XI Congresso ALAIC - GT1 - Parte 1/2

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Por essa referência, Beltrão concebe que a Folkcomunicação seria, num primeiro momento, o processo de decodificação das mensagens emitidas pelos meios massivos realizada por comunicadores-folk, e por estes depois recodificadas e socializadas com seus respectivos grupos de vivência, caracterizados como audiência-folk. Na verdade, Beltrão observa em meados da década de 1960, principalmente no Nordeste, as formas pelas quais as classes populares afastadas dos grandes centros urbanos, sem acesso a educação formal e aos meios de comunicação (ainda pouco difundidos), se informavam e exprimiam suas ideias. Dessa forma, identifica o líder de opinião, por ele batizado de comunicador-folk, que faria a decodificação das mensagens midiáticas adequando-as ao contexto de seu grupo social, a audiência-folk. Ou seja, nessa perspectiva, a Folkcomunicação compreenderia os modos de apropriação e interpretação realizados pelas classes populares, das mensagens emitidas pelos meios massivos. O representante ideal desse processo seria o cordelista. Daí a afirmação de Marques de Melo (2008, p. 17) de que a Folkcomunicação seria caracterizada “pela utilização de mecanismos artesanais de difusão simbólica para expressar, em linguagem popular, mensagens previamente veiculadas pela indústria cultural”. A difusão das pesquisas de Beltrão seria prejudicada pelo contexto histórico vivido no país naquela época. Por conta da censura imposta pelo Governo Militar, Beltrão não pôde publicar sua tese na íntegra, porque a parte teórica foi considerada subversiva. Assim, somente em 1971 seria lançado o livro “Comunicação e Folclore”, no qual Beltrão faz um resumo da discussão teórica, seguido de estudos de objetos empíricos nos quais se verificariam a Folkcomunicação. Também por causa da Ditadura Militar, Beltrão só receberia seu título de doutor em Comunicação no ano de 1981 (GOBBI, 2010). Somente em 1980, Beltrão lança “Folkcomunicação: a comunicação dos marginalizados”, na qual expõe na íntegra a teoria da Folkcomunicação, tanto a discussão teórica como as pesquisas empíricas. O livro também traz novas reflexões de Beltrão sobre sua teoria, levando em consideração as críticas e contribuições de outros pesquisadores, após a publicação de “Comunicação e Folclore”, em 1971. Na obra de 1980, Beltrão abandona as categorias do Jornalismo (informativo e opinativo) e passa a pensar a Folkcomunicação como um processo mais amplo e dinâmico de Comunicação, esta “entendida como processo mímico, oral, gráfico, tátil e plástico, pelo qual os seres humanos intercambiam ideias, informações e sentimentos,


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