Revista Jaé 2018: Edição Especial Mulheres Atentas

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da casa pelo seu nome de iniciação, Nengua Guanguasese. Moradora da Mata Escura desde muito jovem, hoje com 93 anos de idade, é considerada um arquivo vivo do bairro. A roça é um lugar de acolhimento, se configura como um espaço majoritariamente negro e popular.

Moradora da Mata Escura desde muito jovem, Nengua Guanguasese é considerada um arquivo vivo do bairro. A roça é um lugar de acolhimento, se configura como um espaço majoritariamente negro e popular No bairro, ouvindo os moradores do local, a figura de Dona Olga é invariavelmente tida como a respeitável representação para o bairro. O que dizem sobre a mãe do bairro da Mata Escura? A Mãe do Bairro

A dançarina e cantora Lívia Luzia Conceição, 42 anos, moradora da Mata Escura há 38 anos, revelou que conhece e conviveu com Dona Olga desde a infância. Relembra que também aprendeu muito com seus 14

ensinamentos e a considera uma figura representativa para o bairro. Recordou-se de um episódio familiar, quando seu irmão e outro jovem foram confundidos com bandidos e colocados numa viatura. Se não fosse a interferência de Dona Olga, eles não seriam libertados. Destacou que a atuação da mãe foi muito significativa para a sua família. Por meio de outras histórias foi tendo conhecimento ao longo de sua vida sobre a importância de Dona Olga para além do Terreiro, alcançando todo o bairro. Sua mãe, Dona Alexandrina Luzia Conceição, de 79 anos, moradora do bairro há mais de 30 anos, também afirma, categoricamente, que Dona Olga além de ser bastante conhecida, é uma pessoa “boa, boa, boa mesmo”. Repetição de adjetivos, aqui observada, para reiterar a ativa participação social dessa grande mãe, pois, ainda conforme relato, “as pessoas, recorrendo ou não, têm a sua ajuda.” Assim como sua filha, Lívia Conceição, Dona Alexandrina pontua a generosidade de Dona Olga como um elemento principal de seu jeito de ser. O poder dos comuns

O papel desempenhado por pessoas comuns na periferia de Salvador, no enfrentamento de ações deliberadas do Estado, a exemplo da atuação de Dona Olga em diálogo com a polícia, evidencia que esse território (a periferia, os bairros populares) é também lugar de fala e de

[A dançarina Lívia Conceição] Recordou-se de um episódio familiar, quando seu irmão e outro jovem foram confundidos com bandidos e colocados numa viatura. Se não fosse a interferência de Dona Olga, eles não seriam libertados pertencimento, permitindo, assim, discussões acerca dos desafios vividos por mulheres na formação de cidadãs/ãos diante das adversidades socioeconômicas, raciais e de gênero tão arraigadas em nossa sociedade. A representatividade de Dona Olga está, exatamente, em sua dilatada percepção de comunidade e família ampliada, aos moldes da herança tradicional africana. Mais um importante registro obtido em conversa com o Tata Niukabukila, o qual mesmo em intensa atividade de preparação para a festa ao final do dia, deu uma pausa. Relatou que em tempos de outrora Dona Olga circulava no bairro, caminhava tranquilamente, ia ao mercadinho, ao açougue e em outros lugares da área. Por isso, afirma ser ela conhecidíssima.


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