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RIO TEJO Desafios e oportunidades
O RIO TEJO É O RIO MAIS EXTENSO DA PENÍNSULA IBÉRICA. A SUA BACIA HIDROGRÁFICA É A TERCEIRA MAIS EXTENSA NA PENÍNSULA, ATRÁS DO RIO DOURO E DO RIO EBRO. NASCE EM ESPANHA - ONDE É CONHECIDO COMO TAJO - A 1.593 M DE ALTITUDE NA SERRA DE ALBARRACIM, E APÓS UM PERCURSO DE CERCA DE 1.007 KM, DESAGUA NO OCEANO ATLÂNTICO FORMANDO UM ESTUÁRIO EM LISBOA. A SUA BACIA HIDROGRÁFICA É DE 80.600 KM² (55 750 KM² EM ESPANHA E 24.850 KM² EM PORTUGAL), SENDO A SEGUNDA MAIS IMPORTANTE DA PENÍNSULA IBÉRICA DEPOIS DA DO RIO EBRO.
Fonte: Wikipedia
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O Tejo, nascido em Espanha, é o rio mais extenso da Península Ibérica. São 1.007 quilómetros de comprimento que, em Portugal, fazem correr muita tinta. O recurso água que o rio representa é importantíssimo para os agricultores, inclusive na mitigação das alterações climáticas.
Os agricultores ribatejanos há muito que reclamam que haja uma melhor gestão do rio Tejo e que seja possível construir infraestruturas que retenham água para utilização agrícola. Os empresários agrícolas recordam que as albufeiras são também elas essenciais nesta luta diária que se vive contra as alterações climáticas. Só com água é possível produzir. Consultámos vários especialistas nesta matéria. Vejamos o que nos dizem. O engenheiro Pedro Cunha Serra recorda que “a agricultura precisa de água, e portanto a tentação tem sido sempre procurar a água onde ela existe, na margem direita do Tejo, para a elevar mais para sul”. O especialista comenta que, em Portugal, “o Tejo entra rapidamente naquela planície muito extensa do Ribatejo e aí não há grandes condições para fazer barragens com grande capacidade de regularização, sob pena de inundarmos uma extensão muito grande de terrenos. Isso não faria sentido. No fundo, estaríamos a construir uma barragem que iria pôr em causa aquilo que podia ser uma das utilizações mais importantes das suas águas, que é a rega no Vale do Tejo”. No entanto, há algumas soluções que seriam viáveis, entre elas, converter barragens atuais para fins múltiplos. “A Barragem do Alvito era uma solução que estava em cima da mesa. A EDP já teve a concessão para a construção dessa barragem, mas desistiu porque chegou à conclusão de que, do ponto de vista da economia, o empreendimento não justificava tais investimentos. A energia hidroelétrica está a perder valor e portanto o investimento já não suscita o entusiasmo que suscitou há 20 anos. Neste momento, há outras soluções que estão em cima da mesa que não podem ser ignoradas, nomeadamente a concessão da Barragem do Cabril com aproveitamento hidroelétrico que termina em finais de 2022. Esta tem 600 milhões de metros cúbicos de capacidade de armazenamento. É possível pensar numa exploração deste grande reservatório numa perspetiva substancialmente diferente daquela que tem sido hoje. Essa solução pode e deve ser explorada porque é uma solução muito mais económica. Tem, ainda assim um problema, que é: se se limitar a descer a cascata do Zêzere, obviamente terá que haver um acordo com a EDP, porque a esta beneficiará dessas águas para turbinar na central hidroelétrica da Bouçã e depois na de Castelo do Bode. Mas terá que o fazer obviamente de acordo com regras que não são as regras puramente hidroelétricas. Terá que o fazer numa perspetiva multiusos, que permita por exemplo que haja mais água no Tejo durante o verão para os agricultores regarem os seus terrenos, que possa haver mais continuidade fluvial para garantir as espécies que povoam o rio, entre outros aspetos”, pormenoriza Pedro Cunha Serra. O mesmo responsável comenta ainda que “as ribeiras do Oeste são são pequenas bacias hidrográficas, que têm uma agricultura bastante intensiva, outras utilizações relevantes, nomeadamente ao nível do turismo balnear. A rega desses terrenos está muito dependente de uma eventual utilização de águas do Tejo, conduzidas até lá. Mas há outra possibilidade. Na região da AML, na margem direita do Tejo, existem cerca de 300 milhões de metros cúbicos de águas residuais que estão já a ser bastante tratadas. Não poderíamos utilizar esses 300 milhões de metros cúbicos, porque uma parte dessa água é produzida durante o inverno e não é possível armazená-la, mas 80 milhões são produzidos durante a época de rega e podem ser conduzidos até às Ribeiras do Oeste e serem aí utilizados para a agricultura. Além disso, estamos a falar de culturas arbóreas, e portanto, a qualidade dessa água não é um problema, desde que obedeça à norma da água para reutilização”. Carlos Mineiro Aires, bastonário da Ordem dos Engenheiros, comenta que “a barragem de Ocreza, no Rio Ocreza, seria prioritária.
Sara Pelicano
Carlos Mineiro Aires
BASTONÁRIO DA ORDEM DOS ENGENHEIROS
Pedro Cunha Serra
ENGENHEIRO CIVIL E CONSULTOR
Há também a solução de altear a barragem de Pracana e há um local identificado, que é no Alvito, onde se pode construir uma nova barragem com alguma dimensão que serviria para descarregar para a de Pracana e para o Tejo. No fundo, creio que estas alternativas não são verdadeiramente uma solução, são medidas para mitigar a questão. Não vamos conseguir ter ali uma armazenamento com uma dimensão tal que possamos pensar que isso era a resposta, não é. Mas ajudava”. O mesmo responsável sublinha ainda que a questão da água ganha contornos muito críticos porque é cada vez mais escassa e como tal todos a querem. “Quem olhar para o mapa percebe que em Espanha já não há quase locais para construir barragens. Toda a água é retida em Espanha, nessas barragens. Também os espanhóis se queixam das secas e da falta de água porque grande parte da água também é utilizada na agricultura e nos mais diversos fins. Mas para não ficarem expostos, resumem-se a cumprir o que a Convenção diz. Agora, não tenhamos ilusões. Se não têm água, a que têm nunca a enviarão para Portugal, se não forem obrigados ou não estiver contemplado na Convenção de Albufeira. O problema é delicado. Os nossos principais rios são todos internacionais, nascem todos em Espanha, e todos têm uma gestão que não é fácil”. O presidente da AGROTEJO, Luís Mesquita Dias, defendeu que o caminho pode ser tirar partido das infraestruturas que já existem e que estão atualmente a ser utilizadas apenas do ponto de vista hidroelétrico. “A concessão da barragem de Castelo de Bode está a chegar ao fim e seria importantíssimo negociar um novo período de concessão que contemplasse a utilização para fins múltiplos. A partir do momento em que essas barragens sejam vistas como de interesse público e com fins múltiplos, independentemente de quem tenha a concessão na sua gestão, conseguimos ali um pulmão de regularização do caudal do Tejo, que hoje não está a ser completamente utilizado”. O presidente da AGROTEJO comentou ainda que a imagem do setor na sociedade também tem a sua importância. Luís Mesquita Dias defendeu, por isso que é preciso passar a mensagem de “a água para a agricultura não é uma coisa que se gasta é uma coisa que se consome e consome-se com finalidades bem definitas e todas elas bem justificadas”. Sob questões de gestão, Pedro Cunha Serra, comenta que “a Convenção Luso-espanhola tem previsão de caudais integrais anuais mínimos para serem respeitados, tanto na parte espanhola da bacia, como na parte portuguesa. Estes caudais foram acordados em 1998, na Convenção Albufeira. Em 2008, na revisão da Convenção, foram acrescentados valores de caudais trimestrais, tanto para a parte espanhola, como para a parte portuguesa da bacia, e caudais semanais. Por isso, há um caudal semanal mínimo, que os espanhóis têm que largar e que os portugueses também têm que acompanhar. A questão é que não foi decidido um caudal diário. Alcântara e Cedilho continuam a ser explorados numa perspetiva puramente hidroelétrica. Aliás, como acontece com o Fratel e com Belver. O Fratel tem uma capacidade suficiente para receber sete hectómetros cúbicos, se fosse necessário, num único dia, e depois descarregar para jusante um hectómetro cúbico por dia, o que já daria um caudal bastante mais razoável a jusante do Fratel e a mesma coisa em Belver. Mas esses aproveitamentos estão todos concessionados, no caso espanhol à Iberdrola, no caso português à EDP”.
“BAZUCA”, UMA OPORTUNIDADE PARA O TEJO? O financiamento proveniente da chamada “bazuca”, ou seja, do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), poderia ser uma oportunidade para investir no Tejo. Pedro Cunha Serra explica que “há um aproveitamento de média dimensão (Pisão-Crato) que está debaixo do radar há muito tempo. Mas esse é um projeto com interesse meramente re-

gional. Quando falamos do Alvito estamos a falar de uma coisa completamente diferente. Até mesmo do Cabril, ainda que, provavelmente tenhamos de investir mais para fazer a ligação do Castelo do Bode até à Albufeira de Belver, do que aquilo que vamos investir no Pisão-Crato. Digamos que todos esses projetos têm que ser olhados per si e justificar a sua valia. Admito que esses recursos financeiros possam vir a ajudar a resolver alguns dos problemas com que os nossos agricultores ainda se defrontam, nomeadamente no Vale do Sorraia”. Por seu turno, Carlos Mineiro Aires comenta que “os projetos que estão afetos ao PRR estão todos identificados. A opção passa por construir a Barragem do Crato e não olhar para a questão do armazenamento no Tejo. O Crato é uma questão local, vai ter investimentos, vai desenvolver a agricultura naquela zona. Agora, a questão do Tejo, em si, fica por resolver”. Luís Seabra, presidente da Associação de Agricultores do Ribatejo, lamenta que “o único investimento até agora previsto seja para a Barragem do Pisão, que tem toda a justificação, mas é um projeto com impacto apenas regional”. O mesmo responsável classifica como “inaceitável esta postura do poder central, cujo discurso político não é verdadeiro nem consequente com as opções estratégicas que toma”. A concluir, Luís Vasconcellos e Souza, presidente da Direção da AGROMAIS, afirma “precisamos de uma política que defenda a utilização de água no setor”, o que não acontece atualmente. O mesmo responsável recorda que “regar é a resposta que a produção agrícola pode dar relativamente às alterações climáticas”. É INACEITÁVEL ESTA POSTURA DO PODER CENTRAL, CUJO DISCURSO POLÍTICO NÃO É VERDADEIRO NEM CONSEQUENTE COM AS OPÇÕES ESTRATÉGICAS QUE TOMA.

Luís Seabra
PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES DO RIBATEJO
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Rio Tejo
Luís Seabra descreve a dimensão do Tejo e as dificuldades da sua gestão.
Agrotejo (AG): A bacia do Tejo é a espinha dorsal do sistema hídrico e de organização do território nacional. Porquê? Luís Seabra (LS): Pela sua dimensão, capacidade e localização geográfica. Observando os valores de precipitação anual média na Península Ibérica, constatamos, e de forma mais evidente em Portugal, duas realidades completamente distintas entre as regiões a norte do rio Tejo, a que podemos chamar a Ibéria Húmida e a Sul do rio a Ibéria Seca. A Bacia do Rio Tejo tem 81.310 Km2 totais: 55.710 Km2 em Espanha e 25.600 Km2 em Portugal. O caudal integral da bacia em ano médio é de 18.450 hm3 (1 hm3 = 1 milhão m3); de 12.250 hm3 em Espanha – capacidade armazenamento (barragens) é 11.000 hm3 e 6.200 hm3 em Portugal – barragens temos 1.900 hm3, 90 % da capacidade em Portugal nas barragens do afluente Rio Zêzere.
AG: Nesse sentido, como se justifica que continue sem existir uma barragem neste rio? LS: Não faz nenhum sentido e não se compreende que em Portugal se continue a apontar constantemente a culpa aos Espanhóis por todos os problemas do Tejo. A constatação da realidade que refiro no ponto acima esmaga. Muito menos se compreende a resistência das organizações que se dizem defensoras do ambiente, em serem contra por princípio, da construção de novas barragens – não querem mais artificialização dos rios, e pretendem ainda reduzir volumes de água captados na natureza. Mas, por outro lado, exigem água das barragens espanholas em períodos de seca que, entre outras funções, garantem os caudais ecológicos mínimos nos rios e o controle das cheias. Segundo o Plano Nacional da Água de Portugal em 2015 o consumo anual total de água em Portugal foi de 4.439 hm3, na agricultura foi 3.389 hm3. As afluências médias anuais das bacias hidrográficas no Continente foram 47.840 hm3. Consumimos menos de 10% e temos falta de água ou não sabemos gerir o recurso? O tema da contratação das concessões da gestão das barragens é muito importante e tem que estar presente, para garantir uma gestão correta das mesmas, mas pensar que conseguimos coesão territorial e desenvolvimento equilibrado de um território desigual, sem aumentarmos a nossa capacidade de
barragens e fazer transvases para sul, é uma utopia perigosa que está a condicionar o presente e futuro de várias gerações.
AG: Em Novembro 2017, houve uma cerimónia dos 20 anos da convenção luso-espanhola. Quais são efetivamente as obrigações de Espanha? LS: O ministro do Ambiente João Pedro Matos Fernandes referiu na altura ter sinalizado por via oral, ser positivo fixar débitos diários mínimos para o Tejo. A ministra do Ambiente de Espanha foi clara na mensagem que deixou, referindo que a solução para os problemas ambientais do Tejo em Portugal, passava pela construção de uma Barragem no nosso território. A Convenção de Albufeira define um caudal anual de 2.700 hm3, sendo o caudal mínimo semanal a fornecer por Espanha de 7 hm3, que apesar de ser insuficiente para as nossas necessidades atuais, tem sido cumprido pelos espanhóis. O ministro Matos Fernandes, em entrevista recente de 2 Outubro, reconhece agora que não resolvemos o problema pela renegociação da Convenção de Albufeira – não temos argumentos válidos para convencer os espanhóis – e que desde a assinatura da Convenção, há 24 anos, a disponibilidade hídrica no rio Tejo é inferior em 25%. Temos que aumentar a nossa capacidade de armazenamento.
AG: De que forma deve Portugal assegurar uma melhor gestão do rio Tejo? LS: Assinalo alguns dos pontos que entendemos como fundamentais: a) Transparência – divulgação pública diária dos caudais horários turbinados nas barragens portuguesas e espanholas; b) Renegociação da concessão da Barragem do Cabril no afluente Zêzere – termina em 2022 – com alteração para uso de fins múltiplos para garantir caudal mínimo no Tejo a jusante de Constância. A gestão partilhada da EDP com a Entidade oficial Reguladora, para garantir caudais mínimos turbinados sempre que necessários e independentes da conjuntura bolsista dos preços de energia; c) Avanço de imediato para o Projeto da Barragem do Alvito no Rio Ocreza, afluente do Tejo na Beira Baixa – esgotando todas as possibilidades para a opção de maior capacidade de armazenamento – 2.000 hm3 . O ministro Matos Fernandes prometeu em abril de 2019 a realização pela APA – Agência Portuguesa do Ambiente, uma primeira avaliação deste projeto, tendo definido prazo máximo de um ano. Continuamos à espera.
AG: Quais as principais causas para o baixo caudal do rio? LS: Redução de 25% do caudal disponível do rio nos últimos 20 anos; gestão em Espanha de transvases para o Sul; desregulação da gestão das barragens Ibéricas pelos seguintes motivos: - Contratos de Concessão – sem restrições para garantir caudais mínimos adequados; PENSAR QUE CONSEGUIMOS COESÃO TERRITORIAL E DESENVOLVIMENTO EQUILIBRADO DE UM TERRITÓRIO DESIGUAL, SEM AUMENTARMOS A NOSSA CAPACIDADE DE BARRAGENS E FAZER TRANSVASES PARA SUL, É UMA UTOPIA PERIGOSA.
BARRAGEM DE BELVER, MAÇÃO, SANTARÉM

BARRAGEM JOSÉ MARÍA DE ORIO ALCÁNTARA, PROVÍNCIA DE CÁCERES, ESPANHAW - Entidades Reguladoras Ibéricas sem poder ou controle efetivo nas empresas que detêm concessões e que vão sendo vendidas a investidores externos; - Bolsas energia agressivas, sem restrições de impacto ambiental na gestão hídrica; - Novas energias renováveis em crescimento: - Energia eólica – o vento não se guarda, a água sim – em dias de vento, caudais turbinados nas Barragens quase chegam a zero e - Energia fotovoltaica – na época de maior necessidade das culturas de regadio, também condicionam.
AG: Qual seria o local ideal para a construção de uma barragem no rio Tejo e porquê? LS: A construção de barragens no leito do rio Tejo com capacidade de regularização não são viáveis pelas caraterísticas naturais da sua topografia. As barragens existentes – Fratel e Belver – são consideradas fios de água, consequência disso, a capacidade atual de gestão de caudal até Constância, que é quase zero. Desde o final dos anos 50 do século passado, que está identificada a solução da construção de uma barragem num afluente do Tejo na Beira Baixa – no Rio Ocreza – com grande potencial de armazenamento até 2.000 hm3 (NPA = 255 ) – se bem que as afluências diretas da sua bacia sejam apenas de 500 hm3 – a confirmar com estudo atual da capacidade da Bacia e dependerá da opção da sua localização. Este grande reservatório, pela sua localização geográfica, pode ser alimentado através de bombagem dos excedentes do Tejo, e é ainda importante como ponto de passagem e acumulação de caudais excedentários a norte, através de um possível transvase com origem na albufeira do Sabugal, Rio Côa, bacia do Douro
AG: Qual o ponto de situação do Projeto da Barragem no Rio Ocreza /Alvito? LS: Em setembro na Agroglobal, as três Comunidades Intermunicipais – Beira Baixa, Médio Tejo e Lezíria do Tejo, que representam a grande maioria dos municípios da Bacia do Tejo em Portugal, assinaram um memorando de entendimento com vista à concretização da construção da Barragem do Alvito – Projeto Barragem cheia 2030. O poder autárquico deu assim um grande exemplo de coesão territorial e defesa do interesse nacional. Esperamos que tenha sido o impulso decisivo para este Projeto estratégico avançar.
AG: O que se perde com a falta desta barragem e o que se poderá ganhar com a mesma? LS: Além do impacto direto e ambiental no rio Tejo, fazer a barragem do Alvito é um caso de independência para o Tejo como refere Pedro Serra numa entrevista, em 2019. O impacto económico será equivalente ao de Alqueva, em todas as regiões com carência de água para regadio e que passem a ser beneficiadas pela água disponível. Podemos e devemos acrescentar a sua importância no potencial futuro, para desenvolver o transvase possível – Douro – Tejo – Guadiana – com impacto direto no reforço de garantia de água disponível nas barragens existentes a sul, mesmo em períodos longos de seca (anos consecutivos). No Ribatejo, além da garantia da área atual de regadio com bombagem direta (por exemplo 10.000 ha da Lezíria de Vila Franca), e recarga dos aquíferos subterrâneos em todo o Vale do Tejo (impacto a médio prazo da redução do caudal médio dos rios está comprovado), a regularização dos caudais potenciará melhoria da qualidade da água, novos projetos para melhoramento de novas áreas agrícolas, e desenvolvimento de turismo fluvial. Que melhor forma de combater no nosso território o impacto das alterações climáticas, e a necessidade de crescimento da nossa economia e desenvolvimento equilibrado do nosso interior?



Ministério do Ambiente está a atuar em “vários eixos”
A AGROTEJO quis também ouvir o Ministério do Ambiente e da Ação Climática sobre a questão do rio Tejo e obtivemos a informação abaixo disponível.
A bacia hidrográfica do Tejo tem uma grande relevância nas disponibilidades hídricas do país, superficiais e subterrâneas, e nesse enquadramento é necessariamente promotora da fixação de atividades económicas e um eixo condutor do ordenamento do território. Em termos territoriais, o Tejo constitui-se também um elemento de charneira em matéria de recursos hídricos. Estes – de maior abundância no Norte de Portugal Continental e na zona atlântica e de maior escassez a sul do rio Tejo – caracterizam-se por uma acentuada sazonalidade e irregularidade interanual, uma situação típica do clima atlântico-mediterrânico. O escoamento anual médio, em regime natural, na bacia do Tejo é estimado em 16.700 hm3 (9.000 hm3 são gerados em Espanha), correspondendo a cerca de 25% das disponibilidades superficiais do país. Contudo, os últimos anos foram marcados por uma diminuição de precipitação significativa, quer em Espanha quer em Portugal. Em Portugal, as últimas duas décadas foram as mais quentes desde 1931, verificando-se uma diminuição da precipitação de cerca de 20 mm por década. Este cenário e as características dos recursos hídricos do país trazem desafios acrescidos à gestão desta bacia, com consequências também em matéria do estado das massas de água. Na última década, a evolução do estado das massas de água superficiais, passou de 47% para 33% de massas de água com estatuto inferior a bom e as subterrâneas de 90% para 80%. Os efeitos das alterações climáticas serão, sem dúvida, um desafio na gestão dos recursos hídricos, sendo necessário atender aos
usos consumptivos da água e à preservação dos ecossistemas, assegurando caudais ecológicos. Os impactos das alterações climáticas sobre a água fazem-se sentir tanto do lado da oferta, como do lado da sua procura. Deste modo, é necessário promover a manutenção da disponibilidade de água e a qualidade de serviço dos usos atuais, através de uma gestão interanual das disponibilidades hídricas, da adoção de medidas de eficiência hídrica em todos os setores económicos e do aumento da resiliência das disponibilidades hídricas das regiões. Tal só se consegue com a integração nos diferentes planos e estratégias setoriais com os planos de gestão de região hidrográfica. A gestão deste equilíbrio da oferta e da procura e, em simultâneo, da manutenção dos caudais ambientais cabe a todos os setores em articulação com a Autoridade Nacional da Água. É também fundamental, e cada vez mais necessário, incluir a utilização de origens alternativas de água, como águas para reutilização (ApR), interligações entre sistemas. Relativamente ao rio Tejo, são vários os eixos de atuação do Ministério do Ambiente e da Ação Climática. Na vertente internacional, a continuação dos trabalhos com Espanha, no quadro da Convenção de Albufeira em vigor: a alteração dos regimes de caudais no Tejo será prosseguida, aperfeiçoando os mecanismos de articulação, quer no planeamento (Planos de Gestão de Região Hidrográfica e Planos de Seca) quer na gestão (execução do programa de medidas, mecanismos de vigilância e alerta). Na vertente nacional: na constituição de uma reserva estratégica de água na bacia do Tejo que permita minimizar os efeitos da redução e da irregularidade dos caudais descarregados na barragem espanhola de Cedillo. Na vertente da eficiência hídrica, através da diminuição dos volumes naturais captados, apostando na redução das perdas nos setores urbano, agrícola e industrial e de maior exigência de monitorização na atribuição de novas licenças de captação. Na vertente da reutilização: na produção de águas residuais suscetíveis de reutilização. Na vertente da qualidade, através da promoção de sistemas de tratamento das águas residuais urbanas e industriais mais eficientes, de maior exigência de qualidade e de monitorização ao licenciamento de descargas, na redução das cargas descarregadas, potenciando as ações associadas à economia circular. A viabilidade ambiental de uma barragem no rio Tejo terá de ser avaliada em sede de Avaliação de Impacte Ambiental, considerando os objetivos do projeto, as características dos projetos associados à origem de água e às áreas beneficiadas e o ambiente afetado. É nessa sede que as autoridades competentes farão a sua análise e avaliação da sua viabilidade, pronunciando-se sobre os benefícios do projeto e potenciais impactes negativos. A VIABILIDADE AMBIENTAL DE UMA BARRAGEM NO RIO TEJO TERÁ DE SER AVALIADA EM SEDE DE AVALIAÇÃO DE IMPACTE AMBIENTAL, CONSIDERANDO OS OBJETIVOS DO PROJETO, AS CARACTERÍSTICAS DOS PROJETOS ASSOCIADOS À ORIGEM DE ÁGUA E ÀS ÁREAS BENEFICIADAS E O AMBIENTE AFETADO.

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Manuel Campilho | Miguel Campilho | Jorge Froes
Diagnóstico: Morte lenta do rio Tejo
O Projeto Tejo surge devido à constatação de que estamos a assistir à morte lenta do rio Tejo, em resultado de meio século de abandono das diferentes intervenções efetuadas ao longo dos séculos (a primeira das quais na OTA, pelo Monges de Cister, a mando de D. Afonso Henriques!), de que resulta: • Retenção de caudais a montante, avanço da intrusão salina a jusante, assoreamento progressivo do leito, acidentes poluidores recorrentes, desaparecimento da fauna fluvial e ribeirinha • Fenómenos com tendência para agravar em resultado das alterações climáticas expectáveis – aumento da temperatura do ar, redução e concentração da precipitação, do escoamento e da recarga dos aquíferos.
SOLUÇÃO: ÁGUA EM PERMANÊNCIA NO RIO TEJO, PARA OS DIFERENTES USOS POSSÍVEIS Na perspetiva dos Promotores do Projeto Tejo, e de todos os seus apoiantes, a recuperação do rio Tejo passa pela intervenção integrada e global no mesmo, já que pequenas obras localizadas, que pretendam responder às necessidades de determinada zona, não resolvem os problemas globais nem locais. Assim, a solução passa por: • Distribuição de água para rega, abastecimento urbano e industrial e caudais ambientais, a partir de uma Rede de
Canais e Adutoras com origem na barragem de Castelo de
Bode, Estações Elevatórias primárias e Reservatórios de
Encosta. • Rega a partir de Redes em Pressão Gravíticas ou associadas a Estações de Bombagem. • Açudes de baixa altura (4 <m) entre Azambuja e Almourol, sem inundação marginal e rebatíveis no Inverno, criando uma “estrada de água” continua de Lisboa e Almourol e açudes de altura média (10 m) entre Almourol e Belver, rebatíveis no Inverno, prolongando a “estrada de água” até Belver. • Eclusas para Barcos e Escadas de Peixes nos novos açudes e nos açudes existentes (Belver e Fratel) tornando o rio Tejo navegável entre Lisboa e a Barragem Espanhola de Cedillo. • Caudais em falta nos meses de Verão garantidos pelas barragens existentes (geridas pela EDP mas em fim de concessão) e/ou a construir nos afluentes do rio Tejo (Alvito, etc.).
OBJETIVO: DESENVOLVIMENTO DO INTERIOR, PRESERVAÇÃO DE RECURSOS, CONTROLO DA SALINIDADE, REPOVOAMENTO PISCÍCOLA, NAVEGABILIDADE, TURISMO, REGADIO A gestão integrada das infraestruturas referidas, permitirá responder aos diversos anseios das populações locais e obviar a problemas regionais que se tendem a agravar, a saber: • Expansão da Área Regada e Abandono Progressivo do uso de Águas Subterrâneas • Desenvolvimento da Economia Regional, Criação de Emprego e Ajuda à Fixação das Populações • Combate à Interioridade e à Desertificação Agrícola e Rural • Preservação dos Recursos Hídricos, Agroflorestais, Piscícolas e Ambientais • Controlo da Intrusão Salina, Redução dos Danos das Cheias • Minimização dos Prejuízos de Fenómenos de Poluição Hídrica • Promoção do Mosaico Agroflorestal, Minimização de Incêndios e Ajuda ao seu Combate • Restabelecimento da Navegabilidade ao longo do rio e Desenvolvimento do Turismo Fluvial e Regional • Recuperação da fauna fluvial e das atividades lúdicas e económicas a ela associadas • Produção de Hidroeletricidade
VISÃO: AGRÍCOLA 300.000 HA DE REGADIO (100.000 HA JÁ REGADOS) COM ÁGUAS SUPERFICIAIS A valência agrícola, a única que permite garantir a manutenção, a longo prazo, dos investimentos a efetuar (tal como acontece com o Empreendimento do Alqueva), aponta para o aumento de 200.000 ha de rega sobre os 100.000 ha já existentes atualmente, num total de 300.000 ha, abandonando-se progressivamente o uso de águas subterrâneas usadas nos campos do Ribatejo, com grande redução dos custos energéticos. Aquela área total divide-se pelos seguintes Blocos: • 10.000 ha nas encostas do Médio Tejo, entre Gavião/Mação e Vila Velha de Ródão/Niza. • 210.000 ha nos vales e encostas do Baixo Tejo, entre Azambuja/Samora Correia e Abrantes/Mação • 20.000 ha nas baixas e encostas de Alenquer e Loures, a jusante de Azambuja • 20.000 ha na Península de Setúbal, Montijo, Moita, Pinhal
Novo, Palmela, Poceirão, Pegões, Canha • 40.000 ha na região Oeste, entre Mafra, a Sul, e Batalha, a
Norte
INVESTIMENTO E CUSTOS DE EXPLORAÇÃO 4.500.000.000 € | 40 ANOS | 0,03 €/M3 ÁGUA O investimento global previsto ronda os 4.500.000.000 €, 15.000 €/ha (que comparam com os 18.000 €/ha do Empreendimento do Alqueva), a efetuar ao longo de 40 anos,
num valor anual de 110.000.000 €/ano (semelhante ao Alqueva). Quanto aos custos de exploração do sistema, serão da ordem dos 0,03 €/m3 (valor que compara com os 0,06 €/ m3 do Alqueva).
SITUAÇÃO DO PROJETO TEJO EM 2021 O Projeto Tejo foi lançado em 2018, tendo os Promotores apresentado o mesmo ao Presidente da Républica, ministros e secretários de Estado da Agricultura e Ambiente, Assembleia da Républica, partidos políticos, organizações profissionais e empresariais, câmaras municipais, CIM’s, agricultores, e outras entidades com interesse no plano. Daí para cá foram dados passos importantes para a evolução do Projeto Tejo, a saber: • Criação da Associação +Tejo, para a promoção do Projeto Tejo, e criação do respetivo site www.projetotejo.pt, com agregação de simpatizantes e associados • Adjudicação pelo Ministério da Agricultura, a Empresa de Estudos e Projetos, do Estudo Técnico Económico e Ambiental do Projeto Tejo, no valor de 500.000 €, no sentido de verificar a sua viabilidade, para estar concluído em 2022 • Elaboraçãwo do Estudo relativo ao balanço hídrico do
Projeto Tejo, por equipa especializada em Necessidades de Água e Recursos Hídricos, entre os anos de 2020 e 2100, tendo em conta, por um lado, os consumos urbanos, industriais e agrícolas, neste caso considerando o crescimento da área regada e, por outro lado, as afluências até ao ano 2.100, tendo em conta as alterações climáticas e a insegurança dos recursos derivados de Espanha. Este Estudo prova que o rio Tejo garante, para lá de 2.100, os recursos hídricos necessários ao abastecimento agrícola, urbano, industrial e ambiental, mesmo que de
Espanha não derive nenhum caudal. • Pormenorização do traçado do sistema primário de abastecimento de água, com origem na barragem de Castelo de Bode, tendo como origem prioritária de água os volumes armazenados na “cascata do Zêzere” – Castelo de Bode + Bouça + Cabril, sendo que a concessão desta última termina em 2022 e das restantes em 2032. Este traçado permitiu confirmar os custos de investimento e de exploração previstos. A REGA DO VALE DO BAIXO TEJO, A SUL DO ARRIPIADO – PRESSÃO GRAVÍTICA SEM BOMBAGEM DAS LEZÍRIAS – PRESSÃO COM BOMBAGEM NAS ENCOSTAS Na grande mancha de rega correspondente ao Baixo Tejo, que se estende do Arrepiado à Lezíria Grande de Vila Franca, os Blocos de menor cota, nomeadamente Golegã, Chamusca, Santarém, Almeirim, Azambuja, Salvaterra, etc. serão alimentados por canais de encosta, que fornecerão água em pressão gravítica (sem bombagem), anulando os custos energéticos nas atuais bombagens, nomeadamente as derivadas de captações subterrâneas: A solução passa, então, por: • Desenvolvimento de dois canais primários ao longo das encostas Norte e Sul, partindo da cota 100 junto à barragem de Castelo de Bode. • Alimentação em pressão, por gravidade (sem bombagem) dos Blocos da Lezíria, nomeadamente Golegã, Chamusca, Santarém, Almeirim, Azambuja, Salvaterra. • Alimentação em pressão, com bombagem, das zonas de encosta marginais ao Vale.
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AG-INNOV
Um centro de excelência para estudar o tomate
Patrícia Cotrim, diretora do AG-INNOV, explica que o centro de excelência visa mudar a forma como se produz tomate. Para esse efeito estão a estudar variedades, fertilizações, operações e sustentabilidade.
Sara Pelicano
Agrotejo (AG): Explique-nos o que é o Centro de Excelência Agrícola do Sugal Group (AG-INNOV)? Patrícia Cotrim (PC): O AG-INNOV é o Centro de Excelência do Sugal Group que foi criado no final de 2019 e através do qual pretendemos operar uma mudança de paradigma na forma de produzir o tomate. Em concreto, através do aumento do conhecimento científico e da introdução de tecnologia de precisão e modelos científicos na tomada de decisão, temos como objetivo melhorar a gestão da rega, a fertilização e a proteção fitossanitária, assim como aumentar a eficiência das operações, com consequente redução de custos, aumento de produtividade da cultura e preservação dos solos. Para este efeito temos investido fortemente na criação de uma equipa forte, que é atualmente composta por seis engenheiros agrónomos e um data scientist.
AG: Quais os principais projetos que têm curso? PC: Na campanha de 2020, instalámos campos demonstrativos em Portugal, abordando quatro grandes temas: variedades, operações, fertilização e sustentabilidade. Iniciámos também um trabalho com modelos de inteligência artificial que nos permitirá, num futuro próximo, encontrar as correlações mais fortes em termos de solo, clima, fertilização, datas de plantação e variedades (produção e qualidade). Em 2021 alargámos a abrangência dos nossos campos de demonstração, em temas e geografias, tendo desenvolvidos campos em Portugal e em Espanha em torno de seis grandes temas: variedades, operações, fertilização, tecnologia, conservação do solo, e pragas e doenças. Além disso, continuamos o trabalho com modelos de inteligência artificial e estamos, neste momento a plantar os primeiros campos de demonstração no Chile.
AG: Qual a relevância de empreender estes estudos para a cultura do tomate de indústria? PC: Os campos de demonstração que fazemos, nomeadamente os de variedades, são implementados, na sua larga maioria, à escala comercial, e com repetições em tipos de solo, datas de plantação e condições distintas. Com esta variabilidade e riqueza de dados, associadas ao trabalho de inteligência artificial que estamos a desenvolver, acreditamos ter no médio prazo, as correlações com mais impacto no comportamento de determinada variedade, o que certamente pode ser uma importante ferramenta no apoio à tomada de decisão do agricultor. Temos também projetos em parceria com universidades, empresas e associações do setor, nas áreas de utilização eficiente dos recursos, na bioproteção e na conservação do solo.
AG: A aplicação de nutrientes e fitofármacos é muitas vezes feita através de pulverizadores e da água. Também aqui a empresa tem investido e tem feito otimização destes equipamentos. De que forma? Que vantagens aporta esta otimização? PC: Nesta área das operações temos feito campos de demonstração de diversos temas, um deles, sobre a eficácia da pulverização, avaliando, quer diferentes volumes de calda utilizados, quer diferentes tipos de bicos com o objetivo da diminuição da deriva. Estamos ainda na fase de análise de resultados, mas o que se pretende é sermos cada vez mais eficientes na utilização de produtos fitossanitários. AG: De que forma todas estas iniciativas se refletem no produto final? PC: Estas iniciativas permitem obter um produto cada vez mais sustentável e que preserve a sua frescura e características naturais. Ou seja, ao tornar a cultura mais eficiente na utilização de recursos, melhoraremos a qualidade do tomate e, com isso, a qualidade do


pub. Patrícia Cotrim
DIRETORA DO AG-INNOV
concentrado que utilizamos nos nossos produtos e que disponibilizamos aos nossos clientes.
AG: O conhecimento que adquirirem nestes trabalhos serão depois partilhados para os pares? De que forma? PC: O trabalho realizado pelo AG-INNOV está a começar e o conhecimento sólido, em particular no setor agrícola, não se obtém no imediato. Em todo o caso, acreditamos que o melhor conhecimento é aquele que se pode demonstrar, verificar. Por isso, a seu tempo, iremos divulgar os resultados e o conhecimento gerado pelo nosso trabalho e, além dos métodos mais tradicionais de divulgação, gostávamos acima de tudo de o poder partilhar através da verificação prática (no campo) desses resultados por parte dos nossos parceiros.


CAP pede mais ação no combate às alterações climáticas
A CAP mostra-se preocupada com as alterações climáticas e alerta para a importância da utilização de água. Apresentou uma proposta de arquitetura verde para a PAC e estabeleceu um protocolo com a EDP Comercial.
Sara Pelicano
AConfederação dos Agricultores de Portugal (CAP) está preocupada com as alterações climáticas. Tendo consciência de que são uma realidade, Eduardo Oliveira e Sousa salienta que “a sociedade vai ter de encontrar soluções para poder continuar a fazer agricultura”. O presidente da CAP afirma que “o Governo tem de perceber que as alterações climáticas têm duas grandes consequências, por um lado a necessidade de água disponível e, por outro lado, mais conhecimento para aplicar no desenvolvimento da agricultura”. O mesmo responsável recorda ainda que “se não houver um foco no armazenamento de água para facilitar a rega na agricultura, esta vai diminuir” e, sem agricultura, a desertificação e despovoamento aumentarão. Eduardo Oliveira e Sousa reforça ainda que “este foco na água não está, na nossa perspetiva, devidamente entendido pelas entidades que têm responsabilidade nesta matéria”. O conhecimento é importante para tornar a agricultura mais produtiva e eficiente e, neste campo, “a Academia tem de dar as mãos ao setor para o ajudar a encontrar novas práticas, tecnologias, sementes e variedades”. O mesmo responsável defende ainda que o futuro não está apenas na agricultura biológica. Esta “tem o seu lugar, o seu cliente”, contudo “é utópico pensar que é através da agricultura biológica que se alimenta o mundo ou que se salvaguardam os recursos”. ARQUITETURA VERDE A CAP considera a arquitetura verde “uma oportunidade para o setor agrícola e para o ambiente”, por isso, auscultou as suas associações filiadas e desta reflexão resultou no envio ao primeiro-ministro, António Costa, de uma “Proposta da CAP para a Arquitetura Verde”. A arquitetura verde tem os eco-regimes, que são uma novidade no âmbito da PAC, e as medidas agroambientais. Tem ainda a condicionalidade reforçada, os pagamentos natura e os investimentos não produtivos. Esta proposta tem em consideração a diversidade do país e as necessidades mediante as diferentes culturas que se fazem em Portugal e as dimensões das explorações. “Tendo em
conta que há medidas agroambientais, que estão atualmente no 2.º pilar da PAC, e que vão transitar para o 1.º pilar no âmbito dos eco-regimes, a CAP delineou nesta proposta aquilo que considera ser as medidas mais adequadas a permanecer no 2.º pilar, com compromissos plurianuais e quais devem então transitar para os eco-regimes”, explica Eduardo Oliveira e Sousa. A proposta da PAC foi apresentada em setembro e, até à data de publicação deste artigo, a CAP lamenta não ter obtido qualquer resposta da parte do Governo. Para saber mais sobre esta medida leia o Qr Code desta página.
PROTOCOLO COM EDP COMERCIAL Na senda de procurar soluções favoráveis para os agricultores, a CAP assinou recentemente um protocolo com a EDP Comercial, que “permitirá aos agricultores constituírem-se como unidades produtoras de energia elétrica a partir de parques solares”. O protocolo prevê “três cenários”, nomeadamente: - o agricultor, que tem capacidade financeira, faz ele mesmo o investimento nos painéis e recebe desde a primeira hora um desconto que lhe permite reduzir a fatura de eletricidade entre 30 a 40%; - a EDP financia um agricultor para que este execute o investimento; - a EDP executa e financia o investimento e, durante um determinado período tempo, a exploração será feita pela EDP. “O objetivo é sempre permitir ao agricultor reduzir a sua fatura de eletricidade, com tendência a aumentar sempre essa poupança”, conclui o presidente da CAP.

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Agroglobal discutiu a inovação e mecanização
“A Inovação e a mecanização rumo ao futuro” foi um dos temas de debate da Agroglobal 2021.
Sara Pelicano
Atecnologia desempenha um papel essencial no desafio que o mundo tem de enfrentar: alimentar uma população crescente. Ao mesmo tempo que produz mais, o agricultor tem ainda de preservar o meio ambiente. Ignacio Ruiz, secretário-geral da Associação Nacional de Maquinaria Agropecuária e Espaços Verdes (ANSEMAT), em Espanha, salientou que no sul da Europa, o agricultor investe grande parte do seu rendimento em plantações, mais do que em mecanização, muito devido ao facto de ser nestes países que se produz “a grande maioria dos produtos frescos consumidos na Europa”. Mas é preciso alterar este paradigma e investir mais na mecanização. O mesmo responsável comentou ainda que é prioritário “aumentar o rendimento” dos agricultores, mas esta capitalização não deve ser baseada “em subsídios”. Ignacio Ruiz disse ser necessário “estabelecer uma legislação europeia diferenciada para as questões da maquinaria agrícola” e ainda destacou a importância da “formação de agricultores em novas tecnologias e conectividade entre os meios de produção agrícolas”. Os equipamentos que a agricultura tem hoje ao dispor são fonte de um manancial de dados que é preciso estarem acessíveis de forma simples e de fácil entendimento. “A existência de dados e potenciais combinações entre eles oferecem oportunidades para data science”, comentou Ernesto Morgado, administrador da SISCOG. E estes dados advêm de “múltiplas fontes de informação, tais com satélites, drones, sensores de terreno, visão com câmaras”. O mesmo responsável salientou que “a combinação de algoritmos traz informação relevante ao agricultor”. Manuel Botelho, do Monte da Ravasqueira, também marcou presença no painel e partilhou a sua experiência enquanto produtor, que opta pela poda mecanizada das vinhas de inverno. “Adotámos a solução da poda da vinha em sebe que é feita por uma máquina que tem dois discos de corte atrás e outros dois à frente”, explicou. As empresas têm também elas um importante papel no desenvolvimento da tecnologia. A Galucho é disso exemplo, apostando fortemente na componente de inovação e desenvolvimento. Nuno Lobo, diretor de Operações da Galucho, considera relevante “além da mecanização ter uma parceria cada vez maior entre áreas de desenvolvimento onde seja trazida também a questão da digitalização da informação e de processos que nos permita otimizar as produções de uma forma consecutiva, mas acima de tudo de uma forma que seja financeiramente sustentável para o agricultor”. A falta de mão de obra é um dos fatores aceleradores do desenvolvimento de tecnologia na agricultura. Nuno Lobo concluiu que “a inovação é importante” bem como “ter um setor com capacidade de a aplicar no terreno”.

Aquecimento global: estudo analisa impacto do escoamento de águas agrícolas
Um estudo da Universidade de Massachusetts Amherst, Estados Unidos da América, analisou de que forma os fertilizantes que ficam no solo e escoam para as águas resultam em óxido nitroso (N20), um gás de efeito de estufa. O investigador da universidade, Matthew Winnick, descobriu que o que determina a transformação em N2O é a “eficiência da desnitrificação”, ou seja, a fração de nitrato, que chega ao leito aquático, que é submetido a várias reações no processo de desnitrificação. De acordo com o Agroportal, “Quanto maior for a eficiência do leite aquático na conversão de nitrato, menos N2O é libertado. Mas onde a eficiência da desnitrificação é baixa, o autor do estudo encontrou níveis comparativamente mais elevados de emissões de N2O. Além disso, o leito do riacho ao qual o nitrato acaba por ser encaminhado também desempenha um papel importante. Os leitos aquáticos que possuem pequenas zonas anóxicas, isto é, sem oxigénio dissolvido, também ajudam a prevenir a libertação de N2O”.

AGIR cria sistema para medir eficiência do uso da água e da energia
O Grupo Operacional AGIR desenvolveu um sistema de avaliação que contribui para otimizar o uso da água e da energia no regadio, reduzindo perdas e melhorando a eficiência. Mais de 50 entidades gestoras de água e 200.000 hectares de regadio público podem vir a beneficiar desta ferramenta pioneira. A avaliação é realizada através de uma aplicação computacional desenvolvida pelo consórcio de I&D do AGIR. O projeto AGIR teve início em 2017, com duração de quatro anos e foi liderado pela FENAREG – Federação Nacional de Regantes e financiado pelo PDR2020.
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SUSTENTABILIDADE DOS SISTEMAS PRODUTIVOS DA GOLEGÃ O contributo dos Grupos Operacionais MaisSolo e HortInf
COTHN
Os sistemas de culturas horto-industriais que predominam no Ribatejo assentam em culturas com elevada intervenção fitotécnica, com vários ciclos culturais por ano. As atuais tecnologias de produção implicam a utilização de elevados inputs de energia e fatores de produção, em grande parte na mobilização do solo, aplicação de produtos fitofarmacêuticos e de fertilizantes. Esta intensificação cultural conduz a problemas fitossanitários de difícil resolução em particular, organismos presentes no solo como insetos, fungos e nemátodes e flora infestante e parasita. Além das poucas alternativas químicas, alguns destes organismos e infestantes apresentam elevados níveis de resistência às substâncias ativas usadas, o que aumenta os prejuízos devido ao impacto negativo na produtividade e qualidade dos produtos obtidos e na rentabilidade económica destas atividades. Neste contexto, surgiram no âmbito do PDR2020, os Grupos Operacionais MaisSolo e HortInf com os seguintes objetivos: MaisSolo: melhoria da proteção das culturas e a diminuição da dependência e uso exclusivo de pesticidas, face aos problemas fitossanitários que resultam do ataque de organismos presentes no solo, desenvolveu e aplicou tecnologias alternativas, nomeadamente a introdução de culturas de cobertura, plantas developer e biofumigação, integrando-as no itinerário técnico dos sistemas agrícolas no Ribatejo visando uma melhoria da eficiência dos recursos na produção agrícola contribuindo para a manutenção da biodiversidade e conservação do solo e da água. HortInf: combate a plantas infestantes e parasitas, sem o uso exclusivo de herbicidas, desenvolveu e testou estratégias direcionadas para cada grupo de infestantes em particular, que permitem diminuir a incidência e importância económica dos seus efeitos em culturas horto-industriais e contribuir para aumento da eficiência dos recursos na produção agrícola e competitividade das empresas. Assim, desenvolveram-se estratégias que diversificam, o mais possível, os métodos de combate, integrando estratégias sustentáveis de controlo de infestantes como a falsa sementeira, métodos físicos/mecânicos de mobilização do solo, culturas intercalares/cobertura e aplicação localizada de herbicida (agricultura de precisão). Os projetos iniciaram-se em 2017 e 2018 e após quatros anos de implementação das tecnologias acima referidas, podem-se destacar os seguintes resultados: MAIS SOLO
A avaliação de indicadores microbiológicos mostrou que as tecnologias alternativas baseadas na introdução de culturas de coberturas conduziram a aumentos da atividade microbiológica do solo (atividade enzimática) e das populações de microrganismos benéficos (bactérias fixadoras de azoto simbióticas – rizóbios, bactérias solubilizadoras de fosfato, microrganismos fitoestimulantes, endomicorrizas). Estes indicadores correlacionam positivamente com maior resistência a doenças e melhor tolerância ao stresse, resultando em ecossistemas mais resilientes. Relativamente aos nemátodes bioindicadores, nos primeiros anos do projeto, observou-se um aumento de nemátodes benéficos em algumas modalidades como consociação de leguminosas e gramíneas e biofumigação em S. João de Brito. Decorrente deste incremento na composição em nemátodes de vida livre, deverá acontecer um aumento da decomposição da matéria orgânica e da mineralização de nutrientes No que se refere aos artrópodes do solo os resultados não são tão evidentes quando avaliadas as tecnologias implementadas, mas demonstram grande diferença na diversidade e abundância de organismos capturados nas amostragens realizadas em dois campos com sistemas culturais diferentes. A diversidade de artrópodes foi superior nos sistemas que incluem sucessão cultural (S. João de Brito) relativamente aos sistemas com monocultura de tomate (Manique) (Fig. 1).

FIGURA 1 NÚMERO DE MORFOTIPOS EM DIFERENTES SISTEMAS CULTURAIS DURANTE TRÊS ANOS DE PROJETO.

HORTINF
Neste projeto, antes de se desenvolverem as estratégias para o controlo das infestantes foi necessário efetuar o levantamento florístico de campos de batateira na região da Golegã onde foram identificadas 118 espécies de plantas espontânea diferentes pertencentes a 19 famílias botânicas. Predominam as espécies anuais (88 %) sobre as vivazes (12 %). Destacam-se seis espécies por ordem decrescente de importância, no conjunto dos campos: figueira-do-inferno (Datura stramonium L; Solanaceae); bredos (Amaranthus retroflexus L.; Amaranthaceae); calistegia (Calystegia sepium L.; Convolvulaceae); serralha (Sonchus tenerrimus L.; Asteraceae); junças (Cyperus rotundus L. e C. esculentus L.; Cyperaceae). A diversidade (riqueza específica), a abundância e frequência das espécies de plantas espontâneas reflete a intensidade das práticas culturais de cada campo de cultura. A riqueza específica variou entre 12 a 25 espécies diferentes por campo de cultura. A abundância total no campo menos infestado foi de 6,54 plantas por m2 e atingiu 128 plantas por m2 no campo mais infestado (Fig. 3). Quanto às estratégias desenvolvidas atendendo às infestantes predominantes destacam-se as técnicas de controlo de infestantes alternativas aos herbicidas, designadamente a mobilização do solo (FS) e uma consociação leguminosas x gramíneas (CC) como cultura de cobertura Em campos com a presença de junça a mobilização e a cultura de cobertura favoreceram estas espécies, com maior incremento da junça (Cyperus rotundus) do que da juncinha (C. esculentus). A escolha de espécies a introduzir na cultura de cobertura deve ser adequada a flora infestante presente, pois pode condicionar o resultado sobre as infestantes. Para estas plantas vivazes, a competição exercida pela cultura de cobertura por espaço, luz, água e nutrientes pode não ser suficiente para as dominar. Outros efeitos para além da competição, devem ser ponderados, podendo ser necessário selecionar espécies com efeito alelopático.
Para mais informação relativa a cada um destes grupos operacionais poderá consultar: https://maissolo.webnode.pt/ https://hortinf.webnode.pt/ GO MaisSolo: parceria com a coordenação do Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional que integra: Agromais, C.R.L., Sociedade Agrícola S. João de Brito, S.A; Torriba, S.A e Sociedade Agricola Herdade das Malhadinhas, Lda; Instituto Politécnico de Santarém – Escola Superior Agrária; Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.; Fertiprado e Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas. GO HortInf: parceria com a coordenação do Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional que integra Agromais, C.R.L.; Sociedade Agrícola S. João de Brito, S.A.; Torriba, S.A.; João Carlos Moisés, António Graço, Lda; Instituto Politécnico de Santarém – Escola Superior Agrária; Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.; Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas e o Centro de Competências para o Tomate Indústria.

FIGURA 3 DIVERSIDADE DE ESPÉCIES EXPRESSA EM NÚMERO DE PLANTAS POR M2 (24-06-2020).
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Tiago Silva Pinto ANPROMIS
A AGENDA DE INOVAÇÃO DO MILHO Que desafios para os próximos anos?
A indústria agroalimentar europeia, na qual se inclui a portuguesa, enfrenta atualmente um conjunto de desafios que poderão condicionar a sua evolução e competitividade ao longo das próximas décadas. A globalização dos mercados, a alteração dos padrões e necessidades dos consumidores exigem assim novas e inovadoras soluções. Fenómenos como o crescimento da população mundial, as alterações climáticas, o surgimento de doenças emergentes, a escassez de água, aliados à urbanização, à instabilidade política ou à desigualdade de rendimentos, afectam naturalmente a disponibilidade, o acesso e a segurança de produtos com o consequente impacto na indústria agroalimentar. Ciente desta realidade e dos crescentes desafios técnicos e tecnológicos que se colocam aos produtores nacionais de milho a ANPROMIS, através do Centro Nacional de Competências das Culturas do Milho e Sorgo “InovMilho”, trabalhou ao

O Centro Nacional de Competências das Culturas do Milho e Sorgo “INOVMILHO” foi constituído no dia 28 de Setembro de 2016, numa iniciativa que partiu da ANPROMIS (Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo), em colaboração com o INIAV (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária) e a Câmara Municipal de Coruche. O INOVMILHO está sediado na Estação Experimental António Teixeira (INIAV), em Coruche, e tem por objectivo constituir-se como um espaço de discussão, partilha e articulação de conhecimentos entre todos os agentes da fileira do milho e do sorgo, envolvendo no seu seio 34 Entidades Parceiras. longo dos anos de 2018 e 2019 na elaboração da sua Agenda de Inovação, a qual foi publicada em maio de 2020. Este documento envolveu as trinta e quatro Entidades que compõem este Centro de Competência e permitiu identificar alguns eixos que se nos afiguram determinantes para a competitividade desta cultura nas próximas décadas e que passam pela “Produção de alimentos”; pelos “Recursos genéticos vegetais e biotecnologia”; pelos “Recursos naturais - solo, água, ar e biodiversidade”; pela “Fitotecnia e protecção das culturas” e pela “Adaptação às alterações climáticas dos sistemas agrícolas”. A abrangência deste documento é, assim, bastante vasta e passa pela definição de cerca de 60 ações que carecem agora de financiamento no âmbito do atual e do futuro Programa de Desenvolvimento Rural (PDR), sob pena de não alcançarmos os objectivos que norteiam todo este documento e que consistem em contribuir para uma maior competitividade técnica e económica dos produtores nacionais de milho e sorgo.




João Andrade Santos *
AÇÃO CLIMÁTICA desafios para a próxima década
As alterações climáticas são um tema muito recorrente nos dias de hoje, o que em muito se deve à sucessão de eventos meteorológicos extremos, tais como ondas de calor e secas meteorológicas prolongadas e intensas, que atingem a cada década recordes sucessivos. São acontecimentos muito marcantes pelas tragédias humanas e ambientais envolvidas, reforçadas por uma vasta cobertura mediática. Não obstante, as mudanças são já também muito evidentes nas condições climáticas de uma dada região. Cultivar determinadas plantas em determinados locais era impensável há apenas algumas décadas. Em Portugal, temperaturas globalmente mais elevadas e menores valores de precipitação são uma tendência clara desde os anos 70 do século passado. Acresce ainda que estas alterações atuam, com frequência, de forma sinergética, como é o caso da ocorrência simultânea de uma onda de calor durante um período de seca extrema. Existe um mecanismo de retroação positiva ou reforço mútuo, com efeitos multiplicadores nos impactos. A título de exemplo, esta combinação de eventos extremos em Portugal tem potenciado a ocorrência de fogos rurais catastróficos, como os de 2017. A escassez crescente de água em algumas bacias hidrográficas portuguesas, como é recorrentemente o caso das bacias do Tejo e do Sado, é também um exemplo muito pragmático. As alterações climáticas não são uma perspetiva de futuro, são já lamentavelmente uma realidade com que a nossa geração tem de aprender a conviver. O clima é, com efeito, uma entidade muito dinâmica, que tem evoluído continuamente ao longo de toda a história do planeta Terra. Épocas de gelo têm-se intercalado com períodos quentes. Durante as épocas de gelo têm-se sucedido períodos glaciares e interglaciares, com flutuações importantes da temperatura média global, conforme nos indicam vários registos proxy da paleoclimatologia. Desde há cerca de 12.000 anos que vivemos num período interglaciar, já relativamente longo, denominado por Holoceno. Estas flutuações no clima da Terra são atribuíveis a alterações de natureza geológica, como é o caso da deriva dos continentes pela tectónica de placas, ou relacionadas com variações nos parâmetros orbitais da Terra (excentricidade, precessão e nutação) e alterações na luminosidade solar, por
modificações várias na dinâmica e atividade do Sol. Ora, estas mudanças no clima da Terra processam-se em escalas temporais de milhares de anos a milhares de milhões de anos. Porém, nenhum destes agentes naturais de forçamento da variabilidade climática justifica as tendências da temperatura média global observadas desde meados do século XIX, aquando do advento da Revolução Industrial. Na verdade, estas tendências têm-se acentuado particularmente nas últimas décadas, com a emergência de novas economias de grande escala. Múltiplas simulações computacionais do clima, realizadas por diversas instituições altamente reputadas e em diferentes países, têm demostrado, inequivocamente, que a variabilidade climática associada às causas naturais acima referidas não é a causa do recente aquecimento global. Todos temos presente a reposta a esta questão, que já se disseminou pela sociedade atual mais informada. O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), organismo criado pelas Nações Unidas e que reúne largas centenas de especialistas mundiais na temática, refere explicitamente no seu último relatório de 2021 que as alterações climáticas que temos vindo a observar desde o período pré-industrial têm causa antropogénica. É hoje evidente que as atividades humanas a nível mundial são responsáveis, diretas ou indiretas, pelas alterações climáticas recentes. As elevadas emissões para a atmosfera de gases com efeito de estufa, principalmente dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e gases fluorados, têm alterado gradualmente a composição química da atmosfera. O observatório de Mauna Loa (Havai, EUA), a meio do Pacífico Norte, bem afastado dos grandes centros emissores, regista um aumento da concentração de dióxido de carbono de cerca de 320 ppmv, em 1960, para valores atuais muito próximos de 420 ppmv (cerca de 30% de aumento em apenas 60 anos). Esta tendência exponencial acentuada, assim como as concentrações que estamos a atingir na atualidade, não têm precedentes, pelo menos nos últimos 800.000 anos da história do planeta. Deste modo, a atmosfera tem-se tornado menos transparente à radiação solar e, principalmente, à radiação infravermelha emitida pela superfície do globo, intensificando o efeito de estufa natural do planeta e levando a um aumento da energia potencial disponível pelo sistema climático. A energia cinética adicional é transferida através de uma cascata de escalas, que alimenta sistemas meteorológicos como os anticiclones, ciclones, furacões, sistemas frontais e de convecção profunda, tornados, entre muitos outros, conduzindo a uma atmosfera globalmente mais violenta e extremada, que é precisamente o que temos vindo a testemunhar. As projeções climáticas mais recentes para as próximas décadas apontam para subidas da temperatura média global até 2050, tendo por referência o período pré-industrial, já claramente acima dos limiares de 1,5 a 2,0°C estabelecidos em 2015 no Acordo de Paris (COP21). Na verdade, o aquecimento global já é hoje de cerca de 1,2°C, porém com valores que facilmente duplicam, ou mesmo triplicam, em regiões mais continentais ou sobre o Ártico. Estamos a andar depressa demais… Nenhum sistema natural ou atividade humana consegue acompanhar este ritmo por muito tempo. As disrupções estão eminentes. É tempo de agir antes que seja tarde demais! Voltando ao cerne da questão. Ainda que se tenha dado maior ênfase ao dióxido de carbono, por ser aquele que tem tido, muito destacadamente, maiores emissões e concentrações atmosféricas, agravadas por tempos de residência na atmosfera de várias centenas de anos, os restantes gases têm potenciais de aquecimento global muito superiores, principalmente os gases fluorados (primordialmente os HFCs, que substituíram na indústria os CFCs com vista à proteção da camada de ozono após o Protocolo de Montreal, mas regulamentados em 2016 com a Emenda de Kigali). A agricultura, a pecuária e os respetivos usos do solo têm uma contribuição muito expressiva para as emissões de metano (~40%) e de óxido nitroso (~60%). Por outro lado, a floresta tem tido um papel muito relevante como sumidouro de dióxido de carbono, ainda que os fogos rurais, infelizmente uma séria realidade com que nos temos vindo a habituar em Portugal, tenham uma contribuição muito negativa e decisiva para este balanço entre fontes e sumidouros. O setor agroflorestal contribui com 15 a 20% das emissões de gases com efeito de estufa e, por conseguinte, desempenha um papel central na rota da neutralidade carbónica, reforçada pela recente aprovação da Lei Europeia do Clima que visa verter

em lei o objetivo estabelecido no Pacto Ecológico Europeu de neutralidade carbónica até 2050. Nesta equação, é ainda importante reter que o setor agroflorestal está entre os que pagarão um preço mais elevado pela inação. Isto porque as plantas são, em geral, muito sensíveis às condições climáticas, tendo muitas vezes nichos ou ótimos climáticos muito estreitos, o que as torna particularmente vulneráveis a mudanças do clima e a extremos meteorológicos (secas, ondas de calor, granizo, geadas tardias, ventos intensos, etc.). De acordo com a FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, estima-se que a nível mundial as secas tenham causado entre 2008 e 2018 prejuízos na ordem de 37.000 milhões de dólares americanos (USD), as cheias 21.000 milhões USD, as tempestades 19.000 milhões USD e os fogos rurais 1.000 milhões USD. Acresce que Portugal será dos estados europeus mais expostos às alterações climáticas nas próximas décadas, com o acentuar das tendências já em curso de aquecimento e de secura crescente, enfrentando elevados riscos de desertificação em algumas regiões mais meridionais e/ou interiores. É, assim, indispensável a implementação de medidas de adaptação adequadas, atempadas e custo-eficientes, de curto, médio e longo prazo, de forma a reduzir os riscos para o setor agroflorestal. No entanto, essas medidas deverão ser sempre planeadas de forma cuidada e tendo em conta as especificidades de cada local e sistema agrícola. Um pacote de medidas eficaz num caso pode não resultar noutro, até mesmo para a mesma cultura agrícola, dado que o sinal das alterações climáticas projetadas também é espacialmente muito heterogéneo. A ação climática no setor agroflorestal terá necessariamente de passar por algumas transformações de relevo, a serem implementadas no mais curto prazo possível. No domínio da mitigação das emissões, destacam-se alterações significativas na produção animal, nomeadamente através de melhorias na digestibilidade (importante fonte de metano), recurso a pastagens mais adequadas, melhoradas e biodiversas, uma melhor gestão dos resíduos, estrumes e efluentes, com incremento da compostagem e fertilização orgânica, o reforço da economia circular e a valorização dos coprodutos, o incremento da

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eficiência energética das cadeias de produção, com recurso preferencial a energias renováveis endógenas, maior eficiência na gestão dos solos, promoção da saúde dos solos como agentes importantes de sequestro de carbono, prevenção dos fogos rurais e um melhor planeamento e gestão da floresta. Na vertente da adaptação, muito interligada com a mitigação por via de sinergias que podem ser criadas entre as diferentes opções, destaca-se a melhor gestão dos recursos hídricos, cada vez mais escassos, a seleção de culturas, variedades e clones mais aptos a climas futuros mais quentes e secos, uma seleção microclimática mais criteriosa e de base científica (zonagem bioclimática), bem como a adaptação de práticas culturais de curto, médio e longo prazo. O recurso a novas práticas de agricultura de precisão será um grande aliado nestes processos. Todas estas estratégias podem ter um potencial de adaptação muito interessante, mas variável, já que a sua eficácia está muito dependente da magnitude das alterações climáticas, estando esta, por sua vez, dependente da eficácia das estratégias de mitigação a nível global. A fechar o ciclo, a eficácia das medidas de mitigação depende grandemente da capacidade de adaptação. Daí a forte interligação entre adaptação e mitigação, bem como entre a escala local e global. Não obstante, para definir medidas é necessário conhecer os impactos potenciais das alterações climáticas e os riscos associados. Esta avaliação depende sobremaneira de exercícios de modelação, simulação e cenarização, cujo rigor científico é função da qualidade da informação disponível. Por esse motivo, é fundamental a constituição de redes de monitorização, com partilha de dados, que permitam a constituição de bases de dados suficientes para uma adequada calibração e validação dos modelos. As saídas destes modelos permitem a avaliação dos impactos potenciais das alterações climáticas em cada subsector, a quantificação do potencial de adaptação ou mitigação de uma dada estratégia, bem como a consequente avaliação dos correspondentes custos socioeconómicos envolvidos em cada opção, informação indispensável de apoio à decisão para produtores e decisores políticos. A investigação climática é também crucial para a melhoria constante das projeções climáticas em Portugal, reduzindo incertezas inerentes à modelação

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climática e às trajetórias futuras de desenvolvimento socioeconómico global, bem como permitindo o aumento da resolução espacial da informação existente para escalas compatíveis com uma avaliação mais rigorosa dos impactos no sector agroflorestal. Toda esta cadeia (modelos de clima, modelos de espécies vegetais/animais e modelos socioeconómicos) requer acesso a um volume elevado de informação de qualidade. No caso do setor agroflorestal existe uma falta crónica de dados de campo sistematizados e harmonizados, sendo, portanto, uma das principais limitações a melhorar no futuro próximo. Em síntese, o setor agroflorestal português tem um papel central a desempenhar na resposta à atual crise climática que enfrentamos, quer por via da adaptação quer da mitigação dos impactos das alterações climáticas, reduzindo a vulnerabilidade e aumentando a resiliência climática do país, promovendo assim a sua sustentabilidade futura. Contudo, para que tal seja possível, é fundamental o envolvimento coordenado dos vários agentes do setor, desde os produtores e associações até aos decisores, e da academia. Com esse intuito, foi apresentado no dia 27 de julho de 2021, na Universidade Nova de Lisboa, o projeto Ação Climática – Avaliação, Mitigação e Adaptação às Alterações Climáticas no Setor Agroflorestal, inicialmente promovido por quatro entidades (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, Centro Nacional de Competências para as Alterações Climáticas do Setor Agroflorestal, Instituto Nacional de Investigação Agrária e
FOTOGRAFIA DA SESSÃO DE APRESENTAÇÃO DO PROJETO AÇÃO CLIMÁTICA – AVALIAÇÃO, MITIGAÇÃO E ADAPTAÇÃO ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NO SETOR AGROFLORESTAL, QUE DECORREU A 27 DE JULHO DE 2021 NA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA.

Veterinária, e Instituto Português do Mar e da Atmosfera), mas que conta já com mais de 50 parceiros que assinaram um protocolo de colaboração, na presença do Sr. Ministro do Ambiente e da Ação Climática, Prof. Dr. João Pedro Matos Fernandes, e da Sra. Secretária de Estado da Valorização do Interior, Prof. Dr. Isabel Ferreira, entre outras personalidades nacionais de grande relevo na temática. A resposta à atual crise climática exige uma união de esforços sem paralelo a nível nacional, deixando de lado divisões, centralismos e individualismos, e trabalhando em conjunto para deixarmos como herança às próximas gerações um futuro mais sustentável!
* CENTRO DE INVESTIGAÇÃO E TECNOLOGIAS AGROAMBIENTAIS E BIO-
LÓGICAS, CITAB, UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO,
UTAD, VILA REAL, PORTUGAL E INOV4AGRO – INSTITUTO PARA A INO-
VAÇÃO, CAPACITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO AGROALI-
MENTAR, LABORATÓRIO ASSOCIADO, PORTUGAL.
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PROJETO H2020 I2CONNECT Conheça a nova base de dados de Entidades e de Técnicos de consultoria e aconselhamento agrícola

O projeto i2connect, enquadrado no programa Horizonte 2020, tem como objetivo potenciar as competências dos consultores e técnicos de aconselhamento agrícola e das suas organizações, no sentido de apoiar agricultores e silvicultores nos processos de inovação interativa. A inovação é um fator-chave na adaptação contínua aos desafios da agricultura no século XXI. O projeto i2connect, no qual a CONSULAI é parceira, criou uma rede de interação, e de contactos, entre os consultores e técnicos de aconselhamento agrícola Europeus, promovendo uma Europa mais competitiva e sustentável. Deste modo surge a Base de Dados de Entidades/Técnicos de consultoria e aconselhamento agrícola, como um diretório a nível da UE de organizações/ técnicos de consultoria e aconselhamento agrícola que providenciam os seus serviços a atores na área agrícola e florestal, e outras relacionadas com a cadeia de valor agroalimentar. Com o registo, é possível: • Tornar-se a si próprio ou à sua organização visível dentro de uma rede de consultores de inovação a nível da UE; • O perfil da sua organização ou o seu perfil profissional será amplamente partilhado pela comunidade de aconselhamento agrícola europeia; • Poderá ter uma visão geral sobre o panorama do aconselhamento agrícola no seu país; • Poderá estar conectado e desenvolver sinergias com outros técnicos de aconselhamento e organizações; • A sua experiência pode melhorar a resolução de problemas – tendo em conta a interação com outros técnicos; • Interagir com o projeto, nas diferentes atividades planeadas; • Utilizar o selo do Projeto para se identificar como parte da Base de Dados de Serviços de Aconselhamento Agrícola a nível europeu; • Poderá desenvolver a sua capacidade profissional, manter-se informado sobre as mais recentes formações de técnicos de aconselhamento, partilhar
“boas práticas”, fazer visitas de campo e outras oportunidades semelhantes, que terão lugar por toda a Europa. • Se está à procura de um consultor, técnico de aconselhamento ou organização de consultoria, o diretório oferece-lhe várias possibilidades de pesquisa rápida e fácil, para filtrar os seus resultados. Para se registar nesta base de dados aceda ao link: https://db.i2connect-h2020.eu/register Saiba mais no site: https://i2connect-h2020.eu/pt/resources/advisory-services-database/

Boas práticas agrícolas para a biodiversidade no contexto das alterações climáticas
Rita Alcazar
LPN Julieta Costa
SPEA Cláudia Gonçalves
CAP
Este projeto visou promover a adoção de boas práticas agrícolas que incrementam a biodiversidade nas explorações agrícolas adaptadas às diferentes realidades agrícolas nacionais, como sendo um contributo importante para a adaptação e mitigação aos efeitos das alterações climáticas. Coordenado pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), teve como parceiros a Liga para a Proteção da Natureza (LPN), a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), a Associação para o Desenvolvimento da Viticultura Duriense (ADVID) e o Gabinete de Planeamento e Políticas do Ministério da Agricultura (GPP) e foi financiado pela Rede Rural Nacional. Na fase inicial do projeto, procedeu-se à recolha e tratamento dos dados relativos às medidas de promoção da biodiversidade, que foram implementadas entre 2010 e 2014 no âmbito de três projetos piloto que implementaram medidas de incremento da biodiversidade em explorações agrícolas. Para avaliar o impacte das medidas promotoras da biodiversidade foram avaliados vários grupos da fauna: i) nos vertebrados os anfíbios, répteis e aves e ii) nos invertebrados as borboletas diurnas. Em relação às aves foi muito evidente a influência das condições climáticas na sua variabilidade inter-anual. As explorações inventariadas em 2019, um ano seco e com episódios de temperaturas extremas, mostraram uma diminuição no número de espécies em relação ao período anterior enquanto os anos de 2020 e 2021, já revelaram um aumento na diversidade. Em relação às borboletas, estas frequentam essencialmente os habitats com flores silvestres, prados e orlas floridas. No entanto, verificou-se um decréscimo acentuado no número de espécies inventariadas em quase todas as explorações, o que, não havendo uma alteração importante nas práticas agrícolas das explorações, pode ser um reflexo da tendência global da diminuição de insetos. Destaque para a impor-




No cômputo geral das explorações verificou-se um ligeiro aumento no número de espécies de anfíbios e répteis, os quais se encontram muito associados a estruturas implementadas no projeto-piloto, respetivamente pequenas charcas e aglomerados de pedra ou lenha, bem como a muros de pedra solta. As caixas-ninho, obtiveram uma boa taxa de ocupação, exceto quando se encontravam danificadas, e os abrigos para morcegos também foram utilizados. tância da estrutura verde e heterogeneidade de habitats nas explorações agrícolas, como as sebes de várias espécies, os bosquetes ribeirinhos bem desenvolvidos, as orlas floridas e a proteção dos habitats aquáticos (ribeiras, valas, barragens de uso agrícola, charcos e charcas) como elementos agregadores da biodiversidade. A exploração de milho para grão obteve no global o maior valor acumulado de riqueza em espécies, tendo contribuído



para tal a variedade em estruturas promotoras da biodiversidade, desde ninhos-artificiais, sebes, prados e charcas. As pastagens extensivas no Alentejo e a vinha do Douro tiveram também valores de riqueza específica elevados. No âmbito deste projeto, procedeu-se também à identificação dos serviços dos ecossistemas relacionados com as alterações climáticas apoiados pelo programa agroambiental do PDR 2020, hierarquizando a importância do contributo de cada medida para os diferentes serviços identificados. Paralelamente, identificaram-se um conjunto de Boas Práticas para incremento a biodiversidade nas explorações agrícolas. Para a avaliação da relação custo-benefício das Boas Práticas para a Biodiversidade foram realizadas três reuniões com Grupos Focais que integraram investigadores, agricultores e técnicos agrícolas. Para a divulgação das Boas Práticas para a Biodiversidade em explorações agrícolas e dos resultados do projeto foram realizados 5 Workshops (Castro Verde, Vila Real, Foz Coa, Évora e Coimbra). Foi produzido um folheto divulgativo das Boas Práticas, com uma versão disponível online onde consta informação detalhada, de forma a contribuir para a adoção dessas boas práticas adaptáveis à realidade das explorações agrícolas nacionais, contribuindo para melhorar o seu processo de adaptação às alterações climáticas. A ADVID coordenou a elaboração do “Guia de construção de muros de pedra seca”.
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As energias renováveis e o sector agro
Nuno Costa Alemão
Ultimamente, muito se tem falado acerca da energia em geral, e mais em especial no setor agro devido a sua especificidade. Todo este “alarido” é em grande parte consequência de uma grande subida dos preços da eletricidade no mercado grossista. Ao dia que escrevo este artigo, o preço de mercado para o dia de amanhã será de 288€/MWh (Fonte: OMIP), quando ainda em agosto o MWh transacionava abaixo de 50€/MWh – preço este, per si, já elevado, pois antes do início da pandemia (esta não conta devido ao efeito aberrativo que teve), negociava “na casa” dos 40€/MWh. Os leitores mais distraídos poderão perguntar “porquê?”, mas a resposta até é bastante simples, e na minha modesta opinião, está relacionada com as políticas energéticas europeias em geral, que poderão ter sido um pouco apressadas, em especial, o fecho das centrais a carvão. Não quero com isso dizer que estão erradas, ou que estão certas. As centrais térmicas a carvão são uma forma estável e barata de produzir eletricidade (LCOE* de ± 35€/MWh, antes de “penalizações” por CO2), no entanto, poluidoras e devido ás políticas climáticas seguidas na Europa, a tendência é para encerrar este tipo de centros electroprodutores, dando lugar a centrais de fontes renováveis (solar, eólico, hidro, etc.), a gás ou outro tipo de tecnologia mais “amiga do ambiente”. Em Portugal já se encerrou a central (a carvão) de Sines e, em novembro, prepara-se para encerrar a central (também a carvão) do Pêgo, no concelho de Abrantes. O encerramento deste tipo de centrais, aumentou a dependência das centrais a Gás, cujo preço tem vindo a aumentar praticamente todos os dias, passando de uns 5,86 US/MMBTu – BTu Britânico, para os atuais 22,84 US/MMBTu – máximo histórico, tal como seria de esperar, pois é a lei de mercado. A conjugar com a subida do mercado dos créditos de Ccrbono, cujo mercado foi criado para reduzir as emissões de gases de estufa (chamados Greenhouse Gas), temos uma “tempestade perfeita” nos mercados de eletricidade, cuja consequência é o aumento desenfreado que vivemos nos dias de hoje. Posto isto, e julgo que era pertinente dar esta pequena introdução ao mercado da energia em geral, passemos ao tema das energias renováveis e o setor agro, pois existem várias formas de utilizar estas fontes no dia-a-dia deste setor. A energia fotovoltaica aplicado ao setor agro, ou “agrovoltaica”, como muitos já a chamam, visa maximizar a sinergia entre a energia fotovoltaica e a agricultura sustentável através da instalação de módulos fotovoltaicos em terrenos de cultivo, ou próximo dos mesmos. Hoje em dia, a agrovoltaica já se posiciona como uma das referências para tornar ainda mais sustentável um setor que não quer ficar para trás no caminho para a descarbonização. A energia agrovoltaica consiste simplesmente em aproveitar uma mesma superfície de terreno, com cultivo, para a instalação de um sistema fotovoltaico (foto1). Significa que os módulos fotovoltaicos podem conviver com os cultivos na mesma superfície. Essa técnica já existe há vários anos, mas a mesma apenas começou a ser popular na década passada. Como seria de esperar, nem todos os cultivos podem utilizar esta técnica pois a sombra criada pelos módulos pode afetar a produtividade, pois recebem menos luz, embora isso possa beneficiar outras culturas. Por outro lado, há a aplicação convencional, que será um sistema fotovoltaico, nas proximidades de uma determinada exploração agrícola, ou mesmo no seu interior, com injeção direta na rede, em que o proprietário vende a “sua energia” à rede, recebendo uma receita extra bastante interessante (Foto2). Nos dias de hoje, os sistemas fotovoltaicos de pequena dimensão, conhecidos como UPPs (Unidade de Pequena Produção), que são sistema cuja potência instalada é inferior a 1MW, estão temporariamente desativados pela entidade reguladora, a DGEG - Direção-Geral de Energia e Geologia, fruto de uma grande avalanche de pedidos de licenciamento em julho de 2019. Esta avalanche representou cerca de 1,5GW de potência a ser injetada na rede elétrica. Ora o Sistema Elétrico Nacional (SEN) não estava preparado para a inclusão de toda esta potência, e como tal, novos sistemas inferiores a 1MW com injeção na rede não estão a ser aprovados pelas entidades. Como solução alternativa, temos o autoconsumo onde a unidade electroprodutora injeta a energia produzida diretamente no ponto de consumo (com algumas nuances técnicas), e esta alimenta imediatamente todo o consumo do momento. Esta solução, no entanto, tem aspetos menos positivos, pois toda a energia não consumida no imediato seguirá para a rede elétrica nacional para venda, geralmente com preços


FOTO 1
mais baixos. O decreto-Lei que regula esta opção de autoconsumo é o Decreto-Lei n.º 162/2019. Com o intuito de não alongar muito mais o artigo, termino com uma terceira opção que, na verdade são duas e passam pelo armazenamento (baterias), tecnologia ainda cara e, portanto, vou-me focar mais na próxima, que são as Comunidades de Energias Renováveis (as CER), cujo decreto-lei é o mesmo acima referido e que permitem outras soluções, tais como a partilha de energia produzida por um sistema fotovoltaico. Relembro ao leitor que a energia fotovoltaica tem uma produção razoavelmente linear durante o dia, ou seja, quando o sol nasce, a produção inicia com valores baixos e vai aumento até à posição ideal do sol onde a potência que atinge a superfície dos módulos é máxima (irradiação direta + irradiação difusa), e vai baixando até ao pôr-do-sol. Ora, nem sempre os consumos são lineares durante o dia, pois existem vários períodos do dia onde é necessária uma rega, ou uma secagem (por vezes não programada), e nem sempre estas podem ser ajustadas aos picos de produção. No entanto, o proprietário do sistema e da unidade agro poderá fazer uma melhor gestão de cargas, que não é nada mais do que alterar certos consumos para as horas de maior produção, fazendo um melhor aproveitamento da produção. Com todos estes prós e contras, continuo a recomendar a instalação das Fotovoltaicos no setor, pois a energia solar é previsível, o que significa que os agricultores não precisam de se preocupar com possíveis quedas de energia e grandes aumentos de preço.

FOTO 2
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FIGURA 1: CINGELEIROS LAVRANDO NOS CAMPOS DO ESPARGAL (ANOS 50 DO SÉC. XX). Fonte Fotógrafo riachense, Manuel Triguinho Lopes, «Manel Lontro»

Luís Mota Figueira *
A IMPORTÂNCIA DA MUSEOLOGIA E DA RURALIDADE NO NORTE DO VALE DO TEJO
Reflexão e partilha
O contexto geográfico da fixação humana e as economias locais centradas no negócio agrícola marcam os lugares. Cada Lavoura, com os seus métodos e técnicas de exploração agrícola gera património cultural, tangível e intangível. As gerações de agricultores desenvolvem abordagens consonantes com os seus conhecimentos e tecnologias. (Fig.1). Os utensílios agrícolas e sua evolução tecnológica registam essa caminhada civilizacional (Fig.7). Os sistemas digitais e a
FIGURA 5: O FOLCLORISTA MANUEL ANTÓNIO EM 2009, SELECIONANDO COMIGO, PEÇAS DO MRG PARA O ESTÁGIO DE ALUNOS DO IPT, NO ENTÃO CESPOGA-CENTRO DE ESTUDOS POLITÉCNICOS DA GOLEGÃ. Fonte João Pinto Coelho FIGURA 6: O GRUPO DE CAMPONESAS DE RIACHOS RECONSTITUINDO, EM 2009, A APANHA DA AZEITONA SOB ORIENTAÇÃO DO AGRICULTOR CARLOS SANTANA. RECOLHA MULTIMÉDIA DO PROFESSOR MARTINHO BRANCO, ENTÃO LECIONANDO NA GOLEGÃ. Fonte Luís Mota Figueira

FIGURA 2: RECONSTITUIÇÃO EM 2012 DA LENDA DO SENHOR JESUS DOS LAVRADORES – GRUPO DE BOIEIROS DO MAR DESCENDO A RUA DA BÊNÇÃO DO GADO. Fonte Fotógrafo riachense, Manuel Triguinho Lopes, «Manel Lontro»

designada «Agricultura de Precisão» marcam o tempo atual. A «Agricultura Biológica» é outro segmento da Ruralidade. Os museus, Organizações da Memória e da Contemporaneidade, estão atentos, tanto à Tradição como à Modernidade. Trabalhar o conjunto “Agricultura-Património-Turismo-Sustentabilidade” assegura futuro às Coleções museológicas. A bacia hidrográfica do Rio Tejo é geológica e arqueologicamente riquíssima, comportando testemunhos antigos e atuais, representativos, únicos. Sustentados na componente humana e patrimonial também em Grupos Etnográficos, Ranchos Folclóricos e outras estruturas, como é o caso da Ongatejo. Esses testemunhos integram-se com os contributos das novas Gerações. As organizações de Agricultores são outra parte relevante desta bacia hidrográfica, facilitando a transferência de Conhecimento: a Revista “Agrotejo” sedeada na Golegã, Capital do Cavalo, reúne contributos interdisciplinares, disseminando-os. Há, portanto, uma raiz unindo todo este complexo conjunto: a Espessura histórica do território ribatejano (Fig.2). A Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo tem a sua própria espessura histórica na dimensão UNESCO. Destaca-se na geografia nacional e global. A geologia e a humanização unem-se, desde os primeiros tempos, numa dimensão geográfica singular e contínua (Fig. 3). Os Municípios de Torres Novas e Golegã, e organizações ligadas a atividades empresariais e associativas, nomeadamente da Agricultura, e da Memória da Agricultura, realizam parcerias relevantes. No

FIGURA 3 MANUEL CARVALHO SIMÕES EM 2018, EXPLICANDO A ESTUDANTES DE MESTRADO INTERNACIONAL DYCLAM, DO IPT – INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR, A TÉCNICA DE PRODUÇÃO DE ESTEIRAS DE BUNHO. Fonte Fotógrafo riachense, Manuel Triguinho Lopes, «Manel Lontro»

FIGURA 7: CEIFEIRA CONTEMPORÂNEA - CAMPANHA DO MILHO EM 2015 NOS CAMPOS DA GOLEGÃ Fonte Luís Mota Figueira FIGURA 4 O FOLCLORISTA JOAQUIM LOPES SANTANA EM 2012, APRESENTANDO O CORTEJO ETNOGRÁFICO DA FESTA DA BÊNÇÃO DO GADO, NO LARGO MANUEL SIMÕES SERÔDIO. Fonte : Luís Mota Figueira


FIGURA 8: CARRO DE BOIS PREPARADO PARA SEGUIR PARA O DIA DA LAVOURA, EVENTO RURAL DA PROGRAMAÇÃO DA FESTA DA BÊNÇÃO DO GADO DE 2016 Fonte Vítor Gomes FIGURA 9: GALERIA DO PÁTIO ANTÓNIO VERÍSSIMO DO MAR EM 2013 - EXPOSIÇÃO PERMANENTE: CARROÇAS, TRATOR, LOCOMÓVEL E CARROS DE BOIS. Fonte Luís Mota Figueira


domínio museológico, o Museu Agrícola de Riachos – MAR, e o Museu Rural da Golegã – MRG, são espaços fundados na Agricultura. As Pessoas que os fundaram e lhes dão vida e as Museografias etnográficas e folclóricas, transmitem Valores, incentivando à participação de Todos (Fig.9). Estes museus constroem Memoriais e seus Futuros. Neste sentido, Joaquim Lopes Santana, membro fundador do MAR e Folclorista, (Fig. 4), bem como o Folclorista Manuel António, membro fundador do MRG, (Fig. 5) inserem-se, por direito próprio, e com as suas Equipas, no conjunto de Pessoas que partilhando Saberes, valorizam o acervo histórico-agrícola do Ribatejo. As suas lições, extravasam a dimensão local. Os espaços museológicos interagem com Públicos muito diversos sob o lema de “Tradição-Contemporaneidade” (Fig.6). Esta ligação é, a meu ver, a chave de desenvolvimento social e de crescimento económico beneficiando Visitantes e Visitados. A Ruralidade incorporada na tal espessura histórica que anotei neste breve texto, convoca-nos a participar, partilhando as nossas visões, contribuindo para reforçar a salvaguarda, efetiva, do Mundo Rural (Fig.8). Nesta tarefa museológica, também a voz dos Agricultores é imprescindível.
* PROFESSOR COORDENADOR – UNIDADE DEPARTAMENTAL
DE CIÊNCIAS SOCIAIS – INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR;
DIRETOR TÉCNICO – MUSEU AGRÍCOLA DE RIACHOS
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Ter stock de matérias-primas é imprescindível
Na Agroglobal 2021 debateu-se o tema das matérias-primas, momento em que ficou claro ser imprescindível ter stocks.
Sara Pelicano
Setembro voltou a acolher mais uma Agroglobal que, como habitualmente, foi palco de grandes debates. Este ano as matérias-primas foram alvo de análise no segundo dia do certame. Nesta oportunidade Antonio Catón, da Cooperativas Agro-Alimentarias de Espanha, defendeu que é importante “assegurar o futuro durante toda a campanha”. O especialista recomendou ainda aos presentes que perante o conhecimento de que o mercado “vai baixar”, então que se venda “o futuro e depois o físico” Antonio Catón aconselhou Portugal a “conhecer bem os seus fornecedores e o seu stock e estar familiarizado e trabalhar com os mercados de futuro”. Os stocks foram considerados “estratégicos” por Jaime Piçarra, secretário-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA), pois “permitem maior previsibilidade e disponibilidade” das matérias-primas. Apesar de os preços estarem neste momento elevados, é preciso cautela porque “há grandes incertezas” no mercado. Jaime Piçarra deixou ainda uma preocupação que se prende com o aumento dos preços ao consumidor. “As matérias-primas aumentaram, as rações têm vindo a aumentar. No caso do leite, por exemplo, temos preços baixos ao nível do consumidor. Com a pandemia, fim das moratórias e pressão da distribuição, não vejo condições para os preços subam, mas eles têm de subir com prejuízo de criarmos um colapso na cadeia alimentar”. O setor dos cereais está apreensivo. Pedro Moreira da Silva, responsável da Cerealis Moagens, considera que os preços “vão descer, ainda que não seja num curto espaço de tempo”, e alertou para a escassez de trigo, porque há produtores a reter a produção para autoconsumo. O preço pago ao produtor pode atualmente estar alto, mas elevados são também os fatores de produção, por isso, Luís Bulhão Martins, agricultor e dirigente associativo, defendeu que devemos “pôr a PAC a funcionar para precaver o abandono, a perda de rendimento dos produtores, a segurança alimentar, a comida de boa qualidade nas grandes superfícies”. José Palha salientou que “Portugal está numa situação vulnerável”, sendo que no contexto da União Europeia apenas Malta está numa situação mais delicada. Perante este cenário, o presidente da ANPOC - Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas Oleaginosas e Cereais lamentou que o Governo “não se empenhe em levar por diante a resolução de Conselho de Ministros aprovada em 2019 sobre a Estratégia Nacional para a Promoção da Produção de Cereais, tomando até medidas contrárias em que o exemplo mais flagrante foi a decisão de anular uma ajuda ligada aos cereais no período de transição da PAC”. A terminar, Jorge Neves, presidente da ANPROMIS manifestou a sua preocupação com a falta de autoaprovisionamento de cereais e a total dependência de países instáveis, como a Argentina, Brasil, Ucrânia e Rússia. “São economias frágeis e desequilibradas, que ao mínimo sinal de aumento dos preços do mercado mundial desincentivam a exportação. Ficamos, assim, dependentes da boa vontade política destes países”, destacou Jorge Neves.


Agroglobal 2023 terá lugar no CNEMA
O CNEMA será a próxima morada da Agroglobal. A edição de 2023 já terá lugar em Santarém, uma viagem que trará “mais condições” aos expositores e visitantes, defende a atual e futura organização do certame.
Sara Pelicano
AAgroglobal é conhecida no setor agrícola como a feira profissional da agricultura. Tudo começou em 2009, em Valada do Ribatejo. Neste ano, “o setor agrícola tinha um enorme défice de popularidade junto da opinião pública. Tínhamos um ministro da Agricultura que nunca esteve ao lado do setor. Era um forte acusador das capacidades do setor e dos seus agentes. Dei por mim a pensar que esse défice de popularidade que a sociedade tinha relativamente ao setor, também era culpa nossa, uma vez que nos apresentávamos em certames em que a agricultura era mostrada com uma parte mais lúdica e de entretenimento. A agricultura marcava presença em eventos com música, com gastronomia, com outro tipo de festas, onde depois havia uns tratores, uns agricultores, uns debates. Sabia a pouco. Era preciso mostrar para o exterior aquilo que de bom se fazia, e faz, neste setor, e mostrar aos governantes as potencialidades. Mostrar aos restantes agentes económicos que somos tão bons como eles”, recorda Joaquim Pedro Torres, o mentor deste certame. De dois em dois anos, sempre pelo mês de setembro, os profissionais desta área foram fazendo crescer este certame que decorre em pleno campo, onde há expositores, debates e demonstrações de maquinaria, de novas técnicas agrícolas e ainda campos experimentais para conhecer e perceber como evoluem. A pandemia da Covid-19 trouxe novo desafio a este certame. A edição de 2020 teve em risco, mas um abrandar dos contágios pelo coronavírus, permitiu a sua realização ainda que noutro enquadramento. Não havia expositores, apenas debates e com limite de acesso. Nasce assim, uma feira virtual que permitiu a todos visitar a Agroglobal mesmo em tempos de pandemia. Isto motivou que não fosse feito o habitual interregno de dois anos e, em 2021, o setor voltou a ter uma Agroglobal como sempre se realizou. Os profissionais agrícolas juntaram-se entre 7 e 8 de setembro em Valada do Ribatejo, um local que ficará para sempre associado a este certame, mas que terá sido a última vez que a recebeu. “Foi muito bom regressar ao presencial porque fizemos em 2020 uma feira virtual, que exigiu um grande esforço, empenhámo-nos muito para nos mantermos vivos porque achamos que há problemas muito importantes no setor agrícola que

precisam de debate permanente. O presencial é diferente. A presença massiva da fileira de produção agrícola acaba por levar a muitos encontros não programados entre os diferentes agentes, a uma partilha muito grande de ideias, a uma transferência de conhecimento muito grande, além de surgirem situações que promovem novos negócios e criam muito valor. Na realidade, a feira foi organizada ainda num ambiente de dúvida para muitas empresas, umas mais céticas, outras mais otimistas, mas mesmo assim conseguiu-se fazer a maior Agroglobal de sempre, e arrisco-me a dizer que, relativamente aos objetivos a que a feira se propõe, uma das mais conseguidas de sempre”, acrescentou o mesmo responsável. O ano 2021 fica marcado por este regresso presencial ao certame e também pelo anúncio da passagem da organização da Agroglobal para o CNEMA – Centro Nacional de Exposições. Joaquim Pedro Torres relata que “no campo, temos de andar com a cabeça à frente da cultura. Há que antecipar o futuro para que ele não nos traga nenhuma surpresa”. O mesmo racional aplicou para a tomar a decisão de passar a organização do certame para o CNEMA, ainda que continue a dar o seu contributo. “Há algumas questões a ter em conta. Desde logo temos um espírito Agroglobal já bem vincado. Esse era um dos objetivos desta equipa organizadora e isso foi conseguido. A partir de agora, a feira apresenta muitas potencialidades de crescimento. É uma feira que é visitada por muitos estrangeiros, que sempre se surpreendem e a elogiam pelo conceito. E tendo em conta as características da nossa agricultura, sentimos que esta pode ser uma grande feira da Europa do Sul/ Mediterrânica. A feira atingiu os 420 expositores e no segundo dia tivemos perto de 20.000 visitantes, num ano atípico por causa da pandemia, e, portanto, não há dúvidas do seu potencial”, afirma. O tempo agora é de mudança e “institucionalmente, o CNEMA é a organização mais preparada para o fazer. Estamos perfeitamente esperançados de que vão ser capazes de constituir a equipa necessária para levar a cabo a Agroglobal. Vão ter desde logo todo o meu apoio e de todo o setor agrícola”, assegura Joaquim Pedro Torres. O grande objetivo do fundador da Agroglobal é que a mesma se mantenha como um certame “profissional, dinâmico e de toda a fileira”. E assim será, assegura o presidente do conselho de administração do CNEMA. Eduardo Oliveira e Sousa pormenoriza que “o conceito daquela feira está perfeitamente consolidado. É uma feira 100% profissional, feita em dias de semana, dias úteis, e de empresas para as empresas”. Razões também que levam a colocar em segundo plano o local de realização do certame, ou seja, Mochão da Fonte Boa, em Valada do Ribatejo, ou no CNEMA, em Santarém. A Agroglobal nasceu “num ambiente agrícola” o que foi à data “um grande atrativo”, mas evoluiu e hoje o que se destaca são os pontos acima descritos, reforça Eduardo Oliveira e Sousa. O mesmo responsável comenta que “a feira precisa de garantir determinado tipo de condições aos expositores e aos visitantes; nos acessos, conforto e uma localização que facilite a montagem e a presença das pessoas”. Eduardo Oliveira e Sousa assegura que a Agroglobal e a Feira Nacional de Agricultura são conceitos totalmente diferentes e que não deve haver o receio de se confundirem. “A Feira Nacional de Agricultura tem o seu próprio ADN, tem espetáculos, tem animais, restaurantes, tasquinhas e um ambiente de diversão. A Agroglobal é uma feira altamente profissional, dedicada à promoção do setor entre o próprio setor nacional e internacional. E é isso que nós estamos empenhados em fazer”. O CNEMA prevê acolher pela primeira vez a Agroglobal em 2023, “haja de novo vontade por parte do setor e que perceba de facto a necessidade de se ter encontrado uma outra solução para este certame”, conclui Eduardo Oliveira e Sousa.


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RIBATEJO Produtores apostam em culturas permanentes
Olival, nogueiral, amendoal. Estas são algumas das culturas permanentes que têm crescido no Ribatejo. Os produtores reconhecem nelas forte potencial económico, mas também melhor gestão, muito devido à escassez de mão de obra. Vamos conhecer alguns exemplos de empresários agrícolas que têm investido nestas culturas na região ribatejana. O clima e o solo de elevada qualidade são atrativos para estes agricultores.
António Nunes
Sara Pelicano

AMÊNDOA
“A Treemond é uma empresa portuguesa, constituída em 2019, cuja ope-racionalização se iniciou em 2020. Estamos focados fundamentalmente na amêndoa e no pistácio. Amêndoa produzimos no Ribatejo e no Alente-jo. O pistácio em Espanha. No Ribatejo temos 300 ha plantados durante o primeiro semestre deste ano. A primeira colheita esperamos que seja por 2023/2024. A escolha do Ribatejo prendeu-se com o clima. Na nossa ótica, a amêndoa precisa de 400 horas de frio e nesta região conseguimos isso. Tem também solos muito bons e água de qualidade. Tudo isto permite que estejamos confortáveis com o investimento que estamos a fazer. Praticamos um sistema intensivo que, para nós, é aquele que melhor se adequa à amendoeira. Está provado que a planta se desenvolve muito bem e a colheita é eficaz e eficiente. Conseguiremos tirar as produtividades estimadas. Nós estamos à espera de produzir pelo menos 2.000 quilos por hectare de miolo de amêndoa. Neste momento, temos muitos contactos feitos e estimamos vender a nossa amêndoa para a Europa, que é um grande importador deste fruto seco, fundamentalmente dos Estados Unidos da América. Queremos produzir e vender na Europa. O amendoal para nós é claramente uma alternativa às culturas anuais tradicionais na região.”


JOÃO SANCHES TEM 180 HA DE NOGUEIRAL. João Mendes

OLIVAL
“O lagar de azeite Fio Dourado, onde é produzido o azeite Quinta do Juncal, existe na minha família há várias gerações. Com fortes raízes nesta área sempre me interessei pela olivicultura e pela produção de azeite, e também por outras áreas ligadas à agricultura, como a mecanização. Numa visita a uma feira em Espanha, em 1999, descobri o siste-ma de olival em sebe, que desde logo me despertou interesse, por se afigurar uma solução à escassez de mão se obra que já então se sentia. Grande parte dos olivais tradicionais da região estão praticamente abandonados, pela baixa rentabilidade e pela falta de mão de obra para operações culturais não mecanizáveis no olival tradicional. Ao descobrir o olival em sebe, iniciei a conversão de parte da minha exploração para este sistema, apesar de, há época, ter sido bastante criticado, tendo sido colocada em causa a sobrevivência das árvores e a sua produtividade. Os primeiros olivais que plantei, há mais de 20 anos, ainda estão em plena produção e com excelentes produtividades, pelo que esta foi uma aposta ganha. Creio que a região do bairro, no Ribatejo, pela excelente aptidão que tem para a produção de olival, tem muito potencial para olival em sebe de sequeiro, mecanizável. É neste sentido que vamos iniciar um ensaio de plantação de olival em sebe de sequeiro, em parceria com uma empresa viveirista espanhola e a Escola Superior Agrária de Santarém.
João Sanches NOZES
“Na minha empresa, Trilho Saloio, tenho um pomar de 180 ha de nogueiçras. Contudo, a área total chega aos 300 ha porque eu e outros produtores estamos associados numa empresa que demos o nome de GoNuts SA, onde se inclui a Agromais. O objetivo de nos unirmos foi congregar esforços para se atingir uma dimensão que nos permita trabalhar bem grandes clientes, da moderna distribuição. Temos condições para produzir nozes de altíssima qualidade. Queremos exportar para países como a Turquia, a Alemanha e a França. A Europa consome cerca de 430.000 toneladas de nozes por ano e produz cerca de 115.000 toneladas. Logo, temos aqui um défice enorme que é colmatado por produções que chegam dos Estados Unidos da América e do Chile. As nossas plantações foram todas previamente planeadas, desde a escolha dos solos à recolha de informação sobre os mesmos e escolha dos compassos – eu optei por um compasso de 7x5,5. Os solos do Ribatejo são os melhores para as nogueiras. Pelas análises que fizemos, constatamos que são solos ricos e equilibrados. Depois o clima também é propício, temos muitas horas de frio. E contribui também o facto de existir uma infraestrutura de prestadores de serviço que dá apoio. Portanto, é uma zona muito interessante e com terras apropriadas e com a generalidade dos fatores disponíveis. Há colegas que já estão no quarto e quinto verde e as produções têm sido muito boas. Neste momento, estamos a estudar uma localização para instalação de uma unidade de transformação para britar, lavar, secar e depois embalar o miolo de noz.”
A TREEMOND PLANTOU NO RIBATEJO 300 HA DE AMENDOAL.

Rui Correia AGROMAIS
A importância da certificação no futuro dos produtores de culturas hortícolas

108 O grande tema da atualidade na nossa sociedade é sem sombra de dúvida as alterações climáticas! Há quem defenda que a acção do Homem no planeta está a criar as alterações no clima, nos recursos naturais e nas próprias espécies. A Cimeira do Clima COP 26 que, neste momento, ocorre em Edimburgo irá determinar a estratégia global para minimizar as alterações climáticas. A Agromais estando localizada junto a uma reserva da Biosfera reconhecida pela UNESCO, é um perfeito exemplo de como a acção do Homem, quando efetuada com responsabilidade e critério, consegue conviver em harmonia com a Mãe Natureza! Há mais de 40 anos que nos terrenos da região a Norte do Vale do Ribatejo se pratica agricultura em
Foto: Carlos Paula Simões harmonia com todas as espécies que habitam na reserva do Boquilobo. É neste contexto atual que reside uma verdadeira oportunidade para os agricultores da AGROMAIS, já que o consumidor europeu, está cada vez mais atento à origem dos bens alimentares que consome. Os recentes estudos de mercado reforçam a ideia de que o consumidor europeu faz a sua escolha com base na informação acerca da origem dos produtos, informação esta relativa ao processo produtivo, processo de comercialização, tudo o que contribui para a tomada de decisão. Há cada vez mais, uma consciencialização por parte do consumidor final, para as questões ambientais, sociais e comerciais: O Comércio Justo! Os agricultores de culturas hortícolas da AGROMAIS sendo certificados em Global GAP, onde alguns já têm inclusive a certificação em GRASP, terão de caminhar para a próxima certificação que importa ter, a SPRING (Sustainable Program for Irrigation and Groundwater use). Esta certificação será determinante nos próximos anos, devido ao papel cada vez mais relevante da água na agricultura. As grandes cadeias de distribuição, atendendo à vontade dos consumidores, estão, e estarão, cada vez mais atentas ao uso eficiente da água por parte dos agricultores. Irão exigir também esta certificação aos seus fornecedores hortofrutícolas, de modo a, demonstrarem ao consumidor final que as alterações climáticas estão na sua agenda, enquanto agentes económicos do sector agrícola. Se juntarmos a todas estas certificações, o facto de que, geograficamente estamos localizados nesta zona agrícola de excelência, onde o nosso clima ao longo de todo o ano, permite a produção de produtos de máxima qualidade, com a mais-valia, de estarmos junto da Reserva da Biosfera do Boquilobo, reunindo assim, todas as condições para reforçar o papel da AGROMAIS na liderança da agricultura em Portugal.



António Domingos Abreu BIÓLOGO ESPECIALISTA EM AMBIENTE
O Projeto EEA Grants “Reservas da Biosfera: Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes”, arrancou em novembro de 2020, tendo como principais objetivos, promover o conhecimento sobre os territórios portugueses classificados pela UNESCO como Reservas da Biosfera, o reforço da capacitação ao nível da gestão e da dinamização do envolvimento de atores locais e ainda a comunicação sobre e a partir e destes territórios de valor reconhecido a nível global. O projeto é financiado pelo Mecanismo Financeiro plurianual, EEA Grants, através do qual a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega apoiam financeiramente os Estados membros da União Europeia com maiores desvios da média europeia do PIB per capita, onde se inclui Portugal. O Programa EEA Grants 2014-2021 é operacionalizado pela Secretaria Geral do Ministério do Ambiente e Ação Climática. O projeto “Reservas da Biosfera: Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes” tem a sua conclusão prevista para Maio de 2023 e inclui um conjunto de 80 atividades distribuídas pelos três eixos de intervenção, Conhecimento, Comunicação e Capacitação. O consórcio responsável pela conceção e desenvolvimento do projeto inclui uma vasta esquipa de especialistas de diferentes entidades, nacionais e internacionais tendo como promotor a empresa Quaternaire Portugal. Ao nível internacional, os parceiros que integram o consórcio são a Reserva da Biosfera da UNESCO de Nordhordland, da Noruega, a Cátedra UNESCO em Gestão Sustentável do Património e do Ambiente da Universidade de Bergen, Noruega, e a Comissão Nacional da UNESCO da Islândia. Ao nível dos parceiros nacionais o projecto inclui o Centro de Ecologia Funcional e a Cátedra UNESCO em Biodiversidade e Conservação para o Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Coimbra, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, o Instituo Pedro Nunes, a Ordem dos Biólogos e a organização não governamental Keep – Associação para a Paz, as Pessoas e o Planeta. O orçamento global do projeto é de 2. 198 666,46 de Euros. RESERVAS DA BIOSFERA DA UNESCO EM PORTUGAL Portugal conta atualmente com 12 Reservas da Biosfera da UNESCO, sendo a mais recente a Ilha do Porto Santo, classificada em 2021 e a mais antiga, o Paúl do Boquilobo, que foi inscrita na Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO em 1981. As restantes Reservas da Biosfera portuguesas distribuem-se pelo território nacional incluindo as Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, que no conjunto possuem 50% das reservas portuguesas (Santana e Porto Santo, na Região Autónoma da Madeira e Flores, Corvo, Graciosa e Fajãs de S. Jorge, na Região Autónoma dos Açores. Castro Verde, no Alentejo, Berlengas-Peniche e as reservas transfronteiriças do Tejo/Tajo Internacional; Meseta Ibérica e Gerês/Xurês completam a lista nacional de Reservas da Biosfera da UNESCO. Ao nível mundial existem atualmente 727 Reservas da Biosfera em 131 países, das quais, 22 são reservas transfronteiriças. As Reservas da Biosfera são o elemento central do Programa O Homem e a Biosfera (Programa MaB) promovido pela UNESCO e assumem-se como territórios representativos dos mais importantes ecossistemas naturais das regiões onde se inserem, incluindo, obrigatoriamente, a dimensão cultural, histórica e socioeconómica desses territórios, procurando encontrar soluções inovadoras, a nível local, que promovam o desenvolvimento sustentável, a conciliação entre o desenvolvimento humano e a natureza, e o diálogo, participação e compromisso entre os diferentes atores locais. No domínio da cooperação, as Reservas da Biosfera da UNESCO organizam-se em redes geográficas e/ou temáticas desenvolvendo iniciativas conjuntas, partilhando experiências e promovendo a transferência de conhecimento. As Reservas da Biosfera portuguesas participam em diferentes redes como a Rede de Reservas da Biosfera Europeias (EuroMaB), IberoAmericanas (IberoMaB), Rede REDBIOS – Reservas da Biosfera Macaronésicas e da África Ocidental, Rede de Reservas em Ilhas e Zonas Costeiras e ainda na recentemente criada, Rede de Reservas da Biosfera da CPLP. O Projeto Reservas da Biosfera (RB) Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes promove uma abordagem integrada que considera a qualidade ambiental dos territórios das RB e todo o trabalho dinamizado na sua criação e desenvolvimento quer pelas entidades gestoras quer pelas comunidades e atores socioeconómicos locais.
CRONOLOGIA DAS RESERVAS DA BIOSFERA PORTUGUESAS
ATIVIDADES EM CURSO Do conjunto das 80 atividades previstas no âmbito do projeto, estão em curso mais de 50, com algumas delas já concluídas, designadamente ao nível da caracterização e enquadramento geoestratégico, funcional e programático das Reservas da Biosfera portuguesas. Com uma crescente visibilidade, a identidade gráfica do projeto e as ferramentas de comunicação do mesmo estão em pleno funcionamento, designadamente o website e canais de comunicação nas redes sociais (Instagram, Facebook e Linkedin), dando conta das atividades do projeto e promovendo o conhecimento geral sobre as Reservas da Biosfera nacionais. Desde o seu lançamento, os canais de comunicação do projecto têm vindo a merecer uma adesão significativa, contando-se em poucos meses com mais de 800 seguidores. Ainda no domínio da comunicação, têm vindo a ser promovidas reuniões e ações de divulgação do projeto nas Reservas da Biosfera, envolvendo os principais atores aproveitando momentos de trabalho de campo pelas diferentes equipas do projeto ou através de ações específicas de divulgação do projeto e das RB. O projeto também se associa a outros eventos e entidades que promovem as reservas da Biosfera e os seus princípios, tendo dado um contributo relevante na realização da Conferência “Reservas da Biosfera: Territórios Sustentáveis, Comunidades Resilientes – Diálogos Lusófonos”, promovida pela Fundação de Serralves em Junho de 2021, evento oficial integrado nas celebrações do 50º Aniversário do programa global UNESCO MAB, que teve como objetivo apresentar o conjunto das Reservas da Biosfera Lusófonas e que incluiu a organização de uma Exposição sobre as Reservas da Biosfera da CPLP (Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe) coincidindo com o lançamento público da Rede de Reservas da Biosfera da CPLP. Ainda no domínio da comunicação, foi concluída a Estratégia de Comunicação e Marketing para a futura marca “Reservas da Biosfera Portuguesas” cuja identidade gráfica está em fase adiantada de desenvolvimento. Está em fase de preparação o lançamento das Olimpíadas da Biosfera, uma atividade que o projeto promove e que abrange todos os alunos do ensino secundário do país.
EXPOSIÇÃO SOBRE RESERVAS DA BIOSFERA DA CPLP NA FUNDAÇÃO DE SERRALVES
PARA SABER MAIS
www.reservasdabiosfera.pt www.facebook.com/reservasdabiosfera.pt www.linkedin.com/company/reservasdabiosferaportuguesas/ reservasdabiosfera.pt geral@quaternaire.pt


PARTICIPANTES NO COLÓQUIO INTERNACIONAL SOBRE EXPERIÊNCIAS PARTILHADAS EM RESERVAS DA BIOSFERA DA UNESCO EM PORTUGAL, ISLÂNDIA E NORUEGA
Ao nível do trabalho no terreno, estão em curso levantamentos importantes de informação, seja ao nível do mapeamento dos ecossistemas existentes nas Reservas da Biosfera, com vista à identificação, avaliação e valoração dos seus principais serviços de ecossistemas seja na recolha e registo de memórias e património tangível e intangível. Destaca-se a conclusão do mapeamento da diversidade de ecossistemas presentes nas Reservas da Biosfera portuguesas de que resultou a identificação e mapeamento de oito macroecossistemas nas Reservas da Biosfera portuguesas e transfronteiriças, os quais se encontram hierarquizados em 278 ecossistemas. A recolha e patrimonialização das memórias é uma das atividades centrais na promoção do envolvimento e aproximação entre as Reservas da Biosfera e as suas comunidades estando a equipa de projeto no terreno em intensa interação com os atores locais identificando, compreendendo e perspetivando formas de valorização das diferentes manifestações patrimoniais e culturais das reservas da Biosfera. A análise das tendências socioeconómicas nos territórios das Reservas da Biosfera é uma das atividades entretanto concluídas, disponibilizando indicadores estatísticos diversificados e atualizados que informarão propostas de iniciativas integradas nas três funções primordiais das Reservas da Biosfera: conservação, apoio logístico e desen-
APRESENTAÇÃO PÚBLICA DO PROJECTO EM IDANHA A NOVA SEMINÁRIO PARTICIPATIVO SOBRE SERVIÇOS DE ECOSSISTEMA-CHAVE NAS RESERVAS DA BIOSFERA PORTUGUESAS


volvimento socioeconómico e no conjunto de ações de capacitação a orientar para os diferentes públicos. Tendo em vista a elaboração de roteiros no domínio do turismo sustentável, decorre a identificação de temáticas e ativos naturais e patrimoniais que se constituirão como elementos orientadores de propostas de turismo sustentável associados à criação e promoção de um referencial de certificação em turismo sustentável relativo à marca Reservas da Biosfera Portuguesas. Contactos diretos com as Reservas da Biosfera e outras entidades relevantes têm contribuído para a concretização das atividades relacionadas com a identificação dos mais importantes atores locais bem e das suas dinâmicas de interação com as Reservas da Biosfera. Esta atividade dedica especial atenção à identificação de boas práticas de inovação, empreendedorismo e I&DT alinhadas com o desenvolvimento sustentável. Esta análise estende-se a reservas da Biosfera internacionais (Noruega e Espanha) onde se identificaram boas práticas de inovação, empreendedorismo e I&DT que poderão vir a ser replicadas nas Reservas da Biosfera portuguesas. Foi também já concertado o conceito e abrangência a seguir no desenvolvimento dos Planos de Desenvolvimento Sustentável das Reservas da Biosfera que se constituirão como exercício de revisitação da visão e missão de cada uma das Reservas, posicionando o seu contributo para o desenvolvimento sustentável das regiões onde se inserem. Os Planos de Desenvolvimento Sustentável das Reservas da Biosfera, seguindo metodologias participativas, serão um quadro programático, visando o desenvolvimento territorial diferenciado, a resiliência e sustentabilidade das RB e incluirão indicadores ajustados aos objetivos e dinâmicas de sustentabilidade estabelecidos em cada Reserva da Biosfera. A constituição de observatórios de monitorização com o envolvimento alargado dos principais atores locais em cada Reserva da Biosfera permitirá o acompanhamento, revisão e promoção dos Planos de desenvolvimento Sustentável das reservas da Biosfera portuguesas. No âmbito das atividades de capacitação dinamizadas pelo projeto realizou-se, em Outubro, na Universidade de Coimbra um workshop participativo sobre serviços de ecossistema-chave nas Reservas da Biosfera portuguesas com a participação dos gestores das Reservas da Biosfera portuguesas e um Colóquio Internacional sobre Experiências partilhadas em Reservas da Biosfera da UNESCO em Portugal, Islândia e Noruega, que contou com a participação dos parceiros internacionais do projeto.

114 Ribatejo pode contribuir para aumento da produção de frutos secos

O setor produtivo dos frutos secos em Portugal tem vindo a crescer. Nozes, amêndoas, castanhas e outros são valorizados no mercado. A área produtiva pode continuar a crescer e regiões como o Ribatejo têm potencial. Estas são partilhas de Carlos Silva, presidente da direção do Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos.
Sara Pelicano
Agrotejo (AG): Qual o estado da arte do setor dos frutos secos em Portugal? Carlos Silva (CS): Em Portugal, o setor dos frutos secos está em franco crescimento, principalmente pelo seu interesse económico e valor nutricional. Em 2020 tínhamos uma área de produção de 124.489 hectares, mais 43.044 hectares que no ano de 2014 (INE, 2021). Algumas regiões do país, que não eram, tradicionalmente, produtoras destes frutos têm assumido uma posição de destaque que assenta no investimento em produções intensivas e no recurso a variedades e tecnologias modernas. Uma das culturas que apresentam maior crescimento em área de produção é a amêndoa, com uma área de produção de 52.344 hectares em 2020 (INE, 2021), sendo o Alentejo, em particular na área de regadio do Alqueva, um bom exemplo da dinâmica do setor. Trás-os-Montes continua a ser por natureza a região produtora de frutos secos. O castanheiro, a amendoeira e a nogueira têm, no seu conjunto, uma enorme importância económica, social, cultural e ambiental, constituindo-se como elementos caraterizadores da paisagem. A produção destes frutos secos é, em alguns concelhos do país, a principal fonte de rendimento das populações rurais, assegurando, além de um valor económico e social muito relevantes, outras componentes fundamentais tais como a multifuncionalidade, a manutenção de sistemas ecologicamente adaptados, a economia e o emprego. A produção portuguesa de frutos secos em 2020 foi de 120.850,12 toneladas, mais 23.973,12 toneladas que em 2014 (INE, 2021). Portugal exporta cerca de 25% da produção total de frutos secos (sem a alfarroba), a um valor médio de 2,33€/kg (FaoStat, 2021). Relativamente à importação, Portugal importou, em 2019, 11.383 toneladas de frutos secos a um preço médio de 2,74€/kg (FaoStat, 2021).
AG: Qual o papel do Centro Nacional de Competências dos Frutos Secos (CNCFS)? CS: O CNCFS é uma associação sem fins lucrativos que visa promover o de-
senvolvimento do setor dos frutos secos em Portugal, nomeadamente a castanha, a amêndoa, a noz, a avelã, a alfarroba e o pistácio, pela via do reforço da investigação, da promoção da inovação e da transferência e divulgação do conhecimento. O CNCFS agrega mais de 50 entidades ligadas à produção, comercialização, I&D ou outras entidades, de todo o país e de diferentes subfileiras dos frutos secos. A estrutura e enquadramento enquanto organização confere ao CNCFS uma missão de interlocutor e facilitador de toda a fileira com os diversos organismos nacionais e internacionais. Desde a sua criação, em 2015, tem pautado a sua atividade pela unidade, proximidade e integração entre todos os intervenientes da fileira, facilitando a transferência da investigação e informação para as empresas, os produtores e os consumidores, contribuindo ativamente na persecução do objetivo comum que é a melhoria contínua da fileira dos frutos secos em Portugal.

AG: Que projetos destaca que estejam a desenvolver e possam ter um forte impacto na cultura dos frutos secos? CS: Os projetos do CNCFS relacionam-se essencialmente com os problemas fitossanitários, a inovação, a criação de novos produtos, o embalamento, o aproveitamento de subprodutos e a gestão do solo e dos recursos hídricos. Todos eles têm uma forte componente de investigação, com ensaios em campo e laboratório. Atualmente, estamos a desenvolver os seguintes projetos: • BioPest – Estratégias integradas de luta contra pragas-chave em espécies de frutos secos (PDR2020-101-030960) • ValNuts – Valorização dos frutos secos de casca rija (PDR2020-101-030758) • Egis – Estratégias para uma gestão integrada do solo e da água em espécies produtoras de frutos secos (PDR2020101-030979) • BioChestnut-IPM – Implementar estratégias de luta eficazes contra doenças do castanheiro e amendoeira (PDR2020-101-030943) • ValorNatural – Valorização de Recursos Naturais através da Extração de Ingredientes de Elevado Valor Acrescentado para Aplicações na Indústria Alimentar (NORTE-01-0247-FEDER-024479) (PDR2020-20.2.4-049893) • TRANSCOLAB – Laboratório Colaborativo Transfronterizo para la sostenibilidad e innovación del sector Agroalimentario y Agroindustrial (EP 0612_TRANS_CO_LAB_2_P) Recentemente, terminámos dois projetos muito importantes para o setor, um relacionado com a agricultura circular e outro que consistiu na disseminação do trabalho desenvolvido na investigação em seminários e reuniões com os atores do setor. A saber: ValorMais – criação de valor com os subprodutos agrícolas, agroalimentares e florestais (PDR20202024-03295) e #TreeNuts – partilha de conhecimento e estratégias para potenciar a fileira dos frutos secos
AG: Quais os desafios deste setor, sobretudo ao nível da inovação? CS: Os maiores desafios para o setor neste momento são a sustentabilidade (ambiental, económica e social), a eficiência (uso da água, solo e energia) e a organização (escala e especialização).
AG: E quais as oportunidades? CS: Os frutos secos são um alimento nutricionalmente rico e associados a um estilo de vida saudável, como tal, atualmente o seu consumo tem vindo a aumentar. Identifico oportunidades a três níveis: – transformação: aumento exponencial da capacidade instalada, 3.ª e 4.ª gama e mercado global; – diferenciação: na produção (convencional/bio; moderno/tradicional) e na comunicação e informação; – inovação e – investigação, tecnologia e comercialização.
AG: Qual será o caminho de futuro da produção dos frutos secos em Portugal? CS: Em Portugal temos realidades muito diferentes: áreas com e sem regadio. No Alentejo e Beira Interior (concelho de Idanha a Nova) o caminho irá continuar a ser o amendoal e o nogal intensivo, tentando ajustar as dotações de rega para ir ao encontro de uma agricultura sustentável e eficiente a vários níveis. Quanto a Trás-os-Montes e Algarve, na minha opinião, o caminho passará pela conversão em Modo de Produção Biológico da castanha, amêndoa, noz e alfarroba, acrescentando valor e produtos diferenciados para o mercado. Mantendo-se a atratividade económica dos frutos secos, regiões como o Ribatejo e a Beira Interior poderão incrementar a produção de alguns destes frutos. Assistiremos certamente ao ressurgimento das áreas de avelã e ao aumento da cultura do pistácio.
Fonte INE, I.P.
Carlos Silva
FIGURA 5: PARCELAS DE MENOR DIMENSÕES PARA ESTUDO DA MINERALIZAÇÃO DO AZOTO COM ORIGEM EM FERTILIZANTES ORGÂNICOS EM SOLO SOB SEMENTEIRA DIRETA

SUBSTITUIÇÃO PARCIAL DA ADUBAÇÃO MINERAL DE FUNDO POR MATERIAIS ORGÂNICOS NA CULTURA DO MILHO
Uma “nova” oportunidade?
David Fangueiro | Paula Alvarenga
ISA
Aprodução agrícola esteve durante muitos anos fortemente ligada à pecuária, criando um ciclo perfeito: a agricultura produzia alimentos para a população humana e para os animais, os quais, por sua vez, produziam estrumes que eram aplicados como fertilizantes orgânicos na própria exploração agrícola. No entanto, a modernização e a especialização da agricultura e pecuária levaram a uma separação destas duas atividades tendo-se quebrado este círculo virtuoso que permitia o reaproveitamento dos nutrientes. O principal objetivo do projeto Projeto Nutri2Cycle – “Transição para uma agricultura com uso mais eficiente em carbono e nutrientes na Europa”, apresentado na Edição 2020 da AgroTejo, financiado pela União Europeia, através do programa de investigação e desenvolvimento Horizonte 2020, é criar mecanismos para que se recupere esta “circularidade” tradicional, reaproximando a agricultura e a pecuária, levando ao desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável nos diferentes sistemas agrícolas na Europa (Figura 1). Tal poderá acontecer através da recuperação e reciclagem de nutrientes, procurando solucionar as atuais “perdas” de azoto (N) e fósforo (P) nos ciclos destes nutrientes, bem como o aproveitamento do carbono (C), existente nestes materiais orgânicos, permitindo o seu sequestro no solo. No entanto, esta reaproximação deverá acontecer sem prejuízo dos altos níveis de produção atingidos nos últimos anos, para que possa ser aceite pelos produtores agrícolas, mantenha a segurança alimentar, e acautele as componentes ambiental e social. Este objectivo só poderá ser atingido aproximando todas as partes envolvidas nos sistemas de produção agrícola, animal e agroindustrial, os chamados stakeholders ou agentes setoriais. Só assim será possível encontrar uma solução que se adeque à realidade e responda às necessidades do setor. O Instituto Superior de Agronomia criou assim uma Task Force Nacional, com o objetivo de juntar todos os potenciais interessados nesta temática sob os auspícios do projecto Nutri2Cycle. Nas primeiras reuniões desta Task Force, ficou bem patente a necessidade de obter mais in-
formação técnica e científca, não só em ambiente controlado, mas também em ensaios de campo, acerca da utilização de materiais orgânicos como substitutos dos adubos minerais.
ENSAIOS JÁ EM DESENVOLVIMENTO NO PROJETO NUTRY2CYCLE No âmbito do projeto Nutri2cycle, o Instituto Superior de Agronomia tem vindo a desenvolver vários estudos em condições controladas, à pequena e média escala (Figura 1). O estudo da Joana Prado (Figura 1, [4]), Doutoranda em Engenharia Agronómica, tem apostado na produção de fertilizantes orgânicos - manure based fertilizers - através do desenvolvimento de misturas de efluentes pecuários, tratados ou não tratados, com rácios de nutrientes mais adequados às necessidades das culturas e conhecidos por parte de agricultores. Neste sentido, têm sido testados dois níveis de atuação para a obtenção dessas misturas com rácio N:P de 2:1, 1:1 e 0,5:1 – ao nível da Exploração (estrume e/ou chorume de uma única espécie animal, com adição das quantidades de adubos convencionais necessárias para se alcançar os referidos rácios), e ao nível de uma Central de Processamento, onde será feita a gestão de excedentes de efluentes pecuários de diferentes espécies animais, recorrendo a possíveis misturas e tratamentos. Em ambos os cenários, foram analisadas as taxas de mineralização, emissões gasosas e potenciais lixiviações, que permitem compreender o ciclo dos nutrientes, nomeadamente de N e P. Face aos resultados obtidos nestes cenários, foram selecionadas as melhores misturas para serem avaliadas em termos agronómicos e compreender as hipóteses viáveis de potenciar a valorização de efluentes pecuários. Numa outra abordagem (Figura 1, [2]), a Doutoranda em Engenharia Agronómica Catarina Esteves, está a estudar duas linhas temáticas. A primeira linha temática destina-se a avaliar a aplicação de efluentes pecuários, chorume de uma vacaria e um estrume avícola, na substituição parcial de fertilizantes minerais num pomar de macieiras, localizado no campus do Instituto Superior de Agronomia (ISA). Neste es-

FIGURA 1: ABORDAGEM PROPOSTA NO PROJETO NUTRI2CYCLE PARA PROMOVER UM USO MAIS EFICIENTE DE CARBONO E NUTRIENTES NAS ATIVIDADES AGRO-PECUÁRIAS.
FIGURA 2: DESENHO EXPERIMENTAL DO ENSAIO COM INDICAÇÃO DA COLOCAÇÃO DAS CÂMARAS DE AMOSTRAGEM DE GASES COM EFEITO DE ESTUFA.


FIGURA 3: APLICAÇÃO DE CHORUME DE PORCO.
tudo, que já vai no segundo ano, tem sido aumentada a taxa de substituição dos fertilizantes convencionais até 50% e, para além dos parâmetros habituais de controlo das propriedades do solo e da produtividade, estão a ser avaliadas as emissões gasosas consequentes da aplicação dos materiais orgânicos. A segunda linha temática consiste no estudo da variabilidade dos nutrientes no solo, numa vinha situada no Montijo, de modo a evoluir para uma Agricultura de Precisão, sendo necessário delinear zonas com características do solo homogéneas, permitindo um fornecimento diferenciado de nutrientes à cultura, tanto espacialmente como temporalmente. É ainda de referir o trabalho do Miguel Araújo, aluno do Mestrado em Engª Agronómica, o qual avalia o comportamento do fósforo veiculado por chorumes animais, neste caso um chorume de suíno, submetido a acidificação e/ou a separação sólido-líquido, na substi-
tuição do fósforo mineral aplicado em fundo, na cultura de milho.
Ensaios de campo com utilização de estrumes e chorumes na substituição da adubação de fundo na cultura do milho – Ensaios na Quinta da Cholda (Azinhaga)
Os ensaios acima referidos, realizados em “ambiente controlado”, permitem dar resposta a muitas das questões que se colocam quando se pretende substituir o adubo mineral aplicado em fundo por fertilizantes orgânicos produzidos a partir de estrumes/chorumes, algumas colocadas pelas instituições que integram a Task Force, como sejam: • Qual o impacto no desenvolvimento da cultura? • Qual o impacto na produção de milho e qualidade do grão? • Existe risco de acumulação de metais, ou outros contaminantes, no solo? • Qual o benefício para o sequestro de
C no solo?

FIGURA 6: VISÃO GLOBAL DO ENSAIO NO LOCAL 1 (A: CHORUME DE PORCO; B: FERTILIZANTE MINERAL; C: COMPOSTO DE AVES). FIGURA 4: DISTRIBUIÇÃO DO COMPOSTO DE AVES.

• Qual o impacto em termos da emissão de gases com efeito de estufa? Porém, existem outras perguntas, a que a academia só consegue responder com a ajuda dos produtores e legisladores, como sejam: • Existe disponibilidade dos estrumes animais no momento certo no local certo? • Qual a logística necessária para o seu transporte e aplicação? • Quando se aplicam, existem problemas de maus cheiros e “queixas” por parte das populações? • Qual é a aceitação social por parte do consumidor para os produtos produzidos com aplicação deste tipo de fertilizantes orgânicos? • Legislação, como cumprir? Como saber quanto se pode aplicar sem ultrapassar o legalmente permitido, mas tirando a vantagem máxima dos teores de nutrientes destes materiais? • Legislação: mudará de forma que quem
aplica hoje pode ser penalizado amanhã? Foi com o objetivo de responder a estas e a outras questões que teve início, em março de 2021, um ensaio de campo na Quinta da Cholda com a colaboração do Engº João Coimbra, onde se pretendeu avaliar a substituição de parte da fertilização convencional aplicada em fundo por materiais orgânicos (composto de estrume de aves e chorume de porco) na cultura do milho, complementada com adubação de precisão em cobertura com adubos minerais, avaliando os seus efeitos na: • produtividade e parâmetros de qualidade na cultura, • propriedades físico-químicas do solo, • emissões de gases com efeito de estufa, • parâmetros bioquímicos, • teores em metais totais, e • composição dos lixiviados e/ou escorrências. Os ensaios foram instalados em três locais com tipos de solos contrastantes e um histórico de práticas diferente, ocupando, em cada local, uma faixa de, aproximadamente 1 hectare (Figura 2), com: (A) faixa controlo com adubação convencional (aplicação de 150 kg N/ha em fundo), (B) uma faixa onde foram aplicados 32 m3 de chorume de porco (4 tanques de 8 m3 cada) (Figura 2), recolhidos numa suinicultura situada perto da exploração, e (C) uma faixa onde foram aplicadas 10 toneladas (em matéria fresca) de composto de estrume de aves, obtido numa exploração avícola que comercializa, habitualmente, esse tipo de material, mais ou menos compostado (Figura 3).
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A nova geração de bioestimulantes
As alterações climáticas são uma realidade que não podemos ignorar. Nos últimos 20 anos, a temperatura média global aumentou cerca de 2°C tornando mais frequentes os fenómenos extremos, como o stresse hídrico, os golpes de calor ou chuvas excessivas e irregulares. Estes fenómenos têm conduzido a respostas nas culturas como florações precoces ou abrolhamentos tardios, provocando uma grande incerteza de ano para ano. A TIMAC AGRO, mantendo o foco constante na inovação para criar produtos eficazes, desenvolveu um novo conceito de bioestimulantes que ajudam as plantas a maximizar o potencial produtivo e a tolerar situações extremas de stresse. Está no ADN da TIMAC AGRO a aposta na investigação e na inovação, sendo o único grupo no setor da fertilização com um Centro Mundial de Inovação (CMI) próprio, junto à histórica sede do grupo, em França, no cais de Saint-Malo. Este centro é um verdadeiro acelerador de inovação na nutrição vegetal desenvolvida em articulação direta com mais de uma centena de universidades e instituições científicas por todo o Mundo. Após dez anos de desenvolvimento no CMI, o conceito ADN (Aumento, De-stress e Nutrição) surge em articulação com instituições académicas internacionais como o INRA, a Universidade de Navarra ou a Universidade de Nottingham, para lançar cinco novas gamas de bioestimulantes que potenciam a expressão do potencial genético das culturas, a sua resistência ao stresse e uma nutrição ativada. O foco do conceito ADN é equiparar uma planta a um atleta de alta competição que, para obter o máximo rendimento tem de ter um bom potencial genético (A), estar livre de stresses físicos e psicológicos (D) e estar bem nutrido (N). Para otimizarmos o rendimento das nossas culturas, aumentando a qualidade das produções, temos também que maximizar a expressão do seu potencial genético intrínseco (A), dar-lhes ferramentas para resistirem aos stresses (D) garantindo uma máxima absorção dos nutrientes (N). A - aumentar a expressão do potencial genético das culturas: KAORIS, um produto indicado para o reforço das paredes celulares, textura e firmeza dos frutos e o GENAKTIS, que estimula a expressão de mais de 2.000 genes, entre os quais os que regulam a produção de fitólitos essenciais para uma boa estrutura das folhas, melhorando a fotossíntese. D - reduzir os efeitos do stresse: A gama SEACTIV, por ser feita a partir de algas especificamente extraídas da costa da Bretanha (conhecidas pela sua enorme capacidade de resistir aos stresses hídricos, salinos e térmicos) traz o melhor do mar para terra, fornecendo os ingredientes para uma maior resistência das nossas culturas. N - aumentar a eficiência da nutrição: Promover melhor assimilação de nutrientes deve ser uma das prioridades da indústria dos fertilizantes. Assim, para uma nutrição bioestimulada (N) desenvolvemos duas novas gamas: IRYS, que contém três moléculas com efeitos específicos na produção de citoquininas para impulsionar o desenvolvimento da planta, ativar a ATPase, responsável pela produção de energia e melhorar a resistência ao stresse. Estas três moléculas estão envolvidas numa cápsula de matriz orgânica patenteada que permite uma libertação lenta tornando mais eficiente a absorção de nutrientes de acordo com as necessidades da planta. O ASTELIS combina a ação de peptídeos bioativos específicos, controlando a ação de auxinas, estrigolactonas e citoquininas responsáveis por desencadear as raízes nodais e o afilhamento nos cereais. Este produto é, por isso, vocacionado para cereais, nomeadamente para a cultura do milho. O conceito ADN foi criado para ser um aliado dos agricultores na missão de alimentarem uma população mundial em franco crescimento, que exige alimentos de qualidade, reduzindo os impactos nos ecossistemas e a pegada ecológica para as gerações futuras. É esta a nossa missão!


CAP propõe um Digital Rural Act
Na sessão plenária do Comité Económico e Social Europeu (CESE), Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e membro do CESE, organização com assento no Comité Económico e Social Europeu (CESE) propôs a criação de um Digital Rural Act. A Comissão, para estimular o comércio e os serviços, criou o Digital Market Act e o Digital Services Act, para, respetivamente, estimular e regular estas atividades. Luís Mira afirmou que “lamentavelmente, a Comissão Europeia, que fez bem em criar estes dois instrumentos, esqueceuse do imenso território rural europeu, por este não estar abrangido por estas políticas. Por essa razão, o CESE vem pedir que a Comissão crie um Digital Rural Act que proporcione aos territórios rurais de baixa densidade populacional uma solução para não ficarem excluídos do processo de digitalização”. A proposta apresentada pelo CESE através do Secretário-Geral da CAP para a instituição de um Digital Rural Act, estabelece três eixos de atuação: que seja assegurada a cobertura com rede digital das regiões rurais, em simultâneo com a cobertura prevista para as zonas urbanas; que seja delineada e implementada uma política consistente de ações de formação, para combater a iliteracia digital das populações rurais e que sejam criados aplicações e programas que respondam às necessidades das pessoas e das empresas destes territórios, assegurando a inclusão tecnológica e democratização da digitalização.
Formação para operar tratores em segurança na AGROTEJO
A ação de formação Conduzir e operar com o trator em segurança (COTS) é a formação que os titulares da carta de condução da categoria B, C ou D têm que obrigatoriamente frequentar para continuarem a ter a habilitação necessária para conduzirem os veículos agrícolas do tipo II ou tipo III, respetivamente. De acordo com o Despacho n.º 1666/2021, D.R. n.º 30/2021, Série II de 12 de fevereiro, a partir de 1 de agosto de 2022, os titulares das cartas de condução das categorias B, C e D que pretendam ficar habilitados a conduzir os veículos agrícolas devem comprovar a realização, com aproveitamento, da ação de formação referida. Se pretender frequentar o curso para continuar a conduzir veículos agrícolas entre em contacto com a Agrotejo.
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Até 2030 produção de milho pode cair 24%
Um estudo, publicado no jornal Nature Food, indica que a produção de milho, até 2032, pode registar uma quebra de produção de 24%, devido à crise climática. Por outro lado, no mesmo trabalha-se lê-se que a produção de trigo pode aumentar 17%. O documento esclarece que “o aparecimento de impactos climáticos ocorre de forma consistente nas novas projeções, antes de 2040, para várias regiões produtoras principais. Embora as estimativas futuras de rendimento permaneçam incertas, estes resultados sugerem que as principais regiões de produção de cereais enfrentarão riscos climáticos antropogénicos distintos mais cedo do que o previsto anteriormente”. Jonas Jagermeyr, o cientista que liderou o estudo, afirmou que “uma redução de 20% dos níveis de produção atuais pode ter graves implicações em todo o mundo”.


Projeto Restolho no Pós-Covid
Alexandra Fernandes
Após dois anos de paragem forçada… sim, é verdade! Voltámos novamente ao campo com as Ações Restolho, e com energia renovada! Em forma de resumo da atividade desenvolvida no ano de 2021 destacamos: o dia 2 de setembro – Dia Solidário para 150 voluntários da Universidade Católica de Lisboa, que uma vez mais se deslocou à Golegã para uma ação Restolho. Em campo de batata localizado na Azinhaga, cedido pelo produtor Agro-Cartas – Sociedade Unipessoal, Lda., e após várias diligencias para que todas os cuidados recomendados pela DGS fossem cumpridos, trabalharam durante cerca de quatro horas, debaixo de temperatura a rondar os 35ºC, tendo-se traduzido em 2.700 kg de batata entregues no Banco Alimentar de Abrantes e transportados pelo Município da Golegã. Esta ação contou com o apoio das Aquarela do Mundo – Águas de Nascente S.A., que disponibilizou as águas distribuídas neste dia, e a quem endereçamos o nosso agradecimento. Já no mês de outubro recebemos em conjunto com o produtor António Simões Sequeira – Unipessoal, Lda. representada pelo jovem agricultor-Felipe Sequeira em campo localizado na freguesia do Pinheiro Grande, concelho da Chamusca, dois grupos de voluntários – farmacêutica GSK (dia 14) e o banco BPI (dia 20), respetivamente com nove e 40 voluntários e onde foram colhidos, pelos primeiros 410 kg e pelos segundos 1487 kg de batata. O transporte foi garantido pela AGROMAIS e a colheita entregue no Banco Alimentar de Abrantes. Talvez por ser uma atividade ao ar livre, solidária e que promove o espírito de equipa e entreajuda entre os participantes, vários têm sido os contactos para ações, o que nos deixa satisfeitos por podermos ajudar e ao mesmo tempo orgulhosos do trabalho que temos desenvolvido nos últimos anos, que se traduz no facto de varias empresas, escolas e outras entidades se continuem a lembrar do Restolho quando é necessária uma atividade para reatar laços e aproximar funcionários, alunos… enfim equipas que se querem coesas e unidas em torno de um objetivo! Que venham muitas mais ações Restolho – Uma segunda colheita para que nada se perca!




Ana Domingues
Agricultura regenerativa
Sendo o termo “sustentável” utilizado para definir uma realidade que se mantém nas mesmas condições ao longo do tempo e observando o estado degradado dos nossos campos agrícolas, o termo “agricultura sustentável” é cwada vez menos referido, surgindo cada vez mais o conceito de “agricultura regenerativa”. O termo “agricultura regenerativa” tem sido discutido e praticado desde dos anos de 80, contudo na última década verificou-se um aumento significativo de publicações que mencionam o termo, atraindo a atenção de investigadores, produtores, consumidores, assim como políticos e os media. Apesar do amplo interesse na agricultura regenerativa, não existe ainda nenhuma definição legal ou regulatória do termo, nem surgiu uma definição científica amplamente aceite. A agricultura regenerativa aborda a conservação e a reabilitação dos sistemas alimentares e agrícolas, promovendo um impacto positivo ao nível ambiental e social. Corresponde a um conjunto de práticas e princípios agrícolas que aumentam a biodiversidade, restabelecem o ciclo da água e dos nutrientes, aumentam o sequestro de carbono no solo e favorecem a saúde e vitalidade do solo agrícola. A agricultura regenerativa assenta em três pilares fundamentais –saúde do solo, bem-estar animal e justiça social – e baseia-se essencialmente em cinco princípios chave: - A diminuição do distúrbio do solo, seja ela química (através da aplicação de fertilizantes e pesticidas) ou física (através da mobilização) é essencial para o desenvolvimento da microbiologia e o aumento de matéria orgânica no solo; - O aumento da biodiversidade, tanto na parcela agrícola como em seu redor, promove o desenvolvimento de uma comunidade biodiversa de microorganismos no solo, permitindo o seu equilí-
brio, promovendo o correto funcionamento do ciclo de nutrientes e a diminuição de pragas, doenças e infestantes nas culturas. Manter o solo coberto com material vegetal e plantas vivas, durante todo o ano, permite diminuir as perdas de água nas culturas, criar as condições necessárias para manter a microbiologia, assim como diminuir a erosão do solo. A adoção de práticas como a utilização de culturas de cobertura, a integração da pecuária na parcela agrícola e o seu uso, estrategicamente planeado, para a fertilização dos campos pode aumentar substancialmente a matéria orgânica do solo, melhorando a sua saúde ao longo do tempo, contribuindo para o aumento da produtividade das culturas. O restabelecimento e equilíbrio da vida no solo leva ao longo do tempo a uma prática agrícola sem a necessidade de aplicação de fertilizantes ou pesticidas levando desta forma à prática de Agricultura biológica regenerativa. Em 2017, o aparecimento de uma nova certificação revolucionária para produtos alimentares, têxteis e de cuidados pessoais (ROC – Regenerative Organic Certification), já disponível na maioria dos países desenvolvidos, promoveu recentemente o envolvimento de grandes corporações que anuciaram iniciativas de agricultura regenerativa. Em 2019, a General Mills anunciou um esforço para promover práticas de agricultura regenerativa na sua cadeia de abastecimento, financiando uma organização sem fins lucrativos (Kiss the Grown) para investir em eventos educacionais sobre esta temática junto às comunidades agrícolas que abastecem a sua cadeia de valor. Em 2021, empresas como a PepsiCo, Unilever, VF Corporation e a Nestlé anunciaram medidas e planos para estabelecer e implementar práticas de agricultura regenerativa na sua cadeia de abastecimento. A utilização destes princípios e práticas, que regeneram e revitalizam o solo e o meio ambiente, proporcionam um solo saudável capaz de produzir alimentos de alta qualidade e ricos em nutrientes, levando em última análise à diminuição dos custos de produção, ao aumento da produtividade das culturas e a uma comunidade e economia mais saudável.

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128 CULTURAS EXTENSIVAS A importância do controlo precoce das infestantes no milho para uma agricultura sustentável

O controlo precoce das infestantes é essencial para proteger a cultura do milho e obter maior rendimento por hectare à colheita, particularmente em sementeiras precoces. Para as jovens plantas de milho as infestantes não são apenas um concorrente indesejável – por água, nutrientes e luz –, mas também condicionam os mecanismos de desenvolvimento da cultura, levando-a a concentrar a maior parte da energia na emissão de folhas e caules, em detrimento do desenvolvimento das raízes. Este instinto de “sobrevivência” do milho pode comprometer irremediavelmente o seu potencial de produção, mesmo que as infestantes sejam eliminadas após a sua emergência. Sabe-se que as infestantes com mais de 5 cm competem com a cultura pelos recursos de que esta precisa para crescer (água, nutrientes, luz), levando a um impacto negativo no desenvolvimento do milho, que pode reduzir a sua produtividade. Atualmente, os cientistas são unânimes em dizer que para evitar perdas de produção superiores a 5%, deve manter-se o milho livre de infestantes desde a terceira até à oitava folha da cultura. As perdas por concorrência com as infestantes nas primeiras etapas são irreversíveis e não se podem recuperar através da eliminação das infestantes numa fase mais avançada do ciclo cultural. Um estudo recente mostra que a concorrência pelos recursos não é a única causa das perdas de produção que acontecem no início do desenvolvimento da cultura. O Professor Clarence J. Swanton da Universidade de Guelph, em Ontário (Canadá), avaliou o impacto das infestações precoces de infestantes na produtividade do milho. A pesquisa foi iniciada depois deste investigador observar perdas de produção em campos de milho, com abundância de humidade e nutrientes, e em situações onde as infestantes não eram suficientemente altas para tirar a luz ao milho. Qual seria então a razão para as perdas de produção quando as infestantes estavam presentes na fase de emergência do milho?
O MILHO ACELERA O DESENVOLVIMENTO DA PARTE AÉREA E REDUZ A EMISSÃO DE RAÍZES
Sabe-se que a presença de infestantes reduz o desenvolvimento das raízes do milho e isto pode resultar na perda de produção. Tendo em conta a fisiologia das plantas do milho, Clarence J. Swanton sugere que o desenvolvimento normal das raízes é inibido por uma mudança nas características da luz causada pelas infestantes que emergem ao mesmo tempo que o milho. Nas folhas do milho são os recetores de luz (fitocromos) que detetam as mudanças na luz. Quando as infestantes emergem ao mesmo tempo que a cultura, os fitocromos contidos nas células das plantas do milho identificam a
categoria particular de frequências de luz refletida pelas infestantes, levando as plantas do milho a adotar uma estratégia de crescimento para evitar a sombra, emitindo um caule mais alto e folhas maiores. À primeira vista isto parecer positivo, mas na realidade um sistema radicular forte é essencial para o desenvolvimento da planta do milho em todo o seu ciclo de vida e, caso a maior parte da energia da planta seja aplicada no desenvolvimento da parte aérea, em detrimento das raízes, o máximo potencial de produtividade da cultura fica comprometido. Esta descoberta explica por que o milho afetado pela concorrência das infestantes nas primeiras etapas de desenvolvimento nunca demonstra todo o seu potencial de produção, mesmo que as infestantes sejam eliminadas após a emergência da cultura e esta seja alvo de uma adequada estratégia de nutrição.
O IMPACTO SOBRE A ORIENTAÇÃO DAS FOLHAS
Esta investigação também pôs em relevo o impacto das infestantes na direção e orientação das folhas de milho. Nos testes descobriu-se que, na ausência de infestantes, uma maior percentagem de folhas de milho cresce perpendicular às linhas, resultando numa cobertura mais rápida da entrelinha; num melhor desenvolvimento das plantas e na eliminação mais eficaz das infestantes na entrelinha. Por outro lado, onde há mais infestantes o milho percebe a sua presença através da mudança de luz refletida e produz mais folhas orientadas em paralelo à linha, o que resulta num atraso na cobertura da entrelinha e numa menor capacidade para fazer sombra às infestantes. Dos estudos sobre a concorrência precoce das infestantes, pode concluir-se que: • As infestantes causam danos à colheita, contrariamente ao que se pensava até agora; • As infestantes não controladas que emergem juntamente com a cultura produzem uma perda de produção significativa e irreversível; • O controlo precoce das infestantes é importante, porque estas afetam a
qualidade de luz que incide sobre as plantas do milho; • O controlo das infestantes antes do desenvolvimento da raiz do milho é um passo crucial para maximizar o potencial produtivo da cultura, o que confirma a necessidade de um controlo herbicida eficaz na pré-emergência.

A. REFLEXO DA LUZ NUM CAMPO SEM INFESTANTES V / VD = 1,2 B. REFLEXO DA LUZ NUM CAMPO COM INFESTANTES V / VD = 0,1 A 0,9
AS INFESTANTES MODIFICAM A RELAÇÃO V / VD ENTRE AS FREQUÊNCIAS DE RADIAÇÃO DA LUZ VERMELHA E VERMELHO DISTANTE (SWANTON, 2009)


CONTROLO PRÉ-EMERGÊNCIA CONTROLO PÓS-EMERGÊNCIA

IMPACTO DAS INFESTANTES NA FLORAÇÃO DO MILHO E NO N.º DE GRAUS POR MAÇAROCA
A concorrência das infestantes nas primeiras etapas de crescimento do milho é uma forma de stresse que tende a atrasar o desenvolvimento natural da cultura e que pode afetar negativamente os parâmetros de produção do milho. As infestantes podem causar um atraso da floração do milho, o que por sua vez provoca um atraso ainda mais pronunciado no momento da colheita, dando lugar a dificuldades operativas no campo e a riscos acrescidos de danos no grão, por exemplo, por ataques de piral ou formação de micotoxinas. Por outro lado, os estudos científicos comprovam que as plantas do milho “programam” o tamanho futuro da maçaroca quando estão no estado de 7 a 10 folhas, pelo que é muito importante que nesta etapa a cultura não seja afetada por stresse ou danos de nenhum tipo. Ensaios realizados pela Syngenta comprovam que o stresse provocado na cultura pela presença de infestantes pode resultar em menor número de grãos por maçaroca e, por conseguinte, numa queda de produção. Por estas razões, é importante proteger o milho da melhor maneira desde o início da concorrência das infestantes. A Syngenta dispõe de uma completa gama de soluções herbicidas para a cultura do milho (ler QR Code) para um controlo eficaz das infestantes desde as fases mais precoces do ciclo de desenvolvimento da cultura. #milho #infestantes #herbicidas #prémergência #agricultura #Lumax #Camix #Callisto #Dualgoald #Elumis #Primextragold #Dualgold #Banvel
Foto Carlos Paula Simões

Tainan Messina José Lima Santos Rui Figueira
DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA, UNIVERSIDADE DE LISBOA
ESTIMATIVA DA PREDAÇÃO DE PRAGAS AGRÍCOLAS POR AVES NO CAMPO DA GOLEGÃ
Alguns resultados do projeto Optimus Prime
No âmbito do projeto Optimus Prime, foi realizado um estudo do serviço de predação das pragas das principais culturas do Campo da Golegã por aves selvagens. O estudo pretendia: (1) calcular a quantidade de pragas ingerida por aves insectívoras durante a estação de reprodução das mesmas, a qual corresponde aproximadamente ao ciclo das principais culturas de Primavera-Verão; e (2) avaliar o grau de dependência deste serviço de ecossistema face à existência de manchas de vegetação arbóreo-arbustiva de que algumas das espécies de aves em causa dependem para nidificação ou abrigo. Para identificar as principais espécies de aves associadas ao serviço de predação e medir a sua abundância, o estudo recorreu ao método dos pontos de escuta (count points). Em cada ponto, foram contados todos os indivíduos de todas as espécies de aves detetadas, visual ou auditivamente, durante os 10 minutos de permanência no ponto. O trabalho de campo decorreu nos meses de abril e maio de 2019, tendo sido realizados 51 pontos de escuta, entre as 6 e as 11 horas da manhã, e entre as 4 e as 7 horas da tarde de cada dia (períodos do dia em que as aves estão mais ativas, e, portanto, são mais fáceis de detetar). Para avaliar até que ponto a abundância de cada espécie e a quantidade de serviço de predação que presta estão dependentes da presença de árvores, os 51 pontos de escuta realizados foram distribuídos, conforme consta da figura 1, por quatro tipos de habitat com presença decrescente de manchas de vegetação arbóreo-arbustiva: (1) interior ou orlas da floresta palustre (Paul do Boquilobo); (2) interior ou orlas de EFAs (ecological focus areas) arbóreas; (3.A) interior da matriz agrícola da paisagem do Campo, próximo de uma ou mais EFAs arbóreas; e (3.B) interior da matriz agrícola, longe de qualquer EFA arbórea. Na totalidade dos 51 pontos, foram registados 990 indivíduos (de 56 espécies), dos quais 607 indivíduos pertenciam a 30 espécies de aves que, com base na bibliografia, foi possível associar ao serviço de predação de pragas. Estas 30 espécies foram clas-
sificadas em seis guildas, de acordo com os seguintes critérios: preferência de habitat (maior ou menor dependência de árvores para a nidificação, abrigo ou alimentação); preferência alimentar (fração da dieta correspondente a insetos e outros artrópodes), técnica de captura das presas (por exemplo, nas copas das árvores, ou no chão) e capacidade de entrar em terrenos abertos (culturas anuais). Estes dois últimos condicionam bastante a capacidade de cada espécie para predar pragas em culturas anuais, como o milho ou o tomate, ou em culturas permanentes, como a nogueira. As seis guildas definidas neste estudo são: (1) insectívoras do chão generalistas, com elevada dependência de árvores para abrigo ou nidificação, que se alimentam principalmente de artrópodes ou outros invertebrados, capturados no chão, e saem frequentemente para zonas de campo aberto (exemplo: estorninho-preto); (2) insectívoras do chão da floresta, com comporpendentes de coberto arbóreo, capturam artrópodes no chão ou de um poleiro para o chão (exemplo: cartaxo); e (6) granívoras de campo aberto, que apesar de serem granívoras fora da estação de nidificação, são, durante a Primavera-Verão, grandes consumidores de artrópodes apanhados geralmente no chão ou perto dele; são pouco dependentes de coberto aéreo (exemplo: pardal). A figura 2 ilustra exemplos de várias espécies de aves incluídas nas guildas (3) e (5). Com base no seu comportamento de captura das presas, é fácil concluir que as espécies das guildas (2) e (3) só são suscetíveis de contribuir para o serviço de predação de pragas quando a cultura é arbóreo-arbustiva (e.g., nogueiral, vinha), uma vez que não conseguem realizar capturas em campo aberto com coberto apenas herbáceo. Por outro lado, as espécies das guildas (5) e (6) não contribuem geralmente para o serviço de predação de pragas em culturas permanentes,
FIGURA 1. EXEMPLOS DE LOCALIZAÇÃO DE PONTOS DE ESCUTA REPRESENTATIVOS DE CADA UM DOS QUATRO TIPOS DE HABITAT NO CAMPO DA GOLEGÃ

Pontos 1. Paul, floresta palustre (N=10)
Pontos 3.A. Matriz agrícola perto de EFA arbórea (N=8) Pontos 2. EFA arbórea (N=21)
Pontos 3. B. Matriz agrícola longe de EFA arbórea (N=12)



tamento semelhante ao das espécies da guilda anterior, mas que se alimentam apenas por baixo de copas de árvores ou arbustos, não saindo geralmente para campo aberto (exemplo: pisco); (3) insectívoras florestais de copa, estritamente dependentes de árvores para abrigo, nidificação e alimentação (exemplo: chapins); (4) granívoras do chão da orla dos arvoredos, que dependem de árvores para abrigo ou nidificação, e que, apesar de granívoras, alimentam as crias com artrópodes apanhados no chão ou na vegetação, frequentemente em zonas de campo aberto (exemplo: pintassilgo); (5) insectívoras de campo aberto, indeporque não entram em áreas com denso coberto de árvores ou arbustos. Com base numa revisão bibliográfica sobre as características biológicas de cada uma das 30 espécies de aves mais relevantes, tais como percentagem de artrópodes na dieta, peso vivo dos adultos, dimensão da postura, sucesso reprodutivo, período de crescimento das crias, e número de posturas por ano, foi estimada a ingestão de artrópodes a atribuir a cada individuo da espécie registado em cada ponto. Multiplicado pelo número de indivíduos da espécie, no ponto, e somando para todas as
FIGURA 2. EXEMPLOS DE ESPÉCIES INCLUÍDAS EM DUAS DAS SEIS GUILDAS DE AVES DEFINIDAS NO ESTUDO


espécies registadas no ponto, obtivemos, para cada um dos 51 pontos, a predação total de artrópodes durante o período reprodutivo, em kg/ha/ano. Assim, verificou-se que o valor da predação total de artrópodes é máximo nos pontos de matriz agrícola próximos de pelo menos uma EFA arbórea (pontos 3.A): 35 kg/ha/ano, em média, neste tipo de pontos. Nos pontos da matriz agrícola longe de qualquer EFA arbórea (pontos 3.B), o valor médio da predação total de artrópodes é bastante inferior: 18 kg/ha/ano. Assim sendo, a presença de árvores na proximidade da parcela agrícola parece duplicar, em média, a predação total de artrópodes. Estas estimativas requeriam um ajustamento em baixa pelo facto de nem todos os artrópodes consumidos serem pragas das principais culturas no Campo da Golegã; e ainda porque, estando a área agrícola do Campo ocupada sobretudo por culturas anuais (e.g. milho, tomate), teríamos que subtrair às nossas estimativas a ingestão de artrópodes pelas guildas (2) e (3), que, como vimos acima, não contribuem para o serviço de predação neste tipo de culturas. Para estes efeitos, foi elaborada, com base na bibliografia técnica, uma lista exaustiva das pragas das principais culturas do Campo da Golegã e foi depois pedido a agricultores e técnicos locais, especialistas em cada cultura, que indicassem quais eram realmente as pragas que causavam dano significativo nas principais culturas da região. Com base nesta informação e seu cruzamento com o conhecimento dos grupos (ordens) de artrópodes geralmente predados por cada uma das 30 espécies de aves, foi possível estimar a percentagem daquela predação total que corresponde, de facto, ao serviço de predação das pragas mais relevantes (as que causam dano mais significativo às principais culturas do Campo da Golegã). Com base nesta percentagem e excluindo a ingestão de artrópodes das guildas (2) e (3) estimámos os seguintes valores médios que serão provavelmente mais próximos da realidade do serviço de predação de pragas pelas aves nesta região: - pontos de matriz agrícola próximos de EFAs arbóreas (pontos 3.A): 17 kg/ha/ano; - pontos de matriz agrícola longe de EFAs arbóreas (pontos 3.B): 11 kg/ha/ano. É assim possível concluir que o serviço de predação de pragas nos campos agrícolas da Golegã aumenta cerca de 55% na proximidade de EFAs arbóreas. Para interpretar estes valores do serviço, se considerarmos uma eficiência de cerca de 5-10% de conversão da biomassa vegetal em biomassa da praga, teremos que os multiplicar por 10 a 20 para obter as perdas de culturas evitadas em kg/ha/ano. Ou seja, por exemplo o valor médio de 17 kg/ha/ano de consumo de populações praga de artrópodes pelas aves corresponderá a uma redução média de perdas de biomassa da cultura de cerca de 170 a 340 kg/ha/ano. Estes valores devem ser vistos com cautela, dadas as múltiplas aproximações realizadas nos nossos cálculos e o facto de os danos à cultura dependerem de muitos outros fatores, incluindo a fase precisa do ciclo da cultura em que ocorrem. Apesar disso, eles constituem uma primeira base objetiva de resultados para valorar economicamente este serviço para diversas culturas. Além do acréscimo no serviço de predação de pragas, com valor económico direto para o agricultor, há ainda a considerar a redução do uso de pesticidas e o aumento muito significativo da biodiversidade à escala da paisagem que resultaria de um incremento de área de EFAs arbóreas. De facto, os nossos resultados indicam que essas EFAs não só têm mais diversidade de espécies (diversidade taxonómica) e de guildas (diversidade funcional) do que os campos agrícolas, mas também acrescentam espécies e guildas que não existem nesses campos. A diversidade taxonómica e sobretudo a diversidade funcional são geralmente bons indicadores da resiliência dos ecossistemas e das paisagens a perturbações, como as que decorrem das alterações climáticas. Promover as diversidades taxonómica e funcional pode ser uma excelente opção de adaptação às alterações climáticas, para que o ecossistema possa continuar a fornecer os mesmos serviços mesmo após a perturbação. Concluímos assim que os valores do serviço de predação de pragas das principais culturas do Campo da Golegã por aves são bastante significativos, que eles serão incrementados pelo aumento da presença de EFAs arbóreas no Campo da Golegã, e que este aumento contribuirá ainda para a resiliência deste e doutros serviços dos ecossistemas, num contexto de alterações climáticas, constituindo-se assim enquanto fator chave para a sustentabilidade agrícola da região.
NOTA: Este trabalho foi realizado no âmbito do projeto OPTIMUS PRIME FCT-PTDC/ASP-AGR/29771/2017 do Centro de Estudos Florestais, FCT (UID/AGR/00239/2019 e UIDB/00239/2020).


RESERVA DA BIOSFERA DO PAUL DO BOQUILOBO E PROJETO OPEXCATER Mais um passo na afirmação deste território
Cecília Baptista | Luís Santos | Luís Mota Figueira
CENTRO DE INVESTIGAÇÃO TECHN&ART INSTITUTO POLITÉCNICO DE TOMAR
Observar a Natureza foi sempre uma preocupação do ser humano em função da sua sobrevivência face ao meio natural onde se fixou. Todas as geografias do Mundo demonstram como os primeiros residentes se integraram de acordo com as possibilidades e os limites encontrados no seu processo de crescimento económico e desenvolvimento social. A figura das Reservas da Biosfera foi implementada pela UNESCO no sentido de se alcançarem soluções de utilização de diferentes zonas protegidas a nível mundial que permitissem conciliar a conservação da Natureza com o desenvolvimento sustentável dos ecossistemas ecológicos e sociais locais. Como muitos outros territórios, as Reservas da Biosfera necessitam de processos de observação que, quando bem estruturados, asseguram que as ações desenvolvidas naquelas áreas valorizam os recursos naturais e culturais desse território. Atento à envolvente regional, o IPT procura cooperar com diferentes stakeholders para benefício global. Neste pressuposto deu corpo ao Projeto Observatório - Parque Experimental de Conhecimento e Ação Territorial (OPExCATer) centrado na Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo através de um dos seus centros de investigação, o Centro Techn&Art - Centro de Tecnologia, Restauro e Valorização das Artes. A iniciativa do projeto coincidiu com a comemoração dos 50 anos da criação das reservas da Biosfera pela UNESCO (Fig. 1).

FIGURA 1 LOGOTIPO DA CELEBRAÇÃO DOS 50 ANOS DA CRIAÇÃO DAS RESERVAS DA BIOSFERA.
A génese deste Projeto assenta numa constatação já antiga do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e da Comissão de Cogestão da Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo (que o IPT integra enquanto membro do Conselho Estratégico e Conselho Consultivo). Foi identificada a necessidade de criação de um espaço de partilha do conhecimento que se gera sobre o local e que demonstre a sua biodiversidade. Esta ação de promoção da Reserva visa não só desta Reserva da Biosfera, pela Preservação do Património Cultural associado, pela Investigação, pela Gestão e Difusão do Conhecimento já existente e daquele que venha a ser criado. Foi estruturado em vários segmentos que, sem se pretender listar de forma exaustiva, compreendem: • A monitorização da qualidade ambiental e a salvaguarda do património natural; • A formação e capacitação de agentes territoriais para a valorização do território e a beneficiação das comunidades locais; • A sensibilização para as questões ambientais e de sustentabilidade; • A análise da evolução da procura turística do local, tratamento da informação de apoio à decisão e salvaguarda do património cultural do território;
melhorar o seu potencial de conservação, mas também aliá-lo ao desenvolvimento sustentável. Os objetivos fundamentais do projeto são a promoção da reflexão e sensibilização da comunidade sobre esta Reserva, a criação de um espaço físico de análise multidisciplinar e a sistematização e divulgação do conhecimento, contribuindo assim para a visibilidade e divulgação da Reserva (Fig. 2). As vertentes do Projeto espraiam-se pelo Património Natural envolvido, pela Qualidade Ambiental, pelas peculiaridades

FIGURA 2 OBJETIVOS DO PROJETO OPEXCATER.
• A criação de novas formas de interação com a comunidade na procura do equilíbrio entre o espaço natural e a sociedade; • A produção e disseminação de materiais visando a aplicação de boas práticas ambientais e culturais; • A divulgação do conhecimento científico, através de eventos à escala local e internacional. Neste sentido, o Projeto conta com uma vasta equipa, repartida por diferentes áreas do saber, desde o Ambiente e Sustentabilidade, à Ecologia e Química, à Tecnologia e Engenharias, às Ciências Sociais e ao Turismo. Terá contributos de uma equipa interna, que sempre enquadrará os inputs da equipa externa constituída maioritariamente por entidades nacionais, mas que conta também com a parceria da AGH Universidade de Ciência e Tecnologia de Cracóvia - Polónia. O projeto iniciou-se no passado mês de setembro e terá a duração total de dois anos, contemplando sete tarefas (Fig. 3).

FIGURA 3 TAREFAS DO PROJETO.
Pretende-se que neste período de desenvolvimento, o Projeto permita a criação de dois polos distintos (Fig. 4).
Após a análise das expectativas de funcionamento, da definição do conceito, missão e valores, pretende criar-se um plano estratégico e um regulamento funcional para o Observatório OPExCATer. Deverão, nessa altura, ser estruturadas as funcionalidades de Serviços de Ecossistema, Monitorização Ambiental, Turismo e Acervo do Conhecimento. Para a definição do espaço físico de implantação do Observatório OPExCATer será indispensável a participação das autarquias parceiras de Torres Novas e da Golegã. As atividades experimentais em turismo e revalorização das artes e ofícios terão uma importância fundamental no Pro-

FIGURA 4 TAREFAS DO PROJETO. PAUL DO BOQUILOBO

Foto Carlos Paula Simoes
jeto, privilegiando o diálogo entre o Centro de Investigação Techn&Art, o Museu Agrícola de Riachos, as tutelas ministeriais e o ICNF, bem como outras associações agrícolas e culturais que connosco queiram abraçar este desafio. Serão abordadas três vertentes específicas do Turismo: o Turismo e a Conservação da Biodiversidade (incluindo o turismo escolar e científico); o Turismo e Desenvolvimento Económico (valorizando os recursos endógenos locais) e o Turismo e a Sustentabilidade (Agenda 2030 e a estratégia “Turismo + Sustentável”). Pretende-se revalorizar as técnicas artesanais como marca etnográfica da Reserva, resgatar os saberes/oralidades com fixação em suportes multimédia e implementar ações experimentais de turismo científico, para a promoção da interação entre residentes e visitantes. Nesta lógica, o envolvimento da comunidade local dos dois municípios, da Ongatejo e, naturalmente, de outros atores territoriais identificados com o objetivo do projeto, serão uma mais-valia para a criação de mais literacia ambiental e patrimonial. As tarefas ligadas à Monitorização Ambiental pretendem prosseguir os estudos já iniciados de avaliação da vegetação e qualidade dos habitats na área da Reserva Natural, utilizando ferramentas como os SIG e o software InVEST, passando pela recolha e tratamento de ortofotomapas, imagens de satélite e trabalho de campo. Serão criadas séries temporais de dados, realizados cálculos de índices específicos e aplicados modelos para análise de ameaças e sensibilidade de habitats, considerando cenários futuros (evolução natural, negócios, alterações climáticas). Será ainda desenvolvida uma pesquisa sobre plataformas móveis para análise e depuração de águas paradas que se pretende que culmine com o desenho do modelo e construção de um protótipo e testes in situ. A equipa do projeto aposta fortemente na concretização de um portal para a disseminação de informação, implicando a formação de usuários, o carregamento de dados e a realização de suportes e ações promocionais do Observatório. Como etapa final do projeto pretende alargar-se o conceito do OPExCATer no sentido de encetar a criação de uma rede de observatórios congéneres, aplicável a outras geografias, com vista à transferência de conhecimento numa perspetiva de desenvolvimento sustentável numa escala superior.
Ivã Lopes ENTOGREEN
FERTILIZANTES ORGÂNICOS DE INSETOS
Uma solução sustentável para nutrir o solo e as plantas
Os setores responsáveis pela produção agroalimentar europeia reinventam-se ano após ano, estimulando o desenvolvimento de novos negócios e a adoção de práticas mais sustentáveis. A EntoGreen, marca da Ingredient Odyssey S.A., encontra-se neste contexto de inovação, pois oferece uma alternativa sustentável para o tratamento e conversão de subprodutos vegetais da agroindústria em produtos de alto valor acrescentado, como o fertilizante orgânico de insetos, conhecido por insect frass. Esses subprodutos que antes seriam descartados são agora rapidamente transformados pela mosca soldado negro (Hermetia illucens) e de forma eficiente e sustentável. Ao longo dos últimos sete anos, a EntoGreen vem desenvolvendo e aprimorando esta tecnologia, com especificidade para subprodutos orgânicos abundantes em Portugal, como por exemplo o bagaço de azeitona, oriundo da produção de azeite, mas também subprodutos hortícolas. Assim, a partir de subprodutos locais e com recurso a um processo sustentável, a EntoGreen promove a economia circular no setor agroalimentar, produzindo um fertilizante orgânico rico em nutrientes para as plantas e solo. O fertilizante orgânico de insetos produzido pela EntoGreen é um produto com grande quantidade de matéria orgânica, mais de 75%, que permite um aumento significativo da capacidade de retenção de água em solos agrícolas, elevando sua resistência à seca. O fertilizante é ainda rico em nutrientes essenciais como o azoto, fósforo e potássio (NPK), promovendo também o desenvolvimento de microrganismos benéficos que estimulam as atividades biológicas do solo, além de outros compostos que protegem as plantas contra doenças, como a quitina. Além disso, é um produto rico em micronutrientes como cálcio, magnésio, cobre e zinco, e pode atender a demanda de diferentes culturas agrícolas. Este fertilizante já foi testado com sucesso em culturas como o tomate, a batata e a alface, e seus efeitos benéficos foram comprovados, como estímulos ao crescimento das plantas, altas produtividades de frutos e aumento da qualidade microbiológica do solo. No entanto, a EntoGreen é uma empresa dinâmica que conta com a colaboração de uma equipa multidisciplinar de técnicos e investigadores, estando sempre abertos a fazer novos testes em diferentes culturas, estando previstos ensaios para os próximos meses, junto de diferentes parceiros e no âmbito de diferentes projetos, tanto em condições laboratoriais quanto em condições de campo. No âmbito deste caráter sustentável de transformar subprodutos diversos em produtos de alto valor acrescentado, a EntoGreen tem em curso um projeto com diferentes parceiros portugueses, tais como a Universidade de Aveiro, o IPBeja, o INIAV, a Universidade Lusófona, o Instituto Superior Técnico e a Agrotejo, para investigar a possibilidade de valorização de águas residuais com recurso a um novo processo de tratamento, contribuindo para o desenvolvimento do setor agroalimentar no qual as águas residuais, dos efluentes pecuários aos agroindustriais, podem ser valorizadas em águas de rega. O projeto NETA - Novas Estratégias no Tratamento de Águas Residuais (POCI-01-0247-FEDER-046959), já está a ser desenvolvido pela sua equipa técnico-científica no âmbito do programa Portugal 2020, e tem como parte de seus objetivos difundir novas tecnologias de tratamento de águas residuais e reaproveitar os nutrientes presentes para a nutrição vegetal, criando novos fertilizantes orgânicos e reutilizando as águas. Estas águas residuais serão tratadas por uma tecnologia inovadora de precipitação química, a qual resulta na geração de lamas. Essas lamas geradas pelos processos de tratamento das águas residuais, serão utilizadas como substrato para a produção de larvas da mosca soldado negro (a serem utilizadas em testes na alimentação de peixes), e fertilizantes orgânicos para aplicação na agricultura. Esperamos atingir bons níveis de desenvolvimento tecnológico no que diz respeito ao reaproveitamento dos nutrientes oriundos das águas residuais, resíduo este altamente contaminante para o meio ambiente. Essa valorização de subprodutos agroindustriais é uma necessidade urgente para a promoção de um setor agrícola com uma produção mais eficiente e consequentemente mais sustentável. Nesse sentido, a transformação desses subprodutos em fertilizantes orgânicos e a sua aplicação nos solos representam uma grande oportunidade de elevar o caráter sustentável da produção agrícola nacional, recuperando solos e reduzindo emissões de carbono. Quer saber mais sobre as tecnologias desenvolvidas pelo projeto NETA procure-nos em www.projeto-neta.pt e fique por dentro de tudo.




Pedro Santos
DIRETOR-GERAL DA CONSULAI
A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR NO SETOR AGRÍCOLA “PAC4ALL” para crianças
A campanha sobre a política agrícola comum, agricultura e alimentação
Com o avançar dos anos, o setor agrícola tem vindo a modernizar-se, recorrendo a novas tecnologias que permitem uma atividade agrícola mais eficiente e sustentável, contribuindo também para o combate às alterações climáticas, para o desenvolvimento das áreas rurais, para a proteção da biodiversidade, entre outros. Esta evolução e adaptação do setor passa despercebida à maioria da população que vive nas zonas citadinas dos países europeus, o que leva a uma perceção antiquada e desatualizada do setor agrícola. Esta perceção e desinformação por parte da sociedade representa um problema para o setor, e a solução passa por comunicar cada vez mais, de forma assertiva e eficaz. O setor agrícola é, muito provavelmente, o setor com maior importância e impacto territorial, mas é também o que menos comunica para a sociedade. E porquê? A resposta não é clara. O que é claro é o que pode ser feito para mudar isso.
UM BOM EXEMPLO
Um bom exemplo do que pode ser feito para mudar este paradigma, é o projeto “PAC4ALL” liderado pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). Uma campanha nacional de informação, lançada no Dia Mundial da Alimentação deste ano, pensada especificamente para crianças dos 6 aos 12 anos e para os seus professores. Esta campanha, com toda a sua estratégia pensada e definida, tem como objetivo informar a população portuguesa – especialmente as crianças e os professores – sobre a importância da Política Agrícola Comum (PAC) e da agricultura para a sociedade. A Política Agrícola Comum (PAC) é percecionada pela sociedade como uma política estritamente benéfica para os agricultores, mas a realidade é que foi criada em 1962 para garantir que todos os cidadãos europeus tinham comida no prato. Devido às reformas que tem vindo a sofrer nos seus 59 anos de existência, a PAC contribui hoje para outras áreas de grande importância para todos, como por exemplo o combate às alterações climáticas, o desenvolvimento das zonas rurais, a proteção dos animais e da biodiversidade, entre outras. A campanha PAC4ALL terá uma atuação a nível nacional e procura alcançar crianças, professores, agricultores e os agentes do AKIS (Agricultural Knowledge and Innovation Systems) nacional, adaptando a comunicação a cada grupo-alvo, de forma a garantir o maior impacto possível em cada um deles.
AS CRIANÇAS
Toda a comunicação direcionada às crianças foi pensada para ser didática e de simples compreensão. A CAP criou uma mascote denominada de “PAC” – uma personificação da Política Agrícola Comum – para simplificar a abordagem das medidas de política, permitindo que as mesmas sejam transmitidas na primeira pessoa. A mascote será a personagem principal desta ação, a porta-voz de todo o conteúdo direcionado aos mais
novos. Será a estrela principal de inúmeros conteúdos em formato físico e digital que procuram aproximar as crianças das principais vantagens da PAC e do mundo rural. Dos conteúdos a produzir destaca-se uma caderneta de cromos que será distribuída numa das maiores insígnias de grande distribuição em Portugal, e cujo tema será a origem de alguns dos alimentos que consumimos diariamente; uma série de 13 vídeos transmitidos num dos canais da televisão portuguesa, abordando a origem de alguns dos alimentos que consumimos diariamente de uma forma mais explicativa, alongada e divertida; jogos didáticos onde as crianças podem aprender e divertir-se ao mesmo tempo. Além dos conteúdos enumerados anteriormente, a CAP ainda desenvolveu um website onde se pode encontrar informações sobre o projeto e sobre a história da PAC; os 13 vídeos que serão transmitidos na televisão; uma área destinada a professores, pais ou encarregados de educação com informações sobre o projeto e sobre a PAC, bem como um acesso direto às newsletters do projeto. Para complementar a ação de comunicação, a mascote PAC visitará muitas escolas em todo o país, e irá organizar visitas de algumas escolas a explorações agrícolas, de forma a aproximar as crianças das melhores práticas agrícolas, dando-lhes a possibilidade de conhecer, in loco, como são produzidos os alimentos que diariamente lhes chegam ao prato. OS PROFESSORES
A campanha é focada nos mais novos, mas não seria possível concretizá-la sem os professores. E é por isso que foram previstas algumas ações especificamente direcionadas para estes, de forma a cativá-los a ser um dos agentes chave nesta campanha. Neste sentido, a CAP preparou atividades de informação dedicadas aos professores, desenvolveu materiais lecionáveis para as crianças, que ficarão à disposição dos professores para que as possam utilizar nas suas aulas, fazendo assim parte deste projeto. Esta é uma campanha que não deixa ninguém de fora, e que conta com a ajuda de todos.
A IMPORTÂNCIA DE COMUNICAR
Comunicar o setor agrícola é cada vez mais essencial para o desenvolvimento de uma sociedade equilibrada e para a reputação do próprio setor. O setor está cada vez mais ligado a matérias de grande importância para toda a sociedade, e isso não pode passar ao lado de ninguém. Comunicar é essencial para o sucesso do setor agrícola, e é necessário começar já. A campanha PAC4ALL dará o seu contributo!
Sigam-nos nas nossas redes sociais – Twitter e Instagram – e acompanhe de perto a campanha PAC4ALL.
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João Falcão | Ana Marques | Manuel Camacho | Bruno Simões Hugo Lopes | Ricardo Madeirao
Controlos por monitorização
Na sequência das recomendações apresentadas pela Comissão Europeia para a adoção de novas tecnologias no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC), o IFAP,I.P. decidiu, na presente campanha, proceder ao controlo por monitorização das ajudas definidas como prémios específicos ao arroz e/ou ao tomate, pondo em prática os trabalhos de investigação sobre detecção automática de culturas que têm vindo a ser efectuados nos últimos anos em colaboração com a Faculdade de ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). A monitorização consiste num processo automático e sistemático de controlo da declaração dos agricultores. Esse processo baseia-se em algoritmos de inteligência artificial de classificação e análise de séries temporais de imagens de satélite. Esta tarefa está a ser realizada com dados resultantes dos satélites Sentinel do Programa Copernicus da Agência Espacial Europeia (ESA), mais concretamente com o Sentinel 2, o que permite a disponibilização de dados com elevada periodicidade, facilitando assim o acompanhamento do conjunto das superfícies agrícolas dos estados-membros. Perante a abundância de dados proporcionada pelo Programa Copernicus, o IFAP passou a proceder à sua recolha e tratamento de forma sistemática e automatizada, de forma a validar os dados declarados pelos agricultores nos seus pedidos únicos, ou seja, verificar o cumprimento das condições de elegibilidade, requisitos e demais obrigações, substituindo os atuais controlos no local por controlos por monitorização. Os resultados desta análise irão traduzir-se na atribuição de semáforos a todas as superfícies candidatas ao Prémio Específico, a saber: “Verde” – Conforme, “Amarelo” – Inconclusivo e “Vermelho” - Não Conforme. Na validação dos resultados da classificação automática, o IFAP contou com a colaboração de agricultores, Direções Regionais de Agricultura e Pescas e Associações de Agricultores, que voluntariamente forneceram de forma regular fotografias georrefenciadas de parcelas com arroz ou tomate e que serviram para efectuar o acompanhamento da cultura no terreno e assim validar os resultados do algoritmo de classificação. A fim de se proceder ao correto pagamento dos prémios, perante a existência de parcelas com semáforo “amarelo” ou “vermelho”, ou seja, parcelas onde foram suscitadas dúvidas aquando do processamento e análise dos dados, o IFAP desencadeou um processo de notificação dos respectivos beneficiários. Sempre que um agricultor seja notificado da existência de uma dúvida numa parcela candidata a apoio, ou seja, da existência de um semáforo “Amarelo” ou “Vermelho”, deverá fornecer ao IFAP elementos de prova que confirmem os requisitos para a atribuição do apoio. Para tal deverá recorrer à aplicação para dispositivos móveis do IFAP (APP IFAP Mobile) de forma a enviar ao IFAP fotografias georrefenciadas das folhas da cultura candidata, permitindo atestar a existência da cultura, requisito essencial à atribuição do apoio. As fotografias obtidas através da aplicação (APP) IFAP Mobile consistem no meio mais eficaz, uma vez que as fotografias são enviadas de forma imediata para os sistemas do IFAP e, devido aos seus requisitos (fotografias com georreferenciação), são consideradas como elemento de prova neste procedimento. Após a classificação e atribuição dos semáforos, o IFAP efectua o acompanhamento das parcelas inconclusivas, sendo que, nesta tarefa está a recorrer a toda a informação disponível, designadamente as fotografias fornecidas pelos agricultores, os ortofotomapas de 2021, dados de campo ou imagens de satélite (esta fase do processo está a decorrer presentemente). As inspeções físicas no terreno só deverão ser efectuadas em último recurso, ou seja, se os elementos de prova recolhidos com recurso à aplicação – APP IFAP Mobile não conduzirem a resultados conclusivos ou o IFAP antecipar que nenhum dos

QUADRO 1 RESULTADOS DA CLASSIFICAÇÃO AUTOMÁTICA PARA OS POLÍGONOS CANDIDATOS AOS PRÉMIOS
elementos de prova seja eficaz para efeitos do controlo do cumprimento das condições de elegibilidade, requisitos e demais obrigações. Os agricultores já podem consultar na área reservada da página da internet do IFAP os relatórios contendo os resultados do controlo por monitorização. Com a execução do algoritmo de classificação realizada em setembro de 2021 (utilizando imagens de satélite entre abril e setembro, com periodicidade de cinco dias) foram classificados 12. 705 polígonos declarados com arroz e 3.128 polígonos declarados com tomate para indústria, sendo que foram logo classificados como conformes (“verdes”) cerca de 86% dos po-

IMAGEM 1 INTERFACE DO SISTEMA DO IFAP IMAGEM 2 POLÍGONO DE OCUPAÇÃO DO SOLO DECLARADO COM TOMATE SOBRE IMAGEM DE SENTINEL 2 (FALSA COR COM INFRAVERMELHO)

lígonos de arroz e 95% dos polígonos de tomate para indústria. Os resultados encontram-se no quadro 1. Quando terminar o controlo por monitorização referente a 2021, será necessário efectuar um balanço dos trabalhos, de forma a reflectir sobre as melhorias a introduzir em todo o processo. No entanto, e apesar de ainda não estar finalizado, é já possível identificar alguns aspectos a melhorar no futuro: 1. Será necessário criar condições para que todos os agricultores tenham e-mail para que sejam alertados de forma mais célere sempre que é necessária a sua intervenção; 2. As folhas agrícolas devem ser delimitadas com maior rigor, sendo que as imagens atualizadas do Sentinel 2 poderão, em alguns casos contribuir para despistar erros da sua delimitação, conforme se pode observar na imagem 2. Na imagem 1 é exibido um polígono de ocupação do solo declarado no Pedido Único de 2021 com tomate, sobre uma imagem Sentinel 2 (de 21 de setembro de 2021), na sua composição de falsa cor com infravermelho. Através de análise visual, é possível concluir que a folha da cultura não foi delimitada correctamente, sendo que o polígono declarado com tomate inclui parte da folha de milho adjacente. Apesar de ainda ser cedo para efectuar um balanço da tarefa, as primeiras conclusões apontam para que esse balanço seja positivo e que este método de controlo poderá ser bastante útil no futuro. Porém, será necessário identificar cuidadosamente as fragilidades e melhorar alguns aspectos dos vários componentes do sistema, nomeadamente para que a interacção seja mais fácil para todos os intervenientes.
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Mafalda Carneiro | António Mantas
KIWA SATIVA
A 15 de junho de 2018 foi publicada a segunda grande alteração à regulamentação europeia para os produtos biológicos, o Regulamento (UE) 2018/848. Anunciado para 2021, este novo regulamento entrará em vigor no dia 1 de janeiro de 2022 e revoga o actual Regulamento (CE) n.º 834/2007. Os objetivos e princípios são os mesmos que estiveram na origem da primeira regulamentação e que são a base do sector da agricultura biológica em todo o mundo. No entanto, surgem alguns conceitos e termos novos ou que estão atualmente de forma menos evidente, como: - Contribuir para a protecção do ambiente e do clima e para um ambiente não tóxico; - Dar preferência a circuitos curtos e às
produções locais; - Incentivar a conservação das raças raras e autóctones; - Contribuir para o desenvolvimento da oferta de material genético vegetal adaptado às necessidades da agricultura biológica; - Respeito pelos sistemas e ciclos da natureza; - Preservação de elementos da paisagem natural, como os sítios de património natural; - Utilização responsável da energia e de recursos como a água, os solos, a matéria orgânica e o ar; - Produção de uma ampla variedade de produtos de elevada qualidade que respondam à procura, por parte dos consumidores, de bens produzidos por processos que não sejam nocivos
para o ambiente, a saúde humana, a fitossanidade ou a saúde e o bem-estar animal; - Salvaguarda da integridade da produção biológica em todas as fases de produção, transformação e distribuição dos géneros alimentícios e dos alimentos para animais. As, aparentemente, pequenas alterações introduzidas no texto do novo regulamento, que podem mesmo passar despercebidas na leitura, são, no entanto, o reflexo da evolução do sector nos últimos 10 anos, nomeadamente a procura por parte de um número crescente de consumidores e a necessidade de evidenciar que o sistema de controlo implementado é robusto de forma a transmitir confiança aos consumidores. Procura-se ainda garantir a concorrên-
cia leal entre os produtores. Os envolvidos no sector da agricultura biológica reconhecem que a evolução do referencial, desde a primeira publicação em 1991, tem sido no sentido de uma maior exigência. A revisão do regulamento ainda em vigor teve início em 2011, seguindo-se anos de propostas, negociações e mais propostas. Estão ainda por publicar algumas regras específicas, processo que tem de estar concluído antes de 1 de Janeiro de 2022. Apresentam-se as principais alterações trazidas pelo Regulamento (UE) 2018/848 relativamente ao referencial em vigor. O âmbito base de aplicação do referencial europeu da agricultura biológica é o mesmo. Aplica-se a produtos provenientes da agricultura, incluindo a aquicultura e a apicultura, nomeadamente: a) Produtos agrícolas vivos ou não transformados, incluindo sementes e outro material de reprodução vegetal; b) Produtos agrícolas transformados destinados a serem utilizados como géneros alimentícios; c) Alimentos para animais. No entanto, são agora incluídos outros produtos, referidos como estreitamente ligados à agricultura: - Leveduras: já consideradas no atual referencial. - Mate, milho doce, folhas de videira, palmitos, rebentos de lúpulo e outras partes semelhantes comestíveis de plantas e de produtos deles derivados:
Sendo produtos agrícolas estavam também já abrangidos pelo atual referencial, os produtos processados deles derivados que não são destinados à alimentação humana ou animal é que estavam excluídos do âmbito. - Óleos essenciais e preparações tradicionais à base de plantas: Estes produtos dão actualmente aso a diferentes interpretações entre Estados-membro quanto à inclusão no âmbito do referencial em vigor, o que leva a concorrência desleal entre os operadores do sector. - Algodão e lã não cardados nem penteados e peles em bruto e não tratadas: No estado não processado tam-
bém podem ser considerados como fazendo já parte do âmbito, embora a interpretação possa não ser feita da mesma forma por todo o sector, passando assim a ficar clarificado. - Casulos de bicho-da-seda próprios para fio e gomas e resinas naturais. - Cera de abelhas: passará a ser possível existir um certificado que inclua as folhas de cera como produto biológico o que facilitará o controlo da origem da cera utilizada pelos apicultores (que tinha já a obrigatoriedade de ser biológica). - Rolhas de cortiça natural, não aglomerada e sem aglutinantes: A comercialização de rolhas de cortiça biológica permitirá valorizar este produto tão importante para a preservação dos ecossistemas de montado; rolhas de cortiça biológica associadas ao mercado de vinhos biológicos serão, sem dúvida, produtos biológicos com grande potencial de desenvolvimento. - Sal marinho e outros sais para géneros alimentícios e alimentos para animais:
O sal, produto “menos agrícola” consiespecíficas de produção para coelhos e para cervídeos. As operações de restauração colectiva continuam a não estar abrangidas directamente pelo regulamento, mantendo-se a possibilidade de aplicação pelos Estados-membro de regras nacionais ou normas privadas, como acontece em Portugal (nomeadamente com o referencial da Kiwa Sativa - BIOTUR. Por este motivo, o logótipo da produção biológica da UE continua a não poder ser utilizado na rotulagem, na apresentação nem na publicidade desses produtos, nem na publicitação dos estabelecimentos de restauração coletiva As regras de produção estão nos artigos e num anexo específico: Anexo II – Regras de produção pormenorizadas referidas no Capítulo III. Estão já publicados alguns atos delegados e de execução, com regras de produção a observar, esperando-se que até final do ano se conclua a publicação. A possibilidade dos Estados-membro definirem regras de produção específicas mais restritivas apenas poderá

derado no âmbito, é também um produto importante para Portugal. Apesar de não se conhecerem ainda as regras específicas para o sal biológico, é de admitir que possam ter muito em comum com o modo tradicional de obtenção de sal. Este sal, que pode já ser certificado de acordo com um referencial privado de sal tradicional, como o “Referencial
Kiwa Sativa para o Sal Marinho Tradicional”, poderá também vir a ser certificado como sal biológico. Além dos novos produtos referidos destaca-se também a inclusão de regras ocorrer se estas regras existirem também na produção convencional. As alterações são poucas e referem-se as mais significativas relativamente às regras em vigor: - Maior reforço da importância das culturas biológicas serem produzidas num solo vivo, solo que deve estar em ligação com o subsolo e com o substrato rochoso. Estão, no entanto, definidas derrogações a este princípio para a obtenção de germinados por humidificação das sementes e obtenção de endívias em água e para o

cultivo de plantas aromáticas e ornamentais em vaso para venda ao consumidor final. - Alterações importantes relacionadas com a utilização de sementes que visam promover o desenvolvimento da oferta de material genético adaptado às necessidades e objectivos específicos da agricultura biológica, como a possibilidade de serem utilizadas sementes com elevado grau de heterogeneidade que não cumprem critérios da legislação geral (sementes não certificadas) e a possibilidade de os agricultores transaccionarem sementes próprias. - Estão mais claros diversos aspectos relacionados com a utilização de factores de produção, como a possibilidade de serem utilizados produtos e substâncias para fins diferentes dos abrangidos pelo Regulamento, desde que a utilização respeite os princípios nele enunciados e a utilização de agentes sinérgicos, adjuvantes e outros em produtos fitofarmacêuticos. Na rotulagem será possível identificar a proveniência dos ingredientes de origem agrícola não só como sendo da União Europeia ou de países terceiros ou de determinado Estados-membro, mas também de determinada região. Passam também a poder ser vendidos como “em conversão” material de propagação vegetativa e alimentos para animais e os alimentos para animais apenas poderão ser rotulados como biológicos se pelo menos 95%, em peso, dos ingredientes agrícolas forem biológicos. O controlo efetuado no âmbito do referencial europeu da agricultura biológica passa a ter uma maior ligação ao sistema de controlos oficiais de géneros alimentícios e alimentos para animais (Regulamento (UE) 2017/625). É reforçado o conceito do controlo ser feito com base numa análise de risco. Todos os operadores continuam a ter que ser controlados pelo menos uma vez por ano mas passará a ser possível que determinados operadores de baixo risco tenham apenas um controlo no local em cada 24 meses. Surge a possibilidade de certificação de grupo para agricultores que façam parte de grupos com um sistema de qualidade auditável, em que é emitido apenas um certificado que cobre todos os membros do grupo e os produtos obtidos só podem ser comercializados através do grupo. Poderão ser importados produtos de países terceiros se existir um acordo entre a UE e esses países (como actualmente) ou se a certificação for feita por um organismo de controlo autorizado para tal. Deixa de haver a possibilidade de considerar a importação de produtos que são obtidos de acordo com referenciais considerados equivalentes; assim, os produtores de países terceiros têm também que cumprir o regulamento europeu. Espera-se que este novo regulamento contribua para o reforço e desenvolvimento da agricultura biológica, mantendo sempre os princípios que estão na origem deste modo de produção.
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Miguel Reis AGROMAIS PLUS/PLUS ALQUEVA
O mercado atual dos fertilizantes – algumas reflexões
Os preços do gás, eletricidade e petróleo estão a provocar, nos últimos meses, uma forte crise entre os fabricantes mundiais de fertilizantes. Várias companhias estão a reduzir a sua produção vendo-se incapazes de assumir os custos das tarifas atuais de energia. Estamos a assistir ao encerramento de diversas fábricas, sobretudo na Europa e cortes sucessivos de produção noutras, face ao aumento exponencial dos custos energéticos e de transporte. Esta redução da oferta conjugada com um aumento da procura com a retoma da economia mundial pós-pandemia, projetou os preços dos fertilizantes, à escala global, para níveis nunca vistos. As cotações dos fertilizantes ao nível mundial já apresentavam valores bastantes altos, quer pelo reflexo das boas colheitas de 2020, quer como consequência de um conjunto de fenómenos naturais que assolaram algumas das mais importantes regiões agrícolas mundiais, como foi o caso do furacão Ida nos Estados Unidos e as cheias na China, mas este aumento brutal dos custos energéticos fez disparar os respectivos preços nos últimos meses. O fosfato de amónio, por exemplo, atingiu o seu nível mais elevado desde 2008, aproximando-se dos 1.000 USD/ton., bem como a ureia, produzida a partir de azoto, com níveis de preços inimagináveis por qualquer analista há uns meses. Uma escalada dos preços dos fertilizantes e uma possível situação de falta de oferta ou até ruptura na cadeia de distribuição, ameaça a indústria alimentar e a economia em geral, acarretando um impacto direto no rendimento do produtor pelo evidente aumento da respectiva conta de cultura. Portugal não é exceção neste contexto mundial e temos vindo a assistir, nos últimos meses, a subidas progressivas e quase diárias do custo deste fator de produção, estando neste momento, confrontados com situações de aumentos em mais de 100% nos principais fertilizantes utilizados bem como alguma escassez de oferta em virtude da contenção na produção e importação dos diversos players existentes no mercado nacional. A título de exemplo, o preço dos nitro-amoniacais subiu cerca de 110% no último trimestre. O 18.46.0 com 70% de aumento e a ureia com 81% seguem na mesma linha. As perguntas que se impõem face à conjuntura atual não poderão deixar de ser: “Esperar para comprar?” “Comprar já face às subidas sucessivas e perspetivas de potencial escassez?” Os diversos analistas têm sido muito cautelosos na resposta a estas perguntas bem como no delinear de cenários futuros e na antecipação de uma data para uma possível inversão de tendência ao nível dos preços. Contudo, parece-nos que existe uma unanimidade geral no reconhecer que esta tendência se irá manter nos próximos meses, sendo que os analistas mais otimistas perspetivam alguma estabilização de preços potenciais recuos a partir da Primavera de 2022 enquanto outros, mais céticos, não acreditam na inversão deste movimento inflacionário antes de meados do próximo ano, já não a tempo de beneficiar as contas de cultura de Primavera do hemisfério Norte. Vivemos tempos extraordinários pelo que, muitas vezes a realidade vai ao arrepio das regras de mercado há muito estabelecidas. Vivemos tempos em que simples movimentações regionais, anteriormente vistas como pouco importantes, hoje provocam reações em cadeia no mercado mundial, difíceis de prever. Em conclusão, manda a prudência que a opção não possa ser outra que não a de dividir o risco, comprar em diversos momentos para tentar estabilizar os preços médios e garantir disponibilidades, estando atentos ao momento de viragem, quando e como ele vier a acontecer.





Persistente colocar na gráfica




Mark Jeschke
CROP FOCUS
Considerações sobre a avaliação e necessidade de ressementeira em campos de milho

Alguns dos fatores de stresss capazes de reduzir a densidade de plantas na cultura do milho, são: • solos frios ou húmidos • ataque de insetos • condições climatológicas desfavoráveis
CONTAGEM DE PLANTAS
• Realizar várias contagens em zonas representativas do campo. • Determinar um comprimento de linha correspondente a 10 m2. • Marcar a distância indicada tendo em atenção o distanciamento da entre-linha, contar o número de plantas viáveis e multiplicar por 1000 a fim de obter uma estimativa do número de plantas/ha. • Em situação de danos por inundação, por vezes, apenas uma parte do cam-
po necessita ser considerada para ressementeira. • As geadas ou o granizo podem danificar áreas significativas. Nesses casos, a densidade e a sanidade das plantas devem ser avaliadas em todo o campo. • Quando ocorrem danos por geada ou granizo, é conveniente aguardar alguns dias para avaliar consistentemente a capacidade de recuperação das plantas e determinar quais as medidas adequadas a tomar em função da evolução registada. A contagem de plantas deve ser feita de forma aleatória em toda a área do campo que se considera ressemear. Isso poderá incluir todo o campo ou apenas uma área limitada onde ocorreram os danos.
Depois de avaliar o conjunto de plantas em zona afetada é importante considerar outros fatores, como: • Se as quebras estão distribuídas uniformemente ou existem grandes espaçamentos e irregularidades na distribuição das plantas? • Se a cultura terá um número adequado de plantas para ajudar no controle das infestantes e na eficiência da rega? • Se a ressementeira resultará num benefício econômico para o agricultor? • Se as plantas existentes estão em bom estado sanitário e relativamente uniformes no seu estado fenológico?

RENDIMENTO POTENCIAL DA ÁREA A RESSEMEAR
O rendimento espectável da cultura na zona afetada e com défice de plantas deve ser comparado com o rendimento poten-

O TECIDO MOLE E TRANSLÚCIDO, PERTO DO MERISTEMA OU PONTO DE CRESCIMENTO, INDICA QUE A PLANTA DIFICILMENTE RECUPERARÁ.
O CRESCIMENTO DO TECIDO VERDE, JUNTO AO MERISTEMA OU PONTO DE CRESCIMENTO, INDICA QUE A PLANTA ESTÁ EM FASE DE RECUPERAÇÃO!
cial da cultura após a ressementeira dessa mesma área. Outros fatores a considerar • Distribuição de plantas: Uma zona heterogénea renderá menos que uma zona relativamente homogénea com o mesmo número de plantas. • Sanidade das plantas: as plantas que estão com graves lesões ou desfolhadas terão uma capacidade fotossintética reduzida e um menor potencial de rendimento. • O rendimento do milho é fortemente condicionado pela densidade de plantas da parcela e pela uniformidade da sua distribuição. • A variação no porte das plantas pode ter um significativo impacto negativo no rendimento final. • As plantas com emergência ou desenvolvimento retardado estão em desvantagem competitiva com as plantas de maior porte na parcela e terão uma área folear, biomassa e rendimento mais reduzidos.
RENTABILIDADE DA RESSEMENTEIRA
O objetivo da ressementeira é aumentar o rendimento superando os custos associados à operação, tais como: • Custos adicionais de herbicidas e operações de mobilização de solo e preparação de cama de sementeira. • Custos de sementeira. • Aumento das despesas de secagem do grão. • Considerar igualmente os seguintes fatores na decisão de ressemear: • Probabilidade de una geada outonal antes da maturação fisiológica do milho ressemeado nas zonas mais frias. • Maior suscetibilidade do milho, em sementeiras tardias, a doenças e pragas em particular as brocas.
SELEÇÃO DO CICLO MAIS ADEQUADO ÀS SEMENTEIRAS TARDIAS DO MILHO
Uma pergunta frequente relacionada com a ressementeira do milho, é como ter a segurança de semear uma variedade de milho durante a campanha e ter a garantia desta alcançar naturalmente a maturação fisiológica. Ao ponderar que híbrido ressemear, ter em consideração a acumulação de GDU (dias graus de crescimento) entre a data de sementeira e a data previsível das primeiras geadas ou abaixamento critico das temperaturas e os requisitos de GDU do híbrido para alcançar a maturação fisiológica! A investigação demonstrou que o milho pode ajustar o seu crescimento e desenvolvimento, exigindo menos unidades de grau de crescimento (GDU’s) para alcançar a maturação fisiológica em final de campanha na presença de con-
TABELA 1 POTENCIAL DE RENDIMENTO PARA O SEGUINTE INTERVALO DE DATAS DE SEMENTEIRA E DENSIDADE FINAL DE PLANTAS.
(FONTE: EMERSON NAFZIGER, ERIC ADEE, Y LYLE PAUL, UNIV. DE ILLINOIS)
FIGURA 1 POTENCIAL DE RENDIMENTO EM CULTURAS DE MILHO COM DESENVOLVIMENTRO LENTO E HETEROGÉNEO.
FIGURA 2 ESTE GRÁFICO MOSTRA O RENDIMENTO RELATIVO DOS HÍBRIDOS DE CICLO MÉDIO-LONGO, CICLO MÉDIO E CICLO PRECOCE EM 29 AMBIENTES DA ZONA CENTRO-NORTE DO CINTURÃO DO MILHO (CORN BELT) DURANTE 17 ANOS DE INVESTIGAÇÃO PIONEER.
dições insuficientes. O milho semeado tardiamente mostrou uma redução das exigências de GDU’s de aproximadamente seis GDU por dia de atraso na sementeira. Os resultados indicam que o agricultor poderá considerar a opção de um híbrido de ciclo médio se ressemear após 17 de Maio ou por um híbrido de ciclo curto ou precoce se ressemear depois de 5 de junho!


