Agenda Cultural Lisboa | novembro'16

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E N T R E V I S TA O C O M B OIO D O LU X E M B U R G O

IFP: O nacionalismo do Estado Novo, refugiados. A diferença nos comportacomo todos os nacionalismos, reverteu mentos das mulheres, nomeadamente contra os refugiados. Neste caso, re- os fatos de banho e saias mais curtas ou verteu indiretamente pelo facto de ter o facto de não usarem meias. O sentahavido elementos fardados da Gestapo rem-se no café, simplesmente. Há uma a acompanhar o comboio. Mais do que história curiosa: as pessoas iam à esplauma questão nacionalista, foi patriótica nada da Pastelaria Suíça ver as pernas em defesa da neutralidade portuguesa. das mulheres e passaram a chamar ao Em certas circunstâncias até pode pa- local o “Bompernasse”. Os refugiados recer correto, neste caso foi a pior coisa não podiam trabalhar mas podiam coque podia ter acontecido. zinhar. Uma senhora da zona de Berlim MMR: Podemos pensar que se o com- começou a fazer umas bolas que vendia boio não viesse acompanhado pela Ges- a outros refugiados. As pessoas gostatapo teria entrado, como aconteceu com ram e ficaram as Bolas de Berlim. Outro os dois transportes anteriores. aspeto, por exemplo, foi a implementaIFP: Chegou a haver tiros na fronteira ção do iogurte. e agentes da Gestapo presos. Foi um in- MMR: Os rebuçados Doutor Bayard cidente diplomático muito complicado. são uma receita dada por um refugiado Ora, fugir naquela altura implicava a a uma pessoa que o ajuda. maior discrição possível a todos os níveis. Perante a atual crise de refugiados que Que destino tiveram estes reflexão pode promover refugiados recusados por este livro? Portugal? IFP: A História dará liOS IFP: Cinquenta e três, ções ou não. Eu não sei. incluindo uma família NACIONALISMOS Porém, penso que é funinteira, foram deportados REVERTEM damental que se saiba o para Auschwitz e destes que aconteceu: que houSEMPRE CONTRA apenas um sobreviveu. ve um caso de pessoas Houve quem fugisse em OS REFUGIADOS que foram impedidas de Espanha, uma pessoa atientrar num dado país e rou-se do comboio. Era que 50 delas foram asmais fácil fugir se não se viesse em famí- sassinadas. Portugal até já teve essas lia, se se fosse mais novo, mais adestrado necessidades: não se fugia da guerra, fisicamente, mais audacioso. mas das péssimas condições económiMMR: Verifica-se que há um grupo mais cas e da cadeia porque, em muitos capequeno que tem mais dificuldades, no- sos, ficar implicava a prisão e a tortura. meadamente de dinheiro porque salvar- Felizmente houve países que receberam se custava muito dinheiro. Terão sido, esses portugueses. muito provavelmente, esses que mor- MMR: O grande drama é não conseram. guirmos olhar para os outros como se Em dado momento existiam em Portugal fosse connosco. Há uma parte em que cerca de 10.000 refugiados da Segunda somos todos idênticos e só temos que Guerra Mundial que inevitavelmente se pensar: e se fosse connosco ou com os relacionavam com as populações locais. nossos filhos. A Europa devia meter a Que influências deixaram? mão na consciência vendo até que ponto IFP: Sobretudo influências ao nível dos foi responsável por esta situação e agora costumes nas cidades e zonas balnea- não quer saber. res, onde havia mais concentração de Entrevista integral em www.agendalx.pt


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