O momento que a cidade desce. Intervenção em terreno de acentuado declive em Fortaleza.

O momento que a cidade desce Intervenção em terrenos de acentuado declive em Fortaleza

Universidade Federal do Ceará Departamento de Arquitetura e Urbanismo e Design Trabalho Final de Graduação

Aida Sousa da Costa Guilherme

O momento que a cidade desce

Intervenção em terrenos de acentuado declive em Fortaleza.

Banca Examinadora Prof. Me. Bruno Melo Braga Professor Orientador DAUD UFC

Prof. Dr. Clevio Rabelo Professor Convidado DAUD UFC

Prof. Dr. Carlos Alberto Maciel Professor Convidado EA UFMG

Agradecimentos

À minha mãe e às minhas tias por tudo que são e pelo que somos juntas.

Ao Bruno pelo interesse e a paciência. À Bia por se abrir, por me deixar ser parte, por me querer por perto.

Ao Fred por me ajudar nos últimos dias, por me inspirar desde os primeiros. À Marilia por compartilhar de tanto.

Ao Rafa por ser tornar tanto.

Sumário

Introdução

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1. A Cidade Desce

6

12

O Movimento De Descida (Do Centro para O Mar)

2. Solo Enquanto Arquitetura

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Primeiro Ato Do Homem Sobre A Terra

33

A Adaptação Ao Entorno Começa

35

Aceitação Do Solo Como Material De Trabalho

37

Figura E Fundo

40

3. Abordagens Possíveis

44

Reencontro Da Edificação E Do Solo

45

Edificação E Solo, Situações Elementares

48

Estudos De Caso

53

4. Proposta

66

Faseamento

68

I Etapa - Terra

79

II Etapa - Vias

95

III Etapa - Mar

101

Diagrama Intensidade Programática

110

Possibilidades, Formas Elementais, Operações

112

Considerações Finais

116

5. Referência Bibliográfica

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Introdução

Ao longo do percurso que vai do Instituto Médico Legal ao Passeio Público na Avenida Presidente Castelo Branco, um conjunto de terrenos com uma notória inclinação se destaca do padrão majoritariamente plano de Fortaleza. Mal se pode assimilar sua proximidade com o centro, entre vazios e arrimos, plano alto e plano baixo são divididos em espaços desconexos de uma mesma cidade. A cidade que não aprendeu a descer.

A descida a que me refiro é de duplo caráter, tanto considero a dificuldade de caminhar do centro para o mar quanto a dificuldade de descer verticalmente em direção às profundezas do solo numa tentativa de conhecer e se apoderar de suas propriedades. O trabalho parte do interesse de reaproximar os trechos isolados do centro e da faixa de praia, buscando entender o processo histórico que ocasionou esse distanciamento para a partir de então me voltar as estratégias para solucioná-lo, bem como da curiosidade no tocante aproveitamento do solo e de suas propriedades, investigando as diversas instâncias da arquitetura e do solo em qual o objeto arquitetônico se insere e por extensão as diversas formas que estes se relacionam.

A pesquisa não se propõe necessariamente a encontrar soluções imediatas e genéricas para os espaços urbanos de topografia acidentada tampouco se tem como objetivo criar problemáticas que não são inerentes à cidade, mas propõem-se a levantar possibilidades de intervenção a partir da consciência de um universo amplo de situações oportunas de declive ainda pouco trabalhadas, além de tentar distanciar a edificação do lugar comum cultural de volume projetado acima do chão. Este posicionamento perante a área da cidade selecionada para pesquisa e atuação projetual não se limita somente a impedir que desníveis tenham caráter separatista, mas principalmente, busca considerar as diferentes maneiras de uma edificação tocar o solo, de forma que o solo consiste na maior fonte de pesquisa.

Diante do olhar sobre a cidade questiono-me sobre qual seria o programa mais adequado para ocupar os vazios eleitos ao longo do percurso da Av. Leste-Oeste. A premissa é que seja um espaço 9

de uso público. Mais do que isso, um espaço que se responsabilize por diminuir a distância existente entre o centro e o mar. É neste âmbito que o projeto se coloca, não como uma solução ideal para um programa de necessidades imediatas, mas como um objeto que se utiliza dos recursos do solo enquanto transpõe trechos isolados de uma mesma cidade.

Objetivo geral Ressignificar a relação terreno-arquitetura partindo da ideia de que a manipulação do terreno é inseparável do desenho e que carrega a mesma importância dos demais elementos do projeto, ampliando as potencialidades projetuais dos raros momentos de acidentes naturais em uma cidade majoritariamente plana como Fortaleza.

Objetivos específicos Localizar obras que compartilham de operações e elementos comuns, redefinindo o solo enquanto arquitetura.

Analisar o atual cenário dos terrenos em desnível em Fortaleza, em especial no litoral oeste.

Identificar princípios norteadores para uma intervenção na avenida Leste- Oeste, considerando o grande valor histórico da área, elaborar tal intervenção a nível de anteprojeto.

Acender o debate acerca da conciliação da arquitetura com o solo, assegurando atenção às potencialidades do terreno escolhido.

Evidenciar o momento de encontro do edifício com o terreno, incluindo a possibilidade do uso arquitetônico dos espaços subterrâneos no contexto social e físico do solo cearense.

Metodologia Revisão bibliográfica para compor o capítulo teórico onde se examina a relação entre arquitetura e o uso do terreno.

Pesquisa das referências para estudo de caso que demonstram 10

algumas das diversas possibilidades de abordagem no uso do solo enquanto arquitetura.

Levantamento de dados referentes a cartografia, hipsometria, legislação urbana, parâmetros de uso e ocupação do solo, além de dados socioeconômicos e histórico culturais da área de intervenção.

Produção de maquete física do terreno, com interesse na percepção do desnível a ser pesquisado.

Caracterização e análise da área, com subsídio de visitas de campo à área de intervenção.

Elaboração da intervenção em nível de anteprojeto.

A estrutura do trabalho é composta por quatro capítulos conexos.

O primeiro capítulo consiste em uma aproximação investigativa do Centro e do litoral oeste de Fortaleza, com especial interesse nos seus terrenos acidentados em desuso ao longo da costa com o propósito de entender os processos envolvidos na formação desses espaços, e então interpretá-los de forma crítica.

O segundo capítulo consiste na fundamentação teórica por meio de conceitos correlacionando objeto arquitetônico e o solo inserido, entendendo que este estabelece uma série de elementos básicos para a formação da obra.

O terceiro capítulo é um capítulo de referências. A primeira parte se detém em textos específicos que tratam das várias abordagens dadas à relação solo-arquitetura através de uma releitura histórica, bem como do estudo de operações e de estratégias que permitem a manipulação do solo. A segunda parte trata de estudos de caso de projetos arquitetônicos que se relacionam com o solo inserido de diferentes formas, se utilizando dos conceitos assimilados como critérios de reconhecimento.

O último capítulo, por fim, apresenta uma proposta de intervenção arquitetônica e urbanística ao longo de um percurso definido por quatro lotes abandonados ou subutilizados que vão do centro ao mar, na tentativa de reaproximar trechos isolados entre estes polos.

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Entre o centro de Fortaleza e sua faixa litoral oeste, um espaço permanece em desuso. Terrenos vazios ou subutilizados com inclinação acentuada, que vão do Instituto Médico Legal até o Passeio Público somando quase 1000m de extensão, são o reflexo de uma cidade descontínua na qual o aproveitamento do recurso do solo fica em segundo plano.

Considerando que a maioria dos declives acentuados de Fortaleza são vistos à beira-mar, entende-se como fator determinante para o pouco aproveitamento do solo em faixas de terra acidentadas o processo histórico de urbanização da Cidade, que, como em outras cidades litorâneas de colonização portuguesa, consistiu em uma implantação encastelada, onde a separação do que é a cidade alta e a cidade baixa é uma tática na defesa do território.

Somado a isso pesa o fato de que Fortaleza teve seu crescimento urbano voltado em direção ao sertão, uma vez que a elite da cidade é oriunda do interior da província o que garantiu que a faixa litorânea fortalezense passasse alguns séculos sendo ignorada.

Operações de caráter urbano - principalmente as realizadas na década de 1970 - se estabeleceram criando ou consolidando barreiras físicas e sociais já existentes e fomentaram uma sensação de descontinuidade na cidade: a cidade formal e a cidade informal, o centro e a zona costeira, a cidade alta e a baixa.

O caráter predominante plano da cidade, ou melhor dizendo, da cidade formal, isenta o mercado imobiliário ou as construtoras locais de desenvolver novas alternativas de usos do solo, pouco se debate sobre movimentos de terra ou sobre a possibilidade de construções ambientalmente salubres enterradas ou semi enterradas. Vê-se o potencial arquitetônico produto do acidente natural se perder tanto no momento em que o terreno recebe corte, achatando a topografia para atingir a competência de um plano, quanto no instante em que são deixados vazios ou subocupados por escadarias que pretendem minimizar a sensação de obstáculo intransponível deixada por um desnível mal trabalhado.

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Figura 1.1. Vista aérea da Av Presidente Castelo Branco em 2020. Fonte: Google Earth.

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Nesse contexto, propriedades do solo que se adequam ao clima da cidade, como nivelamento de temperatura e efeito armazenador, são ignorados. Tal carência de discussão sobre a construção integrada à terra como alternativa prática para as construtoras e demais agentes da construção formal, além de nos distanciar de soluções atuais para questões climáticas locais, deixa a cidade no marasmo da mesmice volumétrica.

Fortaleza e, em especial, seu centro e sua costa litoral oeste, é tão complexa e plural que seria inviável comentar em um texto todas as questões que envolvem projetar nessa cidade. Para o âmbito deste trabalho, decidi discutir o movimento de descida do centro para o mar e o encontro do objeto arquitetônico com o solo, conteúdos que dialogam diretamente com o projeto arquitetônico em processo.

Busquei criar um debate a partir de um breve entendimento do processo histórico de urbanização da cidade e da produção de alguns mapas que decorrem sobre a malha da região, sua geografia, sua topografia, sua malha viária, seus edifícios de maior destaque e seus vazios localizados em encostas íngremes.

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O Movimento de descida (do centro para o mar)

Constatando a ausência de água doce no Mucuripe, os holandeses estabeleceram, em 1649, na margem esquerda do rio Pajeú, sobre a colina de Marajaitiba - o que lhes propiciava uma visão geral da baía - o forte de Schoonenborch e ali permaneceram por sete anos, até sua expulsão definitiva do Brasil, em 1654.( COSTA, 2014 apud MENEZES, 1897, p. 42).

Com a expulsão dos holandeses, os portugueses retomaram o controle da região, deram ao forte holandês o nome de Fortaleza de Nossa Senhora de Assunção e se fixaram definitivamente nas margens do rio Pajeú. Em 1799, a capitania do Ceará ficou independente de Pernambuco e Fortaleza foi nomeada capital, em detrimento de vilas mais prósperas como Aracati, Icó, Sobral, Crato, Camocim, Acaraú e Quixeramobim. A escolha se deu devido a questões geográficas, uma vez que a cidade possuía um porto marítimo natural e era limitada por dois rios, o que garantia a sobrevivência em período de seca. No entanto, o mar, ponto de início da colonização cearense, configura-se, como um local a parte a Fortaleza.

Observando a consolidação de Fortaleza enquanto capital, Dantas (2002) reitera que a cidade origina-se voltada para o sertão, contradizendo sua natureza litorânea, dado as relações no campo cultural e econômico da sociedade com o interior do Estado, configurando-se dessa forma como uma cidade litorâneointeriorana.

Ao longo do século XIX, equipamentos foram construídos com o objetivo de reverter o cenário rústico da cidade, dentre eles, o Liceu do Ceará, a Igreja do Rosário, onde hoje fica a Praça dos Leões e a Santa Casa de Misericórdia. No mesmo contexto, intervenções de cunho urbanísticos foram realizadas, entre elas, reestruturação do Riacho Pajeú, iluminação de vias públicas e a construção do Cemitério de São Casemira, atualmente Praça da Estação.

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A década de 1860 foi marcada pela expansão do anterior plano urbano de Silva Paulet, de autoria do engenheiro Adolfo Herbster.

O traçado urbanístico proposto consistia em cintas de avenidas, dispostas circulando o espaço urbano habitado. Seriam essas a Avenida do Imperador, a Avenida Duque de Caxias (logo prolongada para leste), e Avenida da Conceição (atual Avenida Dom Manuel) (Figura 1.2). Tais vias foram encarregadas do acesso à cidade, consolidaram o Centro e estabeleceram um modelo ainda hoje presente.

Essa nova proposta de expansão da cidade para o sul e para o leste, reforçava o desinteresse de fixação de moradia na faixa de praia pela classe abastada. Nesse período, algumas das mais importantes edificações da cidade foram se instalando próximo ao Forte de Nossa Senhora da Assunção. O passeio Público, a Santa Casa de Misericórdia, a Penitenciária e a Estação da Estrada de Ferro terminaram por formar uma barreira entre a cidade e o mar, afirmando o desinteresse de uma possível urbanização do litoral. O acesso à praia tornava-se mais difícil, já que somente o Passeio Público tinha suas vistas voltadas para o mar.¹ (MATOS, 2011, p. 78).

Serviços insalubres como o velho Paiol da Pólvora, o Gasômetro, a Santa Casa da Misericórdia e o depósito de lixo da cidade são dispostos na zona costeira ou próximos a ela como resultado da falta de interesse pela faixa praiana. A extensão entre essas edificações e o mar passa a ser ocupada pelo comércio de exportação e em seguida pela população sertaneja retirante (Figuras 1.3 e 1.4).

Em 1932, uma grande seca estimulou a migração para Fortaleza, que no entanto não dispunha de estrutura para receber a população que migrava. A cidade incorporou espaços de ordenação irregular comprometendo sua morfologia urbana ortogonal e recebeu habitação precária locadas em vias sem infraestrutura e áreas rejeitadas pelo setor econômico, tais como dunas e várzeas de rios (Figura 1.5).

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1. Ainda com o Passeio Público estando voltado em direção ao mar, isso não leva a crer numa possível tomada de consciência da sociedade para o mar, já que o andar em que se encontrava mais próximo da praia era reservado aos menos abastados (MATOS,2011).

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Figura 1.2. Mapa Adolfo Herbster. Fonte: Wikimedia Commons.

Figura 1.3. Litoral Oeste de Fortaleza em 1954. Destaque para o Gaômetro e o Paiol da Pólvora. Fonte Arquivo Nirez.

Figura 1.4. Vista Panorâmica do Litoral Oeste de Fortaleza. Destaque para a localização do Arraial Moura Brasil.

Fonte Arquivo Nirez.

Figura 1.5. Ocupação das Dunas do Arraial Moura Brasil em 1893. Fonte Arquivo Nirez.

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Segundo Neves (1995), no artigo “Curral dos Bárbaros: os campos de concentração no Ceará (1915 e 1932)”, muitos dos migrantes foram levados para os chamados “campos de concentração” onde ficavam confinados e tinham sua mão de obra explorada como parte de uma política de higienização social de exclusão. Segundo informações da Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor), um desses campos foi instalado onde hoje existe o bairro Moura Brasil, que fica “comprimido” entre o Centro e a praia. A região também já foi conhecida por “Curral” e “Arraial Moura Brasil”. Outro desses campos que se destaca para o presente trabalho seria o Campo do Umburu, onde hoje fica o Pirambu.

Simultaneamente ao recebimento da população retirante, o Centro começa a incorporar suas primeiras indústrias, sendo rodeado por habitação para operários, o que contribuiu para um crescimento populacional vertiginoso.

Até então, o Código de Posturas, vindo em confluência com as preocupações de ordem higienistas e urbanísticas reforçava o desinteresse pela zona de praia, ao estabelecer que os dejetos fecais não poderiam ser despejados nas ruas, mas sim na Praia do Porto das Jangadas, atualmente Praia de Iracema. Silva (1992) afirma que a ocupação por favelas de áreas que margeiam o litoral foram, sem dúvida, fatores que levaram durante algum tempo ao desinteresse dos fortalezenses pelo litoral com a finalidade de aí se fixar.

Ao longo do século XX, a adoção de novas práticas marítimas surgidas na Europa - os banhos de mar e as caminhadas na areia - proporcionaram uma tentativa de integração da faixa de praia de Fortaleza, novo ponto de interesse da elite da cidade.

Esse processo levou os agentes geradores da cidade formal a se movimentar em direção à zona costeira incorporando áreas anteriormente ocupadas por populações pobres.

Paralelamente a esse novo interesse na zona litorânea, surgiu a necessidade de ampliação da cidade, que crescia em contingente populacional mas não seguia a mesma proporção espacialmente. Dessa forma, durante a década de 1970 a cidade

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Figura 1.6. Vista aérea da Av. Presidente Castelo Branco nos anos 1970.

Destaque para a ausência do Edifício Marina Park Hotel. Fonte Arquivo Nirez.

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Figura 1.7 Vista aérea do Edifício Marina Park Hotel. Destaque para a presença da barreira representada pelo própio edifício. Fonte Arquivo Nirez.

adquiriu um plano desenvolvimentista que tinha como objetivo de restabelecer o equilíbrio urbano, com a construção de quatro grandes vias de circulação. Dentre elas, a Av. Presidente Castelo Branco, popularmente conhecida como Leste-Oeste, interligando o Porto do Mucuripe com a Barra do Ceará (Figura 1.6).

Consolidada acima do Bairro Moura Brasil - um dos mais antigos da cidade - a Avenida, se destaca por integrar os bairros do litoral oeste à malha urbana, assim como ligar os municípios de Fortaleza e Caucaia. Ao transferir a população das áreas cortadas pela avenida, como os moradores das favelas das Cinzas, Moura Brasil, Oitão Preto, Braga Torres e Soares Moreno, para áreas periféricas de Fortaleza, a obra, que suscita a expulsão da classe menos abastada, provoca mudanças de ordem e não ocorre sem conflito de camadas sociais. Vasconcelos (1999 apud PINHEIRO, 2007, p. 4) afirma que a construção da avenida Leste-Oeste e a produção do espaço urbano desempenhada pelo Estado no setor oeste, produziram uma situação de segregação explícita, induzida, legalmente sancionada, predominantemente de base socioeconômica e de uma minoria sobre uma maioria.

A construção, seguida da duplicação da Avenida Leste-Oeste, desencadeou também alterações no uso do solo decorrentes de ações dos setores público e privado. Vários equipamentos urbanos e serviços foram instalados ao longo do eixo viário, tais

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como o Instituto Médico Legal, Marina Park Hotel (Figura 1.7), Estação de Tratamento de Esgotos da CAGECE (Figura 1.8), Igreja Santa Edwiges, Casa Paroquial, Altar do Milênio, unidade do Corpo de Bombeiros, postos de gasolina, dentre outros.

Figura 1.8 Vista aérea da Estação de Tratamento de Esgoto da Cagece, 2009.

Fonte Cagece.

A nova avenida e os equipamentos que surgiram decorrentes da sua criação se configuram como barreira, fazendo com que pedestres e ciclistas, os mais vulneráveis na disputa pelo espaço de circulação e tradicionalmente afetados pelas políticas conservadoras do planejamento de transportes, tenham dificuldade em usufruir adequadamente do espaço da praia.

Essa condição de obstáculo intransponível notada na avenida, se espalha para os terrenos - vazios ou subutilizados - de caráter acidentados que a margeiam. Ao assimilar a necessidade de transpor essa barreira, reaproximando trechos isolados entre centro e faixa de praia, torna-se inevitável voltar o olhar para tais terrenos de categoria indefinida, difícil de cartografar e catalogar mas de fácil reconhecimento (Mapa 01 e Figura 1.9).

Admitir o potencial arquitetônico fruto do acidente natural e pesquisar táticas para o aproveitamento do recurso do solo, considerando que o objeto construído e o espaço do solo não são elementos separados na materialidade arquitetônica será o assunto discutido no próximo capítulo.

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Mapa 1.1. Mapa Costa Oeste com destaque para a sequência de terrenos em declive. Elaborado pela autora.

Legenda

Figura 1.9 Gráfico perfil de elevação de três recortes do centro para o mar.

Destaque para a maior inclinação nos terrenos que margeiam a Av. Lesteoeste. Elaborado pela a autora.

Costa oeste costa oeste bairro moura brasil Bairro Moura Brasil bairro centro Bairro Centro vazios em declive

Figura 1.10 Vista do Terreno. Destaque para sua inclinação. Fonte Acervo Maria Gisela Parente.

Vazios em declive

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costa oeste bairro moura brasil bairro centro

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A Ganho/Perda de elevação: 3,44 m _ Inclinação máxima: 4,60% _ Inclinação média: 1,20% 31m 28m 31m 28m

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B

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Ganho/Perda de elevação: 7,30 m _ Inclinação máxima: 5,00% _ Inclinação média: 1,90% 25m 32m

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50m 150mmáxima:200m 250m 300m Ganho/Perda de elevação: 16,60100m m _ Inclinação 27,50% _ Inclinação média: 2,60% 4m

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costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive

oeste Mapa 1.2costa Aspectos Naturais. Elaborado pela autora. bairro moura brasil bairro centro vazios em declive

Corpo de Bombeiros

costa oeste bairro moura brasil Faixa de Praia Uso Público bairro centro Faixa de Praia Privado vazios em Uso declive

Marina Park Hotel

Faixa de Praia Uso Misto

Legenda ETE Cagece

costa oeste INACE bairro moura brasil bairro centro vazios em declive O Momento Que A Cidade Desce

Trecho Riacho Gal. Subterrâneas Trecho Riacho Terreno Particular Recursos Hídricos

Trecho Riacho a Céu Aberto

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Mapa 1.3. Equipamentos. Elaborado pela autora.

Legenda Praças

praça bairro moura brasil Bairro Centro bairro centro Equipamentos equipamentos Bairro Moura Brasil

av. leste oeste declive separatista cemiterio sao joao batista27 costa oeste bairro moura brasil bairro centro

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costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive

Mapa 1.4. Barreiras Físicas. Elaborado pela autora. praça

bairro moura brasil bairro centro equipamentos

Legenda Av. Leste-Oeste

av. leste oeste

Declive Separatista declive separatista

praça bairro moura brasil bairro centro equipamentos av. leste oeste declive separatista cemiterio sao joao batista costa oeste bairro moura Bairro Moura Brasilbrasil bairro centro Bairro Centro

cemiterio batista Cemitério Sãosao Joãojoao Batista costa oeste bairro moura brasil bairro centro

Costa Oeste

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escada construída por ente público escada auto-construída 28 circulação pedonal faixa de pedestre av. leste oeste

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bairro moura brasil bairro centro vazios em declive costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive

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costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive

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costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive costa oeste bairro moura brasil bairro centro vazios em declive

praça bairro moura brasil bairro centro equipamentos praça bairro moura brasil bairro centro equipamentos praça bairro moura brasil bairro centro equipamentos av. leste oeste declive separatista cemiterio sao joao batista costa oeste bairro moura brasil Mapa 1.5.

Mobilidade.

Elaborado pela bairro centro

av. leste oeste declive separatista cemiterio sao joao batista costa oeste bairro moura brasil bairro centro

av. leste oeste declive separatista cemiterio sao joao batista costa oeste bairro moura brasil bairro centro

escada construída por ente público escada auto-construída circulação pedonal autora. faixa de pedestre av. leste oeste escada construída por ente público declive separatista escada auto-construída cemiterio sao joao batista circulação pedonal costa oeste Legenda faixa de pedestre bairro moura brasil Escada de Auto-construção Av. Bairro Moura Brasil av.Leste-Oeste leste oeste escada construída por ente público bairro centro declive separatista Escada de auto-construída Entes Públicos Declive Separatista Bairro Centro escada cemiterio batista Circulação Pedonal Cemitério Sãosao Joãojoao Batista circulação pedonal costa oeste faixadede pedestre Faixa Pedestres Costa Oeste bairro moura brasil av. leste oeste bairro centro declive separatista cemiterio sao joao batista costa oeste 29 A Cidade Desce bairro moura brasil bairro centro

Figura 1.11. Vista de escadarias construídas por ente público. Destaque para dificuldade de travessia pelo ciclista (2020). Fonte: Autora Figura 1.12. Vista de escadaria construída por ente público (2020).

Fonte: Autora.

Figura 1.13. Vista de Escadaria construída com pneus (2020). Fonte: Autora.

Figura 1.14. Vista de Escadaria construída com pneus (2020). Fonte: Autora.

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2 O Solo enquanto Arquitetura

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Primeiro Ato do homem sobre a terra

Não é a cabana, a tenda, a caverna... mas o reconhecimento do terreno que constitui, em certo sentido, o primeiro ato da arquitetura. Não é o fato de colocar uma pedra sobre a outra, mas de colocar a pedra sore o chão, isto é, de instituir o sinal da presença, da descoberta e da identidade do lugar. Na verdade, o homem designa uma determinada parte em relação ao desconhecido mundo natural preexistente... As origens da arquitetura e da geografia se confundem no marco da construção física dos objetos manufaturados e dos instrumentos pelos quais nós estamos cientes da posse da natureza pelo homem.² (GREGOTTI, 1967 apud DÍAZSAAVEDRA, 1993, p.38, tradução da autora).

Nesse sentido, a origem do fazer arquitetura não era o construído em si, mas o ato primordial de marcar a terra. Antes de colocar pedra sobre pedra, o homem colocou a pedra sobre a terra para reconhecer um sítio no meio de um território, levá-lo em conta e modificá-lo, penetrar na natureza e assim obter seus aspectos.

O cultivo teria um duplo significado, um de conversão da natureza em algo rentável e a outra interpretação seria da conquista do fundo misterioso da terra, romper a superfície da terra para conhecê-la e apropriar-se de suas potencialidades.

Desta forma, é assumida como necessária, a fundação e suas distintas expressões como forma de ancorar o homem em um determinado ambiente e como uma criação do espaço enfim “sob controle”. Uma vez que a vida do homem ocorre em ação mútua e contínua com o seu entorno, o homem tende a fixar sinais de identidade na paisagem, na tentativa de identificar o lugar e torná-lo próprio. Suas instalações tendem a ser posicionadas em lugares não só protegidos e úteis mas também reconhecíveis e simbólicos, como no alto de um pontal, na beira do mar, em torno de um rio.

Diaz-Saavedra(1993) afirma que a fundação sobre a natureza possui para quase todas as culturas um significado similar. Seja pelo ato de fincar uma estaca ou um poste no solo, situar uma

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2. Trecho original: “No es la cabaña, la tienda, la caverna... sino el reconocimiento del terreno lo que constituye, en cierto sentido, el primer acto de la arquitectura. No el hecho de colocar una piedra sobre otra, sino de colocar la piedra sobre el terreno, o sea de instituir el signo de la presencia, del descubrimiento y de la identidad del lugar. En efecto, el hombre designa una determinada parte en relación al mundo natural desconocido preexistente... Los orígenes de la arquitectura y de la geografía se confunden en el marco de la construcción física de los objetos manufacturados, y de los instrumentos mediante los cuales nos percatamos de la posesión del hombre sobre la naturaleza..”

Solo Enquanto Arquitetura

Figura 2.1 Imagem do Geomante, figura encarregada da relação do povo e seu território. A geomancia foi um método popular popular na África e Europa durante a Idade Média de interpretar marcas no chão ou padrões rochosos para então ser possível modificar o curso de um rio ou plantar árvores, sempre no local mais apropriado, respeitando o significado natural do solo.

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pedra ou um conjunto de pedras, arar uma porção de território ou selecionar um elemento natural preexistente, em qualquer caso o que se está, definitivamente, é marcando ou sacralizando um espaço. Separando este espaço do resto do mundo e criando uma referência para essa sociedade.

Cada civilização modificou a relação entre a sua arquitetura e a paisagem. Cada uma colocou seus prédios em pontos diferentes e de maneira diferente da anterior. Todas as civilizações agiram seguindo padrões de sua cultura, sua religião, e sua paisagem.

Tão diversa é a forma da interpretação de cada civilização dos elementos naturais circundantes quanto a maneira de expressarse diante dela. Existem, no entanto, elementos comuns a quase todos os tempos e povos, um aspecto que é coincidente e o que surge no momento de colocar o homem diante da paisagem, diante de seu ambiente. Esse ato primeiro de situação, de criação do lugar por meio da identificação foi o primeiro ato espacializador do homem. Aquele espaço “Já não era mais igual ao resto do universo o ambiente concreto onde aquele “existiu” (teve ou viveu)”. (Fig.02.01)

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Adaptação ao entorno começa

É preciso absorver a ideia que a obra arquitetônica é indissociável do seu entorno, tanto física quanto conceitualmente, uma vez que a arquitetura é concebida a partir de uma implantação em um determinado lugar, e este lugar, estabelece uma série de elementos básicos para a formação de um programa e posterior desenvolvimento do projeto.

Segundo Diaz-Saavedra(1993) existem dois relacionamentos essenciais do homem e da natureza: o relacionamento eu - você que é uma posição aberta e contextual, onde o edifício estabelece um diálogo com a paisagem e a relação eu - ele, que é uma posição hermética e descontextualizada, onde o edifício se fecha para o entorno. O primeiro representa a adaptação mútua entre homem e natureza, enquanto que o eu - ele reflete o desacordo.

Nesse contexto, é pertinente inserir o conceito de “genius loci”, o “espírito do lugar”, uma espécie de identidade que torna um espaço único, onde o indivíduo também é único. O lugar é o suporte para a expressão humana, é o encontro com a terra e a permanência abaixo do céu. As propriedades básicas e específicas de cada sítio criam um ambiente determinado, o conceito de arquitetura deve ser entendido a partir do espaço em que se insere, modificar a paisagem mantendo seu caráter implica em executar uma série de intervenções que respeitem ou enfatizem as determinantes de um lugar.

Os espaços onde a vida ocorre são lugares (...)Um lugar é um espaço que tem um caráter distinto. Desde a antiguidade, o ‘genius loci’, ou espírito do lugar, é reconhecido como a realidade concreta que o homem precisa enfrentar e entrar em acordo na vida cotidiana.

Arquitetura significa visualizar os ‘genius loci ’e a tarefa do arquiteto é criar lugares significativos, pelos quais ele ajuda o homem a habitar.³ (NORBERG-SCHULZ, 1980, p. 5, tradução da autora).

Para Norberg-Schulz o ato base da arquitetura se mostra como sendo o de compreender a “vocação” do lugar. Assim, para

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3. Trecho original: “The spaces where life occurs are places (…)A place is a space which has a distinct character.

Since ancient times the genius loci, or spirit of place, has been recognized as the concrete reality man has to face and come to terms with in his daily life.

Architecture means to visualize the genius loci and the task of the architect is to create meaningful places, whereby he helps man to dwell.”

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otimizar a arquitetura é necessário extrair do local o conceito de uma construção, não somente de quem lá habita, mas também do clima, da topografia e do que mais caracterizar o sítio. Se a arquitetura conseguir apreender o “genius” de onde se insere, ela aparecerá em sintonia com o ambiente, acomodando-se e complementando-o.

Pode cair em um certo reducionismo se afirmar que os prédios são caixas cujas principais conotações sucedem de sua posição relativa em relação às demais caixas ou linhas localizadas no chão. Assim que, a arquitetura está precisamente na organização dos recintos e não na própria caixa ou, seguindo abordagens mais atuais, que a arquitetura está na posição da caixa em relação à paisagem circundante e ao solo natural. (DÍAZSAAVEDRA, 1993) Assim, implantar um edifício não significa apenas avaliar e comparar posições possíveis dentro de um enredo específico, mas sim um momento importante no processo de projeto. É um ato criativo que implica uma relação intencional com a topografia e fornece uma multiplicidade de modos de operação.

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Aceitação do solo como material de trabalho

Quanto ao descobrimento do solo como fonte de pesquisa no âmbito da arquitetura, um dos maiores obstáculos percebidos - ou assumidos - é a questão da aceitação pública. Labs (1975) aponta para uma ordem de problemas relacionados ao imaginário das pessoas sobre os ambientes subterrâneos e os descreve como sendo tanto de aspecto simbólico como de cunho experimental. O autor ressalta o desprezo da civilização ocidental pelo subsolo representado pelo Inferno de Dante “que tornavase mais profundo conforme a gravidade dos pecados”, pelo submundo de Hades da mitologia grega “que seria a terra para onde vai a alma após a morte” e pelo troglodismo “povos que viviam em cavernas que tinham atitudes bárbaras e grotescas” (Fig 2.2).

Associações imagéticas com a morte, a decomposição, a sujeira e a barbárie, embora distantes da experiência concreta, criam uma situação de constante repulsão em relação ao que fica abaixo da terra e geram implicações - intencionais ou não - na arquitetura e no modo que se usa o solo.

Aparentemente, nossa ordem social tem conseguido manter as classes mais baixas ou escalões profissionais mais populares sempre abaixo. Em termos de projeto isso se reflete, por exemplo, na distribuição de funções em um edifício de escritórios, onde os chefes de uma empresa ficam na cobertura e a medida que se descem os andares, menos nobre fica o cargo neles exercidos ou no fato dos subsolos serem comumente reservado para carro e serviços. Segundo Labs (1975) a forma de desenvolvimento subterrâneo familiar a maioria dos arquitetos é aquela pela qual Truman Stauffer(1979) se refere como “basementtype” que além de fazer alusão a áreas de serviço também faz menção à atribuição usual mecânica, na qual as tarefas ocupacionais disponíveis são ligadas a mineração ou têm caráter infraestrutural e ficam literalmente fora de vista. (Fig 02.03) Para além da aceitação pública que se origina de questões abstratas, situações práticas acabam por distanciar a arquitetura da pesquisa sobre o solo. O solo urbano abriga uma rede de

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Figura 2.2 O Inferno é a primeira parte da “Divina Comédia” de Dante Alighieri.

O inferno torna-se mais profundo a cada círculo, pois os pecados são mais graves. Portanto, os pecados menos graves estão mais proximos à superfície da terra e os mais graves na profundeza dos solo.

4. “Infraestrutura”, in. www. engenhariacivil.com/dicionario. “Tudo aquilo que se situa debaixo de uma construção. Parte inferior de uma estrutura de engenharia civil, que geralmente é invisível e se localiza abaixo da cota do terreno. Conjunto de tubagens, cabos e dispositivos para o transporte de águas, gás, eletricidade e comunicações.”

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infraestrutura que, intencionalmente, se distancia do convívio social. Esta qualidade de estar dissimulada é permitida muitas vezes pela condição de estar abaixo, isto é, sob alguma outra estrutura ou sob o próprio solo e é o que possibilita a natureza de invisibilidade quase sempre pretendida para a categoria da infraestrutura. Essa compreensão é amplamente difundida por definição pelo termo para a engenharia civil, segundo a qual as infraestruturas seriam as fundações do edifício, enquanto as supraestruturas seriam o sistema de pilares, vigas e lajes, que se sustentam na primeira,⁴ o que implica uma ligação direta entre infraestrutura, solo e território. A infraestrutura, no caso, é colocada como base material da existência das instituições, que do ponto de vista prático se caracteriza por sua invisibilidade.

Não é de surpreender que o espaço profundo tenha recebido mais atenção de planejadores urbanos e engenheiros envolvidos com serviços regionais do que de arquitetos, visto que as maiores recompensas sociais e econômicas parecem estar mais relacionadas à distribuição horizontal do que à distribuição vertical de instalações abaixo da superfície (...) ao expandir os sistemas de circulação e transporte de subsuperfície, aumenta-se também a exposição e o acesso a uma determinada propriedade na dimensão vertical. Os benefícios do acesso em vários níveis - especialmente para

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Figura 2.3. Dois níveis de desenvolvimento do espaço subterrâneo. No topo o uso do espaço profundo remotamente idependente da superfície. Na parte inferior o espaço subterrâneo se mostra em consonância com o subterrâneo. Redesenhado após STAUFFER. Fonte: K. LABS

Figura 2.4. O desenho ao lado, de um corredor subterrâneo conceitual, que recebe instalações para funcionamento da superfície. (Das notas para A conferência “espaço subterrâneo como recurso urbano.”). Fonte: K. LABS

pedestres com proteção climática - são importantes para o projetista tanto na escala de aplicação individuais quanto nas coletivas.⁵ (LABS, 1975, p. 8, tradução da autora).

Diferentemente do que ocorre em um trabalho arquitetônico na superfície, a criação de um espaço subterrâneo depende de procedimentos de escavação e de técnicas que criam rupturas na superfície, o que nem sempre é economicamente viável para particulares ou para construções de pequena escala e nem sempre é desejável para áreas de densa urbanização devido a dificuldade de desenvolver o subterrâneo após a existência de um espaço superficial consistente. Dessa forma, a propagação do que se usa do espaço subterrâneo como área construída foi, principalmente, resultado de projetos na escala da cidade, quase sempre se sobressaindo do limite tradicional do lote, seja como infraestrutura de transporte ou de saneamento. Assim sendo, a discussão quanto a utilização do espaço abaixo da superfície vem se concentrando no âmbito das engenharias e sua utilização é costumeiramente considerada em contextos urbanos e não considerados para edifícios individualmente.

5. Trecho original: “It is not surprising that deep space has been given more attention by urban planners and engineers involved with regional services than by architects, for the greatest social and economic rewards seem to be more closely related to horizontal than vertical distribution of facilities and functions beneath the surface(...) in expanding subsurficial circulation and transportation systems, one also increases exposure and access to a given piece of real estate in the vertical dimension. The benefits of multi-level— especially weatherprotected pedestrian—access is of importance to the designer at both individual and collective building scales of application.”

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Fundo e figura

O que acontece abaixo do nível do terreno nem sempre é explorado como um recurso arquitetônico em si. Nesse sentido, perde-se a percepção de espaço subterrâneo como um recurso espacial único que possibilita atividades que o espaço superficial - acima do nível do solo - nega, impossibilita ou apenas ignora.

Na prática, a construção convencional, em que a maioria do construído se resume ao que fica acima do nível do solo e ao alcance dos olhos, trazem o solo como o fundo para a figura de uma edificação que se sobrepõe ao sítio em que se implanta.

Em seu livro, Tomà Berlanda aponta para os sentidos principais do dicionário para o termo “ground”.

Em inglês, ground também é um verbo, to ground. Seu particípio passado, grounded é freqüentemente usado para descrever um encontro bem resolvido de um edifício com a terra. Ainda mais variada é o significado de seu oposto, ungrounded - literalmente fora do chão (…) geralmente refere-se a edifícios que são separados do solo, onde a ausência de uma ligação específica implica na sua indiferença à localização específica, uma vez que são reproduzíveis em qualquer lugar, independentemente do seu sítio natural. Ground também pode significar pano de fundo. Ungrounded, sem background, rememora a justaposição figura-fundo, mas, quando se refere a uma afirmação ou um raciocínio, significa desprovida de base racional, sem fundamento. (BERLANDA, 2014, p. 56, tradução da autora).

Dando atenção para a qualidade física do termo, como sendo a camada superficial da crosta terrestre sobre a qual se constrói e para seu sentido simbólico de ponto de partida no qual um pensamento - ou série de pensamentos - pode ser construído.

Assim, se assume que quando uma obra arquitetônica não se associa ao terreno, ela se encontra desprovida de razão.

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Figura 2.5 Cidade da Cultura da Galicia, Santiago de Compostela, Espanha, modelo de competição, 1999, por Peter Eisenman.

Como nos projetos anteriores das “Cidades de escavação artificial”, o autor entende esse projeto como um palimpsesto, onde as diferentes inscrições do local se tornam visíveis.

Eisenman cobre o local com uma planta da cidade antiga de Santiago de Compostela e é o programa espacial, que gera a estrutura para o projeto.

O resultado de sua transformação é um edifício que está parcialmente enterrado na paisagem e que emerge parcialmente dela, impossibilitando a distinção entre figura e fundo. Fonte: RUBY; ILKA, 2006,

Segundo Cullen (1961), em um contexto em que não há equivalência entre estrutura e ornamento: o ornamento é adicionado à estrutura e que não há equivalência entre figura e fundo; a figura é adicionada ao solo primordial. Cada um dos termos desses opostos dialéticos carrega uma estrutura de valores intrínseca - a estrutura é boa, o ornamento é ruim.

Para o pesquisador, a arquitetura deve afastar-se da rigidez e da estrutura de valores dessas oposições dialéticas. Por exemplo, as oposições tradicionais entre estrutura e decoração, abstração e figuração, figura e fundo, forma e função, poderiam ser dissolvidas. A arquitetura poderia começar uma exploração do meio entre essas categorias. Tal arquitetura não procuraria mais uma separação de categorias, uma hierarquia de valores ou os sistemas tradicionais de classificação da tipologia funcional e formal; em vez disso, procuraria borrar essas e outras estruturas.

Em similar pensamento, mas não livre de contradições, Eisenman (2006) em “Cities of virtual excavation” trabalha o conceito de figure ground e ground figure com o intuito de conciliar arquitetura e terreno. Ao fazer analogia ao palimpsesto - pergaminho utilizado na Idade Média que permitia reutilização e acumulava uma série de inscrições e camadas -, Eisenman, aponta para a possibilidade de reinscrever a partir do solo existente, considerando sua superposição ante- riormente acumulada (Fig 2.5).

Ainda que exista contrassenso sobre o caráter de ficticio do discurso e mimetico da intervencao - uma vez que a topografia é palimpsesto pois as construções vêm e vão com o tempo, mas a qualidade topográfica permanece, não seria a simulação de um terreno natural que anularia a existencia de escavação artificial - vale citar a desmaterializacao da arquitetura enquanto objeto

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isolado, usando os vestígios do próprio terreno como material definidor do projeto. Nesse sentido não se trataria de desagregar a nova ‘figura’ que emerge, mas fundir essa arquitetura ao solo inserido.

A ideia de manejo do solo não é nova, Gottfried Semper (1851), no livro “Os quatro elementos da arquitetura”, propõe uma ruptura do paradigma humanista, adicionando uma dimensão antropológica ao esquema vitruviano de firmitas, utilitas e venustas. Ao se utilizar da hipótese de uma cabana caribenha vernacular, Semper deduz seus 4 elementos de base tectônica a “hearth”, “mound”, “roof” e “enclosing membrane” que surgem como elementos fundamentais da pesquisa, no qual “mound” representaria o trabalho de terra relativo ao plano horizontal que sustenta outros elementos. Semper sugere uma fundação que se finque ao solo evidenciando o peso da edificação (Fig 2.6).

Em um contexto moderno em que abordagens mais simplistas, desconexa ao entorno parecem obedecer a princípios universais e genéricos que não necessariamente se correlacionam com o solo, em que as escolhas arquitetônicas valorizam a complexidade estilística do objeto em detrimento da pura relação posicional, orientativa e conceitual entre solo e arquitetura, em que o projeto é transformado em um objeto em si mesmo, parcialmente descontextualizado de seu entorno, Kenneth Frampton (1990), no artigo “Rappel à l’ordre: argumentos a favor da cultura tectônica” , resgata a ideia de Semper e faz uma crítica a arquitetura moderna, em particular, pela perspectiva da monocultura funcionalista da neutralidade do solo imposta pelo pilotis corbusiano.

Segundo Frampton (1990), o solo - “uma massa telúrica que de uma forma ou de outra serve para alicerçar a armação” - é o fundador da arquitetura, o ato arquitetônico primordial.

Enquanto a junção é “o nexo em torno do qual o edifício começa a existir e se articula como presença ” A atenção a essa junção - arquitetura, solo inserido - é essencial por evitar que a arquitetura contemporânea se reduza a estilos da moda.

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A trajetória que traduz um projeto conceitual em uma arquitetura construída, estruturalmente estável e apropriadamente colocada no espaço, encontra um momento crucial na maneira como o edifício toca o solo. Em suas declarações, arquitetos e críticos há muito compartilham a consciência de que esse encontro inevitável constitui uma parte integrante do projeto e está intimamente ligado à atitude que se tem no que diz respeito ao sítio e à relação entre artefato e natureza.

No entanto, muitas vezes, esse reconhecimento não vai além de um apelo retórico para a necessidade de ancorar o prédio ao chão, a ser realizado por meio de uma sensibilidade topográfica não estabelecida. “Grandes” arquitetos elaboram seu repertório pessoal mais ou menos conscientemente, mas a atenção à natureza geográfica dos lugares, à forma do terreno e às singularidades topográficas não são mecanicamente traduzidas em formas construídas, nem é fácil estabelecer momentos mediadores.⁶ (BERLANDA, 2014 p.1, tradução do autor)

Figura 2.6 Imagem de antiga edificação usada por Mick Kennedy’s para exemplificar o termo “mound” Fonte: Acervo Mick Kennedy

Partindo da ideia que a manipulação do terreno não, apenas, é inseparável do desenho, como carrega importância perante os demais elementos de um projeto, entender as várias aproximações dadas à relação solo - arquitetura, tanto no quesito releitura histórica como nas questões práticas e materiais torna-se de fundamental importância. Estas abordagens serão analisadas no próximo capítulo, juntamente de estudos de caso que proponham variadas formas de projetar de entender a relação objeto construído - solo.

6. Trecho original: “The trajectory that translates a conceptual design in a built, structurally stable and properly placed architecture in space, finds a crucial moment in the way in which the building touches the ground. In their statements, architects and critics have long shared the awareness that this unavoidable encounter constitutes an integral part of the design and is intimately connected to the attitude one holds with regard to the site and with the relationship between artefact and nature. Often, how- ever, this recognition does not go beyond a rhetorical.call for the need of anchoring the building to the ground, to be realized by means of a non-specified topographic sensibility. “Great” architects elaborate their own personal repertoire more or less consciously, but the attention to the geographical nature of places, to the form of the terrain, and to the topographical singularities is not mechanically translated into built form neither is it easy to establish the mediating moments.”

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3 Abordagens Possíveis

A partir do entendimento que o espaço construído e o espaço do solo não são elementos antagônicos no corpo arquitetônico, se não parte de um todo, estudar as várias abordagens dadas à relação solo - arquitetura através de uma releitura histórica, bem como o conhecer as operações e as estratégias que permitem a manipulação do solo torna-se essencial à presente discussão.

Alguns autores se dedicaram especialmente sobre o tema.

Depois de uma leitura análise destes textos, foi elaborada uma categorização destes conceitos com o objetivo de produzir uma síntese a ser utilizada neste trabalho como critério de reconhecimento e classificação dos estudos de caso, assim como ferramenta de ajuda para soluções inventivas de um futuro projeto.

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Reencontro da edificação e do solo (Groundscapes, The rediscovery of the ground in contemporary landscapes. Ilka e Andreas Ruby, 2006.)

No livro, consensos e conceitos modificados ao longo dos anos posteriores ao declive do movimento moderno são apresentados oscilantes e não lineares, permitindo o reencontro da edificação e do solo na arquitetura contemporânea, situação que hoje nos soa familiar. Os autores propõem uma categorização das diferentes formas que a obra arquitetônica toca o solo. A análise não parece ter a intenção de se tornar um histórico desta relação, trata-se de estudar não culturas ou períodos com interesse em si mesmos, mas as mudanças notáveis ​​na correlação entre arquitetura e o solo. Aqui, se resume a categorização feita pelos autores: Possibilidades no encontro do solo com o terreno I. Desapegado do solo. Faz referência não só ao gesto arquetípico da modernidade - a separação entre a arquitetura e o chão - ligada à ideologia de “libertação do solo” de Le Corbusier, ou seja, a liberação da arquitetura das amarras de solo, mas também a uma leitura contemporânea diferente do volume que flutua acima do solo. A elevação do edifício em relação ao solo tem como objetivo a liberação do terreno no que diz respeito ao domínio da arquitetura. O terreno torna-se uma “ecologia”, termo usado por Banham, que seria algo que precede a arquitetura e também não tem sentido sem ela. A elevação da arquitetura respeita a sua autonomia e a faz transparente, de modo que o terreno aparece como uma figura “per se”. Sua topografia, em vez de ser nivelada, torna-se visível, o vazio entre o edifício e a terra é densificado para formar um espaço real que define a relação entre arquitetura e território.

II. Enterrado no solo. A arquitetura para além da parte de seu volume que se projeta acima do solo, focando na parte que se mantém escondida, do ponto de vista dos autores, a terra se mostra um meio de arquitetura tão adequado quanto o ar. Ao contrário de ficar constantemente se reafirmando, esse tipo de construção “mergulha nas profundezas da percepção e existe sem realmente estar lá”.

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Abordagens Possíveis

III. Solo elevado. O terreno consumido pelo edifício é devolvido ao território sob a forma de solo elevado, na coberta. O edifício camufla seu volume na massa de terreno extrudada até em cima, como se se tratasse da plataforma de um planalto, no intuito de que a coberta não seja o último andar de um edifício, mas outro nível de solo.

IV. Solo empilhado. O empilhamento, descrito no “Theorem” em Delirious New York por Rem Koolhaas(1978), consiste na emancipação do terreno de sua relação definitiva com o térreo que pode, a princípio, ser replicado em qualquer nível. Aparece como uma opção sustentável uma vez que necessita de um uso mínimo de área de superfície, permitindo uma densidade máxima.

V. Solo inflado. Nesse caso a arquitetura pode adotar a textura de seu entorno e se cobrir com a superfície do subsolo como uma segunda pele. Em vez de depositar o objeto do programa sobre o solo ele é “injetado como um líquido”, criando uma topografia artificial. Dessa maneira, a arquitetura não aparece diretamente como um objeto (o que ainda é, sob a capa), mas como uma variação do terreno. “Como o ladrão de lojas que inteligentemente desaparece nas massas cumpridoras da lei gritando ele próprio: Pega, ladrão!”, a arquitetura finge fazer parte de uma infra-estrutura ou resultado de um dano geológico na paisagem, ficando ali, camuflada.

VI. Solo vetorial. O terreno, primeiramente intransitável, passa a ser adaptado às necessidades de deslocamento dando origem a um espaço quase sempre imune às oscilações da topografia graças a corredores de movimento, como ruas, pontes e túneis. Essa competência adquirida por um terreno - de poder ser vencido - tem valor crucial para o desenvolvimento de infraestrutura de transporte nos permitindo atravessar territórios.

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VII. Solo esculpido. Definida principalmente pela ausência de material, essa é uma arquitetura negativa. O material necessário para sua construção não deve ser retirado de outro lugar uma vez que ela se realiza através da subtração de material, cortando espaços vazios da massa total do solo.

Assim como as civilizações anteriores construíram suas cidades sobre as cidades de seus predecessores, talvez um dia faremos o oposto e esculpiremos nossas novas cidades na forma de gigantescos e ocos espaços subterrâneos, a partir do material da cidade antiga que se acumulou ao longo de milhares de anos. ⁷(RUBY; ILKA, 2006, p. 143, tradução da autora)

7. Trecho original: “Just as earlier civilisations built their cities on top of the cities of their predecessors, perhaps one day we will do the opposite and carve our new cities in the form of gigantic, hollow underground spaces out of the material of the old city that has accumulated over thousands of years”.

VIII. Solo exposto. A correlação da arquitetura em relação ao solo se reflete em prédios que exibem deliberadamente a natureza do terreno sob as quais se erguem. Nesse tipo de abordagem ou o solo transforma sua massa em material de construção, tornando-se visível, ou a arquitetura funciona como uma máquina de visualização que direciona o olhar para a natureza do solo e, através dessa conexão visual, torna o terreno circundante ou inscrito uma parte importante da arquitetura. A oposição teórica da arquitetura e do solo, como condições aparentemente autônomas, acena para uma relação simbiótica na qual a arquitetura aparece essencialmente como uma extrusão material, configurando-se pelo solo ou derivando-se dele.

IX. Solo inscrito. Ocorre quando o telhado ou as superfícies horizontais do solo que emolduram o edifício tornamse uma “quinta fachada”. O chão é programado para representar uma imagem que só pode ser captada do ponto de vista de um pássaro ou de alguém no alto. No entanto,essa figura não é para ser visto principalmente, mas para organizar um espaço, o transeunte percebe seu significado ainda que não consiga assimilar o todo.

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Abordagens Possíveis

Edificação e solo, situações elementares (Architectural Topographies, A graphic lexicon of how buildings touch the ground, Tomà Berlanda, 2014.)

Em seu livro, Tomà Berlanda cria um dicionário crítico destinado a contribuir com o reconhecimento, a análise e a elaboração de soluções que se referem à relação física e material entre a construção e o solo: como essa ligação é implantada; aos métodos, aos critérios e às ferramentas usadas para conhecer e transformar o solo; e às possíveis abordagens para determinado lugar e suas implicações no modo como a terra é tocada.

Além de se tratar de uma análise crítica, que lida principalmente com a ligação entre o solo e o artefato em termos de visão poética ou linguagem arquitetônica, Berlanda coloca esses elementos em relação com variadas soluções construídas que são inventadas ou readaptadas caso a caso. Considerando um número limitado de situações elementares em que a relação terreno-edifício possa ser reduzida e a partir de então, analisada. No livro, a documentação coletada foi re-elaborada graficamente através de cortes, estes pareceram ser os meios mais adequados de representação, não apenas para mostrar a relação vertical entre os vários estratos, mas para revelar e sintetizar todas as relações entre o terreno e a arquitetura.

A seguir alguns dos termos referentes a relação entre objeto construído e solo: Formas elementais I. Solo artificial.

Para Le Corbusier o solo natural deve ser deixado com a única função de “receber cargas verticais, o peso de constução.” Com o progressivo distanciamento do projeto do chão e da elevação do nível-zero da construção em relação a terra, ele efetivamente remove todas as irregularidades e as diferenças de níveis do terreno.

Para Herzog e de Meuron “construir, ocupar a terra, primeiro implica em um novo solo artificial”. O tema da conexão do edifício com o solo é definido dentro da consciência da alteridade intrínseca entre o artefato e a natureza, assim a primeira operação de estabelecer esse novo solo se torna um

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dos momentos mais importantes e definidores do processo. A preocupação em estabelecer uma distinção clara entre o solo e o objeto construído ressalta a artificialidade da construção e, ao mesmo tempo, cria uma extensão do contexto topográfico natural.

II. Plataforma.

1. Superfície plana, horizontal, mais alta que a área adjacente.

2. Construção de superfície plana, horizontal, sobre a qual se assentam quaisquer objetos pesados. in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa.

Consultado em 02/10/2019 A plataforma desempenha funções, mediando, conectando ou separando prédios e terrenos, como parte de uma estratégia de construção consciente e deliberada. Pode demarcar o nível de referência principal ou estabelecer um novo. Pode posicionar o edifício em relação a uma parte mais ou menos ampla do território. Pode destacar uma separação intencional entre o prédio e o terreno, ou entre a base da construção e suas estruturas de substituição. Quer queira conectar-se ou dividir, a plataforma fixa a atenção no link e a solução construtiva que se manifesta direcionando o olhar para a terra, expressando assim a artificialidade ontológica de toda intervenção arquitetônica(…)Em edifícios situados em encostas íngremes, as plataformas resolvem um problema técnico e fornecem os meios para representar a conexão com o solo. Além de mediar a seção e incorporar as diferenças de nível, o plano artificial introduzido pela plataforma estabelece relações que, de outra forma, não seriam possíveis e, portanto, tornam-se um elemento de invenção topográfica.

(BERLANDA, 2014, p.121) III. Arrimo.

1. Muro de suporte de terras. Muro de sustentação ou proteção de taludes. in Dicionário da engenharia civil.

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Abordagens Possíveis

[www.engenhariacivil.com/dicionário]. Consultado em 02/10/2019.

Berlanda(2014, p.126) sugere que o muro de contenção é ao mesmo tempo o elemento arquitetônico que conecta o edifício ao solo e que permite a reconstrução morfológica do terreno. O muro de contenção pode remodelar o terreno e deixar intocados os níveis topográficos existente ou definir o nível e que a construção ocorrerá predominantemente.

IV. Passarela.

1.Espécie de ponte estreita sobre avenidas e estradas, para trânsito de pedestres. in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Consultado em 02/10/2019.

A passarela possui um forte valor simbólico como elemento de conexão com o solo, essa ligação marca a diferença do que é natureza ao que é artefato arquitetônico. É a passarela também que, colocando os dois elementos que estão conectados um na frente do outro, os une ao mesmo tempo destaca sua separação.

V. Plano inclinado.

1.Que não se pode definir nem como perpendicular nem como paralelo; inclinado. in Dicionário Dicio da Língua Portuguesa.

2.GEOM. Diz-se de sólido cujo eixo não é perpendicular à base. in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa.

Consultado em 02/10/2019.

Tanto a rampa quanto a escada são formas elementares, que ajudam a superar uma diferença de nível, articulando-a através de uma sequência de aterrissagens. Elas prolongam e retardam a transição entre exterior e interior e colocam o próprio edifício dentro da sequência. (BERLANDA, 2014, p.129)

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Operações I. Fundação.

1. CONSTR. Conjunto de obras necessárias para sustentar e assentar os fundamentos de uma edificação, bem como para transmitir suas cargas diretamente ao solo; alicerce, base, fundamento.

2. FIG. Princípio, origem de alguma coisa; criação, estabelecimento, instituição. in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Consultado em 02/10/2019.

Um dos postulados de Luigi Snozzi é que “um edifício sempre começa com uma fundação”. Para ele, além de nos oferecer pistas de um projeto em construção, fundações também podem ser vistas como traços, impressões digitais de edifícios que já não existem. A capacidade de comunicar a armadura da ideia arquitetônica faz da fundação uma síntese de todo o processo de projeto e esta natureza pode ser explorada como um elemento de desenho.

Berlanda(2014, p. 61) assume que até mesmo a ausência de fundações fornece pistas sobre a relação que o arquiteto deseja estabelecer com o solo, sugerindo a natureza provisória do elo, a reversibilidade ou transformabilidade da intervenção, essa ausência idealmente elimina o encontro com o solo.

II. Contenção.

1.Ato de contender; contenda, litígio, questão. in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Consultado em 02/10/2019.

III. Terraplenagem.

1.Termo que define a operação de modelação do terreno, através de escavação ou aterro, formando plataformas. in Dicionário da engenharia civil. [www.engenhariacivil. com/dicionário]

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Abordagens Possíveis

2. Terreno que se tornou plano pelo preenchimento de suas depressões com terra.

3. Terra lançada entre muros, para servir de caminho ou de terraço. “terrapleno”, in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa.

Consultado em 02/10/2019.

IV. Escavação.

1.Movimento de remoção de terras com vista a implantar uma obra. in Dicionário da engenharia civil. [www.engenhariacivil. com/dicionário]. Consultado em 02/10/2019.

2. Ato ou efeito de escavar; escava, escavadura.

3.Concavidade, natural ou provocada, ou buraco num terreno. in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Consultado em 02/10/2019.

Técnica conhecida como “cut and cover”, quando utilizada em criação de metrôs e espaços cobertos de terra na subsuperfície imediata, ou como mineração para a criação de recursos geológicos (subterrâneos).

solo artificial plataforma passarela solo vetorial

plano inclinado arrimo solo esculpido

solo elevado desapegado do solo solo empilhado

solo inflado

solo expandido solo inscrito

Figura 3.1 Diagrama de possibilidades de encontro entre objeto arquitetônico e formas elementais . Elaborado pela a autora.

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Estudos de Caso

I. Passarela do Bonocô, Salvador, 1987 João Filgueiras Lima (Lelé) As passarelas de pedestre de Lelé eram um conjunto de elementos pré-fabricados repetíveis, mas customizáveis, que integravam o projeto do Transporte de Massa de Salvador. As passarelas cumprem em um só elemento diversos papéis, não se limitando ao cruzamento aéreo de avenidas e ruas movimentadas, estas se integram a pontos de espera de transporte público. São experiências urbanas que evoluíram gradativamente e tiveram solução de continuidade até os dias atuais, transformando-se em marco paisagístico de Salvador.

a linearidade dos percursos de tráfego motorizado ali existentes. É diante deste peculiar desenvolvimento que as passarelas projetadas por Lelé (...) são responsáveis por consolidar uma rede de conexões dentro do espaço urbano.” (CAMPOS, 2012, apud EKERMAN, 2018, p. 237).

No caso da Avenida Bonocô, o problema existente era a dificuldade do acesso das comunidades à infraestrutura de transporte bem como a dificuldade de travessia. Com a transposição de cotas por meio da passarela, conseguiu-se a integração de comunidades situadas em margens opostas da avenida e destas com os vales, onde fica a rede de transporte público. O acesso direto das comunidades respondiam assim, a queixa popular contra a violência no trânsito local.

A primeira passarela foi inaugurada em junho de 1987, na Avenida Paralela e nos dezoito meses subsequentes mais oito unidades. Para o presente trabalho se destaca o exemplar da Passarela presente na Avenida Bonocô em Salvador.

em diferentes ângulos para lidar com os desafios ligados à implantação e multiplicidade de trajetos. O sistema também é suficientemente flexível adaptar-se a ancorar em encostas íngremes, conectando diferentes cotas e integrando diferentes áreas. Assim, as características do terreno onde se inserem as passarelas são conservadas uma vez que são implantadas suspensas no ar.

Situadas usualmente a cerca de 5m do nível da rua, a passarela tem largura de 2,50m é formada por duas treliças opostas com vãos de 2.842m.

As treliças formam pontes que se apoiam em “cogumelos” de 3m de raio e que permitem a articulação das passagens

“A arquitetura do novo transporte de massas, ao mesmo tempo em que buscava reafirmar o desenho das avenidas de vale, ousava acrescentar outra dimensão ao seu uso, transcendendo

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Abordagens Possíveis

Figura 3.3 Passarela sobre a Avenida Mario Leal Ferreira (Av. Bonocô), 1987, que conecta bairros como Cosme de Farias, Alto do Cruzeiro, Campinas de Brotas e Baixa do Tubo. Construída em 50 dias. Fonte: Arquivo Nelson Kon. Figura 3.4 Passarela na região do Vale dos Barris. Vide à direita da foto conexão com cota alta da encosta.

Fonte: Acervo Instituto João Filgueiras Lima - Lelé.

Figura 3.5 Passarelas diminuem distância entre bairros” – Tribuna a Bahia, 29 de agosto de 1988. Fonte: Acervo Fundação Gregório de Matos

O Momento Que A Cidade Desce

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Figura 3.6.a e 3.6.b. Vistas das passarelas. Fonte: Arquivo Nelson Kon.

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Abordagens Possíveis

O Momento Que A Cidade Desce

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II. Escaleras de la Granja, Toledo, 1997 - 2000 Martínez Lapeña-Torres Arquitectos.

Os centros históricos de muitas cidades têm em comum o desafio de compatibilizar o tráfego de veículos com o de pedestres. A densidade de edificações na cidade, o traçado irregular e as pequenas dimensões da rede viária, a escassez de vagas para veículos atuais sugerem limitar o tráfego nesses centros. No antigo distrito de Toledo, esses problemas são agravados pela topografia sobre a qual a cidade se estabelece, as ruas precisam transpor encostas íngremes e isso implica dificuldades e fadiga para os pedestres.

chegada a Toledo de quem vem de Madri.

As escadas rolantes repousam na encosta do Rodadero, um terreno inclinado entre a muralha medieval e uma esplanada na parte mais baixa de Toledo onde o estacionamento foi construído adjacente à parede. Os seis lances de escada necessários para atravessar a queda de 36 m. formam uma figura em zigue-zague que permite, por um lado, adaptar-se à topografia e, por outro, evitar a sensação de vertigem que poderia levar o usuário a ver todas as escadas de uma só vez, se elas estivessem dispostas em uma linha contínua em uma ladeira íngreme.

O primeiro passo para resolver as dificuldades de acessibilidade que o centro histórico de Toledo levantou hoje foi a construção de um estacionamento para 400 carros no Paseo de Recaredo e o de construir escadas rolantes adjacentes que transportam pedestres para a parte superior da cidade. O novo complexo para o transporte de pedestres e estacionamento de veículos que foi construído está localizado próximo a um dos acessos mais emblemáticos da cidade, a Puerta de la Bisagra, a

As escadas rolantes repousam sobre uma base de concreto e são acompanhadas em uma de suas faces por um muro de arrimo contendo o terreno, que por sua vez suporta um teto inclinado que as protege e permite dar continuidade paisagística a inclinação da encosta. Este telhado não segue exatamente a inclinação natural do terreno, sobe um pouco para fazer aparecer uma abertura longa e contínua

57

que acompanha o caminho da escada, a partir da qual é possível ver o Vega del Tajo e a nova Toledo. Essa abertura observada à distância se torna um elemento característico da paisagem, dessa forma, as escadas rolantes parecem fazer parte da montanha, como se fosse uma peça escavada que sempre esteve lá e que agora se encontra exposta.

Figura 3.7 Escadas de Toledo vistas de baixo.Fonte: Acervo COAM

Abordagens Possíveis

Figura 3.8 Escadas de Toledo. Corte Longitudinal. Fonte: Ilka & Andreas Ruby.

Figura 3.9 Escadas de Toledo Interna.

Fonte: Acervo José Antonio Martínes Lapeña e Elías Torres Architects.

Figura 3.10. Escadas de Toledo. Croqui da proposta. Fonte: Acervo COAM. Figura 3.11. Escadas de Toledo. Cortes transversais. Destaque para a parede de arrimo que se converte em coberta.

Fonte: www.bienalesdearquitectura.es

O Momento Que A Cidade Desce

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Fig 3.12. Escadas de Toledo vista superior. Fonte Acervo José Antonio Martínes Lapeña e Elías Torres Architects.

59

Abordagens Possíveis

servem para integrar os prédios e moradores nas áreas verdes, as palafitas mantém a natureza como algo inatingível.

III. Amnésias Topográficas, Vazio S/A. Este conjunto de projetos nasceu da parceria dos os arquitetos Carlos Teixeira e Louise Ganz com o grupo de teatro de rua Armatrux para colaboração de suas montagens. Os projetos, além de terem caráter efêmero, nascem de uma crítica a espaços absolutamente inexplorados e latentes. Assim, enormes palafitas de concreto - que sustentam edifícios residenciais no bairro Buritis, em Belo Horizonte - foram convertidas em material para investigações urbanas.

labirinto de pilares de concreto; acima, apartamentos de classe média. Uma dessas ocupações está estabelecida, no caso os apartamentos; já o espaço entre pilares encontra-se sem qualquer uso. São espaços em terreno de declive acentuado não idealizados por arquitetos. Para TEIXEIRA e GANZ (2004) são “produtos de calculistas que jamais imaginaram o espaço que projetaram; surpresas espaciais que nunca acontecem no mundo previsível da arquitetura”.

Os prédios no bairro montanhoso só podem contar com quatro pavimentos devido a da Lei de Uso e Ocupação do Solo. Como resposta a esta rígida premissa, o mercado imobiliário, no início da década de noventa, realiza construções onde as palafitas têm a mesma altura ou são até mais altas que a edificação que sustentam. Essas estruturas são marcadas pela homogeneidade formal e pela ausência de uma relação boa entre solo-arquitetura.

Segundo os arquitetos, no caso de Amnésias Topográficas, é como se o pilotis da arquitetura moderna elemento que permitiria soltar o edifício do terreno, liberando no térreo uma área aberta, coberta que dava continuidade do parque ao redor dos prédios ou das casas - tivesse sofrido uma mutação, resultado de um tumor (maligno). Com algumas semelhanças: ambos servem para separar os prédios da natureza e do contato direto com o terreno. E com diferenças fundamentais, também: ao contrário dos pilotis, que em princípio

Estas palafitas dividem dois espaços absolutamente desconexos: abaixo, um

O Momento Que A Cidade Desce

O labirinto formado pela seqüência das palafitas de concreto e a uniformidade dos prédios suportados pelas palafitas conformam, todos eles, um potencial que é inversamente proporcional à qualidade arquitetônica desses objetos. Nesse caso os arquitetos encontram no mal uso solo uma possibilidade de intervenção.

“A primeira delas foi o espetáculo Invento para Leonardo do grupo Armatrux, um evento que se encaixou em nossa idéia de reverter os espaços negativos da cidade, aproveitando-os como “espaços ativáveis”. O espetáculo Nômades, do grupo de teatro Armatrux, foi mais uma etapa do projeto A.T. Como um corredor espiral que permite ao público visitar todos os recantos das palafitas, a intervenção arquitetônica transformou o que antes era um labirinto de pilares subutilizado e com aspecto de depósito de entulho em um espaço único, onde arquitetura, paisagismo e recuperação ambiental se misturam e funcionam como a cenografia da peça.” (Carlos M Teixeira, Louise Ganz).

60

Figura 3.13. Edifícios residenciais no bairro Buritis em Belo Horizonte Fonte:Vazio S/A. Figura 3.14. Vista dos Edifícios residenciais no bairro Buritis em Belo Horizonte. Destaque para as palafitas da mesma dimensão ou mais altas que o próprio edificio. Fonte:Vazio S/A.

61

Abordagens Possíveis

Figura 3.15. Amnésias Topográficas I, foto da cena em andamento.

Fonte:Vazio S/A. Figura 3.16. Amnésias Topográficas II, isométrica do projeto. Fonte:Vazio S/A.

Figura 3.17. Amnésias Topográficas II, imagem do projeto. Fonte:Vazio s/a.

O Momento Que A Cidade Desce

62

Figura 3.18. Amnésias Topográficas III, foto da maquete. Fonte: Vazio S/A.

Figura 3.19. Amnésias Topográficas II, foto da cena em andamento.

Fonte:Vazio S/A.

63

Abordagens Possíveis

Estudos de Caso Figura 3.20 Diagrama de análise dos estudos de caso seguindo as categorizações citadas no presente capítulo . Elaborado pela a autora.

Possibilidades Solo Inscrito

Solo Exposto

Solo Esculpido

Solo Vetorial

Solo Inflado

Solo Empilhado

Passarela do Bonocô

Escaleras de la Granja

Amnésias Topográficas

O Momento Que A Cidade Desce

64

Solo Elevado

Enterrado Desapegado No Solo Do Solo

Operações Escavação Terraplenagem Contenção

65

Formas Elementais Fundação

Plano Inclinado

Passarela

Arrimo

Plataforma

Abordagens Possíveis

Solo Artificial

4 Proposta

Os dois motes da pesquisa - a descida do centro para a faixa de praia e a descida da superfície para o solo - apontam para um mesmo espaço, espaço este cuja as potencialidades são imensas, uma sequência de vazios (ou semi-vazios) que se direcionam do centro para a frente de água em um declive evidente.

Diante do olhar sobre a cidade e sobre o uso do solo, me pergunto qual seria o programa mais apropriado para ocupar os potentes vazios eleitos. Mais do que pensar em um programa em si, parto do interesse de adentrar o território crítico que existe na divisa entre o público e privado, no limite entre lotes e nas fronteiras disciplinares entre arquitetura, infraestrutura urbana e paisagem. A proposta de intervenção busca recuperar o sentido urbano de uma área de grande valor histórico e paisagístico através de um equipamento que gera maior coesão espacial, possibilitando fluxos que aproximam trechos isolados do centro e do mar.

O Momento Que A Cidade Desce

66

Para tanto proponho uma passarela urbana para pedestres e ciclistas que integra um centro cívico e uma infraestrutura de faixa de praia e que assume simultaneamente características arquitetônicas, paisagísticas e de infraestrutura urbana, enquanto se utiliza de um pedaço do terreno inclinado da cidade.

Não é um edifício autônomo, mas um conjunto arquitetônico diluído na malha infraestrutural da cidade transgredindo a ideia de parcelamento do solo com uma sequência de programas que justapostos que cria tensões entre uma nova densidade subterrânea e o nível da rua, preexistências construídas e os espaços livres entre os programas.

67

Figura 4.1. Imagem aérea da área de intervenção. Fonte: Google Earth.

Proposta

Faseamento

I. Situação atual: priorização da ocupação privada ao usufruto público.

GSEducationalVersion

O Momento Que A Cidade Desce

68

II. Criação de um edifício atrativo para o primeiro desnível que busca dissolver a fronteira entre o centro e a avenida.

69

Proposta

III. Criação da passarela: facilidade de acesso quebra de limite entre privado e público e possibilita a chegada a faixa de praia.

O Momento Que A Cidade Desce

70

IV. Instalação de infraestrutura pública de suporte ao frequentador que possibilita integração do centro e da faixa de praia.

71

Proposta

Faixa de Praia - Mar

A passarela se consolida em oposição a Av. Leste-Oeste tanto no referente a sua orientação (sentido sul-norte), quanto no tocante a sua finalidade (travessia de pedestres e ciclistas). Não tenho como objetivo negar a importância do conjunto urbano ali implantado, mas sugerir um novo tipo de aproximação, considerando um novo protagonista - não mais o automóvel - e induzir à ruptura dos limites dos lotes.

Esta estrutura nasce da continuação da ciclovia projetada na Rua Barão do Rio Branco que se interliga com a ciclovia preexistente na Rua Castro e Silva e desemboca na ciclovia criada na Rua Adolfo Caminha que se conecta com a ciclovia preexistente na Avenida Alberto Nepomuceno, vencendo um desnível de mais de 12m em uma inclinação variável, com média de 3,8%. Da passarela saem estruturas de circulação vertical que permitem a chegada ao nível do solo em dois momentos e pórticos em formato de U entre vãos de 20m.

A passarela, neste caso, é um vetor que se porta como um gesto indicativo que não somente designa o olhar contemplativo para faixa de praia, mas que, principalmente, aponta para onde se desdobrará cada etapa do projeto. Ela se prolonga em relação a Rua Senador Jaguaribe e se eleva em relação a Av. Leste Oeste, se configurando como uma tira de aproximadamente 374m de extensão contínua que une os 3 momentos do projeto.

Cada etapa da intervenção tem uma composição arquitetônica diferente: a forma de cada uma delas é ditada tanto pelo programa que contém, quanto pela forma que eles vão interagir com o solo; uma intensidade programática diferente: no que se refere a densidade e quantidade de programa que se desenvolve por área e uma linguagem que sofre adaptação à medida que se aproxima da faixa de praia. No entanto, cada uma delas foi disposta dentro do mesmo sistema modular de 7,20 x 7,20m, na tentativa de conseguir um eficiente uso da estrutura em concreto armado. Assim, ainda que o complexo contenha uma diversidade formal, mantém-se uma unidade material à proposta como um todo.

O Momento Que A Cidade Desce

72

Complexo Articulador - Vias

A opção de vivência integrada do projeto, ainda que praticável, não seria a única possibilidade. Enquanto um aluno pode passar seu dia no edifício entre biblioteca, café e oficinas, um transeunte pode usar o edifico por minutos como ferramenta de travessia da leste-oeste para pegar o ônibus em direção ao trabalho. Ao mesmo tempo que um grupo de amigos passa o dia na praia e depois sobe pela passarela ao centro cívico para ver uma exposição, um ciclista pode usar a passarela como instrumento de lazer e passagem. O que promove uma pluralidade de usos e fluxos característicos da edificação.

73

Centro Cïvico - Terra

Figura 4.2. Isometrica renderizada da proposta.

Proposta

Masterplan

O Momento Que A Cidade Desce

74

0

75

50

100m

Proposta

Implantação

O Momento Que A Cidade Desce

76

0

77

15

30m

Proposta

Figura 4.3. Perspectiva renderizada do Centro Cívico visto sob a passarela. Em primeiro plano escadarias de acesso e Biblioteca ao fundo.

O Momento Que A Cidade Desce

78

I. A Primeira Etapa - Terra Centro Cívico Abordagens no uso do solo: Enterrado No Solo; Solo Empilhado; Solo Inflado.

Toda essa etapa se organiza para a realização de diversas atividades com fins urbanos ou cívicos diretamente relacionado com o centro e suas necessidades. O zoneamento pensado para essas áreas inclui mirante, biblioteca, auditório, oficinas entre outros. O Centro Cívico se utiliza do solo apresentando situações diferentes de encontro do mesmo com a área edificada. Tais situações são conectadas pela mesma linguagem percebida pela continuidade das rampas, altura das muretas e pela materialidade. Esses recursos projetuais tentam estruturar a relação entre os volumes construídos e as diferentes áreas livres que surgem em seu entorno e ativar percepções variadas, evitando espacialidades repetitivas.

Em resposta ao desnível existente entre a Leste-Oeste e Rua Senador Jaguaribe uma sequência de patamares, lances de escada e rampas são propostos, tais formas elementares comportam o que aqui se chama Edifício-Praça que acompanha a topografia do terreno, abaixo do qual a maioria do programa se desenvolve quase imperceptível como uma estrutura por si só devido ao seu caráter semi-enterrado (o subsolo, que comumente é apenas uma base física e fundo para a arquitetura, aqui se converte no seu verdadeiro envoltório).

O edifício-praça se caracteriza por sua permeabilidade de acesso, uma vez que ao transeunte se permite atravessar o volume sem a necessidade de entrar em áreas que contém funções específicas: cruzar, ao invés de rodear. Essas caminhos, além de garantirem uma permeabilidade do edifício em relação a seu entorno, permitem criar passagens e áreas sombreadas que favorecem o descanso e condicionam uma vitalidade cívica.Tal tática cria relações recíprocas entre os espaços internos e externos, assim, o edifício se expressa como uma arquitetura que pretende fomentar a interação e integração social e, ainda, se posiciona em relação aos conceitos de privacidade em um ambiente público de tanta importância para a memória da Cidade.

79

Proposta

Sob o olhar de quem vem do centro, o único indicativo de volume abaixo do nível do solo que se tem é uma estrutura de entrada que acaba por desfazer o caráter de invisibilidade da edificação semi-enterrada sem desrespeitar a memória do lugar e o patrimônio ali existente, uma vez que a escala da Santa Casa de Misericórdia não é ultrapassada e a edificação não se converte em barreira visual para o patrimônio.

Essa estrutura é parte da Biblioteca que aparece como um corpo ilhado que se sobressai do restante do Centro Cívico e se converte em um conector decisivo do projeto. O programa se coloca de tal forma que extrapola o que seria a tendência do terreno, ele engloba, além de áreas específicas para funcionamento da tipologia, como acervo e área de leitura, uma varanda abaixo da calçada do nível da Av. Leste-Oeste, a caixa d’água e a caixa de máquinas do elevador de suporte para todo o centro cívico, uma rampa que se alarga à medida que se desce e um mirante coberto aberto ao público, que funciona como extensão da praça. Aqui o empilhamento do solo permite certa densidade e libera espaço para a varanda e demais áreas livres.

Outra situação de destaque do Centro Cívico é o Auditório que incorpora a topografia e, da paisagem circundante, extrai sua definição formal, aqui a arquitetura adota a textura do seu entorno e se cobre com a superfície do solo como uma segunda pele, assim ela não aparece como objeto(o que ainda é) mas como uma variação do terreno.

O Momento Que A Cidade Desce

80

Figura 4.4. Perspectiva renderizada do Centro Cívico visto da Av. Leste Oeste.

Em primeiro plano o Auditório semienterrado. Mirante da Biblioteca à esquerda.

81

Proposta

Figura 4.5. Perspectiva das rampas de acesso e Mirante da Biblioteca. Indicada em planta.

B

A 5,80

+15,55

3.

10,66

D

9,00

2.

9,00

642m² 105,70m² 90m² 3,40m² 2,40m²

5.

4.

3,20

3,60

1. passarela 2. praça 3. mirante 4. caixa d'água 5.caixa de maquina

+14,86

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

B

A

82

B

A

O Momento Que A Cidade Desce

7,20

7

Figura 4.6. Perspectiva da praça ao nível da via. Acesso ao Mirante ao fundo.

Indicada em planta.

7,20

C +15,75

7,20

+9,33

7,20

+10,90

D 7,20

+10,90

+14,05

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

1.

7,20

+17,20

7,20

+17,20

7,20

7,20

C Planta do Terceiro Pavimento 0 1 2

C

83

4

8m

Proposta 7,20

7,20

7,20

.

16m

5,80

+15,55

3.

Figura 4.7. Perspectiva da Recepção.

Indicada em planta.

10,66

D

9,00

2.

9,00

642m² 105,70m² 90m² 3,40m² 2,40m²

5.

4.

3,20

3,60

1. passarela 2. praça 3. mirante 4. caixa d'água 5.caixa de maquina

+14,86

7,20

7,20

7,20

7

7,20

7,20

7,20

7,20

B

A

B

A 5,80

+15,55

3.

7,87

D

5,65

,69 20

3,20

7.

4.

3,20

3,60

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

5.

7,20

7,20

B

A

GSEducationalVersion

O Momento Que A Cidade Desce

9,00

14 ,87

,47 11

1. passarela 2. praça 642m² 3. mirante 105,70m² 4. recepção 90m² 5. vazio recepção 53,20m² 6.sanitário 44m² 7.dml 4,20m² 8. sanitário P.N.E. 4,80m² 9. cozinha 23,40m² 10. cafe 107,80m² 11.serviço 11.1.sala de trabalho 34,30m² 95,4m² 12. vazio oficina 13. escadarias

9,00

+14,86

84

7

7,20 +15,75

7,20

+9,33

7,20

Figura 4.8. Perspectiva do nível público. +10,90à direita. Indicada em planta.

Café D 7,20

+10,90

+14,05

7,20

.

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

1.

7,20

7,20

+17,20

7,20

+17,20

7,20

7,20

C Planta do Terceiro Pavimento 0 1 2

8m

4

16m

7,20

C 7,20

7,20

+9,33

+10,90

7,20

D

+14,05

9.

13.

10.

8.

7,20

7,20

6.

7,20

3,52

5,95

1,80

12.

7,20

11.1.

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

C Planta do Terceiro Pavimento 0 1 2

85

4

8m

Proposta

16m

Figura 4.9. Perspectiva do auditório com palco reversível. Ao fundo, acesso à Biblioteca. Indicada em planta.

B

A

3,30

3,55

# toPZvalue

4,26

3,30

3,70 0,20

4,20

+10,66 +9,56

10,00

10,00

3.

1,40 2,80

1,20

21,20

1,20

6,20

+10,90 7,40

1,80

4,35

115,20m² 262,70m² 84,25m²

3,05 7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

B

8,90m² 10,90m² 29,90m² 32,90m² 56,50m² 19,90m² 37,20m²

7.

4.

5.

1.1.

1.2.

+10,90 5,20

1.3.

2,001,70

D

2,40

1.4.

86

B

A

O Momento Que A Cidade Desce

343,m² 15,m² 27,30m² 57,40m² 119,m² 356,m² 90,m² 53,20m² 44,m² 4,20m² 4,80m²

+10,66

A

1. auditório 1.1. platéia 1.2. som/imagem 1.3. apoio auditório 1.4. palco 2. varanda 3. biblioteca 4. recepção 5. vazio recepção 6. sanitário 7. dml 8. sanitário P.N.E. 9. oficinas 9.1. oficina 9.2. oficina 10. exibição 11. serviço 11.1. almoxarifado 11.2. sala do diretor 11.3. administração 11.4. sala de reunião 11.5. depósito 11.6. copa 11.7. vestiários

2.

2,40 1,50 2,90

0,15 3,70 0,20

3,30

+11,60

1

7,

Figura 4.10. Perspectiva da escadaria do Centro Cívico, sob passarela. Rasgo de acesso às oficinas. Indicada em planta.

7,20

17,2 3

7,20

7,20

C

7,50

7,20

D

0,90

+10,90

3,80

11.5.

11.3.

11.2.

8,00

10.

11.4.

11.6.

9.2.

7,20

11.7.

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

2,40 7,20

4,00 1,20 7,20

6,30

5,70 7,20

7,20

C Planta do Segundo Pavimento 0 1 2

C

87

4

8m

Proposta 7,20

7,20

19,20

14,40

14,40

1,95 2,20

,20

7,20

9.1.

6.

8.

11.1.

16m

3,30

3,55

# toPZvalue

4,26 2,40

3,30 4,20

3,70 0,20

1.4.

+10,66 +9,56

10,00

10,00

3.

1,40 2,80

1,20

21,20

1,20

6,20

+10,90 7,40

1,80

4,35

115,20m² 262,70m² 84,25m²

3,05 7,20

7,20

7,20

1

7,

7,20

7,20

7,20

7,20

B

8,90m² 10,90m² 29,90m² 32,90m² 56,50m² 19,90m² 37,20m²

7.

4.

5.

1.1.

1.2.

+10,90 5,20

1.3.

2,001,70

D 343,m² 15,m² 27,30m² 57,40m² 119,m² 356,m² 90,m² 53,20m² 44,m² 4,20m² 4,80m²

+10,66

A

1. auditório 1.1. platéia 1.2. som/imagem 1.3. apoio auditório 1.4. palco 2. varanda 3. biblioteca 4. recepção 5. vazio recepção 6. sanitário 7. dml 8. sanitário P.N.E. 9. oficinas 9.1. oficina 9.2. oficina 10. exibição 11. serviço 11.1. almoxarifado 11.2. sala do diretor 11.3. administração 11.4. sala de reunião 11.5. depósito 11.6. copa 11.7. vestiários

2.

2,40 1,50 2,90

0,15 3,70 0,20

3,30

+11,60

B

A

5.

5,80

+15,55

3.

7,87

D

5,65

3.

9,00

,69 20

1290m² 22,50m² 356m² 53,20m² 84m²

14 ,87

,47 11

2.

14,30m² 36,40m² 13,10m²

3,20

7,20

7,20

7,20

1

4.

7,20

7,20

+7,75

4.

5.

7,20

7,20

7,

7,20

7,20

7,

B

A

GSEducationalVersion

O Momento Que A Cidade Desce

3,20

7.

3,60

1.estacionamento 2.hall de entrada 3.biblioteca 4.vazio recep 5. varanda biblioteca 6.serviço 6.1.gerador 6.2.casa de máquina 6.3.depósito de lixo

9,00

+14,86

88

7,20 7,20 7,20

17,2 3

7,50

7,20

D

0,90

+10,90

3,80

11.5.

7,20

11.1.

9.1.

11.4.

11.6.

9.2.

11.7.

7,20

8.

11.3.

11.2.

10.

8,00

6.

7,20

7,20

7,20

2,40

19,20

14,40

14,40

1,95 2,20

,20

7,20

7,20

7,20

6,30

5,70

4,00 1,20

7,20

7,20

7,20

7,20

C Planta do Segundo Pavimento 0 1 2

8m

4

16m

7,20

C 5,40

7,20

7,20

7,20

+9,33

+10,90

D

+14,05

6.1.

6.2.

11.1.

1,40

12.

7,20

8.

+7,75

7,20

13.

10.

6,60

9.

4,60

6.

1.

7,20

3,52

5,95

1,80

7,20

7,20

6.3.

,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

7,20

C Planta do Terceiro Pavimento 0 1 2

89

4

8m

Proposta

16m

O Momento Que A Cidade Desce

90

3.

3.

2.

1.

Corte AA

2.

0

1

2

1.

4

8m

16m

Corte AA

1. Auditório 2. Varanda 3. Teto Jardim 4. Passarela 5. Praça 6. Rampa

0

7. Mirante 8. Recepção 9. Biblioteca 10. Vazio Recepção 11. Varanda Biblioteca 12. Escadaria

1

2

4

8m

16m

13. Oficina 14. Estacionamento 15. Café 16. Exibição 17. Acesso Serviço 18. Acesso WC

6.

4.

5.

7.

8.

6.

7.

9.

11.

4.

5.

8.

10.

9.

Corte BB

10.

11.

0

1

2

4

16m

8m

Corte BB 0

1

91

2

4

8m

Proposta

6.

16m

6.

15.

5.

4.

16.

18.

6.

17.

12.

17.

5.

12.

13.

16.

92

17.

9.

6.

14.

14.

O Momento Que A Cidade Desce

5.

4.

17.

12.

GSEducationalVersion

6.

17.

8.

14.

GSEducationalVersion

5.

4.

17.

1

11.

6.

5.

12.

13.

14.

Corte CC 0

1. Auditório 2. Varanda 3. Teto Jardim 4. Passarela 5. Praça 6. Rampa

1

2

7. Mirante 8. Recepção 9. Biblioteca 10. Vazio Recepção 11. Varanda Biblioteca 12. Escadaria

4

16m

8m

13. Oficina 14. Estacionamento 15. Café 16. Exibição 17. Acesso Serviço 18. Acesso WC

3.

1.

Corte DD 0

1

2

3.

6.

15.

4

18.

8.

8m

1.

9.

16m

Corte DD 0

93

1

2

4

8m

Proposta

16m

1. auditó 2. varan 3. teto ja 4. passa 5. praça 6. rampa 7. miran 8. recepç 9.bibliot 10.vazio 11. vara 12. esca 13. oficin 14. estac 15. café 16. exibi 17. aces 18. aces

Figura 4.11. Perspectiva renderizada do nível da passarela. À esquerda acesso de veículos ao estacionamento e escadarias do Centro Cívico. Circulação vertical à direita e Biblioteca.

O Momento Que A Cidade Desce

94

II. A Segunda Etapa - Vias Complexo Articulador Abordagens no uso do solo: Solo vetorial.

O ponto intermédio de ligação aproxima-se tanto quanto possível do mar e do centro mas se relaciona especialmente com as vias desniveladas que o margeiam. Aqui o estímulo a caminhabilidade e a conectividade surge como premissa projetual, é nesse contexto que a passarela se desenvolve, como um grande corredor de movimento de pedestres e ciclistas que vence as mudanças topográficas, se soltando do solo e flutuando de um ponto a outro respeitando a altura mínima de atravessamento da Avenida.

Esse momento do projeto carrega um caráter articulador entre vias, é onde se encontra o primeiro dos dois complexos de escada e elevador que se converte em ponto de descida de quem não vai até o mar, mas que deseja realizar a travessia da Av. Leste Oeste em segurança, além de funcionar como estrutura de apoio físico da passarela. A Torre de escada é estruturada por perfis metálicos que formam treliças que sustentam a tela de nylon, o que permite uma visão panorâmica da cidade. Comparativamente com os mais de 10000m2 de intervenção , são relativamente poucos os 48m2 de extensão do complexo de circulação vertical e de sua pequena praça, mas com grande impacto na promoção da continuidade do tecido urbano, ao interligar com um só movimento (linear perpendicular) a passarela e uma pequena pequena praça protegida onde se encontra escadaria e rampa acessível sombreada que se revaloriza com instalações luminosas durante a noite.

95

Proposta

E

Figura 4.12. Perspectiva dos volumes de circulação vertical. Indicada em planta.

205° 155°

1,80

4,80

1,90 2,00

3,20

4,15

F 1.

F

2.

45°

0 2,6 3,10

3,2 0

+13,35

0 0,5 6,65

1,90

5,20

Planta do Segundo Pavimento

E

1.passarela 2.circulação vertical

O Momento Que A Cidade Desce

0 1 2

96

4

8m

16m

205° 155°

1,90 2,00

3,20

4,15

Figura 4.13. Perspectiva inferior do acesso à circulação vertical da passarela e pórticos de estrutura.

Indicada em planta.

4,80

F

1,80

1.

2.

45°

+13,35

F

3,2 0

0 2,6 3,10

0 0,5 6,65

1.passarela 2.circulação vertical

1,90

5,20

E

Planta do Segundo Pavimento 4

8m

16m

E

0 1 2

2,80 3,05

7,10

F

+6,00

45°

3.

+6,88

2,65

0,56 6,50

1.

4,85 1,55

1,15 4,50 1,40 10,10

+4,95

F

6,65

1.rampas 2.escadarias 3.circulação vertical

1,401,401,40

E

3,80

1,30

2. +7,40

97

Planta do Segundo Pavimento 0 1 2

4

8m

16m

Proposta

Corte EE 0

O Momento Que A Cidade Desce

1

2

98

4

8m

Corte FF 0

1

2

4

8m

Corte FF 0

99

1

Proposta

2

4

8m

Figura 4.14. Perspectiva renderizada da terceira etapa da intervenção.

Vestiários e acesso vertical à esquerda e Barraca de Praia à direita.

O Momento Que A Cidade Desce

100

III. A Terceira Etapa - Mar Faixa de Praia Abordagens no uso do solo: Desapegado do solo; solo elevado.

Para a cota inferior do projeto e último momento da passarela busco uma relação direta com o mar para isso decido por um programa relacionado com o usufruto da natureza e do corpo com uma morfologia urbana acolhedora.

A faixa de praia que hoje é amplamente ocupada por empreendimentos privados recebe um volume edificado de pouca densidade que acolhe o frequentador ao oferecer uma piscina aberta, vestuários, mirante, chuveirões e área sombreada enquanto abriga pequenos serviços de suporte para as atividades locais tais como vendas ambulantes, uma vez que comporta depósitos para guardar os equipamentos como cadeiras, guarda sóis, entre outros.

Quando se aproxima ao máximo quanto possível do mar, a passarela se alarga e se converte em um Mirante que abarca o vestiário e o espaço livre de varanda da piscina. Esse miradouro aparece como um novo solo criado elevado em relação ao terreno natural (que estende-se ao horizonte possibilitando uma relação aberta com a paisagem). O acesso ao espaço se dá através da passarela, mas também independente dela, por meio de uma escada que recorta o bloco do vestiário e faz alusão à escadaria do Centro Cívico.

Todo o percurso se encerra da maneira mais simples quanto possível, com uma Barraca de praia que se aproxima a um arquétipo de casa com um telhado de duas águas simétricas, grande área de varanda e um sistema de piso elevado, um tipo de construção tradicional no litoral da Cidade. A estrutura apenas se assenta sobre uma base plana, sem grande relação direta com o solo em que se encontra, a plataforma pertence mais a barraca do que ao sítio, assim a arquitetura se suspende no ar.

101

Proposta

G 0,80 11,55 0,80 6,00 0,80

0,70

0,80

5,60

4,00

29,90

55,50

57,70

7,20

3,80

14,05

2,80

3.

2.

2,09

45°

4,15

1.

225° 65°

205°

291m²

O Momento Que A Cidade Desce

G

1.passarela 2.circulação vertical 3.mirante

H

1,45

H

102 Segundo Pavimento Planta do Primeiro

GSEducationalVersion

0 1 2

4

8m

16m

Figura 4.15. Perspectiva da chegada da passarela à Terceira Etapa da intervenção. Em primeiro plano, coberta de acolhimento, à esquerda, edifício de vestiários. Indicada em planta.

103

Proposta

Figura 4.16. Perspectiva do edifício de vestiários visto a partir da piscina artificial. Indicada em planta.

Figura 4.17. Perspectiva do edifício de vestiários visto a partir da área adjacente. Indicada em planta.

O Momento Que A Cidade Desce

104

m

G 0,80 11,55

19,95

+0,35

0,80

0,80

29,90

0,80

4,05

1,95

6,70

1,20

1,20

2,25

3.

3,60

+2,68

0,28

10,00

4.

19,35

6,30

+2,68 2,10

3,95 1,90

4,80

6.

5,25

0,80

6,00

0,80

5.

21,60 7,20

7,20

+3,03

2,80 1,60

2,00 2,40 4,40

3,60

7,20

7,20

3,60

36,00

3,60

70,12

7,20

21,60 7,20

3,60

51,90

3,60

7,20

7,20

3,60

3,60

10,00

3,60

7,20

5,60

7.2

12,30

3,60

7,20

7,20

3,60

2.

3,60

3,60

7.1

5,10

H

H

+3,38

14,40

+3,90

14,60

18,75

1.

+4,08

1,00

4,20

+3,55

1,70

1,00

+3,03

8,27

+3,38

43,20m² 81m² 147,80m² 8,20m² 765,30m² 119m² 335m² 40m²

105

G

1. circulação vertical 2. deck chuveirão 3. vestiário 4. dml 5. piscina 6.varanda 7. barraca coberta 7.1. área pública 7.2. apoio ambulante

Proposta Segundo Pavimento Planta do Primeiro 0 1 2

4

8m

16m

O Momento Que A Cidade Desce

GSEducationalVersion

106

Corte GG 0

1

2

4

8m

16m

8m

16m

Corte HH 0

107

1

2

4

Proposta

O Momento Que A Cidade Desce

108

Figura 4.18. Perspectiva renderizada do edifício de vestiários visto a partir da piscina artificial. Barraca de Praia à esquerda.

109

Proposta

O Momento Que A Cidade Desce

110

Intensidades Programáticas

O esquema pretendeu avaliar graficamente a intensidade de volume edificado, o que não necessariamente determina a quantidade de uso ou a qualidade do espaço.

Ainda que o volume edificado na primeira etapa só transpareça na superfície sob a forma de pequenas estruturas de entrada (pelo menos sob o olhar de quem vem do centro), trata-se de uma densidade arquitetônica elevada sem matéria visível, uma vez que considerável parte da edificação se encontra parcialmente enterrada. Assim ela se classifica como de grande intensidade programática.

Já na segunda etapa do projeto, na qual se nota um único elemento vertical sem uma grande variedade de programas, também se considera elevada a intensidade programática, uma vez que se usa de uma pequena área de influência e grande densidade.

Na terceira etapa encontramos uma proposta com pouca intensidade programática, marcada por espaços vazios – sem determinações estritamente funcionais – que convida à apropriação, a praia surge como espaço de estar sem a necessidade de ser tão literal na ideia de qualificar o espaço, não se faz necessária a proposição de grandes equipamentos ou de uma grande variedade de mobiliário urbano, aqui a arquitetura desce pra uma realidade cotidiana, espaços generoso com possibilidades de situações com interações com a natureza.

111

Proposta

Possibilidades, Formas Elementais, Operações

Centro Cívico - Oficinas e Serviço Enterrado no solo Solo artificial, Plataforma, Arrimo, Plano Inclinado Fundação, Contenção, Escavação

Centro Cívico - Biblioteca Solo empilhado Solo artificial, Plataforma, Arrimo, Plano Inclinado Fundação, Contenção, Escavação

Centro Cívico - Auditório Solo inflado Solo artificial, Arrimo, Plano Inclinado Fundação, Contenção, Escavação

O Momento Que A Cidade Desce

112

Vias - Passarela Solo Vetorial Solo artificial, Passarela, Plano Inclinado Fundação

Faixa de Praia - Barraca de Praia Desapegado do solo Solo artificial, Plataforma

Faixa de Praia - Vestiários Solo elevado Solo artificial, Plataforma, Plano Inclinado Fundação

113

Proposta

Centro Cívico

Possibilidades

Auditório

Biblioteca

Vias

Oficinas e Serviço

Passarela

desapegado do solo enterrado no solo

solo elevado solo empilhado solo inflado solo vetorial solo esculpido solo exposto

Formas Elementais

solo inscrito solo artificial plataforma

arrimo

passarela

Operações

plano inclinado

fundação

contenção

terraplenagem

escavação

O Momento Que A Cidade Desce

114

Faixa de Praia

Barraca

Vestiario

115

Proposta

Considerações Finais

O projeto tratado até aqui se inicia pelo entrelaçado de duas curiosidades: a descida do centro para a faixa de praia em Fortaleza, no intuito de romper as barreiras, físicas ou não, ali existentes e a descida da superfície para o solo, no sentido de entender a relação entre o objeto arquitetônico e o solo em que se insere.

Começo este trabalho tentando entender o processo histórico de urbanização que levou ao distanciamento da área central e do litoral oeste da Cidade, para então criar um breve debate no intuito de sensibilizar sobre o assunto. Em seguida, me debruço sobre as várias abordagens dadas à relação solo - arquitetura, partindo do entendimento que o espaço construído e o espaço do solo não são elementos opostos no corpo arquitetônico, se não parte de um todo, e apresento operações e estratégias que permitem a conversa entre os mesmos.

Logo após delinear algumas possibilidades no encontro do objeto arquitetônico com o solo, busco rebatimento projetual. Assim se insere o desenho proposto, não a partir de um programa de necessidades pronto, mas da vontade de transpor lotes isolados da cidade enquanto me aproprio das propriedades do solo, quase como pedindo licença para fazer parte de uma paisagem única, como a do Litoral Oeste da Cidade.

O projeto é apresentado em plantas que descem sempre do nível mais alto ao nível mais baixo, embora não seja a metodologia tradicional dentro do desenho arquitetônico, considerei importante tanto para o entendimento da proposta quanto para que o leitor se posicione como um usuário e se sinta convidado a descer do Centro para o Mar, e em cortes escolhidos de forma a revelar a relação vertical entre os estratos do terreno e as relações entre terreno e arquitetura.

Aqui tenho a consciência de que apresento um trabalho em andamento e acabo com a sensação de não sair com todas as respostas, mas também compreendo que não poderia ser diferente. Me basta a ideia de que tornei essa relação entre solo e arquitetura um pouco menos misteriosa para mim e me agrada a ideia de que talvez eu possa contribuir da mesma forma para outra pessoas.

O Momento Que A Cidade Desce

116

117

Proposta

5 Bibliografia

O Momento Que A Cidade Desce

118

BERLANDA, Tomà. Architectural Topographies: A graphic léxicon of how buildings touch the ground. Nova Iorque: Routledge, 2014.

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A Cidade Desce

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NORBERG-SCHULZ, Christian. Genius Loci: Towards a Phenomenology of Architecture. Academy Editions Ltd, 1980.

O Momento Que A Cidade Desce

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121

Bibliografia

Créditos Diagramado por Frederico Leite Com as fontes Be Vietnam Enriqueta

O Momento Que A Cidade Desce

122

Aida Sousa da Costa Guilherme Novembro de 2020 Fortaleza, Ceará