Afundação Roberto Marinho

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Roberto o tipo de sacanagem que o Magaldi está aprontando... — Pedia-me quase de forma infantil. — Francisco, eu estou fora. Até parece que você não me conhece. Não vou insistir neste assunto. Se aparecer fato novo, eu até topo explorar, mas insistir nisto é ridículo. Para mim o assunto Magaldi e Fundação são casos encerrados. — Não acredito. Você com a declaração dele na mão e não vai me dar nem uma cópia? — Perguntava ele, brincando. — Pode apostar. Você vai se decepcionar. — Insistia eu, posição firmada. Aguardamos muito pouco tempo por uma resposta, e uma vez aceito o serviço, sem restrições, por parte do Boni, parti para uma auditoria tranqüila, com a calma de quem já tem o peixe fisgado. (Isto porque, nos exames prévios e paralelos,eu já possuía a comprovação de quase todas as graves irregularidades. Bastaria tão somente saber a extensão da coisa.) O Afrânio tentou tudo que é truque e artifício para fugir ou postergar o exame. Eu ia para o escritório da Rua Jardim Botânico, e ele ia para o escritório dele na Rua Evaristo da Veiga (no Centro). Eu punha um auditor em cada escritório, e ele ficava em casa ou não era encontrado. Tanto pior. Dava-me a oportunidade de viver o movimento dos escritórios dele, e de observar um número cada vez maior de diretores e artistas envolvidos com suas irregularidades. Quando eu pus a mão nos documentos que eu já supunha serem irregulares, veio o pânico e a tremedeira generalizada. Afrânio perdeu o controle, tremia feito vara verde. Deixava montes e montes de dinheiro vivo em cima da mesa, mas tinha medo de me abordar e piorar as coisas. Tentou uma aproximação por intermédio de dois funcionários seus (que tiveram respostas atravessadas e foram recebidos quase que a ponta-pés). Dentro de muito pouco tempo eu já sabia tudo que queria saber, e tinha constatações horríveis. Quer pela Fundação, quer pelo Boni, quer por toda a estrutura da Rede Globo. Para efeitos legais, no período até 1982 (inclusive) a JOB era de propriedade do Boni e do Marcos Bordini. Conseqüentemente, todas as notas vendidas à Fundação eram de responsabilidade deles. E, após 1982, quando o Boni teoricamente vendeu a JOB para o Afrânio continuar a vender notas dentro da Globo, e abriu uma nova PJ chamada VPO (símbolo da VicePresidência de Operações — cargo do Boni) a situação não mudou, pois houve um processo de continuidade, uma vez que quase todas as despesas da VPO eram suportadas por notas frias da própria JOB (agora em nome do Afrânio). Ou seja: JOB e VPO eram extensão uma da outra, e continuava tudo igual: O Boni recebia todos os seus honorários (entre um milhão e meio a dois milhões de dólares) por notas contra a Rede Globo (com isto burlava o Imposto de renda na fonte e na declaração final da quase totalidade de seus rendimentos, se recebidos como pessoa física). Deduzida irregularmente 100% de suas receitas com 20% em notas inadequadas (xerox de notas; vinhos; bebidas; comidas; manutenção de casa; mercado; etc.) e 80% por notas frias da própria JOB. Ou seja, um dos maiores salários do Brasil não pagava nada de imposto de renda. (Enquanto a classe média. . .) Olhar para os extratos bancários era um horror. Estava tudo lá. Não havia um só cheque que correspondesse a uma despesa legítima. Além do mais, aplicações elevadíssimas no Open, sem o menor reconhecimento fiscal. A esta altura, eu já considerava quase que dispensável falar em erros menores como a não escrituração de alguns livros legais; excessos tributários não oferecidos à tributação; valores das declarações em desacordo com a contabilidade; falta de correção monetária; falta de documentação de imobilizações; falta de documentos de aplicações fiscais; falta de certificados de investimentos; rasuras em livros e documentos; etc. Mas, logo aconteceu o pior. Justo quando o Afrânio já estava prestes a aceitar, pacificamente, todas as irregularidades, de bom grado. Apareceram as autenticações frias em vários e vários documentos fiscais, envolvendo três bancos: o Banerj , com autenticações seqüenciais em meses distintos. Exemplos: 06 de agosto — autenticação número 094, funcionária Ana; 08 de outubro - autenticação 096, funcionário Jorge; 09 de novembro - autenticação número 098, funcionária Ana; 09 de fevereiro — autenticação número 00, funcionário Jorge. O Banco Nacional, com autenticações de meses distintos feitas na mesma máquina, com o mesmo número de autenticação, e com algumas autenticações, em off-set. Por último, o Banco Econômico, com autenticações desconhecidas por funcionários da própria agência daquele banco.


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