Boletim do Kaos 15

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DISTRIBUIÇÃO & Redação Qualquer pessoa ou entidade interessada em distribuir o Boletim do Kaos na sua quebrada (ou não), pode retirar em quantidade (50, 100, 200 ou pacote com 400 exemplares) na nossa redação. É grátis.... querendo agendar, email abaixo. Ou vá às terça-feira, das 20h às 22h durante o SARAU SUBURBANO.

EDITORIAL Esse mês queria dizer pra vocês esquecerem aquela programação do nosso jornal Boletim do Kaos que havíamos passado. É que ocorreram mudanças, primeira delas é que não teremos edição em junho. Esse Numero #15 fica sendo Fev à Jun/2014. Esperamos voltarmos em julho. Tirando isso..... estamos na mão com uma edição histórica. Primeiro pela grande (e justa) homenagem a DINA DI, Rainha do Rap Nacional. Está imperdível.... Também por tudo o mais, uma matéria mais incrível que a outra. Fizemos com muito carinho e esperamos que esteja ao gosto do nosso leitor. Falando em nosso leitor, o Boletim do Kaos tem 20 mil exemplares por edição com distribuição de 95% em São Paulo e 5% se espalha pelo Brasil. Chegou em vários estados, ou porque manda-

LIVRARIA SUBURBANO CONVICTO

mos ou porque alguém levou. Em São Paulo o foco é distribuir pelas periferias e isso é uma missão trabalhosa e prazerosa. A gente leva em muitos lugares, mais vários aliados ajudam a fazer esse corre. Muita gente pega pacote no dia de Sarau Suburbano na Livraria Suburbano Convicto (nossa redação) e leva pra sua quebrada. Espalhando a boa informação. 100% cultural. Assim que é.... até breve.

Alessandro Buzo editor www.buzo10.blogspot.com Twitter: @Alessandrobuzo

Valter Luis - Limonada / Walter Limonada (Artes Visuais e Música) rabiscosdovalterluis.blogspot.com.br walterlimonada.blogspot.com

Redação do Boletim do Kaos Rua 13 de Maio, 70 - 2o andar Bela Vista São Paulo - SP - CEP: 01327-000 (11) 2569-9151 suburbanoconvicto@hotmail.com

Pontos de Distribuição O Boletim do Kaos é encontrado em diversos endereços nas periferias de São Paulo, de eventos culturais ao comércio local. Matilha Cultural Rua Rego Freitas, 542 - Centro (Prox. Pça Roosevelt) Ação Educativa Rua General Jardim, 660 Vl Buarque Escola de Samba Unidos de Santa Bárbara Rua José Cardoso Pimentel, 1-B Centro do Itaim Paulista

Jornal Boletim do Kaos Alessandro Buzo Editor e repórter Jessica Balbino Reportagens Suburbano Convicto Produções - Distribuição Rua 13 de Maio, 70 2o andar - Bela Vista - São Paulo SP - Cep: 01327-000 suburbanoconvicto@hotmail.com


Dina Di, Rainha do Rap

Por: Luana Rabetti e Priscilla Vierros Fotos: Marilda Borges e Mandrake Rap Nacional Viviane Lopes Mathias, conhecida como Dina Di, fundadora do grupo de rap “Visão de Rua” deixou muita saudade aos milhares de fãs que ficaram órfãos há quatro anos e que seguem, como ela disse “ouvindo as suas músicas”. “As minhas músicas estão aí, e se amanhã ou depois eu for nessa, as minhas músicas vão tocar, vão continuar... O pessoal vai continuar ouvindo, vai ficar tiozinho e vai ouvir[...] Porque a música está aí, ela não tem barreira”. Quando a Rainha do Rap feminino nacional disse esta frase em uma entrevista para o Canal no YouTube ‘Quebrando as Correntes’, em novembro de 2008, ela se esqueceu de dizer também que além da música, o seu reinado é imortal e para homenagear esta mulher que quebrou as barreiras no hip-hop. O Boletim do KAOS preparou esta reportagem com relatos e vivências da eterna Dina Di, eterna, pois a realidade que cantou sempre esteve presente em muitos lares brasileiros. Com máximo respeito a todas as cantoras de rap, Dina Di se tornou única, pois trouxe à tona uma realidade difícil de ser engolida. “Eu só te digo, minhas ideias revelam quem realmente sou! Dina Di... Visão de Rua... Sendo uma mulher com F de Fato, sempre consciente nos meus atos, D de Digna.” – Mulher de Fato / Álbum: Ruas de Sangue (2001). Dina Di cantava com as entranhas, voz grave, flow pesado e mais do que ninguém, soube decifrar o sentimento de todos os dramas que permeiam a vida da mulher na nossa sociedade. Como lembra Rubia Fraga, integrante do grupo de rap RPW em nossa entrevista, “Acho que a Viviane foi das poucas que conseguiram traduzir o que se passa na alma de uma mulher perante as violências da vida na periferia”, comenta. E quem a conheceu de perto sabe disso, traduzir, viver e alertar o que se passava na vida de muitas, foi a missão da “eterna rainha” nesta terra, pois suas letras refletiram situações de violência doméstica, abuso infantil, realidade carcerária feminina... Mas também em sua arte cabia espaço para o amor em sua forma mais sublime, e para a fé em Deus, em que ela tanto acreditava. “Meu sonho é forte porque... no caminho que eu faço eu trago a essência do amor” – Álbum: A noiva de Thock (2003). “...ao amanhecer dei a luz a um menino, meu sentimento é eterno, naquela noite de inverno, eu já mais vou esquecer, 6,9,6 depois de nove meses espera ser mãe pela primeira vez, me fez crescer, eu não era mais aquela mina que não tinha nada a perder [...] meu filho é a luz que eu saí desse escuro, meu trabalho, minha luta, minha ausência é pelo seu futuro [...]se eu fui mulher pra pari sô muito mais pra criar” – Meu filho, minhas regras / Álbum: Ruas de Sangue (2001). De Viviane Lopes Matias para

Dina Di Aos 8 anos de idade, Viviane já tinha contato com a música. Ainda criança cantava e tocava violão. Herança familiar, que veio de sua mãe que cantava na noite, caminho que a mesma seguiu tempos depois cantando MPB em bares e casas noturnas de Campinas (SP). “A Viviane antes de ser rapper, era cantora e tinha uma dupla com a irmã dela. Talvez esse era uma particularidade dela que poucos sabiam. Ela tocava violão e cantava um sertanejo raiz como ninguém!” afirma Rubia. O rap surgiu na vida da artista na adolescência, na ocasião da entrevista, Dina Di questionou se o rap foi uma benção, ou uma maldição em sua vida. A cantora se lembrou que quando começou no rap convivia muito com a malandragem e que aquilo se aproximava mais de sua realidade “Quando eu vi o rap eu me apaixonei. Aposentei o meu violão, não quis mais saber de MPB, eu só quis saber de rap”, relembrou ao canal Quebrando as Correntes. E assim, no início da década de 1990 em Campinas, no Nifama Clube, surgia então a Dina Di com o grupo Visão de Rua que teve na sua primeira formação Tum e DJ O.G. O grupo formado em 1994, lançou, dois anos depois, a sua primeira canção, intitulada “Confidências de uma Presidiária” e depois no mesmo ano, em 1996, o single “Periferia é o alvo”, realizando uma série de shows pelo interior de São Paulo. Em 1998 o grupo gravou o seu primeiro álbum de trabalho “Herança do vício”, este já com a participação da Lauren no backing vocal. Esta formação seguiu até o álbum “Ruas de Sangue”, gravado em 2001. Dina Di foi além e superou as estatísticas que o sistema prega. Em 2000 com o grupo Visão de Rua conquistou o Prêmio Hutúz na categoria “Melhor Grupo de Rap Feminino”, premiação recebida também no ano seguinte. No terceiro CD do grupo, “A noiva de Thock”, em 2003, e com a saída do DJ O.G, Dina Di já estava morando na capital paulista. Em 2003, o grupo recebeu três indicações com o álbum “A noiva de Thock” são elas: “Álbum do Ano”, “Melhor Grupo ou artista Solo” e “Música do Ano”. Neste álbum, Dina Di trouxe a realidade do sistema prisional, mostrando os dos dois lados da moeda e trazendo à tona a vivência de mulheres que encaram junto com os seus parceiros o cárcere. A música de trabalho contou com a produção do terceiro videoclipe da cantora, o “A Noiva de Thock”. Anteriormente, a artista já havia gravado o “Mente Engatilhada” que contou com a participação de cantoras de rap consagradas no cenário, e o “Irmã de Cela”, produzido para o segundo álbum do Visão de Rua. Já no quarto e último álbum “O poder nas mãos” lançado em 2007, Dina Di se coloca em carreira solo, tendo a produção do disco realizada e financiada por conta própria. Neste último trabalho, suas

letras e músicas trazem a versatilidade da artista, que vão para além das rimas. Com voz afinada e tocando violão, Dina Di trouxe um estilo diferente, que dialogava também com a realidade que vivia seguindo a palavra de Deus. Em suas letras, pode se notar diferença entre os seus trabalhos anteriores. Sobre esta mudança em sua carreira, a mesma declarou em entrevista: “As coisas mudam, as pessoas mudam, e as minhas músicas sempre foi o seguinte, foi um reflexo da minha personalidade, o que eu vi, o que eu sou, o que eu acredito, o que eu sou no meu dia a dia”, comentou. Sobre seu reinado, Dina Di também comentou na mesma entrevista que “Eu não sou rainha de nada não, eu sou uma mina comum, ando de busão, de metrô, eu luto para sobreviver, sou maior lutadora mesmo”. Humildade acima de tudo, é assim que podemos definir um dos traços de sua personalidade. Para Rúbia, “A Viviane era um ser humano como qualquer um, com suas qualidades e defeitos, e que bom que fosse assim! Era uma pessoa de costumes simples, generosa, dedicada à tudo que acreditava. Sofria com as decepções, que geralmente se transformavam em rimas”, afirma.


Já DJ Raffa, de Brasília (DF), amigo e produtor do último disco da Dina Di, que também lembrou da artista com carinho, segundo ele, Dina Di vivia sempre o seu momento. “Conheci as várias facetas da Dina. No começo como eu havia dito... Muito gangsta... Bastante desconfiada, arisca e radical com aquele olhar serio. Lembro de um episódio quando fui a um grande show em SP onde cantaram vários grupos, foi uma homenagem ao Sabotagem. Eu estava muitos anos sem vê-la. Fui correndo dar um abraço nela e “dois beijinhos” e ela não gostou e disse: Raffa, postura, que isso?!?”, Raffa completa que encarou com naturalidade pois era o momento que ela vivia. Já em outra fase, quando produzia o último CD, Raffa diz que Dina Di já estava mais calma, mais generosa, e os dois estavam com uma amizade bem fortalecida, lembra o DJ com saudade. E é verdade, ao realizar esta matéria, as lembranças vem como um filme em câmera lenta, “cada vitória comemorada ou dificuldade ultrapassada, sua gravidez, shows, ou momentos tensos como se separar de seu filho ou visitar seu grande amor na cadeia, tudo superado. Pude cobrir o lançamento de seu ultimo CD em uma casa de shows no Brás/SP, onde foi distribuído um pedaço de bolo feito e entregue graciosamente em mãos por Dina Di, ela estava inspirada e compondo como nunca...” – Livro Perifeminas I – Nossa História / pagina 86 / Homenagem a Dina Di. A artista gravou e participou de trabalhos com diversos artistas, como RPW, Racionais MC’s, Sistema Negro, a Coletânea “Microfone Aberto (KlJay – 2004) e “Mulheres Guerreiras” projeto esse idealizado pela Aninha do Atitude Feminina, lançado em 2009, além da participação em documentários. Quantas realidades fizeram de Viviane, a Dina Di? Sabemos que sua vida nunca foi fácil, marcada por dramas que a fizeram sofrer muito, como a morte precoce de seu pai. Além da sua maior perda, a de sua mãe, que foi brutalmente assassinada. Além disto, a cantora de rap enfrentou diversas situações em sua luta pela sobrevivência, aos 13 anos fugiu de casa e na adolescência teve algumas passagens pela Febem. Estas experiências, a fizeram forte e consciente, como lembra Mandrake, idealizador do portal Rap Nacional. Para ele, a Dina Di era uma mulher que impunha respeito e batia de frente com o que ela achava errado. “Durona e guerreira, ela tinha ideia para trocar com todo mundo. Uma pessoa que sofreu muito na vida e passou diversas dificuldades, mas sempre superou, levantou a cabeça e seguiu em frente”, e completa dizendo: “Quem escuta e presta a atenção nas letras da Dina Di, do Visão de Rua, acaba no fundo conhecendo a Viviane, que sempre colocou seu coração nas composições e canções.”. Rúbia complementa dizendo “Sinceramente, vi poucas pessoas com um histórico de vida como o dela conseguir sobreviver sem enlouquecer ou desandar”, pontua. Foram anos de luta, parcerias e trabalho para que o rap nacional fosse reconhecido, para que o trabalho do artista fosse remunerado e para que ele tivesse condição de sobreviver do seu trabalho. Tanto que Dina Di sempre defendeu a importância do rap como mudança social, para que um dia as pessoas buscassem por uma vida melhor. Dina Di comentou para o Canal Quebrando as Correntes “O rap é uma profissão que não é valorizada, não é registrada e rouba um tempo de nossa vida que a gente nunca mais vai recuperar”. Por isto, a cantora procurou produzir os seus próprios discos, e vendê-los em seus shows, aproveitando para ter um contato maior com os fãs. Rúbia relembra deste posicionamento da cantora dizendo “Ela queria o que todos nós, artistas, queremos: viver da arte, seja ela qual for. Ela dispendia muito da sua vida para o rap, se dedicava 100%. Ela sabia que era reconhecida pelo público e pelo hip-hop, mas reconhecimento não colocava comida na mesa”.

Reconhecimento este, que fez com que em 2009, Dina Di recebesse o Prêmio Hútuz na categoria “Maior cantora de rap do século XXI” das mãos da cantora Marina Lima. Pouco para a artista que sempre batalhou e lutou tanto para conquistar um espaço no rap, não somente para ela, mas para todas as outras que vieram depois. O ano de 2009 também foi marcado pelo seu casamento com o Thock. Após 11 anos de união, a artista resolveu celebrar este momento com véu, grinalda e tudo o que uma mulher que ama tem direito. Demonstrando mais uma vez, que além das lutas diárias a mulher se nutre também do amor. Mas, infelizmente, por ironia do destino de quem tanto lutou contra as más condições a que as mulheres brasileiras são submetidas foi que um ano depois, no dia 20 de março de 2010, Dina Di se despediu deste mundo, dias após dar a luz a Aline. A causa da morte: infecção hospitalar. Mas há quem acredite que foi negligência médica, visto que Dina Di planejou sua gravidez, inclusive adquirindo convênio em uma clínica particular. Com tristeza Rúbia comenta “É triste constatar que no momento em que sua vida estava ganhando ares de tranquilidade e felicidade, a morte a levou”. Mandrake também afirma “Ela morreu em seu melhor momento, estava feliz e levando uma nova vida, ela tinha acabado de se converter a Testemunha de Jeová e com certeza se tivesse viva, estaria levando a palavra de Deus, em suas atitudes ou quem sabe em suas músicas”, relembra quem sente falta das surpresas e inovações que a Dina Di trazia em cada disco gravado e afirma que espera que as pessoas saibam que “se hoje o rap feminino tem um espaço e as mulheres podem subir nos palcos sem precisar colocar uma roupa larga para não chamar mais a atenção com o corpo do que com a mensagem, isso foi graças a Dina Di, que lutou muito e foi linha de frente contra o machismo e preconceito com a mulher no rap”, comenta. Perguntado sobre alguma música ou frase marcante, Mandrake diz que foi a musica “Meu Filho Minhas Regras”, e explica “Esta é a música que me faz chorar sempre que escuto, não era minha preferida antes de eu saber o que é ser pai e nem antes dela falecer. Mas hoje... com certeza é a mais marcante.”. Já para Rubia o que mais marcou foi justamente um fato engraçado: “na música Efeito da Balada, tem um diálogo inicial. Ah! como custou sair esse diálogo, porque ela ria muito do meu sotaque, e quando eu falava “meu”, a risada dela ecoava no estúdio! É dessa risada sinto saudades...” Se o maior medo de Viviane Lopes Mathias era ver a Dina Di morrer, como enfatizou a jornalista Eliane Brum, em uma reportagem para a revista Época, em 2009. A guerreira pode descansar em paz, pois como ela cantou: “Mas eu sou filha do rei... Da eternidade !!! O criador da humanidade [...]”. E é por este motivo que a Dina Di nunca vai morrer, pois sua obra está presente em cada “Rainha” que vive na periferia, em cada mãe que chora a perda de um filho, a cada mulher que sangra num aborto clandestino, em cada mãe que batalha para cuidar de sua cria, em cada esposa que luta junto do marido... enfim, em cada mulher que resiste, todos os dias. Em entrevista para esta mesma reportagem, Dina Di comenta que “Cada mulher sabe o medo que ela tem” firmando com maestria, poesia e luta a sensibilidade e força da mulher. Viviane, a nossa Dina Di, deixa um legado, uma obra, um trabalho, que jamais vai ser esquecido por todas aquelas que sabem o medo que carregam consigo. Em breve: documentário sobre a Dina Di Em setembro de 2013 circulou na internet a informação de que estaria sendo produzido um documentário sobre a Dina Di. Nossa reportagem foi atrás das informações e conseguiu contato por telefone com a produtora do documentário, Myung Baldini. Segundo Myung, o documentário está em fase de edição e será lançado em março deste ano. O trabalho resgata a memória de pessoas que conviveram com a Dina Di na época em que iniciou a sua carreira no rap, lá em Campinas. Participaram do documentário, Sistema Negro, a primeira e terceira formação do Visão de Rua, Mandrake do Portal Rap Nacional, Mauricio do grupo Detentos do Rap e Rúbia, do RPW. A produtora fez questão de ressaltar que “é muito importante que as pessoas conheçam a história da Dina Di”. O filme não é comer-


cial, e após o seu lançamento em Campinas, que contará com cinco exibições, o vídeo de aproximadamente 30 minutos, será disponibilizado na internet para ser distribuído. O documentário faz parte de um projeto de TCC do curso de Midialogia da Unicam-Campinas e é financiado pela prefeitura de Campinas, que aprovou o projeto pelo Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC). Outra novidade é o lançamento de uma música inédita em parceria com o grupo de rap feminino de Brasília “Atitude Feminina”, que vai ser lançada agora em 2014 no novo CD do grupo, o “Desistir Jamais”, título aliás da música em que Dina Di participa. Segundo DJ Raffa, em 2010, quando participou do IV Festival de Hip Hop do Cerrado, Dina Di deixou uma voz guia gravada junto com a Aninha, integrante do grupo, a música ficou esquecida, e um tempo depois muito abalados com a sua partida, o grupo decidiu recuperar o arquivo “Resolvemos procurar esta gravação e não achávamos. Foi tanta emoção ao ouvir ela rimar na música que choramos muito[...] Alguns trechos deixados gravados pela Dina foram muito fortes como se ela estivesse adivinhando o que iria acontecer”, comenta o amigo da cantora. Por: Luana Rabetti e Priscilla Vierros Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop www.mulheresnohiphop.com.br Foto: Arquivo do Portal Rap Nacional www.rapnacional.com.br


Clicando o Movimento em Limeira-SP Por Marilda Borges

SARAU HIP HOP LIMEIRA, multi cultural, com poesia e música. Por: Alessandro Buzo

Teve de RAP à Reggae e é claro poesia. Domingo (09/02/14), viajamos 160km de São Paulo à Limeira-SP. Na cidade do interior paulista, fomos conferir a segunda edição do SARAU HIP HOP LIMEIRA.

A idéia é ser intinerante. Mas enquanto um espaço público não chega, eles alugam uma chacará pra fazer. Porque numa chácara... ? É que além de trazer os mano e as mina da cultura, eles querem que o evento seja pra toda família. Numa chácara com piscina, num domingo de

sol, foi fácil alcançar essa meta. O evento tem MÚSICA e POESIA. Dia lindo, inesquecível mesmo. Teve ainda a Banda Nação Nesta de reggae. Grupos de RAP. Leandro, Barba, Digo, Cido, Sandra e alguns outros amigos, proporcionam esse momento multi-cultural.

Sandra e Leandro

Teve break

Leandro e Barba

Banda Nação Nesta


É 10

C o n c e it oennaapaaçlaãvora , a ti tu d


Dudu de Morro Agudo apresenta o #COMBOIO

Rapper é fundador do Movimento Enraizados que tem escola de Hip Hop em Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. Matéria e foto capa: Alessandro Buzo Fotos: Divulgação Nos fale como funciona o Movimento Enraizados e desde quando existe? O Movimento Enraizados é uma organização de hip-hop com sede no coração de Morro Agudo, bairro que nasci, em Nova Iguaçu (RJ). Nós trabalhamos focados em três eixos, que são: formação, comunicação e intercâmbio. Esses eixos se entrelaçam dando uma infinidade de possibilidades. Nossos principais projetos são o Portal Enraizados (www.enraizados.com.br), que é uma revista eletrônica de cultura urbana que está no ar há treze anos ininterruptos; a “Escola de Hip-Hop Enraizados na Arte”, onde ensinamos para os participantes as técnicas de cada elemento do hi- hop e também os valores da instituição; e projetos de intercâmbio em âmbito estadual, nacional e internacional, como o Mixtureba Enraizados e o Enraizados Dans Lart, realizado na França em meados de 2013. Fazemos isso desde 1999. A atuação direta é em Morro Agudo, Baixada Fluminense, é isso? Isso mesmo. Nossa sede é em Morro Agudo, em um local que chamamos de Espaço Enraizados. Lá é um espaço de referência, onde criamos e executamos projetos que podem ser replicados

por nossos parceiros em outras partes do Brasil e do mundo.

editais públicos permitiram que nos encontrássemos.

O Espaço Enraizados tem cerca de 350 metros quadrados, está equipado com uma biblioteca, uma redação, um estúdio audiovisual, uma lanchonete, dois escritórios e uma área para shows com palco e PAs.

Viajamos para alguns dos países e conhecemos alguns Enraizados pelo mundo pessoalmente. Outros vieram ao Brasil nos visitar. A partir daí fazemos músicas e filmes juntos, além de aperfeiçoar nossas tecnologias sociais.

Infelizmente esse é um imóvel alugado, por isso estamos iniciando a campanha “A Casa do Enraizados também é minha”, onde contamos com a doação de parceiros, num processo de Crowdfunding (financiamento coletivo) para a compra de um terreno para a construção de uma sede própria. Como é a articulação internacional do movimento? O Movimento Enraizados começou a se articular pela internet em 1999, quando a internet não era tão popular. Com isso nos tornamos um canal de diálogo do movimento hip-hop no Brasil com alguns países ao redor do mundo. Pessoas que nunca vimos pessoalmente, mas estabelecemos alguns vínculos profissionais e de amizade. Com o passar do tempo fomos nos profissionalizando mais, acredito que também o barateamento das passagens aéreas e os

Parcerias com a França, como se deu? A nossa relação com a França é uma das mais interessantes, pois durante o passar dos anos não percebemos que tínhamos tantos parceiros por lá. Quando decidimos ir para Paris realizar um projeto em parceria com a instituição Talent et Development, através de uma amiga em comum, a socióloga Ana Massa, resolvemos passar uns dias em Nancy, onde tínhamos outros parceiros na área cultural e social. Foi um sucesso absoluto, um encontro muito contagiante, por isso resolvemos voltar em 2013, e ficamos quase um mês em Nancy, onde realizamos um grande projeto em parceria com a l’ile aux Bombes e com a MJC, fizemos muitos shows, palestras e oficinas em associações parceiras e escolas. Lá, nós do coletivo de rimas #ComboIO, gravamos o clipe da música #ComboIO no trailler de uma associação chamada


L’antre Sonore e também gravamos o clipe da música “La melodie des Askars” em parcerias com os rappers franceses Uzy Down, Ricky B, Timal Still e Buldo Tazer, todos os dois vídeos estão disponíveis no youtube. Você é rapper, como vê sua carreira no momento, projeto pra um segundo CD solo? Estou em um bom momento, sempre dediquei muito mais tempo às burocracias do Movimento Enraizados do que para a minha carreira enquanto rapper. Em meados de 2013 assinei com a Agência Hulle Brasil, uma empresa que sou sócio, especializada em criar estratégias em mídias sociais para músicos independentes, eles começaram a organizar meu trabalho e agora indicam a direção que devo seguir, sempre com metas e estratégias, mensurando os resultados e me apresentando relatórios que sempre justificam as proposições. Uma das indicações é que esse ano tem que sair o meu segundo disco e que provavelmente serão um por ano, pelo menos até 2016. Você lançou um livro com a história do ENRAIZADOS, outros projetos literários em vista? Eu tenho em mente dois projetos. Um deles é o livro Poetas Compulsivos, onde serei o curador e escolherei as poesias de alguns dos atuais 250 integrantes do nosso grupo no Facebook, que diariamente publicam suas poesias. Grande parte desses(as) poetas já participaram presencialmente do nosso sarau, que tem o mesmo nome e acontece todo o terceiro sábado de cada mês no Espaço Enraizados. O outro projeto é um livro técnico sobre empreendedorismo e mídias sociais. É totalmente focado no músico independente. Pois estamos progredindo muito na técnica e esquecendo de outras partes mais burocráticas que são tão importantes quanto. É fato, somos independentes e precisamos fazer grana para seguir em frente, mas quando desconhecemos alguns tramites, estamos literalmente perdendo dinheiro. Os artistas não estão por dentro da distribuição dos direitos autorais, não sabem as novas formas de distribuição de música na era digital, desconhecem o conceito de alguns termos como ISRC, Produtor Fonográfico, ECAD, etc. E o #ComboIO, explica melhor o que é, e fale do CD que acabam de lançar? O #ComboIO é um coletivo de rimas formado por Marcão Baixada, Léo da XIII, DJ Léo Ribeiro e eu (Dudu de Morro Agudo), são quatro gerações de artistas formados no Enraizados. Nós nos juntamos para somar forças e pensar novas formas de distribuir nossas músicas e fortalecer nossas carreiras solo. Em 2012 fizemos muitos shows em importantes evento no Rio de Janeiro e em São Paulo, inclusive tocamos no Favela Toma Conta. Em 2013 nos dedicamos em nossa turnê pela França e na gravação do nosso disco, que fi-

cou totalmente diferente de algo que cada um de nós viesse a fazer sozinho. Costumo dizer que o #ComboIO é maior do que a soma de nossas partes. Nossas carreiras continuam paralelas ao coletivo. Continuamos compondo e gravando em parceria. O disco está tendo uma boa aceitação em todo o lugar que chega, tenho o feedback de diversas regiões do Brasil, e também está vendendo e tocando via streaming em outros países. O que você, o enraizados e o #ComboIO esperam de 2014? Creio que os interesses são parecidos, mas as óticas são muito diferentes. Eu desejo que tudo o que planejamos para 2014 aconteça. Pra minha carreira, quero fazer meu disco e que ele aconteça, que as músicas toquem e transcendam as paredes imaginárias do hip hop, preciso ir além, é pra isso que estou estudando tanto. Para o Enraizados, espero que tudo o que eu e o Dumontt reformulamos funcione da maneira que imaginamos que vá acontecer. O Enraizados deu uma volta de 180 graus, repensamos tudo e começamos a plantar, agora esperamos colher alguns bons frutos, temos uma batalha muito grande pela frente, mas acredito que estamos preparados e renovados. Para o #ComboIO, espero que consigamos gravar nosso DVD. Espero que cada um de nós se dê bem individualmente, só isso já é bom para o coletivo. O Léo da XIII e o Marcão Baixada são muito criativos e incansáveis, é importante que o coletivo devolva tudo o que esses caras se dedicam. Copa do Mundo e Eleições... Como vê o ano para o país, acredita que vai ser bom? Poderia dar uma resposta mais subjetiva, mas não acredito que será bom para o país. Quando eu digo país, quero dizer para a maioria, para o povo. Não acredito nisso. Se nós fragmentarmos em grupos, teremos alguns poucos que vão ganhar muita grana com a copa, uma parte que vai se divertir com a copa (assistindo aos jogos), outra parte que vai se beneficiar com o chamado legado da copa do mundo e o restante que não tem como ser atingido positivamente por essa onda. Tô falando de toda a região da Baixada Fluminense, onde eu moro, região formada por treze cidades, com mais de 4 milhões de habitantes. Quando falamos de eleição, a coisa vira uma incógnita, como sempre. Porém acredito que em alguns estados é importante dar uma renovada. O que destaca na cena hip-hop do Rio de Janeiro no momento, o que está rolando? Tenho ouvido uns grupos que sempre ouvi e que se renovam a cada ano, ficando cada vez melhores, como Slow da BF, Kapella, Átomo, Impune, Marcio RC, Poetas da BF, Léo da XIII e Marcão Baixada.

Aulas no espaço Enraizados

Luiz Carlos Dumontt, Buzo e Samuca no Espaço Enraizados em Morro Agudo

Sede do Enrizados em Morro Agudo

Considerações finais e um salve pra quem leu essa entrevista exclusiva pro KAOS? Quero agradecer o espaço que sempre me é cedido aqui para falar dos meus projetos e da minha caminhada. Fiquei feliz com o volta do jornal porque eu tenho certeza que os leitores curtem muito a qualidade do conteúdo do jornal, são de muito bom gosto.


A VIAJANTE !!! Andréia G.Garcia mora no Alto Tietê, Grande São Paulo, cidade de Suzano. Ela é casada e tem 1 filho de 10 anos, saí 6h30 de trem e se tudo desse certo em 1h40 ela estaria no Metrô Santa Cruz onde trabalha, mas .... CPTM, METRÔ.... Tudo pode acontecer. Inclusive ela, assim como eu fiz em 2000 e 2005.... escrever um livro. A VIAJANTE DO TREM é independente, de crônicas bem humoradas e bem escritas. Saiba mais sobre a pessoa por traz da VIAJANTE. Por: Alessandro Buzo Fotos: Marilda Borges Alessandro Buzo: Como surgiu “A Viajante do Trem” ? Andréia G.Garcia: Eu sempre escrevia no meu Facebook, histórias curtas ou situações que vivenciava no dia a dia indo e vindo ao trabalho. Em Fevereiro/13, isso se intensificou com paródias de músicas de Carnaval sobre essa situações no tom de bom humor e uma grande amiga minha me incentivou a colocar tudo isso em um lugar só e fiz a página primeiramente no Facebook. Em uma semana já teve um alcance muito grande e logo montei o blog na Internet. Buzo: A importância das redes sociais ? Andréia G.Garcia: As redes sociais são importantíssimas, principalmente, nesse cunho social. Na área da mobilidade, os usuários utilizam-se das redes sociais para saber como estão as situações das linhas da CPTM e do Metrô, antes de sairem de casa, muitas vezes recebendo a informação antes mesmo dos órgãos oficiais. Isso ajuda a todos se programarem para os possíveis transtornos ou encontrarem alternativas. As empresas não podem fugir disso hoje em dia. Tudo é online e em tempo real.

Andréia autografa livro no Sarau Suburbano, na foto com Walter Limonada, um dos prestigiaram o lançamento dia 11 de fevereiro/2014

Buzo: Como você avalia o perfil de usuários dos trens e do metrô ? Andréia G.Garcia: Infelizmente, a grande maioria não tem ainda uma consciência coletiva e isso aumenta muito o desconforto nas viagens. A população só aumenta e será impossível conter a lotação dos carros, principalmente, em horário de pico. Temos que cobrar sim, um transporte de qualidade, mas ainda há muitos casos de impaciência, intolerância, solidariedade e isso contribui para o stress nosso de cada dia. Os perfis nas redes sociais tentam sempre conscientizar os usuários a melhorar esse lado também. Há sempre em contrapartida, uma galera que está se empenhando para isso melhorar.

Buzo: E o livro, como amadureceu a idéia e qual caminho seguiu até a publicação ? Andréia G.Garcia: Com menos de um mês de blog fui convidada a escrever semanalmente essas crônicas no Jornal Diário do Alto Tietê, que circula em Suzano e região. Com isso, a credibilidade e visibilidade aumentaram muito e creio que o livro foi uma consequência natural, onde compilei várias crônicas editadas no jornal e no blog. É uma publicação independente, sem editora, mas tive muita ajuda de amigos para que o sonho virasse realidade. Buzo: Vende mais “no trem” ou nas ruas ? Andréia G.Garcia: Como é uma publicação independente, tenho que me virar. A propaganda é pela rede social mesmo e no boca a boca. Buzo: Você mora em Suzano-SP (Alto Tietê, Grande SP) e trabalha no Metrô Santa Cruz. Qual seu percurso e quanto tempo gasta por dia nas conduções (ida e volta) ? Andréia G.Garcia: Embarco por volta das 06:30h em Suzano, na Linha 11 Coral e vou até Guaianazes, onde mudo para o Expresso Leste até a Luz. Depois, uso a Linha 1 Azul do Metrô até Santa Cruz. Se tudo corre bem, o trajeto é de 01:40 aproximadamente, mas cada dia é uma história nova. Buzo: Onde encontrar seu livro e qual suas redes sociais ? Andréia G.Garcia: O livro pode ser encomendado diretamente comigo, por email: aviajantedotrem@gmail.com ou pelas redes sociais (Facebook ou Twitter da Viajante do Trem). Também está a venda na Livraria Iacarujá, que fica em Suzano e na Livraria Suburbano Convicto, no Bixiga. Buzo: Proximos passos, na cultura, literatura ? Andréia G.Garcia: Pretendo sim lançar um segundo livro, mas ainda há muita divulgação que pretendo fazer com o primeiro. No proximo dia 15/02 tem nova noite de autógrafos em Poá/SP. Haverá um Encontro Regional de Autores em Suzano (Maio/14) e vamos ver o que mais me espera por aí. Algumas campanhas educativas para a CPTM estão sendo negociadas também e isso ajudará a divulgar cada vez mais meu trabalho, assim como foi feito no Metrô.


Depois de Cidade de Deus, Paulo Lins vem com o livro Desde Que o Samba é Samba. E claro que fala tudo pra nós do Boletim do Kaos, numa entrevista exclusiva. Alessandro Buzo: “Desde que o Samba é Samba”, nos fale do seu novo livro ? Paulo Lins: Fala do nascimento do samba e da umbanda no Estado do Rio de Janeiro. Falo das duas coisas mais importantes para o ingresso do negro na sociedade e vou explicar o porquê: quando o negro começa a votar, os líderes políticos tinham que procurar as mães de santo e os sambistas para angariar votos da população neta e bisnetas de escravos no início do século XX. Buzo: Porque o tema Samba? Qual sua ligação com o samba? Paulo Lins: A resposta anterior fala um pouco. Eu nasci entre sambistas, me criei entre eles, meu primeiro cachê foi de uma samba enredo que ganhei no Bloco Estrela de Jacarepaguá de um conjunto habitacional da polícia militar próximo à Cidade de Deus. Buzo: Conhece as rodas de samba que se multiplicam em São Paulo, como SAMBA DA VELA, BERÇO DO SAMBA DE SÃO MATHEUS e outros ? Paulo Lins: Já fiz um trabalho com a rapaziada do Samba da Vela, conheço as escolas de samba de São Paulo desde dos tempos que vim estudar na UNICAMP nos anos de 1880. Buzo: Foram muitos anos de Cidade de Deus para este novo livro, rolou um “bloqueio” ou você está se inspirando no prazo dos Racionais Mc´s lançar CD? Paulo Lins: Não, fiz cinema, teatro, televisão e muitas palestras. Claro que rola um bloqueio! Todo mundo perguntava sobre o próximo livro, até malandro de esquina, os caras da boca, polícia, aeromoça, garçom, enfim, quando meu filho de cinco anos me perguntou, eu fui lá e escrevi.

Buzo: Além do livro novo, quais projetos atuais seus pra destacar ? O que você anda fazendo ? Paulo Lins: Lanço um livro agora em fevereiro pela Editora Planeta. O livro é sobre o lixo, seria para criança, sempre tive vontade de escrever pra criança, pois todos os filhos quando crianças me pediram. Tenho um de 8 anos que vive me pedindo, mas não consegui, o livro foi mudando e virou um poema assim bem rancoroso com o ser humano em geral. Buzo: Hoje você mora onde? Rio ou São Paulo?Como é seu trânsito entre os dois estados ? Paulo Lins: Vivo nos dois, tenho casa lá e aqui em Sampa onde estou agora. São Paulo já minha cidade como Rio. Aqui também to em casa. Buzo: Assistiu o documentário sobre os 10 anos do filme Cidade de Deus, o que achou ? Paulo Lins: Deu pena de alguns atores. Chorei muito, me sentir responsável. Buzo: Como você vê a cena dos saraus crescendo em São Paulo e vários periféricos lançando livros? Paulo Lins: Eu vejo isso como o melhor fenômeno cultural dos últimos tempos. É a melhor coisa do Brasil de agora.

Buzo: Você nunca rotulou, mas seria também você um escritor da Literatura Marginal ? Paulo Lins: Marginal sou eu, mas a literatura, não. Buzo: Existe uma literatura marginal ou é só literatura ? Paulo Lins: Só Literatura. Buzo: Quem é o Paulo Lins no dia a dia, onde você gosta de ir, o que você gosta de fazer ? Paulo Lins: Arte, consumindo ou fazendo. Buzo: Uma mensagem pra quem vai ler essa entrevista e para os leitores dos seus livros ? Paulo Lins: Leiam todos os autores que puderem nessa vida.

Alexandre De Maio


Fico feliz em ver vários estilos diferentes e geral se respeitando. Um desejo meu é que possamos fazer mais coisas juntas, como parcerias, shows, mas isso também já tem acontecido”, acrescentou.

Para 2014, Lívia trabalha em novas parcerias dentro e fora do rap e também em um novo videoclipe. “Eu gostei desse lance de fazer disco. Já estou pensando no próximo”, brincou. E enquanto prepara as novidades, trabalha na divulgação do álbum. “Vou levando Muito Mais Amor Brasil afora”. Serviço – Para conhecer https://www.facebook.com/Liviacruzoficialzz

O rap feminista da atualidade brasileira

Lívia Cruz

Lívia Cruz, Odisseia das Flores e Sara Donato falam sobre as mulheres MCs Por Jéssica Balbino* Na luta contra o machismo, a violência doméstica e o mundo misógino, elas encaram rotinas extenuantes como trabalhadoras, mães, esposas e MCs. São as mulheres do rap brasileiro, que embora venham conquistando espaços, ainda enfrentam inúmeras dificuldades para serem reconhecidas pela boa rima que apresentam. Inspiradas por pioneiras como Lunna Rabetti, do extinto Livre Ameaça, Dina Di, Rúbia RPW e Atitude Feminina, as rappers Lívia Cruz, Sara Donato e o grupo Odisseia das Flores falaram com exclusividade ao Boletim do KAOS e contaram um pouco sobre os trabalhos para 2014.

Muito Mais Amor, com Lívia Cruz

Com “Muito Mais Amor”, em uma tentativa de ‘devolver’ ao hip-hop tudo que recebeu em anos de carreira, Lívia Cruz, 28 anos, lançou em 2013 o primeiro álbum e prepara-se para novos trabalhos em 2014. Para ela, é a realização de um sonho. “Foram anos batalhando em fazer o disco e finalmente eu consegui. O mais legal é que foi de uma forma colaborativa, através de um financiamento coletivo e neste processo eu aprendi muitíssimo. Os registros musicais são um reflexo disso. Está ali todo o sentimento”.

De acordo com ela, os temas do disco surgiram naturalmente. Algumas letras, inclusive, Lívia já tinha escrito antes de receber os beats. “A primeira faixa do álbum, que por coincidência foi a primeira que escrevi, a letra começa com a frase ‘ponto de partida’ e acho que isso já define muito o que eu queria definir com o álbum e também para toda a vida, em uma jornada em busca de muito mais amor”, contou. Como o nome do álbum sugere, as letras falam de amor e em uma pegada de Love rap com soul e pitadas de R&B, Lívia Cruz defende temas polêmicos como o machismo, a libertação feminina da violência psicológica, na poética “Não Foi em Vão”, cujo o clipe traz a participação de poetas da literatura marginal, evidenciando a ligação entre o rap e a poesia. E apesar das canções românticas, ela não poupa as críticas ao sistema e ao que incomoda, no entanto, para a cantora, as mulheres do rap vivem um momento bom e independên-

“Atualmente vejo muito mais as minas definindo o rumo e o tom das suas carreiras musicais, com mais liberdade e responsabilidade também. Acho que finalmente temos o entendimento de que ninguém vai nos dar espaço e por isso temos que conquistar por nós mesmas. Estamos fazendo isso de forma consistente.

cia autêntica.

“A Bela” voz de Sara Donato Da cidade de São Carlos (SP), a estudante Sara Donato, de 23 anos não nega as origens e por causa de uma crítica ao sotaque interiorano, batizou o primeiro disco como ‘Made in Roça’ e tem mostrado a que veio. Com rimas que valorizam a mulher, como “A Bela”, que critica os padrões de beleza e magreza impostos pela sociedade e “Quarto de Despejo”, que homenageia a escritora marginal Carolina Maria de Jesus, a jovem tenta passar sua mensagem. “O machismo está em todos os lugares e no rap não seria diferente. Apesar de muitos irem contra e apoiar a minas tem também aqueles caras que ainda acham que mulher no rap e feio e pá. Já foi mais difícil driblar isso, mas depois que conheci coletivos como o Hip-Hop Mulher e a Frente Nacional de Mulheres no Hip-Hop, comecei a enxergar de outra formar e entendi que eu tinha que me impor. Foi a partir daí que minhas rimas começaram a mudar e eu vi que tinha voz sim e tinha que falar sobre isso”, destacou. Os coletivos aos quais Sara Donato se refere foram criados, respectivamente, por Tiely Queen e Lunna Rabetti, pioneiras no hip-hop e no rap brasileiro. MCs, líderes dos coletivos e atualmente envolvidas com a literatura marginal. A partir deste contato, a MC aborda temas como feminismo, padrões de beleza a autovalorização na letras. “Eu canto isso porque são coisas que me afetam mesmo que indiretamente. Porque mesmo que a mulher que foi espancada não seja nada minha, é uma mulher a gente sente a dor”, explicou. Para 2014, Sara Donato prepara o primeiro videoclipe, da música “A Bela” e deve lançar web vídeos antes. Neste meio tempo, frequenta eventos, faz shows e trabalha na conscientização do papel do rap. “Eu

acho que ele precisa voltar para as quebradas. Por mais lindo que seja ver o rap alcançar outros lugares, a periferia ainda sofre muito e se somos mesmo a voz da periferia como sempre enxergamos no rap, precisamos entender que é mais que


Sara Donato música. É poesia, é liberdade de expressão e é conhecimento”, completou.

Serviço – Para saber mais https://www.facebook. com/saradonato666

“As palavras voam”com o Odisseia das Flores

Formado por Chai, Jô Maloupas e Letícia, o grupo Odisseia das Flores, que desde 2008 circula entre Franco da Rocha (SP) e a capital paulista, traz uma ideologia diferenciada. Quase agressiva (no bom sentido!). Como elas mesmas definem: “Lutamos por nossos direitos e cantamos aquilo que vivemos. Somos mulheres e agimos como mulheres. Gostamos de nos arrumar, nos perfumar e estar lindas no role. Não julgamos outras mulheres por suas vestimentas. Cantamos e criticamos quem não tem postura, seja homem ou mulher. Cantamos e criticamos a realidade do povo da periferia, que é carente de cultura e excluído dessa nossa sociedade capitalista”, resumem. Com o álbum “As palavras voam”, percorrem diferentes locais, saraus e encontros feministas para divulgá-lo, além de dividirem-se entre o trabalho cotidiano, os companheiros e agora, filhos. “Além disso, atuamos em trabalhos sociais, porque falar é fácil, o difícil é colocar a mão na massa e fazer a diferença”. O grupo pretende incentivar a atitude das

“Queremos que se elas tenham sonhos, que cheguem com força total para a luta. O Odisseia é um sonho se realizando e no nosso berço do rap nacional foi apresentado muito a linha do resgate, da informação, da transformação e da consciência. Foi assim que o rap apareceu em nossas vidas, fazendo este papel”, contaram.

mulheres.

Para o mês de fevereiro deste ano, o grupo pretende lançar o primeiro videoclipe, da música “Sem curva na ideia” e tem ainda novas canções para serem lançadas ao longo de 2014. “Podem esperar também algumas parcerias, já que a ideia é expandir o trabalho e fazer miscigenação musical e aprender cada vez mais”.

Odisseia das Flores Questionadas sobre o rap feminino, as integrantes do Odisseia das Flores reforçam a força das mulheres no hip-hop. “Várias guerreias estão na luta, compondo, produzindo e correndo atrás do seu espaço, o que é muito importante, já que são várias vozes, várias realidades e mais fortalecimento. Durante muito tempo ficamos atrás dos palcos, mas hoje a realidade é outra. A mulher sobe no palco, manda ver e canta seus sentimentos. Independente da linha do rap, do que se almeja, temos que nos respeitar”, finalizam. Serviço – Para saber mais sobre o trabalho https:// www.facebook.com/odisseia.dasflores •

Jéssica Balbino é jornalista


De traficante à líder dos direitos dos negros: Malcolm X Militante contra o racismo teve história conturbada, descobriu a importância da leitura na prisão e foi assassinado por causa das ideias de unificação racial Tema de filmes, biografias e estudos, Malcolm Little, chamado de Malcolm X tem uma história ainda pouco conhecida ou difundida no Brasil. Líder na defesa dos direitos dos negros nos Estados Unidos foi assassinado aos 39 anos – em 1965 – após uma história de vida trágica e uma luta dedicada à igualdade de oportunidades e direitos aos afrodescendentes que viviam na América. Filho de um homem que foi espancado e jogado na linha do trem quando ele tinha apenas 6 anos, Malcolm X foi deixado à adoção depois que a mãe, que era doméstica, foi apontada pelo governo do país como portadora de problemas mentais por não conseguir sustentar os oito filhos. De bom aluno à jovem desacreditado por um professor, passou uma fase da vida como boêmio em Boston e trocou uma companheira por uma mulher branca, que o traia. Fingiu-se de louco para escapar do serviço militar e frequentou ambientes de crime e prostituição até abandonar os empregos tradicionais e começar a vender drogas, além de praticar alguns assaltos. Jurado de morte por causa das atividades ilícitas formou um grupo com um amigo, uma irmã e a namorada para assaltar casas. As investidas deram certo no início, mas pouco depois a gangue foi descoberta e coube a Malcolm a maior pena entre eles: 11 anos de prisão em regime fechado. Dentro da penitenciária ficou conhecido como “Satã” pela postura rebelde e antirreligiosa, mas, por influência de um irmão, converteu-se ao islamismo. A partir daí, transferiu-se para uma cadeia de reabilitação e tornou-se um leitor voraz. Por meio dos livros, conheceu mais sobre a religião oriental e recebeu a letra “X” como parte do nome que teria sido revelado por Deus à Nação Islã. Desde então, mudou o sobrenome de Little para apenas “X”. Contudo, as mudanças não pararam por aí. Por conta da desenvoltura e habilidade com as palavras, foi nomeado ministro do principal tempo da Nação Islã nos Estados Unidos, localizado em Nova York.


LANÇAMENTO CLIP´s Convertido, o ex-criminoso casou-se com Betty, com quem teve cinco filhos e passou a dedicar-se a um jornal sobre muçulmanos negros, o que lhe rendeu convites para falar à imprensa e a universidades. Daí a tornar-se um homem tão conhecido como Martin Luther King ou mesmo o presidente estadunidense da época não demorou. Mas, com a fama veio também o ciúme dentro da própria nação, o que fez com ele fosse banido do grupo em que militava. A humilhação sofrida, contudo, serviu de ânimo para que o líder fosse à Meca buscar conhecimentos sobre o Islã. Tempos depois, retornou aos EUA, onde fundou a Organização Unidade Afro-Americana, que não se tratava de um grupo religioso e tinha o objetivo único de unir os negros que viviam na América. Para ele, a questão do negro não estava ligada apenas ao fator religioso, mas também às estruturas do capitalismo. Malcolm X acreditava que uso da violência poderia ajudar na defesa dos afrodescendentes , o que pontuou lutas durante a década de 1960, enquanto outro líder dos negros, Martin Luther King apostava em uma resistência pacífica para enfrentar o racismo. Entretanto, a militância de Malcolm durou pouco. Ele foi assassinado na sede da própria organização com 16 tiros no peito, no dia 21 de fevereiro de 1965. Três pessoas foram indiciadas e condenadas pela morte do líder cívico. Um deles foi solto em abril de 2010, quase 40 anos após ter sido detido.

Max B.O. - Favela [prod. Wzy]

O clipe Favela do Max B.O. é muito bem produzido e traz a cara da quebrada. Max B.O. é apresentador do Programa Manos e Minas da TV Cultura, lançou seu albúm ENSAIO, O DISCO a um tempo. Vale a pena.... http://www.youtube.com/watch?v=l76DQvRL410

Durante a luta, Malcolm X viajava pelos principais estados do país para pregar as ideias e teve as posturas bastante difundidas por movimentos como o Black Power e os Panteras Negras. O ativista ganhou também filmes e documentários, entre eles o ‘Malcolm X’, dirigido por Spike Lee. Serviço – Além do documentário assinado por Spike Lee, para saber mais sobre a vida de Malcolm X a dica é a biografia: “Malcolm X – Uma vida de Reinvenções”, de Manning Marabele, da editora Companhia das Letras. Lançada em 2013, a obra com 632 páginas tem preços que variam de R$ 55 a R$ 69,90.

O BOM E VELHO RAP DE QUEBRADA Clipe: Retrato Grupo: Tribunal Mc´s POR:AÇÃO ATIVA FILMES DIREÇÃO GERAL:THIAGO (D’ELITI)

http://www.youtube.com/watch?v=q22KTNaG2Tg

Vem ai.... em fevereiro.... RIMA FATAL DA LESTE E ODISSEIA DAS FLORES

DIA 03/02/2014 - AS 20 HS NO YOUTUBE SERÁ O LANÇAMENTO OFICIAL DO VIDEO : NA MINHA CAIXA SÓ OS GANGSTAS - DO GRUPO RIMA FATAL DA LESTE E DIA 24/02/2014 - AS 20 HS O VIDEO CLIP OFICIAL DO GRUPO ODISSEIA DAS FLORES - MUSICA : SEM CURVA NA IDEIA AMBOS, DIREÇÃO DO PRODUTOR CULTURAL : TONI WILLIAN


QUALIDADEZ 100% DOS CURSOS RECONHECIDOS E APROVADOS SAÚDE RADIOLOGIA MEDICINA ODONTOLOGIA ENFERMAGEM FISIOTERAPIA SERVIÇO SOCIAL CIÊNCIAS BIOLÓGICAS FARMÁCIA NUTRIÇÃO PSICOLOGIA TERAPIA OCUPACIONAL BIOMEDICINA EDUCAÇÃO PEDAGOGIA HISTÓRIA MATEMÁTICA EDUCAÇÃO FÍSICA CIÊNCIAS SOCIAIS LETRAS QUÍMICA TRADUTOR E INTÉRPRETE

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