. Sabia exatamente a arma de destruição em massa que você é. O coração de Maram se acelerou ao sentir o desprezo que transmitia aquela relutante confissão do efeito que sua presença causava sobre ele. — Bom saber que é algo recíproco. Não a contestou, seus olhos eloquentes com uma confissão ainda mais atroz. — Disse para mantê-la longe de mim, se soubesse o que era bom para vocês. Mas apostou no seu poder a ponto de desafiar meu aviso, metendo-a sob o meu nariz a cada oportunidade. De vez em quando ousava renovar a oferta, incluindo mais e mais incentivos para... incrementar o negócio. — Incentivos? — repetiu ela, a voz tão vazia quanto seu coração. A risada dele foi como um banho de ácido sobre os seus nervos. — Pelo menos o que achava serem incentivos. Duzentos acres com um quilômetro de praia em Ossaylan para meu novo projeto. Trinta por cento das ações de sua empresa nacional de telefonia celular. Ações ordinárias da ópera do emirado. A última oferta dele foi adicionar quarenta de seus melhores puros-sangues ao... pacote. Já havia acreditado nele. Mas agora que sabia dos detalhes... Os olhos dele se estreitaram ao encará-la, lívida com o choque que a acometera. — Mas pense bem, a oferta era tão... ruim que não era compatível com um cérebro do seu calibre. Era a de uma mente infantil e fatalmente desinformada como 43


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a de Yusuf. Ela limpou os olhos embaçados. — Então acha que não estava envolvida porque teria feito uma oferta irrecusável? Leva o falso elogio a outro nível, Amjad. — Só estou constatando, agora que a conheço melhor, que não teria sido tão... banal. Então, estou reavaliando minha opinião. Não estava envolvida com aquelas ofertas. — Antes que pudesse ficar aliviada, ele continuou. — Mas da última vez que o recusei, devo tê-lo assustado tanto que ele parou de oferecer qualquer coisa. Justo quando pensei que tudo tinha terminado, transferiu a proposta para Haidar. Antes que ela pudesse reclamar sua descrença, as sobrancelhas de Amjad se juntaram à medida que uma nova suspeita incendiava seus olhos. — Mas talvez este seja seu novo plano. Percebeu que nem você poderia mudar minha opinião sobre o casamento, então a enviou para que eu seja seu amante, e para então conseguir que Haidar seja seu marido, obtendo assim o poder que nós temos, clandestino e oficial, em ambas as mãos. O queixo dela caiu. — Diga que agora está sendo extrapresunçoso. — Yusuf está fazendo de tudo para se transformar de um pequeno príncipe em um grande rei. Possui... outros meios planejados, mas mesmo que esses funcionem, eu e Haidar seríamos objetos de posse ainda maiores para ele do que qualquer trono, desde que você esteja no poder. Bufou furiosa. — Terminou? Posso falar agora? Gesticulou para que ela continuasse, se encostou na bancada, cruzando os pés, os olhos dizendo que aquilo precisaria ser excepcional. E que, de qualquer forma, não faria diferença. — Meu pai nunca falou para eu me aproximar de você como uma barganha em outra busca pelo poder... Oh, Deus! — Os joelhos dela fraquejaram à medida que tomava dimensão das manipulações do pai. Amjad apressou-se e a apoiou. Ela levantou os olhos, com medo de encontrar os dele. Mas o que encontrou neles foi solicitude. — Agora vejo como manipulava as coisas para nos unir. Não procurei de forma alguma estar com você, mas agora percebo que ele conseguiu. Sou culpada por não questioná-lo. Dessa vez, embora ele não parecesse perigar ter outra recaída, sequer me perguntei por que ele disse aquilo. Apenas aproveitei a chance de estar com você de novo. Embora queira estrangulá-lo por interferir na minha vida e por me oferecer assim... não me sinto realmente traída. Acho que entendo porque fez isso. Deve ter pressentido nossa compatibilidade, e estava tentando, do seu jeito, garantir o único homem que seria apropriado para mim. Um gelo verde-esmeralda formou-se nos olhos dele, quase queimando Maram. — Claro, e agora tem outro homem único para você, e sem dúvida, uma longa lista de homens únicos de reserva. Ela balançou a cabeça. 44


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— Deve estar enganado sobre Haidar. Nunca escondi que só me interessava por você. E mesmo que meu pai tenha desistido, sabe que nem Haidar e nem eu pensaríamos em nós dessa forma. A menos... — A suspeita de repente criou uma nova e terrível possibilidade. — A menos que esteja apenas fingindo interesse por Haidar. Deve acreditar que tudo o que você precisa para superar sua aversão ao comprometimento é a ideia de me perder para seu próprio irmão. E se for esse o plano dele, é uma cobra e alguém que nunca realmente conheci! Enquanto ela falava, a frieza nos olhos de Amjad se evaporou sob o calor da... compreensão? Contemplação? Ele finalmente balançou a cabeça. — Confunde o diabo regularmente, não? Pena que seja um pouco mais esperto do que ele. Maram deu um sorriso frágil, a necessidade de arrumar aquele cabelo sedoso que caíra sobre seu rosto tornando-se uma dor nas entranhas dele. — Costumava pensar que o discernimento jorrava de sua cabeça. Mas agora que sei que sua paranoia fora cultivada pela ajuda de meu pai, perdoo você completamente. — Agradeço muito o entendimento da minha paranoia. O coração dela se acelerou ao ouvir a provocação. De súbito percebeu que poderia nunca vir a ter uma chance com ele. Engoliu a emoção que se formava em sua garganta. — Acreditei que me reconhecia da mesma forma que eu com você desde o início, sabendo que compartilharíamos estes... canais de comunicação e de admiração. Achei que seria apenas uma questão de tempo. Continuaria tentando para sempre se achasse que um dia você se permitiria. Mas se nunca acontecer, preciso saber, Amjad. Se pensa que não estou sendo sincera, se ainda possui alguma suspeita, não me aproximarei de você até que esta situação termine. E nunca mais me verá. Depende de você agora. Os olhos dele brilhavam como supernovas. Antes que o coração de Maram explodisse, ele saiu pela porta. Soluçou ao ouvi-lo escancará-la. Segundos depois, fechou-se atrás dele. Ele... ele saíra para a tempestade de areia. Desprotegido!

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CAPÍTULO SEIS Amjad podia ser louco e mau, mas não era tolo. Tinha que voltar logo. Iria. Mas não voltou. Minutos intermináveis se passaram enquanto esperou que entrasse pela porta, antes dela correr para a janela. Não conseguia ver nada; o limbo cor de ferrugem parecia ter substituído o mundo lá fora. Ela ficou ali, tremendo, sua mente se fundindo enquanto a razão refreava o medo. Deveria ter ido ao estábulo. Deveria ser perto. Mesmo assim, sem óculos e proteção para o rosto, poderia ter inalado areia e ter sido açoitado com areia suficiente para se arrepender por dias. Sabia disso, mas ainda assim se arriscara para ficar longe dela. Compreendia-o. Deveria estar tão atordoado quanto ela pelas revelações. Já estava acostumada — conhecia as manipulações de seu pai. Mas Amjad tinha certeza de que era cúmplice nas chantagens que o revoltaram e que alimentaram as chamas de suas suspeitas contra ele. Estava surpresa que sua reação não houvesse sido mais letal, se o pai o tivesse feito pensar que ele — e ela — substituiriam Haidar por ele. Em retrospectiva, saber que a interferência de seu pai esteve presente o tempo todo tornava o que dividiam ainda mais significativo. Pois tinham uma conexão, aproximavam-se. Mais do que em seus sonhos mais selvagens. Mesmo com as tentativas dele de se manter afastado. Deixara-se levar tantas vezes, mostrando o homem por trás da camuflagem fria. Não só o admirava e desejava; conseguia também falar, rir com ele, dizer qualquer coisa. Ele a entendia. E vice-versa. Mas conseguiria conquistálo? Não estava mais certa disso. E talvez fosse culpa dela. Antes que ele pudesse processar a versão da verdade dela e como mudava radicalmente suas crenças, Maram forçara-o a decidir se iria ou não lhe dar um voto de confiança. Não é de se espantar que tenha fugido. O sangue dela congelara ao pensar que poderia voltar e anunciar que não acreditava no que dizia. Maram se amaldiçoou por ter feito isso. O que esperava, exigindo sua total confiança ou nada? Era muito cedo. Precisava pensar em alguma saída para que não parecesse que sua palavra não valia nada. E precisava pensar rápido, antes que ele voltasse. Mas não voltou. Cada minuto de sua ausência a feria ainda mais. Tentou ocupar-se e parar de ficar obcecada depois de uma hora. Ele já ficara mais que isso no estábulo de Dahabeyah antes. E depois outra hora se passou, ainda dentro do limite aceitável, se 46


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estivesse cuidando do animal. Mas esperá-lo dentro da segurança e do conforto da cabana era muito pior do que quando esteve lá fora, sendo esbofeteada pela natureza. Agora o medo a sufocava. Por ele. De repente, nada era suficiente para explicar a sua ausência. Imagens dele caído, ferido e sendo enterrado pela areia dilaceraram seu coração. Pegou o kit de primeiros socorros, colocou os óculos protetores e saiu da cabana. A tempestade a encontrou com toda a força, quase derrubando-a. Seu rosto e pescoço pareciam estar sendo bombardeados por milhares de agulhas. A única coisa que a impedia de ser levada pelo vento eram seus pés enterrados na areia acumulada. Não sabia para onde ir, exceto na direção em que o vira ir anteriormente antes de desaparecer. Maram mal podia ver dois passos à frente, e já perdera a cabana de vista. Suas narinas e garganta começaram a sangrar. Tirou a camisa e a enrolou ao redor do rosto. Poderia procurar por ele enquanto era esfolada, contanto que pudesse respirar. Depois do que parecia uma eternidade dolorosa, encontrou o estábulo. Lutou contra o vento para fechar a porta. Assim que o fez, arrancou os óculos e a camisa e começou a procurar por ele. Dahabeyah chutava e relinchava quando entrou no estábulo, o último lugar para procurar. Ele não estava ali! Estava lá fora, provavelmente inconsciente e machucado. Poderia até estar... O medo e o desespero explodiram enquanto corria para fora do estábulo. — Amjad! O turbilhão implacável dissipou seus gritos. Gritou ainda mais, implorando para que a ouvisse, para ter forças suficientes para gritar de volta. — B’haggej’ jaheem! Que diabos faz aqui? Amjad. A voz dele. Vinda do tumulto da agonia causada pelo vento. Estava a salvo. Salvo. A presença dele eletrizara-a. Todo o resto do mundo desapareceu enquanto suas pernas eram engolidas pela areia. Não importava. Estava nos braços dele. E ele nos dela. Nada mais importava. Então a carregou de volta para a segurança da cabana. Não tinha ideia de como ele sabia o caminho. Lá, pôs Maram sobre os pés que ela mal sentia e sumiu para dentro. Ela tirou os óculos, trêmula, seus olhos úmidos. Ele voltou trazendo uma bacia com água e toalhas, e foi até a cozinha pegar garrafas e contêineres. — Pergunto novamente — rugiu. — Que diabos estava fazendo? — Déjà vu? — resmungou com os lábios trêmulos. Perguntara-lhe a mesma coisa meses atrás, quando voltara para a região. Na infame conferência que ele estava patrocinando. Durante a abertura, houve uma ameaça de bomba. Enquanto todo mundo corria para fora, um homem derrubara uma mesa sobre ela, e quase foi pisoteada. 47


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Lutou para tirar o móvel de cima de si, em pânico. Então, como se sua preocupação o tivesse evocado, ele materializou-se sobre ela, levantou a mesa como se fosse de papelão, carregou-a em seus braços e foi para a saída mais próxima, gritando para que ela corresse o mais longe possível. E voltou para dentro. Depois de um instante de perplexidade, catapultou-se atrás dele, tentando trazê-lo de volta. Amjad mandou-a voltar, assim como fizera com seus guardas. Então, não se importando com a própria segurança, voltou para ajudar aqueles que ainda estavam presos. Nenhum de seus guardas o abandonou. E para a fúria dele, nem ela. Maram o ajudou até que todos tivessem evacuado e o esquadrão antibombas de Zohayd chegasse. Mas fora um alarme falso. Amjad fizera a mesma expressão deliciosa agora, majestoso em sua ira. Ela acreditara que embora tenha arriscado a vida pelos outros por princípio, sua preocupação com ela fora pessoal. Parecia enfurecido. — Muito engraçado, Maram — gritou. — Da última vez em que bancou a heroína foi para me impressionar. O que foi dessa vez? Não pôde esperar para ter a resposta de seu ultimato? De repente a raiva correu por sua corrente sanguínea com uma dose de ressentimento, sobre os ecos do medo e do desespero. — Achei que no mínimo estava deitado no estábulo de Dahabeyah, desacordado, depois de ela ter te acertado. Como merece, por ter me assustado desse jeito. — Assustado? Achou que eu a abandonara? É por isso que saiu correndo sem proteção? — Jamais passaria pela minha cabeça. Não me abandonou quando uma bomba poderia ser detonada. — A fúria e a exasperação nos olhos dele se abrandaram como aconteceu anos atrás. — Da mesma forma como não te abandonaria, embora a escolha teimosa e imprudente tenha sido sua. Assim que me convenci de que estava lá fora e ferido, talvez até seriamente, cada segundo era crítico. Podia vê-lo ceder, mesmo quando a lógica e a evidência do que tinha ocorrido corroboravam suas palavras. Ainda não parecia ele mesmo quando finalmente disse: — Aih, claro. Foi tudo por minha causa. — O que está insinuando? Que estava com medo porque precisava que sobrevivesse? Odeio dizer, mas não. Se estivesse ferido ou... pior...– engoliu a dor que a engasgava só de imaginar. — ...ainda estaria segura aqui, por meses se precisasse. — A autopreservação pode ocorrer devido ao medo irracional e defensivo pela própria... Ele parou. Distrações que ela jamais poderia imaginar encontrar nos seus olhos surgiram como se fosse mais perigoso acreditar nela do que enfrentar a ira da natureza ou uma bomba. Acreditar nele lhe dava segurança e estabilidade, afastando traições e perigos do mundo. Acreditar nela seria o paraíso para Amjad, como era o dela. 48


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Ele desviou o olhar segundos antes de seus olhos admitirem sua rendição. Seus olhos voltaram a ficar preocupados quando viram evidências do sacrifício dela, antes de seu olhar recair sobre sua mão direita. A mão de Maram, com os nós dos dedos brancos, ainda segurava o kit de primeiros socorros. Ela gemeu como se estivesse com dor enquanto retirava o kit de seus dedos congelados. Ele levou-a até o canapé e ajudou-a a sentar-se. Ajoelhou-se na frente dela, tão alto que seus olhos se nivelaram. Os olhos de Amjad se acenderam e apagaram conforme varreram seu rosto e seu corpo, o seu próprio parecendo se curvar. Por um instante, achou que ele beijara sua pele. Maram silenciosamente o implorou para que o fizesse. Ele parecia resistir às necessidades com um esforço que o fazia suar. Antes que Maram pudesse se inclinar e enxugar o suor da testa dele, começou a limpá-la. Ela murmurou à medida que seus nervos acolheram a maciez da toalha e o frescor da água. — B’Ellahi, foi esfolada viva, e isso nem foi nada. Se não tivesse te escutado poderia estar vagando pelo deserto, esperando que a tempestade acabasse com você. Sentia a angústia na voz dele, emanando de cada poro. Não conseguia suportar isso. Apenas uma coisa o faria se esquecer de tudo. — O que mais poderia ter feito? Sorriu enquanto misturava os conteúdos dos contêineres, adicionando óleos que cheiravam a amêndoas e lima, criando um creme homogêneo. Então Amjad começou a pintar a pele dela com aquilo, massageando-a a partir do rosto com gestos suaves. Quase choramingou. Não pela dor. Mas aconchegava seu coração ter a pele dele junto da sua sem barreiras, sentindo sua solicitude penetrando no corpo. Ela gemeu conforme a mistura fresca e de essência floral e cítrica aliviava seus poros. Abriu os braços e se arqueou, oferecendo total acesso, ajudando-o a aplicar o bálsamo mágico. Esfregava as costas dela quando disse: — Voltava quando você partiu em sua missão de resgate. E mesmo que eu não voltasse, não precisava ter se preocupado, pois não sou suicida. — Acidentes, especialmente nestas condições, acontecem. — Não seria tão desleixado a ponto de sofrer um acidente e deixá-la sozinha aqui. — A voz dele ressoou por suas costas, espalhando um fogo ainda mais aflitivo. — Nem se tivesse certeza de que você simplesmente pegaria os itens úteis de minha inútil carcaça. Aquela tentativa de provocação a irritou. Golpeou-o com o cotovelo no estômago pelo castigo visual macabro e virou-se, segurando seu rosto com uma das mãos enquanto a outra buscava por mais bálsamo. As mãos dela se congelaram e penderam ao lado dele quando começou a pintá-lo com a mistura revitalizante, traçando cada linha de poder, cada traço de beleza e saliência de distinção que constituía aquele rosto incomparável. — Amjad... 49


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Maram fechou os olhos, gemendo, pressionando o rosto no pescoço dele, inalando sua essência tóxica. Por um longo, longo momento, permaneceu imóvel como uma estátua. Então algo emanou dele, estremecendo cada osso. Os olhos dele permaneceram baixos enquanto ela esfregava sua bochecha na dele, antes de seus lábios imitarem aquele movimento. Não respondeu aos carinhos dela. Mas fora o suficiente. Logo ela precisaria de mais uma coisa. Sussurrou a súplica nos olhos fechados dele. — Diga, Amjad. Diga que acredita em mim. Não disse. Após um instante tenso, ele se levantou, levando-a em seus braços. Então agarrou-se ao pescoço dele, a esperança jorrando dentro de si enquanto era levada para o quarto. Mas apenas a deitou no estreito colchão, como se estivesse com medo de que a pele dela saísse. Então, sem olhar para trás, afastou-se. Ouviu-o na cozinha, enquanto deliciosos aromas flutuavam até seu estômago agitado. No instante em que iria se juntar a ele, Amjad chegou com uma bandeja, colocando-a sobre ela e mandando que limpasse o prato. Apenas o encarou. Ele suspirou, saiu e voltou com a própria bandeja, e sentou-se na beirada da cama. Ela não sabia como fizera para sua garganta funcionar, apertada de angústia. Após a refeição, preparou-lhe um banho, com outras propriedades curativas. E depois, ela não dormiu. Deitada na cama, quatro horas depois, ouvindo obsessiva cada movimento, observando os segundos se acumularem no relógio digital... — Diga, Maram... Ela se assustou, sentindo-se por um segundo meio-inconsciente. Jogara os lençóis para longe, e vestia apenas sutiã e calcinha. Não havia como se esconder na escuridão, também — o quarto estava inundado pelas lâmpadas a óleo do corredor. Todas as preocupações dela se evaporaram quando o viu na entrada do quarto, metade de seu corpanzil iluminado, a outra na penumbra. Vestia só calças. Tivera apenas vislumbres do corpo dele por baixo das roupas. Nada poderia tê-la preparado para a realidade. E literalmente não conhecia nem a metade. Além de um rosto que faria os deuses chorarem de inveja, seu corpo semiexposto parecia saído de uma fábula do Oriente Médio, uma entidade de pura magia. Suas proporções eram... poéticas, combinando graça, tamanho e agilidade, e um potencial infindável para destruição e proteção. O corpo envolto por um veludo acobreado e adornado por padrões perfeitos de seda, viril. Músculos salientes esculpiam seus ombros, peito, e abdome, pura masculinidade. E havia o impacto de sua postura. Parecia estar na entrada de uma caverna onde um perigo certo e desconhecido o aguardava, com as pernas separadas, o rosto baixo, o peito expandido, os punhos cerrados sobre as coxas tensas. Os lábios e os membros de Maram formigavam. Suas mãos coçavam. Olhos e boca estavam úmidos. Todo o resto do corpo se derretia. 50


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E ele lhe pedira para dizer. Dizer o quê? Quão louca estava por ele? Que esperaria para sempre até ele ceder? Amjad foi mais específico: — Como você não está com medo? Do quê? De amar? Qualquer que fosse a pergunta, a resposta era a mesma: — Sinto exatamente o contrário. — Já demonstrou como é... estupidamente destemida. Em todos os sentidos. Mas deveria ter medo de mim. O coração dela parou. Maram ficou de joelhos, tremendo tanto que seus dentes quase batiam. — Temeria tudo e qualquer pessoa, menos você. — Como pode ter certeza? Sua voz grave perturbou cada nervo dele. Precisava ter muito cuidado. Aquele tigre, selvagem e arisco, dava-lhe uma única chance de se aproximar. Se fizesse do jeito certo, deixaria mais. Seria dela para sempre. Sabia. Mas se fizesse algo errado... — Você pode... — ia dizer o resto da vida, mas resolveu mudar — ...Alguns anos? Vou contar, mostrar como, a cada dia. — E se disser que não mereço sua confiança? — Não se preocupe. Você já a tem. Mas se pensa que não a merece, que tal fazer tudo o que puder, de agora em diante, para conquistá-la? Ele franziu o cenho, e suas pálpebras esconderam aqueles olhos incandescentes que pareciam crestar o ar com um fogo esmeralda. Amjad então ergueu os olhos, como se tivesse chegado a uma conclusão. Então se moveu. Embora o fizesse como um predador à espreita, o coração dela enlouquecia como se ele já tivesse dado o bote. Não que estivesse preocupada. Tudo o que queria era deitar e se ajeitar na melhor posição para ser devorada apropriadamente. Aproximou-se, o perigo irradiando dele. — Deveria estar pelo menos preocupada, por libertar uma força desconhecida, até então dormente. — Quer dizer... que faz tempo que... não tem uma mulher? — Não, não é isso. A frustração a permeou. Parecia que esperava que ele não... tivesse. Não desde que a vira. O que era ridículo. Na verdade, não. Sequer olhara para outro homem desde que o vira. — Mas é verdade, de certa forma. Não tive. Por muito tempo. Quando as notícias disso se juntaram à não gravidez de minha ex-mulher assassina, surgiram rumores de que teria... mudado de time. Uma risada explodiu dela. — Sem essa! Ninguém em um raio de dois quilômetros quadrados teria dúvidas sobre seu time. 51


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— Foi inclusive especulado que havia abandonado o reino do acasalamento de nossa espécie. Mas ouvi dizer que é como andar de bicicleta. Ela balbuciou: — Faz... hã... quanto tempo? Por favor, diga desde que vi você. Apenas a encarou enquanto tentava ler sua mente. Quando ela sentiu que iria explodir de ansiedade, desistiu. — Quanto tempo acha? De repente, ela sabia. — Quer dizer... quer dizer desde... Ele ergueu uma sobrancelha. — Vá em frente, diga. — Desde a sua esposa? Emitiu um som de escárnio. — Cronologicamente, está certa. Mas está errada sobre a parte da minha esposa. Não tinha uma esposa. Tinha um pacto político que desastrosamente se tornou criminoso. Uma armadilha. Então não fique toda sentimental achando que não tive nenhuma mulher desde então por causa de um coração partido. Embora aquilo a fizesse querer pular de alegria, sabendo que não sofrera a crueldade de alguém em quem confiara, tornava a abstinência dele ainda mais... memorável. Balançou a cabeça, atordoada. — Uau. Só... Uau. Amjad bufou, a ironia espirrando daquele som, de seus olhos. — Parece que eu deveria ter dito isso logo de cara. Quem diria que isso era tudo o que precisava para... desencorajá-la? Descobrir meu status sexual disfuncional foi um balde de água fria, não? Encarou-o por um longo instante. E então gargalhou com tanta força que chegou a sentir dor. Maram quase conseguia ver as nuvens negras que sua reação criara na cabeça dele. Antes que um raio a atingisse, apressou-se a explicar: — Muito pelo contrário. Ela levantou da cama, mal sentindo o chão em que caminhava, indo na direção dele. Quem poderia imaginar? Que seria a escolhida para aquele deus libertar seus desejos? Aquilo a fez se sentir invencível, irrefreável, uma deusa da avidez feminina e da sedução. Parou diante dele e seu olhar varreu demoradamente aquele corpo perfeito dos pés à cabeça. Então finalmente, finalmente, tocou-o. As mãos envolveram aquela cintura de aço e o puxaram contra sua pele ardente. Ao sentir aquele contato tão desejado, ela estremeceu, olhando aqueles olhos tempestuosos. — Obrigada por esperar por tanto tempo. Agora me dê tudo. 52


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CAPÍTULO SETE Amjad libertou-se das mãos de Maram e afastou-se de seu abraço. Antes que ela pudesse protestar, começou a rondá-la, como um predador tentando decidir onde fincaria primeiro as presas na caça que implorava para ser abatida. Então parou. E se aproximou por trás. Ela sentiu o corpo dele se apertar em suas costas conforme inclinava-se, impondo a força e a virilidade sobre ela. Então seus lábios tocaram o ouvido dela, e a acariciou à medida que abria a boca, o contato sutil enviando ondas de choque em resposta. — Se quiser tudo de mim, já o tem. Aquele estímulo a atravessou e vazou de seus lábios num choro agudo, conforme ela se virava. Antes que pudesse arrastá-lo para o beijo que tanto desejava, as mãos de seu carrasco em seus ombros a impediram. — Sob uma condição. — Qualquer coisa. — Novamente você dá carta branca para condições que desconhece. — E novamente eu digo: aceito qualquer coisa por você. — Quando ele não cedeu, Maram parou, bufando. — Diga as suas condições. E logo. Uma apreciação letal de sua súplica imperativa se espalhou pelos lábios dele. — Diga exatamente como você quer... tudo o que eu tenho. Ela estremeceu. — Já lhe disse. — Você me disse um monte de eufemismos. Quero coisas específicas. Pôs suas mãos suplicantes nas dele. — Quero cada centímetro de você. Sobre mim, ao meu redor, dentro de mim. Quero ter todas as liberdades com você, cada intimidade. Quero que compartilhemos qualquer coisa que nos leve além do que conhecemos sobre nós mesmos e nossos limites. Quero sua ternura, sua impaciência e ferocidade. Quero toda a amplitude e a força de seus humores, de sua paixão e possessão. Vou me esbaldar nisso, assim como venho me esbaldando a cada segundo com você. As mãos de Amjad seguravam os ombros dela com mais força a cada palavra. Finalmente cerraram-se, assim como os seus olhos, acelerando o derretimento dela. No momento em que achou que a puxaria contra si, afastou-a. Encarou-o enquanto ele caminhou até o outro lado da cama e apoiou um joelho sobre ela. Então, movendo-se deliberadamente devagar, como se enfatizasse a seriedade daquela ação, desenhou uma linha imaginária dividindo a cama longitudinalmente, como se cortasse a realidade. — Cruze a linha, e não haverá volta. Terá tudo de mim. E eu de você. Pensamentos se acumularam com tanta força, tão quentes, que dizimaram sua coerência. 53


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Ele plantou os pés na cama, inclinando-se quase sobre a linha. — É melhor se afastar agora, antes que seja tarde demais. Ela suspirou e sorriu. — Você inverteu as coisas. É o príncipe abandonado. — Serei o príncipe devorador se você não for embora. — Ele deslizou a mão pelo peito e o abdome esculpidos e parou na cintura de suas calças, muito baixas, como se demonstrasse a extensão do que ela teria se ficasse. Seus olhos a encaravam sensual e ameaçadoramente. — Então, o que vai ser? Ela colocou um joelho sobre a cama. — Estamos falando de... coisas picantes? Amjad mimetizou aquele movimento. — E se estivermos? O outro joelho de Maram seguiu, lutando para não voar por cima da cama e derrubá-lo. — Que parte do eu confio em você não entendeu? Novamente a imitou. — E que parte do talvez não deva confiar em mim não entendeu? — Sabe de tantas coisas que desconheço. Não tenho ideia do que vou me tornar no instante em que tocá-lo, e o pior, no momento em que me tocar. Ela pôs a outra mão no lençol antes que a força daquela ameaça carnal a derrubasse. Maram começou a vaguear na cama. — Que tal começar a me contar o que sabe? Como você me quer? Seja específico, por favor. Permitiu que ela avançasse, recuando mais. — Tem certeza de que aguenta? — Ela concordou, esparramando os cabelos sobre o peito. — Desde que colocou os olhos em mim, princesa Haram, comandou cada pensamento meu, e consumiu minhas noites. Entendi o quanto é perigosa quando me forçou a lançar mão de... saídas de autoajuda em sua honra. Quando isso apenas piorou as coisas, subiu ao topo da minha lista de piores inimigos. Teria mantido distância, sofrendo num sarcasmo resignado. Mas não permitiria. Então se você se entregar agora, vou descontar quatro anos de um sofrimento enlouquecedor em cada centímetro do seu corpo. Daí vou desfrutar de cada fagulha de seu magnífico ser. Ela tremia da cabeça aos pés. — E estava... o quê? Falando num idioma que você não entende? Contei-lhe exatamente o que quero. — Aih, mas se esqueceu de uma coisa. Um intervalo. Porque é o seguinte. Quando eu começar, jamais ficarei satisfeito. Isso... isso era muito mais do que ela ousara desejar. Trêmula, ficou a um passo da linha, de tudo que faria a vida dela valer a pena, do futuro do qual Amjad sempre faria parte. Amjad. O homem feito para ela, e viceversa. — Onde esteve nos últimos quatro anos? Também não me satisfarei. Obviamente não conseguiria. 54


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— Não importa o que acontecer? Não mudará de ideia? — Se nada mudou até agora, nada mais irá. Ele levantou a mão, impedindo-a de fazer o movimento final para cruzar a linha. — As palavras, Maram. Eu as quero. A voz grave dele estava carregada de uma vulnerabilidade e com uma necessidade que ela jamais sonhara, quase a levando às lágrimas. Ela segurou o choro e cruzou a linha, envolvendo aquele peito tão agitado quanto o dela. — Se... você não quiser, mudarei de ideia. As mãos dele se fecharam ao redor do peito dela, levantando-a até que seus pés deixassem a cama, até que as pernas se arrastassem no colchão. Segurou-a, admirando-a como se fosse a coisa mais incrível que já vira. Então a abaixou, enterrando o rosto em seus seios. Por longos momentos, achou que ele atravessaria os limites físicos de seu corpo, unindo-se a ele, até que sentiu como se aqueles lábios beijassem seu coração. Quando achou que fosse explodir de verdade, deslizou-a para baixo de seu corpo, cada curva encaixando-se nos ângulos dele até seus lábios se encontrarem. — Maram... — Respirou perto dela. O calor e a ânsia naquela palavra a fizeram gemer. Seus lábios tremeram nos dele. — Sim, sim... Mordeu o lábio inferior dela com força suficiente para cortá-lo, mostrando o poder de sua vontade. O gemido longo e profundo de Amjad a preencheu conforme aplicava mais pressão até ela choramingar, jogando-se na cama, as mãos agarradas ao redor do pescoço dele. Seu peito mal tocou os seios dela no beijo enlouquecedor, demasiado voraz para ser amenizado. Puxava-o com mais força, esmagando os lábios nos dele. A mão de Amjad deslizou incandescente da cintura à coxa dela, enroscando-se embaixo do joelho e trazendo-o até o quadril dele. Então pressionou a ereção no desejo dela, por cima das roupas. Maram arqueou as costas, prendendo a perna com mais força ao redor dele, uma carta branca para o que quisesse fazer com ela. As ondulações dela se transformaram em terremotos quando começou a ter os mamilos sugados, entre gemidos em que dizia seu nome, deixando a pele ainda mais intumescida. — Por favor, Amjad, por favor... Fincou os dedos por entre os cabelos da nuca dela, segurando sua cabeça, e liberando aqueles lábios para espalharem promessas em suas bochechas, pálpebras e queixo. — Eu irei... satisfazer você até não aguentar mais, até nunca mais se saciar. Desejei-a por tanto tempo... por tanto tempo. Então ele afastou os lábios. Antes que ela pudesse reclamar, virou-a de bruços, montando em suas costas. Gemeu de emoção por ser dominada daquela forma, e olhou para trás, encontrando os olhos dele. 55


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O sorriso neles era selvagem. Abriu o sutiã, deslizando-o pelos braços dela. Maram ficou sobre os cotovelos para ajudá-lo, e depois arqueou as costas quando os substituiu por suas mãos quentes e ásperas, e jogou a cabeça para trás, implorando pelos lábios dele. Tomou-os, gemendo dentro dela: — Areeni kamm tebgheemi. Ouvir a exigência em árabe para que mostrasse o quanto o desejava levoua a outro limiar de excitação. Demonstrou isso chupando sua língua em abandono, contorcendo-se por baixo dele, esmagando ainda mais os seios com as mãos. — Abghaki ya, Maram, koll kelmah, koll get’ah, koll naffas. Enti sehr, jonoon. Como se não fosse suficiente ouvi-lo dizer o quanto a desejava — cada palavra e respiração, e que era mágica, pura loucura — os dentes dele morderam seus lábios enquanto os dedos beliscavam seus mamilos. A mistura da confissão e das sensações enviaram um raio até suas entranhas. Empinou-se para poder se virar e capturá-lo onde mais necessitava. — Hadi ma’dobati, este é meu banquete, você é meu banquete, no caso de não ter percebido. Aquietou-se, seus lábios se contorcendo à medida que ele corria as mãos pelas costas dela, primeiro de forma carinhosa, depois em movimentos suaves, e então cravando as unhas até que cada nervo explodisse numa conflagração, até que ela chorasse. — Aih, chore para mim de verdade. — Pressionou sua ereção nas nádegas dela, mergulhando os dedos nos seus cabelos. — Sabe quantas vezes seus gemidos imaginários me enlouqueceram? Quantas penei para não imaginá-la sob mim? Ou quantas vezes quis danificar minhas mãos para que parassem de me dar a sensação de tocar sua pele aveludada? — Bom saber que sofreu tanto quanto me fez sofrer. — Então deixe-me enlouquecê-la mais. Curvou-se à frente, pedindo para que ele cumprisse sua ameaça. Interrompeu-a, e deitou-se sobre ela, mantendo seus olhos cativos. — Sente isso, Maram? O que está fazendo comigo? Advertira-a sobre isso. Sabia de coisas sobre ele que o próprio desconhecia. Ele sabia que jamais perderia o controle. O que estava perdendo era a distância, desde que chegaram, sucumbindo à força do que compartilhavam — o que apenas se fortaleceria. Amjad se levantou. Ela choramingou por perdê-lo. Mas ele não deu tempo para o desapontamento acontecer, virando-a de frente ainda presa entre as coxas. Ela inclinou-se na direção dele. Ele levantou um dedo. — Não me toque. — Isso é uma coisa com a qual não se brinca. Agarrou as mãos dela e prendeu-as sobre a cama. — Não me toque. Para o seu bem. Não sabemos o que pode acontecer, sabemos? — Isso não é proteção. É a punição com a qual me ameaçava. 56


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— Também. — Então soltou as mãos dela e percorreu seu corpo, levando a calcinha até seus pés. Ele então se levantou e ficou imóvel, observando a nudez total dela pela primeira vez. Um delicioso frisson de medo desceu por sua espinha ao ver os olhos dele. Iria despedaçá-la. Se ela não se despedaçasse antes de tanto desejo. — Uma beleza assim precisa ser punida, ya saherati. Ele pegou seus pés, alternando seus lábios neles. Estremeceram a cada toque. Amjad firmou as mãos e fez ainda pior, forçando-a a aguentar a visão e as sensações conforme chupava seus dedos, murmurando de prazer. — Isso é outra coisa que quase me causou acidentes por fantasiar. Quando terminou com os pés, foi para as panturrilhas, trilhando um caminho sensual de destruição em suas coxas. — E quando isso explodia em minha mente, sempre fazia algo drástico. Agora sabe por que sou chamado de príncipe louco. — Mas não precisava. Sempre fui sua, seu bobo magnífico. Ele olhou para cima, seus olhos como dois infernos esmeralda, o cabelo negro caído na testa leonina. Então, com a boca aberta, subiu pelo corpo de Maram, reacendendo cada nervo que ela achava que havia morrido, até que penetrou-a através de sua roupa, curvando-se em seus seios e a apresentando a um novo nível de insanidade. Mordeu e brincou com seus mamilos. — Porque não me diz o quanto pertence a mim? As mãos dela tremeram, falhando ao abrirem o zíper que os mantinha separados. — Não há mais nada... Sou sua... Então me possua. Em resposta, interrompeu aquelas mãos desastradas, aproximou-se ainda mais, e abriu o zíper, lentamente. Muito lentamente... Amjad segurou seu membro, fazendo com que as mãos dela — aprisionadas pelas coxas dele — ardessem de desejo. — É isso que você quer? Maram não tinha palavras para dizer o quanto. Apenas acenou freneticamente. — Bom saber. Porque não pode tê-lo. — Um gemido de frustração escapou dela enquanto ele libertava as mãos. Prendeu-as de volta, mantendo-a afastada, seu sorriso quase fumegante de tanta malícia. — Ainda não. Antes que pudesse contestar sua crueldade, ele deslizou novamente pelo corpo dela até encontrar seu desejo. Agarrou a mão dela e os ágeis dedos exploraram suas partes úmidas. Aquilo a paralisou. Acariciou-a no ritmo das investidas de sua língua. Ela estava em chamas, e a um passo do clímax... Ele se afastou antes disso. Viu-o deitar de bruços na cama, entre suas coxas. Ele apreciou o aroma de sua pele excitada. Aquilo a tirou do torpor e fez com que o arranhasse. — Há quatro anos estou louco, imaginando sua essência e gosto. Que bom que não consegui imaginá-los de verdade, pois teria invadido Ossaylan e a conquistado como prêmio. 57


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Maram estava prestes a dizer o mesmo quando teve as partes íntimas dominadas com um beijo voraz. Gemeu e arqueou os quadris na direção da boca dele, dando-lhe total acesso. Ele começou devagar e foi intensificando, inundando-a de sensações. Levou-a ao limite e parou incontáveis vezes. Quando ela não podia mais respirar ou clamar, Amjad falou de maneira tão próxima que cada sílaba enviou choques por seu corpo. — Agora dê-me a visão pela qual ficava insano só de imaginar. Você, sofrendo com o prazer que só eu posso lhe proporcionar. Ela o fez, ao comando dele. A descarga de anos de ansiedade foi tão explosiva que se contorceu, onda a onda, chegando ao ponto de achar que sua coluna iria se quebrar. Ele não tinha misericórdia, e penetrou dois dedos nela, aumentando ainda mais seu prazer. Não parou até ela se abandonar, satisfeita, aliviada. Observou enquanto Maram tremia pelo que fizera com ela. Muda, saturada de prazer, ainda mais faminta por ele. Mas sabia o que ele esperava. A oferta final dela, depois que a ânsia foi apaziguada. Uma escolha sem pressão. Uma necessidade dele, e não apenas excitação. E se ofereceu. — Amjad, ansiava por este prazer apenas com você. Possua-me, imploro. Faz tempo que preciso de você também. Pôs as coxas dela ao redor de sua cintura, agarrando-lhe os cabelos e preparando-a para o ataque de sua boca, enquanto a outra mão apertava as nádegas. Segurou sua ereção conforme inclinava os quadris dela e banhou-se naquele fluxo, incendiando-a, lutando para conter a ferocidade. — Venha para dentro, Amjad, una-se a mim. Invada-me, ya habibi, preencha-me. As palavras meu amor o açoitaram, e algo pareceu se estilhaçar conforme penetrava-a com a força daquele desejo. Maram gritou, sentindo aquela totalidade excruciante, além de sua capacidade... Rasgando-a... — Sim, Amjad, sim... Descansou dentro dela, inclinando-se para esmagar seus lábios em outro exercício de abandono. Ela se abriu e pulsou ao redor daquela invasão, fazendo-o urrar. — Sahrah. — Jogou a cabeça para trás, chamando-a de bruxa conforme se afastava. Então voltou a penetrá-la, movido pelo acúmulo de anos de frustração. Sua rigidez incitava cada nervo ao máximo. Maram gritou novamente, curvando-se conforme sentia suas intimidades ondularem ao redor dele. Sentia-o por todo o corpo. Então ela se fragmentou, o êxtase pulsando em seus pontos mais recônditos, onde ele mergulhava, irradiando ondas contínuas, apertando-se ao redor dele dentro e fora, abraçando-o, o prazer a inundá-la com a angústia de que aquilo acabaria. Mas não parecia que iria chegar ao fim. — Aih, etmatat’ee, ya Maram. Receba meu prazer. Receba-o todo. 58


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A cada investida, o mundo tremia, difuso, e apenas aquele rosto amado estava em seu foco, tenso de prazer, ávido por ela. — Habibi... Você também. Dê-me todo o seu prazer... dentro de mim... E ele o fez. A visão de seu rosto apreensivo, a sensação de sucumbir ao prazer que ela lhe proporcionava, expandindo e pulsando com a força do clímax. Aquilo a fez chorar, incapaz de aguentar o ápice do prazer. Tudo ficou desfocado, oscilante, e desapareceu... Uma respiração pesada e batimentos cardíacos lentos ecoaram do fim de um longo túnel. O aroma da satisfação inundou seus pulmões. Seu corpo entorpecido voltou à vida. Ela sentiu uma coisa. Amjad. Ainda preenchendo-a, rígido. Maram abriu as pálpebras, que pesavam toneladas, e ele entrou e saiu de foco, Ajoelhado entre suas coxas, a mão segurando um de seus seios, a outra acariciando seus ombros, braços, barriga, acalmando-a. Ela correu um dedo trêmulo por entre seus músculos, até o ponto onde se uniam, antes de olhá-lo, e ver seu rosto com um sorriso provocante e de adoração. — Bom trabalho. — À... sua disposição. A qualquer hora. Literalmente. Garantido. As risadas dele fizeram-na estremecer. Ele se expandiu até a completude se transformar no cúmulo do domínio, uma sensação aguda gloriosa e assustadora. A ideia deles unidos, à mercê um do outro, preenchia-a física e mentalmente. Mas afastou-se, e ela sentiu algo. Ou melhor, não sentiu. Quando achou que ele estava satisfeito... Ele não estava!

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CAPÍTULO OITO Maram ficou sobre os cotovelos e ofegou enquanto levava-o mais fundo, quase até o útero. Os olhos dele se incendiaram quando instintivamente ajeitou seu quadril, procurando completar seu domínio antes de sorrir e se afastar, deixando-a com um longo gemido. — Não quis dizer agora. Sou um monstro, mas não tanto assim. Precisa se... recuperar. — Você... Ainda não! — exclamou ela. — E eu achando que isso aqui... — olhou sua ereção intacta. — ...significava que eu já tinha. Ela balançou a cabeça. Ele sabia do que estava falando. — Parece que não está entendendo. Não me leve a mal, essa era uma das minhas fantasias mais... loucas, fazê-la desmaiar de prazer, e depois dar um tempo. Estou honestamente... orgulhoso de conseguir. De repente, ela sentiu lágrimas se formarem. Dera-lhe tudo aquilo, e pronto. Mas não significava nada. Ele sequer queria tentar novamente, e estava fingindo que era para o bem dela. E por que tentaria de novo? Uma vez era suficiente para ter certeza de que ela não incendiaria seu sangue como pensava. E saber que a maioria dos homens não precisava de ninguém especial para... se satisfazer... tornava tudo pior. Sentindo-se exposta e inadequada, procurou pelo travesseiro, lançando-lhe um olhar depois de se esconder atrás dele. — O que foi? — Nada. Evidentemente. — Encarou sua ereção persistente, a evidência que sublinhava sua falha, embora as entranhas se contorcessem por mais. — Você... já se arrependeu? Ela tremeu. — Você também se arrependeria, se todas as suas expectativas se reduzissem a nada. — A nada? Maram gesticulou trêmula para aquela evidência, o... vazio nela como prova incontestável. — Sabe que sim. Ele baixou o olhar, suas sobrancelhas obliterando a visão. Então passou a mão pelo cabelo, revelando olhos vazios. — Não considerei esta possibilidade. Que você teria gostado, e que não se importaria... — Parou, e se levantou da cama. Amjad vestiu a calça com dificuldade, fechando o zíper sobre sua ereção ainda impressionante. Era banhado pela luz matinal que entrava pelas persianas. Então a 60


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olhou, seu rosto denso. — Então tudo isso foi só para uma... vez? Se isso era tudo o que queria, deveria ter dito antes. Amjad então saiu do quarto, com a testa franzida e os punhos cerrados. Maram permaneceu olhando para onde ele estivera, o coração descompassado. Ele... parecia estar tão... tão... ferido. Mas... se estava, talvez ela tenha entendido tudo errado. Talvez tenha gostado de estar em sua companhia, porém hesitara, temia engravidá-la? Enquanto repassava a cena, parecia que ele entendera as coisas de forma errada também, embora falasse por si mesma. A energia voltou ao corpo de Maram, o que a fez seguir atrás dele. Encontrou-o deitado no canapé, um braço sobre os olhos, o outro pendurado para fora. Sem descobrir a visão, ele disse: — Não se aproxime. Não até toda essa situação acabar. Mas não vacilou, e tocou no braço dele. Ele se desvencilhou e sentou com um movimento impossível, a fúria em seus olhos quase a dizimá-la. — Que diabos você quer agora? Está excitada de novo e arrependida de ter dispensado cedo demais meus... serviços? — Jamais os dispensaria, mesmo sob a mira de uma arma. A descrença ressurgiu das entranhas dele conforme se levantava. Ela pôs as mãos nos ombros de Amjad, mantendo-o no lugar. — Tire suas mãos de mim, Maram. Antes que pudesse se desvencilhar, ela começou: — Estava falando de mim, e não de você. Proporcionou-me... um prazer indescritível, mas então pensei que não te proporcionei o m-mesmo... e... me senti... — os olhos dela se marejaram. — Dei-lhe prazer? E por favor, por favor, seja cruelmente honesto. Preciso saber a verdade. Ele ficara imóvel e seus olhos foram se acalmando, e depois que tirara a conclusão, algo mais se mostrou em seu olhar. Alívio? Pôs as mãos nas dela. — Se me desse mais um pouco de prazer, eu teria morrido. Quase cheguei lá. Acreditava nele, como sempre acreditara. Mas... — Então... por que...? Como...? Ele a pôs no colo. — Parece que só teve experiências com homens... limitados. Eu, como sabe muito bem, sou muito competente. — Achei que não seria... depois de tanto tempo. Tomou-a num forte beijo, que mostrou o quanto aqueles momentos de alienação o afetaram também. — Mas é justamente por ter passado tanto tempo desejando você. Quando finalmente a consegui, decidi exercitar algo que aprendi anos atrás, para que o prazer 61


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não terminasse. Maram gemeu enquanto ele a saboreava do ombro aos seios, agitando seus sentidos. — Não precisava ter terminado. Poderíamos ter começado de novo. Amjad inclinou o quadril, as mãos nas costas e nas nádegas dela conforme a virava. Ela arqueou as costas oferecendo os seios, o cabelo tocando as coxas dele. — Queria que continuasse, e não que acabasse — ele gemeu. — Nunca tentei isso com ninguém antes, mas essa... técnica foi o motivo pelo qual não morri de prazer dentro de você. — É verdade? — Apesar daquela evidência bem sólida, nunca fui tão dolorosamente verdadeiro. As palavras lhe saíam entrecortadas, agora que o cavalgava. — Talvez você... tenha tido escrúpulos sobre... minha sensibilidade sexual... depois de ter ido tão longe... para seduzi-lo... apenas para então receber esta... demonstração idiota de insegurança. — Primeiro, sou incapaz de ter escrúpulos com a sensibilidade de alguém, seja sexual ou não, incluindo você, então não tema nada. Segundo, eu me permiti ser seduzido. Terceiro, agora que sei o que estava por trás deste... incidente interessante, acho sua insegurança idiota meio hilária e carinhosa, considerando a deusa da sensualidade e da sedução que é. Quarto, nunca ouviu falar de tantra? Algo que todos os filósofos do oriente pregam. — Sexo sem orgasmo? Os lábios dele se contorceram, com dezenas de diabinhos dançando neles. — Sem... liberação. É o alcance do grau mais alto de prazer, que gera um êxtase intenso, que pode me fazer continuar... e continuar. Pontuou cada continuar com um beliscão em seus mamilos, e uma estocada mais forte. Mesmo sem penetrá-la, sabia que ele a faria chegar ao clímax novamente. — Não achei que fosse possível... Mas se alguém... é capaz de fazê-lo... é você. Mas... se isso se deve ao fato de estar preocupado, não fique... É seguro. — Estou envergonhado de dizer que isso nem passou pela minha cabeça. Mas é bom saber, no caso de desejarmos... variar. — Oh, sim, por favor. — Ansiava para que a preenchesse, de todas as formas. — Mas por enquanto, literalmente mal posso esperar esse novo conceito. Uma risada reverberou em seu peito enquanto ele se levantou, envolvendo-a em torno de si. — Posso lhe ensinar a técnica, e então poderemos chegar ao infinito. Temos anos para serem compensados. Riu, ávida por tudo que ele pudesse lhe ensinar e compartilhar com ela. Deixou que a ajeitasse em meio às almofadas enquanto a apreciava como se fosse o banquete que dissera. Logo não pôde mais aguentar, e implorou para tocá-lo. Finalmente ele cedeu, deixando que fizesse o que quisesse com ele. E foi mais alucinante que satisfazê-la. Deixava-a acariciar seu rosto, banqueteando-se. Estava perdida em meio 62


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à tentação, em seus murmúrios de prazer, mas a mão dele a deteve. Diante de protestos, alegou: — Posso ser um homem competente, mas não vamos testar minha resistência. Se estiver com vontade, que tal começarmos com a primeira lição daquela técnica? — Ouvi dizer que isso pode ser uma experiência mística, unificadora. — Aih. Nunca acreditei nessa parte antes. — Que tal tirarmos a prova? E pelo resto do dia e da noite, o fizeram. Com cem por cento de eficiência. Maram fora ao céu, e nem precisou morrer. Fizeram amor em todos os lugares, enquanto cozinhavam, comiam, tomavam banho, escutavam música, e até jogavam videogame. Estava deitada sob ele, absorta de contentamento, saboreando-o, quando registrou algo fora daquele casulo. — Ouviu isso? — Além do zunido da felicidade em nossos corpos, não ouvi mais nada. — Exatamente. — Relutante em dizer, como se aquilo só se tornasse real quando falasse, Maram sussurrou. — A tempestade acabou. Ele piscou como se saísse de um transe. — Acabou mesmo. De repente, estava assustada. O motivo de estarem ali terminara. O que compartilhavam acabaria também? Como se em resposta, envolveu-a, o rosto expressando intimidade e provocação. — Que bom que o deserto dignou-se a acabar com seu tormento. Agora posso lhe mostrar o resto do meu covil. Prepare-se para ser devorada em cada lugar que já sonhei em possuí-la. Olhou-o nos olhos, e soube. Nada mudara. Ou mudaria. Amjad olhou para o resto de sua vida. Dava piruetas na chuva diante dele. Tudo que achou que não existia. Feito sob medida para suas exigências. Feminilidade, humor e generosidade, inteligência, honestidade e bravura. Faminta por Amjad. Rodeou-a, saboreando cada ângulo. Vestindo uma de suas camisas, encharcada e transparente, Maram parecia ser a deusa que realmente era. Leve, graciosa, vital. Indomável, irreprimível, irresistível. Dançando no dilúvio que varreu a tempestade, reestruturando o deserto e repondo as nascentes e os poços. Mas era mais que isso. Ela era... tudo. Haviam se passado cinco dias desde que começaram. Nove desde que a trouxe para cá. Ele não conseguia se lembrar de nada antes daquilo, ou do mundo exterior àquele isolamento. Não deixaria interferências externas ou algo mais se intrometer. Precisava ter certeza de que o que compartilhavam seria forte o suficiente para resistir. 63


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Maram esquecera o resto do mundo também, e sequer mencionara voltar para lá. E não falaria a respeito de tal possibilidade. Nos últimos cinco dias, ele fizera o que desejava poder fazer infinitamente — levá-la para conhecer e desfrutar de seu esconderijo, onde se sentia em harmonia consigo mesmo e com toda a existência. Ela estava certa. Funcionavam juntos. Espetacularmente. De todas as maneiras. Agora corria para ele, braços e pernas brilhando conforme Maram se jogava na piscina que se formara na encosta da duna. Agarrou-o e subiu nele, bebendo a chuva em sua pele, incendiando-o. Ele tomou seus lábios, murmurando: — Obrigado. Ela os beijou de volta com uma intensidade que o fazia se sentir desejado até a última célula, fazendo-o acreditar que poderia voar — e voaria, contanto que fosse com ela, contanto que o desejasse também. Percebera que estava banal, insípido e ridículo. Ele se perguntou se seus irmãos eram contagiosos, e se contraíra a mesma doença. — De nada. Por quê? — Por não desistir de mim. — Isso era impossível. Já te amava demais. Ou já sabia que te amaria se permitisse. Agora que se permitiu, sei que estava errada. O que sinto por você ultrapassa o amor. Ana aashagak. Tudo dentro de si se congelou. Maram dera um nome ao que sentia por ele. Mas Amjad não queria. Um rótulo macularia tal sentimento com suas limitações. Ele não queria que aquilo que ambos compartilhavam ficasse preso no molde no qual os rótulos prendiam as pessoas. Ficava perturbado quando o chamava por nomes carinhosos. Habibi, hayati, rohi, galbi — meu amor, minha vida, minha alma, meu coração. Mas os encarava como hipérboles infligidas pela excitação e pelo êxtase. Achou que ela estava contente com o que tinham, sem precisar definir nada. Mas agora definira. E Maram sequer chamara aquilo de amor, o sentimento que ele desprezava. Fora longe o bastante para proclamá-lo de eshg. Algo muito superior a amor, mais abrangente, profundo e inabalável, ainda que impregnado pelo mais carnal dos desejos. — Ei, não fique tão sério. Isso é o que sempre senti. E falar em voz alta não vai mudar nada. Mas mudava. Aquilo apresentava elementos voláteis e expectativas. Estavam bem daquele jeito. Qualquer coisa nova acabaria introduzindo desequilíbrio e a imperfeição. Ele não poderia ter nada disso. — Amor e eshg não existem, mas... — Abraçou-a com mais força. — ...isso que há entre nós realmente existe. E pretendo minar suas profundezas e aproveitar cada centelha. Os olhos dela se encheram de sombras diante da veemência de Amjad, o mel tornando-se túrgido. 64


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O coração dele golpeou suas costas. Precisava que ele ecoasse as palavras dela? A rejeição daqueles conceitos acabaria com a certeza de Maram, afastando-a de um fim que a convencera de que inevitavelmente chegaria? Estava prestes a sucumbir e dar o que fosse preciso para restaurar sua espontaneidade e confiança quando o rosto dela se abrandou novamente. — Aprovo suas ideias, Vossa Intensidade. Que tal uma demonstração? A excitação e o alívio quase o derrubaram. Suspirou e a jogou sobre o ombro. Quase não sentia os pés tocarem o chão à medida que ele a levava para a caverna no final do penhasco da duna, que preparara antes dela acordar. Colocou-a no colchão inflável a alguns metros da entrada da caverna. O vento lutando com a tempestade soprava chuva até quase o centro da caverna, encharcando o colchão. Deslizou sobre ele, rindo ainda mais, amando sua pressa, e o puxou. Ele se deitou entre os braços acolhedores dela, esmagando-a com sua ânsia. — Espero que esteja pronta para a demonstração. Vai ser espetacular. Ela jogou os braços sobre a cabeça e pressionou os seios no peito dele em um abandono agressivo, dizendo: — Braggart. Sabia que estava parecendo um lobo faminto enquanto a provocava. — De acordo com seus níveis de satisfação, estou sendo irritantemente discreto. Arrancou a camisa dela. Maram retribuiu despindo-o das calças de corrida, que agora usava sempre — não suportava mais nada que os separasse. Então avançou e enterrou os dentes e as unhas nele. Adorava como ela se tornara uma competidora de igual para igual em seus duelos. Mas sua excitação varria os sentidos dele, deixando apenas uma fera sob o domínio do frenesi do acasalamento. Ele a pôs no colchão novamente, apartando vorazmente suas coxas. — Entendeu errado, princesa do delírio, esta é minha demonstração. Tenho que manter meu recorde. Sem mencionar as ameaças que estou prestes a cumprir. Seus olhos se encontraram conforme a chuva caía no ritmo de seus corações. E então, como que combinado, assistiram àquela maravilhosa união, à medida que penetrava nas profundezas dela num movimento fluído. Engoliu seus murmúrios conforme Maram rendia-se ao seu membro, sugandoo para um inferno de sensações. O prazer carnal, a realidade, o significado de estar nela, às vezes, era demais. Precisava ceder a tudo isso, penetrar sua essência e consumi-la. Deslizou para fora e a golpeou novamente conforme se inclinava, penetrando-a ainda mais. O prazer o detonava, quase explodindo de suas artérias. Maram esmagou seu corpo no dele como se para fundi-los, levando-o ao frenesi. Golpeava-a, sabendo que somente sua força saciaria as necessidades dela. O calor e a fricção elevaram-se a um ponto em que sabia que ela não aguentaria mais; precisava libertá-la antes que aquele coração martelando sob o dele explodisse. Ajeitou o quadril antes de mergulhar até seu útero. Amjad conseguiu praticar o controle, não só prolongando o prazer, mas porque estava com medo de machucá65


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la, da resposta dela se libertasse todo o seu desejo feroz. E praticariam a incrível experiência juntos, explorando o prazer até o infinito. Mas depois que percebeu que ela conseguiria aguentá-lo, houve momentos em que quis ser bruto e selvagem, sem reservas, só uma brutal posse e lançamentos explosivos de desejo nela. Agora era a hora. Ela sabia disso, e o incitou. — Possua-me, Amjad... Preencha-me. O frenesi o descontrolou. Penetrou-a, um fluxo de êxtase afluindo de seu membro, despejando sua essência nas profundezas da feminilidade de Maram. Mas algo nele dizia que aquilo não os uniria mais do que já estavam... Então, tudo desapareceu. Ouviu apenas seus murmúrios ecoando os gemidos dela, e não sentiu nada além de suas peles unidas, derretendo-se. Quando seus sentidos voltaram, estava escuro e havia parado de chover. Levantou com os braços trêmulos. Ela murmurou, tentando puxá-lo para dentro de si novamente com as mãos fracas. Foi a melhor coisa que já acontecera na vida de Amjad. Muito melhor do que imaginara. Melhor do que merecia? Espantou aquele pensamento. Como já dissera, o que não merecesse, faria de tudo para merecer de agora em diante. Qualquer coisa? Uma voz ecoou. Já se esqueceu de como tudo começou? O orgulho de Zohayd. O pai dela, aquele ladrão. Soa familiar? Soava. Mais do que nunca, tinha que certificar-se de que Maram não suspeitaria dessa bagunça toda. Começando amanhã, ele iria resolver isso. E ela jamais saberia de nada. Tudo dependia dele. Ela espreguiçou-se na cama, gloriosamente dolorida e satisfeita. Ouviu os movimentos de Amjad lá fora. Nada. Virou a cabeça e viu o bilhete na entrada do quarto. Fui alimentar minha outra Dahabeyah. Voltarei para alimentar a felina sedenta que deixei ronronando na cama. Riu, e novamente repassou a vida que compartilharam nos últimos cinco dias. Fora melhor que o paraíso. O Amjad real era melhor do que seus mais exagerados sonhos — e como sonhara com ele. Extasiava-se constantemente com a dimensão do prazer que sentia. Eshg. Aquela emoção que ele vociferara que não existia, apenas para então demonstrar o contrário em tudo o que dizia e fazia... Um ruído a tirou de seus devaneios luxuriosos. Antes de reconhecê-lo, ele encheu sua mente com impressões melancólicas. De chances perdidas. De anos sem Amjad. Então percebeu que era o celular dele, tocando pela primeira vez ali. Sua inquietação se converteu em medo. De que de alguma forma se afastasse dela, como no 66


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atentado. O que era ridículo. Primeiro, é claro que receberia ligações depois de dez dias de ausência. Deve ter desligado o telefone depois de informar a todos que estavam seguros, e voltou a ligá-lo para entrar em contato com a equipe. Todos deviam estar loucos para contatá-lo. Segundo e mais importante, Amjad podia não ter dito, mas era dela. E nada o tiraria de Maram. Ela o deixou tocar. Ele iria retornar a ligação quando voltasse. Mas o toque terminara só para recomeçar quase sem interrupções, histericamente. Talvez fosse uma emergência. Algo que precisava da intervenção dele. Algo que precisaria que voltasse imediatamente. Amjad ainda sequer falara em retornar. Parecia ter esquecido o mundo lá fora. Mas o mundo estava se intrometendo entre os dois agora. Talvez ele não tivesse nenhuma chance senão deixar que isso acabasse com a mágica. Maram levantou-se, vestiu uma camisa dele e saiu. O coração palpitava de pressentimento à medida que se aproximava do celular, como se fosse uma granada sem o pino de proteção. É só um telefone, sua dramática. Apenas leve-o a ele. Pegou-o, olhou para a tela e balançou a cabeça. Como se reconhecesse o número. Enquanto atravessava o corredor até a porta, algo a fez vê-lo melhor e... ela o reconheceu! Era o número do pai dela. Congelou com os pensamentos se atropelando e se confundindo. Devia ter ficado ciente de que a tempestade de areia terminara. Há dias. Devia estar muito curioso sobre o que a mantinha ali. Deveria contar a verdade? E por que deveria? Não fora sincero com ela. E provavelmente ficaria todo paternal e horrorizado. A última coisa de que precisava era que ele se intrometesse em seu relacionamento com Amjad. Já quase o estragara uma vez. E se começasse a exigir que Amjad fizesse aquela coisa honrada, talvez ela tivesse que estrangulá-lo de verdade! Maram inspirou, apertou atender, levou o celular até a orelha e quase teve o tímpano estourado. Afastou o aparelho, em choque. E isso foi antes de decifrar os gritos de seu pai. Chamava Amjad de todos os palavrões existentes na região. Alguns que nem sabia que existiam. As injúrias continuavam a todo vapor. Seu pai estava em pé de guerra. Que bom que fora ela quem atendera à ligação. Depois de muitas tentativas, gritou: — Pai! — Maram, b’nayti! — exclamou. — O que aquele monstro lhe fez? Não me importa o quão poderoso seja. Juro que vou me vingar. Vou fazê-lo lamentar o dia em que a envolveu nisso... 67


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— Pai... Pai! — Teve que gritar novamente para interrompê-lo. — Acalme-se, ok? Ele não me fez nada. Estou bem. Melhor até. Ele me salvou... — Não te salvou. Lá vamos nós. O discurso sobre como Amjad a arruinara, como ele pagaria se não consertasse seus erros. — Sabe que ele me salvou. Mas se está falando sobre depois... O pai a interrompeu, gritando a plenos pulmões: — Não salvou você! Aquele bastardo insano a sequestrou. É refém dele!

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CAPÍTULO NOVE Depois de um silêncio aturdido, Maram ridicularizou-o: — Que exagero. Passaram-se dez dias. Como se nunca tivesse ficado mais tempo do que isso sem dar notícias, ou ainda... — Fiquei desesperado quando soube da tempestade. — Seu pai continuou o discurso como se ela não tivesse falado nada. — Pensei que tivesse morrido, até que descobri que ninguém procurava por Amjad, e então percebi. Era tudo parte do plano dele. Conhece essa região como ninguém e, sabendo que a tempestade estava se formando, tramou para sequestrá-la. Liguei para ele centenas de vezes para negociar sua libertação. Mas aquele escroto nunca atendia. Ninguém de seu círculo me atendia também. Queria me matar de preocupação antes de fazer suas exigências... — Mas que história extraordinária, pai — exclamou, antes que ele tivesse um ataque cardíaco. — Teve uma recaída? Deve estar delirando. — Passe para aquele bastardo. Vamos acabar logo com isso. — Não vou permitir que fale com Amjad nesse estado. Ele ficou em silêncio. Depois daquela explosão atípica, aquilo a inquietou. Antes que pudesse expressar sua preocupação, ele falou, com voz débil: — O que aquela cobra disse para você? — Contou-me o suficiente, mas não falemos de cobras. Sabe muito bem o que você já lhe ofereceu e o que o fez pensar de mim, de nós. — E sou grato por ter recusado e me salvado de minha loucura. Reconheço meus erros, mas isso não salvou você. Não só te sequestrou como conseguiu fazê-la ficar contra mim. Fico doente só de pensar como Amjad tirou vantagem da sua veneração equivocada. Aquilo era típico dele. — Não tirou vantagem de mim. Não sou uma adolescente com queda por garotos perigosos. Amjad é... — ...um louco cruel que não poupará nada para conseguir o que deseja. Só queria que o plano original dele, de me sequestrar, tivesse funcionado, e que não tivesse te enviado em meu lugar. Queria que tivesse te assustado e enojado, em vez de esconder suas intenções reais. Será muito pior quando perceber a profundidade da crueldade e das ilusões dele. Cara. Realmente acreditava nas coisas inacreditáveis que dizia. Mas Amjad dissera que ligara para seu pai e que seu celular não tocara nenhuma vez. Seu pai dizia que, além de não ligar para ele, também desligara o telefone para deixá-lo exasperado. Um deles mentia. E era óbvio. Seu pai. E embora já a tivesse usado — ou tentado usar — para seus méritos, com ou sem seu consentimento, o fato de enganá-la tão apaixonadamente para mantê-la longe de Amjad ainda a feria. 69


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— De agora em diante, mudei de lado. Lide com isso. Maram se assustou. Amjad. Ele fechou a porta, gargalhando. E então parou, o sorriso se esmaecendo como brasas molhadas. Amjad deve ter sentido a agitação dela antes de entender o motivo, o celular caído inerte ao seu lado. A voz do pai no aparelho soava caricata. O coração dela palpitava. Não queria envolvê-lo nisso. Não queria que desprezasse seu pai ainda mais. — Amjad, deixe que eu... O resto de suas palavras se dissipou. Sabia que era o pai dela. Estava estampado em seus olhos. Os de alguém cujos planos foram prematuramente expostos? Antes que pudesse insistir que lidaria com aquilo, Amjad aproximou-se, os olhos pesados de... desculpas? Ansiedade? Angústia? Maram não iria especular. Ele explicaria tudo. Acreditaria nele, como sempre. Ele estendeu a mão em silêncio, exigindo o telefone. A mão dela se ergueu, entregando a situação toda — que de repente parecia que decidiria o curso de sua vida — para ele. Após um instante de hesitação, como se detestasse ter que ouvir aquela voz, ele levou o telefone ao ouvido. Virou o rosto, mas ela vira. A transformação que o acometera conforme se dirigiu a seu pai. Parecia quase... demoníaco. — Cale a boca, príncipe Aal Imprestável. Tem algo que me pertence. Devolva-a para mim e... esqueceremos que isso aconteceu. A única ligação que receberei será a de meus irmãos, dizendo que recobrou o juízo e cedeu. Amjad quase atravessou a tela com o dedo, jogou o celular no canapé, e correu as mãos pelo rosto, enterrando-as nos cabelos. Ela não conseguia sequer tremer. Ou pensar. Se tentasse... O que ouvira, significara, registrara... Então a encarou, os olhos injetados. — Desculpe-me, Maram. Esqueci o som do celular ligado e de levá-lo comigo. Era por isso que se desculpava? Por deixá-la entrar em contato com seu pai e ouvir as acusações? E não por serem... verdadeiras? O mundo dele desabou sobre ela. Eram acusações verdadeiras. Depois de uma eternidade, ela ouviu uma voz. Estranha, e familiar. — Sou uma refém, Amjad? — Não era para você ficar sabendo de nada disso. — Aposto que não, mas agora sei. Parecia querer se ferir por ser tão estúpido em deixá-la descobrir tudo. — Isso é entre eu e seu pai. Não tem nada a ver com você. Com a gente. — Está me mantendo refém para extorqui-lo. Como não tem nada a ver comigo? 70


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— Pare de dizer isso. Não é uma refém. — O que sou então? — É minha... — E parou, incapaz de continuar. Maram então percebeu. Por que não conseguia dizer que era seu companheiro. Mesmo para aplacá-la. Porque não era. Nunca foi, nem seria. Tudo fora uma mentira. Ele falou novamente, suas palavras soando como vidro sendo estilhaçado. — Não importa como isso tenha começado, sabemos que tudo mudou completamente. — Acontece que tudo o que eu achava que sabia era mentira. — Boa parte. O que importa. O que não sabe é irrelevante. — Como pode ser irrelevante se foi tão longe para planejar tudo? O que o meu pai possui que é seu? — São politicagens, sujas e insignificantes. Por favor, fique fora disso. — Como posso, se me arrastou para o meio de tudo? O mínimo que pode fazer é contar pelo quê está me trocando. — Não estou trocando você por nada. Não diga isso. Não pense. — Ouvi você, Amjad. Sua ameaça implícita dizia que o retorno do que é dele, no caso, eu, depende da devolução do que é seu. — Aquilo era apenas para os ouvidos do seu pai. Sabe que faria qualquer coisa para mantê-la a salvo. Balançou a cabeça, atônita. — Achei que sabia muitas coisas. Estão todas erradas. Talvez tudo o que eu saiba. Ele ergueu as mãos famintas para ela. Maram se afastou. Tudo desabava dentro dela à medida que essa nova realidade sobrepujava suas ilusões, o que vivera tão intensamente. E precisava saber. O motivo por trás de tudo. — Não pode ser apenas politicagem. Não há nenhum assunto político envolvendo Ossaylan e Zohayd atualmente. É sobre a GulfTech Futures? Quer as ações que jogou fora e ele adquiriu? — Acha que brigaria por algo tão trivial? — Não é trivial. As ações foram avaliadas em meio bilhão de dólares desde que você abriu mão delas. — Poderiam valer um milhão de bilhões, e ainda não consideraria ir atrás de seu pai. — Não posso mais acreditar em nada do que diz. Olhou-a como se ela tivesse enfiado uma faca em suas entranhas. Uau. Ainda via o que queria que ela visse e sentisse. Mesmo depois de saber da verdade. — Acredite então no que quiser. Abri mão delas porque esse crescimento é baseado em dados falsos que vazaram, e o conglomerado sucumbirá dentro de um ano. Até adverti seu pai, antes de saber qual era o plano dele, a acabar com tudo enquanto pudesse. 71


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— Que plano? — Maram, arjooki, não há motivos para entrarmos nisso. Deveria ter resolvido isso na primeira oportunidade. Mas vou resolver tudo o quanto antes. — Se meu pai recobrar o juízo e ceder. E se isso não acontecer? — Não dou a mínima mais para o que ele faz. Maram... — Apenas me diga! Após um instante de hesitação, contou. Ela achou que nada poderia ser pior do que aquilo que já sabia. Estava redondamente enganada. Seu pai, falsificando as joias do Orgulho de Zohayd, tramando a queda dos Aal Shalaans e o roubo do trono de Zohayd, não se importando com a devastação que causaria em sua busca por mais poder. Era incompreensível que pudesse formular uma conspiração de tamanha magnitude. Conhecia-o bem. Era incapaz de tal frieza e ambição cegas. Mas talvez não o conhecesse tão bem. Como não conhecia Amjad, afinal. — Achou que eu estava participando de alguma conspiração do meu pai? Foi por isso que me sequestrou? — Sabe no que achei que estava envolvida. — Sim, no plano do meu pai para conquistar você e Haidar. Então não precisou nem de uma justificativa para me usar contra meu pai. Todos sempre disseram que é um corsário que faz qualquer coisa para conseguir o que deseja. Acontece que fiquei cega por você. Amjad avançou na direção dela como que para impedir aquelas conclusões, seu rosto tomado pela negação e pelo desânimo. — Foi a única que enxergou quem sou realmente, Maram. Não duvide de tudo sobre mim ou do que compartilhamos. Afastou-se, mortificada. — O que compartilhamos? O acasalamento esperado quando um macho e uma fêmea estão reclusos? Uma aventura sexual entre o príncipe paranoico e a princesa promíscua que ele enlouquecera com seu desejo calculado e... — Não houve nada calculado entre nós desde aquele maldito momento em que apareceu no deserto. Mas se arrepende de tudo que falou e fez? Está dizendo que foi apenas o desejo que manteve você junto a mim, até conseguir derrotar minhas defesas? Seu ar de dor — a injustiça daquilo, a leve e indetectável falsidade, até mesmo agora — a atingiu como um tsunami. Então tudo desabou sobre ela, pulverizando a letargia que a encapsulara até então, dizimando seu corpo e sua alma. Dos destroços, um sussurro escapou de seus lábios. — Acredite no que quiser. Como farei. Acho que o pior em que possa acreditar não será tão ruim quanto a verdade. Amjad cambaleou até ela e segurou seu braço, a agitação em seu toque e olhar chamuscando-a de sofrimento. 72


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— Quer falar em acreditar no pior? Não foi sequer o desejo que motivou você, mas um plano insidioso para mandar tudo para o inferno por sua causa, começando pelo destino de Zohayd, que tal? Prender-me numa teia tão complexa que fui incapaz de ir contra seu pai por medo de te perder, deixando-o livre para tramar a queda do meu reino? No instante em que aquelas palavras saíram, ele quis agarrá-las antes de chegarem aos ouvidos dela. Mas era tarde demais. Ela cambaleou como se tivesse sido partida ao meio, o desapontamento e a desconfiança vertendo como sangue sob o olhar daquele que ela adorava e idolatrava até uma hora atrás. Iria perdê-la. Não podia perdê-la. Tomou-a nos braços, mergulhando seu rosto no pescoço dela, tremendo de pavor. Lutou para afastá-lo, ouvindo suas súplicas: — Esqueça o que disse. Esqueça tudo. Sua luta tornou-se violenta, e Maram estendeu os braços contra ele, como se fosse derreter se não escapasse. — Acha que pensei que tudo isso chegaria a esse ponto? Tinha um plano simples para impedir a catástrofe que o tolo do seu pai está tramando, embora não seja o mentor. Mas você literalmente sobrepujou minhas intenções e tudo dentro de mim, e esqueci como chegamos até aqui. Quero tanto você agora, que chega a doer a cada respiração. — Os olhos dela gritavam: “mentiroso!”. Ele franziu o cenho. — Nunca menti sobre o que sinto por você. — Não. Isso é a única coisa sobre a qual não conseguiu mentir. Não sentiu nada, então não mentiu sobre nada. Imaginara se aquilo poderia voltar para atingi-lo. E voltara. Bem no coração. Poderia dizer o que fosse, e ela ainda acharia que estava mentindo. Por fim, ele deixou escapar um suspiro trêmulo. — Sei que isso foi um grande choque, e daria tudo para... — ...manter-me prestativa dentro e fora da cama até meu pai entregar as joias. Percebo como é inconveniente ser exposto quase no final do jogo. Qualquer coisa que dissesse apenas derramaria ácido sobre as feridas recémabertas de Maram. Era necessário dar-lhe um tempo. Ela se lembraria. De cada palavra, risada e toque que compartilharam. Veria a verdadeira transgressão dele sem o exagero do choque e da dor, e racionalizaria tudo como sempre fazia. E então o perdoaria. Amjad não conseguia pensar em nenhuma outra possibilidade. Deixaria-a partir. Passara por ele como um robô, indo se deitar. E então não ouviu mais nada. Já amanhecia, e Amjad tivera que se segurar centenas de vezes. Para não irromper pelo quarto e parar diante dela, implorando que fosse sua novamente. 73


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— Amjad. Ele se sobressaltou. Maram. — A noite toda, lembrei... Sim. Por favor. Lembre-se, ele gemeu mentalmente. — ...de cada segundo que compartilhamos. De cada palavra, olhar e toque. E quanto mais me lembro, mais a verdade espalha seu veneno sobre tudo o que aconteceu desde que me entreguei à sua armadilha. Não. Ela deveria ver a verdade real. Acima das malditas evidências circunstanciais. Como sempre fazia. — Agora que vejo tudo sob esse ângulo macabro, minha felicidade torna-se patética e fugaz, nossa paixão torna-se humilhante e meu amor, vergonhoso. Amjad levantou-se, horrorizado. — Ya Ullah, la... Maram, matgooli hada... Não diga isso. Não é verdade. — A verdade é que seus planos deram errado, mas os ajustou no último segundo, conseguindo o melhor segundo refém. Você não disse nada, não para me poupar como a um peão inocente, mas porque assim seria mais fácil lidar comigo. Quando percebeu que seria fácil demais, então decidiu se divertir, fingindo resistir às minhas investidas. Não o culpo por isso. Como se diz por aqui, a lei não protege os tolos. — Não é uma tola. O único tolo aqui sou eu. Deveria ter te contado o que estava acontecendo. — E estragar seu joguinho? Achei que tinha lutado para superar seus problemas de confiança e medo de intimidade, que só eu poderia ajudá-lo. Aplaudo sua habilidade em não gargalhar diante da minha estúpida credulidade. — Mas não foi assim... — Então continuou me testando, para ver até onde eu iria. E corri sem hesitar em direção à minha ruína, entregando-lhe o total e completo controle sobre mim. Deve ter achado hilário dizer a verdade, que não deveria confiar em você, enquanto eu proclamava cegamente minha incondicional confiança. — Maram, não foi bem assim... — Quando essa história da tempestade de areia estava prestes a acabar e precisou de outra desculpa para me manter aqui, fingiu sucumbir à minha sedução. — Suas feições começaram a tremer, como os tremores iniciais de um terremoto que iria destruir sua psique. Aquela interpretação o paralisara. Podia apenas balançar a cabeça e arfar sua incredulidade, em silêncio. E Maram irrompeu, como uma barragem rachada, as lágrimas sendo despejadas dos olhos, o rosto distorcendo-se sob uma força que poderia parti-la ao meio, como fizeram as palavras dele. — E teria... feito... qualquer coisa para estar com você. Eu teria... com prazer... morrido por você. Oh, Deus, Amjad... como te amei. Kamm ashagtak. Foi tudo para mim... tudo. E isso me deixou... ainda mais suscetível, não? Mais fácil de ser... manipulada. Estava p-pedindo por tudo isso, afinal. Ele avançou e a agarrou pelos ombros, puxando-a como se a salvasse da beira de 74


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um precipício. — Maram, não! Está indo longe demais... Desvencilhou-se dele com uma violência que o deixou perplexo. Seu choro aumentou. — Agora te odeio igualmente... faria qualquer coisa... para nunca mais te ver. Não quero... nunca mais ver meu pai também. Fui... uma tola em pensar que monstros sedentos por poder como vocês poderiam me querer... a não ser para me usar. Seu choro e investidas furiosas continuaram. — Mas cometeu... um grande erro. Achou que eu era importante para meu pai. Claro, possuo potencial... utilidade e até algum... valor sentimental. Mas ele provou, a você, principalmente, que sou o prêmio que usa em seus esquemas mesquinhos. É um tolo de pensar... que ele não me sacrificaria... por algo que realmente almeja... como o trono de Zohayd. — Não me importo com o que você significa para seu pai, Maram. O que é para mim... — Não sou nada. Não sou nada, e ponto. Não fui nada... para minha mãe, não sou nada... para meu pai. E sou... menos que nada... para você. — Isso não é verdade... — Ouvi você ameaçando meu pai. Dizendo que me manterá aqui até ele ceder. Talvez até me machucando para forçá-lo. — Maram, la! Não! — Avançou novamente, querendo que o atacasse e que arrancasse seus olhos para aliviar um pouco daquela dor. — Nem pense nessas suspeitas. Não as deixe macularem sua mente. — Minha mente já está irreversivelmente maculada. E você... De repente algo muito pior do que qualquer coisa que já vira no rosto dela surgiu. O horror. — Acabou se complicando com meu sequestro improvisado, não? Agora só algo muito drástico poderá te salvar. Só você e seus homens sabem que estive em solo zohaydiano, e pode me enterrar aqui e nada o ligará a meu desaparecimento... Então Amjad urrou contra o medo e as suspeitas insuportáveis dela. — Maram, atawassal elaiki, kaffa, eu lhe imploro... Pare! Não é possível que acredite por um segundo que eu faria isso! Nem mesmo com meu pior inimigo. E ainda com você? Hada kateer, katter w’Ullah, isso já é demais, Maram, demais, não importa o quanto me odeie agora. A angústia dele pareceu apagar sua súbita paranoia. Os olhos perderam aquele brilho raivoso, e a respiração se acalmou. Então, ela sussurrou: — Mas você errou. Meu pai deve ter percebido há muito tempo o motivo do meu sequestro. Se ele se importasse com o fato de eu voltar inteira ou não, já teria providenciado meu resgate. Mas não o fez. E não o fará. Não tenho utilidade para você. — As lágrimas ressurgiram. — Apenas me deixe ir embora. — Não posso, Maram. — Seu plano não... 75


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Vociferou novamente, há muito enlouquecido. — Meu plano que se dane. Ele foi a solução mais pacífica que encontrei, na verdade. Harres sugeriu algo mais drástico, mas declinei. E agora sei por quê. Não quis machucar seu pai. E não posso deixá-la partir porque não consigo. — Não vou contar nada. E sequer vou entrar em contato com ele. Só quero me distanciar de você, e dele, e dessa maldita região, de uma vez por todas. Jamais ouvirá falar de mim novamente. — Maram, b’Ellahi, esma’eeni... escute, imploro... Ela deslizou de seus dedos e se abandonou no canapé, a dor vazando por seus olhos pelo fim de todas as esperanças. Seu sussurro estava tomado pela derrota e pelo desespero: — Tudo o que fiz de errado foi te amar, Amjad. Não me puna por isso. Imploro. Deixe-me partir. Não deixara Maram partir. Mas estava prestes. As horas que levaram para voar de volta à capital, com ela encolhida longe dele, foram um novo tipo de inferno. Levara-a para onde pedira. O aeroporto. Agora caminhava na frente dele, olhando por sobre o ombro de tempos em tempos, como se não aguentasse ter sua sombra por perto. Antes que ela entrasse no terminal central, agarrou seu braço de maneira carinhosa. — Venha comigo, Maram. Minha mansão é enorme, e não me verá se não quiser. Esperarei. O tempo que for necessário. Por favor, fique por perto. — Nunca estive próxima a você. E agora ficarei o mais longe possível até esquecer que existe. Talvez pare de me sentir tão... contaminada. Não conseguia sequer recuar, sentindo-se nocauteado. Poderia fazer apenas uma coisa. Cortar os danos, e parar de receber mais desilusões e ódio. — Ao menos use o meu jato. — Vigilância disfarçada de um gesto pomposo de falso cavalheirismo? Amjad ainda não conseguia entender como ela transformara toda a confiança em desconfiança. Suspirou, desanimado. — Agora acha que sou estúpido e um monstro? Posso ficar sabendo para onde está indo se quiser, não importa o meio de transporte. — Talvez sim, talvez não. Tenho meus recursos. — Vai ao menos me avisar que está segura? — Que tocante. — Livrou-se da mão dele, e foi embora. Mas antes, ainda disse: — Quem liga para segurança? Como se diz na sua região: uma ovelha não se importa se for esfolada depois de abatida. Amjad sentou-se no fundo da limusine, seus últimos momentos com Maram se expandindo nele como ondas sísmicas. Sequer conseguia esperar que o tempo a fizesse enxergar as coisas de forma 76


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diferente. O tempo parecia apenas aumentar seu sofrimento e frustração. Harres ligara para ele, perguntando por novidades. Respondera para que invadisse Ossaylan. Ou que o pai deles esperasse até perder o trono no Dia da Exibição. Harres achou que Amjad estava sendo o arrogante de sempre, e que brincara que ele, o príncipe da coroa, ficaria também sem trono. Amjad contara em detalhes obscenos que não dava a mínima. Perdera Maram. Nada mais importaria. Seu celular tocou. Tinha que ser Harres. Insistindo novamente para que parasse de brincar. O celular tocou repetidas vezes. Atendeu furioso, berrando: — Espero que seja caso de vida ou morte, Harres, e se não estiver estrebuchando... — É um irmão mais velho assustador. — Maram... Não conseguiu continuar. Sufocou com a esperança. De que ela tivesse mudado de ideia. De medo... de que não tivesse. — Só queria informar que estou voltando para meu pai. Milhares de questões lhe inundaram a mente. Mas uma coisa se sobressaía. Alívio. Porque não iria perder a cabeça se preocupando em saber onde estaria. Porque ela estaria em segurança, com sua família, mesmo que fosse com Yusuf. Então, ela completou: — E aí, como tem passado?

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CAPÍTULO DEZ O CORAÇÃO de Amjad acelerou. Maram provocava-o. Algo que ele não sentia desde a infância queimou por trás de seus olhos, quase ameaçando liquefazê-los. Fechou-os com força, e sussurrou: — Estou muito melhor agora, mais do que mereço. Por poder falar com você novamente, mesmo que seja para tripudiar da minha ingenuidade. — Você caiu, não é ? — A voz dela era monótona e vazia. — Na minha cena de colapso. — Tanto que quase cheguei a crer nela. Esperou que zombasse de suas alegações de sentir uma angústia fatal por causa do sofrimento dela. Mas apenas disse: — Pena que seja duro na queda. Ele mordeu o lábio. Sentindo uma agonizante esperança. — Teria sido algo que tenho me esforçado ao máximo para merecer. — Não acredita que enganei você, acredita? — Para que a libertasse e você pudesse voltar para seu pai e continuar seu plano? Não, nem por um segundo. — Então é mais tolo do que imaginei. E um homem comum, afinal de contas. Tudo o que precisei para te derrubar foi um pouco de persistência, alguns comentários estratégicos e lágrimas nos momentos certos. Não houve um pouco de coisa alguma — e sim um dilúvio de tudo isso. Estava destinado a cair de joelhos no instante em que entrei na sua mira. — Interessante colocar tudo tão filosoficamente. Seu prazer em discutir com ela novamente expressou-se num suspiro entrecortado. — Deveria ter me dado uma surra, Maram. Melhor ainda, deveria ter usado um objeto pesado para bater nessa minha cabeça estúpida. — Para descontar minha angústia por ter sido traída por você? Acho que não ouviu nada do que disse. Parece que ficou surdo depois de tanto tempo ouvindo sua própria voz ecoar dentro da cabeça. — Tenho ouvido muito você, mas muito mais do que imagina, Maram. Posso ser intratável, mas ficou perto de mim por tempo suficiente, e se esforçou ao máximo, conseguindo penetrar em minha mente. Reconectou partes do cérebro que nunca mais serão tocadas novamente. Gostaria de ter lhe dado o que tanto queria, ter me enfurecido e gritado por causa de sua manipulação e traição implícitas. Mas não consigo sequer fingir que desconfio de você, nem mesmo para satisfazê-la. O silêncio imperou, até Amjad sentir que esmagaria o celular, tamanha 78


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exasperação. Ela finalmente continuou. — Parece que essa é a única coisa sobre você da qual tenho certeza. É um juiz de caráter muito melhor do que eu, Amjad. Um sorriso tremeu nos lábios dele diante daquela confissão implícita. — Também é muito boa. — Oh, não sou, não. Você me sacou logo de cara. — Eu não... — Apenas fingiu não entender minhas intenções desde o início para eu precisar convencê-lo da minha inocência. O que é mais uma mentira, não? Enfim, agora meus esforços infantis falharam porque não há como voltar atrás nessa fraude. É melhor retornar ao motivo pelo qual liguei. Suspirou, resignado. Não havia como chegar até ela. Não agora. Mas esta ligação lhe dava esperanças de que ainda haveria. — Porque vai voltar para seu pai? Se pode rever sua sentença quanto a arrancá-lo de sua vida, acredito que tenho o mesmo direito. — Nem ele nem você merecem tal oportunidade. Foram as duas pessoas em que mais amei e confiei, e ambos me usaram e abusaram do meu amor e da minha confiança de maneiras que ainda não consigo compreender totalmente. Acho que vou te odiar ainda mais com o tempo. Ele fechou os olhos. Acreditava nisso. — Então pelo menos tente entender... — Claro, entendo. — Entende? — ecoou, confuso. — Havia motivos importantes. — Ela achava mesmo? — Você e ele sempre os terão, em suas mentes, para tomar quaisquer medidas para conseguirem o que quiserem, não importa de quem usem ou abusem. E aprendi que minha capacidade de racionalizar e aceitar, que antes achei que era infinita, acabou. A calma dela agravou ainda mais a dor de Amjad. — Perguntou por que estou voltando. Por um motivo. Para convencer meu pai a devolver suas joias. O coração dele parou. E desta vez achou que não voltaria a funcionar. A sua inacreditável e imprevisível Maram. — Faria isso? — engasgou, ficando zonzo. — Espero que não ache que faço isso por você. Quero impedir meu pai de causar uma catástrofe que sei que não calculou direito, e com a qual não pode lidar. Ponderou aquilo por um instante, chegando apenas a uma conclusão. — Se está preocupada com aquilo em que ele está se metendo e está voltando a agir como a consciência dele, então o perdoou. — Não perdoei. E não perdoarei. E também não estou fazendo isso por ele. Estou fazendo isso porque, diferente de vocês, não sou cega de ambição. Penso na região inteira. Posso desejar que ela vá para o inferno, mas, racional e humanitariamente, não posso deixar que a situação exploda em guerras tribais que só levarão à destruição. 79


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Exatamente o que ele achava de toda a situação. Mesmo que ela acreditasse que ele pensava apenas em seu futuro trono. — Mas me conhece muito bem, e provavelmente sabia que faria isso assim que me deixasse partir. Certamente me deixou ir por causa disso. — Espera aí.... — Mas talvez não me conheça tão bem. Se conhecesse, saberia que não precisava me sequestrar, mas apenas explicar a situação para obter minha ajuda. Teria voltado e pressionado meu pai até ele entregar as joias. Mas tudo bem. Farei isso agora. Ligarei assim que ele as devolver. A necessidade de entrar celular adentro, tirá-la daquela desilusão e confortá-la quase o sufocou. — Espera mesmo que as entregue? — Se ele realmente não possuir um cérebro e resistir, farei algo drástico. Direi que estou grávida, e que o filho é seu. Antes que seu coração pudesse voltar a bater, o telefone ficou mudo. A agonia, a saudade e o arrependimento ecoaram na cabeça de Amjad, quase a partindo. Perguntara-se, quando Maram correu para a sua armadilha tão facilmente, que tipo de catástrofe o aguardaria como compensação. Achara que tinha sido a descoberta de seus planos. Aparentemente, aquilo fora apenas o início. Ela observava a opulência do gabinete de seu pai. Parecia que outra pessoa habitara seu corpo na última vez em que estivera aqui. A Maram que embarcara naquela viagem rumo a Amjad não retornara. Passos apressados ecoaram sobre o piso de mármore do palácio antes de as portas se abrirem e seu pai irromper por elas. Encarou o homem que significara tudo para ela desde os 12 anos. Alto, esguio e distinto, com aqueles olhos que eram como espelhos, as entradas definindo suas têmporas e a barba prateada aparada. Antes de conhecer Amjad, aquele era o homem mais magnífico da Terra. Sim, era descaradamente a filhinha do papai. Pena que ele nunca fora o papai da filhinha, como acreditara tão estupidamente, mesmo tendo provado o contrário diversas vezes. Observou-o por detrás de sua nova barreira de frieza. O rosto de seu pai tremeu enquanto a abraçou com um alívio debilitante, simulado, e uma ansiedade exasperante. — Maram, b’nayti. Você está... Afastou os braços dele calmamente. — Não graças a você. Estaria fossilizada no deserto se dependesse de você. Os olhos dele se arregalaram. — Como pode dizer isso? Estive em constante negociação com Harres e Shaheen. Estudou-o com distanciamento, reparando o quão diferente ele era sob o prisma imparcial da desilusão. 80


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— Certo. Negociando tudo, menos o meu resgate. Deu um passo urgente em direção a ela. O olhar frio de Maram abortou seu ímpeto. — Implorei a eles que convencessem Amjad a devolvê-la. — Claro. Do fundo do coração dele. — Era tudo o que podia fazer. Não podia pagar o resgate. — Não queria, quer dizer. — Não, não podia. Não é o que está pensando. — Quer dizer que não tem nada a ver com o roubo das joias do Orgulho de Zohayd e a falsificação delas. — Não... não foi o que quis dizer. — Não seja tímido, pai. Fale de uma vez. — Não entenderá, Maram. — Entenda uma coisa. Amjad fingiu me sequestrar para assustá-lo a ponto de devolver as joias. Mas como não valho praticamente nada, vou contar por que deve devolvê-las: estou... — Cuspiu aquela palavra antes que destruísse seu casulo de frieza. — ...grávida. Cambaleou como se tivesse tomado uma surra com um taco. — O quê? — Isso é tudo que sempre quis, não? Usar-me como entrada para a piscina de genes dos Aal Shalaans? E quando desistiu disso, resolveu partir para uma conspiração. Mas agora, por meio da sua influência sobre o futuro rei, também conhecido como seu futuro neto, terá o domínio sobre Zohayd que sempre desejou, e sem irritar alguns dos homens mais poderosos do mundo e jogar a região numa guerra cuja primeira baixa provavelmente seria você. Seu pai pareceu envelhecer duas décadas diante dela. — Não... Não é bem assim. Só estava buscando o melhor para você. — O melhor para mim seria roubar o trono de Amjad? — Quero dizer quando eu... ofereci você a ele. O mundo pode achar que Amjad é louco, mas eu sempre achei que era o único louco suficiente por você. Então planejei que se encontrassem, e soube logo de cara que estava certo quando ele olhou para você com um jeito que jamais vira em seus olhos. Procurei-o porque sabia que jamais daria o primeiro passo. Recusou a minha oferta, mas sabia que estava resistindo aos seus verdadeiros desejos. Continuei tentando porque você também achava que era o único homem que servia. Fiquei perturbado quando falhei, e ainda mais quando achei que estava completamente equivocado quando ele a raptou. Maram contemplou as revelações do pai. — Então não esperou ganhar nada dessa aliança? — Não disse isso. Ossaylan não chega nem perto do poder de Zohayd, e preciso de toda a proteção possível para manter os predadores afastados. — É por isso que você mudou seu alvo para Haidar depois que desistiu de Amjad? Ele... ficou ruborizado? — Essa... não foi uma ideia minha. 81


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— Não desperdice nosso tempo dizendo que foi ideia de Haidar. Ficou ainda mais vermelho. — Não. — Só.... não? Tudo bem. Não é por isso que quero que se responsabilize, afinal. — Não estou por trás do roubo das joias do Orgulho de Zohayd. — Seus olhos tornaram-se ainda mais suplicantes. — Sou apenas a... ferramenta. — Não importa o que seja. Financiou a coisa toda, está com as joias... — Não estou! Encarou-o. E não importava o quanto sua fé nele estivesse perdida, Maram tinha certeza de uma coisa. Ele estava dizendo a verdade. — Você acreditou que eu estava com elas e que não as troquei por você? — perguntou. — É isso que pensa de mim? Tentei entrar em contato com Amjad para dizer isso. Jurei para os irmãos dele. — Ok, pai. Conte-me a história toda, desde o começo. — Sabia que meu pai já foi um Don Juan? Amjad observou Maram entrar em seu escritório, e as algemas que colocou para que não corresse, jogasse ela sobre o ombro e a levasse para sua cama ameaçavam se partir. As cinco horas que levou para chegar à mansão dele, depois de ter ligado dizendo que precisava discutir cara a cara algo muito importante, arrancaram-lhe mais uma camada de sanidade. Ele não ligava. Para Yusuf ou para as informações. Só se importava com fato de... — Sinto a sua falta. Maram parou, com uma neutralidade enlouquecedora. Amjad acabou com a distância entre os dois. — Sinto falta de tudo. A saudade está me consumindo, Maram. E faz apenas um dia que não a vejo. Dois desde a última vez em que a toquei. — Chama-se frustração. Precisa transar. Embora a recusa tenha sido cruel, aquilo o divertira, como tudo que dizia. — Mas vou. — Esperou por uma reação. — Quando conseguir me aproximar de você novamente. Ela se afastou. — Sem chances. Mas ainda há como salvar o seu trono. Enfiou as mãos nos bolsos para se impedir de agarrá-la. — Conseguiu que o príncipe descerebrado lhe entregasse as joias? — Não, mas ele disse quem está com elas. Sua rainha. — Sondoss? — Isso. Não acredita em mim? — Se crê nisso, para mim é o suficiente. A expressão dela dizia que não gostara daquela bajulação. 82


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— Claro, até porque não tenho um histórico de acreditar nas maiores mentiras. — Acredito em você, Maram. Mas ela claramente não acreditava nele. — Pelo menos acredita que eu creio nisso. Ou talvez acredite em qualquer coisa sobre sua madrasta, aquele monstro devorador de entranhas. — Teria sido minha primeira suspeita sobre qualquer coisa hedionda, se ela não tivesse tanto a perder quanto nós. Assim, acredito em você apesar do conflito de interesses ser inexplicável. Aquela Lady Macbeth fritaria bebês se isso lhe fosse útil. — Está disposta a destruir toda a região. E com o bônus de dizimar seu pai, você e seus irmãos, a quem odeia com uma paixão que supera de longe seu repúdio coletivo. Ele balançou negativamente a cabeça. — Depois que ela teve Haidar e Jalal, tenho certeza de que teria tramado nossas mortes se isso tornasse seus filhos os novos herdeiros. Mas mesmo que caíssemos mortos, a sucessão seria negada a Haidar, Jalal e a seus filhos devido a antigos postulados que dizem que somente príncipes zohaydianos de sangue puro podem ascender ao trono. Sendo mestiços, não ocupam sequer o quarto ou o quinto lugar na linha de sucessão. Se fossem, Sondoss teria sido minha única suspeita. — É aí que entra meu pai. Uma história. Ansiava por um de seus contos mirabolantes. Amjad sussurrou: — Conte-me, Maram. — Meu pai disse... — Sua seriedade dissolveu-se num sorriso. — ...que fora amante dela. — Eca. Parece que ele possui partes do corpo que compensam sua falta de cérebro, para poder se acasalar com aquela... criatura. Ouvi dizer que meu pai ainda está se recuperando dos encontros que resultaram em Haidar e Jalal. — Disse que ela o manipulara quando estava na pior, depois de eu ter deixado Ossaylan, e que se arrependeu amargamente. Aparentemente, tudo começou antes de ela se casar com o rei Atef. Seu histórico, junto com sua... maleabilidade, entre outros critérios, foi o motivo pelo qual se fixou nele como a peça principal de seus planos. — Ela o coagiu a providenciar os fundos que não podia conseguir sem que você suspeitasse. A outra função de meu pai seria no Dia da Exibição, para apresentarse como o novo regente escolhido pelo Orgulho de Zohayd. Assim que fosse coroado, planejava se divorciar de seu pai e casar com ele, continuando a ser rainha de Zohayd, e se tornando rainha de Ossaylan também. Ela então criaria novas leis, tornando seus filhos elegíveis para a sucessão. Forçou-o a perseguir Haidar para ser meu marido para que pudesse herdar ambos os tronos, mantendo o novo super-reino dentro da grande e feliz família. Isso explicava tudo. E o mais importante, a obsessão do pai por Haidar. Mais uma prova de que ela não era culpada de nada do que imaginara. Não que ele precisasse de mais provas. — Quase a admiro. Que cobra suprema. Engenhosa. — Foi quando ele disse que não iria mais em frente com o plano que ela se apresentou como mentora da atual noiva de Harres. Queria que você se virasse contra 83


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ele, forçando-o a se defender e executar os planos antes do Dia da Exibição. Mas você não fez nada, e ninguém sabia que tinha me sequestrado. E ela continuou sem lhe dar espaço. — Deve estar esperando seu próximo passo, ainda que precise ficar fora da história para manter a imagem cristalina como rainha de Zohayd. Mas acredito que se for encurralada talvez possa desistir, ou ainda destruir as joias, as evidências contra ela. Então fiz meu pai contatá-la e dizer que você o ameaça, e que não tem escolha senão fazer o que ela quer. Deve estar se sentindo segura agora — o que faz desta a melhor hora para o ataque. Amjad sentiu o coração crescer, como se fosse envolvê-la. Mesmo depois de partir o dela, Maram deu-lhe tudo que precisava para acabar com essa bagunça. — Obrigado. Ela encolheu os ombros, e virou-se. Amjad segurou seu braço. — Vai ficar aqui enquanto planejo meu ataque e o coloco em prática? Achou que ela recusaria imediatamente. Mas apenas assentiu. Será que um dia ele conseguiria prever suas reações? E pela próxima hora, ficou sentado no sofá, lendo arquivos conforme organizava um cerco indetectável sobre a rainha e seus lacaios, e então ligou para seus irmãos. Vieram um após o outro, surpresos e felizes em vê-la. Mas foi a recepção de Haidar que fez o sangue de Amjad ferver. — Maram! — Haidar correu até ela contente, seus olhos cheios de malícia e intimidade. Ela se levantou para recebê-lo. Haidar a abraçou, levantando-a do chão, e beijou-lhe cada bochecha. Ver o corpo do irmão envolvendo-a daquela forma — do jeito que ele não podia mais — deixou-o furioso e frustrado. Estava prestes a arrancá-la dos braços dele quando ela levou uma das mãos, trêmula, ao rosto de Haidar e disse: — Sinto muito. — Deveria sentir mesmo — disse Haidar, indulgente. — Recusou dois convites consecutivos para o cinema. Mas enfim, gosto quando está arrependida. Sabe compensar. Amjad interveio: — Maram sente muito por causa de uma questão um pouco menos trivial. Descobriu a identidade do mentor por trás da conspiração para depor nosso pai. Sua adorável e venenosa mãe. Haidar encarou-o boquiaberto. Ele pôde sentir Jalal fazer o mesmo. Mas eram os olhos de Maram que o queimavam, por lidar com a situação com tamanha insensibilidade. Arrependera-se, também. Mas a visão da intimidade dela e de Haidar tirara-o do sério. — Do que está falando? — vociferou Haidar, a crueldade, como legado de sua mãe, vindo à superfície. — E que diabos isso tem a ver com nossa mãe? — Agora foi a vez de Jalal. — Parece que sabe de tudo. Porque você não nos contou nada? Como o irmão do meio e o mais chegado aos meio-irmãos, Shaheen interveio. 84


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Contou da maneira mais neutra possível as coisas terríveis que a mãe deles fizera. — Sinto muito termos escondido essas coisas de vocês — disse Shaheen. Mas tudo parecia ter a ver com Johara e Talia, e queríamos envolver o menor número de pessoas possível. Não contamos sequer ao nosso pai. — Besteira — gritou Haidar, parecendo ter sido apunhalado no coração. — Não nos contou nada por não fazer diferença, já que não somos os malditos herdeiros do trono. — Ou pior — completou Jalal. — Porque acharam que estávamos participando dos esquemas da nossa mãe para nos tornarmos herdeiros. — Jamais acreditamos nisso — falou Harres pela primeira vez, o que sempre acabava com as brigas entre irmãos. — Ou não estaríamos contando nada agora, antes de... — fez uma pausa, odiando ter que contar isso a eles. Então suspirou, pedindo desculpas com o olhar. — ...de a prendermos. A gravidade da situação pareceu cair sobre Haidar e Jalal. Permaneceram imóveis sob o peso de tudo, encarando os irmãos, o choque e a negação dando lugar à tristeza. Pareceram entrar num acordo silencioso e encararam os outros, Haidar olhando para Maram como alguém que perdoa a decisão de um médico de amputar um membro. Então correu até ela. — Desculpe-me, Maram — sussurrou em seu ouvido. Amjad não se importava se Haidar achava que seu mundo estava caindo. Se não tirasse as mãos de Maram, se ela não se afastasse dele agora, ele... — O que estão esperando? — O grito de Jalal o tirou de seu transe agressivo. — Acabem logo com isso. Ela observou com um fascínio horrorizado à medida que o plano meticuloso e impiedoso implementado por Amjad funcionava. A rainha Sondoss foi pega de surpresa e presa sem nenhum incidente. Pareceu fácil demais. Mas conforme Maram observava a figura imponente e impecável da rainha de Zohayd, que parecia uma fortaleza incrível e perfeita aos 42 anos e cujo nome significa a mais luxuosa das sedas, embora aparentasse ser feita de navalhas de aço, sabia que a situação não poderia ser tão simples quanto parecia. Após o choque inicial e o pânico ao ver os homens da família Aal Shalaans — incluindo o rei Atef — invadirem seus aposentos, após perceber que estava sendo desmascarada, Maram quase pôde ouvir o intelecto assustador de Sondoss maquinando uma saída. Ao encontrá-la, ela se levantou do computador com uma graça e uma tranquilidade estudadas e precedeu-os ao sair do quarto, lançando a Maram um olhar aniquilador e compassivo. No interrogatório, Sondoss inspecionou a perfeição de sua manicure, seu impressionante rosto despido de qualquer emoção, não deixando escapar nada. Haidar e Jalal, percebendo que ela não confessaria o paradeiro das joias por nada, nem pelo próprio bem-estar, apostavam que o faria em troca do bem-estar 85


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deles. Encarou-os como se fossem duas crianças implorando por doces que estragariam seus dentes. E então falou, a voz rouca tão impressionante quanto repulsiva. — Vocês me agradecerão futuramente, meus queridos. — Então os dispensou, voltando-se para os outros homens. Lançou um olhar sinistro ao marido antes de se fixar nos outros filhos detestáveis dele. — Seus garotos mimados, podem me prender, e vou ficar na minha cela até o Dia da Exibição. Quando não tiverem nenhuma joia para exibir, serão depostos. Quando alguém tomar o poder, todos que foram aprisionados por seu regime serão soltos. Posso não continuar sendo rainha, mas terei as joias que podem me comprar um novo reino. Mesmo se não o fizer, serão suficientes para arruinar a vida de vocês e tirar o trono e o reino de sua família.

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CAPÍTULO ONZE Enquanto os dias se transformavam em semanas e Amjad e seus irmãos corriam contra o tempo, vasculhando todos os lugares em que a rainha pudesse ter escondido as joias, Maram permaneceu no palácio. Ele aproveitou todas as oportunidades para se aproximar dela. Mas, para seu horror, ela tornou-se cada vez mais próxima de Haidar. Não ligava se eram melhores amigos. Não esperaria até que a necessidade de consolo os jogasse um nos braços do outro. Não podia deixar que isso acontecesse. Pelo bem de Haidar, na verdade. Preferiria não ter que matar seu próprio irmão. — Fique longe de Haidar. Ela tremeu quando entrou no quarto. Pressentiu-o antes de ouvir seu murmúrio no escuro, como um leopardo à espreita. Maram acendeu a luz, lutando para não desmaiar. Estava deitando sobre os cotovelos na enorme cama onde ela dormira sozinha. Parecia pequena comparada ao corpo de Amjad. — Só estou dizendo — murmurou, enquanto suas pupilas se constringiam naquela piscina hipnótica. — Se quiser que ele ainda tenha aquele rosto que as mulheres dizem que faz até os anjos terem inveja. Desviou o olhar da beleza dele, tentando superar o choque de encontrá-lo ali. Imaginou como ele estava lidando simultaneamente com as investigações, seus negócios e assuntos de Estado. Odiou-o ainda mais a cada pontada de tentação que ameaçava destruir seu autorrespeito, querendo que implorasse por ele. — Haidar é magnífico, não? A versão masculina perfeita da beleza sobrenatural da mãe. — Então pense que estaria salvando o presente dos deuses para as mulheres. Olhou-o através do espelho. Mesmo pelo frio reflexo, seus olhos desmentiam a zombaria na voz, a indiferença em sua pose, atingindo-a ferozmente, possessivos, famintos, suplicantes. Certo. Sabia o que ele tentava fazer. Mas isso não salvava sua mente. Do desejo de deitar-se naquela cama, de arrancar as roupas dele e perder a cabeça novamente. — Que variação singular de um homem das cavernas. Você é... quem mesmo? Para dizer o que posso ou não fazer? — Sou o único homem que já amou. — Amjad endireitou-se. — O estúpido que está punindo pelo ridículo plano que ele esquecera completamente na primeira vez em que a tocou. — E sou a mulher que disse que não quer vê-lo nunca mais. Estou aqui como parte do time do Orgulho de Zohayd, e não do time de Amjad. 87


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— Contanto que não seja do time de Haidar, tudo bem. — Levantou e se aproximou dela. Quando estava a um passo, estendeu a mão para tocar seu rosto. Ela se afastou, amaldiçoando-o pela tempestade em seu peito. Ele suspirou. — Não é hora de parar com o drama? — Drama? Porque ser sequestrada e passar o tempo todo sendo seduzida por seu sequestrador é algo que se supera em alguns dias. — Já se passaram três semanas. Três malditos séculos de agonia, tensão e vontade de matar meu próprio irmão. Já me puniu o suficiente. — Quem disse? Você? O príncipe autossuficiente? — Ok, puna-me o quanto quiser. Só me dê uma maldita data para me perdoar. No próximo mês? No próximo ano? Na próxima década? — Uau, essa é nova. Agendamento de perdão. E que tal nunca? Ele cruzou os braços sobre o peito massivo. — Sabe que jamais aceitarei nunca como resposta, Maram. — Que pena, pois essa é a única resposta que receberá. E não estou dizendo isso para fazê-lo tentar com mais afinco. — Prometeu que nunca mudaria de ideia. — Jamais mudaria de ideia sobre o Amjad que achei que você era. Prometi isso a ele. Maram virou-se para a porta para fazê-lo sair, para escapar. Ele a deteve. Não com as mãos. Com uma pergunta angustiada. — Realmente desistiu de mim? Ela quase se engasgou de remorso. Desistir dele era como desistir de tudo que ela sempre quis na vida. — Eu deveria ter feito isso há muito tempo. Enfim, vivendo e aprendendo. — Não pode, Maram. Não desista de mim. — Posso. E já o fiz. — Viu coisas em mim que ninguém mais enxergou, coisas reais, que lhe falaram e satisfizeram. — Eu me iludi. Aparentemente, você pode acreditar em qualquer coisa que deseja muito que seja real. — Porque sou um ótimo leitor de personalidades? Não. — Porque você é. — Claro. Há um mês era um súcubo, uma comedora de homens. — Há um mês era isso que sabia sobre você. Agora eu a conheço. E a Maram que conheço não pode simplesmente desligar seu eshg, que confessou sentir por mim, assim. — O que sentia por você se baseava numa montanha de equívocos. Amei um homem que dizia tudo o que pensava na minha cara, que jamais escondeu suas opiniões e intenções. Confiei nesse homem. Respeitava-o. Você não é ele. É um trapaceiro frio e calculista, como sua ex-mulher e sua madrasta mafiosa. E o bastardo sorriu! — Aih, não pare. Desabafe. 88


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— Já terminei. — Abriu a porta. — E está de saída, príncipe Amjad. — Não quer dizer Abghad ou Awghad? Escute o seu coração. Ainda está brava. — Não estou brava. Estou... desiludida. A névoa encantada que te cercava já se dissipou. A ligação que achei que tinha com você... nunca existiu. Fechou a porta e a colocou contra ela, seu rosto um verdadeiro estudo sobre a perfeição e a paixão. — Existe sim. Esteve presente em todos os segundos, quando brigamos, rimos, fizemos amor... Maram desviou o rosto à medida que ele aproximava o dele para capturá-la. — Oh, não. O amor não existe, como você mesmo falou. Uma de suas verdades convenientes. — Encarou-o, odiando-o por deixá-la tão fraca, tão indefesa. — Não me deixe enfurecida com esses eufemismos. Ele sorriu e acariciou o rosto dela com um dedo, queimando-a. — Quer dizer que não está furiosa ainda? E não disse nenhum eufemismo. O que sinto por você... Ela o afastou. — O que você sente? Santa suspensão de descrença. — Acabe logo com isso, Maram. — Com prazer. Adoraria acabar com você. O sorriso de Amjad tomou conta do seu rosto à medida que ele pressionava seu corpo no dela. — Sim, Maram. Acerte-me com seu sarcasmo. Machuque-me para valer, como quiser. Isso prova que ainda me a... Ela deu-lhe um soco. E quase quebrou a mão na mandíbula de Amjad. Gemeu enquanto cambaleou para longe, chacoalhando a mão. — É mesmo feito de pedra. Ele moveu o queixo para os lados, como se para certificar-se de que ele ainda estava no lugar. — Desculpe se meu queixo machucou sua mão. Sugiro novamente que me acerte com objetos pesados. — Não brinque comigo. Acabou. Ele correu para o banheiro, sentindo que pisava sobre o próprio coração. — Então era tudo mesmo um plano, desde o início, mas não o que pensava. Deixar o louco irrevocavelmente de quatro, e então fazê-lo rastejar, de preferência sobre cacos de vidro. É mesmo uma femme fatale. Maram se voltou. Ele sorriu malicioso, conforme a levava do banheiro de volta à cama. — Fiz você olhar para mim. — Idiota. — Deixou-se cair. — Nunca disse que não era idiota. Mas você piorou as coisas. Parecia mais me amar quanto mais eu agia como um. Empurrou-o, mas ele apenas tomou impulso para beijar seu pescoço. Ela sentiu se corpo derreter, como o gelo em seu coração. 89


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Não. Não se renderia novamente. Maram agarrou os cabelos dele e tentou afastar aqueles lábios incendiários de sua pele. — Acredite em mim, Maram — gemeu enquanto apertava suas pernas e a encaixava sobre o quadril, fazendo-a sentir sua ereção. — Nunca menti sobre meus sentimentos por você. Nem por um segundo. — De novo: quais sentimentos? — disse ela, tentando não se entregar. — Por mais que doa perceber isso, e mais ainda admitir uma coisa dessas, não estou morto por dentro. Ela afastou o rosto, em busca de ar e do senso de autopreservação que evaporara. — Sim, claro. Era o belo adormecido, e despertou de uma longa hibernação quando eu o beijei. O sorriso de Amjad era a encarnação da indulgência. — Exatamente. Então a arrastou para as profundezas de sua possessão. Maram começou a implorar, e um mecanismo de sobrecarga foi acionado, fazendo-a murmurar as únicas palavras que poderiam salvá-la. — Haidar e eu... anunciamos que vamos nos casar... hoje. A DECLARAÇÃO explodiu na cabeça dele como um tiro. Afastou-se, encarando-a. Nem em seus piores pesadelos poderia ter... Fincou os dedos nos ombros dela, sentindo que iria se desmaterializar se não a segurasse, e ouviu o grito que escapou de seus lábios. — Você se casará com Haidar sobre meu cadáver. E sobre o dele também. — Tsc... que bom saber que não é contra a minha morte. Levou alguns segundos para reconhecer aquela voz que o provocava. Curvando-se sobre Maram para protegê-la, para mantê-la longe do irmão que de repente se tornara seu pior inimigo, olhou por sobre o ombro. — Vá embora, Haidar. Do reino. Não diga a ninguém para onde vai. Ela se debateu e Amjad a deixou se levantar, sentindo que se fosse até Haidar, tudo realmente acabaria. Puxou-a de volta enquanto ajeitava as roupas. — Não vou deixar que faça isso, Maram. Retirou as mãos dele, erguendo-se novamente. — Não tem que permitir nada. Farei o que quiser! Ele ficou entre ela e Haidar. — Não pode fazer isso conosco. — É meio estranho vê-lo ficar todo territorial, Amjad. — Ele avançou para o irmão, que se esquivou. — E achei que você não ligava se alguém, especialmente do sexo feminino, vivesse ou morresse. Lá se vai outro pilar de sustentação das minhas crenças. 90


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— Isso é muito mais complexo do que sua mente atrofiada pode lidar, então caia fora. — Não é hora de você parar com o drama? — Amjad voltou para perto dela. — Agora que tenho sua atenção, deixe-me falar dos detalhes... — Maram, isso é loucura. Pedi para que me punisse, e não que me exterminasse. — Nunca achei que fosse dizer isso, mas estou com pena de você. Adoraria provocá-lo um pouco mais, mas do jeito que está, é capaz de ainda fazer alguma besteira. Então acalme-se, certo? Nosso romance é para o bem da minha mãe. — Agora... os detalhes que seu teatrinho interrompeu. — Voltou-se para Maram, sentindo-se como uma bola de tênis arremessada de um lado para o outro. — Armamos essa união para fazê-la acreditar que seu plano original está funcionando. — Porque ela não acreditaria que ficaria contra você por vontade própria — disse Haidar. — Temos que convencê-la de que Maram, que agora o odeia profundamente, simpatiza com os planos dela, e que me deixou cego de paixão a ponto de fazer o que ela desejar. Ele se virou para Maram. — Não me importa porque armaram esse plano ou o que podemos ganhar. Acabe logo com isso. Ela fez uma careta, claramente não acreditando em sua agitação. Foi Haidar que acabou com seu sofrimento. — Embora não mereça isso, mano, Maram e eu não precisamos mais trocar suspiros apaixonados. As notícias sobre nosso noivado fizeram minha mãe relembrar como nosso amor começou, durante um incidente quando tínhamos catorze anos. Foi numa caverna nas fronteiras azmaharianas. Fomos quase devorados vivos por hienas e escapamos nos abrigando dentro de uma câmara que uma rocha esconde quando um gêiser irrompe periodicamente. Disse para os outros procurarem lá e Harres me ligou minutos atrás. Encontraram as joias. Amjad ficou boquiaberto. A conspiração terminara. Tudo o que registrara era que Maram novamente fizera o que fora preciso para seguir o que seu senso de justiça lhe indicava. Só se importava com o fato de não perdê-la. Ainda não. Depois de fazer sua declaração, Haidar lançou-lhes um olhar entusiasmado e saiu, confiante de que o seguiriam. Ela não se moveu. — Maram, precisamos conversar. — Não há nada a conversar. Seu plano funcionou, Amjad. O futuro do trono está salvo. Parabéns. Antes que pudesse gritar que seu plano e futuro trono podiam ir para o inferno, ela se soltou de sua mão trêmula. E com ela, foi-se tudo pelo que valia viver. Terminar aquele desastre foi muito mais difícil do que imaginaram. 91


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O escândalo da conspiração explodiu na região. Como príncipe amaldiçoado, e com seu pai saindo de cena, delegando todos os poderes a ele, Amjad teve que garantir a todos os príncipes e ministros que Zohayd não se vingaria dos reinos conspiradores e de seus aliados. Ligou para Harres e Shaheen, dizendo que os esperaria do lado de fora do palácio. Tinha quilos de tarefas para delegar-lhes. Saíam de seus carros, lentamente, como se quisessem provocá-lo. Então se aproximaram, e ele teve certeza. — Caramba, Amjad — balbuciou Harres, dando alguns passos para trás. — Você está... Ele mostrou os dentes. — Não. Diga. Nada. — ...apaixonado. — Gargalhou incontrolavelmente. — Está apaixonado. Shaheen colocou a mão no coração, fingindo cambalear. — Aih — pigarreou Amjad. — Está claro que Atef Aal Shalaan só consegue gerar idiotas. — Idiotas felizes, pelo menos. Harres concordou, com um brilho sonhador surgindo de sua robustez. — Idiotas. Amjad rangeu os dentes. — Acalmem essa felicidade de vocês. Já é ruim demais estar na categoria dos idiotas inconsoláveis. — Cara, se conseguir destruir sua obsessão por ela, será um homem muito potente. Amjad suspirou. — Tudo estava indo inacreditavelmente bem até ela descobrir o pequeno detalhe de ter sido sequestrada. — Sei que você é insano... — Harres apoiou o braço no ombro do irmão. — ...mas contou-lhe sobre isso? Shaheen assoviou. — Idiota mesmo. Os lábios dele se crisparam. — Descuidado, na verdade. Não tinha mais condições de ser cuidadoso. Shaheen sacudiu a cabeça, abismado. — E isso é uma confissão muito maior do que pular no sofá e gritar seu amor por ela na TV. Harres o abraçou. — Mas não desanime, irmão maior, mais velho e imbecil. Ela o perdoará. — Disse que não quer me ver nunca mais. — Uau, ama você tanto assim? — A incredulidade de Shaheen aumentou. — Imagino como consegue. — Não me ama mais. — Que nada, só está magoada, tão profundamente quanto te ama. É como dizer 92


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que é a ferida e a cura, ao mesmo tempo — afirmou Harres. Era o que ele esperava, com a própria vida. Ao chegar ao palácio real em Ossaylan oficiais o cercaram, achando que viera para aplicar embargos em punição ao papel do emirado na conspiração. Exigiu saber onde Maram estava, e logo se viu na sala dela. Encontrou-a sentada num sofá que ecoava a cor dos olhos dela, examinando envelopes. Olhos que entregaram seu choque momentâneo, logo substituído pela percepção e resignação. Foi em sua direção enquanto Maram colocava os envelopes de lado e se virava para ele: — As tradições matrimoniais de Zohayd são as mesmas de Ossaylan? Então parou. Assim como o resto do mundo, enquanto ela continuava: — Providencie uma lista de diferenças entre os reinos. Quero saber se há algo que deva ou não usar, e o que devo fazer ou não em nosso casamento.

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CAPÍTULO DOZE Nosso casamento. Fora o que Maram dissera. A alegria explodiu nele... e então se congelou. Ela dissera aquilo como se mencionasse uma sentença de prisão. — Deveria saber que meu pai correria para lhe contar as novidades. Fará qualquer coisa para compensá-lo. Queria poder ter contado pessoalmente, mas... — Deu de ombros, resignada. — Antes de fazer suas exigências, declararei meus próprios termos. Termos. Maram tinha termos. O pai dela tinha novidades. Ele não fazia ideia do que estava acontecendo. — Não teria considerado o casamento como opção novamente, ainda mais com você, mas o que quero não é importante agora. Não era? — E o que você quer tão pouco é importante também. O que importa é o melhor para o nosso bebê. Nosso bebê? — Mesmo que não leve jeito para a coisa, não vou repetir o que minha mãe fez. Não vou privar meu filho do pai. Pai. Amjad sentiu os músculos perderem as forças e a mente se esvaziar. Ele iria desmaiar? Não poderia. Precisava fazer algo... mesmo que não conseguisse encontrar palavra ou pensamentos, que tivesse perdido a voz, a coerência. De um longo túnel ouviu um sussurro abafado. — Você... está grávida? Encarou-o irritada. — Sabe que estou. Nenhuma precaução foi páreo para nossa fertilidade. É por isso que está aqui. — Estou aqui para... Para... — Balançou a cabeça, a revelação reverberando em ondas. Maram carregava... o filho dele. Embora aquilo o atingisse como uma faca, ainda era muito melhor do que o que esperava encontrar ali. Temia que as feridas dela tivessem fechado e a feito se esquecer completamente dele. Agora teria uma vida inteira de mais proximidade, de chances... Ela continuou, destruindo suas esperanças. — O casamento é só para legitimar o bebê, para dar-lhe não só um pai, mas uma identidade, uma família, uma história. Cresci sem nada disso, e não deixarei meu filho sofrer o mesmo. Depois da cerimônia, partirei. E só voltarei quando for a 94


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hora do nascimento. Podemos nos divorciar depois, mas ficarei por perto para que tenha contato constante com o bebê, para criá-lo comigo, se quiser. Meus termos são inegociáveis. Pode dizer os seus agora. Encarou-a e quase bufou, tamanha a ironia. E ele se perguntou. Se agisse pelos termos dela, se a mágoa e a desilusão a libertassem, haveria uma possibilidade de ser aceito novamente? Ou voltaria a viver como aquele ser de gelo que era? A resposta era inequívoca. Jamais. Ela tornara-se parte de seu ser, uma parte vital. Aquilo trouxe-o de volta para os termos que ela exigia. Não seriam muitos. Pela primeira vez na vida, deixaria outra pessoa ter todo o controle. — Se quiser partir depois da cerimônia, Maram, parta. Não precisará voltar. Então este era o último golpe de Amjad. Aparentemente esperara que ele provasse que significava algo. Mas contanto que tivesse — de preferência a longa distância — direitos sobre seu herdeiro, ela poderia partir e nunca mais voltar. — Não precisa voltar para que eu esteja próximo. Seguirei você aonde quer que vá, se quiser, e estarei presente. — E essa é a deixa para eu dizer que não quero que faça isso, que eu jamais te desejarei novamente, para você poder então sair como o vencedor. Engenhoso. — E achei que eu estava sendo radical. Parabéns. Você me superou. — Se tudo o que tem a oferecer são ofertas vazias e observações enigmáticas, então acredito que aceita minhas condições. Contanto que o bebê tenha o seu nome e a marca real, não importa se estiver por perto ao não. Silêncio. Por um longo momento. Então ele se pronunciou, a voz mais sombria do que ela jamais ouvira. — Sempre prova que jamais conseguirei prever o que você vai fazer ou falar. Mas mesmo em suas dúvidas mais angustiantes, sabe que não sou tão mau assim. Amjad tinha uma aparência de tamanha... derrota que o coração, mesmo incrédulo, contorceu-se por não conseguir sentir a dor dele. Maram lutou para não ceder. — Talvez. Ou talvez seja ainda pior. Esse é o problema das dúvidas, Amjad. São abertas a tudo. — E não há chances de se questionar sobre suas dúvidas? Ou até mesmo de me dar o benefício delas novamente? — Sempre que tento, lembro que você tem muitas coisas a ganhar me manipulando, coisas que está conseguindo, uma após a outra, sendo eu sua peça principal. Um trono, uma rivalidade com um meio-irmão filho de uma madrasta abominável, e agora um herdeiro. Aquilo a feriu o suficiente para que parasse. Abrir mão do desespero era tão difícil quanto desistir da esperança. O 95


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desespero oferecia um refúgio sem expectativas, e uma dor conhecida. Desistir dele significava abrir mão dessa proteção e se expor a feridas ainda mais devastadoras. Mas a tentação de acreditar novamente estava se tornando brutal. Sentia que sempre seria parte de Maram. E agora uma parte dele crescia nela, e ele sentia como se estivesse mais integrado do que nunca. — Depois do que aconteceu, sinto que nunca saberei por que faz o que faz e diz determinadas coisas... — De repente, ela alcançou seu limite. O ar escapou de seus pulmões num lamento. — Oh, Deus, Amjad, quero confiar em você novamente. Não consigo me imaginar voltando a fazê-lo, e isso está me matando. A dor irradiou dela e a envolveu, trazendo lágrimas de sua alma. As mãos trêmulas de Amjad as secaram, acalmando-a. — Esteve ao meu lado nas piores horas, tirou o que havia de pior em mim e nunca desistiu, me salvando do labirinto de alienação no qual estava perdido. Acreditou em mim profunda e completamente, e quando sua fé em mim foi abalada, foi atingida com a mesma força. Não posso mais ficar sozinho de novo, Maram. A voz dele se calou. Seus olhos se umedeceram. E as amarras que a prendiam se soltaram, e seu coração vazio e sem vida transbordou novamente. Uma lágrima, algo que ela achou que jamais veria, escapou da joia daquele olho esquerdo. — Mas também não posso pedir para tê-la novamente, ainda não mereço isso. Mas vou merecer. Provarei que mereço a sua confiança, para sempre. Ele se virou e foi embora. Cada passo levava o coração dela para mais longe de seu próprio corpo. — Amjad... não vá. Ele se virou, os olhos tão sôfregos quanto os dela, encharcando seu rosto. Maram se jogou em cima dele, chorando, tremendo. — Não posso mais ficar sem você. E acredito em você... Segurou-a com as mãos trêmulas. — Não, não acredita. E está certa. Não tem motivos para acreditar em mim, não o tipo de confiança que precisa ser cultivada. Ainda. — Foram minhas próprias inseguranças que alimentaram dúvidas. Retiro todas. — Não. Cada palavra que disse poderia ser verdade. Cabe a mim provar que jamais poderiam ser. Confiou em mim incontestavelmente. Não posso viver sem lhe dar o mesmo. — Não precisa provar nada. Acredito em você. — Muito generoso.... Muito verossímil. Tudo o que dei foi um pouco de persistência, alguns toques e lágrimas estratégicas. — Ouvir suas próprias palavras a surpreendeu tanto que deixou escapar um riso. — Vim aqui para pedir uma chance. Mas, novamente, você me pegou de surpresa e me perdoou. Não amoleça comigo agora, Maram. — Mas eu quero. — Abraçou-o. As emoções nos olhos dela eram inegáveis e profundas. 96


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Mais duas lágrimas escaparam dos olhos de Amjad. E antes que implorasse para que não a punisse com a visão de seu sofrimento, afastou-se dela. — Espere aí. Estava na porta quando ela gritou: — Qual é a prova incontestável que pretende me dar? Seu Amjad, amado e malicioso, olhou-a: — Se contasse, iria estragar tudo. — Ela então se deixou cair no sofá, ouvindo-o dizer enquanto desaparecia: — Observe o príncipe louco trabalhar. — Que diabos fez a Amjad, Maram? Ela quase derrubou o telefone ao ouvir aquele leão rugir. — Harres, é você? — Não tenho certeza. Acordei hoje de manhã como sempre, como o ministro do Interior de Zohayd. Há uma hora descobri que sou o príncipe da Coroa. — O quê? Como? Amjad! Onde ele está? — Diga você! — vociferou Harres. — Disse algo sobre provar a você o que realmente importava, arrastou-me para uma reunião com o conselho geral, anunciou que abdicava do título, aterrorizando a todos, e desapareceu da face da Terra. Maram encarou os papéis amassados em suas mãos. Recebera-os a alguns minutos. Sua mente já estava chocada com o seu conteúdo. Amjad afirmava a paternidade do filho deles, ainda que cedendo a todo e qualquer direito. E agora isso. — Como conseguiu deixá-lo fora de si para valer desta vez? — E-eu não... Ela parou. Por que tinha conseguido. Quando o acusara de usá-la para garantir seu trono e um herdeiro. Abrir mão de ambos era, para ele, a única prova que importava. — Não tente me enrolar, Maram. Estou realmente preocupado com ele pela primeira vez desde que a ex tentou matá-lo. Disse que não voltaria, e isso me deixou apavorado porque acredito nele. Então, o que tiver feito, desfaça, ou serei seu inimigo... — Harres! — gritou para acalmá-lo. — Pode ser o que quiser depois que nós... — As palavras morreram ali. — Sabe onde fica o lugar para onde ele me levou? — Vou procurar. — Não sem mim. — Por que quer vê-lo? Para feri-lo ainda mais? — Para desfazer o que fiz. — Desfaça quando o trouxer de volta. Se ele quiser vê-la novamente. — Juro, Harres, que vou te machucar se não vier para cá o mais rápido possível! E desligou o telefone. Uma hora e dez minutos depois o som de um helicóptero militar interrompeu os planos febris de Maram de ferir Harres. Depois de duas horas, aterrissaram do lado 97


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de fora da cabana de Amjad. Não estava lá. O estábulo estava vazio. E a caverna também. Não havia sinal de carro. Mas ele estava ali. E sabia por que não estava se mostrando. Ela virou-se para Harres. — Saia daqui. — O quê? Entre naquele helicóptero e parta — continuou. — Isso é entre eu e Amjad. E ele não aparecerá enquanto você não for embora. — Vai arriscar ficar aqui sozinha? Talvez não possa voltar para te buscar... por um tempo. — Claro. Não tem problema. Agora saia. — É tão intransigente quanto ele, não? Acho que é exatamente o que precisa. Se não matá-lo antes. — Sou o que ele precisa, e ele é o que eu preciso. E pretendo vê-lo com cem anos, saudável e feliz. Harres gargalhou. — Como um idiota de cem anos, e feliz. — O quê? — Uma piada interna. — Indicou o telefone. — Se não ligar, vou entender que meus serviços não são necessários. — Ele se virou e jogou um beijo. — Salam, ya marat akhi. Ele a chamara de “a mulher do meu irmão”. O barulho do helicóptero acabara de desaparecer quando sentiu... ele. Maram se virou. E como o mágico que sempre achou que fosse, ele surgiu diante dela. Vestia a mesma roupa branca do dia em que a sequestrara. Não se barbeara desde a última vez em que o vira. Voou para cima dele, acusando-o e atingindo-o com sua saudade. — Seu dramático e inconsequente, seu louco! Ele se rendeu à paixão, tocando-a como se não acreditasse que estava de novo em seus braços. — Na verdade, nunca fui tão contido e razoável. — Que seja. Não quero descobrir que cometeu mais uma insanidade. Não vou deixar que abra mão de qualquer direito sobre nosso bebê. E vai voltar e rescindir... — Não vou. — Escute aqui... Um beijo abortou seu protesto. — Vamos rever os direitos depois de alguns anos, dependendo do meu comportamento exemplar. Nada mais importa a não ser estar em seu coração. — Você nunca o deixou. E não deixará. Nesta vida ou em outra. Agora... chega. — Nada será suficiente para você. — Ela abriu a boca e outro beijo a fechou. — Uma prova é só uma prova contanto que continue válida. A minha permanecerá. 98


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A frustração e a ansiedade passaram dos limites. Ele falava sério! Então ajoelhou-se na areia e levou as mãos dela aos lábios, destruindo sua coerência. — Imagine qualquer cerimônia, qualquer roupa, o que quiser, reinvente o casamento como desejar. Estou dando carta branca para nosso casamento, nossa união. Para o resto de nossas vidas. Encarou-o, o mundo dentro dela transbordando. Ele fechou os olhos enquanto as lágrimas caíam nele, gemendo como se recebesse uma chuva curadora. — Posso aceitar isso como um sim? — Posso aceitar isso como uma rescisão de tal união, como servidão para toda a vida? — Claro que não. Abraço minha servidão. Eu a desejo. — Que ousado, não? Ele piscou e se levantou, erguendo-a do chão. — Pode apostar.

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EPÍLOGO — Seu intratável, irritante, incorrigível... Aliyah, que levara um susto com a explosão de Maram, relaxou e riu. — Amjad, certo? — Quem mais? — ela vociferou, e colocou o telefone de volta no ouvido. — Juro pela coroa de que você abriu mão que se não parar com isso... — Ele então ficou em silêncio, com todo o seu ser se derretendo. Não estava se desviando de nenhum assunto, mas a devorava. Com palavras. Fazendo-a incapaz de esperar até... — Argh! Você fez isso de novo. Chega. Venha até aqui agora ou não vai pôr em prática suas táticas de fuga por... por... uma semana! — Mas mã-ãe! — As portas se abriram e Amjad entrou, caminhando até roçar nela, com o telefone ainda no ouvido. — Fui um garoto tão levado... Ela deixou de lado o telefone e o puxou. — Ainda é perturbador... — A provocação de Aliyah tirou-a da espiral de desejo provocada por seu marido. Depois de dezoito meses (que, segundo todo mundo, eram os piores, e ainda por cima com uma gravidez) ainda deixava tudo para trás com apenas um toque dele. — ...ver que Amjad ainda é o mesmo, mesmo que delirante de paixão. — E Amjad adora perturbar suas irmãs menores — disse ele, gargalhando. Aliyah riu também. — Parece que perturba sua esposa também. — Vivo para perturbá-la. — Piscou para Maram. — Só que de maneiras diferentes. — Estão chegando! — Maram o cutucou. — E você não só desmanchou minha maquiagem, como também não me respondeu, sua cobra escorregadia e narcisista! — Tudo o que quero é estar com você, e sou assim: todo seu. — E como aceitar seu emprego de volta vai fazê-lo deixar de ser assim? É o seu dever, seu direito. Não precisa querer para tê-lo de volta. — Não preciso. Essa é a beleza de ter herdeiros extras. Quero apenas você e sua réplica. — Olhou para Wafaa, que dormia sobre um cobertor no chão. Escolhera o nome dela por seu simbolismo, a fidelidade e a lealdade de Maram. — Que, aliás, me chamou de baba hoje! — Diga que vai aceitar seu emprego de volta, Amjad. Ele fez uma careta. — Não. — Por mim! — Não jogue sujo, Maram. Não acreditava que jamais havia pensado nisso! — Por mim, Amjad, por mim — insistiu. Ele não disse nada. Era tarde demais. A porta se abriu e a família dele entrou em massa. Depois de cumprimentos alegres, cada casal mostrou orgulhosamente seus bebês 100


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uns para os outros. O filho de Shaheen e Johara, Kareem, que parecia um amálgama de seus pais, tinha quinze meses. Harres e Talia adiaram começar uma família por causa dos deveres extenuantes dele como ministro do Interior e príncipe da Coroa, e do trabalho dela como médica no hospital nacional de Zohayd e nas forças especiais de Harres. Mas organizaram suas agendas, e esperavam o primeiro filho em seis meses. Os filhos de Aliyah e Kamal tinham quatro e dois anos e eram a cara dos pais. Depois que as crianças foram levadas ao jardim da mansão, o rei Atef se levantou. — Tenho um anúncio a fazer, minhas crianças. — Todos os olhos se voltaram para ele. — Estou abdicando. Depois do choque inicial, todos menos Amjad protestaram. O rei levantou as mãos. — É hora de gastar o tempo que me resta com a mulher que sempre amei, que abandonei para servir ao meu reino. Estendeu a mão e lançou um olhar amoroso para a mãe de Aliyah, Anna Beaumont. A beleza loura e etérea aproximou-se dele. Suspirou e a abraçou. O rei então recebeu os cumprimentos de todos, e se voltou para Amjad. — Ainda quero que me suceda. Não porque é o primogênito, mas porque é o mais preparado dentre os meus filhos, o que será o melhor rei. Os lábios dele se crisparam. — Uma coisa era estar preso a essa obrigação, mas agora que tem essa escolha, como pode achar que o príncipe louco seria o melhor rei? — Porque tem um método por trás dessa loucura, Amjad. — Embora doa dizer, essa sua loucura funciona muito bem. É o único capaz de trazer paz aos reinos. Aposto que não haverá tentativas de revolta ou conspirações em seu reinado. — Acredito que esse seja seu destino. — corroborou o rei Atef. — Unificar este reino de uma forma como nem sua encarnação prévia jamais sonhou. Amjad deu de ombros. — Blá blá blá, pai. Que tal se aposentássemos essa teoria de reencarnação? — Provavelmente apenas para substituí-la por outra sobre vidas paralelas. É surpreendente como seus caminhos são similares. Pode ter resistido por muito tempo ao seu destino, mas finalmente o aceitou, e encontrou a felicidade perfeita. Amjad olhou para Maram. — Isso é uma coisa que não contesto. — Antes de ela correr para ele, Amjad olhou novamente o pai, com os olhos cheios de irreverência. — O primeiro decreto que farei será acabar com o Orgulho de Zohayd. Uma joia de cada vez. Assim como Ezzat as reuniu, vou dispersá-las. Um longo silêncio ecoou. Finalmente o rei suspirou. — Está na hora de mudanças radicais. E ninguém pode pô-las em prática além de você, Amjad. 101


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— E como não há ninguém mais radical, aceite de volta logo o maldito cargo — vociferou Harres. — Se não quiser que eu morra asfixiado em ternos e salas de reuniões. Amjad olhou Shaheen, que exclamou: — Nem pense nisso! — Nossa! — Ele sorriu antes de encarar a todos com escárnio. — Não sei de onde tiram tantos elogios à minha perspicácia. — Lançou um olhar para ela, relembrando penosamente. — Quase causei danos irreparáveis a Maram. — E então criou a harmonia a partir de todo aquele caos — afirmou ela. — Só porque sofre dessa capacidade genética sem fim de me perdoar. — E olha aonde isso me trouxe — exclamou ela. — Zohayd pode sonhar em ter uma fração da minha sorte! É o meu homem, e exatamente o tipo de rei de que Zohayd precisa. E serei uma consultora política e financeira tão fenomenal que ajudarei seu reinado, gerenciando-o tão bem que terá tempo de sobra para mim e Wafaa... — Deem uma boa olhada no rei que terão. Um louco à mercê dos comandos de sua dona. Uma comoção geral de alívio e júbilo explodiu. — À mercê? Estou te implorando há dezoito meses. — Não disse as palavras corretas: para mim. — Quer dizer que nesse tempo todo teria aceitado se as dissesse? — Sim. Encarou-o, boquiaberta. — Você nos fez implorar para te convencer! Os lábios de Amjad formaram um sorriso malicioso, sua marca registrada. — Só estou mostrando onde erraram. E provocando-os. — E abraçando-a fortemente: — Preciso ouvir novamente o quanto você me ama. Ela choramingou, riu e o abraçou enquanto a família de Amjad os cercava, celebrando o que todos sentiam que seria uma nova era de prosperidade ilimitada em Zohayd. Porque para ele não haveria limites. E sim, ela poderia e iria amá-lo ainda mais. Infinitamente.

Fim

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SEGREDOS DA REALEZA ANNA DE PALO

Pia olhou ao redor e, naquele momento, viu um homem alto de cabelo cor de areia do outro lado do salão. Embora ele estivesse de costas para ela, os pelos de sua nuca se arrepiaram quando uma sensação de familiaridade e mau presságio a percorreu. No momento que ele virou-se para falar com um homem que o abordava, Pia viu-lhe o rosto e perdeu o fôlego. Aquilo podia piorar? Ele. James Fielding... conhecido como “Sr. Errado”. O que James estava fazendo lá? Fazia três longos anos desde a última vez que ela o vira, quando ele abruptamente entrara... e depois prontamente saíra... de sua vida, mas não havia engano naquela aparência sedutora de um deus grego. Ele era quase uma década mais velho que seus 27 anos, mas não parecia de maneira alguma. O cabelo cor de areia estava mais curto do que ela lembrava, contudo, continuava tão alto e musculoso como sempre. A expressão de James era estudada, em vez daquela divertida e despreocupada que ela memorizara. Entretanto, uma mulher nunca esquecia seu primeiro amante... especialmente quando ele sumia sem uma explicação. Involuntariamente, Pia começou a ir em direção a ele. Não sabia o que ia dizer, mas seus pés a impeliam para frente, enquanto a raiva corria por suas veias. Ela fechou as mãos em suas laterais. Quando se aproximou, notou que James conversava com um investidor famoso de Wall Street, Oliver Smithson. — ...Vossa Alteza — falou o homem mais velho. Pia quase tropeçou. Vossa Alteza? Por que alguém se dirigiria a James como Vossa Alteza? O salão de recepção continha sua cota de aristocratas britânicos, mas mesmos os marqueses eram chamados de meu lorde. Pelo que ela sabia, Vossa Alteza era um termo usado para se referir aos... duques. A menos que Oliver Smithson estivesse brincando... Improvável. Subitamente, James a viu, e Pia notou, com satisfação, o brilho de reconhecimento nos olhos castanhos. 103


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Ele estava num smoking que mostrava um físico perfeito. As feições eram sérias, embora o nariz não fosse perfeitamente inclinado, e o maxilar era quadrado e firme. A sobrancelha era um pouco mais escura que o cabelo, e aqueles olhos a tinham fascinado com suas mudanças de cor durante a única noite que tiveram juntos. Se ela não estivesse tão incendiada, o impacto daquela perfeição masculina teria lhe roubado o ar dos pulmões. Poderia ter se desculpado por ter sido tão tola três anos atrás, pensou. James Fielding era extremamente sexy. Apesar de seu ar arrojado, tão inegável logo que Pia o conhecera, fora domada tanto pelas roupas quanto pelo comportamento dele, e sentia que isto ainda estava presente. — Ah, nossa adorável organizadora de casamentos — disse Oliver Smithson, parecendo inconsciente da tensão na atmosfera, e então riu. — Nós não poderíamos ter previsto esta mudança de eventos, poderíamos? Pia sabia que o comentário era uma referência ao drama na igreja, mas não pôde evitar pensar que também se aplicava à situação atual. Ela nunca teria esperado encontrar James lá. Pensando o mesmo, James arqueou uma sobrancelha. Antes que qualquer um deles pudesse dizer alguma coisa, Smithson se dirigiu a ela: — Você conhece Sua Alteza, o duque de Hawkshire? O duque de...?

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