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REGADIO A importância de reter as águas do Tejo

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REGADIO: QUESTÕES SOCIAIS, ECONÓMICAS E AMBIENTAIS

A importância de reter as águas do Tejo

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Aagricultura e o desenvolvimento rural são vitais para a prossecução de objetivos relacionados com a segurança alimentar e o desenvolvimento sustentável. Porém, água e solo, enquanto fatores indissociáveis, são recursos finitos, que requerem uma gestão e controlo minucioso em todo o território. Embora Portugal seja um país com uma precipitação média na ordem dos 900 mm, de acordo com a Direção-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Regional, a sua distribuição espácio-temporal tem relevado disponibilidades hídricas reduzidas, em diversas regiões e época do ano, traduzindo-se em situações de seca severa e extrema em boa parte do território. O regadio, enquanto prática fundamental para garantir a viabilidade da agricultura, pressupõe a construção de infraestruturas com capacidade de armazenamento relevante, como barragens e açudes, para garantir a existência de reservas suficientes em períodos de escassez.

O REGADIO NA AGRICULTURA PORTUGUESA Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), explica que “a prática do regadio tem uma importância fulcral para a agricultura portuguesa, como aliás tem para a generalidade dos países do sul da Europa, onde se pratica uma agricultura de cariz mediterrânico”. Tendo em conta as condições climáticas desta zona do continente europeu, onde a chuva é cada vez mais escassa, “é necessariamente preciso regar para poder cultivar”, adianta. Apesar de nem todas as culturas serem iguais nem carecerem das mesmas condições em termos de água, Oliveira e Sousa sublinha que “o regadio é essencial para a generalidade da nossa agricultura”. Mas não são apenas países como Portugal e Espanha a serem confrontados com alterações climáticas extremas. “Até mesmo os países do norte da Europa, habituados a pluviosidade abundante, estão atualmente confrontados com a realidade das alterações climáticas e com a necessidade de regar em diversas situações”, diz o presidente da CAP. Francisco Campello, sócio da Agro.Ges, detalha que o nosso clima se caracteriza “por uma elevada concentração da precipitação no período do outono/inverno e pela ocorrência de verões quentes e secos, existindo, por esta razão, um claro desfasamento temporal entre a ocorrência da precipitação e o período onde se verificam as temperaturas mais favoráveis ao desenvolvimento das culturas e as necessidades de água das plantas são maiores (primavera/verão)”. O regadio surge assim, na sua opinião, “como uma medida de adaptação que permite ultrapassar esta limitação natural associada ao clima mediterrânico, consistindo no armazenamento de água no período do ano em que a pluviosidade é mais abundante (em barragens ou aquíferos subterrâneos), para que depois a mesma possa vir a ser disponibilizada às plantas no período da primavera/ verão, quando habitualmente não chove e as plantas apresentam maiores necessidades hídricas”. Para que se entenda a importância da cultura de regadio, esta apresenta, em média, uma produtividade seis vezes mais elevada do que as culturas praticadas em regime de sequeiro. “As alterações climáticas, que se caracterizam essencialmente por uma redução gradual da precipitação anual, por um aumento das temperaturas médias, e pela ocorrência de períodos de seca cada vez mais frequentes, terão como consequência um aumento do deficit hídrico, que atualmente já se verifica nos meses de primavera/verão, afetando de forma mais marcada a viabilidade da agricultura de sequeiro, tornando o regadio ainda mais necessário para a sustentabilidade de alguns sistemas de produção agrícola”, explica Francisco Campello. No caso de Portugal, “importa referir que apesar das áreas de regadio representarem

| Sara Pelicano

Luís Vasconcellos e Souza

PRESIDENTE DA DIREÇÃO DA AGROMAIS

PRECISAMOS DE NOS ESPECIALIZAR NA UTILIZAÇÃO DE POUCA ÁGUA. SERMOS EFICIENTES E PRODUZIR AQUILO QUE NOS PERMITE SERMOS EFICIENTES.

ATÉ MESMO OS PAÍSES DO NORTE DA EUROPA, HABITUADOS A PLUVIOSIDADE ABUNDANTE, ESTÃO ATUALMENTE CONFRONTADOS COM A REALIDADE DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E COM A NECESSIDADE DE REGAR EM DIVERSAS SITUAÇÕES

Eduardo Oliveira e Sousa

CAP

pub. apenas 14% da superfície agrícola útil (SAU) nacional, o regadio está presente em quase metade das explorações agrícolas existentes no Continente (46%), evidenciando que o regadio está presente em muitas explorações maioritariamente de sequeiro, contribuindo de forma importante para a viabilidade destas explorações”. Consequentemente, Francisco Campello olha para o regadio como “um dos principais elementos estratégicos para a manutenção e desenvolvimento da agricultura nacional, uma vez que, num contexto de alterações climáticas, a agricultura de sequeiro será cada vez menos competitiva e produtiva, e necessitará de algum apoio por parte da rega, seja através de áreas complementares de regadio para reforço da competitividade das explorações, como pelo recurso a regas mínimas para apoio ao desenvolvimento das culturas de sequeiro (por exemplo, sequeiro assistido)”. Luís Vasconcellos e Souza, presidente da direção da Agromais, recorda que “a água é a resposta que a produção agrícola tem para contrariar as alterações climáticas”. O mesmo responsável salienta que “precisamos de nos especializar na utilização de pouca água. Sermos eficientes e produzir aquilo que nos permite sermos eficientes”. Luís Vasconcellos e Souza recorda que “no que respeita a técnicas de regadio estamos mais avançados do que outros países da Europa, como Espanha, Itália ou França”. A terminar, lembra que é preciso fazer “uma operação de mar-

keting inteligente para provar como é importante guardar a água. Não e guardar a agua toda que cai, mas é arranjar uma maneira de ‘domesticar’ a natureza”.

RETER ÁGUA: PORQUÊ? Perante o cenário ameaçador das alterações climáticas, armazenar água para fins agrícolas torna-se um imperativo. “Apesar das evoluções tecnológicas que permitem dar às plantas apenas a água que elas necessitam, armazenar água para que seja possível regar tornou-se absolutamente obrigatório”, refere Eduardo Oliveira e Sousa. Para isso, adianta, “é imprescindível que existam infraestruturas que retenham a água quando chove, para que ela possa ser utilizada quando não há pluviosidade, ou seja, em períodos de tempo cada vez mais longos, como aquele que estamos a atravessar na atualidade, com uma situação de seca generalizada ao longo de todo o território nacional”. Face às condicionantes, a solução é simples, em teoria, mas tarda na prática. “É fundamental que o nosso país possua infraestruturas de gestão da água que permitam criar um sistema de transvazes a nível nacional, deslocando este recurso para as zonas onde ele é mais necessário em cada momento – por regra, de Norte para Sul do país”, indica o presidente da CAP, acrescentando que “são necessárias obras de retenção de água, de maior ou menor dimensão, e os respetivos sistemas de distribuição dos recursos hídriA ÁGUA TEM QUE SER BEM GERIDA; SER GUARDADA EM BARRAGENS NO INVERNO, PARA SER USADA NO VERÃO; E SER TRANSFERIDA DO NORTE, ONDE É MAIS ABUNDANTE, PARA SUL, ONDE FAZ FALTA.

Jorge Froes

ENGENHEIRO AGRÓNOMO E ESPECIALISTA EM HIDRÁULICA

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Pedro Cunha Serra

CONSULTOR INDEPENDENTE

PORTUGAL ESTARIA COMPLETAMENTE DEPENDENTE DAS CENTRAIS TÉRMICAS E DA IMPORTAÇÃO DE ENERGIA (POIS O SOLAR E O EÓLICO SÃO INTERMITENTES), NÃO TERIA A AGRICULTURA PUJANTE QUE HOJE TEM GRAÇAS À REGA.

cos até aos locais de regadio, bem como o referido sistema nacional de distribuição de água entre barragens, de forma a gerir cabalmente os recursos hídricos a nível nacional”. Eduardo Oliveira e Sousa acredita que “devido à sua dimensão e à própria dimensão do país, Alqueva não pode ser replicado à mesma escala, mas é necessário que surjam pequenos ‘alquevas’ ao longo do território nacional”. Pedro Cunha Serra, consultor independente, entende que “a importância das barragens em Portugal, e em outras partes do mundo, advém do facto de estarmos sujeitos a um clima irregular, tanto do ponto de vista sazonal, com uma época húmida e uma época seca, como interanual (anos húmidos e anos secos)”. Sem estas infraestruturas, explica, “Portugal estaria completamente dependente das centrais térmicas e da importação de energia (pois o solar e o eólico são intermitentes), não teria a agricultura pujante que hoje tem graças à rega (que necessita de água quando ela não está naturalmente presente na natureza) e não teria condições para garantir o abastecimento de água às populações durante a estiagem nas parcelas do território nacional onde os recursos subterrâneos não abundam, que é a sua maior parte”. Atualmente, as barragens portuguesas estão entregues a promotores, tais como empresas do Grupo Águas de Portugal, Autarquias ou empresas hidroelétricas, assim como a associações de beneficiários dos perímetros de rega de iniciativa pública, que se ocupam da gestão de acordo com objetivos, títulos de concessão e títulos de utilização da água outorgados. De acordo com Pedro Cunha Serra, “na gestão das águas armazenadas nas albufeiras é, ou tem de passar a ser cuidada, a necessidade de constituição de reservas plurianuais para a satisfação dos usos prioritários (abastecimento de água às populações, caudais ecológicos, reserva para a produção de energia – veja-se a este respeito a recente Resolução do Conselho de Ministros n.º 82/2022, de 27 de setembro), questão que se tem revelado fundamental para fazer face às situações de seca excecionais como aquela que estamos a viver”.

O PROJETO TEJO À LUPA O Projeto Tejo pretende constituir-se como um aproveitamento hidráulico de fins múltiplos, permitindo a rega do Vale do Tejo, Oeste e Setúbal com águas superficiais, com abandono das águas subterrâneas, o controlo da intrusão salina que sobe Tejo acima nos períodos mais secos, a drenagem e a redução dos danos das cheias, contribuindo ainda para a minimização dos impactes de eventuais acidentes de poluição hídrica. O Projeto prevê igualmente a navegabilidade do rio, potenciando o transporte fluvial, o turismo e o lazer, a reposição de condições para o desenvolvimento das espécies piscícolas tradicionais, potenciando a pesca e aquacultura, a produção de eletricidade verde nos açudes e barragens a construir, podendo constituir-se como infraestrutura primária de adução de água para o abastecimento urbano e industrial. De acordo com o Plano Nacional da Água (2016), o volume de água utilizado pelos diferentes setores da economia na Bacia Hidrográfica do Tejo é estimado em 1.641 hm3/ano, com a Agricultura e a Pecuária a serem responsáveis por 71% daquele consumo (1.170 hm3/ano). O documento refere ainda que as afluências superficiais em ano húmido para a mesma região atingem os 12.000 hm3/ano, ou seja, acima de sete vezes mais o volume de água utilizado por todos os setores da economia. Francisco Campello detalha que “a capacidade útil de armazenamento das albufeiras

atualmente existentes na Bacia Hidrográfica do Tejo (2.355 hm3), corresponde a apenas 20% das afluências médias anuais da bacia, o que significa que os restantes 80% seguem o seu caminho para o mar sem que exista qualquer hipótese de aproveitamento”. E prossegue, “se efetuarmos a mesma comparação para o lado espanhol da bacia hidrográfica, verifica-se que a capacidade útil de armazenamento existente se aproxima do valor médio das afluências anuais”. Num contexto de alterações climáticas, em que se espera uma redução significativa das afluências médias anuais e um agravamento do deficit hídrico das plantas, “não faz qualquer sentido que estejamos a ‘desperdiçar’ um volume muito significativo de afluências que passam nos nossos rios e que acabam por nos fazer falta na estação seca, pelo simples facto de não termos mais capacidade de armazenamento instalada”, enfatiza o sócio da Agro.Ges, acrescentando que “corremos o risco dos nossos vizinhos espanhóis quererem reduzir os caudais que nos entregam na fronteira sob a justificação de que os mesmos não irão ser aproveitados no nosso país e seguirão para o mar”. Sobre este assunto, Jorge Neves, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Milho e Sorgo (ANPROMIS), nota igualmente que “90% da água do Tejo vem de Espanha, e nada nos garante que continue a vir, porque um acordo de gestão conjunta de caudais, como é o caso da Convenção de Albufeira, rasga-se”. O responsável alerta que Espanha vive igualmente “uma situação dramática” neste momento e critica os decisores políticos de desconhecerem a realidade do país vizinho. “Se Espanha precisa de água para manter a sua atividade económica, nomeadamente a atividade agrícola, é natural que não a deixe vir para Portugal, um país sem gestão dessas águas e que as deixa desaguar no mar”. E sublinha: “a água que corre no Tejo e desagua no mar é muitíssimo superior a toda a água que é utilizada pela agricultura em Portugal”. Reter a água proveniente de Espanha é, por isso, fundamental. “O Projeto Tejo prevê a instalação de um conjunto de açudes munidos de eclusas para barcos e escadas de peixes, criando uma ‘estrada’ de água contínua de Lisboa a Abrantes, permitindo o aproveitamento dos escoamentos naturais do Tejo, e aumentando significativamente a capacidade de armazenamento atualmente instalada neste rio e seus afluentes”, diz Francisco Campello. “A solução proposta permitirá abastecer, com águas superficiais, cerca de 300 mil hectares de regadio nas regiões do Ribatejo, Oeste e Setúbal, substituindo, em alguns casos, o uso de águas subterrâneas, salvaguardando esta importante reserva estratégica de água”, esclarece o responsável, acrescentando que “o Projeto Tejo beneficiará uma parte importante da Lezíria do Tejo, onde se concentram solos de elevadíssima aptidão agrícola, e dos modernos pomares de fruteiras existentes na região do Oeste”. Convicto da importância deste Projeto, Francisco Campello indica que este será “estrategicamente relevante para a manutenção e desenvolvimento do potencial produtivo agrícola existente nas regiões abrangidas, com a vantagem adicional de poder servir de base para a integração e modernização dos regadios públicos já existentes nas regiões, promovendo a criação de uma rede regional de regadio com vantagens em termos de resiliência global do sistema, à semelhança com o que sucedeu com o perímetro de Alqueva e sua interligação com os perímetros de rega confinantes”.

ESTUDO TÉCNICO, ECONÓMICO E AMBIENTAL Jorge Froes, engenheiro Agrónomo e Especialista em Hidráulica, explica que “no seguimento da apresentação do Projeto Tejo, o Ministério da Agricultura encomendou um estudo técnico, económico e ambiental, no valor de 500 mil euros, às empresas da espe-

Francisco Campello

SÓCIO DA AGRO.GES

A CAPACIDADE ÚTIL DE ARMAZENAMENTO DAS ALBUFEIRAS ATUALMENTE EXISTENTES NA BACIA HIDROGRÁFICA DO TEJO (2.355 HM3), CORRESPONDE A APENAS 20% DAS AFLUÊNCIAS MÉDIAS ANUAIS DA BACIA, O QUE SIGNIFICA QUE OS RESTANTES 80% SEGUEM O SEU CAMINHO PARA O MAR SEM QUE EXISTA QUALQUER HIPÓTESE DE APROVEITAMENTO

NÃO HÁ UM ÍMPETO REFORMISTA NO GOVERNO – NÃO SÓ NA AGRICULTURA, COMO EM TODAS AS ÁREAS.

Jorge Neves

PRESIDENTE DA ANPROMIS

TRAÇADO DA REDE DE ADUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA COM BASE EM CASTELO DE BODE cialidade, para saber a viabilidade do plano apresentado”. Segundo o engenheiro, “este estudo cobre a valência agrícola do Projeto Tejo, que propõe a rega de 300 mil hectares no Ribatejo, Setúbal e Oeste, esta última região já com graves problemas de abastecimento de água de rega, e deverá estar concluído até ao final deste de 2022”. Entretanto, a Associação + Tejo, organização sem fins lucrativos criada para promover o Projeto Tejo e da qual fazem parte, entre outros, Francisco Avillez, António Carmona Rodrigues, Francisco Gomes da Silva, Manuel Holstein Campilho e Jorge Froes, tem realizado diversas avaliações sobre: • O traçado e pré-dimensionamento da rede primária de adução distribuição de água baseada em canais gravíticos, com origem em

Castelo de Bode, sem bombagem à cabeça (ao contrário do que acontece no Alqueva), e com uma única bombagem primária junto à Serra de Montejunto, na transferência de caudais para a região Oeste; • A estimativa dos custos de investimento e exploração, incluindo energia, das infraestruturas e equipamentos previstos, que permitiram verificar a nível macro, a viabilidade económica do Projeto e o reduzido custo da água a imputar à agricultura; • O balanço hídrico de longo prazo, comprovando que mesmo com a condicionante das alterações climáticas, o Tejo tem recursos hídricos superficiais e subterrâneos sufi-

cientes para fazer face aos consumos previstos; • O balanço energético de longo prazo, concluindo que mesmo com a condicionante das alterações climáticas, os consumos energéticos nas bombagens primárias e secundárias são reduzidos e podem ser facilmente compensados pela produção hidroelétrica nos açudes previstos a instalar no rio Tejo. Apesar da “morosidade normal de todos os processos públicos”, Jorge Froes olha com otimismo para a concretização do Projeto. “O Projeto Tejo é modular, podendo a sua implantação no terreno prolongar-se por 30 ou 40 anos, consoante as disponibilidades financeiras, com um investimento anual médio da ordem dos 120 milhões de euros/ ano”, avança. O responsável dá o exemplo do Alqueva que terá um custo final próximo dos três mil milhões de euros e que tem vindo a ser construído ao longo dos últimos 25 anos, com um investimento anual médio na ordem dos 120 milhões de euros/ano. No que respeita ao aproveitamento agrícola do Projeto Tejo, Jorge Froes afirma que a valência agrícola do Projeto se traduz na rega de “300 mil hectares no Ribatejo, Setúbal e Oeste, com distribuição de água a pedido e em pressão”. Adicionalmente, prossegue, “é interessante verificar que foi adotada uma solução de distribuição de água a partir de uma rede de canais com origem na Barragem de Castelo de Bode, sendo que a chamada ‘Cascata do Zêzere’ (barragens de Castelo de Bode, Bouçã e Cabril) consegue responder a 95% dos consumos hídricos previstos, considerando as alterações climáticas”. Os restantes 5%, indica o engenheiro, “serão bombados para o sistema de distribuição diretamente do rio Tejo, no futuro Açude de Constância”. Por outras palavras, e ao contrário de Alqueva, onde toda a água é bombada à cabeça, no Projeto Tejo 95% da água é distribuída graviticamente, isto é, sem bombagem, de Castelo de Bode, reduzindo drasticamente os custos energéticos da água. O alerta para possíveis incumprimentos da Convenção de Albufeira por parte do país vizinho reforçam cada vez mais importância do Projeto Tejo. Jorge Froes afirma que a atual situação de seca vem mostrar que “ao contrário da visão nostálgica de alguns ‘curiosos’ do tema, o abandono do regadio e a extensão da silvopastorícia não é a solução para o país”, lamentando que “os prados

secaram, as árvores (sobreiros e azinheiras) enfraqueceram, e a alimentação do gado teve de ser garantida por forragem… de regadio!” Taxativo, o engenheiro afirma que “água não falta”, já que de acordo com os dados disponibilizados no Plano Nacional da Água (2015), Portugal dispõe, anualmente, de recursos hídricos superficiais e subterrâneos “11 vezes superiores aos consumos”. Em suma, no seu entender, “a água tem que ser bem gerida; ser guardada em barragens no inverno, para ser usada no verão; e ser transferida do Norte, onde é mais abundante, para Sul, onde faz falta”.

REGADIO 20|30 Além do Projeto Tejo, existem outras obras de regadio estruturantes para o país. Francisco Campello, recorda que “o Ministério da Agricultura publicou, no final de 2021, o estudo ‘Regadio 20|30 – Levantamento do Potencial de Desenvolvimento do Regadio de Iniciativa Pública no Horizonte de uma Década’, elaborado pela Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), o qual efetua um levantamento bastante completo das necessidades de investimento em regadio público no horizonte de 2030, num total de dois mil milhões de euros (excluindo o Projeto Tejo e o Projeto Pisão-Crato)”. Dentro dos investimentos

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AFLUÊNCIAS SUPERFICIAIS E CAPACIDADE DE ARMAZENAMENTO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS NACIONAIS (PLANO NACIONAL DA ÁGUA 2016)

em regadio propostos, o responsável destaca alguns projetos “estruturantes para o fomento do regadio resiliente e eficiente do país”. O primeiro diz respeito à construção de uma “rede nacional de autoestradas de água”, que permita interligar as diferentes bacias hidrográficas garantindo transvases entre as mesmas. Tal como acontece com a Bacia Hidrográfica do Tejo, verifica-se a ocorrência de afluências médias anuais superiores noutros locais do país, visível no consumo global de água de todos os setores da economia, como na capacidade de armazenamento útil das albufeiras das barragens existentes. “Efetivamente, em ano húmido, a capacidade útil das albufeiras existentes corresponde a apenas 20% das afluências médias anuais”, explica Francisco Campello. “No entanto, estes valores são bastante variáveis entre as

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NÃO É POSSÍVEL REALIZAR QUALQUER EMPREENDIMENTO DE ALGUMA ENVERGADURA SEM QUE, A PAR DOS BENEFÍCIOS QUE IRÁ GERAR, TENHA TAMBÉM ALGUNS IMPACTES NEGATIVOS OU AFETE NEGATIVAMENTE ALGUNS INTERESSES INSTALADOS”

Pedro Cunha Serra diferentes bacias hidrográficas, sendo claramente mais elevados nas regiões a sul do Tejo, onde a escassez de água é mais marcada, e mais baixos nas regiões do Norte”. Em seu entender, “o país não possui propriamente um problema de escassez de água a nível do Continente, embora este problema seja bastante evidente nas regiões a sul do Tejo, onde poderá vir a ser minimizado, quer através do reforço da capacidade de armazenamento, quer através da implementação de soluções de ligação entre bacias hidrográficas”. Em situações em que as afluências naturais das bacias hidrográficas não são suficientes para encher as albufeiras existentes, a solução, indica o responsável, passa por “promover a interligação entre os diferentes perímetros hidroagrícolas/bacias hidrográficas, numa lógica de criação de uma ‘rede hídrica nacional’, com capacidade de efetuar transvases entre bacias onde as afluências são muito superiores às necessidades, para outras onde existe escassez”. A solução descrita por Francisco Campello está já a ser implementada no Alentejo, através da ligação de um conjunto de perímetros de rega existentes no Sistema de Rega do Alqueva. Além disso, já é possível interligar a Bacia Hidrográfica do Guadiana à Bacia do Sado, cumprindo as exigências ambientais. De acordo com o sócio da AGRO.GES, “se é certo que a Barragem de Alqueva constitui a maior reserva estratégica de água a nível nacional, não terá certamente, de uma forma isolada, a capacidade de abastecer todas as bacias hidrográficas confinantes, pelo que será essencial garantir a sua interligação com outras bacias hidrográficas nacionais de forma a criar uma rede autoestradas de água que permitam trazer as afluências excedentárias que temos a Norte para as regiões mais deficitárias a Sul”. A somar a estas necessidades, é crucial investir na modernização e na reabilitação dos regadios públicos existentes. Segundo Francisco Campello, “dos 244 mil hectares de regadios públicos atualmente existentes, cerca de 80 mil encontram-se incluídos em aproveitamentos hidroagrícolas construídos há mais de 40 anos; grande parte destes aproveitamentos encontram-se já bastante degradados e a utilizar tecnologias de distribuição de água obsoletas e bastante ineficientes, persistindo situações em que as perdas de água nos sistemas de distribuição (diferença entre a água captada e a água fornecida aos regantes) atingem os 40%, quando os aproveitamentos mais modernos podem ter perdas na ordem dos 10%”. As obras de regadio elencadas, “estruturantes para o país e para a agricultura nacional, exigem montantes de investimento muito significativos que não se encontram cobertos pelas verbas atualmente previstas pelo Governo português para apoiar os investimentos no regadio público no âmbito do próximo Quadro Comunitário de Apoio”, alerta. Desta forma, conclui o responsável, “a execução dos projetos de regadio que o nosso país tanto necessita apenas será viável se, tal como sucedeu em anteriores quadros comunitários de apoio, existir vontade política para canalizar verbas provenientes de outros fundos, nomeadamente do Fundo de Coesão, do FEDER e do Fundo Ambiental, para financiar o investimento em regadio público”. Questionado sobre os entraves à construção de novos empreendimentos, Pedro Cunha Serra confessa que “não é possível realizar qualquer empreendimento de alguma envergadura sem que, a par dos benefícios que irá gerar, tenha também alguns impactes negativos ou afete negativamente alguns interesses instalados”. Em seu entender, “as barragens têm sempre impactes ambientais negativos de carácter permanente, dificilmente mitigáveis ou compensáveis; constituem barreiras às migrações dos peixes que as escadas de peixes nem sempre conseguem resolver, retêm o caudal sólido, as areias que alimentam as nossas praias, as suas albufeiras constituem massas de água

eutróficas…” Como diz o ditado, “não há bela sem senão”. O consultor indica que o país tem de encarar o problema da seca do lado da oferta e do lado da procura. “Do lado da oferta temos de aprender a aproveitar as águas residuais tratadas para a sua reutilização em usos menos exigentes do ponto de vista da qualidade (rega, lavagens); e em alguns casos, quando isso se proporcione, temos de considerar outras tecnologias, como a dessalinização. Do lado da procura, temos de olhar para a melhoria da eficiência no transporte e no uso da água, em todos os setores”.

CHUVA, SÓ DE CRÍTICAS… Ano após ano, os períodos de seca extrema e severa são cada vez mais longos e frequentes em Portugal, sendo a chuva somente de críticas à atuação do Governo e do Ministério da Agricultura e da Alimentação. “Infelizmente [o Ministério da Agricultura] não tem dado o devido valor a este problema, tal como o próprio Governo como um todo, uma vez que a criação destas infraestruturas carece do empenho do Governo ao mais alto nível”, afirma Eduardo Oliveira e Sousa, acrescentando que “a ausência de medidas eficazes para colmatar os efeitos da seca que atravessamos, são exemplo dessa falta de atenção por parte do Ministério da Agricultura”.

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O mesmo responsável entende que a curto prazo “é necessário apoiar o setor com medidas concretas, eficazes e atempadas, para que os agricultores não sejam forçados a abandonar a sua atividade devido aos efeitos da seca, associados à inflação e ao agravamento de todos os fatores de produção, designadamente combustíveis, eletricidade, adubos e rações”, e alerta que “a consequência óbvia do abandono será a de Portugal ter de importar o que não produz”, repercutindo-se em “óbvios efeitos nefastos para a nossa economia, ou seja, para as condições de vida de todos os portugueses”. A médio e a longo prazo, o presidente da CAP avança que “é necessária uma nova atitude dos nossos governantes perante o problema da escassez de água e das alterações climáticas, através da criação de infraestruturas de retenção e gestão dos recursos hídricos, das quais as barragens são o exemplo mais evidente, o que continua a ser objeto de luta ideológica por parte de algumas forças políticas”. Jorge Neves, Presidente ANPROMIS, critica igualmente a inação do Governo nesta matéria, pois acredita que “não há um ímpeto reformista no Governo – não só na agricultura, como em todas as áreas”. E adianta, “se houvesse um espírito reformista no Governo, estas decisões já tinham sido debatidas há muito tempo, pois são questões nacionais”.

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José Núncio

PRESIDENTE DA FENAREG – FEDERAÇÃO NACIONAL DE REGANTES DE PORTUGAL

Financiamento do regadio em Portugal no horizonte 2030

O regadio é uma ferramenta essencial à mitigação e adaptação às alterações climáticas e de combate à desertificação. E porquê? Porque temos assistido ao aumento tendencial das necessidades hídricas das culturas para reposição do deficit hídrico crescente e à redução das afluências que alimentam as barragens e aquíferos subterrâneos existentes em Portugal. Estes fatores conduzem à necessidade de aumentar a eficiência do uso dos recursos hídricos disponíveis e, por outro, aumentar as capacidades de armazenamento. Apesar da redução significativa das afluências superficiais que se prevê vir a ocorrer em resultado das alterações climáticas, verifica-se que as mesmas continuam a ser muito superiores às necessidades. De acordo com o Plano Nacional da Água (2016), o volume de água utilizado pelos diferentes sectores é estimado em 4.557 hm3/ano, com a Agricultura e Pecuária a serem responsáveis por 74% daquele consumo (3.390 hm3/ano). Mas, importa referir que grande parte dos volumes captados para a rega não são efetivamente utilizados e acabam por ser devolvidos ao ciclo natural da água. Ainda de acordo com o Plano, as afluências superficiais em ano húmido, para o conjunto das bacias hidrográficas do continente português (47.840 hm3/ano), correspondem a 10 vezes mais o volume de água utilizado por todos os sectores. Ou seja, as disponibilidades de água a nível nacional, são muito superiores às necessidades, inclusivamente em contexto de redução de afluências. Mas, dada a concentração de pluviosidade característica das nossas condições climáticas, um volume considerável de afluências não é passível de utilização a menos que existam infraestruturas de regularização de caudais, como barragens, açudes e represas, para reter essas afluências, sem prejuízo da garantia de caudais ecológicos a jusante das mesmas. A capacidade de armazenamento total das albufeiras existentes em Portugal permite apenas armazenar 20% do total de afluências anuais, o que significa que os restantes 80% correspondem a água que se “perde”. Podemos assim afirmar que embora a escassez de água seja um problema mais evidente nas regiões a sul do Tejo, este poderá vir a ser minimizado. E como? Através do reforço da capacidade de armazenamento ou através da transferência de caudais das bacias onde as afluências são muito superiores às necessidades, para outras onde existe escassez. Além da urgência em investir na capacidade de armazenamento de água e na regularização das bacias hidrográficas para gerir melhor o controlo das secas e das cheias, Portugal precisa investir na reabilitação e modernização, incluindo a sustentabilidade energética. Dos atuais 244 mil hectares de regadios públicos, cerca de 80 mil hectares encontram-se incluídos em aproveitamentos hidroagrícolas construídos há mais de 40 anos, muitos dos quais apresentam necessidades importantes de investimento em obras de reabilitação e modernização. No entanto, os objetivos de sustentabilidade energética devem estar sempre presentes, visto que o consumo de energia está relacionado com a otimização da rega, ou seja, indissociável do uso eficiente da água. Há 20 anos cerca de 78% da área era regada por gravidade ou alagamento, mas atualmente 82% da área nacional de regadio utiliza rega sob pressão, dos quais 54% utiliza rega de precisão (gota-a-gota), colocando Portugal entre os líderes do regadio eficiente. Os sistemas de rega de precisão, apesar do “menor uso de água”, dependem do consumo de energia, pelo que este caminho para a eficiência hídrica, em contrapartida, aumentou nove vezes o consumo de energia por hectare. Este é um dos fatores que mais encarece o regadio em Portugal, com custos em energia que chegam a representar 2/3 do custo total da rega. Para aumentar a sustentabilidade energética do regadio, a FENAREG tem vindo a defender que é fundamental uma política energética que acompanhe a evolução do sector do regadio, com vista à implementação de medidas que permitam aumentar a produtividade económica da água. Defendemos o reforço de ações de eficiência energética, programas para substituição das fontes de energia convencionais por renováveis nas explorações de regadio; e contratos de ele-

tricidade sazonais, onde existe a possibilidade de contratar duas potências elétricas diferentes ao longo de 12 meses. Estas necessidades, já foram apresentadas e defendidas junto do Ministério da Agricultura e também da Energia.

E QUAIS AS NECESSIDADES DE INVESTIMENTO NO REGADIO NACIONAL? De acordo com o Recenseamento Agrícola de 2019, apenas 14% da Superfície Agrícola Útil (SAU) nacional é regada (562 mil hectares), embora estas áreas de regadio se distribuam por 46% das explorações agrícolas existentes no Continente Português, o que demonstra que o regadio também se verifica em muitas explorações maioritariamente de sequeiro, sendo fundamental para a sua viabilidade. Destas áreas de regadio, cerca de 42% são abrangidas por regadios coletivos públicos (243.592 ha), 9% correspondem a pequenos regadios coletivos privados e 49% constituem regadios privados individuais, com base em furos, barragens ou represas construídas pelos próprios agricultores. O uso de sistemas de rega modernos e eficientes é essencial para permitir uma utilização sustentável dos recursos hídricos e por isso é importante que as medidas de investimento do PEPAC, com especial relevo para a medida de investimento nas explorações agrícolas, continuem a apoiar o regadio privado na instalação ou reconversão de sistemas de rega, na melhoria da eficiência e aumento da sustentabilidade energética, a construção e beneficiação de pequenas barragens/charcas e a realização de furos de captação de água, permitindo aumentar a resiliência das explorações agrícolas. Um aspeto novo que será importante acautelar nas medidas de investimento no regadio é a elegibilidade da componente de segurança das barragens privadas, que até aqui não tem sido uma despesa elegível, colocando em causa a segurança de pessoas e bens. Nos regadios públicos, cerca de um terço da área localiza-se em aproveitamentos com mais de 40 anos e, conforme já referido, apresentam necessidades de investimento em reabilitação e modernização. O recente estudo «Regadio 20|30 – Levantamento do Potencial de Desenvolvimento do Regadio de Iniciativa Pública no Horizonte de uma Década», desenvolvido pela EDIA sob orientação do Ministério da Agricultura, em complementaridade com o “Contributo para uma Estratégia Nacional para o Regadio” da FENAREG, identificam como grandes necessidades de investimento: a modernização e reabilitação de regadios existentes, o reforço da segurança de barragens, novos regadios e investimentos complementares em regadios coletivos e privados.

QUAIS AS ORIGENS DE FINANCIAMENTO PARA O REGADIO? Tal como proposto pela FENAREG no âmbito do “Contributo para uma estratégia nacional para o regadio”, os investimentos no regadio público devem ser financiados com base numa abordagem multi-fundos, que promova a articulação entre os diferentes fundos comunitários e nacionais. Atualmente, a verba prevista para apoiar os investimentos no regadio público e privado, é de 421 M€ da despesa pública (PNRegadios - 127 M€, PDR2020 - 33 M€, PRR - 92 M€ e PEPAC - 169 M€), que corresponde apenas a 34% das necessidades de investimento. Tendo em consideração que estas verbas são manifestamente insuficientes face às necessidades, a FENAREG elaborou uma proposta de articulação entre os diferentes fundos, apresentada no “Documento de Orientação: Financiamento do Regadio Público em Portugal no Horizonte 2030” e que pode ser consultado no website da FENAREG (http://www.fenareg.pt/ fenareg-propoe-abordagem-multifundos-para-modernizar-o-regadio/). No entanto, importa referir que para financiar as grandes infraestruturas públicas, como a construção e intervenções em barragens, transferências e restantes infraestruturas primárias, que são claramente estruturantes para o território e para a economia nacional, e cuja utilização extravasa em muito o setor agrícola, dispomos do Fundo de Coesão e do Fundo de Desenvolvimento Regional (FEDER). Além destes, para suprir as necessidades de investimento em regadio até 2030, propomos a articulação com verbas do Fundo Europeu de Desenvolvimento Rural (FEADER), do Fundo Ambiental, do atual Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), mas também o recurso ao Banco Europeu para o Investimento (BEI), entre outros. Este estudo, baseado numa análise realizada pela consultora AGRO.GES, conclui que para as necessidades identificadas com condições asseguradas para serem implementadas até 2030, é possível atingir o necessário nível de financiamento da estratégia delineada, um valor global de 1.254 M€, com recurso às seguintes origens de financiamento:

Novas regras na instalação de painéis solares entraram em vigor em outubro

Entraram em vigor no dia 20 de outubro, as novas regras que prometem tornar mais rápida a construção de novas centrais fotovoltaicas, e que também garantem receitas para os municípios em função da capacidade renovável que venham a albergar. O Decreto-Lei 72/2022, já publicado, foi a solução legislativa encontrada pelo Ministério do Ambiente para acelerar a instalação de nova capacidade fotovoltaica em Portugal, garantindo um licenciamento mais rápido, mas também compensações financeiras aos municípios e ainda uma atualização da remuneração das centrais dos leilões de 2019 e 2020 de acordo com a inflação. No diploma publicado, que foi aprovado em Conselho de Ministros a 4 de outubro, depois de ouvida a ANMP - Associação Nacional de Municípios Portugueses, o Governo estipula, por exemplo, que os projetos fotovoltaicos com potência inferior a um megawatt (MW) estão isentos de controlo prévio de operações urbanísticas. Nestes casos o promotor apenas tem de comunicar à Câmara Municipal a localização do equipamento, a sua área de implantação e um termo de responsabilidade onde declare conhecer e cumprir as regras legais e regulamentares aplicáveis à instalação das estruturas.

Um corretor de seguros na Golegã que quer ser um aliado dos agricultores

A SegurAjuda Corretores instalou-se na Golegã, após o lançamento da sua marca SegurAjuda AGRO na última edição da Feira Nacional de Agricultura em Santarém. Assumindo-se como um Corretor generalista, com mais de 20 anos de atividade, dispõe de soluções para todos os ramos de seguro, em mais de 30 Seguradores nacionais e internacionais, e encara o setor agrícola como um ativo valioso para a economia nacional, que necessita de um acompanhamento especializado e proximidade. Neste contexto a SegurAjuda AGRO quer ser um aliado dos Agricultores na busca de soluções de presente e de futuro, na proteção das Pessoas, património, máquinas e equipamentos, e rendimento. “O nosso trabalho foca-se em gerar valor acrescentado para a vida dos nossos Clientes, oferecendo acompanhamento completo e atendimento personalizado”, refere Nuno Castelo, sócio e responsável pela área agrícola. Focados no setor agrícola, a SegurAjuda AGRO dispõe de solução para seguro de colheitas, um produto que visa segurar a produção, garantindo ao Agricultor uma indemnização em caso de sinistro de origem meteorológica. “A agricultura é uma indústria a céu aberto, com tudo o que isso tem de nobre e incerto, necessita de proteção (ainda mais que todos os outros), contudo por diversas circunstâncias do mercado apenas dá cobertura a aproximadamente 6% da produção nacional, se excluído o setor vinícola. Acreditamos por isso que é um produto com uma larga margem de crescimento, onde queremos dizer presente e ser parceiros do setor e dos Agricultores em particular”, afirma Nuno Castelo à Revista Agrotejo. A SegurAjuda AGRO assume como fundamental a proximidade ao setor, o conhecimento da atividade e risco de cada Cliente para uma correta avaliação e otimização do risco, desenhando soluções eficazes e modernas que protejam o investimento e consequentemente o rendimento dos Agricultores.

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MOBILIZAÇÃO E SEMENTEIRAS

Aspetos práticos dos sistemas de mobilização mínima

Vários fatores têm contribuído ao longo destes últimos 20-25 anos para que os sistemas de mobilização mínima e sementeira direta tenham gradualmente aumentado a sua adoção por um número cada vez maior de agricultores.

Abílio Pereira

LAGOALVA-EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS

Amaior rapidez de instalação das culturas, a redução das horas despendidas para a execução das operações de mobilização do solo, a poupança de água. O facto de haver no mercado cada vez mais equipamentos que permitem trabalhar e fazer sementeiras em presença de quantidades apreciáveis de resíduos de culturas anteriores e culturas de cobertura contribuem para o aumento da área trabalhada sem recurso aos chamados métodos convencionais que incluem o reviramento da leiva, implicando necessariamente a charrua. Convém também referir que estes novos equipamentos permitem fazer algumas operações em simultâneo na mesma passagem, aumentando a eficiência e rentabilizando tempo e energia, cada vez mais cara. Convém também referir que somos apenas utilizadores de bens como o solo, a água e todo o meio ambiente no seu conjunto, devemos, portanto, preocuparmo-nos em melhorar aquilo que outros nos deixaram em vez de

deteriora-lo. Convém assim realçar alguns aspetos comuns a estes sistemas de agricultura:

CONSERVAÇÃO DO SOLO • Controle da erosão do solo; devido ao facto de se manter uma cobertura do solo com palha e ou restolho de pelo menos 30% da área total do terreno aumenta-se enormemente a proteção contra a erosão hídrica. Sendo no caso das nossas condições climáticas aquela que maiores proporções atinge, quer devido á irregularidade das chuvas quer devido a uma má regulação dos sistemas de rega, aplicando por vezes uma taxa de precipitação superior á taxa de infiltração do solo, provocando escorrimento ao longo da linha de maior declive do terreno, originando deste modo a destruição das partículas mais finas da camada superficial do solo. Quanto mais longa for a linha de declive do solo maior será o efeito erosivo. Um dos modos de evitar estes malefícios será manter o solo coberto quer por restos da cultura anterior quer por uma cobertura viva semeada para esse fim, por ex. aveia ou várias misturas disponíveis no mercado para esse efeito. • Aumento da taxa de infiltração da água; com o aumento da rugosidade e porosidade do solo diminui-se a velocidade das gotas de água, aumentando deste modo a sua infiltração no solo, levando deste modo a uma menor necessidade de rega. • Melhoria da estrutura do solo; sendo esta a maneira como as partículas se dispõem no solo naturalmente e devido ao tipo de máquinas usadas não provocar alterações na sua disposição, esta tem tendência a melhorar ao longo dos anos trazendo benefícios ao nível da circulação do ar e da água no solo.

CONSERVAÇÃO DA ÁGUA A diminuição da superfície de terreno exposto directamente ao ar leva a uma diminuição das perdas de água por evaporação, por outro lado como há mais rugosidade no terreno, estes dois factos fazem com que a quantidade de água utilizável pelas plantas seja maior. Deste modo a necessidade de rega irá diminuir e aumenta a quantidade de água armazenada no solo para utilização pelas plantas. Todos estes modos de agricultura devido, ao não reviramento da leiva, levam a aumentos de matéria orgânica no solo no horizonte superficial do solo na camada arável, que como sabemos é o suporte principal da vida no solo e o indicador de produtividade por excelência. O aumento do teor de matéria orgânica no solo leva a que o solo seja mais ’resistente’ á compactação, levando a que os solos se tornem cada vez mais fáceis de trabalhar. Dentro dos vários métodos de mobilização mínima e dependendo das culturas praticadas podemos considerar algumas variantes de equipamentos adaptados á instalação das culturas. É importante cada vez mais que os equipamentos permitam fazer aplicações de produtos com doses variáveis, de preferência multiprodutos (sementes, adubos e microgranulados), pois os mapas de produtividade das ceifeiras-debulhadoras cada vez mais vulgares, acompanhados de uma boa interpretação e analises de solo, permitem perceber a variabilidade dos nossos solos e fazer as correções adequadas. Em qualquer instalação de uma cultura é fundamental observar-se a altura ideal de entrada dos equipamentos na parcela, pois a não observação do estado de sazão dos solos pode levar a grandes insucessos na cultura a instalar, que todos queremos de grande sucesso. É importante que as alfaias não provoquem compactação devido ao excesso de humidade no solo. É fundamental que a semente tenha uma cama, sem que o fundo da linha de sementeira fique vidrado o que impede o bom desenvolvimento da radicula das jovens plantas e compromete definitivamente a cultura. Alguns semeadores existentes no mercado que permitem ajustar automaticamente a pressão dos

86 corpos de sementeira dão grande contributo para a uniformidade de plantas no campo melhorando a produtividade. Mobilização na zona ou na linha; Consiste em preparar somente uma faixa de solo na zona da linha da cultura a instalar deixando toda a entre-linha por mobilizar e coberta de matéria vegetal evitando a erosão, perdas de água e dificultando o desenvolvimento de infestantes. O equipamento, dependendo das versões, deve permitir em simultâneo a localização de adubos líquidos ou sólidos na linha esse possível aplicar em simultâneo mais que um produto. Deste modo aumenta-se a eficácia dos adubos e reduzem-se as quantidades necessárias por hectare e as perdas por lixiviação. É fundamental que a instalação das culturas se faça com o solo completamente limpo de infestantes vivas e no estado de sazão para não haver concorrência com as jovens plantas, pelo que é necessário nestes sistemas o recurso a herbicidas totais para controlo das infestantes, antes da sementeira. É muito importante nas culturas, como o milho que a zona da semente fique bem preparada permitindo um bom contacto solo-semente de modo a permitir uma germinação rápida e homogénea obtendo-se assim uma população uniforme, vigorosa e saudável. SEMENTEIRA DIRETA Como o nome indica trata-se um processo de instalação de culturas com recurso a semeadores de entrelinhas (15-30 cm) estreitas ou largas (45- 80cm) que permitem devido ás suas características fazer a sementeira sem a necessidade de qualquer mobilização de solo prévia. Sementeira direta, não é semear diretamente, como pode parecer. Neste método de sementeira devem observar-se vários aspetos importantes para o sucesso, com sejam a manutenção do coberto vegetal, fazer uma cultura de cobertura, ter atenção redobrada á compactação do solo, é fundamental que a linha de sementeira não fique vidrada e que a semente fique completamente enterrada e em contacto com o solo. Os melhores resultados podem não aparecer logo na primeira vez, é necessário melhorar continuamente os processos, como em toda atividade. A atenção ao aparecimento de pragas como lesmas e caracóis é muito importante, a vigilância deve ser diária e atuar aos primeiros sinais, especialmente com tempo húmido. Hoje existem semeadores que permitem uma grande uniformidade da sementeira nestas condições, estando perfeitamente adaptados a aplicação de vários produtos simultâneo, mais que uma espécie diferente de semente, semente e adubos etc. controle de pressão ao solo automaticamente contribuindo para uma grande uniformidade da cultura e aumentando consideravelmente o rendimento.

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PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Agricultura de precisão é para mim?

As grandes variações nos preços, as alterações do clima e o aumento dos custos de energia e fertilizantes, têm trazido uma pressão acrescida sobre a produção agrícola.

Daniel Ribeiro

HIDROSOPH

Como exemplo, uma produção de milho na zona da Golegã, apenas entre o ano de 2021 e o ano de 2022, teve um aumento de 42% no custo da energia para rega e 82% no custo de fertilização. Ainda assim, no caso da fertilização, considerando que o produtor optou por eliminar a aplicação de matéria orgânica para minimizar o aumento dos custos. Face á previsão de esta instabilidade nos custos se manter, torna-se urgente tomar medidas para aproveitar melhor os fatores de produção e para reduzir custos. As tecnologias e as frequentemente consideradas no termo agricultura de precisão, são soluções que têm de ser consideradas por qualquer produtor. Nos últimos anos tem-se falado e adotado cada vez mais técnicas e tecnologias de agricultura de precisão e, se por um lado não questionamos que também a agricultura deve estar sempre a inovar e procurar novas soluções, por vezes utilizar nomes mais complicados pode levar-nos a pensar que estas soluções são só para alguns. O termo agricultura de precisão inclui muitas metodologias e tecnologias, mas na sua essência significa não tratar uma parcela toda da mesma forma e não aplicar a mesma receita todos os anos. Se uma parcela não é toda igual e se os anos, e mesmo os dias, são todos diferentes, se não ajusto o que faço, o que se ajusta é a produção. Mas apenas a produção não é suficiente para a campanha ter sucesso. É o lucro, a diferença

entre o que colhemos e gastamos que determina o sucesso final da campanha. Vejamos o exemplo da rega e fertilização do milho e a importância de decidir bem. No que respeita à produção, o milho vai-se formando ao longo do ciclo e o que se colhe no final é a soma do que cresceu em cada dia. Desde a sementeira até à colheita, a planta pode ter um conjunto de cerca de 120 a 140 dias para produzir o milho que vamos colher. Para aumentar a produção é necessário regar e fertilizar. Cada dia em que a água disponível não for suficiente, a planta defende-se e deixa de produzir. Depois de reposta a água no solo, voltará a produzir o máximo que pode, mas o que ficou por produzir já não vamos colher. Por outro lado, sempre que aplicarmos água em excesso, o que for a mais não fica disponível e é um custo que não resulta em produção. Pelo caminho leva fertilizantes, que também não serão aproveitados e que aumentam o custo. Para poder decidir melhor é importante conhecer as necessidades. No caso do milho, uma vez semeado, o potencial de produção é fortemente determinado pela quantidade de luz (sol) e pela temperatura. Como as condições variam todos os dias, se as quantidades de água e fertilizantes aplicadas não forem ajustadas, perdemos produção pelos dias em que foram insuficientes e temos custos acrescidos pelos que não foram aproveitados. Para além da variação ao longo do tempo, temos a variação ao longo da parcela. Os solos são diferentes, os sistemas de rega não são 100% uniformes e a eficácia da rega é ainda afectada pelo vento e pela hora do dia. O desafio é aplicar as quantidades ajustadas a cada dia e a cada local. Para o fazer o agricultor precisa de informação que o ajude a decidir. A boa informação não substitui a experiência do agricultor, da mesma forma que a experiência não substitui a boa informação. Se compararmos com um médico, o que diríamos se este não utilizasse análises e aparelhos de medida? Ou o que seria fazer uma viagem de carro, no mínimo tempo, sem excesso de velocidade e sem painel de instrumentos para sabermos a velocidade e o nível de combustível? Este é o objetivo da agricultura de precisão. Ter boa informação para decidir é imprescindível para minimizar perdas de produção, perdas de água, de energia e de factores de produção. Hoje existem várias práticas e tecnologias que se aplicam para trabalhar, ou para aceder e utilizar a informação que ajuda o produtor a decidir. Nos últimos anos tem-se mesmo assistido a um aumento da chegada de novas tecnologias ao mercado, no entanto, apesar das novidades, muitas são bastante antigas e bastante simples. Vejamos algumas aplicadas ao caso da rega. Um dos instrumentos mais uteis são os contadores de água, aparelhos que existem há dezenas de anos. Permitem-nos saber se a quantidade aplicada foi a que pretendíamos e também se o sistema de rega funcionou bem, ou seja, dentro do que se esperava. Para ser útil, as leituras dos contadores precisam de ser registadas e comparadas com o que estava previsto, seja a dotação do sistema seja a quantidade que se pretendia aplicar. Os sistemas de rega estão sujeitos a muitos incidentes como baixas de pressão, sujidade, desgaste de turbinas, sobreposição de sectores, solenoides avariados, etc, que afectam o seu funcionamento sem que nos consigamos aperceber. Se reparamos que a rega não foi suficiente e não sabemos que houve um problema, vamos aumentar o tempo de rega, gastamos mais água e continuamos com o problema. Um contador com medição de impulsos que podem ser vistos num computador ou telemóvel é hoje uma solução bastante simples e fundamental. Para saber a quantidade de água necessária para a cultura, as estações meteorológicas são outra ferramenta fundamental. Se o potencial de produção depende das condições meteorológicas, para que a água não seja limitante, temos de conhecer estas condições. A partir daqui é possível estimar uma quantidade de água necessária para cada dia. Este método é utilizado com sucesso há dezenas de anos para produzir avisos de rega, mas é tanto mais preciso quanto for sendo ajustado. O agricultor não tem de conhecer em pormenor como é feito o aviso de rega, mas deve avaliar se a sugestão de rega faz sentido e ajudar quem a faz a afina-la, para que esta lhe seja cada vez mais útil. As sondas de medição da humidade do solo são outra ferramenta fundamental e não são mais do que um sensor de nível de um depósito de água que é o solo. Se qualquer deposito tem uma forma de medir o nível, também o solo, que é o depósito do qual depende a produção, tem de poder ser medido ao longo da sua profundidade e do tempo. O resultado é uma medição que nos indica se o solo, no local onde está a sonda, tem água em excesso ou em falta. Uma informação extremamente simples de entender, mas apenas se considerarmos que essa informação não representa a parcela, mas o aquele local onde está o sensor.

Para saber se a informação de uma sonda é representativa para a parcela, a mesma informação pode ser utilizada em conjunto com, por exemplo, as imagens de satélite a partir das quais se fazem imagens de NDVI. Apesar de NDVI ser um nome estranho, mais não é do que uma imagem, criada a partir de uma fotografia real da parcela, onde as zonas com mais vigor são representadas a verde e as que têm menos vigor são representadas com verde-claro, amarelo ou mesmo vermelho. Podemos assim perceber de uma forma mais simples e precisa se há problemas que ainda não são visíveis ao olho e também em que medida o local da sonda representa bem a nossa parcela. Para além disso podem-se detectar outros problemas como doenças, necessidades de fertilização diferentes, entre outros. Sem entrar em tecnologias muto avançadas, nem mesmo aprofundar muito estas que foram aqui referidas, temos aqui quatro ferramentas que muito nos ajudam a decidir como aplicar a água na nossa parcela. Esta informação é particularmente importante, quanto menor é a margem de sucesso da produção. É importante que o produtor entenda que será sempre muito mais competitivo com boa informação e que é importante ter o apoio de associações e empresas, como a Agromais, que trabalham para disponibilizar as tecnologias mais precisas e o melhor serviço, sempre próximo do produtor. Potenciar a produção e minimizar os desperdícios, é o caminho para uma agricultura sustentável, que assegure a atividade por muitos anos.

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OS DESAFIOS DOS FERTILIZANTES

Fertilizantes mais caros, aplicações menores e mais sustentáveis

A guerra entre a Ucrânia e a Rússia abala a Europa a vários níveis e a agricultura não fica de fora, sofrendo em várias frentes. Fomos perceber os desafios desta indústria que enfrenta os custos da energia, diminuição da oferta de matéria-prima, e ao mesmo tempo procuram ser mais sustentáveis.

Sara Pelicano

Aprodução de alimentos é uma atividade exigente e que se reúne de vários fatores para obter sucesso. Os fertilizantes são parte essencial do vingamento dos produtos agrícolas e de uma agricultura competitiva e até mesmo segura. Estes produtos químicos representam um custo nas contas de produção do agricultor e consequentemente têm de se refletir no preço final dos alimentos. À semelhança de muitas outras áreas de negócio, também a indústria de fertilizantes passa momentos de crise e que podem refletir-se em aumento de preços e até mesmo escassez de produtos. Os últimos dois anos foram desafiantes para esta indústria, que assistiu a um aumento do custo das matérias-primas utilizadas na produção de fertilizantes, aumento dos custos energéticos com impacto no transporte das matérias-primas, na produção e no transporte

do produto final, instabilidade no acesso a matérias-primas e, por fim, a entrada em vigor de normativas que limitam o uso de fertilizantes na agricultura. Luís Palma Silva, presidente da Associação Nacional de Produtores e Importadores de Fertilizantes (ANPIFERT) explica que um dos trabalhos da associação tem sido “coordenar esforços, tanto a nível nacional como internacional, no acesso a novas fontes de informação sobre a evolução do mercado e das políticas”. No que respeita ao potencial aumento dos preços deste produtos essenciais à agricultura, Luís Palma Silva, recorda que “o conflito na Ucrânia causou importantes interrupções no fornecimento, o que resultou em preços historicamente altos ao nível de diversas matérias-primas. Com isto, espera-se que os preços dos fertilizantes se mantenham altos a médio prazo em relação ao ano de 2021. As perspetivas dos mercados de matérias-primas dependem em grande medida da duração deste conflito e da gravidade das interrupções nos fluxos de matérias-primas, pelo que existe um risco dos preços das matérias-primas utilizadas nos fertilizantes manterem-se elevados durante mais tempo”. Jorge Neves, diretor-geral da Agromais, comenta que a questão dos fertilizantes reflete, à semelhança de outras situações, um pensamento transversal à Europa: não precisamos de produzir nada, compra-se. “Se olharmos para história, verificamos que nenhum potência ao nível mundial se afirmou no mundo sem ter duas coisas: produção de alimentos e energia”, disse, recordando que “neste momento a Europa está muito dependente destas duas situações”. Os fertilizantes, acrescenta, “entram nesta equação porque sem fertilizantes também não conseguimos produzir alimentos e sem energia não temos fertilizantes”. Jorge Neves conclui que “esta é uma situação muito preocupante porque pode pôr em causa a produção agrícola”. Em agosto desde ano a consultora CRU adiantava que a crise de energia afetava a produção de fertilizantes na Europa. Um estudo daquela empresa concluía que o aumento dos preços do gás reduzia em 25% a capacidade de fertilizantes nitrogenados na Europa. Mediante este cenário, a Associação Internacional de Fertilizantes (IFA, na sigla inglesa) alertava que os agricultores poderiam reduzir até 7% a utilização de fertilizantes, tendo como consequência diminuição de produtividade. A Europa produz cerca de 20 milhões de toneladas de amônia anualmente (matéria-prima dos produtos nitrogenados) e precisa importar 200 mil toneladas por mês para atenuar esta crise, segundo a IFA.

ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS E PACTO AMBIENTAL A indústria dos fertilizantes atravessa desafios devido à situação política económica, mas também fica afetada com as alterações climáticas e o Pacto Ecológico Europeu. Os agricultores têm sentido com intensidade as alterações climáticas. Atualmente, estão a braços com uma seca severa o que limita o potencial produtivo as culturas, o que implica uma alteração do uso de fertilizantes. Luís Palma Silva adianta que “a indústria dos fertilizantes tem vindo a intensificar o desenvolvimento de produtos com menor consumo energético associado, mais eficientes na sua aplicação e com recomendações de uso racional e adequado nas diferentes culturas”. As alterações climáticas levam depois à necessidade de criar medidas que mitiguem os seus impactos. É na perseguição deste objetivo que a Comissão Europeia criou o Pacto Ecológico Europeu, o qual prevê a redução, até 2030, do uso de fertilizantes na agricultura em 20%. A ANPIFERT realizou um estudo independente, executado pela Agro.Ges, no qual se avalia o possível impacto da estratégia “Do Prado ao Prato” no mercado dos fertilizantes em Portugal e as suas implicações para a economia nacional. Luís Palma Silva salienta que “de acordo com os principais resultados obtidos neste estudo, identifica-se que a implementação da estratégia ‘Do Prado ao Prato’ terá consequências negativas para o conjunto da economia portuguesa e em particular para o setor agroalimentar e a fileira dos fertilizantes. Esta questão é particuANPIFERT, PELA VALORIZAÇÃO E DEFESA DOS FERTILIZANTES QUÍMICOS A associação nasceu em 2005 e conta atualmente com seis empresas associadas, que representam 90% do mercado nacional em matéria de fertilizantes. “Recentemente, a Associação tem intensificado esforços para estreitar relações com as principais entidades que compõem o sector, tanto a nível nacional como europeu. Um exemplo claro é o da recente integração da Associação na principal associação europeia da fileira dos fertilizantes, a Fertilizers Europe”, explana Luís Palma Silva, presidente da ANPIFERT. A entidade tem procurado comunicar de forma ativa que “os fertilizantes são essenciais para a modernização sustentável da agricultura e para a segurança alimentar na Europa”. Nesse contexto, tem existido “um esforço considerável por analisar os possíveis impactos dos novos desafios que o sector enfrenta de modo que melhor possamos preparar o futuro”.

Luís Palma Silva

PRESIDENTE DA ANPIFERT

DURANTE AS ÚLTIMAS DÉCADAS, A FILEIRA DOS FERTILIZANTES TEM ALCANÇADO GANHOS DE SUSTENTABILIDADE NOTÁVEIS

LUÍS PALMA SILVA, RECORDA QUE “O CONFLITO NA UCRÂNIA CAUSOU IMPORTANTES INTERRUPÇÕES NO FORNECIMENTO, O QUE RESULTOU EM PREÇOS HISTORICAMENTE ALTOS AO NÍVEL DE DIVERSAS MATÉRIAS-PRIMAS

JORGE NEVES CONCLUI QUE “ESTA É UMA SITUAÇÃO MUITO PREOCUPANTE PORQUE PODE PÔR EM CAUSA A PRODUÇÃO AGRÍCOLA”

pub. larmente relevante no momento atual, em que enfrentamos uma conjuntura de crise internacional e em que se discute a segurança alimentar e energética da Europa, devendo, portanto, ser entendida como uma questão prioritária”. Recorde-se que, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, a utilização de fertilizantes de síntese (azotados e fosfatados) em Portugal reduziu-se nos últimos 20 anos a uma taxa 3,6 vezes superior à registada na União Europeia, estabilizando-se durante os últimos cinco anos o padrão de consumo nacional. “Portugal apresenta atualmente o menor consumo de fertilizantes de síntese por hectare de superfície agrícola utilizada (SAU) da UE27, correspondendo a menos de 50% do valor médio registado para o mesmo conjunto de Estados-Membros. Esta questão sugere que, no caso de uma monitorização das metas apresentadas a nível europeu, Portugal poderia ser total ou parcialmente isento das reduções propostas”, defende o presidente da ANPIFERT.

SUSTENTABILIDADE É O FUTURO A sustentabilidade é palavra de ordem em várias áreas que fazem girar o mundo. A indústria de fertilizantes não fica de fora. O caminho para uma produção mais amiga do ambiente e mesmo obtenção de produto final mais sustentável tem sido feito ao longo dos últimos anos. Luís Palma Silva comenta que “durante as últimas décadas, a fileira dos fertilizantes tem alcançado ganhos de sustentabilidade notáveis: produção e comercialização de produtos de mínimo impacto, consideravelmente mais eficientes com respeito ao processo de assimilação por parte das plantas e com menor consumo energético associado”. O mesmo responsável acrescenta que “ao nível da indústria, existem hoje sinais claros de que até 2050 a produção de fertilizantes irá basear-se maioritariamente em formas de energia de baixo teor em carbono. São hoje conhecidas diversas oportunidades para a descarbonização da indústria de fertilizantes por meio de processos de eletrólise que permitem substituir a atual dependência de gás natural por formas de hidrocarbonetos de baixo teor em carbono”. O presidente da ANPIFERT recorda ainda que “para cumprir com tais objetivos, será necessário reforçar o apoio à investigação e ao desenvolvimento de projetos-piloto industriais que potenciem as condições necessárias para uma otimização da infraestrutura de energia e transporte”. A indústria de fertilizantes destaca algumas dessas necessidades: • energia de baixo teor em carbono a preços competitivos; • infraestruturas para transportar recursos de baixo carbono; • infraestruturas para a gestão de CO₂; • novos fundos para financiar uma transição de forma competitiva. A terminar, importa referir que Portugal “não tem disponibilidade de matérias-primas para a produção de fertilizantes (como por exemplo, reservas de fosfatos ou de potássio, gás natural). No entanto, produz-se em território nacional uma parte muito considerável dos produtos fertilizantes que se consome em Portugal”, esclarece Luís Palma Silva.

TRATAMENTO DE ÁGUAS

A circularidade na prática: avanços do projeto NETA

Águas residuais (AR) agroindustriais constituem uma preocupação nacional há muitos anos em Portugal, sendo responsáveis por grande parte da carga poluente de bacias hidrográficas do país.

Daniel Murta | Ivã Lopes

ENTOGREEN

Otratamento dessas águas é dispendioso e resulta na formação de lamas residuais, para as quais o tratamento envolve diversas etapas como espessamentos, estabilização, condicionamento, desidratação, armazenamento, dentre outras etapas que complicam o processo como um todo. O projeto NETA - Novas Estratégias no Tratamento de Águas-Residuais, projeto financiado no âmbito do PORTUGAL2020 (POCI-01-0247-FEDER-046959), liderado pela Ingredient Odyssey SA e envolvendo parceria com outras seis entidades tem alcançado grandes desenvolvimentos tecnológicos no que diz respeito ao tratamento desses efluentes, permitindo a geração de subprodutos de valor agregado que contribuem para a circularidade ambiental e econômica em Portugal. O projeto NETA possui como base a Técnica de Precipitação Química (TPQ) imediata e carbonatação natural, processo este que provoca a imediata precipitação seletiva de iões em um efluente, obtendo-se um produto insolúvel que se

separa da água tratada muito rapidamente, reduzindo significativamente a concentração de matéria orgânica da mesma, tornando-a mais segura para utilizações diversas. Essa metodologia foi desenvolvida e patenteada pelo Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) e está sendo estudada e afinada no âmbito do projeto. Assim, diversas AR estão a ser tratadas com a TPQ, de modo a demonstrar a funcionalidade e aplicabilidade da mesma para efluentes distintos, sejam eles domésticos ou agropecuários. Após o afinamento da TPQ em laboratório realizado pelo IPBeja para diversas AR, a próxima etapa do projeto NETA foi aumentar a escala desse tratamento para aumentar o TRL da tecnologia. Desta maneira, seis unidades de tratamento “NETAs” foram instaladas, sendo três delas localizadas no IPBeja e outras três no INIAV - Polo de Inovação da Fonte Boa, em Santarém. Nessas unidades, mais de 18000L de AR oriundas de uma queijaria e de um tanque geral de coleta de efluentes já foram tratados com sucesso. O produto insolúvel gerado no tratamento tem sido utilizado como substrato alimentar para larvas de mosca soldado negro (Hermetia illucens), enquanto a água tratada está a ser destinada para um sistema de aquaponia. De modo a fechar o ciclo de materiais e processos envolvidos no projeto NETA, a proteína produzida pelas larvas a partir desses materiais serviu como ingrediente para a formulação de uma ração para peixes, os quais serão criados no sistema de aquaponia com a água tratada. Adicionalmente, o fertilizante obtido com esse processo de bioconversão pelas larvas está a ser utilizado na fertilização de pastagens no Instituto de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), as quais servirão de alimentos para borregos em fase de engorda. Assim, fica evidente a forma pela qual o projeto NETA tem permitido a adoção de um sistema circular de tratamento de efluentes em Portugal, o qual resulta não somente em águas tratadas, mas também em proteína animal, fertilizantes e tecnologia para o país. Este projeto em co-promoção envolve a Ingredient Odyssey SA, a Agrotejo, a Universidade de Aveiro, a Universidade Lusófona, o Instituto Superior Técnico, o Instituto de Investigação Agrária e Veterinária e o Instituto Politécnico de Beja, entidades focadas em desenvolver uma

UNIDADES PILOTO DE TRATAMENTO DE ÁGUAS RESIDUAIS EM LARGA ESCALA (NE-TAS) INSTALADAS NO INIAV EM SANTARÉM.

solução para as águas residuais nacionais tornado aquilo que são ameaças à sustentabilidade dos nossos meios hídricos numa oportunidade de reutilização de nutrientes e de obtenção de novas matérias-primas. Este projeto cria ainda um cenário de valorização de 100% dos nutrientes contidos nestas águas, demonstrado numa prova de conceito construído na Estação Zootécnica Nacional. Numa fase final de execução, o projeto apresenta desenvolvimentos muito relevantes e apresenta um potencial real de aplicação em escala semi-industrial. O evento final do projeto terá lugar na Feira Nacional da Agricultura de 2023, em Santarém. Para saber mais sobre o projeto, aceda ao site www.projeto-neta.pt.

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MARIA DO ROSÁRIO PALHA, SENIOR SUSTAINABILITY MANAGER, PROGRAMA GULBENKIAN DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Fundação Calouste Gulbenkian apoia projeto no setor agrícola

O Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável da Fundação Calouste Gulbenkian foca-se na proteção ambiental e na sustentabilidade, entre muitos objetivos. A agricultura enquadra-se nesta missão e já foi alvo de financiamento num projeto dedicado ao uso eficiente da água.

Sara Pelicano

AFundação Calouste Gulbenkian (FCG) criou o Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável com o objetivo de contribuir para a construção de uma sociedade mais coesa, que ofereça igualdade de oportunidades e promova ativamente o bem-estar e a qualidade de vida de grupos vulneráveis, em equilíbrio com a proteção ambiental e a sustentabilidade económica. Há três eixos que orientam a atividade da equipa que integra este Programa, nomeadamente, a coesão e integração social; sustentabilidade e inovação e investimento de impacto. “Na inovação e no investimento de impacto, que é um eixo de atividade mais transversal e que contribui para o cumprimento dos demais objetivos do Programa, desenvolvemos e financiamos projetos relacionados com a utilização da tecnologia para a resolução de problemas sociais ou ambientais, a formação para

a aquisição de novas competências e perfis de liderança, a promoção do papel cívico da arte e da cultura enquanto impulsionadoras de transformação social e a criação e implementação de novos instrumentos de financiamento de projetos de impacto”, esclarece Maria do Rosário Palha, senior sustainability manager, Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável. A sustentabilidade é um chapéu sobre o qual se abrigam muitos desafios e oportunidades. A FCG não pode abraçar todos e, por isso, definiu “como prioritárias questões com particular relevância para o desenvolvimento do país e a qualidade de vida das pessoas e para os quais a filantropia possa oferecer um contributo diferenciador e com impacto”, acrescentou Maria do Rosário Palha. Dentro destes, a mesma responsável destaca “a transição energética justa, o carbono azul e o uso da água”. A senior sustainability manager, Programa Gulbenkian Desenvolvimento Sustentável, sublinha que “a disponibilidade de água é outro desafio de grande importância, estando Portugal em risco elevado de stresse hídrico em 2040. Parece-nos fundamental debater a gestão da água no país, num contexto que será cada vez mais desafiante quer na gestão quer no acesso a água de qualidade. É isso que procuramos fazer com o projeto Gulbenkian Água, cujo enfoque está no uso eficiente da água na agricultura”. Neste âmbito, foram abertas candidaturas, em 2021, para um concurso de apoio a projetos de demonstração do uso eficiente da água de rega. “O concurso pretende criar condições para que organizações no terreno trabalhem com os produtores agrícolas no sentido de adotarem práticas de rega mais eficientes, através de um trabalho de proximidade, de partilha entre pares e direcionado para necessidades específicas de diferentes perfis de produtores”, explana a nossa interlocutora. Foi neste âmbito, que o projeto aQuacer – promovido por várias entidades como a ANPROMIS, a ANPOC, o COTARROZ, o COTR e o IPMA – obteve financiamento. Maria do Rosário Palha comenta que “estes projetos já contam com mais de 900 participações em ações de demonstração no terreno e alguns dos agricultores que participaram já estão a adotar novas técnicas e tecnologias para um uso mais eficiente da água”, concluindo que este é “um projeto que contribui para a valorização da produção agrícola nacional, através da promoção da inovação, da sustenta-

ESTUDO SOBRE AGRICULTURA EM ÁGUA

400 AGRICULTORES E ORGANIZAÇÕES INQUIRIDOS

30%

utilizam sindas de apoio à rega

23%

utilizam estações meteorológicas

37%

utilizam programas de controlos de rega

FONTE: C-LAB (THE CONSUMER INTELLIGENCE LAB

bilidade e da eficiência do uso dos recursos em todo o sector dos cereais”. Neste momento, não está aberto nenhum concurso. O concurso esteve aberto a candidaturas entre julho e outubro de 2021 e os projetos financiados arrancaram em janeiro de 2022, estando atualmente em fase de conclusão.

Celpa muda de nome. É agora Biond - Forest Fibers from Portugal Projeto sobre tomate entre os selecionados do Programa Promove

A Associação da Indústria Papeleira – CELPA mudou a sua designação, passando-se a chamar Biond - Forest Fibers from Portugal. Ao jornal ECO, Francisco Gomes da Silva, diretor geral da Biond, adiantou que a mudança se deu “porque, atualmente, acrescentamos muito mais àquilo que nos define, uma vez que a celulose deixou, definitivamente, de ser só pasta e papel. Mudamos porque somos uma parte insubstituível do futuro que já estamos a ajudar a construir, sendo a sustentabilidade o driver O Programa Promove, uma iniciativa da Fundação La Caixa, em colaboração com o banco BPI e a Fundação para a Ciência e a Tecnologia, vai apoiar, entre outros projetos de valorização do interior do país, o SenseProTomate, uma investigação liderada pela Universidade de Évora. Neste projeto, pretende-se monitorizar, em tempo real e em larga escala, o estado sanitário e a qualidade da cultura do tomate.

essencial que nos guia”. Ao mesmo jornal, Francisco Gomes da Silva disse ainda que “uma bioindústria que transforma matéria-prima natural e renovável em bioprodutos recicláveis, garantindo a sustentabilidade da floresta, uma bioindústria que é um importante motor da economia nacional, contribuindo para a criação de riqueza e emprego na bioindústria, com resultados e produtos que são motivo de orgulho nacional. Uma bioindústria com foco permanente na inovação. Mudamos, então, não porque vamos deixar de ser tudo isso ou, muito menos, por moda”. A Biond é composta pelas empresas Altri, DS Smith, Renova e The Navigator Company.

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Tiago Silva Pinto

ANPROMIS

PROJETO AQUACER

Eficiência do uso da água na fileira dos cereais

As alterações climáticas constituem um dos maiores desafios a nível mundial, com graves impactos nos ecossistemas terrestres, na saúde humana, na disponibilidade e qualidade da água e nos mais variados sectores de atividade. A agricultura é particularmente vulnerável às alterações no clima, uma vez que é um sector fortemente dependente das condições meteorológicas e climáticas de cada região. As alterações observadas na temperatura do ar e no regime e

quantidade de precipitação acentuar-se-ão no futuro e afetarão a distribuição e a disponibilidade dos recursos hídricos. Em Portugal continental tem sido observado um decréscimo dos valores anuais da precipitação, de cerca de -20 a -25 mm/ década, tendo as últimas quatro décadas sido consecutivamente mais secas e os últimos 20 anos particularmente pouco chuvosos. Não obstante a grande variabilidade interanual, a tendência de decréscimo é notória, sendo que seis dos dez anos mais secos (desde 1931) ocorreram depois de 2000. A gestão da água deverá, assim, constituir uma prioridade do nosso país, como é bem evidente no ano que atravessamos. Querendo fazer parte da solução, a ANPROMIS (milho), a ANPOC (cereais praganosos) e o COTARROZ (arroz), juntamente com o COTR e o IPMA, uniram-se para responder ao repto lançado pela Fundação Calouste Gulbenkian de valorização da água no sector agroalimentar, tendo visto a sua candidatura ao concurso de apoio à demonstração na gestão da água da rega aprovada através do projeto aQuacer – Eficiência do Uso da Água na Fileira dos Cereais. Ao longo dos últimos seis meses pudemos assim implementar dez ações demonstrativas, distribuídas por três regiões de produção diferentes – Alentejo, Ribatejo e Centro, que envolveram cerca de 600 participantes. Durante estas ações pudemos, não só visitar algumas explorações agrícolas que constituem uma referência no uso eficiente da água, como tomar contacto com diversas técnicas e tecnologias que constituem um crescente desafio para os produtores de cereais, como sejam a sementeira enterrada no arroz, a implementação de pendentes na rega por gravidade ou a implementação da agricultura de precisão.

O balanço deste projeto foi francamente positivo, que se traduz nas diversas solicitações que nos foram efetuadas para estendermos estas ações de demonstração e capacitação a outras zonas de produção, tais como o Vale do Vouga, o Vale do Lis, o Norte Litoral ou a região de Trás-os-Montes.

OBSERVAÇÃO METEOROLÓGICA

A importância do aumento da densidade de observação meteorológica de superfície

As observações meteorológicas de superfície são importantes para a caracterização e monitorização do clima e as séries longas de observação permitem, por exemplo, acompanhar e quantificar as alterações climáticas que se têm vindo a verificar.

Nuno Moreira / Jorge Neto / Álvaro Silva

Em setembro de 2022, a rede de observação meteorológica de superfície do IPMA em Portugal era composta por 145 estações meteorológicas automáticas – 111 no Continente, 13 no Arquipélago dos Açores e 21 no Arquipélago da Madeira (ver exemplo de uma estação na Figura 1). A observação meteorológica de superfície constitui uma das componentes de observação da atmosfera, que inclui também, por exemplo, a observação aerológica (do perfil vertical da atmosfera) com base em radiosondagens, a observação com radares meteorológicos (o IPMA opera atualmente 5 radares – 3 no continente e 1 em cada arquipélago), a observação de descargas elétricas e a observação com base em satélites meteorológicos. Por um lado, as observações meteorológicas de superfície são importantes para a caracterização e monitorização do clima e as séries longas de observação permitem, por exemplo, acompanhar e quantificar as alterações climáticas que se têm vindo a verificar. Por outro lado, constituem uma ferramenta de vigilância meteorológica, especialmente relevante em eventos extremos com potenciais impactos adversos para população e setores económicos, podendo ser analisadas em combinação com os outros meios de observação remota, como satélites e radares meteorológicos. Isto é, por exemplo, muito relevante no caso da precipitação que, em situações de convecção, pode apresentar grande heterogeneidade espacial. É de referir ainda que as observações de superfície são assimiladas em tempo real por modelos de previsão numérica do tempo, permitindo definir as condições de partida destes modelos (condições iniciais), sendo também utilizadas para ajuste das previsões através de pós-processamento com métodos estatísticos. Desde 2008 e de forma a reforçar a densidade de observação de superfície, o IPMA passou a integrar na sua cadeia de processamento observações meteorológicas de redes de entidades externas que satisfaçam os critérios estabelecidos pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), garantindo-se o controlo de qualidade e a manutenção. Este aumento da densidade de observação é relevante tendo em conta as variações espaciais dos parâmetros meteorológicos como a temperatura do ar, a humidade relativa do ar ou a precipitação. A Figura 2 exemplifica a variação, em poucos quilómetros, dos valores da precipitação acumulada em 24 horas durante a influência da tempestade Bárbara, no dia 20 de outubro de 2020, com base em observações de estações de 3 entidades distintas na região de Castro Verde. É de notar, contudo, que o ganho na redução de erro por interpolação espacial das variáveis meteorológicas não é linear com o aumento da densidade, havendo um número ótimo de estações (dependente da variabilidade espacial de cada variável) a partir do qual os ganhos são marginais. Neste sentido e no âmbito das atividades das Comissões Regionais do Sistema de Gestão Integrada de Fogos

ESTAÇÃO METEOROLÓGICA AUTOMÁTICA DE CHAVES DA REDE DE OBSERVAÇÃO DE SUPERFÍCIE DO IPMA.

Rurais (SGIFR), com a perspetiva de aumentar o detalhe da observação e consequente previsão do perigo de incêndio rural, o IPMA iniciou no presente ano de 2022 uma articulação mais sistemática com entidades de ní-

PRECIPITAÇÃO ACUMULADA ENTRE AS 0 E AS 24 HORAS DE DIA 20 DE OUTUBRO DE 2020 (TEMPESTADE BÁRBARA) EM 3 ESTAÇÕES DE ENTIDADES DISTINTAS NA REGIÃO DE CASTRO VERDE – INSTITUTO PORTUGUÊS DO MAR E DA ATMOSFERA (IPMA), AGÊNCIA PORTUGUESA DO AMBIENTE (APA) E CENTRO DE COMPETÊNCIAS PARA O REGADIO NACIONAL (COTR).

vel regional/local, de forma alargar a integração de observações meteorológicas de superfície de redes externas na sua cadeia de processamento. Por exemplo, na região de Lisboa e Vale do Tejo, este processo corresponderá a considerar um universo potencial de 115 estações de 14 redes regionais, em que se inclui a Agrotejo.

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ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DOS FRUTOS SECOS

Portugal será autossuficiente em 2023

A Portugal Nuts - Associação de Promoção de Frutos Secos encomendou um estudo para caracterizar o setor dos frutos secos em Portugal. Entre as conclusões a retirar está o facto de a área de produção ter aumentado 54% em 10 anos e ainda a que produção nacional já satisfaz 96% das necessidades do país.

Sara Pelicano

APortugal Nuts - Associação de Promoção de Frutos Secos apresentou, em maio deste ano, um estudo de Caracterização do setor dos frutos secos em Portugal, realizado por uma consultora. Os dados apurados revelam um aumento exponencial da área de frutos secos cultivada em Portugal e que em 2023, Portugal poderá ser autossuficiente em frutos secos, uma vez que a produção nacional já supre 96% das necessidades do país. Em comunicado, enviado à agência Lusa, a associação adiantou ainda que o consumo nacional de frutos secos aumentou 95% entre 2012 e 2022. Por isso, a autossuficiência é “uma boa notícia face ao contexto mundial de disrupção das cadeias de abastecimento alimentar”. A Portugal Nuts – que agrega 40 produtores e processadores associados, representando 10.000 hectares – revelou com este estudo que “Portugal tem assistido a uma revolução no setor dos frutos secos, tendo a área aumentado 54% entre 2010 e 2020”. Amêndoa, noz e castanhas são as culturas que registaram uma “tendência crescente”. Segundo o estudo da Portugal Nuts, “a noz teve o maior crescimento em termos de área plantada, que duplicou, e a amêndoa registou o aumento mais significativo ao nível de produção, a qual quadruplicou, tendo subido 10 vezes no Alentejo”. A barragem do Alqueva, que levou o regadio a um extensa área agrícola do baixo Alentejo, é uma das razões para este crescimento da produção de frutos secos em Portugal, mas contribui também o facto de o país ter das melhores condições edafoclimáticas para estas culturas. No que respeita à amêndoa, o país pode-

rá tornar-se “em breve, o segundo maior produtor europeu e entrar nos 15 maiores produtores mundiais”. Recorde-se que, em 2019, na Europa, Portugal era o quinto maior produtor e responsável por 6% da produção de frutos secos. O líder desta tabela era a Espanha, com 43%.

PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL O estudo avaliou igualmente o impacto ambiental destas culturas. O trabalho concluiu que, “numa comparação entre 25 produtos alimentares, por cada quilograma de frutos secos produzidos, existe uma emissão de apenas 0,43 kg de GEE, o que coloca os frutos secos num destacado primeiro lugar em termos de sustentabilidade ambiental quando comparado, por exemplo, com o tofu, com um valor de 3,16 kg de GEE, e com o café, com 28,53 kg de GEE”. Estas culturas são, na sua maioria regadas, mas também a utilização destes recurso precioso é eficiente. No sistema gota a gota, “por cada litro de água utilizado para regar uma amendoeira são obtidas 77 a 86 mg de proteína vegetal, pondo este produto no top do ranking em termos de eficiência de utilização deste recurso natural”.

FRUTOS E A ECONOMIA NACIONAL A Portugal Nuts realizou, em maio, o seu primeiro congresso no qual também se discutiu o impacto deste setor na economia nacional. Algumas das mensagens a reter sobre este tema é que o empreendedorismo depende dos empresários e das estratégias de desenvolvimento da economia local das câmaras municipais. Os intervenientes no painel defenderam que as autarquias das regiões com forte implantação do agroalimentar deveriam ter um pelouro específico e um interlocutor direto. Os frutos secos são hoje culturas cujas tarefas se fazem com recurso a tecnologia, no entanto a mão-de-obra continua a ser essencial e sendo os trabalhadores estrangeiros uma realidade e imprescindíveis, os intervenientes defenderam que urge ter políticas de integração da mão-de-obra estrangeira para alcançar um resultado equilibrado entre sustentabilidade económica e social.

NOZES E AMÊNDOAS NO NORTE DO VALE DO TEJO Este ano, fazem cinco primaveras os primeiros nogueirais que os associados da Agromais plantaram. Esta árvore sempre esteve presente no território e com boas produções o que levou a apostar nas nogueiras para diversificar investimentos. Luís Vasconcellos e Souza, presidente da direção da Agromais, adianta que estas novas plantações têm estado a correr bem e que há margem de crescimento. “Atualmente, temos plantados 300 e poucos hectares. Mas penso que em breve, vamos chegar aos 500 hectares”, disse. Luís Vasconcellos e Souza adianta ainda que os investimentos mais recentes estão a ser feitos por “pessoas fora do setor agrícola. Os produtores mais antigos já não estão a fazer novos pomares” e justifica esta situação com os custos de investimento. “Na cultura da nogueira, cada hectare tem um custo de instalação de cerca de 15.000 euros e demora cinco anos para se ter a primeira colheita”, explanou o responsável da Agromais. A região está a assistir também ao surgimento de alguns amendoais, neste caso uma aposta de fundos de investimento. “Os pomares de amêndoas estão a surgir em terras mais marginais, mas também regadas”, comenta Luís Vasconcellos e Souza, que termina afirmando não ter dúvidas de que “na nossa zona vão existir mais hectares de frutos secos”.

CARACTERIZAÇÃO DO SETOR DOS FRUTOS SECOS EM PORTUGAL

110.000 ha de frutos secos – cresceu 54% em 10 anos

52.000 ha de amêndoa

– a área aumentou 50% nos últimos 10 anos.

5.400 ha de noz

– a área duplicou nos últimos 10 anos. 80.000 toneladas de produção de frutos secos – mais 43% em 10 anos.

230 milhões de euros

– investidos nos últimos sete anos, através do PDR. 62 empresas de descasque e transformação.

100 milhões de euros

em exportações de frutos secos. 10 milhões de euros de saldo positivo na balança comercial da amêndoa.

NA NOSSA ZONA VÃO EXISTIR MAIS HECTARES DE FRUTOS SECOS

Luís Vasconcellos e Souza

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Rússia desiste do acordo e preços do trigo e do milho sobem

Os preços do trigo e do milho nos mercados globais de matérias-primas subiram no passado dia 31 de outubro, como consequência da Rússia ter abandonado o acordo estabelecido para exportações vitais de cereais da Ucrânia através do Mar Negro. Na Bolsa de Chicago, o preço do trigo situou-se nos 8,74 dólares que representa uma subida de 5,5%. Já os valores do milho aumentaram 2,3%, praticando-se no final de outubro nos 6,96 dólares.

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SMOS, uma plataforma com informação em tempo real sobre ocupação do solo

A Direção-Geral do Território (DGT) lançou a plataforma online Sistema de Monitorização de Ocupação de Solos, onde é disponibilizada informação cartográfica para a monitorização do território, com base em tecnologias do espaço e inteligência artificial. Esta aplicação explica a DGT pretende “dar apoio às atividades da Administração Pública, universidades, setor privado e comunidade em geral, ajudando em áreas como o ordenamento do território, da agricultura, floresta, recursos hídricos e proteção civil”. A informação do SMOS está disponível através do endereço da internet smos.dgterritorio.gov.pt

112 PROJETO-PILOTO DA EU

Estrutura para avaliar o uso de soluções digitais na agricultura

Com o objetivo de avaliar os impactos da digitalização na agricultura, o projeto QuantiFarm vai desenvolver e criar uma estrutura para avaliar a eficácia e o desempenho de ferramentas digitais que prometem modernizar a agricultura.

Carolina Ramos / Diogo Moniz / Luís Mira da Silva

CONSULAI

OQuantiFarm é um novo projeto da UE que pretende analisar se e como as ferramentas digitais funcionam na agricultura. Com um orçamento de 7,4 milhões de euros, cofinanciado pela União Europeia, o projeto será implementado por 32 parceiros em 20 países. Começou em julho de 2022 e terá a duração de três anos e meio. Atualmente os desafios para os produtores agrícolas são enormes – desde fenómenos climáticos extremos a nível mundial até à deflorestação, incluindo ainda doenças nas culturas e escassez de água. A agricultura de precisão e as ferramentas agrícolas inteligentes são apontadas como a solução ou, pelo menos, uma ajuda confiável. Apesar de fazerem parte da solução, as ferramentas tecnológicas multiplicam-se cada vez mais rápido e o período de desenvolvimento, desde a ideia até à implementação no campo, é cada vez mais curto. Os agricultores que pretendem investir em tecnologia deparam-se muitas vezes com um espetro largo de soluções disponíveis. O crescimento contínuo do número de opções torna, frequentemente, difícil o processo de eleição da melhor solução, que se ajusta à realidade do trabalho no campo. Além disso, existem ainda casos de agricultores que têm dificuldade em aceder a informação que permita validar a implementação de ferramentas agrícolas inteligentes a partir da comparação do impacto da utilização de tecnologia vs. não-utilização de tecnologia para a sua cultura, dentro da região biogeográfica em que se encontram. Importa por isso saber o quão bem funcionam estas ferramentas e como podem os agricultores determinar a melhor solução para a sua exploração. O QuantiFarm baseia-se na necessidade de avaliar, de forma independente, os benefícios quantitativos e qualitativos de cada solução, assim como os

potenciais benefícios na sustentabilidade dessas ferramentas, avaliando os seus potenciais impactos positivos e negativos. De acordo com Nikolaos Marianos, coordenador do projeto, “o QuantiFarm tem uma missão muito ambiciosa: dizer aos agricultores europeus a verdade sobre a utilização de tecnologias digitais”. “Mas para dizer a verdade é preciso primeiro descobri-la! Por esse motivo, o QuantiFarm realizará 30 testes cobrindo quase todas as regiões e setores bioclimáticos europeus.” A ambição geral do projeto é apoiar a implementação destas ferramentas digitais como facilitadores-chave para melhorar a sustentabilidade económica, ambiental e social das explorações agrícolas. Mas primeiro o projeto quer mostrar aos agricultores que estas tecnologias funcionam. Adicionalmente, o QuantiFarm visa tornar estas avaliações e os seus impactos em avaliações replicáveis, comparáveis e de uso prático para os agricultores consultores e decisores políticos. O projeto pretende englobar e representar adequadamente a diversidade europeia. Em números isto significa 30 casos de estudo abrangendo mais de 20 países em 10 (das 11) regiões biogeográficas da Europa, ocorrendo as atividades em 100 explorações agrícolas de 7 setores agrícolas, de 20 culturas e animais. Por exemplo, na região mediterrânica da Grécia, o Gaisense (sistema de suporte de decisão) é utilizado para o desenvolvimento de olivais; na região continental dos Países Baixos, os sensores de solo e drones são testados em pomares de maçã; e na região atlântica da Irlanda, são utilizados robôs automatizados na produção leiteira. Estes dados de avaliação fornecidos pelos casos de estudo serão utilizados para elaborar o QuantiFarm Toolkit, aumentando a consciencialização e apoiando a tomada de decisões futuras. O Toolkit consistirá num conjunto de ferramentas interativas e fáceis de usar. Alguns exemplos incluem calculadoras de custo e benefício, ferramentas de benchmarking, e ferramentas de monitorização de políticas, que podem ser consultadas e reutilizadas – mesmo em plataformas de terceiros e após a vida útil do projeto. A QuantiFarm Digital Innovation Academy (DIA) será estabelecida para garantir que os agricultores selecionam as ferramentas mais adequadas às suas necessidades individuais. Também fornecerá recomendações, e modelos de negócio mais adequados a serem adotados. Para isso, a DIA vai promover 12 eventos de capacitação, que seguem uma abordagem “Train-the-Trainer”, dirigida a técnicos que apoiam a atividade agrícola. Esse esforço conjunto dará evidências reais e sistemáticas à suposição generalizada de que a adoção de tecnologias digitais beneficia os agricultores financeiramente e que tem impactos positivos na sustentabilidade social e ambiental da agricultura. A CONSULAI é parceira deste projeto e assume o papel de líder do pacote de trabalho responsável pela coordenação da testagem e análise subsequente de tecnologias digitais utilizadas na agricultura. Serão coordenados 30 casos de estudo, o que implica um acompanhamento próximo e de contextualização de cada caso dentro do projeto. Nos primeiros seis meses do projeto (até dezembro 2022) será reunida informação para o desenvolvimento da metodologia de testagem e análise, assim como um workshop com todos os parceiros para a apresentação e discussão dessa mesma metodologia que será posta em prática no restante período do projeto. A Agromais Plus, empresa detida pela Agromais, assume o papel de líder de coordenação do teste que se realiza em Portugal, com a temática da irrigação de precisão na cultura do milho. Sob a tutela da Agromais Plus existem excelentes exemplos de agricultores com produções digitalmente otimizadas, incluindo mapas de produtividade, aplicação de fertilizantes/pesticidas com taxa variável e soluções de irrigação de precisão que combinam hardware e software. A água e a energia utilizadas nos processos de irrigação são fatores determinantes nesta cultura. A otimização da sua gestão é fundamental para um processo sustentável a nível ambiental e económico. As tecnologias de irrigação de precisão permitem a redução do consumo destes recursos, e simultaneamente, aumentar a produção. Por estas razões, este teste insere-se perfeitamente nas necessidades operacionais do QuantiFarm, fornecendo importantes lições sobre a consistência de medidas de avaliação e implementação de tecnologia na agricultura. Para saber mais sobre o projeto visite o website: https://quantifarm.eu/

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CHEF RUI PAULA

O que temos no nosso país é demasiado bom para irmos procurar fora

Sara Pelicano

Natural do Porto, onde nasceu em 1967, Rui Paula passou grande parte do seu tempo em Alijó, no Norte do país. Nas suas memórias de infância está muito presente a sua avó materna e a sua cozinha tradicional, feita com os produtos da terra. Cresce neste ambiente pintado pelas cores dos alimentos e aromatizado pelo aroma que os mesmo libertam no lume brando do fogão da sua avó. Torna-se um adulto e a paixão pela cozinha continua, tornando-se a sua profissão. Em 1994 abre um restaurante Cêpa Torta, com a sua mulher, Cristina Canelas. Mais tarde, abre outros espaços, ainda hoje em funcionamento, como o DOC - Degustar Ousar Comunicar, o DOP e a casa de Chá da Boa Nova, todos no Norte do País. A cozinha que pratica vai-se modernizando, nas técnicas utilizadas, na sofisticação e na apresentação. Mas há características que nunca mudam, nomeadamente a utilização dos produtos nacionais e sazonais. “A minha principal fonte de inspiração é a memória. Como tal, sou muito apegado a produtos regionais, que me fazem lembrar as minhas raízes”, conta Rui Paula, já distinguido com duas Estrelas Michelin. O Chef de cozinha acrescenta que “o que é nacional é bom e não há gastronomia como a nossa. O que temos no nosso país é demasiado bom para irmos procurar fora”. Rui Paula acredita também por isso que os Chefs de cozinha portugueses têm um papel relevante na promoção dos produtos agrícolas nacionais. Além de nacional, é relevante também que se destaque a sazonalidade dos produtos, por isso, “nas minhas cozinhas, as cartas são idealizadas sazonalmente. Todas as estações alteramos a carta de acordo com produtos sazonais. Não só preservamos o meio ambiente, ao utilizar os produtos na altura certa, como também têm outro sabor”. A promoção dos produtos nacionais faz-se de várias formas na cozinha de Rui Paula, isto é, a abóbora, a castanha, a batata-doce (para usar apenas alguns dos produtos desta época) possivelmente não os vai identificar como tal, pois o Chef gosta de recorrer à criatividade e apresentá-los com diferentes formas e texturas, tais como “puré, chips, pó, glaciados, brunesa, etc.”. Rui Paula considera que o consumidor está cada vez mais atento à origem dos produtos, “principalmente por toda a questão ambiental que acarreta”. A terminar, o Chef confessa que não tem dificuldades na cadeia de fornecimento, sendo que o maior desafio é “fomentar ligações fortes com os fornecedores e parceiros”.

pub. SABORES DA ÉPOCA, UM LIVRO COM ASSINATURA DE RUI PAULA

O Chef Rui Paula lançou recentemente o livro Sabores da Época, editado pela Porto Editora, no qual se destaca a sua ligação aos produtos locais e sazonais. A obra reúne “50 receitas divididas pelas quatro estações do ano, para que possa surpreender familiares e amigos em qualquer altura, seja com uma refeição simples e prática, seja com a elaboração de um menu de degustação para uma ocasião mais especial”, explica Rui Paula, que deixa um desafio: “desperte o Chef que há em si”.

CLUBE DE PRODUTORES CONTINENTE E MERCADONA

A grande distribuição e a produção nacional

A grande distribuição, ao longo dos últimos anos, tem feito um caminho de aproximação do produtor. Hoje são parceiros numa relação em que ambas as partes ficam a ganhar.

Sara Pelicano

Arelação da grande distribuição com as organizações de produtores tem vindo a ser fortalecida ao longo dos anos. Desde projetos mais antigos como o Clube de Produtores Continente até a cadeias de supermercados mais recentes, como a Mercadona, procurámos perceber como valoriza a grande distribuição os produtores agrícolas. A cadeia de supermercados Mercadona, fundada em 1977, chegou a Portugal em 2019. Desde o primeiro momento, que a equipa da empresa entrou em contacto com as organizações de produtores nacionais. Pedro Barraco, diretor da cadeia agroalimentar Mercadona Portugal, explica que “é muito importante para o sector agroalimentar o trabalho desenvolvido pelas organizações de produtores [OP]. Sendo estas um ponto de encontro e de organização, consideramos que são um importante veículo de formação e informação e o seu apoio é fundamental para os pequenos agricultores e para a comercialização dos seus produtos. As OP são excelentes exemplos para irmos ao encontro da qualidade que procuramos nos nossos produtos, pelo que hoje tanto em Espanha como em Portugal temos vários produtos fornecidos por organizações de produtores”. Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores Continente (CPC), salienta a organização que a produção nacional tem, sublinhando que “várias das organizações de produtores que cresceram com o CPC são hoje grandes exportadores, o que muito nos orgulha”. Ondina Afonso recorda ainda que “os produtos agrícolas frescos são o coração do Clube de Produtores Continente (CPC) e foi exatamente por causa destes que o Clube foi criado. Numa época em que a agricultura nacional não estava organizada, o

objetivo era conseguir aprovisionamento com qualidade e quantidade constantes para uma cadeia de hipermercado como o Continente”. A secção de frescos é aquela que coloca a grande distribuição em maior contacto com a agricultura. Há um trabalho conjunto de ambas as partes. Do lado do supermercado chegam referências de quais as tendências de consumo e requisitos de produção, do lado dos agricultores surge a tecnologia e inovação para fornecer qualidade máxima. Pedro Barraco comenta que a secção de frescos é aquela que “nos permite trabalhar de perto com os nossos fornecedores”. O mesmo responsável destaca ainda que “esta aposta da Mercadona nos frescos tem-se revelado não só um motor de desenvolvimento económico e social como também, e sobretudo, uma aposta na qualidade, que é o que queremos que os nossos ‘chefes’, como nos referimos aos nossos clientes, encontrem nos nossos produtos”. Os custos de produção têm vindo a aumentar e, para já, não há reflexos significativos no preço pago pelo consumidor. Equilibrar esta balança é um dos pilares desta relação entre a grande distribuição e o agricultor. O diretor da Cadeia Agroalimentar Mercadona Portugal assegura que “ao apostar no setor nacional a empresa compromete-se a assegurar, não só agora, mas desde sempre, a previsibilidade e estabilidade dos seus contratos, num relacionamento baseado na transparência e no compromisso, e sobretudo, numa relação a longo prazo”, mais acrescentando que “é fundamental ter uma relação muito próxima com os nossos fornecedores, em todos os momentos, para em conjunto resolvermos os problemas diários que aparecem e para que toda a colaboração desenvolvida seja rentável para ambas as partes. Pensar como podemos ser mais eficientes, como transportar mais com menos, recorrer a caixas de transporte reutilizáveis, como é o caso das caixas Logifruit, são algumas das estratégias que já utilizamos há vários anos e que nos permitem ser mais eficientes enquanto cadeia”. Por outro lado, Ondina Afonso pormenoriza que no CPC estão “a atuar em algumas frentes”, destacando duas: “o investimento conjunto em projetos relacionados com a agricultura regenerativa e a redução de pesticidas, bem como a valorização de desperdício existentes nas explorações agrícolas e que podem ser transformados em novos produtos”.

O CONSUMIDOR VALORIZA CADA VEZ MAIS OS PRODUTOS NACIONAIS? A origem do produto é uma informação obrigatória que deve estar colocada junto do mesmo. O consumidor poderá assim saber de onde vêm os alimentos. Mas será que Portugal é uma origem preferida em relação a outras geografias que também fornecem produtos agrícolas ao nosso país? Pedro Barraco, da Mercadona, considera que “o consumidor valoriza cada vez mais a qualidade como critério de escolha e isso nota-se no hábito de compra”. Ondina Afonso explana que “além de uma forte ligação emocional ao que é produzido em Portugal, os consumidores sabem como os produtos nacionais são produzidos à luz de elevados padrões de qualidade. Acreditamos que esta perceção será cada vez mais reforçada à medida que formos apresentando e divulgando aqueles produtos que resultam de práticas cada vez mais sustentáveis”.

SUSTENTABILIDADE MARCA O FUTURO Na Mercadona e no CPC o futuro passa por projetos que tenham na sua base a sustentabilidade. Em 2021, o CPC lançou uma Declaração para a Sustentabilidade assente em princípios alinhados à estratégia europeia do Prado ao Prato e materializada em 40 iniciativas que serão implementadas até 2024. “Tais iniciativas são implementadas em conjunto com os nossos produtores, com investimento de parte a parte e sempre num espírito de parceria estratégica e transparência”, diz Ondina Afonso. Um dos projetos já em curso é intitulado “Searas de trigo com biodiversidade: salvemos a águia-caçadeira”, que tem como objetivo a valorização desta espécie. As searas de trigo são importantes para a conservação de várias espécies ameaçadas de extinção. Esta iniciativa é realizada em parceria com a Associação Nacional de Produtores de Proteaginosas, Oleaginosas e Cereais (ANPOC) e o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio).

Ondina Afonso

PRESIDENTE DO CLUBE DE PRODUTORES CONTINENTE

VÁRIAS DAS ORGANIZAÇÕES DE PRODUTORES QUE CRESCERAM COM O CPC SÃO HOJE GRANDES EXPORTADORES

Pedro Barraco

DIRETOR DA CADEIA AGROALIMENTAR MERCADONA PORTUGAL

É MUITO IMPORTANTE PARA O SECTOR AGROALIMENTAR O TRABALHO DESENVOLVIDO PELAS ORGANIZAÇÕES DE PRODUTORES [OP]

pub. Pedro Barraco, da Mercadona, salienta que “a Mercadona tem como objetivo conjugar esforços e partilhar conhecimentos que contribuam para a modernização, produtividade e prosperidade em toda a cadeia agroalimentar”. Neste âmbito, em 2021, a empresa assinou um acordo de colaboração com a CAP – Confederação dos Agricultores de Portugal, “para dinamizar a produção nacional e reconhecer o trabalho diário de milhares de agricultores, fazendo com que desenvolvam a sua atividade criando um impacto positivo no setor”. Este acordo já foi renovado por mais um ano e visa também a adesão da Mercadona à iniciativa “Portugal Sou Eu”. Pedro Barraco conclui que “sabemos que é necessário que estejamos cada vez mais próximos de toda a produção, através de um diálogo constante, transparência e trabalho conjunto. Assim, podemos planificar melhor todos os processos e continuar a fortalecer a nossa relação com o setor e envolver os nossos fornecedores nesta visão geral de cadeia agroalimentar sustentável”.

120 AGRICULTURA DIGITAL VirtuaCrop: uma ferramenta digital para análise de solos

Através do uso de tecnologias como novos sensores, dados de satélite ou sistemas de gestão inteligentes, é possível aumentar em muito a eficiência da produção.

Ricardo Teixeira Tiago Morais

CO-FUNDADORES, VIRTUACROP

OS DESAFIOS DA AGRICULTURA DIGITAL A chamada “agricultura 4.0” promete revolucionar a forma como as explorações agrícolas são geridas. Através do uso de tecnologias como novos sensores, dados de satélite ou sistemas de gesPorém, muitas ferramentas da “agricultura 4.0” são dispendiosas, e portanto a sua penetração no mercado continua abaixo do esperado dado o seu potencial. Os sensores necessários são dispendiosos e necessitam frequentemente de mão-de-obra especializada para serem devidamente utilizados e fornecerem informação útil para os produtores. Quaisquer soluções tecnológicas para o negócio agrícola que exijam aumentos significativos de custos na sua utilização correm o risco de tornar-se num fenómeno de nicho apenas para as explorações maiores, nunca chegando efetivamente aos produtores que mais precisam das melhorias que a tecnologia pode trazer – aqueles de menores recursos.

O DESENVOLVIMENTO DA APLICAÇÃO Foi este desafio que fez nascer a aplicação VirtuaCrop no final de 2021, quando a Agência Europeia para o Programa Espacial lançou o seu desafio anual para encontrar as melhores aplicações inovadoras para dados do espaço – o concurso “myEUspace”. Uma das categorias, entitulada “agricultura por satélite”, procurava especificamente aplicações agrícolas. Como investigadores no Instituto Superior Técnico, possuíamos à data experiência na utilização de deteção remota, a partir de satélite e voos não tripulados, para desenvolver algoritmos para estimar biomassa e matéria orgânica no solo. Essa experiência já nos tinha mostrado que dados remotos têm limitações, uma vez que traduzem uma observação das culturas a partir “de cima”. Para estimar propriedades do solo, em particular, este problema é grave dado que o solo em grande parte do ano encontra-se tapado pelas plantas. Qualquer utilização de dados massivos provenientes de fontes remotas deve então ser complementada por dados mais próximos do terreno. Tivemos então uma ideia: e se esses dados recolhidos no campo, em vez de serem obtidos por análises de solo ou com recurso a sensores dispendiosos, fossem obtidos unicamente utilizando os sensores que qualquer agricultor já tem no seu bolso, ou seja, os vulgares telemóveis?

tão inteligentes, é possível aumentar em muito a eficiência da produção. A tecnologia permite obter informação sobre a exploração em tempo real, estimar o seu desempenho agronómico ou ambiental, e intervir de forma localizada para melhorar a produção ou diminuir custos.

Foi esta ideia, da utilização de fotografia digital em conjunto com dados de satélite para estimar propriedades do solo, que submetemos ao concurso “myEUspace” em Dezembro de 2021. No momento, era apenas uma ideia a explorar uma vez que nunca tinha sido testada. Vencemos a primeira fase e passámos à final, na qual tivemos apenas 9 semanas para preparar um protótipo de aplicação para telemóvel que implementasse esta ideia. Utilizando milhares de fotografias digitais de terrenos agrícolas para treinar algoritmos de aprendizagem automática, desenvolvemos então a primeira versão do VirtuaCrop, e fomos premiados como vencedores da categoria de “agricultura por satélite” no concurso.

COMO FUNCIONA A aplicação foi desenhada com o intuito de ter o uso mais simples possível. Pretendíamos ter um sistema robusto de diagnóstico de solos que não necessite de um manual para que um agricultor possa usá-la. Os vídeos de demonstração da ferramenta encontram-se no site www.virtuacrop.com ou no canal de Youtube do VirtuaCrop. Quando um utilizador entra na aplicação, o sistema de localização do telemóvel faz com que imediatamente tenha uma vista aérea da zona onde se encontra. Para a envolvência, pode imediatamente visualizar alguns índices de vegetação calculados a partir de dados de satélite. Depois, o produtor poderá fazer a avaliação do seu solo a partir de uma fotografia tirada no momento ou que tenha tirado antes. Após carregar a foto, o utilizador recebe uma estimativa em apenas 15 a 30 segundos de alguns indicadores tipicamente indicados em boletins de análise de solos: matéria orgânica, azoto, fósforo, potássio, pH e textura. As estimativas são obtidas através dos algoritmos desenvolvidos pela equipa, e combinam não só a informação da foto como também variáveis obtidas a partir da imagem de satélite da data mais próxima. Naturalmente que uma estimativa baseada apenas em fotografia digital não é perfeita, tal como acontece com qualquer sensor cujas medições servem para inferir indiretamente as propriedades do solo. A única forma absolutamente certa de obter os valores que o VirtuaCrop estima é por análise química ou física dos solos. A aplicação, enquanto ferramenta simplificada e expedita, consegue ainda assim precisões medidas num conjunto de teste entre os 60 e os 90%, dependendo do indicador. Estamos a melhorar os algoritmos e acreditamos que conseguiremos precisões na ordem dos 90% para todos os indicadores.

O FUTURO DO VIRTUACROP Atualmente a aplicação tem mais de 50 utilizadores que se inscreveram no nosso site para experimentar o protótipo e que efetivamente estão a tirar fotografias com o VirtuaCrop e a obter relatórios de análise. Porém, a aplicação está em desenvolvimento e à data de escrita ainda não se encontra disponível para utilização generalizada. A equipa continua a melhorar o sistema e a introduzir novas funcionalidades. No futuro próximo, a aplicação incorporará mais indicadores relativos não só aos solos mas também às plantas. Por exemplo, a aplicação será capaz de avaliar a probabilidade de existência de pragas e doenças através de fotografias digitais das folhas. A aplicação está também a ser integrada com o parcelário oficial Português para que os agricultores possam selecionar áreas de interesse para visualizar os indicadores calculados a partir de dados de satélite. Pretendemos ainda que a aplicação não seja apenas uma ferramenta de avaliação ou diagnóstico, mas também um sistema que forneça recomendações aos produtores. Para nós, o lançamento do VirtuaCrop será um passo importante para a concretização da nossa missão. Pretendemos difundir o mais possível a utilização de tecnologias para agricultura, levando os benefícios da “agricultura 4.0” até todos os agricultores, independentemente do tamanho das suas explorações, dos seus recursos ou familiaridade com novas tecnologias.

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O PROJETO INTAQT Avaliar a relação entre os sistemas de produção animal e a qualidade dos produtos

Financiado pela Comissão Europeia e com duração de cinco anos (2021-2026) o projeto pretende avaliar a relação entre os sistemas de produção animal e a qualidade dos produtos nos setores bovino, das aves e dos produtos lácteos.

CONSULAI

ACONSULAI participa como parceira neste projeto, ao lado de 23 outras entidades, liderando o Pacote de Trabalho 6: Disseminação de conhecimento e ferramentas para os principais agentes da cadeia agroalimentar. Ao iniciar agora o 2.º ano do projeto INTAQT fomos entrevistar o seu coordenador, Bruno Martin. Investigador sénior da UMR Herbivores, no INRAE (National Research Institute for Agriculture, Food and the Environment) em França, Bruno Martintem 25 anos de experiência em Produção Animal e Ciências Alimentares, sendo a sua especialidade, o gado bovino. Quais os principais objetivos do Projeto INTAQT? Bruno Martin (BM): Este projeto foca-se em produtos de origem animal dos setores da carne – aves e bovinos - e dos lacticínios, produzidos a nível europeu. A Europa tem modos de produção animal e de lacticínios muito variados. O objetivo principal do projetoé a melhoria da qualidade dos produtos destes setores, relacionando-a com os diferentes sistemas de produção europeus. Ao avaliar a qualidade dos produtos consoante as suas origens de produção, o projeto estabelecerá metodologias e soluções de melhoria da mesma.

Como descreveria um produto de

qualidade? Que aspetos englobam a sua melhoria? BM: Basicamente, o que pretendemos é a melhoria de duas vertentes da qualidade: a interna e a externa. As metas da qualidade interna serão produtos saudáveis, saborosos e com segurança alimentar assegurada – consideramos todos estes aspetos importantes. No entanto, e como mencionado anteriormente, não é a única vertente da qualidade do produto que nos interessa avaliar e melhorar. A qualidade externa avalia os diferentes modos de produção e o impacto ambiental, social e no

bem-estar animal, sendo também fundamental avaliar esta vertente.

Como planeiam atingir esses objetivos? Qual foi a metodologia delineada para o projeto? BM: O projeto INTAQT planeia desenvolver ferramentas de avaliação da qualidade dos produtos e providenciar conhecimento científico básico desta temática, de modo a apoiar o consumidor e cidadão comum. Para além disto, planeia produzir e providenciar ferramentas de avaliação da qualidade dos produtos, para os principais agentes da cadeia agroalimentar, para que estes possam melhorar as diversas vertentes do seu modo de produção e dos produtos em si.

O que já fizeram até agora? Em que fase se encontra o Projeto? BM: Relativamente à vertente mais técnica do Projeto INTAQT, criou-se uma rede de explorações agrícolas por toda a Europa, que inclui diversos países e diferentes modos de produção. Caso deseje mais informação sobre este projeto – os seus objetivos, progresso e resultados, poderá consultar www.intaqt.eu ou seguir o projeto nas Redes Sociais, @ H2020 INTAQT.

Nesta fase, já tivemos inúmeras interações com agentes da cadeia de valor – desde os produtores até aos consumidores, de forma a ajustar de forma mais precisa, os objetivos do projeto e identificar possíveis barreiras que tenhamos de melhorar. Este foi o principal foco neste primeiro ano. Qual o plano para 2023 – 2.º ano do Projeto? BM: O próximo ano será maioritariamente dedicado à recolha de amostras e inquéritos realizados a nível das explorações agrícolas. Adicionalmente, começar-se-á o trabalho analítico já planeado para o 2.º ano de projeto.

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Miguel Vieira Lopes

AGROGES

Um mundo sem escala

Sem a escala de valores certa, podemos estar a sacrificar a produção agrícola onde ela é funcional e eficiente, para ir produzir com menos eficiência, ou seja, com mais impacto, noutros locais. Se simplesmente exportarmos os problemas ambientais que estamos a tentar combater, onde estará o valor dessa decisão.

Proibi o meu filho de ir de autocarro para a escola, é muito perigoso! Mas também não lhe consigo dar boleia, por isso agora não vai à escola… ao menos não vai no autocarro com estranhos! Não fiz isso, mas seria estranho que o fizesse! Apenas queria ilustrar uma espécie de macroloucura de grupo que aprece que se apoderou da Europa, e que nos vai levar todos à ruína… e com a Agricultura a ser sacrificada em primeiro lugar. Esta psicose resulta de termos perdido a escala. Não no sentido que se usa coloquialmente de termos perdido dimensão, mas no sentido original da palavra. Perdemos a capacidade de medir. E quando não conseguimos medir, também não conseguimos hierarquizar, com todas as consequências que isso traz. Como disse, não se trata de um problema exclusivo da agricultura, ou da forma como ela é vista. É um problema de base, de como se vê o papel dos governantes na ação de moldar a vida da sociedade em geral. Um bom exemplo é a decisão da EU de não permitir a venda de mais carros com motor a combustão, a partir de 2035. A ideia pretende reduzir emissões dos veículos automóveis, e seria boa se tivesse sido apresentada como um objetivo futuro, acompanhado de um plano para o tornar possível. Mas tanto quanto eu consegui apurar ninguém mostrou que tínhamos forma de responder às questões difíceis que precisamos de resolver para que esse objetivo seja possível sem um custo demasiado elevado. De acordo com o Eurostat, produziu-se, na Europa, em 2021 cerca de 2,9 milhões de GWh de eletricidade, sendo cerca de 37% destes de fontes renováveis. Ora, segundo a Agência Europeia do Ambiente, em 2017 (mais recentes dados que consegui encontrar) consumiu-se em transporte rodoviário mais que essa eletricidade gerada em 2021, cerca de 3,6 M GWh. Portanto, levantam-se algumas questões que são inexplicavelmente esquecidas nesta decisão para 2035: • Como será possível sequer distribuir mais do dobro da eletricidade que atualmente as redes elétricas da europa conseguem entregar?

• Se só conseguimos gerar 37% da energia atual com fontes renováveis, como conseguiremos gerar 223% daqui a 13 anos? E isso é assumindo que o consumo energético não aumenta… é que estar a fazer toda esta mudança só para ter as emissões um pouco a montante em vez de no carro é, no mínimo, um erro infantil que não podemos pagar! • Quanto vai custar toda esta ampliação da capacidade produtiva e quanto vai custar a ampliação da rede de distribuição necessária? Será que havia alternativas com benefício de custo? Será que toda essa obra não terá emissões importantes associadas, que poderão ter um enorme impacto ambiental? • E que impactos terão as vidas dos europeus, com uma alteração tão conturbada nas suas vidas? É que mobilidade significa, muitas vezes, acesso ao trabalho e à subsistência. Não me querendo alargar mais no tema, acho que todo o cidadão europeu se deveria preocupar com estas questões, e que não deveria ser aceitável que decisões como estas fossem tomadas sem que o cidadão comum, leia-se o patrão do político num regime democrático, tivesse todas as questões de fundamento esclarecidas. Mas este texto, por incrível que pareça, é sobre agricultura. E como eu disse no início, a agricultura vai sofrer na pele e em primeira mão desta ilusão em massa que nos assola enquanto europeus. Se o primeiro exemplo servia para ilustrar a loucura de tomar decisões, ainda que fictícias, sem bom senso e sem a escala de valores no sítio certo, o segundo, muitíssimo verdadeiro, serve para mostrar como podem estas decisões precipitadas afetar tremendamente a vida do comum dos cidadãos. Ora o mundo agrícola sofre de problemas semelhantes, com a dificuldade de ser impactado a ritmos diferentes da sociedade em geral, o que faz com que esta não esteja a ver o mal que se aproxima até que seja tarde demais. É assim, na Holanda, em que os agricultores estão obrigados a fechar explorações ou a reduzir os efetivos animais, por decreto, para evitar emissões de azoto para o solo e a água. Os mesmos agricultores que, nos últimos 30 anos, reduziram as suas emissões de azoto em 68% e que apresentaram propostas para continuar a fazer esse esforço de melhoria, viram o governo rejeitar todas as suas propostas de ação e decretar regras completamente implacáveis, sem pesar as consequências – apenas para responder a uma diretiva europeia, e apresentando como motivo que o Estado Holandês se tinha comprometido. Ora, foram estimados os impactos disto na sociedade em geral? A alta eficiência dos agricultores holandeses será reduzida porque com os mesmos recursos terão de produzir menos… o que vai acontecer nas zonas onde se vai produzir a comida que deixa de haver? Vão ser produzidos em sistemas tão eficientes como os holandeses? Ou os governantes europeus estão convencidos que qualquer agricultor tem o desempenho daqueles sistemas de alto rendimento? Um produtor da China, da India ou da América do Sul será tão eficiente? Terá igual ou menor impacto? E como é que este problema das emissões de azoto não é abordado de forma igual na Alemanha, ou na Dinamarca Na minha opinião, a forte campanha contra a alimentação de base animal toldou a capacidade de julgamento dos decisores e este é só um impacto, de muitos. Não adianta explicar que os animais são uma fonte de alimento fundamental para um mundo com população crescente e que mais de 60% da superfície agrícola da Terra não tem condições para produzir alimentos para humanos, mas sim para produzir pastagens, e que os ruminantes são pequenas fábricas que transformam essas pastagens em alimentos para humanos. Não me entendam mal, eu penso que o uso sustentável dos recursos, com um forte cuidado com o ambiente, é uma obrigação de todos. Uma obrigação moral. Mas, se seguirmos uma escala de valores adequada, escolher não produzir ou produzir menos comida, num mundo com mais gente é completamente imoral. A solução tem de passar por encontrar

novos caminhos. Há sempre uma solução técnica e sociológica, e não virá por decreto. É completamente imoral governantes decretarem uma solução para um problema local, que tenha consequências gravosas no contexto global, sem terem mostrado que fizeram uma análise completa e ponderada das consequências para a sociedade e terem demonstrado que a medida tem mais benefício que custo. Mas num mundo sem escala, isto é possível. Num mundo sem escala, quando isto dá para o torto os decisores encolhem ombros e dizem que não podiam adivinhar. Que fizeram o que estava ao seu alcance, com a informação que tinham na altura, e que consultaram os especialistas. Pois isso não é bom suficiente e não pode ser aceitável. O Pacto ecológico Europeu, na sua estratégia para a biodiversidade, estabelece um conjunto de objetivos que terão enormes impactos na agricultura como a conhecemos. Temo que mais algumas medidas por decreto e sem uma fundamentação e uma análise adequada se aproximem. Até 2030, este plano prevê que haja uma redução de 50% na quantidade e no risco dos produtos fitofarmacêuticos utilizados. Prevê também que, até 2030, 25% da área agrícola da EU seja explorada em agricultura biológica e que as perdas

de nutrientes provenientes da fertilização sejam reduzidas em 50%, através de uma redução de 20% nos fertilizantes utilizados. Os decisores políticos ainda vão a tempo de explicar como é que se aplica menos adubo e se limita a proteção das culturas, e não se reduz muito significativamente a quantidade de alimentos produzidos. Ainda vão a tempo de mostrar que esse trabalho está feito e o explicar ao seu patrão, leia-se todos nós, como é que os óbvios prejuízos gerados por estas decisões vão ser compensados por benefícios superiores. É que sem essa análise, este plano pode não ser um bom plano. Sem a escala de valores certa, podemos estar a sacrificar a produção agrícola onde ela é funcional e eficiente, para ir produzir com menos eficiência, ou seja, com mais impacto, noutros locais. Se simplesmente exportarmos os problemas ambientais que estamos a tentar combater, onde estará o valor dessa decisão. E se o resultado for ainda pior porque exportamos os impactos ambientais, mas produz se menos comida, o que significa que haverá mais fome no mundo, de quem é a culpa?

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CE reviu estimativas de campanha de cereais 2022/2023

No final de outubro, a Comissão Europeia reviu as suas estimativas para a campanha 2022/2023 de cereais. A produção europeia de trigo terá uma ligeira subida até aos 127,2 milhões de toneladas. Quanto às exportações, estas devem manter-se nos 36 milhões de toneladas. Quanto ao milho, a revisão foi feita para uma descida de 55,1 milhões de toneladas para 54,9 milhões de toneladas. A cevada poderá também ter um ligeiro aumento, estimando-se uma produção de 51,7 milhões de toneladas. No início de novembro, a Comissão Europeia apresenta algumas medidas que visam diminuir a dependência europeia em relação à importação de fertilizantes. A decisão de tomar medidas face a esta dependência externa surgiu no âmbito do Conselho de Agricultura e Pescas da União, na qual foi analisada a situação de instabilidade dos mercados agrícolas. Nesta reunião, Portugal, através do Ministério da Agricultura e Alimentação, juntamente com outros Estados-membros, salientou os impactos negativos generalizados na cadeia de valor agroalimentar e defendeu que devem ser privilegiados instrumentos comuns, que permitam atuar de forma mais eficaz.

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Comissão Europeia vai apresentar medidas sobre fertilizantes em novembro

AMBIENTE

Cogestão na Reserva Natural do Paul do Boquilobo

Atualmente, no quadro das 25 áreas protegidas de âmbito nacional existentes em Portugal continental (1 parque nacional, 13 parques naturais, nove reservas naturais, duas paisagens protegidas), 19 já efetuaram o pedido de adesão à cogestão.

Fernando Faria Pereira / Ana Cristina Falcão

Com o modelo de cogestão pretende-se criar uma nova dinâmica na gestão das áreas protegidas de âmbito nacional, com vista a uma maior proximidade por parte dos cidadãos e das entidades relevantes, para a promoção do desenvolvimento sustentável de cada área protegida. Este modelo tem por base o estabelecimento de procedimentos concertados, com o objetivo de melhorar o desempenho, na salvaguarda dos valores naturais que caracterizam e individualizam cada um destes ecossistemas, ou conjunto de ecossistemas, ímpares, cujos valores naturais são reconhecidos em termos nacionais e internacionais. Pretende-se implementar uma dinâmica de gestão de proximidade, em que as diferentes entidades colaboram no sentido de oferecer, no quadro das suas competências e atribuições, o seu contributo para atingir os objetivos que presidiram à criação das diversas áreas protegidas. Esta gestão, participativa, colaborativa e articulada, exerce-se especificamente nos domínios da promo-

ção, sensibilização e comunicação dos valores naturais existentes. Atualmente, no quadro das 25 áreas protegidas de âmbito nacional existentes em Portugal continental (um parque nacional, 13 parques naturais, nove reservas naturais, duas paisagens protegidas), 19 já efetuaram o pedido de adesão à cogestão. As comissões de cogestão são constituídas em consonância com a Estratégia Nacional de Conservação da Natureza e Biodiversidade 2030, em cumprimento do previsto na lei nº 50/2018, de 16 de agosto, que estabelece o quadro das competências para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais, aprovada pelo Decreto-Lei n.º 116/2019, de 21 de agosto. A comissão de cogestão da Reserva Natural do Paul do Boquilobo (RNPB), foi constituída nos termos do Despacho n.º 9329/2021, de 22 de setembro, com os seguintes objetivos: • Incrementar uma maior valorização da área protegida, através da promoção, sensibilização e comunicação, tendo por base a sua sustentabilidade nas dimensões política, social, económica, ecológica, territorial e cultural; • Estabelecer procedimentos concertados para maior salvaguarda dos valores naturais e de resposta às solicitações da sociedade, através de uma maior articulação entre o ICNF, I.P., os municípios e demais entidades públicas e privadas competentes; • Gerar uma maior relação de proximidade aos cidadãos e às entidades relevantes para a promoção do desenvolvimento sustentável da área protegida. Das suas competências, referidas no regulamento de funcionamento da comissão de cogestão da RNPB, publicado em 31 de janeiro de 2022, destacam-se: • Garantir a salvaguarda dos recursos naturais e valores territoriais que fundamentaram a sua classificação; • Contribuir para o desenvolvimento das atividades locais em harmonia com os valores presentes, viabilizando ações de promoção ambiental, económica e social, de sensibilização e comunicação, dinamizando ações em articulação com os diferentes agentes regionais e das Administrações central e local; • Estimular parcerias com promotores, empresas, centros de investigação, instituições de formação, municípios, destinadas a planear ações de valorização sustentável do território no âmbito cultural e do turismo da natureza; • Comunicar com todas as entidade, públicas e privadas, envolvidas na proteção e valorização do capital natural, com vista definir as formas mais adequadas para preservar e valorizar os valores naturais existentes, visando o desenvolvimento sustentável; • Elaborar, aprovar e executar os instrumentos de gestão; • Identificar os instrumentos e linhas de financiamento de apoio de apoio à execução do plano de cogestão e os seus potenciais beneficiários. A comissão de cogestão da RNPB tem a seguinte composição: • É presidida pelo Presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, sendo substituído, nas situações de impedimento ou ausência, pelo presidente da Câmara Municipal da Golegã; • O Diretor Regional da Conservação da Natureza e Florestas de Lisboa e Vale do Tejo, sendo substituído na sua ausência pela chefe de Divisão das Áreas Classificadas e Cogestão de Áreas Protegidas de Lisboa e Vale do Tejo; • Representante do Instituto Politécnico de Tomar; • Representante de organizações não- -governamentais de ambiente e equi-

paradas, designado pela Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente – AGROBIO – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica; • Representante da ONGATEJO — Organização Não Governamental do Ambiente; • Representante da ADIRN — Associação para o Desenvolvimento Integrado do Ribatejo Norte; • Representante da 30POR1LINHA — Associação Sociocultural e Ambiental No que respeita aos valores naturais existentes na reserva natural, que justificaram a sua criação, destacam-se: • Apesar da sua área diminuta (817 hectares), comparativamente com a totalidade do território nacional, é o maior ecossistema natural de águas doces interiores existente em Portugal. • A existência de uma colónia de garças e de outras espécies, com cerca de 1000

pub. casais, diversidade específica que não ocorre, em conjunto, em nenhum em nenhum outro local nacional; • A quantidade de anatídeos invernantes com números que ultrapassam, frequentemente, para mais de uma espécie, 50 % da totalidade da população nacional em determinados invernos; • A enorme diversidade de espécies de aves; • A ocorrência de espécies de peixes ameaçadas, endemismos nacionais, que utilizam a reserva como local de reprodução e crescimento de alevins; • A presença de numerosas espécies de outros grupos taxonómicos: anfíbios, répteis, mamíferos, insetos… • A existência de 3 espécies de plantas consideradas em perigo no livro de vermelho da flora; • Uma extensa área de floresta ribeirinha, bem conservada, composta por salgueiros de diferentes espécies e freixos, para além de uma floresta de sobreiros nas zonas mais secas. Para além do inegável valor em termos da biodiversidade, considerando que mesmo nos verãos mais secos parte dos 175 hectares adquiridos pelo Estado, estão permanentemente alagados, o paul do Boquilobo, situado numa das áreas com melhores solos agrícolas em termos nacionais, tem uma enorme importância regional como reserva estratégia de água, em ligação com os lençóis freáticos que suportam as culturas de regadio que constituem a principal base económica da lezíria do Tejo. Todos estes valores em conjunto com a facilidade de acessos e a crescente apetência da população em geral para o usufruto dos espaços naturais, tornam a reserva num polo de atração para visitantes no contexto regional, nacional e até internacional, como se pode constatar pelo gráfico seguinte do número de visitantes registados que têm vindo a aumentar, pese embora situação anómala que ocorreu nos últimos anos [ver quadro]. A cogestão, ao valorizar, promover e divulgar esta Reserva Natural, envolvendo as autarquias e outras entidades que atuam no território, tem um importante papel na conservação dos valores naturais existentes, proporcionando aos visitantes um saudável e tranquilo contacto com a natureza, sensibilizando-os para importância e fragilidade deste património natural, que inclui valores faunísticos, florísticos e florestais, tornando-os elementos multiplicadores da mensagem da conservação da biodiversidade e da natureza, cada vez mais premente nos dias de hoje.

RECONSTRUÇÃO DE UMA CABANA DOS PRIMEIROSAGRICULTORES DA REGIÃO, NO PARQUE ARQUEOSOCIAL DE MAÇÃO

ARQUEOLÓGIA Agricultura no vale do Tejo: os primórdios

A região que se estende de Abrantes a Alpiarça, marcada pela grande inflexão do rio Tejo em direção ao seu estuário, é hoje um composto de paisagens rurais diversificadas, em que se cruzam zonas ainda de influência beirã, a charneca da margem sul, os solos leves de base calcária e o arranque da grande lezíria do Tejo.

Quando pensamos nesta região, pensamos sobretudo em agricultura, mesmos e hoje a maioria da população vive em cidades e outros aglomerados urbanos, e outros setores económicos ganharam mais protagonismo. A agricultura ainda é a matriz da região e das suas gentes. E, porém… a agricultura é uma atividade humana relativamente recente, quando comparada com a presença humana na região. Temos evidências arqueológicas da presença humana há quase meio milhão de anos, atestada em sítios como a Gruta da Oliveira, em Torres Novas (complexo cársico do Almonda) ou a Ribeira da Atalaia, em Vila nova da Barquinha. Esses grupos humanos viviam da caça e da recoleção, mas, há cerca de 7.500 anos, tudo começou a mudar. Porquê? Até há cerca de 12.000 anos, o clima era muito frio, mesmo se as glaciações não chegaram a atingir diretamente a região. Mas a partir daí o clima melhorou, comum aquecimento global que mudou drasticamente as paisagens: a vegetação cresceu e diversificou-se, os grandes herbívoros do período frio passaram a ter a companhia de muitos outros animais, e em função dessa diversidade as comunidades de caçadores começaram a sedentarizar-se e a população cresceu rapidamente. No entanto, há cerca de pouco mais de 8.000 anos atrás, o clima teve uma oscilação: ficou mais frio e mais seco. Isso teve um grande impacto na vegetação, que se

Luiz Oosterbeek

DIRETOR DO MUSEU DE ARTE PRÉ-HISTÓRICA DE MAÇÃO(1)

tornou mais escassa e pobre, e também na fauna que dela dependia. O modo de vida das comunidades humanas estava ameaçado, pois a produtividade natural da terra já não conseguia alimentar comunidades que, entretanto, tinha crescido em número. É neste contexto que, há cerca de 7.500 anos, em locais como os povoados da Amoreira e de Fontes (em Abrantes), encontramos as primeiras evidências de ligação às comunidades de pastores e agricultores que, por essa altura, já haviam introduzido a agricultura no Mediterrâneo e no Levante da Península Ibérica (Catalunha). Estes primeiros contactos com o mundo da agricultura chegam ao vale do Tejo vindos do interior da Península, provavelmente atravessando o Alentejo a partir do rio Guadiana (onde teriam chegado vindos do vale do Guadalquivir). Mais ou menos ao mesmo tempo, outros grupos humanos chegam ao vale do Nabão, conforme se documentou em grutas de Tomar, vindos do litoral Atlântico (onde teriam chegado através de uma navegação de costa à vista, acompanhados dos primeiros animais domesticados: bois, porcos, cabras e ovelhas). Começou nesse momento uma verdadeira, embora lenta, revolução agrícola: estas comunidades foram expandindo os terrenos de cultivo e de pasto, abatendo as árvores e criando crescentes descampados, onde a vegetação natural foi sendo substituída pelo cultivo. Cerca de mil e quinhentos anos depois, quase toda a região estava transformada numa extensa mancha agricultada, que dura até hoje, apesar de todas as suas alterações. É interessante perceber que foi na faixa que se estende de Vila Velha de Ródão e Mação até Abrantes, que a travessia do Tejo se deu pela primeira vez. A arte rupestre do Tejo, hoje na sua maioria submersa (mas visitável em Mação, por exemplo), testemunha esse período inicial. E será também entre este núcleo do Tejo e a sua relação sempre forte com o Guadiana que o mundo rural, agrícola, se irá consolidar, encontrando nas antas e menhires os seus mais antigos testemunhos monumentais. É igualmente interessante registar que o modo de povoamento foi oscilando ao longo do tempo: mais disperso e ocupando as terras baixas, na fase inicial, com pequenos aglomerados e escassas aldeias na fase inicial, mas também nos momentos de crescimento comercial durante a romanização ou na transição do século XIX para o século XX; mais concentrado, e privilegiando as terras altas, nas épocas de exploração mineira (na Idade do Ferro, na fase consolidada da romanização), de conflito ou de recuo do comércio agrícola, com cidadelas fortificadas ou centros urbanos administrativos (como hoje). A agricultura foi sendo, com altos e baixos, a matriz de uma região cuja prosperidade coincidiu, sempre, com os momentos de maior abertura comercial (ou globalização, como se diz hoje), e que sempre perdeu diversidade e riqueza quando se constituiu como fronteira militar (que o foi, também, inúmeras vezes, como o atestam os abundantes castelos). Compreender a evolução da paisagem rural deste território é compreender como é que a relação cultural agricultura-comércio, em que a economia era consolidada com rituais simbólicos que davam sentido à forma de viver, foi sendo uma relação próspera e sustentável. E, também, como é que as várias alternativas a este modelo (militarização, mineração e até mesmo indústria) permitiram períodos muito mais curtos de prosperidade, menos sustentáveis e gerando maiores desequilíbrios. O futuro nunca é uma reedição do passado. Mas a ponderação e a humildade recomendam que se pese bem essa experiência de quase oito mil anos, na hora de repensar estratégias para o futuro. E que se proteja e valorize, com orgulho, as antas, grutas, acampamentos e outras ruínas, que são a memória histórica dos agricultores que nos precederam nestes lugares.

ALABARDA DOS PRIMEIROS AGRICULTORES DA REGIÃO (© MUSEU DE ARTE PRÉ-HISTÓRICA DE MAÇÃO). SÍMBOLO DE PODER HUMANO SOBRE O TERRITÓRIO, ASSOCIADO À TRANSFORMAÇÃO AGRÍCOLA DAS PAISAGENS. MONUMENTO DA JOGADA (ABRANTES). OCUPADO HÁ CERCA DE 6.000 ANOS, SABEMOS QUE ESTE LOCAL ERA UMA ZONA DE PASTO DE VACAS, QUE FAZIAM TRANSUMÂNCIA ENTRE ESTA REGIÃO E A LEZÍRIA DO TEJO.

ÍDOLO DA GRANDE DEUSA DOS OLHOS DE SOL (© MUSEU IBÉRICO DE ARQUEOLOGIA E ARTE, ABRANTES)

(1) Professor Coordenador do Instituto Politécnico de Tomar, coordenador da Cátedra

UNESCO de Humanidades e Gestão Cultural Integrada do Território, vice-diretor do

Centro de Geociências da Universidade de

Coimbra, Diretor do Museu de Arte Pré-Histórica de Mação.

PIMENTO

A colheita mecânica do pimento

Muitos se recordarão dos tempos de colheita manual no tomate de indústria. Na altura, os mais céticos, diriam que dificilmente a colheita mecânica seria uma opção no futuro. A verdade é que o mundo e a evolução não pára, e o que hoje consideramos impossível, amanhã já o poderá deixar de ser!

José Antonio Márquez / Bruno Estêvão

RAMIRO ARNEDO S.A.

Passos semelhantes aos do tomate de indústria estão a ser dados no cultivo do pimento, nomeadamente de indústria. A mecanização é um facto indiscutível e a evolução aponta para esse caminho. Não será, ou melhor, não está a ser certamente um caminho sem obstáculos e a mecanização tratar-se-á duma opção rentável somente a partir duma determinada área de produção. Tendencialmente no futuro, serão menos produtores a realizar a cultura, mas com áreas maiores. Algo que porventura já se poderá constatar. Elencar os envolvidos neste processo de mecanização não é tarefa fácil, mas um dos envolvidos, para além da indústria, dos produtores, das empresas de maquinaria agrícola, outros, serão também as casas de sementes. E é aí que nós entramos: a Ramiro Arnedo. Já com mais de 75 anos de história, a Ramiro Arnedo Semillas continua a manter o espírito familiar da empresa fundada por Ramiro Arnedo Eguizábal, e hoje em dia presidida pelo seu filho Julián Arnedo, continua a caracterizar-se por oferecer um tratamento de proximidade para com o produtor e um relacionamento estreito com os demais intervenientes agrícolas. Com a constante evolução com que nos deparamos e todas as circunstâncias a que não somos alheios, tais como a dificuldade cada vez maior em arranjar mão de obra agrícola, tem sido um dos nossos objetivos nos últimos anos o desenvolvimento de variedades próprias de pimento indicadas para a colheita mecânica, sendo o nosso foco a concentração da maturação dos frutos e a manutenção da sua qualidade o maior tempo possível em planta. Como resultado dessa investigação somos atualmente líderes em variedades de pimento vermelho para colheita mecânica e contamos no futuro liderar também o mercado de variedades de pimento amarelo para colheita mecânica. Possuímos no nosso catálogo as seguintes variedades indicadas para colheita mecânica:

PIMENTO VERMELHO Corera F1: planta de vigor médio, com boa cobertura dos frutos e boa concentração de maturação. Frutos com peso entre 180-230g. Rodiezmo F1: planta vigorosa, compacta, com boa cobertura dos frutos e boa concentração de maturação. Frutos de forma cónica com peso entre 230-260g. PIMENTO AMARELO Santacara F1: do género da variedade Rodiezmo F1 em amarelo. HR a Tm:0 e IR a TSWV. Mas como já referido o mundo não pára e assim também não pára a nossa investigação, e deste modo em fase pré-comercial temos as seguintes variedades de pimento amarelo indicadas para colheita mecânica: AR371119 F1 e a AR371122 F1. Importa realçar que qualquer uma destas variedades é obviamente também apta para a colheita manual, podendo traduzir-se em somente uma passagem. Em caso de pretender mais informação pode visitar o nosso site (www.ramiroarnedo.com), onde poderá descobrir que para além de pimento temos um amplo catálogo de variedades disponíveis e investigação noutras culturas. Poderá também contactar um dos nossos técnicos. O que tem a perder?

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AS ARTES E OFÍCIOS, SABERES DA RURALIDADE

A Valagem como lição contemporânea

Muitos se recordarão dos tempos de colheita manual no tomate de indústria. Na altura, os mais céticos, diriam que dificilmente a colheita mecânica seria uma opção no futuro. A verdade é que o mundo e a evolução não pára, e o que hoje consideramos impossível, amanhã já o poderá deixar de ser!

Luís Mota Figueira

DIRETOR TÉCNICO DO MUSEU AGRÍCOLA DE RIACHOS(1)

Em qualquer ponto do Mundo, as Artes e Ofícios tradicionais caracterizam cada território, as atividades das suas pessoas e os seus tipos de organizações. Os estudos sobre estas comunidades renovam e reforçam as suas identidades, significam apoio à evolução cultural construída por gerações sucessivas. A ligação intergeracional e o papel dos projetos de pesquisa fazem a diferença entre uma tradição tranquila e, como alternativa, uma tradição inovadora, porque valorizadora pela triangulação virtuosa: “Pessoas-Território-Organizações”. Nesta, a ativação intergeracional produz futuro para o património. Apresento um exemplo relevante na nossa região através do trabalho do Investigador do NEstMAR – Núcleo de Estudos do Museu Agrícola de Riachos, Mestre José Manuel Martins. Honrando as lições da agricultura tradicional, o estudo “Os Valadores de Riachos - Mestres do Ofício Milenar da Valagem” editado pela Associação para a Defesa do Património Histórico e Natural da Região de Riachos oferece-nos uma viagem pela nossa ruralidade. Por exemplo, o vestuário dos Valadores é explicado, a p.99: “(…) os seus fatos de trabalho eram segundo as fazendas da época: o sarjão, os cotins, os riscados e as popelinas (Santana, 2019) e era uma indumentária minimalista, tal como o referenciam diversos testemunhos memoriais ou a podemos ver representada em fotos antigas, porque os valadores não tinham nenhum equipamento especial para o trabalho de valagem, apenas a sua execução a pé descalço e com as calças arregaçadas acima das coxas, por vezes até às virilhas, ou vestindo eventualmente uns calções rudimentares, por causa da constante presença da água, conforme refere o goleganense Manuel António”. O autor explora fontes, avança descrições tanto ao nível dos saberes dos Valadores, quanto das envolventes ambientais e sociais, económicas e culturais: resgata testemunhos e marca a comunidade regional. Quer riachenses, quer goleganenses, enriquecem, todos, nas suas dimensões históricas, as narrativas folclóricas que Joaquim Lopes Santana e Manuel António, como Folcloristas bem conhecidos, nos oferecem também nos seus estudos. Ambos são citados neste trabalho em observações, por exemplo, sobre vestuário de trabalho apoiando este investigador. Quando usa o depoimento de “(…) José Simões ao referir que estes trajes de trabalho dos valadores eram usualmente de cotim, que trabalhavam habitualmente descalços, conforme pôde testemunhar acompanhando seu pai, o valador Alberto Simões, nos trabalhos no Bunhal e na Quinta da Cardiga e do Paul; e também, por Manuel Carvalho Simões (…)” concretiza essa dimensão histórica. Para a qualificar ainda mais, transcreve

TALVEZ A FOTO QUE SE CONHECE MAIS ICÓNICA REPRESENTANDO OS VALADORES DE RIACHOS EM TRABALHO. (QUINTA DO PAUL, NOS ANOS 30 DO SÉC. XX.) (FONTE: NUNO, ET AL, 1993)

o depoimento de Manuel Carvalho Simões. Ficamos sabendo que o trabalho realizava-se de “Pés descalços, calças velhas arregaçadas até aos joelhos, saca, alforges e pá de valar às costas, seguiam meia dúzia de valadores em la indiana, borda da vala abaixo, até ao eito da limpeza da vala que tinham deixado no dia anterior na Quinta do Paul (p. 139).” O que adaptei livremente para esta investigação, integra o e-book disponível para download, sem custos, em http://www. cda.ipt.pt/download/ebooks/VALADORES_FINAL.pdf Os conteúdos ali estruturados ensinam-nos sobre parte da ruralidade da nossa região. Há detalhes muito interessantes. O território da Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo, partilhado pelos concelhos de Golegã e de Torres Novas é muito rico na sua espessura histórica e nos valores monumentais, agrícolas, ambientais, económicos, sociais e culturais. Projetos que liguem pessoas e entidades de tutela governamental, autárquicas, empresariais, académicas e outras organizações públicas e privadas, cooperando sob diversas temáticas e atividades, produzem valor. Este e-book contribui nessa cooperação e é uma forma de legitimação identitária. O resultado desta valorização do património humano, natural e cultural sob o olhar atento e a reflexão oportuna, como é o caso, merece ser mais conhecido e divulgado. O Projeto OPExCATer do Instituto Politécnico de Tomar realizado em parceria com os aludidos municípios, o ICNF, e outros parceiros, com especial papel para a Ongatejo, além de atividades pontuais com a Fundação José Saramago considera este trabalho de José Manuel Martins como um marco memorial relevante no processo de valorização territorial. A visão e a missão sob os valores da valagem resgatados por esta pesquisa também permitem, sob a linha de economia da cultura, estabelecer uma melhor gestão das reconstituições históricas, tais como ações de animação cultural. O trabalho dos Ranchos Folclóricos é, nesta matéria, de vital importância para a qualificação desses quadros rurais revisitados. Para os museus, também. Neste momento, nas Oficinas Pedagógicas do MAR estamos a criar uma réplica da Pá de Valar. Seguimos a tradição interna de criação de réplicas do acervo, que os nossos Mestres artesãos já realizaram. Tentamos honrar o seu labor, aprendendo com o seu legado artesanal. A salvaguarda dos Saberes da ruralidade necessita de investigadores dedicados às Artes e Ofícios. O Centro de Interpretação da Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo ao colaborar com o MAR, entre outas atividades, na colheita do Bunho (acontecida em junho último com supervisão do ICNF, acompanhamento local do Arquitecto Paisagista Fernando Pereira e orientação da colheita pelo Artesão Manuel Carvalho Simões) oferecendo-nos essa matéria vegetal para recriação das esteiras de bunho, colaborou nesta ideia, porque a rede dos participantes nas Artes e Ofícios, integram o espírito da Agenda 2030 das Nações Unidas. Na unidade gerada apela sua diversidade temática e de interesses em conjunção, a convergência para a prática diária da Sustentabilidade, sendo imperativa, é mais bem compreendida com estas intervenções de serviço público, importante para residentes e visitantes. Os Agricultores são, neste contexto, os pioneiros dessa conquista que, nos campos e nas redes hídricas, também abrange as marcas, indeléveis, da paisagem que testemunha o trabalho dos antigos Valadores. Salvaguardar estes Saberes na contemporaneidade significa olharmos o futuro com mais esperança? Sim. Todos Nós e as Novas gerações somos merecedores deste esforço colaborativo.

(1) Professor Coordenador - Unidade

Departamental de Ciências Sociais – Instituto Politécnico de Tomar.

VALADORES EM TRABALHO NAS TRINCHEIRAS DA GRANDE GUERRA. REPARE-SE NO PORMENOR DA LINHA ESTENDIDA ENTRE DUAS ESTACAS, NO CIMO DO LADO DIREITO DA VALA. ESTE ASPECTO INTERESSANTE DO TRABALHO DO VALADOR SERÁ ABORDADO NO PONTO 3.2. Fonte Valadores nas trincheiras da primeira grande guerra - Bing images

EXEMPLARES DE PÁS E BALDES DE VALAR DE DIFERENTES CARACTERÍSTICAS E DIMENSÕES, ESTUDADAS E REGISTADAS NO PROCESSO DE MUSEALIZAÇÃO OCORRIDO NO MAR. Fonte acervo do MAR

Dia Internacional contra as Alterações Climáticas assinalado com vários testemunhos

O Centro Nacional de Competências para as Alterações Climáticas do Setor Agroflorestal (CNCACSA) assinalou o Dia Internacional contra as Alterações Climáticas, 24 de outubro, com uma newsletter onde recolheu alguns depoimentos sobre o tema. Maria Helena Semedo, diretora-geral Adjunta da FAO, dizia que para enfrentar os desafios das alterações climáticas devemos “dar força” aos agricultores, criadores de animais, pescadores, produtores florestais, comunidades rurais, entre outros “colocando-os na linha da frente” no combate às alterações climáticas. Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, falou do posicionamento do país nas estratégias europeias de mitigação das alterações climáticas. Destacamos ter referido que “é essencial investir em ciência e em inovação, promover o aumento da investigação científica e do emprego científico, apostar em fontes de energia renováveis e materiais sustentáveis. É também prioritário encontrar formas de eficiência e poupança energética e garantir que a transição seja justa e inclusiva”. A ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, disse que “as alterações climáticas são o reverso da medalha do quanto acelerámos o nosso desenvolvimento sem olhar a meios”. Já a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, comentou que “com o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que entrará em vigor em janeiro de 2023, vamos reforçar a gestão ativa de todo o território, baseada numa agricultura para todos, mais produtiva, sustentável e democrática. Teremos mais apoio ao rendimento dos agricultores, para a sua capacidade produtiva e de modos de produção mais sustentáveis”. Filipe Duarte Santos, presidente do CNADS, explanou que a adaptação do setor agrícola “requer conhecimentos sobre os cenários climáticos futuros, a sensibilidade climática de cada cultura, espécie e variedade mais adequada conforme as diferentes condições de solo (…)”. Miguel Miranda, presidente do IPMA, afirmou que “a seca é um dos desafios mais complexos da humanidade, com grande impacto na agricultura (…)”. Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da CAP, salientou que que “é essencial gerir a água da melhor forma, para assegurar o seu uso eficiente e na medida do possível aumentar a sua disponibilidade nas épocas e nos locais onde escasseia”. Por último, Idalino Leão, presidente da CONFAGRI, destacou que ““o setor agroflorestal português tem vindo nos últimos anos, a desenvolver um notável esforço de adaptação às alterações climáticas (...)”.

ENERGIA FOTOVOLTAICA

Autossuficiência energética na agricultura

Paulo Pereira

BREVE CIRCUITO

Com a subida drástica dos preços de energia, os Agricultores de regadio ficaram menos competitivos, assim é necessário tomar algumas medidas para se possível ter uma agricultura autossuficiente em energia. Desde a gestão dos contratos de energia, á adaptação e melhoramento de equipamentos e controle dos sistemas de rega, tais como, variadores de velocidade, arrancadores suaves, sondas de humidade, estações meteorológicas, painéis fotovoltaicos e outros que poderão melhorar a competitividade e a autossuficiência do Agricultor. Falando um pouco dos painéis fotovoltaicos. Em janeiro deste ano de 2022, os sistemas fotovoltaicos em (UPAC) Unidade Produção de Autoconsumo, passaram a ser uma boa medida de minimizar ou até mesmo anular o consumo energético, quer isto dizer que, toda a energia em (Kwh) que os painéis produzirem deixam de ser comprados aos comercializadores e serão consumidos na instalação. Mas não ficamos por aqui, desde o início do ano que passou a ser possível a venda de Kwh excedentes, que não foram consumidos e gerados pelo parque fotovoltaico, ou seja, quando um agricultor por exemplo rega 5 ou 6 meses num ano, poderá vender e comercializar nos restantes meses a energia por ele produzida através de um ou mais sistemas fotovoltaicos que opte por instalar. O valor de venda da energia excedentária, poderá ser de 80% a 90% do valor da OMIE (mercado indexado horário) dentro das várias modalidades de compra, aquilo que o Agricultor poderá vender ao longo do ano através da sua instalação fotovoltaica, aproximasse muito do valor dos Kwh comprados durante os meses de rega. Por cada hectare regado, são necessários cerca de 2 Kwp o que corresponde a uma área aproximada de 20 m2, tendo em conta que a área ocupada não chega a ser 0,02% da área regada. Os parques fotovoltaicos poderão ser instalados no solo, nas coberturas das infraestruturas agrícolas ou até mesmo serem flutuantes. Este tipo de instalação de produção de energia, é considerada uma energia limpa, contribuindo para a redução de emissões de CO2 e tem uma vida útil de mais de 25 anos. O investimento poderá ser feito com capitais próprios, existindo também algumas entidades financeiras disponíveis para financiar o projeto fotovoltaico baseado num estudo técnico, económico e financeiro, tendo a possibilidade ainda de recorrer a apoios como o PDR ou PRR que esperemos que estejam disponíveis já a partir do início do próximo ano. Consideramos que estão criadas condições para a sustentabilidade económica e ambiental das explorações que iram resistir à crise energética que atravessamos.

DOENÇAS DO SOLO

Resolver o problema pela raiz!

A recente estratégia Farm to Fork, um dos elementos centrais do Pacto Ecológico Europeu, destacou a necessidade de reduzir o número de pesticidas utilizados na agricultura, bem como promover a agricultura biológica, a fim de alcançar um equilíbrio entre os sistemas alimentares, a biodiversidade e, ao mesmo tempo, melhorar a competitividade dos países da União Europeia. Essa transição necessária implica um novo foco na forma como os alimentos são produzidos e, nesse contexto, as tecnologias de biocontrolo e bioproteção desempenham um papel essencial. A implementação deste Pacto Ecológico Europeu envolve os agricultores, que devem adaptar os seus métodos de produção e ajustar o número de fatores de produção utilizados. Sendo o solo um verdadeiro habitat de microrganismos, estes são responsáveis por diversas funções tais como a decomposição de materiais orgânicos, a quelatização de minerais, biorremediação, associações benéficas com raízes, entre tantas outras funções fundamentais para o bom funcionamento do sistema solo-planta. Apesar das muitas funções benéficas desempenhadas por muitos dos microrganismos presentes no solo, também devemos destacar o papel nefasto de alguma população que é fitófaga, isto é, alimenta-se das plantas. Naturalmente, nos solos coexistem todos eles, incluindo os patógenos. Muitas plantas são atacadas por estes, e morrem antes de se desenvolverem. Na atividade agrícola intensiva, em que a rotação de culturas não se faz da forma tecnicamente ideal e em que são produzidas sistematicamente as mesmas culturas na mesma terra, a presença de patógenos é ainda mais intensa e prejudicial. Se acrescentarmos a este cenário o desaparecimento de muitas substâncias ativas fungicidas, e uma cada vez maior exigência dos consumidores por produtos biológicos ou certificados com formas de produção que garantam alimentos mais saudáveis e com menor utilização de produtos fitofarmacêuticos (como, por exemplo, a certificação resíduo zero) temos uma tempestade perfeita para o agricultor. Neste quadro, controlar as doenças de solo adotando cada vez mais medidas alternativas à luta química, e ao mesmo tempo garantir que não são comprometidas as principais funções do solo no ecossistema, tem sido um grande desafio. A TIMAC Agro, reconhecida pela sua capacidade de inovação no domínio da fertilização, tem vindo a investigar um conhecido grupo de fungos com o qual se têm obtido bons resultados no controlo de doenças do solo. Estes fungos, do género Trichoderma, da família Hypocreaceae, são conhecidos por serem fungos oportunistas que criam ligações simbióticas de alto interesse agronómico com a grande maioria das nossas culturas, colonizando rapidamente a rizosfera, combatendo e protegendo a planta de fungos patógenos. Certas estirpes de Trichoderma caracterizam-se por se instalarem de forma rápida e eficaz, associando-se à parte superficial dos patógenos. Têm numerosos mecanismos de ação, entre eles: micoparasitismo, antibiose, competição por nutrientes e espaço, solubilização e sequestro de nutrientes, e indução de resistência. Conscientes da dificuldade de controlar as doenças do solo sem prejudicar o equilíbrio do ecossistema, bem como da crescente preocupação dos consumidores com a sustentabilidade ambiental no meio agrícola, a TIMAC Agro iniciou a sua atividade no fascinante mundo da microbiologia para lançar um biofungicida que promete ser a solução que faltava aos agricultores para atingir este objetivo. TUSAL é o novo biofungicida constituído por duas estirpes exclusivas, muito rústicas e que se complementam na adaptabilidade às condições mais adversas: Trichoderma atroviride (T11) e Trichoderma asperellum (T25). A enorme velocidade com que se instalam e começam a produzir estruturas reprodutivas é uma das características chave para a excelente performance do produto no campo. Este novo fungicida tem elevada eficácia contra as principais doenças do solo, pode ser utilizado em modo de produção biológico, não tem intervalo de segurança e respeita os requisitos da certificação resíduo zero. TUSAL é mais uma nova ferramenta com o selo de qualidade TIMAC Agro que vai permitir aos agricultores proteger as suas culturas das doenças do solo com a máxima eficácia e respeitando a fauna auxiliar do solo.

André Marçal

TIMAC AGRO

EFICÁCIA DE TUSAL COMPARATIVAMENTE A OUTRAS ESTIRPES DE TRICHODERMAS (A COR VERDE, DOS CONÍDEOS, INDICA A MATURIDADE E VIABILIDADE DAS TRICHODERMAS)

EFICÁCIA DE TUSAL CONTRA RHIZOCTONIA SOLANI AOS 20 DIAS APÓS A INFEÇÃO

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SUSTENTABILIDADE

Cabeça de Toiro Nature

Paula Faria

ENOPORT WINES

Quando falamos de sustentabilidade, devemos ter em mente que as empresas devem estar na origem da criação de valor a longo prazo para a sociedade, bem como serem o motor gerador de impacto positivo. Através da colaboração, da inovação e ação coletiva podemos acelerar o ritmo atual de mudança em direção a um futuro mais sustentável. É a nossa obrigação e responsabilidade agir em prol da natureza e das alterações climáticas, promovendo a adequada gestão de resíduos, elaborando planos para a redução de consumo de água, reduzindo os consumos energéticos, utilizando embalagens mais leves, dar preferência a fornecedores locais e que promovam também eles a sustentabilidade e a lógica de economia circular. Na Enoport Wines criámos, durante o ano 2021, um programa de sustentabilidade baseado nos três pilares - social, ambiental e económico, para ajudar a construir sistemas resilientes e sustentáveis para com missão de salvaguardar e minimizar a nossa pegada ambiental, promovendo soluções circulares e criando impacto positivo para as pessoas e para as comunidades onde estão inseridas. Com estes objetivos em mente, lançámos o Cabeça de Toiro Nature, colheita 2018. Um vinho da gama Cabeça de Toiro, proveniente da Quinta de São João Batista, Brogueira, Torres Novas. O principal objetivo é contribuirmos para a preservação da Reserva do Paúl do Boquilobo ao doarmos, por cada garrafa vendida, parte do valor à reserva que fica mesmo ao lado da quinta. A ausência de cápsula e o rotulo constituído por fibras recicladas amigas do ambiente, contribuem para uma pegada de carbono mais próxima de zero. Cabeça de Toiro Nature é mais um contributo da Enoport Wines para a preservação da natureza e da biosfera.

Um momento de mudança. Uma oportunidade de crescer.

Vivemos um momento realmente emocionante no âmbito agrícola, uma revolução na forma de trabalhar com um objetivo comum: aumentar a eficiência, a sustentabilidade e a rentabilidade das culturas em todo o mundo.

PIONEER

Uma agricultura em que a tomada de decisão seja motivada pela racionalização e otimização dos fatores de produção (sementes, água de rega, fertilizantes, agroquímicos e outras práticas culturais) e na qual a informação já disponível e os dados gerados continuamente desempenham um papel fundamental. As tecnologias disponíveis permitem (se utilizadas adequadamente) ajudar o agricultor a cumprir com as normas vigentes e a minimizar os riscos inerentes à atividade agrícola, proporcionando segurança e confiança, permitindo-lhe simplificar a sua atividade diária. Utilizar essas tecnologias baseadas em Agricultura de Precisão para determinar quando, onde e como atuar faz ainda mais sentido se forem integradas camadas de dados adicionais, como a meteorologia, o histórico dos rendimentos, a genética dos híbridos e os limites de ação para a proteção das culturas, entre outras fontes de informação. Agora, com a infraestrutura de recolha de dados, o conhecimento do potencial das nossas sementes e o extenso catálogo de produtos para a proteção de culturas, podem-se gerar aplicações verdadeiramente poderosas, capazes de dar resposta às necessidades do setor. Na Pioneer e Corteva Agriscience respondemos às necessidades do setor com o Granular Link, a mais avançada ferramenta de agronomia digital que

integra todas as funcionalidades necessárias para ter na palma da mão toda a informação necessária para tomar decisões estruturadas de forma simples.

GRANULAR LINK. FAÇA A GESTÃO DA SUA EXPLORAÇÃO DE FORMA SIMPLES. O Granular Link é a ferramenta digital por excelência para a gestão da sua exploração. Poderá criar uma conta totalmente gratuita e fazer a identificação (introduzir a informação) das suas parcelas, agrupando-as em explorações para tornar a gestão mais fácil e direta. Permitir-lhe-á editar a informação e introduzir aspetos como o híbrido Pioneer que escolheu, a data de sementeira, as diferentes densidades escolhidas ou o tipo de rega a utilizar. Com isso, poderá obter recomendações personalizadas das necessidades de rega de cada parcela. Os algoritmos desenvolvidos pela Corteva neste âmbito permitem-lhe receber as necessidades acumuladas de rega da sua exploração, gerir o consumo de água e realizar uma monitorização exaustiva dos gastos. Além disso, o Granular Link possui os modelos meteorológicos mais avançados para obter as previsões mais ajustadas às suas parcelas.

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