Escafandro: a engenharia fantástica dos medos e dos sonhos

Alan Uchoa II

ESCAFANDRO -

A

ENG ENHAR IA

FANTÁSTICA

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M E D OS

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D OS

S O NH OS

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Fundação Edson Queiroz Universidade de Fortaleza Centro de Ciências da Comunicação e Gestão (CCG) Audiovisual e Novas Mídias Alan Christian Vieira Uchoa Filho Trabalho de Conclusão de Curso submetido à banca avaliadora como pré-requisito para obtenção do título de Bacharel em Audiovisual e Novas Mídias.

Professor Orientador: Me. Tarcísio Bezerra Martins Filho Banca Avaliadora: Prof. Esp. Alessandra Marinho Bouty; Prof. Esp. José Wilton Lima Martins Dezembro 2015

ESCAFANDRO -

A

E NG E NH A R IA

FA NTÁSTICA

DOS

M EDOS

Alan Uchoa II

E

DOS

SONHOS

-

Ton, Mary, Bebel, mainha, papai, BĂĄrbara, tia Mona, voinho Uchoa, voinha Silene, voinha Francy e TarcĂ­sio,

obrigado.

“Ouvi dizer que me chamavam de mentiroso, pois nunca ninguém havia visto os lugares que eu descrevia em minhas histórias. Tolos. Eles procuravam com os olhos o que eu via com o coração”.

- A.U.II

Cap. I

Início da jornada

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Cap. II

O medo de não ser tão bom quanto

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Cap. III

Interesse: o grande segredo

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Cap. IV

Definindo meu estilo

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Cap. V

Processo de criação

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Cap. VI

A arte de falhar

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Cap. VII

Exercícios para inspiração

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Cap. VIII

Saindo do padrão

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Cap. IX

Sendo um artísta

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Cap. X

Fine art

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O selvagem e o sublime

Capítulo I

“Dizem que o que procuramos é um sentido para a vida. Penso que o que procuramos são experiências que nos façam sentir que estamos vivos...”

- CAMPBELL, Joseph

O início da jornada

Q

uando criança, minha mãe costumava me levar aos finais de semana para o sítio de meus avós que ficava no meio de uma floresta. Lá, ao chegar, eu sempre procurava uma vareta de madeira para fingir ser minha varinha mágica e passava o resto do dia no meio da mata, subindo em árvores e na companhia de amigos imaginários,

desvendando inúmeras aventuras. Minha mãe costumava me achar um tanto solitário por brincar sozinho. Eu já penso que costumava ser uma criança com muita imaginação.

Os finais de semana em que eu não passava no sítio, costumava ficar com meu pai, que possuía uma locadora de vídeo. Isso me permitia assistir diversos filmes num mesmo

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dia. Fantasia e terror eram meus gêneros favoritos e esses serviam de combustível para minhas aventuras imaginárias. Bem, meus pais se separaram quando eu tinha 2 anos e essa ruptura me permitiu viver em ambientes bem diferentes e ter experiências diversas.

Eu sempre gostei de criar, modificar, e principalmente, fugir da realidade. Costumava compor, desenhar, tocas instrumentos, entre outros, porém, a fotografia nunca havia despertado muito interesse em mim; sempre se apresentando como algo burocrático, que exigisse a presença de uma equipe numerosa, equipamentos caros e necessitasse fazer cursos de custos muito altos para se profissionalizar.

Foi quando em 2011 (tinha 17 anos), fiz amizade com um garoto num cursinho prévestibular que fazia um trabalho fotográfico surreal, onde ele era o modelo, fotógrafo, editor e todo o resto, além de não possuir um equipamento profissional. Fiquei assustado e encantado com suas fotos, pois uma realidade que parecia estar tão distante de mim, agora se mostrava facilmente acessível.

Demonstrando muito interesse pelo assunto, logo ganhei de aniversário uma câmera bem similar à dele e resolvi começar a construir o mundo fantástico que sempre sonhei. No mesmo ano entrei para a faculdade de Audiovisual e Novas Mídias e lá pude ter meu primeiro contato com a ferramenta Photoshop, com uma aula introdutória sobre sua funcionalidade básica.

As aulas não foram suficientes para o quão

interessado eu estava, então comecei a dedicar profundamente meus dias a essa ferramenta.

Sempre foi uma necessidade minha poder expressar minhas opiniões, medos, dúvidas e meu desenvolvimento quanto homem através da arte, além da minha fé e entendimento sobre a vida.

Não muito tempo passado, consegui adquirir um equipamento profissional devido minha dedicação e necessidade de aprimorar meu trabalho que ficava cada vez mais sério, decidindo assim me dedicar totalmente a essa linguagem. E desde então tenho me destinado a dar vida às minhas fantasias, sejam elas frutos de meus medos, pensamentos ou lembranças, desvendando a cada trabalho uma nova face da minha alma; uma nova personagem, quem realmente sou.

Por trás das cenas de “o guardião da terra solitária”, no jardim da minha casa.

Os itens usados foram: toalha para fingir se a neve em que pisava, pano preto para representar uma passagem obscura e isopor picado no meu corpo como neve.

Fiat lux

Capítulo II

“Todas as crianças nascem artistas. O difícil é continuar artistas enquanto cresce” - PICASSO, Pablo

O medo de não ser tão bom quanto

Q

uando comecei a fotografar, já tinha uma boa lista de artistas que me serviam de referência e me inspiravam.

Por outro lado, eles também serviam para me desmotivar, pois um questionamento que sempre latejava minha cabeça era a ideia de que eu nunca seria tão bom quanto eles. Bem, é difícil dar os primeiros passos quando você não sabe

onde pisar. Essa é uma sensação que vaga tanto na minha experiência de vida quanto minha experiência como fotógrafo. O que pude aprender com isso, é que apesar desse fato acontecer certas vezes, você vai precisar se arriscar a dar passos no escuro caso você não queira dar passos para trás.

A verdade é única e absoluta: todos começaram do mesmo lugar, ou seja, do nada. Esse

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pensamento servia para rebater sempre a minha inferioridade diante do trabalho dos meus ídolos.

O medo de não se tornar tão bom quanto alguém pode ser um aspecto muito positivo quando isso motiva o indivíduo a ser ganancioso e sempre procurar novas áreas de estudo, novas técnicas e novos desafios. Porém, há também aqueles que pelo mesmo medo, sentem-se desmotivados por não alcançarem o resultado almejado, tendo sempre como modelo a obra de seu ídolo, e param de produzir. Morrem artisticamente. Esse fato acontece também pelo imediatismo contemporâneo que estamos vivendo, onde muitas coisas são praticamente instantâneas. É importante que cada artista tenha consciência de que ele só irá amadurecer e desenvolver-se se não desistir de sua jornada, pois na verdade, ninguém é tão bom quanto ninguém; cada indivíduo é o reflexo de seu conhecimento, experiências, facilidades e dificuldades. O que leva a achar que alguém é superior a alguém é muitas vezes a mídia, a publicidade, entre outros fatores. Não estou dizendo que as pessoas que fazem sucesso não são dignas de seus méritos, mas que fique claro que sua arte é sagrada independente de todos esses fatos.

Um artista de verdade não nasce de uma capa de revista, mas da crença do que faz.

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[Sem título] Experimento conteitual em preto & branco, inspirado no poder de vulnerabilizar as pessoas que estão ligadas por algum tipo forte de relação.

Como até uma superfície plana e dura como concreto cede a um toque sensível.

O berรงo

Capítulo III

“A caverna que você teme entrar, esconde o segredo que você procura” - CAMPBELL, Joseph

Interesse: o grande segredo

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oje nós temos acesso a inúmeros tipos de conteúdo e nunca foi tão fácil aprender coisas novas com a maior acessibilidade à internet que temos agora. Eu aprendi a usar minha câmera somente através de tutoriais em sites, e a mesma história se repete para técnicas mais avançadas no Photoshop, tudo que eu queria aprender, eu procurava na internet e se não

achasse o que eu queria, chegava bem perto. A verdade é que até agora nunca gastei dinheiro algum com cursos a fim de aprimorar minhas técnicas, pelo simples motivo de sempre achar conteúdo disponível de graça na rede... para todos.

O que costuma acontecer, é que devido a essa facilidade de informações em massa, muitas pessoas simplesmente querem que tudo es-

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teja ao seu dispor sem ao menos procurar. A única diferença entre mim e alguns colegas de sala na época da faculdade a respeito do conhecimento no Photoshop era o interesse.

Não estou me posicionando superiormente aos meus colegas, é exatamente isso que quero dizer. Muitos me pediam para ensinar a eles o que eu fazia, porém, era difícil dar uma resposta mais abrangente quando a única que eu realmente fazia era estudar uma forma de fazer acontecer o que eu queria. O interesse me motivava a sempre buscar respostas para solucionar projetos e fazer acontecer minhas ideias.

Alguém interessado está sempre com fome de aprender mais sobre o que procura e não descansa até conseguir uma resposta satisfatória.

Além disso, a internet é uma grande plataforma para fazer exercícios que estimulam a criatividade e servem de inspiração. O ócio também é algo que pode servir de ferramenta: enquanto você aprecia trabalhos de outros artistas, pode estar coletando referências para seus trabalhos da seguinte forma: salvando imagens diversas que têm a ver com seu trabalho, assim você terá um enorme banco de dados que lhe sirva na hora do trabalho. Eu, por exemplo, costumo sempre salvar fotos com poses diferentes e que podem ser facilmente flexionadas e que tenham a ver com meu trabalho.

No decorrer de minha jornada, aconteceu de haver períodos extremamente não produtivos. Certa vez, passei um mês sem conseguir produzir nada, sem conseguir pensar em nada que eu considerasse genial e que valesse à pena

seguir ou qualquer inspiração que me motivasse. Foi tempo de me sentir triste, incapaz, desacreditado, tempo de muitas dúvidas sobre quem sou e sobre meu futuro.

Bem, isso tudo me fez pensar sobre meu modo de produção e chegar a conclusão de que estou desperdiçando minha criatividade e meu tempo. Quero dizer o seguinte; hoje, tenho em minha cabeça a tarefa de produzir imagens que sejam “obras-primas” e que só vale “suar” se for para ter esse resultado. Bem, quem não quer ter em seu portfólio somente grandes trabalhos?

Mas aí vem o meu problema: eu só pegava na câmera quando era para executar uma ideia que na minha cabeça era 100% de certeza de dar certo e ser um trabalho incrível. Sendo que grandes trabalhos também vêm quando você menos espera. Deixe-me ser mais claro; eu não saia com minha câmera para passear, termos um momento juntos e deixarmos que as ideias vissem naturalmente, eu só saia de casa quando eu já sabia o que fotografar. Claro que é horrível quando você tem a câmera na mão e não sabe o que quer fazer com ela. É algo muito estressante. Só que muitas vezes vale a pena você sair e simplesmente fotografar. Dane-se se você não sabe o que fazer em frente a câmera, apenas tente novas posições, dance, tente novos ângulos, enfim: só não fique parado.

A porcentagem de você alcançar algum resultado satisfatório é bem maior quando você está tentando fazer alguma coisa do que quando você não está tentando absolutamente nada.

Onde os deuses se escondem

Capítulo IV

“A vida é como uma câmera; se você não tem um objetivo, você nunca poderá se focar” - autor desconhecido

Definindo meu estilo

T

odo e qualquer artista espera ser identificado através de suas obras. Normalmente, você saberá diferenciar as pinturas de Salvador Dalí das de René Magritte somente pelos traços usados por cada artista, apesar dos dois se tratarem de artistas surrealistas, cada trabalho é carregado por uma personalidade singular. Até mesmo se colocássemos em uma mesa três obras

de cada um desses artistas citados e a embaralhássemos e pedíssemos para alguém organizar de acordo com alguma similaridade, provavelmente ainda não seria uma tarefa tão difícil.

Costumava me perguntar como eles conseguiam fazer isso. Então entendi que eles simplesmente sabiam o que estavam fazendo.

Não se tratavam de trabalhos aleatórios onde

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o sucesso do resultado final fosse algo inesperado; todos sabiam onde queriam chegar e como alcançar tal resultado. Porém, antes eles tiveram de descobrir seus próprios métodos e descobrir o que gostavam de fazer.

Quando chegou minha vez, eu já sabia o que gostaria de retratar através dos meus trabalhos: fantasia, fuga da realidade e as imagens que vinham na minha imaginação. Mas ainda assim não era claro o suficiente para me delimitar a uma estética fixa. Antes de resolver definir um estilo para as minhas fotos, eu já havia experimentado de tudo um pouco: fotografar animais, momentos do dia-a-dia, pessoas passando na rua, entre outros, e com isso fui descobrindo o que gostava mais de ver em meus trabalhos e que mais tinha a ver com a minha proposta.

A primeira coisa que fiz para iniciar esse processo estético foi observar minhas referências, e separá-las em: trabalhos que eu admirava e os que eu queria ter tido feito. Sim, pois há sempre um trabalho que você admira, mas você como artista não o teria feito se possível.

Porém, também existe aquele que te deixa petrificado, que fala o que você queria dizer da maneira como você gostaria de ter falado. Mas ele não é seu. Então fiz uma lista com todos esses trabalhos e observei cada um minunciosamente: sua composição, paleta de cores, ângulo, elementos, entre outros, e então pude identificar o tipo de trabalho que eu iria produzir. Isso foi importante para mim, pois me deu foco e me ajudou a organizar minhas ideias dentro do

meu processo criativo. O resultado final dessa pesquisa foram espécies de tags que poderiam ser adicionadas aos trabalhos, ou simplesmente “regras”, como: atemporal, natureza, pitoresco, chiaroscuro, formato quadrado, elemento centralizado, entre outros; Também elementos que não deveriam acontecer, como: nada moderno, não mostrar rosto, não muito dark, não muito monstruoso, nada de sangue etc.

Entre minhas referências estavam nomes como: Kyle Thompson, Bouguereau, Rembrandt, Caravaggio, Miss Aniela, Brooke Shaden, entre alguns outros.

O significado de estilo posto aqui é o conjunto de características que levaram a uma identificação. É muito importante lembrar ainda que quando falo em “definir um estilo”, você não deve prender-se as idealizações feitas e segui-las durante o resto de sua jornada, mas de sempre descobrir uma forma de capturar algo diferente – do que você está habituado – com o seu olhar e suas cores. Descobrir o seu estilo é uma simples e longa jornada de autoconhecimento.

Um sonho frรกgil

Capítulo V

“Faça algo desconfortável.

Faça algo que te assuste.

Faça algo que você normalmente não faria.

Vá a algum lugar.

Aprecie onde você está.

Veja cada dia como uma nova aventura.

Mantenha-se inspirado” - SHADEN, Brooke

Processo de criação

T

udo parte de uma ideia, sentimento, conceito, pré-conceito, entre outras fontes, e tudo acaba numa obra; em um material visual, no meu caso. Meu processo de criação está muito ligado a minha formação acadêmica em audiovisual. Elaborar um método para me ajudar no processo de criação foi também uma boa oportunidade de entender melhor a

proposta dos meus trabalhos e minhas ambições artisticamente.

A proposta da fotografia fine art é a liberdade artística simplesmente pelo seu impulso estético, sem motivações ou intervenções comerciais ou de terceiros. Isso não quer dizer que não pretendo ganhar dinheiro com meu trabalho ou que não seja apreciado por um

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público, mas que será criado direta e exclusivamente a partir do ponto de vista pessoal.

Porém, não é de minha premissa criar um trabalho totalmente conceitual e abstrato. Um dos principais objetivos do meu trabalho é contar uma história, e então aqui entram meus estudos em audiovisual.

Durante a faculdade pude entrar em contato com a criação de roteiros, que surgem a partir de ideias diversas e devem ser organizadas.

Sendo assim, a melhor forma que encontrei de começar um trabalho foi anotando a ideia ou desenhando-a da melhor forma que eu puder para não perder minha referência visual. Às vezes uma ideia também surge a partir de algum lugar que vejo. Enquanto ando, seja por onde for, tenho o habito de observar todo o ambiente ao redor e caso algo me agrade, procuro imaginar que história aquele lugar teria para me contar e então começo a construir alguma ideia em torno disso.

Depois do primeiro passo concluído (ter uma ideia), o próximo para mim é identificar essa mensagem num contexto de história, e então a ideia tende a fragmentar-se em: locação, personagem, ação, cor e “algo mágico”. O “ponto mágico” será sempre aquilo que irá identificar que um mundo mágico e surreal habita os meus trabalhos, podendo ser desde as cores incomuns das plantas até um pássaro voando para fora do peito de um garoto, portanto que seja algo que possa romper essa barreira com o mundo real. Esse tópico está muito relacionado à pós-produção, e logo ao pensar nesse ponto

já tenho de pensar que técnica de edição ou “gambiarra” deverei usar. Nenhum passo é dado contando com o acaso ou sorte.

Após cada tópico ser bem definido, é hora de ir fotografar. Logo observo se tudo está indo como planejado. E então estou pronto para a edição.

O meu processo de edição e finalização costuma durar dias (já durou meses, uma vez), devido a minha necessidade de maturação do trabalho, portanto, quando termino de editar, espero sempre para ver com que “olhos” irei vê-lo no dia seguinte. Adquiri essa percepção somente com o tempo, pois tinha o costume de publicar os trabalhos imediatamente depois de editar, e sempre observava depois que faltava algo e acabava excluindo a imagem e devolvendo-a a edição. Dessa forma, como não quero que isso se repita, decidi que esperaria o tempo que fosse necessário para “dar a luz” a minha obra. Costumo enxergar esse processo exatamente como uma gestação, pois eu preciso esperar o tempo necessário para que ele esteja 100% formado e caso essa exposição aconteça antes do tempo, o trabalho pode vir “deformado”; imaturo.

A morte de Severino - Ato I

Capítulo VI

“Cuidado ao expulsar seus demônios, pois eles podem levar o que há de melhor em você” - NIETZSCHE, Friedrich

A arte de falhar

E

natural do homem aprender com seus erros; ter a chance de falhar para se aperfeiçoar. Sempre fui curioso em querer saber como é o processo de criação de outros artistas e como eles atuam na hora de por em prática suas ideias.

Alguém que sempre serviu de modelo para mim foi a fotógrafa norte-americana Brooke

Shaden. Ela, usualmente, grava vídeos por de trás das cenas e compartilha com o publico.

Tudo funciona de maneira admirável e um tanto simples. Eu tentei seguir esse tipo de sistematização por um tempo, mas acabava ficando frustrado, pois muitas vezes não dava certo.

Bem, o modo que ela segue é bem simples; ela faz um rascunho no papel do que pretende

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fazer, procura uma locação e fotografa, depois é só partir para a pós-produção. Não tão simples assim, claro, mas a ideia principal que ela procura passar é de que não precisa ser algo tão complexo. Ela faz tudo sozinha e isso é realmente encorajador e incentivador, pois se ela consegue... por que nós não?

Como falei anteriormente, esse método não serviu para mim e muitas vezes tive de lidar com as falhas; com trabalhos que simplesmente não deram certo.

Muitas vezes viajei para longe de minha casa pegando carona com algum amigo, para no final de tudo a foto não dar certo. É uma sensação de fracasso enorme que sentia/sinto.

Porém, a cada falha eu entendia que passos não dar da próxima vez e que direção iria me levar ao sucesso no final. A verdade é: você não está falhando, mas adquirindo experiência.

Tudo que estou dizendo não significa que nunca acerto de primeira, mas que me sinto sempre mais confortável e seguro quando posso repetir a foto. Sim, eu funciono melhor da segunda vez, pois apesar de também realizar um rascunho antes de fotografar, no momento de fotografar na locação, às vezes há algo com que você não estava contando. Depois da primeira foto realizada e visto que as coisas não saíram como planejado, posso analisar todos os pontos que não deram certo e voltar mais uma vez para acertar o trabalho. Eu funciono melhor assim, e essa foi a forma que descobri de como fazer as coisas darem certo. Sendo assim, estarei com o passar do tempo adquirindo mais

e mais experiência no meu ramo e as probabilidades de falhar serão menores.

A arte de falhar também é o exercício de aprimoração e autoconhecimento. É preciso manter-se ciente de que cada passo dado na sua jornada como um artista deve ser considerado para a construção do artista que você é e se tornará. Isso ainda compete a você a estar sempre em busca de novos desafios, pois não adianta você descobrir a melhor forma para se trabalhar e alcançar resultados satisfatórios, pois isso em dado momento o limitará a uma produção previsível. Foi reservando meu tempo para fazer atividades inéditas onde descobri os meus “truques” e segredos de edição e produção; aqueles resultados que não achamos em tutorial algum na internet.

[A cegueira] Inspirado por sentimentos como o amor e o ódio que podem nos cegas às vezes, esse é um dos meus primeiros trabalhos conceituais. Enquanto eu o finalizava, o arquivo de repente corrompeu e eu tive de rafazer tudo novamente.

Onde o céu está

Capítulo VII

“Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos” - NIN, Anïs

Exercícios para inspiração

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anter-se inspirado é uma tarefa que muitas vezes exige do sujeito atenção para desenvolver métodos que o favoreçam a articular ideias da maneira mais favorável, assim, é possível manter um nível de produção e organização de ideias saudável.

Durante os prévios passos de minha jornada, pude desenvolver e descobrir com amigos,

maneiras de facilitar a criação de conceitos e ideias para criar imagens. São eles: 1º - Criar um banco de referências: Muitas vezes tombamos com trabalhos que nos incentivam a criação de algo particular e conscientemente original. Esse incentivo pode vir através de uma pose numa foto, paleta de cores ou composição, assim como poemas, ins-

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talações, entre outros. Isso não significa copiar um trabalho já feito, mas manter por perto signos que lhe instigam a uma ideia genuína.

Cabe a cada artista ser sincero com suas criações e respeitoso em relação as suas referências. Para mim nada vale reproduzir a ideia de alguém. É como afirmar sua incapacidade de criatividade e criação. É uma afirmação artística trapaceira e venenosa.

2º - Fazer o melhor que puder com aquilo que você tiver: É um ótimo exercício, além de também um grande desafio. Costumo caçar em casa todos os objetos que podem ser usados numa foto, roupas que tenham a ver com o que pretendo contar e lugares pela casa que possam servir de cena para uma situação. Depois de tudo escolhido, analiso o que mais tem capacidade de contar uma aventura e desenvolvo uma pequena história. Normalmente a roupa dirá quem você é, o objeto incitará sua ação, e o lugar, em que situação se encontra. Dentro dessa história, procuro criar um momento que seja registrável com os artigos que selecionei. É valido lembrar que o espaço em que você está é limitado, mas sua imaginação não.

3º - “O que os olhos não veem, a mente imagina”.

No caso, tudo funciona da seguinte maneira: você escolhe um clipe musical de sua preferência e o assiste sem som. Sua percepção sobre a ideia de montagem audiovisual será posicionada numa esfera de maior observação imagética, uma vez que o som está ausente, as-

sim estimulando a mente a criar possibilidades de situações.

Quando iniciei minha jornada como fotógrafo, minha maior preocupação era como fazer certas imagens; pensava bastante na técnica e na parte burocrática, porém, com o tempo, observei que a parte mais desafiadora é ser original e criar algo com um real significado.

Penso que se você tiver uma ideia, o próximo passo será como executa-la, e para isso você possui várias fontes de estudo, porém, de nada adianta você dominar técnicas sobre seus aparatos de criação ou ter equipamentos de ótima qualidade, se você não sabe o que criar.

Por trás das cenas de “quando o melhor de você precisa partir”, meu primeiro trabalho aceito na galeria do site da Vogue Itália. Inspirado na hora em que precisamos nos despedir ou deixar que algo seja livre apesar de amarmos. Ela foi fotografada em dois dias. No primeiro, nenhuma posição da parte inferior estava em harmonio com a leveza da parte superior, então voltei no dia seguinte, no mesmo horário, e fotografei focando mais na posição das pernas.

Onde os segredos se escondem

Capítulo VIII

“O adulto é triste, solitário... a criança tem a fantasia, é solta... ” - LISPECTOR, Clarice

Saindo do padrão

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erta vez escutei uma frase que falava algo do tipo: “os caminhos traçados vão te levar somente até onde os outros já foram”.

Traçar seu próprio caminho acreditando na sua capacidade então, te trará resultados singulares, penso. Ser quem você realmente é e expressar-se livremente como um artista, é muitas vezes um ato de coragem, confiança e crença no que faz.

Quando seu trabalho é pouco convencional ou não está dentro dos padrões da sociedade ao seu redor, é normal sentir-se desvalorizado ou até achar que o que você faz não tem nada a ver com talento. Digo isso pela minha experiência de quando comecei a explorar minha criatividade dentro do mundo visual/fotográfico. Sempre admirei temáticas obscuras, miste-

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riosas, dramáticas e fantásticas, e meu trabalho sempre foi refletido através desses aspectos citados. Bem, grande parte das pessoas não está acostumada a lidar com esse tipo de expressão; é sempre mais fácil lidar com algo obviamente alegre, colorido e de fácil entendimento. Esses fatores nunca me impediram de fazer aquilo que gosto, tampouco pensar em mudar minhas preferências para agradar o mercado.

Uma maneira de descobrir o valor dos meus trabalhos foi submetendo-os a revistas de grande porte e outros veículos disseminadores de imagens, e para minha surpresa, a aceitação foi melhor que imaginava. Logo em meu primeiro ensaio “valendo”, consegui uma pequena matéria sobre ele num dos maiores jornais regionais de minha cidade (Fortaleza). [colocar fotos do meu primeiro ensaio] Isso me levou a conclusão de que muitas das opiniões negativas que eu escutava sobre meu trabalho de pessoas próximas, eram opiniões defasadas, sem entendimento ou sensibilidade alguma.

Ou não. Para ser honesto esses comentários nunca me incomodaram, só me provaram que o que eu estava fazendo causava “algo”, fosse medo, repulsa, desconforto, mas nunca apatia ou aquele pensamento “é... ok”.

Devo respeitar ainda o fato de meus trabalhos serem uma representação de quem sou, de quem eu era e quem almejo me tornar. Sim, no começo eles eram um tanto medonhos e bizarros, porém, eram o reflexo de um adolescente de 17 anos que gostava de rock, filmes de terror, tinha acabado de mudar de cidade, não

morava mais com a mãe e sentia muita falta dela... aquele era o Alan pintado em uma tela de pixels. Não estou justificando meu trabalho chamando-o de amador, mas reconhecendo quem eu era. Isso só me lembra uma frase da fotógrafa norte-americana Brooke Shaden: “quanto mais cedo você souber quem você é, mais cedo você se tornará quem você quer ser”.

Por trás das cenas de “além do arco-íris”. Foto realizada no corredor dos fundos de minha casa. Inspirado no filme “O mágico de Oz”, eu queria fazer a minha versão de Dorothy depois de cruzar o arco-íris. O material que precisei foi um tecido preto e fotos que eu havia tirado do céu ha um tempo atrás.

O medo das coisas simples

Capítulo IX

“Gosto de ficar sozinho. Eu nunca encontrei um companheiro tão sociavel como a solidão” - DAVID THOREAU, Henry

Sendo um artista

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erta vez escutei de um ator (Silvero Pereira) de minha cidade a seguinte frase: “não é por que eu sou artista que vou acordar ao meio dia. O artista tem de acordar às cinco da manhã assim como o padeiro, pedreiro, empresario, professor...”. Essa frase pode parecer fácil de se escutar e até obviamente lógica, mas para um artista dar certo, assim

como em qualquer outra profissão, ele precisa agir como um profissional e ter disciplina.

Acredito que essa seja a palavra de ordem para qualquer artista que pretende ter seu próprio negócio: disciplina. Principalmente se ele é seu próprio chefe, pois terá de se exigir a cada dia mais, entender suas falhas e trabalha-las.

Não esperar uma chance de ter sucesso, mas

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todo dia correr atrás.

Muitas pessoas criativas acabam se dando a desculpa que ser um artista é ser diferente dos demais e então precisa de um “tratamento especial”. Daí surge espaço para desculpas em não cumprir horários, tarefas e compromissos.

Não estou dizendo que todos precisam se encaixar no molde sistemático da sociedade para conseguir viver, mas que para sobreviver ou viver bem, é preciso sim, trabalhar, estudar e trabalhar um pouco mais.

A grande vantagem dos artistas é que eles podem trabalhar com o que gostam de fazer, mas quando algo se torna uma obrigação, muitos acabam por achar que aquilo chato e desgastante. Porém, a sociedade se modernizou e os artistas que mais se destacam e mais alcançam sucesso, são exatamente aqueles que mais trabalham. E não somente em uma coisa só, mas em várias. Já é comum vermos jovens com cerca de 17 anos abrindo se próprio negócio de fotografia, sendo ele o fotógrafo, modelo, empresário, publicitário, editor e todo o resto necessário.

Onde quero chegar é que ser um artista não é somente ser criativo e original. Ser um artista é respeitar e enriquecer cada vez mais seus talentos e conhecimentos. Dar valor ao dom que você recebeu e aproveitar a chance de poder trabalhar fazendo o que mais ama.

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Por trás das cenas de “o baile”. A foto foi tirada em um lugar bem movimentado na faculdade em que eu estudei. Demorei alguns dias para tomar coragem devido ao fluxo de pessoas passando a todo instante. Esse trabalho é exatamente sobre deixar que certos sentimentos tomem conta de sua vida e não te deixem protagonizá-la.

Nessa foto eu estava testando o foco da câmera, pois meu equipamento ainda era muito limitado e eu mesmo me fotografava usando o temporizador da câmera.

Quando a vida imita a arte

Capítulo X

“O que você sabe não tem valor, o valor está no que você faz com o que sabe” - LEE, Bruce

Fine art

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ine art ou fotografia de belas artes, ambos correspondem ao conceito de fotografia de autor.

Esse tipo de trabalho vai de encontro aos formatos comerciais, jornalísticos, entre outros.

Fine art é a libertação do autor impressa em um trabalho, sem necessidade de corresponder às expectativas de outros indivíduos. Esse

estilo vai além de um conceito; assumindo a posição não somente do fazer, produzir, mas do ser. Onde a apuração estética está em primeiro lugar diante da sensibilidade do artista.

A fotografia nesse conceito estético é um exercício constante sobre o que você é, assim imprimindo a ideia: você é o que você faz.

Distinguindo-se dos demais tipos de fo-

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tografia, a fine art pode ser também, simplesmente classificada como fotografia pessoal, não obedecendo a um padrão. Na grande indústria de moda, por exemplo, a ideia do que é belo é quase sempre o mesmo: rosto sem marcas, corpo delineado e fino quando mulheres, quando homem, malhado e másculo. Já na fine art, cicatrizes e camadas de gordura têm o poder de se tornar uma peça artística. Esse exemplo não quer dizer que fine art é, obrigatoriamente, o confronto das demais estéticas fotográficas, mas sim a coragem e confiança de exaltar aquilo que se tem admiração da maneira mais original possível.

A grande missão da fotografia de belas artes é transformar uma imagem em uma obra de arte. Esse foi um dos principais motivos pelo qual eu decidi me dedicar a esse estilo, pois, como sempre fui admirador de diversos pintores, o que me chamava bastante à atenção era a dedicação extrema do artista diante de uma única peça, dando seu suor e seu melhor para que aquilo fosse memorável e espetacular, errando quantas vezes for preciso até que aquele ato fosse triunfal.

Fine art é dar a luz a si diversas vezes.

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Flores sempre tiveram um significado muito especial para mim, pela sua representação de delicadeza, transformação, felicidade e sutileza.

Podem ser encontradas em muitos de meus trabalhos, exatamente pelo contraste que identifico principalmente quando elas se misturam com a figura masculina.

2ª CAPA