Revista Babel 15

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Como surgem as notícias falsas? Suélen Farias

O

ano de 2016 foi marcado por muitos eventos inesperados e diversas polêmicas no panorama político e social em várias partes do mundo. A saída do Reino Unido da União Européia (Brexit) e a eleição de Donald Trump, foram os mais surpreendentes do ano. Ambos os eventos, motivados por decisões eleitorais sem precedentes e imprevisíveis, entraram no ranking das notícias mais acessadas do mundo e as informações, junto com outros incidentes polêmicos desse ano, circularam em grande fluxo nas redes e, junto delas, também foram veiculadas diversas inverdades sobre os fatos. A partir disso, os usuários de redes sociais, que já possuíam o costume de compartilhar notícias na internet, começaram a repassar informações falsas criadas na tentativa de confundir os eleitores, interferir na opinião pública e aumentar os acessos aos de sites mal intencionados. Com essas fake news se espalhando pelo mundo, um termo tornou-se popular nos noticiários ao mencionar o aumento da veiculação de notícias falsas: Post-truth (pós-verdade). A expressão define a propagação de ideias baseadas nas emoções ou crenças pessoais e sem nenhum embasamento teórico/científico, e mesmo assim amplamente aceitas pela sociedade.

O uso desta palavra (Post-truth) pela imprensa mundial em 2016 cresceu 2.000% em relação ao ano anterior, principalmente na cobertura de fatos políticos. A expressão começou a ser tão mencionada nos noticiários, pelos jornalistas e estudiosos políticos que foi escolhida como “palavra do ano” pelo Dicionário Oxford. David Roberts, cronista e criador do termo, afirma em sua coluna para o site Grist. org (2010), que a origem desse fenômeno está ligada a uma cultura política focada nos apelos emocionais desconectados dos detalhes e pela repetida negação dos fatos concretos, que se tornam secundários. Para entender melhor o que é a pós-verdade, podemos citar como exemplo a campanha de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Marcada pelo desdém total da veracidade dos fatos mencionados, e repleta de ataques à Hillary Clinton, a campanha divulgou diversas notícias como a de que Hillary foi a criadora do Estado Islâmico, que Barack Obama era muçulmano, que o desemprego nos EUA chegava a 42% e que o papa Francisco apoiava sua candidatura. Nenhuma dessas informações era verdadeira, mesmo assim foram usadas sistematicamente para ganhar apoio e atingir a imagem de adversários. Segundo o jornalista Luiz

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Claudio Latgé, em sua coluna para o site O Globo (2016), as pessoas escolhem no que acreditar, mesmo que a informação fuja da realidade: “a verdade perdeu o valor, não nos guiamos mais pelos fatos, mas pelo que escolhemos ou queremos acreditar que é verdade”. Neste sentido, a Internet e consequentemente as redes sociais representam um desafio a mais na questão das notícias falsas. As redes tornaram-se ferramentas de disseminação de notícias falsas criadas por grupos políticos em disputa. Por este motivo, em junho deste ano, o Facebook alterou seu algoritmo de forma a diminuir o alcance de postagens de sites noticiosos e privilegiar o de amigos. O Facebook também criou uma ferramenta para denunciar mentiras na rede e gerar um alerta para os usuários quando for detectado um fato mentiroso. Para o jornalista Gabriel Pirolli (2016) em sua coluna para a revista Carta Capital, a pós-verdade também está totalmente relacionada ao pós jornalismo, no qual as pessoas sabem que determinado fato é ou pode ser verdadeiro, mas, se não gostam dele, preferem desconsiderá-lo, não querem que a crueza da realidade perturbe a tranquilidade de suas certezas. A pós-verdade tornou-se a informação que buscamos para satisfazer nossas crenças e desejos.


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