MENTIRAS E EMOÇÕES
anterior. Se ela crescer apreciavelmente, pode indicar que estou tentando inventar uma história para encobrir alguma coisa; se diminuir, pode indicar que ensaiei minha resposta. Segundo: mesmo uma hesitação acentuada pode ser resultado de um processo totalmente inocente. Mesmo se eu não fosse um enganador, poderia hesitar enquanto penso se minha mulher está desconfiada. Posso, ainda, estar tentando decidir se comento com ela a esse respeito. Como as contradições e hesitações podem indicar um pensamento a respeito de algo distante da conversa, invoco aqueles sinais de pontos quentes em vez de sinais de mentira: eles assinalam um momento em que você precisa descobrir mais informações. As alternativas a respeito do comportamento da pessoa têm de ser excluídas antes de você concluir que a mudança no comportamento é evidência de mentira. Apenas Pinóquio possuía um sinal que se apresentava quando ele mentia. Nós, na melhor das hipóteses, temos os pontos quentes. Se eu revelasse uma microexpressão de medo quando minha mulher perguntou sobre meu carro estacionado diante do St. Regis, isso seria um ponto quente. Poderia recear que ela não acredita em mim, ou ficar preocupado com a situação de nosso casamento a partir das dúvidas dela a meu respeito. Poderia mesmo estar ocultando o medo por não querer que ela imagine o que estou pensando sobre nosso casamento, ainda que eu não tivesse feito nada de errado. O receio de ser descoberto em adultério é apenas uma das possibilidades que podem me fazer tentar ocultar medo. Como é apenas um ponto quente, ela deveria formular mais perguntas e obter mais informações para esclarecer o que gerou a emoção oculta. Diversos sinais de pensamento a respeito do estímulo do momento são revelados na voz e nos gestos. Geralmente, há determinados lapsos de memória que não ocorrem quando as pessoas dizem a verdade. Além disso, uma memória detalhada pode ocorrer quando alguém está mentindo. John Dean, conselheiro do presidente Nixon, descreve em seu livro o quão cuidadosamente elaborou um relato dos eventos, pois achou que, ao incluir diversos detalhes, ele teria mais credibilidade4. Se aqueles que o escutaram tivessem conhecimento da pesquisa dedicada à memória, teriam tido a reação oposta, pois uma memória altamente detalhada para eventos registrados posteriormente é muito incomum. No meu livro Telling Lies [Contando Mentiras, sem edição em português], descrevo esses pontos cruciais e questões a respeito de por que as pessoas mentem, e, também, quando é possível avaliar a veracidade a partir da