CD O piano de Gogô (encarte)

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Olhares sobre a música e o músico

Música na adolescência e o início de carreira

Como leiga na linguagem técnico-musical, mas como admiradora da música, sinto-me confortável em falar um pouco da carreira deste brilhante pianista que é o Gogô. Simples assim, quatro letrinhas que dizem muito dentro do universo musical brasileiro, seja como pianista, arranjador, maestro ou professor. Desde pequena, nas reuniões familiares, lembro que ele nunca quis tocar um “Parabéns a você”. Também pudera, em meio à diversão da família, ele não queria pensar em trabalho. Certo ele, que sempre teve na música a sensibilidade de apreciar sons, remanejar acordes e tirar de ouvido até os jingles das propagandas ou os temas das novelas. Algo admirável para mim, que nunca entendi daquelas “bolinhas” (notas musicais). Mais encantador ainda era ter a oportunidade de ver, em minutos, tudo aquilo que acabava de ouvir na televisão trazido logo ali para a sala de casa, tocado de maneira simples no “Piano de Gogô”. Foi assim que cresci, ouvindo música dentro e fora de casa. Uma convivência de pai e fi lha sempre muito harmônica, embora marcada também pelos “desencontros” – o trabalho noturno, as aulas e a universidade de dia muitas vezes fizeram com que não conseguíssemos nos ver, mesmo morando na mesma casa. Mas tudo isso tem o seu lado bom: o reencontro.

Falante como sempre e – pasmem! – hoje até cantando, ele tem assunto de sobra para os cafés-da-manhã. A começar pelos jornais, o noticiário do dia e o assunto preferido, a política. Um militante nato, que desde a juventude lutou por ideais, defendeu causas e transmitiu conhecimentos históricos que eu nem precisava procurar nos livros. Como sempre brincamos, uma enciclopédia ambulante, pronta para responder a qualquer pergunta. Mas a música, ah, a música, é uma verdadeira paixão de vida. Com mais de 50 anos de carreira, completados quase junto com a Bossa Nova, Hilton Jorge Valente – o Gogô, como é conhecido no meio artístico – é uma contribuição importante para o meio século de história deste gênero musical que é sucesso absoluto dentro e fora do Brasil. É, ainda, um resgate histórico do cenário musical brasileiro. Contador de “causos”, em um simples bate-papo com ele é possível conhecer personalidades da música e passagens curiosas que representam a vida de grandes artistas, além de momentos que foram “divisores de águas” em suas influências musicais. Como se fosse ontem, ele lembra os encontros com grandes ídolos como Dick Farney, Tom Jobim e Bill Evans. No caso de Dick, uma curiosidade: a admiração de sua música mais tarde trasformou-se em parceria. E quem poderia imaginar isso! Aquele jovem que nos anos

Na estrada... maturidade chegando


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