Afundação Roberto Marinho

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maioria estava, conforme previsto, em três grandes contadores, e o restante em contadores isolados.) Estávamos já muito próximos de um grande "estouro" quando uma incrível "coincidência" aconteceu: — Machado, sabe quem acabou de me telefonar querendo uma reunião urgenteurgentíssima? — Questionou o Francisco, de forma alegre e debochada. — Não, quem? — Perguntei, com real curiosidade. — Marcos Bordini. Assistente e Secretário Particular do Boni. — Ah, é? — Disse eu, quase rindo. — Neste caso, o Boni já está sabendo pelo serviço de escuta do Maurício Antunes (assessor do Boni, especializado em "telefonia") que tem várias notas frias da firma dele (JOB) na Fundação. (Os diretores que usaram estas notas, já não escondiam o assunto nem por telefone.) Vamos ouvir o que o Marcos quer nessa reunião. — Conclui, com ironia. Coincidência ou não, o assunto era o mesmo: Boni estaria preocupado com o que pudesse estar acontecendo com a (PJ) empresa dele, já que o controle sobre o contador estava, de certa forma, "fugindo ao controle". Fomos para a reunião, e ficamos sabendo, pelo Marcos Bordini, que o contador do Boni, Afrânio — que por sinal fazia o grosso das escriturações das PJs de artistas e diretores da Globo — deveria estar fazendo algo de bem irregular, pois havia chegado um documento grave de fiscalização, num antigo endereço de uma antiga firma do Boni. E, partindo da premissa de que se havia fumaça havia fogo, ele (Boni) queria que fizéssemos uma auditoria no escritório do Afrânio, envolvendo todas as ex-PJs do Boni, bem como a sua PJ atual. Coincidência ou não, ficou claro para nós que o Boni teria tido, no passado, várias PJs e que elas haviam sido entregues ao Afrânio para serem baixadas. Entretanto, as evidências demonstravam que as empresas estavam funcionando, e com vários processos na área de execução do Ministério da Fazenda. Antes de aceitarmos o trabalho, eu expus ao Francisco que eu não iria fazer nada de graça. Pelo contrário, iria cobrar e fazer o serviço não como funcionário da Rede Globo, mas como uma pessoa independente. Utilizando, para tanto, o meu horário de almoço, e o horário após as 19:00hs. (Aí eu passei a exigir sair no horário, para poder atender ao Boni e porque o trabalho Fundação estava encerrado.) O Francisco concordou, pelas vantagens óbvias que ele teria, e até ajudou na intermediação da apresentação de uma proposta formal de trabalho, aceita, de pronto, pelo Boni. A excitação tomava conta do Francisco, de forma quase que descontrolada. Pois a oportunidade de montarmos uma base no escritório do Afrânio era tudo que ele sonhara. Ele não estava nem um pouco preocupado com o serviço do Boni, mas com a possibilidade, ainda que por vias transversas, de tentar chegar às declarações dos principais diretores da Fundação. Porque Jair Lento, Mário de Almeida e até o próprio Magaldi tinham escrituração centralizada no escritório do Afrânio. — Agora a gente pega eles de vez. Você vai ter que me mostrar se os tais terrenos de Angra, Parati e Porto Seguro estão nas declarações de impostos de renda de pessoa física desses caras. — Tentava intimidar-me o Francisco. — Porra nenhuma, vou fazer o meu trabalho. Se cair na rede é peixe. Mas não vou ficar correndo atrás disto. Você parece maluco. Encasquetou esta neurose, e agora quer provar a todo custo que o Magaldi fez estas transações com terrenos. O que isto prova? Aonde isto vai levar? Esquece! — Tentava eu afastá-lo de sua obstinada renitência. — Nada disso. Agora que nós entramos na casa dos bandidos, vamos pegar todos eles juntos. — Dizia com satisfação o Francisco. — Pode esquecer. Eu não vou ajudar você nisso. O que você quer é a cabeça do Magaldi e quer me usar para isso. Veja bem: se você tivesse que derrubá-lo, já teria feito com o que está exposto no relatório, demonstrando que ele é um administrador daninho e relapso... E, se o Dr. Roberto não o demitiu até agora da posição de Secretário Geral, não será mais uma ou menos uma sacanagem que irá mudar a posição do velho. Esqueça o Magaldi e parte para outra. — Eu teimava em meu ponto de vista. — Qual o problema em você me ajudar? Se você tiver acesso à declaração dele, por que não tirar uma cópia para mim? Só mais um empurrãozinho e ele cai. Deixa só eu mostrar pro Dr.


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